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Guia Prático para Elaboração de Projeto de

Recuperação de Áreas Degradadas (PRAD) em APP


Esta Nota Técnica busca contribuir para a qualificação daqueles que atuam sobre os problemas
decorrentes do desmatamento na Amazônia

grande complexidade de fatores bióticos e


1. Introdução; 2. Elaboração do Projeto; 3. Técnicas abióticos envolvidos além da vegetação. O
Utilizadas; 3.1. Plantio de Mudas; 3.2. Regeneração ecossistema degradado sofre danos no solo,
Natural; 4. Monitoramento; 5. Considerações aumentando o assoreamento, a erosão,
Finais; 6. Referências Bibliográficas. diminuindo o acúmulo de carbono e de nutrientes,
por fim prejudicando os recursos hídricos e a
evapotranspiração na atmosfera, mudando
1. Introdução completamente o ambiente e dificultando que a
floresta se sustente.
Esta nota técnica tem como principal objetivo
orientar a elaboração de projetos de recuperação Uma forma de amenizar os efeitos danosos da

de áreas degradadas em Áreas de Preservação degradação das florestas está em conservar e

Permanente – APP situadas no bioma Amazônia e recuperar áreas de preservação permanente (APP)

as possíveis alternativas para recuperação das e de reserva legal (RL). Todas as áreas classificadas

mesmas. como APP e RL deverão ser recompostas


integralmente segundo os artigos 61-A e 66 da Lei
A degradação das florestas tropicais está
nº 12.651/2012 (Novo Código Florestal). Contudo,
geralmente relacionada ao crescimento econômico
de acordo com o artigo 61-A, §1 a §7, as Áreas de
nos países que abrigam estes ecossistemas. Dado
Preservação Permanente, com uso consolidado
que nações em desenvolvimento tendem a
anterior a 22 de julho de 2008, deverão ser
apresentar taxas de crescimento econômico
recompostas proporcionalmente à dimensão da
elevadas, elas deveriam apresentar mais
área dos imóveis que margeiem ou possuam APPs.2
desmatamento do que o observado em nações
desenvolvidas.1

Neste contexto encontra-se o Brasil, o qual possui 2. Elaboração do Projeto


em seu território complexa diversidade de Cada PRAD deve ser elaborado de acordo com as
formações ecossistêmicas e, assim, também, uma peculiaridades do local. O projeto deverá definir as
das maiores biodiversidades do planeta. Dentre os medidas necessárias à recuperação ou restauração
maiores biomas brasileiros está a Amazônia, que da área perturbada ou degradada, fundamentado
durante décadas vem passando por intenso nas características bióticas e abióticas da área e em
processo de degradação. Nas últimas décadas essa conhecimentos secundários sobre o tipo de
degradação tem se acelerado, vinculada impacto causado, a resiliência da vegetação e a
principalmente ao extrativismo de madeira e sucessão secundária. Portanto, o PRAD deverá
avanço das fronteiras agrícolas. apresentar embasamento teórico que contemple
Muitas vezes a degradação somente é evidenciada as variáveis ambientais e seu funcionamento
com a retirada da vegetação, porém, há uma similar ao dos ecossistemas da região.

1
LE PRESTE, P. Ecopolítica internacional. Capítulo 5. São Permanente e de Reserva Legal, à luz do Código
Paulo: Ed. Senac, 2000. Florestal. Rio de Janeiro: IBAM-PQGA, 2014.
2
Sasson, J. M. W, Nota Técnica Obrigatoriedade da
recomposição florestal em Áreas de Preservação
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Atualmente, a Instrução Normativa nº 4/2011 do As principais variáveis que devem ser observadas
IBAMA estabelece as exigências mínimas e para definir a situação da área para a elaboração de
orientações que visam nortear a elaboração, um PRAD são:
análise, aprovação e acompanhamento da
a) Solo – Deve ser dada atenção especial à
execução de Projetos de Recuperação de Áreas
proteção e conservação do solo e dos recursos
Degradadas – PRAD ou Áreas Alteradas, e, traz,
hídricos e, caso se façam necessárias, técnicas
ainda, na forma de anexos, Termos de Referência
de controle de erosão deverão ser executadas.
para estruturar o PRAD e PRAD Simplificado.
O solo é de essencial importância para o
Desde que tecnicamente justificado o PRAD poderá
estabelecimento e desenvolvimento das
contemplar peculiaridades locais sem
plantas. Não é obrigatório fazer análises de
necessariamente atender todas as diretrizes e
solo para verificar a fertilidade, contudo,
orientações técnicas que constam nos Termos de
aconselha-se que seja feito um acréscimo de
Referência. Inclusive, diversas Secretarias de Meio
nutrientes através de adubação, sempre que
Ambiente de vários Estados já estabeleceram um
este solo estiver expondo a terra, não havendo
regramento específico para o respectivo território,
desta forma o horizonte “O” formado por
cuja observância é obrigatória.
matéria orgânica, geralmente caracterizada
A elaboração do PRAD é atribuição do responsável por ser de cor escura, possuir folhas e restos de
pela recuperação/restauração da área degradada. vegetais.
O PRAD, ao ser protocolado no órgão ambiental
b) Vegetação – locais degradados, geralmente
(especialmente IBAMA, ICMBio, Órgão Estadual de
não possuem vegetação, ou então, possuem
Meio Ambiente ou Órgão Municipal de Meio
gramíneas que permanecem durante anos sem
Ambiente), deve ser acompanhado de estudos,
haver a formação de vegetação arbórea. Nos
planilhas e outros documentos, que podem variar
locais perturbados há ocorrência de vegetação
em função do órgão responsável por sua avaliação.
espontânea, com maior densidade de árvores
e arbustos, apresentando maior facilidade no
estabelecimento das espécies para a
3. Técnicas Utilizadas recuperação da área, sendo de forma natural
Com embasamento teórico e observação do local é ou então com indivíduos plantados.
possível classificar a área como sendo perturbada
ou degradada e assim decidir qual deverá ser a
metodologia empregada. A área degradada é a
área impossibilitada de retornar por uma trajetória
natural a um ecossistema que se assemelhe a um
estado conhecido antes, ou para outro estado que
poderia ser esperado, enquanto a área alterada ou
perturbada é aquela que após o impacto ainda
mantém meios de regeneração biótica, ou seja,
possui capacidade de regeneração natural.

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Existem diferentes formas de realizar a RADs mais lentamente, as secundárias e clímax. O


(Recuperação de Áreas Degradadas). O método a projeto deve contemplar espécies
ser empregado deverá ser fundamentado na pertencentes a todas as classes. Como o bioma
literatura vigente e justificado tecnicamente no Amazônia é amplo e a diversidade é alta, não
PRAD. O PRAD deve prever ainda a possibilidade de existe uma lista com todas as espécies e suas
alteração das técnicas definidas inicialmente caso classes, desta forma, faz-se necessário buscar
estas não atinjam resultado satisfatório. artigos científicos ou manuais técnicos de
trabalhos feitos na região.
Podem ser utilizadas diversas técnicas, dentre elas:
plantios de espécies nativas por mudas ou b) Produção de mudas – pode ser um fator
semeadura direta; transposição de solo orgânico importante para diminuir o valor da
ou serapilheira com propágulos; propagação implantação do projeto e facilitar que seja
vegetativa de espécies nativas e condução da encontrada a diversidade de espécies
regeneração natural. Veja a seguir o detalhamento necessária para o PRAD. O ideal é que as mudas
das duas principais técnicas. sejam produzidas próximas às áreas de plantio,
com sementes coletadas na região. A quebra
da dormência e tempo de germinação das
3.1. Plantios de Mudas sementes varia entre espécies, portanto, a

O plantio de mudas é a técnica mais eficaz de produção de mudas deve ser acompanhada e

promover a RAD, pois as mudas serão inseridas no assinada por engenheiro agrônomo ou

local, não sendo necessário aguardar a germinação florestal de acordo com o que dispõe a Lei nº

e o estabelecimento da muda. O ponto negativo 10.711/2003.

deste processo reside no fato de ser muito caro, c) Isolamento da área a ser recuperada – assim
variando entre R$15 a R$30 mil o plantio de um que o local estiver determinado, deve-se isolá-
hectare, o valor pode ser maior quando não há uma lo para que não entrem animais.
produção própria das mudas. Em grandes projetos
d) Capina – em áreas degradadas é comum que a
de RAD muitas vezes os viveiros são montados nos
vegetação presente seja composta
locais de plantios, o que facilita a logística. A seguir,
predominantemente por gramíneas. Estas
breve descrição de cada um dos procedimentos
espécies geralmente são prejudiciais para as
para o plantio de mudas.
mudas plantadas, tanto por serem
a) Escolha das espécies – este processo é de competidoras agressivas, que geram grande
fundamental importância. Deve-se evitar quantidade de sementes e germinam muito
espécies exóticas, com exceção de que em rapidamente, quanto por sufocar as mudas
pequenas propriedades é permitido o uso de provocando a morte das mesmas. Recomenda-
até 50% de espécies exóticas. Outro fator se não usar herbicidas; caso decida usar, o
importante é a classe sucessional de cada mesmo deve ser receitado por um agrônomo e
espécie, devendo assim ser feita a escolha de constar no PRAD. A retirada das plantas
árvores que cresçam rapidamente, chamadas daninhas (mato) através do fogo não é
de pioneiras e também aquelas que crescem recomendada, porém, pode ser usada dentro

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de determinados limites legais, definidos pelo h) Coroamento – consiste na retirada das plantas
artigo 38 do Novo Código Florestal. daninhas (mato) próximo a cova. O
coroamento deve ser feito ao menos uma vez
e) Abertura de covas – o tamanho da cova irá
por mês, evitando que o mato sufoque as
depender do tamanho do recipiente o qual se
mudas e em caso de incêndio a planta estará
encontra a muda. Mudas em tubetes podem
mais protegida.
ser plantadas em covas de 30 x 30 x 30cm, para
mudas em sacos sugere-se que seja feita uma
cova maior, de 40 x 40 x 40cm.
3.2. Regeneração Natural
f) Espaçamento entre covas – varia muito do
A condução da regeneração é uma alternativa
objetivo do projeto de RAD. Para que haja um
considerada pelo Novo Código Florestal. É um
fechamento mais rápido da área devem ser
processo mais simples, que consiste no
utilizadas distâncias menores 2,0 x 2,0 metros.
estabelecimento de espécies de forma natural.
Neste espaçamento serão plantadas mais
Nesta técnica as sementes chegam por dispersão e
mudas, sendo 2.500 mudas por hectare, isto irá
se estabelecem no local. É um processo mais lento
elevar o custo do projeto. Geralmente é
que os plantios. Como principal procedimento,
utilizado o espaçamento de 2,0 x 3,0 metros,
devem ser retirados todos os fatores que causaram
que promoverá um fechamento de copa um
a degradação da área e posteriormente cercá-la e
pouco mais lento e serão utilizadas 1.667
isolá-la.
mudas/ha.
A regeneração natural possui alguns fatores
g) Plantio – toda a terra retirada da cova deve ser
negativos. Caso não haja fragmentos de vegetação
misturada ao adubo utilizado, juntamente com
próximos, a chegada de sementes ficará debilitada
calcário e devolvendo a terra misturada para
e a recuperação não irá ocorrer. Em solos muito
dentro da cova. Uma estaca de 1,5 metro deve
pobres ou compactos, o estabelecimento das
ser colocada em cada uma destas covas para
espécies também será prejudicado, podendo
tutoramento, facilitando a visualização das
chegar muitas sementes, no entanto, poucas irão
mesmas e sustentando as mudas em
se estabelecer. Outro fator negativo é a
crescimento.
possibilidade de invasão de espécies exóticas.
O plantio deve ser dividido em linhas Como ponto positivo, temos o fato de ser mais
alternadas. Em uma das linhas devem ser acessível.
plantadas mudas de crescimento rápido,
sendo chamadas de mudas de
preenchimento. Na outra linha devem ser
plantadas mudas de crescimento mais lento,
no entanto em número mais elevado de
espécies, sendo estas linhas chamadas de
linhas de diversidade.

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4. Monitoramento meio da implantação de parcelas. O


acompanhamento de mudas é mais simples. Nesta
Para acompanhamento do PRAD é necessário
forma, quando adotada, ao menos dez indivíduos
produzir o Relatório de Monitoramento e de
de cada espécie plantada devem ser marcados e
Avaliação de Projeto de Recuperação de Área
acompanhados a cada mês para verificar se os
Degradada ou Perturbada. A frequência de
mesmos estão se desenvolvendo, estabilizados ou
apresentação do relatório dependerá do órgão que
morrendo. O método de parcelas permanentes é
avaliará o PRAD.
executado através de delimitação de áreas com
Todas as áreas de RAD, independente da técnica fitilho. Por exemplo, podem ser delimitadas áreas
utilizada, devem ser monitoradas. No caso de de 5 x 5 metros, com marcação de todos os
plantios, as mudas mortas devem ser substituídas indivíduos.
e o mato retirado através do coroamento. Em áreas
em processo de regeneração natural deve-se
observar se a chegada e estabelecimento de 5. Considerações Finais
espécies vêm realmente ocorrendo. Caso a
condução da regeneração natural não esteja O plantio de muda (ou a chegada de uma semente)
na área em processo de recuperação não
ocorrendo o projeto deverá ser reformulado e as
técnicas mudadas. significará que a mesma irá se estabelecer, uma vez
que para isto ocorrer existem muitas variáveis
O sucesso do PRAD se dará com o desenvolvimento
ambientais que devem ser consideradas.
da vegetação e retorno de qualidades ambientais
O sucesso do RAD será medido de acordo com a
originais ou próximas das mesmas e pelos
seguintes parâmetros: sobrevivência e desenvolvimento das mudas
plantadas ou que estejam em processo de
I. presença de diversidade de regeneração
condução da regeneração natural e também pela
espontânea;
chegada de novos indivíduos. Este sucesso deve ser
II. aumento da cobertura do solo por espécies
acompanhado por técnicos e apresentado para os
nativas;
órgãos responsáveis posteriormente.
III. redução e eliminação da cobertura de
Caso os objetivos e metas propostos pelo PRAD não
espécies exóticas invasoras.
sejam alcançados, o projeto será reavaliado e
Para a mensuração do sucesso da
adequações técnicas pertinentes deverão ser
restauração/recuperação deverão ser monitoradas
adotadas.
variáveis que meçam quantitativamente os
parâmetros de sucesso descrito anteriormente,
dados estes obtidos de forma amostral. A
metodologia empregada no monitoramento deve
estar descrita no PRAD.

As duas formas mais simples de amostragem para


acompanhar o sucesso do PRAD são através de
acompanhamento de espécies plantadas ou por

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6. Referências Bibliográficas Ciliar e da Reserva Legal para a Certificação


Agrícola – Conservação da Biodiversidade
Moraes, L. F. D. [Et Al.]. Manual técnico para a na Cafeicultura, 2008. Disponível em:
restauração de áreas degradadas no www.lerf.eco.br. Acesso em 4 de abril de
Estado do Rio de Janeiro.Rio de Janeiro: 2016.
Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2013. Instrução Normativa nº 4/2011 do IBAMA.
Disponível em http://www.ibama.gov.br/phocadownloa
http://jbrj.gov.br/sites/all/themes/corpor d/supes_go/in_04_11_prad.doc. Acesso
ateclean/content/publicacoes/manual_tec em 4 de abril de 2016.
nico_restauracao.pdf. Acesso em 4 de abril Instrução Normativa ICMBio nº 11, de 11 de
de 2016. dezembro de 2014.
Attanasio, C. M., Gandolfi, S., Rodrigues R. R. http://www.icmbio.gov.br/cepsul/images/
Manual de recuperação de matas ciliares stories/legislacao/Instrucao_normativa/20
para produtores rurais. Disponível em: 14/in_icmbio_11_2014_estabelece_proce
www.lerf.eco.br. Acesso em 4 de abril de dimentos_prad.pdf. Acesso em 4 de abril
2016. de 2016.
Cláudia Mira Attanasio.Manual Técnico:
Restauração e Monitoramento da Mata

É permitida a reprodução total ou parcial desta


publicação, desde que citada a fonte.

Instituto Brasileiro de Administração Municipal – IBAM


Programa de Qualificação da Gestão Ambiental – Municípios do Bioma
Amazônia - PQGA
Rua Buenos Aires nº 19 – Centro – RJ
Email: contato-amazonia@ibam.org.br | Web: amazonia-ibam.org.br

Autor: Richieri Antônio Sartori


Consultor do PQGA/IBAM
Professor de Restauração Ambiental e Bioestatística – PUC-RIO

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