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“MODELOS PRÁTICOS”

SUGESTÕES PARA A ELABORAÇÃO DO TERMO OU COMPROMISSO DE


AJUSTAMENTO

José Carlos de Freitas

1º P. J. de Habitação e Urbanismo da Capital

I- LOTEAMENTOS IRREGULARES (aprovados, registrados e sem obras)

Como esses casos geralmente reclamam somente a execução das obras


exigidas por lei e/ou pelos alvarás e licenças expedidos pelos órgãos públicos, que não
foram executadas ou foram implementadas parcialmente, sugerimos algumas dicas para a
Promotoria estabelecer as cláusulas do compromisso de ajustamento.

A) QUANTO À PARTE (DEVEDOR):

1- é recomendável que os sócios da sociedade loteadora, com poderes de


gestão de fato (que praticaram atos de lotear) e de direito, figurem no acordo, assinando por
esta e também em nome próprio, assumindo pessoal e solidariamente a responsabilidade
pela execução das obras, diante do disposto no art. 47 da Lei 6766/79 (hipótese de
solidariedade legal), pois a pessoa jurídica poderá não ter bens para suportar eventual
execução.

B) QUANTO AO OBJETO:

1- além da descrição dos fatos, sugere-se cláusula em que o loteador se


compromete a ressarcir os danos causados aos padrões de desenvolvimento urbano e aos
adquirentes dos lotes (pela inexecução das obras), executando as obras de infra-estrutura do
loteamento; a assunção expressa da culpa pelo evento danoso, embora desejável, não é
imprescindível, mas, sim, a responsabilidade pela sua reparação, pois o loteador pode
pretender não assumir a culpa para poder exercer eventual direito de regresso em face de
terceiros (Hugo Nigro Mazzilli, "A Defesa dos Interesses Difusos em Juízo", Saraiva, 7ª
ed., 1995, pág. 572, nota 4);

2- as obras de infra-estrutura devem ser especificadas, ainda que


genericamente (obras para a drenagem e o escoamento de águas pluviais, esgoto,
calçamento e pavimentação, redes de água e energia elétrica, etc.), segundo um cronograma
de obras apresentado pelo respectivo órgão público, que deve ser anexado ao acordo; deve-
se evitar a especificação, no acordo, do material que será empregado (quantidade, modelo,
tamanho, diâmetro, marca, etc.), pois isto implicará na sua aceitação expressa pelo MP,
acarretando problemas no futuro se a sua qualidade não satisfizer as normas técnicas, que
devem ser observadas e exigidas pelo respectivo órgão fiscalizador, quando da execução
das obras.

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C) QUANTO AO PRAZO PARA O ADIMPLEMENTO DA
OBRIGAÇÃO:

1- deve-se atentar para que o loteador não seja beneficiado com a


prescrição nos loteamentos antigos; são raras as decisões na jurisprudência paulista sobre o
prazo de prescrição, se é de dez ou vinte anos, havendo somente um acórdão que
estabeleceu não ocorrer prescrição na espécie, porque se trata de interesse público ou
equiparado e porque não há previsão de prescrição para a ação civil pública (Agr. de Instr.
nº 25.769-4/6, 2ª Câm. de Direito Privado do TJSP, rel. Des. Linneu Carvalho, j. em
19/11/96); na dúvida, recomenda-se o ajuizamento da ação, com a citação interruptiva da
prescrição;

2- o prazo fixado não deve ser muito extenso ou superior a dois anos
(prazo do art. 18, V, da Lei 6766/79), pois o loteador já foi beneficiado com sua inércia; é
recomendável a consulta à Prefeitura sobre o lapso de tempo necessário à execução das
obras, que pode ser até inferior a 02 anos;

3- fixar cláusula de vencimento antecipado, vinculando o loteador a todas


as fases do cronograma ("será considerada antecipadamente vencida a obrigação,
ensejando imediata execução judicial, caso o compromissado descumpra qualquer das
fases do cronograma de obras anexo, bastando simples vistoria do Ministério Público ou
de qualquer órgão público para constatar o fato"); do contrário, deve-se aguardar o
transcurso de todo o prazo avençado (p. ex, um ano) para se poder executar o loteador, que
poderá desaparecer e dissipar seus bens, frustrando a execução;

4- estabelecer prazo para que o loteador apresente na Promotoria um


termo de verificação de obras elaborado pela Prefeitura, visando constatar o adimplemento
da obrigação de fazer;

5- recomenda-se que o prazo fixado no acordo para a execução das obras


seja inferior ou semelhante ao prazo mínimo de suspensão do processo criminal (dois anos:
Lei 9099/95), de modo a constatar, no inquérito civil, se o loteador irá ou não cumprir o
requisito do ressarcimento dos danos, caso em que, se negativo, ensejará o reinício da ação
penal;

6- evitar cláusula que faculte uma prorrogação do prazo fixado no acordo,


ainda que a causa da prorrogação resulte de caso fortuito ou força maior ("...a critério do
Ministério Público, poderá o prazo ser prorrogado se ocorrer força maior ou caso
fortuito..."), posto que essa cláusula enseja um "relaxamento" pelo loteador e, também,
porque a força maior e o caso fortuito (longo período de chuvas torrenciais, p. ex.) são
causas legais que justificam o descumprimento da obrigação (arts. 957 e 1.058, Cód. Civil).

D) QUANTO À MULTA MORATÓRIA:

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1- a multa moratória diária, por ser exigível conjuntamente com a
obrigação principal (art. 919, Cód. Civil), deve ser fixada sem prejuízo da execução
específica da obrigação por terceiros;
2- multas elevadas em face do Município (como loteador ou co-
responsável, por omissão) inviabilizam a execução do acordo, podendo o valor total da
multa ser superior ao valor das obras;

II- LOTEAMENTOS CLANDESTINOS

A) OBSERVAÇÕES SOBRE ACORDOS GENÉRICOS.

Quanto aos loteamentos clandestinos, um acordo genérico fixando a


obrigação de o loteador aprovar, registrar e efetuar as respectivas obras, deve ser precedido
de algumas cautelas, sob pena de a Promotoria se deparar com problemas que inviabilizam
tanto o adimplemento do compromisso, no prazo e nas condições avençadas, quanto a
execução do título extrajudicial.

Podem ocorrer restrições relativas ao imóvel e sua localização, à sua


matrícula ou ao título de domínio, que obstam o registro do loteamento, ou mesmo questões
de ordem urbanística:

1- se o imóvel objeto do parcelamento contiver descrição irregular ou


nenhuma medida perimetral no registro de imóveis ("... começa numa pedra, faz divisa com
um riacho, contorna um bambuzal..."), deverá o proprietário, antes, promover a retificação
da área, em processo que tramitará por tempo indeterminado (fato que depende de terceiro:
o Judiciário);

2- se tiver sido utilizada mais de uma gleba para um único loteamento (e


mais de uma matrícula), reclama-se uma fusão das matrículas;

3- se o loteador era proprietário em condomínio, por sucessão causa


mortis, e realizou o loteamento "na sua parte ideal", antes de homologada e registrada a
partilha ou antes de terminado o inventário, deverá regularizar a situação, promovendo,
inclusive, o desmembramento de sua fração;

4- se o imóvel estiver localizado em zona rural, não poderá o loteador


aprovar nem registrar o loteamento por vedação legal (art. 3º, caput, Lei 6766/79), até
porque é necessário a Câmara Municipal votar lei alterando o zoneamento (zona rural para
urbana ou de expansão urbana), fato este que depende de terceiros (vereadores), e não só do
loteador;

5- se o loteador não era o proprietário da área, mas somente cessionário


de direitos, possuidor ou invasor, não poderá registrar o loteamento, pois a Lei 6766/79
exige título de propriedade (arts. 9º, caput, e 18, I);

6- se o tamanho dos lotes for inferior a 125,00 metros quadrados, ou as


ruas tiverem largura menor que a prevista em lei, haverá necessidade de ser alterada a

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legislação municipal para admitir as medidas dos lotes e das ruas, criando lei que considere
o loteamento como de interesse social ou para fins de urbanização específica (art. 4º, II, Lei
6766/79);

7- estando parte do loteamento localizada em área de preservação


ambiental, fica inviabilizada a regularização total do empreendimento (e dos lotes ali
situados), devendo haver remoção de pessoas com indenização ou assentamento noutro
lugar.

B) COMPROMISSO PRELIMINAR

Como é praxe dos órgãos públicos não informarem sobre as obras


necessárias à regularização ou quanto às restrições sanitárias ou ambientais incidentes (o
que, por uma questão técnica, às vezes só pode ser feito com a apresentação do projeto,
plantas, etc.), recomenda-se estabelecer com o loteador um compromisso preliminar que o
obrigue a submeter o projeto às aprovações e registro, quando, então, diante das exigências
que forem feitas pelos órgãos públicos e pelo C.R.I., terá a Promotoria elementos para
aquilatar a possibilidade de um acordo definitivo (saber se a obrigação depende de fato ou
ato de terceiro) e estabelecer prazo razoável ao adimplemento.
Esse ajuste preliminar é homologado pelo Conselho Superior do
Ministério Público, não interrompe outras investigações nem acarreta o arquivamento do
inquérito civil (súmula nº 20 do CSMP: "Quando o compromisso de ajustamento tiver a
característica de ajuste preliminar, que não dispense o prosseguimento de diligências para
uma solução definitiva, salientado pelo órgão do Ministério Público que o celebrou, o
Conselho Superior homologará somente o compromisso, autorizando o prosseguimento
das investigações.").
Assim, sugere-se a seguinte cláusula:
"O compromissário, reconhecendo que executou o loteamento ... , situado
na ..., no imóvel objeto da matrícula nº... , composto de... lotes, ... quadras, ... ruas, tendo
vendido ... lotes ao preço de R$..., sem as devidas aprovações, sem registro e sem as obras
de infra-estrutura, compromete-se e obriga-se a obter as diretrizes da Prefeitura de...,
elaborar e apresentar o projeto, memorial descritivo e demais elementos exigidos pela Lei
6766/79 (arts. 6º, 9º, 10 e outros) aos órgãos públicos e ao cartório de registro de imóveis,
tudo no prazo de 120 dias, contados desta data, devendo apresentar na Promotoria os
respectivos comprovantes (protocolos, prenotação, etc.) no 120º dia, sob pena de
pagamento de multa no valor de R$50.000,00 (cinqüenta mil reais), acrescida de juros e
correção monetária, a ser exigida de imediato em regular processo de execução por quantia
certa, sem necessidade de notificação ou interpelação (art. 960, caput, do Cód. Civil)."

C) OUTRAS SUGESTÕES

Nos loteamentos em fase inicial (ainda não executados nem ocupados, ou


com baixa densidade de ocupação, porque ainda é possível reservar espaços para as áreas
públicas ou "non aedificandi": arts. 4º e 5º da Lei 6766/79), sugere-se compromisso
preliminar para o loteador: (a) paralisar todas as atividades de implantação física do
loteamento (obras de terraplanagem, abertura de ruas, demarcação de quadras e lotes,
edificações, etc.) e impedir que terceiros executem obras no local, inclusive os adquirentes

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dos lotes; (b) cessar as vendas, promessas de vendas, reservas ou quaisquer atos que
impliquem na alienação de lotes, bem como a cobrança ou o recebimento de prestações dos
adquirentes; (c) obter as licenças, aprovações e registro do loteamento, em prazo razoável,
sob pena de desfazimento do loteamento, com indenização pelos danos ambientais,
urbanísticos e aos adquirentes.
Caso seja impossível regularizar o loteamento e ainda estando na sua fase
inicial de implantação, além das providências dos subitens "a" e "b" acima, em especial no
tocante aos interesses dos adquirentes dos lotes, pode-se estabelecer, no compromisso
preliminar, a obrigação do loteador em ressarcir os consumidores lesados, devolvendo-lhes
as quantias pagas, com juros e correção monetária, mais a indenização pelas perdas e danos
(de forma genérica, por analogia ao disposto no art. 95 do CDC), cujo montante deve ser
apurado em processo de liqüidação.
Ainda quanto aos adquirentes, sugere-se que o loteador os cientifique da
existência do acordo e do seu direito de receber as quantias pagas, apresentando na
Promotoria os comprovantes das notificações, feitas na forma do art. 49 da Lei 6766/79,
num prazo razoável, sob pena de pagamento de multa moratória com valor de fácil
quantificação e liqüidação (R$1.000,00 para cada adquirente injustificadamente não
notificado, p. ex.), exigível em processo de execução por quantia certa, sem necessidade de
interpelação do loteador (art. 960, Cód. Civil).

TAC - Temo de Ajustamento de Conduta da


Ação Civil Pública 249/93
(1ª Vara Judicial da Comarca de Cubatão)
(ACORDO)

Exma. Sra. Juíza de Direito da 1ª Vara da Comarca de Cubatão

Processo nº 249/93

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O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO e o SINDICATO DOS
EMPREGADOS NAS INDÚSTRIAS QUÍMICAS E FARMACÊUTICAS DE
CUBATÃO, SANTOS e SÃO VICENTE, como AUTORES, e a RHODIA S.A., como RÉ,
nos autos da Ação Civil Pública em referência, em que contendem, tendo em vista a
aceitação pela RÉ do cumprimento das obrigações de fazer adiante explicitadas e dos ônus
também adiante relacionados, vêm dizer a V. Exa. Que resolveram firmar o presente
TERMO DE AJUSTAMENTO, em anexo, que, devidamente homologado por sentença
desse Douto Juízo e na forma do disposto no Art. 269, III, do C.P.C., põe fim à lide.
As partes assumirão as custas e despesas que já realizaram e responderão pelos honorários
de seus respectivos advogados. As custas que acrescerem, assim como todas as custas
despesas de execução, correrão por conta da RÉ.
Termos em que,
P. Deferimento.
Cubatão, 14 de junho de 1995
Geraldo Rangel de França Neto
2º Promotor de Justiça
Marcio Luiz da Silva Miorin
OAB/SP nº 88.939
Francisco Prado de Oliveira Ribeiro
OAB/SP nº 7.921

TERMO DE AJUSTAMENTO
I - OBRIGAÇÕES DE CARÁTER AMBIENTAL
Pelo presente termo de ajustamento, a
RHODIA S.A. se obriga a cumprir , a seu
ônus exclusivo, as seguintes obrigações
de caráter ambiental:
1.1. - A RÉ promoverá a prospecção e diagnóstico de todas as quantidades de resíduos
sólidos industriais (RSI) das porções de solos contaminados por poluentes, dispostos
inadequadamente na área da UQC, considerados fontes de poluição, com a indicação do
que deve ser retirado e incinerado para a garantia da manutenção dos seguintes níveis de
concentração do ar: a) em qualquer ponto da fábrica, os índices de 25 ug/m3 de
hexaclorobenxeno, 210 ug/m3 de hexaclorobutadieno, 50 mg/m3 de tetracloreto de carbono
e 525 mg/m3 de percloroetileno; b) fora do perímetro da fábrica, nas áreas adjacentes, os
índices indicados na letra a supra, reduzidos em 10 (dez) vezes, ou outros limites mais
restritivos, para estas mesmas substâncias, que vierem a ser indicados por estudos
comprovadamente idôneos e aceitos no âmbito da ciência.
1.1.1. - A água subterrânea, dentro dos limites da fábrica (UQC), será integralmente tratada
e contida de modo a impedir a ocorrência de danos à qualidade dos recursos naturais
externos ao perímetro da referida unidade (UQC).
1.2. - Os resíduos sólidos industriais (RSI) i as massas de solo ainda contaminadas por RSIs
ou por produtos industrializados na própria UQC, que remanescerem, serão considerados
fontes de poluição, devendo ser confinados com a aplicação da tecnologia de "contenção

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geotécnica", constante do Projeto Conceitual de Recuperação Ambiental (PCRA) -
ANEXO nº 1 - de forma a não poderem acarretar qualquer dano à saúde das pessoas ou à
qualidade do meio ambiente de dos recursos naturais, observados os índices de
concentração previstos nas letras a e b, do item 1.1, supra.
1.3. - O detalhamento do Projeto Conceitual de Recuperação Ambiental (PCRA) será feito
de conformidade com os períodos de tempo previstos no cronograma elaborado pela
CSD/GEOCLOCK e que fica fazendo parte integrante deste termo de ajustamento, como
ANEXO nº 2.
1.3.1. - o projeto de detalhamento será encaminhado ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas
- IPT - a fim de que este, no prazo de 30 dias, apresente considerações técnicas sobre a
oportunidade, a adequação e a qualidade das soluções descritas no mesmo e correções
devidas.
1.4. - O conjunto de ações corretivas, entendido aqui todas as ações levadas a efeito pela
RÉ para minimizar os danos já perpetrados e prevenir danos futuros deve ser gerido, via um
sistema de qualidade em conformidade com o especificado na Série 9000 da ISO.
1.5. - As auditorias relativas ao sistema da qualidade, mencionadas no item anterior (1.4),
serão realizadas pelo INMETRO ou instituição de qualificação equivalente indicada por
este, e serão iniciadas de acordo com o ordenamento das ações previstas no cronograma
constante do ANEXO nº 2. O relatório da auditoria será apresentado, em juízo, em quarenta
e cinco dias.
1.6. - As obras previstas no detalhamento do Projeto Conceitual de Recuperação Ambiental
(PCRA) serão objeto de fiscalização por parte da CETESB que avaliará, quando de sua
implementação, se se respeitou a conformidade entre os dados do referido projeto e o que
estiver sendo implementado, bem como o cumprimento do cronograma. A CETESB
apresentará relatório contendo, além dos temas tratados no item anterior, considerações
técnicas sobre a eficácia e eficiência das obras implementadas com o objetivo de controlar a
poluição decorrente da disposição inadequada dos RSI da UQC.
1.6.1. - O relatório da avaliação, com as respectivas conclusões, será obrigatoriamente
trazido a Juízo, tão logo emitido.
1.7. - No caso da ocorrência de danos ao sistema de isolamento das massas de RSI e/ou
porções de solos contaminados, em conseqüência de fenômenos naturais, tais como a
acomodação de grandes massas de solo, enchentes e desmoronamentos, deve ser
providenciada a implementação de medidas corretivas que garantam a minimização dos
danos, a qualidade do meio ambiente e da saúde da comunidade local, medidas essas que,
previstas no detalhamento do PCRA, deverão ser adotadas no prazo de 24 horas após o
conhecimento do fato.
1.8. - Deverá ser implementado um sistema de tratamento de todo o volume do aqüífero
contaminado por RSI, nos limites da UQC. O volume hídrico trazido para a superfície
deverá sofrer tratamento de forma a poder qualificá-lo como efluente passível de
lançamento em águas superficiais de classe 2 (dois), tal como definido na Resolução
CONAMA nº 20/86, podendo ser reinjetado ou destinado ao Rio Perequê, após análise da
CETESB. O controle da qualidade do efluente da estação de tratamento do aqüífero será
efetuado pela CETESB, devendo o relatório desta avaliação ser juntado aos autos.
1.9. - A estação de tratamento desse volume hídrico trazido à superfície deverá contar com
um sistema adequado de avaliação contínua da confiabilidade e eficácia da qualidade do
tratamento praticado.

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1.10. - Um sistema de monitoramento da qualidade das águas subterrâneas deverá ser
implementado a jusante dos limites da UQC (ANEXO nº 3). Caberá à CETESB efetuar o
controle da eficácia e eficiência do referido sistema de monitoramento, coleta e análise
laboratorial das amostras das águas coletadas, mensalmente ou, extraordinariamente,
quando um fato excepcional o justificar.
1.11. - Semestralmente, serão enviadas ao INSTITUTO ADOLFO LUTZ, para análise
laboratorial, alíquotas de amostras representativas das águas subterrâneas coletadas pela
CSD-GEOCLOCK. Caberá àquele Instituto supervisionar a metodologia da coleta e
transporte do material a ser analisado.
1.12. - A incineração referida no item 1.1 será realizada no incinerador localizado dentro da
UQC. Antes do início dos testes de queima, o incinerador deverá ser vistoriado pela equipe
técnica da CETESB para a avaliação das condições de funcionamento dos Equipamentos de
Controle da Poluição (ECP). Os relatórios técnicos das vistorias e as conclusões
decorrentes das constatações efetuadas serão obrigatoriamente trazidos a Juízo, no prazo de
30 dias da data da conclusão da vistoria técnica.
1.13. - Antes de o incinerador entrar em funcionamento regular, a RÉ deverá cumprir as
exigências técnicas que vierem a ser formuladas pela CETESB, para adequado controle de
poluição do ar e do meio ambiente de trabalho.
1.14. - Posto em funcionamento o incinerador e iniciada a incineração regular de RSI,
cumpridos os requisitos constantes dos itens anteriores, os relatórios técnicos das vistorias
realizadas periodicamente ou extraordinariamente pela CETESB, com o objetivo de avaliar
a eficácia e a eficiência do funcionamento do referido EPC e suas conclusões, serão
obrigatoriamente trazidos para os autos, no prazo de 30 dias da data do término de cada
uma das vistorias.
1.15. - Os laudos de análise das águas subterrâneas levados a efeito pela CETESB e pelo
INSTITUTO ADOLFO LUTZ serão obrigatoriamente juntados aos autos, tão logo
emitidos.
1.16. - No cumprimento das obrigações acima relacionadas caberá à RÉ, não só a iniciativa
de obter das empresas e instituições mencionadas os exames, relatórios e laudos, que
deverá obrigatoriamente juntar aos autos, como também arcar com os custos dos
respectivos serviços.
1.16.1 - Caso as Instituições mencionadas não puderem realizar os trabalhos aqui
especificados, a RÉ deverá providenciar sua substituição imediata por outras de
qualificação equivalente.
1.17. - Ressalvadas as atividades regulares de incineração, nenhuma atividade poderá ser
realizada na UQC antes do término da implantação das medidas de remediação previstas
neste Termo de Ajustamento.
1.18. - Os trabalhadores poderão eleger uma comissão para acompanhar os trabalhos de
coleta das amostras obtidas pelos órgãos encarregados do monitoramento.
II - PRECEITOS RELATIVOS À SAÚDE
Ainda pelo presente termo de
ajustamento, a RHODIA S.A. se obriga a
cumprir, a seu ônus exclusivo, os
seguintes preceitos relativos à saúde:
2.1. - A RÉ submeterá os seus empregados, que atuavam na UQC à data do seu
fechamento, a uma avaliação individual de saúde, através de exames clínicos e laboratoriais
adequados, em conformidade com o Plano de Avaliação que fica fazendo parte integrante

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deste Termo de Ajustamento como ANEXO nº 4. Estes exames devem permitir diagnóstico
do estado de saúde de cada examinando.
2.2. - Será formada uma JUNTA MÉDICA, composta por um médico indicado pelo
MINISTÉRIO PÚBLICO, outro pelo SINDICATO e outro pela RHODIA S.A., que se
incumbirá de :
a) definir com base em dados científicos a relação das doenças que podem ser causadas por
exposição a organoclorados;
b) estabelecer os critérios pelos quais diante do resultado dos exames, serão definidos os
portadores do quadro-suspeito de doença decorrente de exposição a organoclorados no
âmbito da UQC.
2.2.1. - Dentro de 45 (quarenta e cinco) dias, contados da homologação deste acordo, as
partes juntarão aos autos os nomes para a composição da JUNTA MÉDICA, cujas decisões
serão sempre tomadas pelo voto da maioria de seus integrantes. Caso a Rhodia S.A. ou o
Sindicato não indicarem os seus representantes, caberá ao Ministério Público constituir a
Junta.
2.3. - Ao empregado considerado portador do quadro-suspeito, conforme item 2.2 será
assegurado tratamento médico adequado visando a readquirir condições de normalidade. O
empregado, por sua vez deverá cumprir devidamente as prescrições médicas, tais como
medicação, alimentação, repouso, hospitalização e outras adequadas à eficácia do
tratamento.
2.3.1. - O tratamento previsto no item anterior será prestado em Hospitais ou Clínicas
integrantes do Convênio Médico da empresa oferecido a seus empregados e, na falta destes,
em estabelecimentos situados na Baixada Santista, indicados pelo empregado, ou pelo
Sindicato.
2.4 - A avaliação prevista no item 2.1. será repetida semestralmente e terá caráter vitalício;
será realizada com a utilização de recursos do HOSPITAL ALBERT EINSTEIN, de São
Paulo, sob responsabilidade de médico ali cadastrado e habilitado em medicina do trabalho.
2.4.1. - O médico a que se refere o item 2.4. poderá indicar outros profissionais,
preferencialmente dentre os cadastrados no Hospital Albert Einstein e requisitar a
realização de exames mais específicos e necessários para o efetivo cumprimento do item
2.1. a serem realizados no citado hospital ou Instituição do mesmo nível técnico.
2.5. - A avaliação a que se refere o item anterior poderá ser realizada fora da periodicidade
semestral, ali prevista, a critério médico e em função dos resultados dos exames médicos.
2.6. - Os ex-empregados da RHODIA S.A., inclusive os aposentados, que trabalharam na
UQC por período não inferior a 6 (seis) meses, e os empregados das empreiteiras
(entendidas estas como pessoa física ou jurídica) que tenham trabalhado na UQC,
devidamente comprovado, nos últimos 5 (cinco) anos, contados retroativamente da data do
seu fechamento, também por período não inferior a 6 (seis) meses, serão submetidos a
exame de sangue para verificação da possibilidade de presença de HCB, indicador de
exposição a organoclorados. Comprovada a presença deste indicador na corrente sanguínea
serão submetidos à avaliação de saúde prevista no item 2.1.. Caracterizado o quadro-
suspeito previsto no item 2.2. farão jus aos benefícios previstos nos itens 2.3 e 2.4.
2.6.1. - A RÉ, no prazo de 30 dias a contar da homologação do presente Termo de
Ajustamento, trará aos autos a relação dos seus ex-empregados e dos empregados das
empreiteiras que se enquadrarem no "caput"deste item.
2.7. - Os empregados da RÉ com contrato de trabalho em vigor na data do fechamento da
UQC (7.06.93) que apresentarem doença não relacionada com exposição a organoclorados,

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farão jus aos benefícios estabelecidos no regulamento do Instituto Rhodia de Seguridade
Social, o qual deverá ser juntado aos autos, independentemente de gozo de benefício
previdenciário-acidentário.
2.8. - A fim de viabilizar o cumprimento do disposto nos itens anteriores, a RÉ concederá a
todos os empregados lotados na UQC, com contrato de trabalho em vigor à data de seu
fechamento, uma garantia provisória de emprego, pelo período de 4 (quatro) anos, a contar
de 1º de janeiro de 1995. Na execução desta garantia, a RÉ poderá transferir os
empregados, no todo ou em parte , para outras unidades fabris de seu controle ou
participação, dentro do território da Grande São Paulo e da Baixada Santista ou para outras
empresas do Pólo Petroquímico de Cubatão, mantida a equivalência da remuneração e da
função e respeitadas as normas jurídicas pertinentes. Esta garantia de emprego se extinguirá
para cada empregado, individualmente, quando ocorrer a hipótese de justa causa para a
despedida (falta grave) e outras inerentes à frustração da estabilidade, aposentadoria ou
acordo exonerativo feito com a assistência do SINDICATO.
2.9. - Para o empregado da UQC com contrato de trabalho em vigor à data do fechamento
da fábrica, que vier a ser submetido ao tratamento a que se refere o item 2.3. será
assegurada a continuidade da garantia provisória enquanto perdurar a doença e o
cumprimento, por ele, das prescrições médicas respectivas.
2.10. - Após o decurso do prazo de garantia provisória de emprego, o empregado da RÉ,
despedido sem justa causa, que vier a se enquadrar no disposto no item 2.3, será
reintegrado, "ex-novo" no quadro funcional, retomando, daí para a frente, a garantia
provisória de emprego enquanto perdurar a doença e o cumprimento, por ele, das
prescrições médicas respectivas.
2.11. - A FUNDACENTRO, ou outra Instituição habilitada, procederá a uma avaliação da
qualidade do ar, no interior da UQC, antes que qualquer empregado da RÉ venha a retornar
ao trabalho, seja no incinerador, seja em qualquer outro posto de trabalho, no local.
2.11.1. - Caso fique evidenciado que a qualidade do ar no interior da UQC ultrapasse os
limites previstos no item 1.1., na legislação vigente e nas recomendações técnicas do Órgão
de fiscalização ocupacional, ficará vedado o ingresso de toda e qualquer pessoa no local,
sem o uso do equipamento de proteção individual adequado e indicado pelo Órgão
fiscalizador.
2.12. - Não serão passíveis de divulgação, ainda que em trabalhos de cunho científico e
estrita circulação, os resultados dos exames médicos e análises pessoais levadas a efeito em
cumprimento do presente acordo, exceto quando houver autorização do paciente
interessado.
III - DISPOSIÇÕES GERAIS
3.1. - Correrão por conta exclusiva da RÉ os ônus decorrentes de todas as obrigações de
caráter ambiental ou relativas à saúde ora assumidas, dos benefícios por ela ora
assegurados, compreendendo despesas diretas, indiretas e, ainda, o pagamento integral dos
serviços de terceiros envolvidos na execução dos preceitos.
3.2. - Se os órgãos públicos ou privados mencionados neste Termo de Ajustamento,
justificadamente, e com a anuência expressa do Ministério Público, indicarem outras
entidades nacionais ou estrangeiras para execução de quaisquer tarefas, todas as despesas
decorrentes destes trabalhos serão pagas diretamente pela RÉ à qual também incumbirá
estabelecer os contatos para os fins deste item.

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3.3. - Todos os relatórios das atividades previstas no presente acordo, tanto por parte da ré,
como pelos órgãos envolvidos, após formalizados e concluídos, deverão ser juntados aos
autos.
3.4. - O Ministério Público poderá, para fins de fiscalização, estudos, pesquisas e avaliação
da qualidade do sistema implantado, determinar o ingresso de especialistas ou instituições
da sua confiança no interior da UQC.
3.5. - Caso as soluções técnicas de ordem ambiental adotadas na execução deste
ajustamento, não venham a apresentar a eficácia esperada ou venham a ser superadas por
novas tecnologias, a RÉ ficará obrigada a, no prazo de 90 dias a contar da constatação do
fato, apresentar os necessários ajustes do PCRA. Caso tais ajustes não se mostrarem
eficazes, adotar-se-á a nova tecnologia adequada para a solução do problema.
3.6. - Considerando os danos causados, a RÉ, a título de benefício social doará:
3.6.1. - para a CETESB, o equivalente a R$ 800.000,00 (oitocentos mil reais), em
equipamentos, conforme ANEXO 5, os quais deverão se incorporados à Regional de
Cubatão;
3.6.2. - para o Instituto Adolfo Lutz, o equivalente a R$ 700.000,00 (setecentos mil reais),
em equipamentos, conforme ANEXO 6;
3.6.3. - para a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a importância, em dinheiro, de R$
300.000,00 (trezentos mil reais), destinada a um fundo especial a ser criado por Lei, com a
finalidade de, em caráter emergencial, possibilitar a troca de informações técnico-
científicas, quer no âmbito nacional, quer internacional, que visem a solucionar problemas
ambientais envolvendo substâncias químicas de alta toxicidade.
3.6.3.1. - A importância a que se refere este item terá de ser depositada em conta judicial
remunerada, em até cinco dias da data da homologação do presente Termo de Ajustamento
e ficará a disposição da Secretaria Estadual do Meio Ambiente a partir da criação do
referido Fundo. Não formalizado o Fundo no prazo de cinco anos, a partir da homologação
deste Termo de Ajustamento, a referida importância reverterá a favor do Fundo Estadual
para Reparação dos Interesses Difusos Lesados.
3.6.3.2. - a Secretaria Estadual do Meio Ambiente prestará contas, nos autos do processo,
anualmente, sobre a movimentação do Fundo a que se refere o item anterior.
3.7. - Fica estabelecido que, não atendidos os itens 3.6.1 e 3.6.2, no prazo de 90 (noventa)
dias da homologação deste Termo de Ajustamento, por culpa da ré, as importâncias ali
previstas terão de ser depositadas em valor dez vezes maior e devidamente atualizado, na
conta do Fundo Estadual para Reparação dos Interesses Difusos Lesados (Decreto nº
27.070/87). Se a culpa for dos donatários, os equipamentos serão destinados a outros
Órgãos Públicos envolvidos no acordo ou ligados à área e, na falta destes, na conta do
Fundo Estadual para Reparação dos Interesses Difusos Lesados.
3.8 - A ré doará, a órgão Público Estadual dedicado à saúde ocupacional, com atuação na
Baixada Santista, a ser indicado pelos autores, no prazo de 60 (sessenta) dias a contar da
homologação do presente Termo de Ajustamento, a importância de R$ 200.000,00
(duzentos mil reais), em equipamentos.
3.9. - Enquanto houver fontes de poluição na área da UQC, permanecerá a obrigação da RÉ
de promover as medidas adequadas à proteção do meio ambiente e da saúde humana, com a
utilização dos métodos científicos mais modernos e eficazes, nos termos do item 3.5.
3.10. - A ré cumprirá o presente ajustamento segundo o cronograma previsto no item 1.3..
inadimplida qualquer cláusula ficará ela sujeita a custear a execução da obrigação arcando
com multa diária, até cessar seu inadimplemento, equivalente a R$ 100.000,00 (cem mil

11
reais), atualizado monetariamente de acordo com os índices oficiais, não podendo o
montante total da multa exceder cinco vezes o valor total das obrigações que estiverem por
ser executadas à data da constituição em mora.
3.10.1. - A ré apresentará, a título de garantia, um seguro no valor de R$ 25.000.000,00
(vinte e cinco milhões de reais), atualizado monetariamente de acordo com os índices
oficiais. Tal valor, a partir do dia imediato do inadimplemento das obrigações aqui
assumidas, será depositado em conta judicial especial e ficará à disposição do Ministério
Público para cumprimento do ora acordado, sem prejuízo da aplicação concomitante de
multa diária prevista.
3.10.2. - Para a consecução do seguro supra referido a ré contratará empresa idônea,
apresentando a apólice no prazo de cinco dias da homologação do presente. Em caso de
descumprimento deste item, deverá a ré depositar, imediatamente, em conta judicial, o
valor do seguro, em dinheiro.
3.10.3. - O valor da apólice do seguro será decrescente, abatendo-se a cada ano o valor dos
eventos a que se tenha dado cumprimento, devidamente atestado pelo Ministério Público.
3.11. - Considera-se inadimplemento da ré, a não execução das obrigações por prazo
superior a 90 dias das datas programadas no cronograma de obras, independentemente de
notificação, exceto nos casos de força maior, cujo prazo passará a fluir a partir da cessação
do evento.
3.12. - Em caso de inadimplência será providenciada uma perícia, judicial se necessária,
para avaliar o montante das obras referentes aos preceitos de ordem ambiental e das
despesas de ordem ocupacional, devendo a ré depositar, de imediato, o valor dos honorários
do perito. Caso os valores apurados pelo perito superarem o seguro previsto no item 3.10.1,
deverá a Ré depositar a diferença para a efetiva execução das obrigações aqui acordadas.
3.13. - Para efeitos das disposições relativas aos preceitos de saúde, considera-se
inadimplemento da ré a não execução ou descumprimento de qualquer das cláusulas
previstas nos itens 2.1. a 2.12, por prazo superior a 30 dias, caso em que, incide as regras do
item 3.10.
3.14. - na área ocupacional, o presente termo de ajustamento trata de uma garantia mínima
para os interesses da sociedade e será revisto toda vez que se revelar inadequado ou
insuficiente para a tutela destes, que é o objetivo mútuo das partes.
3.14.1. - Na área ocupacional, o presente termo de ajustamento visa ao resguardo de
interesses de caráter coletivo, não abrangendo qualquer pretensão individual, por ele não
alcançado.
3.15. - Todas as atividades a serem realizadas no interior da UQC somente terão início após
uma prévia avaliação da FUNDACENTRO, ou instituição equivalente, nos moldes do item
2.11. Os prazos do cronograma apresentado pela empresa CSD-GEOCLOCK terão início
após a avaliação aqui prevista, devendo a ré providenciá-la no prazo de 60 dias.
3.16. - As obrigações aqui previstas, de ordem ambiental e ocupacional são autônomas e
individualmente exigíveis.
Cubatão, 14 de junho de 1995
Ministério Público do Estado de São Paulo
Sindicato dos Empregados Nas Indústrias
Químicas e Farmacêuticas de Cubatão, Santos e
São Vicente
Rhodia S/A

12
ADITAMENTO
O presente Termo de Ajustamento será aditado para conter o seguinte:
1- A cláusula 3.5 deverá ficar com a seguinte redação:
3.5- Caso as soluções técnicas de ordem ambiental adotadas na execução deste ajustamento,
não venham a apresentar a eficácia esperada ou venham a ser superadas por novas técnicas,
a Ré ficará obrigada a, no prazo de 90 dias a contar da constatação do fato, apresentar os
necessários ajustes do PCRA. Caso tais ajustes não se mostrarem eficazes, adotar-se-á a
nova tecnologia, adequada para a solução do problema.
2- A cláusula 3.6.3 deverá ficar com a seguinte redação:
3.6.3- para a Secretaria Estadual do Meio Ambiente, a importância, em dinheiro, de R$
300.000,00 (trezentos mil reais), destinada a um fundo especial a ser criado por Lei, com a
finalidade de, em caráter emergencial, possibilitar a troca de informações técnico-
científicas, quer no âmbito nacional, quer internacional, que visem a solucionar problemas
ambientais envolvendo substâncias químicas de alta toxicidade, preferencialmente na
região da Baixada Santista.
Cubatão, 14 de junho de 1995.
Ministério Público do Estado de São Paulo
Sindicato dos Empregados nas Indústrias
Químicas e Farmacêuticas de Cubatão, Santos e
São Vicente
Rhodia S.A.
E.T. 1) Na cláusula 2.8, fica suprimida a expressão "aposentadoria"
2) A obrigação contida no item 3.8, apricar-se-ão as disposições do item 3.7.
ADITAMENTO N.º 2
A cláusula 3.10 ficara com a seguinte redação:
"3.10. - A ré cumprirá o presente ajustamento segundo o cronograma previsto no item 1.3..
Inadimplida qualquer cláusula do presente termo de ajustamento ficará ela sujeita a custear
a execução da obrigação arcando com multa diária, até cessar seu inadimplemento,
equivalente a R$ 100.000,00 (cem mil reais), atualizado monetariamente de acordo com os
índices oficiais, não podendo o montante total da multa exceder cinco vezes o valor total
das obrigações que estiverem por ser executadas à data da constituição em mora.
Cubatão, 22 de maio de 1995.
Ministério Público do Estado de São Paulo
Sindicato dos Empregados Nas Indústrias
Químicas e Farmacêuticas de Cubatão, Santos e
São Vicente
Rhodia S/A

13
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL
DA COMARCA DE FORTALEZA - CEARÁ.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COM PEDIDO DE LIMINAR


AUTOR: MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ.
RÉU: COMPANHIA ENERGETICA DO CEARÁ - COELCE.

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ – SERVIÇO ESPECIAL DE


DEFESA COMUNITÁRIA – DECOM - por seus Promotores de Justiça in fine assinados,
com fundamento nos preceitos insertos nos arts. 127 e 129, inciso III, da Constituição
Federal; art. 130, inciso III, da Constituição do Estado do Ceará; art. 25, inciso IV, letra a,
da Lei 8.625, de 12.02.93 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), combinado com
o art. 1º, inciso II, art. 5°, caput, da Lei 7.347/85 (Lei da Ação Civil Pública), Lei 8.078/90
(Código de Defesa do Consumidor) e demais dispositivos legais aplicados à espécie, vem
perante Vossa Excelência propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA, COM PEDIDO DE
LIMINAR, contra a COMPANHIA ENERGÉTICA DO CEARÁ - COELCE – pessoa
jurídica de direito privado, concessionário de serviço público, inscrita no CGC/MF sob o nº
07.047.251/0001-70, com endereço na Av. Barão de Sturdart, 2917 – Fortaleza – CE),
pelos motivos de fato e de direito a seguir expostos e no final requerido:

01. DOS FATOS

Os consumidores de energia elétrica no Estado do Ceará quando não podem


provisoriamente quitar, com a empresa concessionária desse serviço público essencial, os
seus débitos que lhes são imputados por inadimplemento ou em outros casos que de forma
unilateral constatou a Ré vícios nos aparelhos de medição etc., têm os respectivos
fornecimentos energéticos paralisados. O fato é público e notório, e ainda assim confirmam
a declaração de um desses usuários e os avisos nas notas fiscais em anexo (docs. 01/*).

Essas suspensões no fornecimento de energia elétrica vêm se repetindo e se tornando a cada


dia mais comum. Veja-se somente aqui em Fortaleza – (CE) o número de reclamações
acerca de corte do fornecimento de energia elétrica nos primeiros meses desse ano,
formuladas perante o Serviço Especial de Defesa Comunitária – DECOM – Ministério
Público do Estado do Ceará, conforme relação anexa (docs. */*)

Curioso é notar que em algumas oportunidades a Concessionária suspende o fornecimento


de energia elétrica e poste-riormente se constata no Serviço Especial de Defesa
Comunitária – DECOM – Ministério Público do Estado do Ceará, que houve equivoco, pois

14
o consumidor não tinha o acusado débito, ou não havia a causa que lhe fora imputada,
conforme faz prova os anexos (docs. */*).

Daí resulta que o constrangimento é irreversível, pois mesmo após o consumidor pagar a
sua dívida à Ré, ou essa haver o confessado o seu reconhecido equívoco, já não restará mais
ao usuário a dignidade da pessoa humana, essência da noticiada cidadania brasileira.

Se tem, por aqui, também a certeza de que a Ré não vem laborando com a prudência e a
eficiência necessária nas formulações de suas imputações de débitos e irregularidade
atribuídas de forma unilateral aos seus consumidores.

De outro lado, consequentemente, o dano moral consumado impregna o consumidor com o


conceito de caloteiro, no mínimo, perante os seus familiares, vizinhos, amigos e a
comunidade que o conhece.

É a dor da personalidade de milhares de brasileiros, cidadãos consumidores no Estado do


Ceará, marginalizados pelo estigma de uma sociedade que se autodenomina de civilizada e
às portas do século XXI deixa-os sem energia elétrica; consequentemente sem
comunicação, sem poderem conservar os seus mantimentos alimentares, enfim sem o
mínimo de bem estar social.

E assim, negam-lhes o direito essencial à dignidade da pessoa humana (art. 1º, inc. III,
CF/88). Mas, ainda formalmente, asseguram que o mercado interno integra o patrimônio
nacional e será incentivado de modo a viabilizar o desenvolvimento cultural e sócio-
econômino, O BEM ESTAR DA POPULAÇÃO e a autonomia tecnológica do País (Vide
art. 219, CF/88); porém, ainda assim, apagam a luz e deixam a cidadania brasileira com as
únicas luzes que ainda não conseguiram se apropriar: a da divina mãe natureza, o sol e a
lua.

Por via consequência, resta ao cidadão tão somente a visão sem luz, apagada, sem
responsáveis, provocada pelo breu da inadimplência involuntária, ou de um equívoco por
parte da concessionário do citado serviço público, clareando o brilho opaco de uma formal
e distante cidadania brasileira que se acha ferida mortalmente. Não se respeita a dignidade
da pessoa humana, do cidadão simples mortal, humilde e humilhado.
Convém frisar, por oportuno, como se demonstrará mais adiante, que o fornecimento de
energia elétrica resulta de um serviço público de natureza essencial, por essa razão não
existem valores humanitários, nem legais, a autorizar a suspensão de seu consumo mesmo
que haja o inadimplemento do usuário final.

Por outro lado, se verifica que apesar de a Ré prestar esse serviço de natureza essencial, não
visualizou ainda o direito intrínseco à dignidade da pessoa humana prometido pelo Estado
Democrático de Direito, primordialmente ao cidadão brasileiro; pois quer receber o seu
crédito, é seu direito, assim como também é seu o risco pelo sucesso financeiro de seu
empreendimento quando assumiu um serviço público essencial., pois não poderá
interrompe o fornecimento de energia elétrica sem afrontar a cidadania brasileira.

15
Assim não se pode admitir, ainda que seja naqueles casos em que não se trate de
inadimplemento, que a Ré, por sua vontade unilateral, interrompa o fornecimento da
energia elétrica destinada ao consumidor final, usurpando por essa via o direito a esse
serviço indispensável à cidadania; pois, o sistema jurídico brasileiro não contempla a
justiça privada, mas sim prevê medidas judiciais, quer civil, quer administrativa, quer penal
para responsabiliza o cidadão que tenha cometido qualquer ilícito previsto nessas e outras
searas jurídicas; porém, deverá passar antes pelo crivo do due process of law, quer seja
administrativo, quer seja judicial com o direito ampla defesa e o contraditório. É o império
da lei.

Há de ser salientado, em especial, que o empreendimento ora sub judice foi privatizado;
entretanto, não se privatizou a essencialidade desse serviço público, nem tão pouco se
institui a justiça privada no País.

Por fim, não havendo outra alternativa para que seja restabelecido o direito à dignidade da
pessoa humana e a essencialidade do serviço público de energia elétrica é que se propões a
presente ação civil pública,

02. DA LEGITIMIDADE ATIVA DO MINISTÉRIO PÚBLICO

A legitimidade do Ministério Público para intentar ação civil pública em defesa de


interesses coletivos, nos exatos termos dos dispositivos localizados nos artigos 127 e 129,
inciso III, da Constituição Federal, é indeclinável.

E, por via de consequência, dentre esses interesses coletivos é fácil se localizar o direito do
consumidor por força do preceito contido no art. 5º, inciso XXXII e ainda no art. 170,
inciso V, da Lex Fundamentalis Nacional.

Dessa fonte surgiu o Código de Defesa do Consumidor, Lei nº 8.078/90, atribuindo ao


Ministério Público a defesa coletiva de interesses ou direitos coletivos transindividuais de
natureza indivisível de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas com a
parte contraria por uma relação jurídica base (art. 82, inciso I, c/c. o art. 81, Parágrafo
único, inciso II, CDC).

Aqui se vê com facilidade que o bem tutelado, no presente caso, é de natureza


transindividual e indivisível pertencente a uma classe de pessoas; posto que se trata de
direito coletivo pertencente aos consumidores da energia elétrica fornecida pela
COMPANHIA ENERGÉTICA DO CEARÁ – COELCE; por conseguinte ligados a essa
concessionária por uma relação jurídica base, que é o direito de usufruírem de forma
ininterrupta esse serviço público de caráter essencial, que lhes são devidos em respeito à
dignidade da pessoa humana.

Para corroborar com esse entendimento se traz as palavras da doutrina sobre o assunto,
como segue expressis verbis:

"[5] INTERESSES OU DIREITOS "COLETIVOS" – Os


interesses ou direitos "coletivos" foram conceituados

16
como "os transindividuais de natureza indivisível de que
seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas
entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica-base (art. 81, parágrafo único, nº II). Essa
relação jurídica-base é a preexistente à lesão ou ameaça do
interesse do grupo, categoria ou classe de pessoas. Não a
relação jurídica nascida da própria lesão ou da ameaça de
lesão. Os interesses ou direitos dos contribuintes, por
exemplo, do imposto de renda, constituem um bom
exemplo. Entre o fisco e os contribuintes já existe uma
relação jurídica-base, de modo, à adoção de alguma
medida ilegal ou abusiva, será perfeitamente factível a
determinação das pessoas atingidas pela medida. Não se
pode confundir essa relação jurídica-base preexistente com
a originária da lesão ou ameaça de lesão ou ameaça de
lesão.
(...)"
(In Código Brasileiro de Defesa do Consumidor Comentado /
Ada Pellegrini Grinover ... [et al] - 4ª ed. – Rio de Janeiro :
Forense Universitária; 1995, págs. 503/504).

Verifique-se que os interesses transindividuais se conhece, não na visualização do direito


de cada um dos usuários, mas sim no universo conhecido pela identificação jurídica que os
qualificam de consumidores de energia elétrica fornecida pela concessionária
COMPANHIA ENERGETICA DO CEARÁ – COELCE.

Enquanto que a natureza indivisível do bem jurídico – o fornecimento continuado da


energia elétrica – se caracteriza pela forma unitária concebida na prestação desse serviço
público, que é um direito garantido a todos os consumidores finais em recebê-los; portanto,
considerado antes mesmo de qualquer lesão ou ameaça de lesão.

Esse aspecto é de fundamental importância para se identificar a natureza jurídica do bem


tutelado; haja vista que se se fosse observar somente o universo daqueles consumidores que
já sofreram a lesão ou se encontram ameaçado de sofre-la, ou seja quem já teve o
fornecimento de energia elétrica suspenso, ou já recebeu o aviso que o terá caso não quite o
débito que lhe é imputado, certamente estar-se-ia diante de direitos individuais
homogêneos; mas ainda assim de cunho indisponível.

Porém, ad argumentandum tantum, ainda que os interesse coletivos fossem defendidos em


função da lesão ameaçada ou sofrida – corte no fornecimento – o sistema jurídico brasileiro
não os alijariam dessa forma de defesa (coletiva), consoante se vê no artigo 81, inciso III,
do Código de Defesa do Consumidor.

Neste caminho, traz-se à colação o entendimento de igual modo esposado pela doutrina
nacional acerca da ampliação da defesa coletiva contemplada sob o título de interesses
individuais homogêneos decorrentes de origem comum, in verbis:

17
"Os interesses e direitos individuais homogêneos são os
que tenham tido origem comum. São direitos que, embora
consideradas individualmente, são tratados coletivamente
por terem a mesma causa, e envolverem mais de uma
pessoa’ (Marcus Vinicius Rios Gonçalves, Direito do
Consumidor, Revista do Instituto Brasileiro de Política e
Direito do Consumidor, São Paulo, Revista dos Tribunais,
7:67).
‘... procurou o CDC facilitar o acesso à justiça, através de
ação coletiva, para as pes-soas que individualmente
sofreram lesões em seus direitos. Exige-se, apenas, que
sejam homogêneos (decorrentes de origem comum). O
bem jurídico é divisível e os sujeitos determináveis, mas
tutelados de forma coletiva para que possam em conjunto
conseguir, de fato, a reparação de seus direitos.
(...)
‘Por fim, no que concerne à titularidade dos interesses ou
direitos individuais homogêneos (inciso III do artigo 81),
já se anotou a singeleza do texto legal. Tudo indica que
esses interesses não são coletivos em sua essência, nem no
modo como são exercidos, mas apenas, apresentam certa
uniformidade, pela circunstância de que seus titulares
encontram-se em certas situações ou enquadrados em
certos segmentos sociais, que lhe confere coesão ou
aglutinação suficiente para destacá-los da massa de
indivíduos isoladamente considerados. Como exemplo, é
pensável a hipótese de um grupo de alunos de certa escola
que, em virtude de disposição legal, se beneficiariam de
certo desconto em suas mensalidades; negado o benefício,
poderia sobrevir uma ação de tipo coletivo, tendo por
destinatários não apenas o grupo prejudicado, mas tantos
quantos se encontram em igual situação (homogeneidade
decorrente de origem comum dos atos e de análoga
situação jurídica)’ (Des. Rodolfo de Carmago Mancuso,
Comentários ao Código de Proteção ao Consumidor, p.
278).
‘Diferentemente é o que ocorre com os chamados
interesses ou direitos individuais homogêneos. Estes são
divisíveis e indivi-dualizáveis e têm titularidade
determinada. Constituem, portanto, direitos subjetivos na
acepção tradicional, com identificabilidade do sujeito,
determinação do objetivo e adequado elo de ligação entre
eles. Decorrentes, ademais, de relações de consumo, têm,
sem dúvida, natureza disponível. Sua homogeneidade com
outros direitos da mesma natureza, determinada pela
origem comum, dá ensejo à defesa de todos, de forma
coletiva, mediante ação proposta, em regime de

18
substituição processual, por um dos órgãos ou entidades
para tanto legitimados concorrentemente no artigo 82.
Tal legitimação recai, em primeiro lugar, no Ministério
Público’ (Juiz e Professor Teori Albino Zavascki, O
Ministério Público e a defesa de direitos individuais
homogêneos, Revista de Informação Legislativa, Brasília,
117:173).
(...)
Averba Ada Pellegrini Grinover que ‘em linha de
princípio, somente os interesses individuais indisponíveis
estão sob a proteção do ‘Parquet’. Foi de relevância social
da tutela a título coletivo dos interesses ou direitos
individuais homogêneos que levou o legislador a atribuir ao
M. Público e a outros entes públicos a legitimidade para
agir nessa modalidade de demanda molecular, mesmo em se
tratando de interesses e direitos disponíveis (‘Código
Brasileiro de Defesa do Consumidor’, p. 515)’ (voto do
Min. Demócrito Reinaldo, STJ, 1ª T., RE 49.272-6/RS, j.
21-9-1994, v.u.)."
(In Dicionário de Direito do Consumidor / W. A. Carigé. –
São Paulo : Saraiva, 1999, pág. 150/151).

Por efeito, faz-se interessante observar, como fora dito anteriormente, que mesmo que se
tratasse nesta ação civil pública acerca da tutela de interesses individuais homogêneos, o
que não é o caso; ainda assim o Ministério Público estaria legitimado à patrocinar a sua
defesa coletiva.

Entretanto, por se tratar de continuidade na prestação de serviço público de natureza


essencial e respeito à dignidade da pessoa humana, não há como duvidar que se tem à
frente interesses transindividuais de natureza indivisível e indisponível; pois se amolda a
todos os consumidores finais de energia elétrica, nos exatos termos da previsão inserida no
art. 81, inciso II, do Código de Defesa do Consumidor.

03. DA COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL

No que diz respeito a competência da Justiça Comum do Estado do Ceará, por sua primeira
instância,
sem maiores delongas se traz o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, que por si só
afastará qualquer argumento em favor da Justiça Federal pelo fato de a Ré ser
concessionário de um serviço público a cargo da União, por força do art. 21, inciso XII,
letra b, da Constituição Federal, como adiante se vê:

"Acórdão: CC 19885/CE; CONFLITO DE


COMPETÊNCIA (97/0039976-1)
Fonte: DJ DATA 08/06/1998 PG:00004
Relator: Ministro MILTON LUIZ PEREIRA (1097)

19
Ementa: PROCESSUAL CIVIL. CONFLITO
NEGATIVO DE COMPETÊNCIA EM AÇÃO
DECLARATÓRIA. CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO
PÚBLICO FEDERAL (ART. 21, XII, "B", CF).
"DNAEE" (PORTARIA NUMS. 38 E 45). DECRETO-
LEIS NUMS. 2.283 E 2.284/86.
1. A CONCESSIONÁRIA "COELCE" NÃO SE INCLUI
ENTRE AS PESSOAS JURÍDICAS ELENCADAS NO
ART. 109, I, CONSTITUIÇÃO FEDERAL, NÃO
DESFRUTANDO DA COMPETÊNCIA ESTADEADA
CONSTITUCIONALMENTE PARA A JUSTIÇA
FEDERAL. DESCOGITA-SE, OUTROSSIM, DA
PREVISÃO CONTEMPLADA NO PARÁGRAFO 3., DO
MENCIONADO ARTIGO 109. É IRRELEVANTE O
FATO DE SER CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO
PÚBLICO, PERMANECENDO INALTERADA A SUA
NATUREZA PRIVADA (SUMULAS 517 E 556/STF E
42/STJ).
1. 2. PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS.
3. CONFLITO CONHECIDO, DECLARANDO A
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
Data da decisão: 25/03/1998
Órgão Julgador: S1 – PRIMEIRA SEÇÃO
Decisão: POR UNANIMIDADE, CONHECER DO
CONFLITO E DECLARAR COMPETENTE O JUIZO
DE DIREITO DA 20ª VARA CÍVEL DE FORTALEZA –
CE."
"Acórdão: CC 23761/BA ; CONFLITO DE
COMPETENCIA (98/0078686-4)
Fonte: DJ DATA:22/03/1999 PG:00036
Relator: Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR (1110)

Ementa: PROCESSUAL CIVIL. MEDIDA CAUTELAR.


TARIFA DE ENERGIA ELÉTRICA. REAJUSTE.
PORTARIAS NºS. 38, 45 E 153/86 - DNAEE. COELBA.
CONCESSIONÁRIA DE SERVIÇO PÚBLICO.
EMPRESA DE ECONOMIA MISTA. JUSTIÇA
ESTADUAL.
I. As empresas de economia mista têm seu foro na Justiça
Estadual, ainda que na ação a controvérsia gire em torno
de reajuste de tarifa de energia elétrica fixado com base
na observância, pela concessionária de serviço público, de
portarias baixadas pelo DNAEE, que não participa da
lide.
II. Precedentes do STJ.

20
III. Conflito conhecido, para declarar competente o Juízo
de Direito da 7ª Vara da fazenda Pública de Salvador, ora
suscitado.
Data da Decisão: 09/12/1998
Órgão Julgador: S1 - PRIMEIRA SEÇÃO
Decisão: À unanimidade, conhecer do conflito e declarar
competente o Juízo de Direito da 7ª Vara da Fazenda
Pública de Salvador - BA, suscitado."

E assim, fica evidente a competência da Justiça Estadual, por uma de sua varas cíveis na
Capital, como prevê o Código do Consumidor em seu art. 90, combinado com o art. 100,
inciso IV, letra a, do Código de Processo Civil.
04. DO MÉRITO

A Ré, concessionária de um serviço público essencial, tem como fundamento para


interromper o fornecimento de energia elétrica as situações enumeradas nos arts. 75 e 76,
da Portaria DNAEE nº 466, de 12 de novembro de 1997, consoante se observa na
transcrição abaixo:
DA SUSPENSÃO DO FORNECIMENTO

Art. 75 - O concessionário poderá suspender o fornecimento


quando verificar a ocorrência de:
I - utilização de artifício ou qualquer outro meio
fraudulento ou, ainda, prática de violência nos
equipamentos citados na alínea "b" do inciso I do art. 2º,
que provoquem alterações nas condições de fornecimento
ou de medição, bem como o descumprimento das normas
que regem a prestação do serviço público de energia
elétrica;
II - revenda ou fornecimento de energia elétrica a
terceiros, sem a devida autorização federal;
III - interligação clandestina ou religação à revelia.
IV - deficiência técnica e ou de segurança das instalações
da unidade consumidora que ofereça risco iminente de
danos a pessoas ou bens.
Art. 76 - O concessionário, mediante prévia comunicação ao
consumidor, poderá suspender o fornecimento:
I - por atraso no pagamento da conta, após o decurso de
15 (quinze) dias de seu vencimento;
II - por atraso no pagamento de encargos e serviços
relativos ao fornecimento de energia elétrica prestados
mediante autorização do consumidor;

21
III - por atraso no pagamento dos serviços estabelecidos
no art. 85;
IV - por falta dos pagamentos mencionados nos incisos
anteriores, referentes a outras unidades consumidoras de
responsabilidade do mesmo consumidor;
V - por atraso no pagamento de prejuízos causados nas
instalações do concessionário, cuja responsabilidade seja
imputada ao consumidor;
VI - pelo descumprimento das exigências do
concessionário em função da aplicação do art. 14.
VII - por rompimento de lacres, cuja responsabilidade
seja imputável ao consumidor, mesmo que não
provoquem alterações nas condições do fornecimento e
ou da medição;
VIII - se o consumidor deixar de cumprir exigência
estabelecida com base no disposto no §1º do art. 78,
decorridos 90 (noventa) dias, no mínimo, da respectiva
comunicação escrita;
IX - quando, concluídas as obras servidas por ligação
provisória, não estiver atendido o que dispõe o art. 2º,
para a ligação definitiva;
X - quando se verificar impedimento ao acesso de
empregados e prepostos do concessionário em qualquer
local onde se encontrem condutores e aparelhos de
propriedade deste, para fins de leitura, bem como para as
inspeções necessárias nos casos previstos no(s) inciso(s)
IV do art. 75 e VI, VII, VIII e IX deste artigo.
§ 1º O disposto no inciso I deste artigo só se aplica no
caso do não pagamento dos serviços de energia elétrica
prestados.
§ 2º Nos casos que tratam os incisos I, II, III, IV ,V e VI
deste artigo, a comunicação deverá ser feita com
antecedência mínima de 15 (quinze) dias.
§ 3º A suspensão, por falta de pagamento, do
fornecimento de energia elétrica a consumidor que preste
serviço público ou essencial à população e cuja atividade
sofra prejuízo será comunicada com antecedência de 15
(quinze) dias ao Poder Público local ou ao Poder
Executivo Estadual.

22
§ 4º Constatada que a suspensão do fornecimento foi
indevida, o concessionário fica obrigado a efetuar a
religação no prazo máximo estabelecido para a religação
de urgência, e sem ônus."
Constata-se, ínclito Julgador, que a malsinada norma jurídica, além do corte no
fornecimento de energia elétrica por falta de pagamento, autoriza às concessionárias
desse serviço público de natureza essencial a suspender o fornecimento quando
verificar o rompimento nos lacres, cuja responsabilidade seja imputável ao
consumidor, mesmo que não provoquem alterações nas condições de
fornecimento e ou de medição (art. 76, inciso VII, acima transcrito). Contudo,
observa-se o absurdo maior na previsão do § 4º, do art. 76, dessa abusiva portaria,
palavra à palavra:

"CONSTATADA QUE A SUSPENSÃO DO


FORNECIMENTO FOI INDEVIDA, O
CONCESSIONÁRIO FICA OBRIGADO A EFETUAR
A RELIGAÇÃO NO PRAZO MÁXIMO
ESTABELECIDO PARA A RELIGAÇÃO DE
URGÊNCIA, E SEM ÔNUS."
Torna-se hilariante, pois quando o consumidor tem a sua conduta julgada
privativamente de forma unilateral, sem o devido processo legal, pela
concessionária em destaque, deve suportar todas as penas previstas na citada
portaria, enquanto que as fornecedoras de energia elétrica perante os consumidores
finais, simplesmente, ficarão obrigada a efetuar a religação no prazo máximo
estabelecido para a religação de urgência, e sem ônus (§ 4º, do art. 76), como se
nada tivesse acontecido.

Pergunta-se: Onde fica o direito à reparação dos danos morais e materiais causados aos
consumidores?
Mas esse o suposto direito das concessionária em suspender o fornecimento de energia
elétrica se encontra na Portaria DNAEE nº 466, de 12 de novembro de 1997, que
determinou em seu art. 77, § 1º:

"Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a


suspensão do fornecimento efetuado nos termos dos arts.
75 e 76, desta Portaria".

Continuando, neste tópico, suspensão do fornecimento de energia elétrica, fácil é perceber


que a inspiração desse preceito se encontra na interpretação equivocada da Lei das
Concessões de Serviço Público, mais especificamente do comando normativo descrito no
art. 6º, § 3º, da Lei nº 8.987, de 13 de fevereiro de 1995, verbum ad verbum:

"Art. 6º Toda concessão ou permissão pressupõe a


prestação de serviço público adequado ao pleno

23
atendimento dos usuários, conforme estabelecido nesta
Lei, nas normas pertinentes e no respectivo contrato.
§ 1º Serviço adequado é o que satisfaz as condições de
regularidade, continuidade, eficiência, segurança,
atualidade, generalidade, cortesia na sua prestação e
modicidade das tarifas.
§ 2º A atualidade compreende a modernidade das
técnicas, do equipamento e das instalações e a sua
conservação, bem como a melhoria e expansão do serviço.
§ 3º Não se caracteriza como descontinuidade do serviço a
sua interrupção em situação de emergência ou após prévio
aviso, quando:
I – motivada por razões de ordem técnica ou de segurança
das instalações; e
II – por inadimplemento do usuário, considerado o
interesse da coletividade."
À primeira vista o intérprete apressado afirmaria que se encontrando diante de qualquer
serviço público, o usuário, no caso de inadimplência, seria penalizado automaticamente, e,
por simples vontade do concessionário, poderia sofrer com a interrupção do correspondente
serviço.

Mas essa visão não se coaduna com o interesse da coletividade representado pelo interesse
público ou pela essência inerente à dignidade da pessoas humana, pelo que o serviço
adequado necessariamente representa também a continuidade na sua prestação.

Cita-se como exemplo de interesse público a coleta de esgotos que é indispensável à saúde
pública; portanto a sua supressão constituem sérios riscos a esse interesse da coletividade
(saúde pública).
E como serviço público caracterizado por ser essencial à dignidade da pessoa humana,
objetivando de igual modo o interesse da coletividade, se traz o fornecimento de energia
elétrica destinadas à fins residenciais, posto que a aqui se persegue à sobrevivência da
pessoa humana com o mínimo de dignidade necessária e dispensada aos povos civilizados e
de forma adequada.

A diferença entre o interesse público e a essência pertencente à dignidade da pessoa


humana, no tocante a prestação de serviço público, reside no bem jurídico primordialmente
protegido.

Desta feita, tem-se que no primeiro se busca assegurar, como fundamento principal, o
direito da coletividade à saúde pública; enquanto no segundo se visou primeiramente o bem
estar do indivíduo como pessoa humana integrante da coletividade.

Neste caminho, pede-se vênia e colaciona-se o entendimento doutrinário comentando o art.


6º, 3º, inciso
II, da Lei nº 8.987, de 13/02/95, sobre a impossibilidade de interrupção de serviço essencial
à dignidade da pessoa humana, como segue ipsis litteris:
"(...)

24
A hipótese do inc. II não autoriza, porém, a suspensão de
serviços
obrigatórios, cuja prestação se faz no interesse público ou é
essencial à dignidade da pessoa humana. Essa é a situação
específica do fornecimento do fornecimento de água
tratada e de coleta de esgotos. A instalação de rede de
distribuição de água tratada e de coleta de esgotos não se
faz como meio de satisfação do interesse individual dos
usuários. Trata-se de instrumento de saúde pública.
Através desses serviços, eliminaram-se quase totalmente
as epidemias, transmitidas anteriormente através da
contaminação da água. A suspensão dos serviços de água
e esgoto represaria risco à saúde pública, na medida em
que alguns dos integrantes da comunidade pode-riam
adquirir doenças, evitável através do tratamento de água
e esgoto. Algo similar pode ser afirmado no tocante ao
fornecimento de energia elétrica para fins residenciais, em
situação que possa colocar em risco sua sobrevivência. Em
suma, quando a Constituição Federal assegurou a
dignidade da pessoa humana e reconheceu o direito de
todos à seguridade, introduziu obstáculos invencível à
suspensão de serviços públicos essenciais. Nesses casos, o
Estado dispõe de duas escolhas. A primeira é promover a
cobrança compulsória do valor correspondente aos
serviços que continuam a ser prestados. A Segunda é,
verificando a carência de recursos, custear a manutenção
da prestação dos serviços ...".
(In Concessões de Serviços Públicos / Marçal Justen Filho. –
São Paulo : Dialética, 1997, pág. 130 – sem grifos no
original).

Por esta trilha segue a jurisprudência pátria, conforme se verifica, sintetizada, na decisão
que se transcreve nesta oportunidade:

"Acórdão: ROMS 8915/MA; RECURSO ORDINARIO


EM MANDADO DE SEGURANÇA. (97/0062447-1)
Fonte: DJ DATA: 17/08/1998 PG: 00023
Relator: Ministro JOSÉ DELGADO (1105)
Ementa: ADMINISTRATIVO. MANDADO DE
SEGURANÇA. ENERGIA ELÉTRICA. AUSÊNCIA DE
PAGAMENTO DE TARIFA. CORTE.
IMPOSSIBILIDADE.
1. É condenável o ato praticado pelo usuário que desvia
energia elétrica, sujeitando-se até a responder
penalmente.

25
2. Essa violação, contudo, não resulta em reconhecer
como legítimo ato administrativo praticado pela empresa
concessionária fornecedora de energia e consistente na
interrupção do fornecimento da mesma.
3. A energia é, na atualidade, um bem essencial à
população, constituindo-se serviço público indispensável
subordinado ao princípio da continuidade de sua
prestação, pelo que se torna impossível a sua interrupção.
4. Os arts. 22 e 42, do Código de Defesa do Consumidor,
aplicam-se às empresas concessionárias de serviço
público.
5. O corte de energia, como forma de compelir o usuário
ao pagamento de tarifa ou multa, extrapola os limites da
legalidade.
6. Não há de se prestigiar atuação da Justiça privada no
Brasil, especialmente, quando exercida por credor
econômica e financeiramente mais forte, em largas
proporções, do que o devedor. Afronta, se assim fosse
admitido, aos princípios constitucionais da inocência
presumida e da ampla defesa.
7. O direito do cidadão de se utilizar dos serviços públicos
essenciais para a sua vida em sociedade deve ser
interpretado com vistas a beneficiar a quem deles se
utiliza.
8. Recurso improvido.
Data da Decisão: 12/05/1998
Órgão Julgador: T1 - PRIMEIRA TURMA
Decisão: Por unanimidade, negar provimento ao
recurso."

Com efeito, conclui-se que a prestação adequada do serviço público que tenha a natureza
essencial, como o tem o fornecimento de energia elétrica, deve ser efetivado de forma
continua em respeito à dignidade da pessoa humana, não podendo, portanto, ser suspenso
por inadimplemento ou por qualquer outra hipótese que não seja visando o interesse da
coletividade (situações de emergências que ponham em perigo a comunidade, ou ainda o
próprio consumidor); restando tão somente a Ré utilizar os meios judiciais disponíveis para
receber o seu crédito.

O mesmo tratamento têm às pessoas jurídicas, quer de direito público, quer de direito
privado, prestadoras de serviços de caráter essencial, tendo em vista que objetivam
assegurar o direito à dignidade das pessoas que são atendidas por seus serviços
indispensáveis ao bem estar da população (hospitais, casa de saúde etc.).

Por outro lado, com relação a qualquer outra classe de consumidores finais, cite-se como
exemplo as pessoas jurídicas de direito privado, ainda que haja o inadimplemento, não há
também como admitir que a Ré, sem o devido processo legal, quer administrativo, quer
judicial, esquecendo-se da ampla defesa, do contraditório etc., possa fazer justiça de mão

26
própria, justiça privada, sobrepondo-se e assumindo um dos poderes da república, no caso o
Poder Judiciário, decida a seu belo prazer suspender o fornecimento de energia elétrica.

Por conseguinte, há de ser declarada incidenter tatum a inconstitucionalidade dos artigos 75


e 76, da Portaria DNAEE nº 466, de 12 de novembro de 1997, por contrariar, entre outros,
o disposto no art. 1º, inciso III, art. 5º, incisos LIV e LV, art. 170, caput, e seu inciso V,
combinado com o art. 175, Parágrafo único, II e IV, todos da Constituição Federal, que
assim expressam:

"Art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela


união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e
tem como fundamentos:
(...)
III – a dignidade da pessoa humana;
(...)
Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de
qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos
estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade e à propriedade, nos
termos seguintes:
(...)
LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens
sem o devido processo legal;
LV – aos litigantes, em processo judi-cial, aos acusados em
geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com
os meios e recursos a ela inerentes;
Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do
trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim
assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da
justiça social, observados os seguintes princípios:
(...)
V – defesa do consumidor;
(...)
Art. 175. Incumbe ao Poder Público, na forma da lei,
diretamente ou sob o regime de concessão ou permissão,
sempre através de licitação, a prestação de serviços
públicos.
Parágrafo único. A Lei disporá sobre:
(...)
IV – a obrigação de manter serviço adequado."
Fica confirmado, sem hesitação, que a conduta da Ré, COMPANHIA ENERGÉTICA DO
CEARÁ – COELCE – suspendendo o fornecimento de energia elétrica como vem
acontecendo, além dos dispositivos constitucionais e de ordem normativa ordinária, acima
citados, também infringe os preceitos contidos no Código de Defesa do Consumidor, mas
especificamente as determinações inseridas no art. 4º, inciso III, art. 6º, inciso X, art. 22, e
ainda no art. 42, ora transcritos:

27
"Art. 4º - A Política Nacional das Relações de Consumo
tem por objetivo o atendimento das necessidades dos
consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e
segurança, a proteção de seus interesses econômicos, a
melhoria da sua qualidade de vida, bem como a
transparência e harmonia das relações de consumo:
(...)
III – Harmonização dos interesses dos participantes das
relações de consumo e compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de desenvolvimento
econômico e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios
nos quais se funda a ordem econômica (art. 179 da
Constituição Federal), sempre com base na boa-fé e
equilíbrio entre os consumidores e fornecedores.
(...)
Art. 6º - São direitos básicos do consumidor:
(...)
X – Adequada e eficaz prestação prestação dos serviços
públicos em geral.
(...)
Art. 22 – Os órgãos públicos, por si ou suas empresas,
concessionárias, permissionária ou sob qualquer outra
forma de empreendimento, SÃO OBRIGADOS A
FORNECER SERVIÇOS ADEQUADOS, eficientes,
seguros E, QUANTO AOS ESSENCIAIS, CONTÍNUOS.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou
parcial, das obrigações referidas neste artigo, serão as
pessoas jurídicas compelidas a cumpri-las e a reparar os
danos causados, na forma prevista neste Código.
(...)
Art. 42. Na cobrança de débitos, o consumidor
inadimplente não será exposto a ridículo, nem submetido
a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça. "

Por essas razões, decretando-se incidenter tantum a inconstitucionalidade dos art. 75 e 76,
da Portaria DNAEE nº 466, de 12 de novembro de 1995, há de ser restabelecido o direito à
dignidade da pessoa humana, o caráter essencial do fornecimento de energia elétrica e ainda
o due process of law nas cobranças de débitos atrasados dos consumidores finais em
referência.
Por consequência, há de ser condenada a Ré com a obrigação de refazer todas as ligações
que tenha sendo suspensas por inadimplência atribuída aos usuários finais; e, ainda,
compelindo-a não suspender o fornecimento energia elétrica a parti da decisão liminar, ou
definitiva proferida nesta ação civil pública; para tanto cominando-lhe a pena de multa no
percentual 2% (dois por cento) sobre o maior faturamento mensal dessa empresa
concessionária, por dia de não cumprimento da respectiva decisão judicial, quer liminar,
quer definitiva, em qualquer caso, após o prazo determinado por esse douto Juízo, nos
exatos termos do Parágrafo único, do art. 84, § 4º do Código de Defesa Consumidor.

28
04. DA LIMINAR

Faz-se inevitável que em caráter liminar inaudita altera pars seja determinado à Re que não
suspenda mais o fornecimento de energia de qualquer que seja o consumidor e, ainda, que
refaça todas as ligações que interrompeu por conta de inadimplemento, sob pena de
continuar afrontar os princípios constitucionais da dignidade da pessoa humana, da
essencialidade do mencionado serviço público e ainda do devido processo legal.
Também se deve cominar a pena de multa, por cada consumidor que tenha ou continue a
sofre com a suspensão do fornecimento de energia elétrica, no valor de 2% (dois por cento),
pelo não cumprimento da decisão liminar por parte da Ré, calculando-o sobre o maior
faturamento mensal da citada empresa, ocorrido neste ano, por força do preceito contido no
§ 4º, do art. 84, do Código de Defesa do Consumidor.
Sem maiores esforços se constata que a existência do fumuns boni iure é indiscutível, basta
se atentar para plausibilidade desta ação civil pública vir a ser julgada procedente com base
no direito coletivo defendido, consoante foi detidamente demonstrado anteriormente,
inclusive com decisão proferida pelo Superior Tribunal de Justiça.
O mesmo se pode afirmar do periculum in mora, pelo o simples fato de que se não for
coibido incontinenti o abuso praticado pela Ré, suspendendo o fornecimento de energia,
constrangendo os consumidores em flagrante desrespeito à dignidade da pessoa, a
essencialidade do referido serviço público, ao devido processo legal, cada um desses abusos
causará danos morais e patrimoniais de imediato e caráter irreversível.
Deste modo, presentes o fumus boni iure e o periculum in mora se tem autorizada à
concessão da liminar requerida com esteio no § 3º, do art. 84, do Código de Defesa do
Consumidor.

05. DOS PEDIDOS

Em face do exposto, requer o Ministério Público inaudita altera pars a suspensão liminar
dos arts. 75 e 76, da Portaria DNAEE nº 466, de 12 de novembro de 1997, e por via de
consequência determinando-se à Ré a não proceder mais a interrupção do fornecimento de
energia elétrica de qualquer que seja o consumidor, por conta de inadimplemento ou
qualquer outro motivo, com exceção das situações emergências e de perigo à comunidade,
ou ao próprio usuário.
Requer, outrossim, a citação da Ré, na pessoa de seu representante legal, para no prazo
legal, se defender, querendo, sob pena de revelia, ficando ciente que os fatos alegados e não
contestados serão tidos como verdadeiros, e finalmente seja decretada indicenter tantum a
inconstitucionalidade dos arts. 75 e 76 da Portaria DNAEE nº 466, de 12 de novembro de
1997, para coibir todo e qualquer ato de suspensão do fornecimento de energia elétrica em
desfavor dos consumidores que sejam pessoas físicas, ou pessoas jurídicas de direito
público ou direito privado que prestem serviços de natureza essencial, e ainda àquelas que
são pessoas jurídicas direito privado sem que haja o devido processo legal, excepcionando
as situações de emergências em função do perigo à comunidade ou ao próprio usuário.
Por fim, requer que, por cada consumidor que tenha tido a suspensão ou que não tenha sido
restabelecido o fornecimento de energia elétrica, seja cominado à Ré a pena de multa de 2%
(dois por cento), sobre o maior faturamento mensal verificado neste ano na contabilidade
dessa empresa concessionária, tanto no caso do descumprimento da liminar, quanto da

29
decisão definitiva; devendo, para tanto, ser requisitado os balancetes mensais desse
período; por ser de direito e de JUSTIÇA.
Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitido, especialmente a
ouvida de testemunhas, arroladas na oportunidade própria, perícia, juntada de novo
documentos para prova em contrário, tudo desde já requerido.
Junta à presente * e dá à causa o valor de R$.1.000,00 (hum mil reais).
Nestes termos
Espera deferimento
Fortaleza, 12 de maio de 1999.

EXMO. SR. DR. JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DESTA CAPITAL.

AÇÃO CIVIL PÚBLICA


DISTRIBUIÇÃO EM REGIME DE URGÊNCIA

MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO CEARÁ, por seus Promotores de Justiça do


DECOM, no final firmado, vem com todo respeito perante V. Exa. com fundamento no art.
129, inciso III da Constituição Federal, art. 130, inciso III da Constituição do Estado do
Ceará, e art. 25, inciso VI da Lei nº 8.625, de 12.02.93 (Lei Orgânica Nacional do
Ministério Público), além do art. 1º da Lei nº 7.347/85, acrescido do inciso IV pela Lei nº
8.078/90, interpor a presente AÇÃO CIVIL PÚBLICA contra BOAT PROMOÇÕES E
EVENTOS LTDA., CGC nº 00923122-0001-50, com endereço à Av. Senador Virgílio
Távora, nº 867, Loja 05, RÁDIO FM CIDADE DE FORTALEZA, com endereço à Av.
Desembargador Moreira, n.º 2565 e RÁDIO PAGEU FM LTDA, com endereço à Rua
Idelfonso Albano, n.º 2.900, pelas fundamentações fáticas e de direito adiante expostas:

DA LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA AJUIZAMENTO DA


AÇÃO CIVIL PÚBLICA

30
O art. 129, inciso III da nossa Carta Magna, dispõe que:
"Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público
(III) promover o inquérito civil e ação civil pública, para a
proteção do patrimônio público social, do meio ambiente e
de outros interesses difusos e coletivos."

Como regulamentação ao referido preceito, várias são as leis a lhe outorgar a substituição
processual, mormente aquela que lhe regulamentou – lei n 7.347/1985, que em seu art. 1º,
assim preceitua:
"Art. 1º. Regem-se pelas disposições desta lei, sem
prejuízo da ação popular, as ações de responsabilidade por
danos morais e patrimoniais causados:
I – ao meio ambiente;
II – ao consumidor;
III – a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico;
IV – a qualquer outro interesse difuso e coletivo;
V – por infração de ordem econômica.

A Lei Orgânica do Ministério Público também cuidou de legitimar-lhe a substituição, como


estabelecido na Capítulo IV, Seção I da Lei nº 8.625/92, da seguinte forma:

"Art. 25. Além das funções previstas na Constituição


Federal, na Lei Orgânica e em outras leis, incumbe, ainda,
ao Ministério Público;
(...)
IV – promover o inquérito civil e a ação civil pública, na
forma da lei;
a. para a proteção, prevenção e reparação dos danos
causados ao meio ambiente, ao consumidor, aos bens
e direitos de valor artístico, estético, histórico,
turístico e paisagístico e a outros interesses difusos,
coletivos e individuais indisponíveis e homogêneos;
b. para a anulação e declaração de nulidade de atos
lesivos ao interesse público ou à moralidade
administrativa do Estado ou de Município, de suas
administrações indiretas ou fundacionais ou de
entidades privadas de que participem;

Mas importância dos interesses sob os auspícios da referida legislação é de tal forma
meritório, que nela é admitida, no decorrer de ações de cumprimento de obrigação de fazer
ou não fazer, a ingerência do magistrado a fixar, "motu proprio", multa suficiente ou
compatível, mesmo que o autor não a tenha requerido, ou feito de modo bastante.
Acrescente-se, ainda, que a sentença civil fará coisa julgada "erga omnes".

31
Na ação que tenha por objeto o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer, o juiz
determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da atividade
nociva, sob pena de execução específica, ou de cominação de multa diária, se esta for
suficiente ou compatível, independentemente de requerimento do autor.
A sentença civil fará coisa julgada "erga omnes", exceto se a ação for julgada improcedente
por deficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação
com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.

DOS FATOS

A Lei Municipal de nº 6.498, de 29 de setembro de 1989, em anexo, nos seus arts. 1º e 2º,
garante aos estudantes, portadores de identidade estudantil, redução de 50% (cinqüenta por
cento) do valor do ingresso cobrado pelos estabelecimentos exibidores de espetáculos
teatrais, musicais, cinematográficas e circenses, in verbis:
"Art. 1º. Ficam assegurados aos estudantes
regularmente matriculados em estabelecimentos de
ensino oficiais ou reconhecidos oficialmente pelo Poder
Público, 50% (cinqüenta por cento) de abatimento nas
casas exibidoras de espetáculos teatrais, musicais,
cinematográficos e circenses."
"Art. 2º. A identificação do estudante, para gozo do
benefício estabelecido nesta lei, será feita através de
identidade estudantil expedida pelas entidades
representativas dos estudantes, na forma da Lei nº
6.062, de 25 de março de 1.986."

Posteriormente,, veio a lume a Lei nº 6.701, de 01 de agosto de 1990, dispor sobre a


incidência da referida Lei em qualquer que seja o valor do ingresso cobrado, INCLUINDO
AÍ, AS PROMOÇÕES, acrescentando ao retro mencionado "Art. 1º da Lei nº 6.498, o
parágrafo único, abaixo transcrito:

"PARÁGRAFO ÚNICO. O ABATIMENTO A QUE SE


REFERE O "CAPUT" DESTE ARTIGO INCIDIRÁ
SOBRE QUALQUER QUE SEJA O PREÇO DO
INGRESSO, INCLUSIVE PROMOÇÕES." ( GRIFO
NOSSO)

O direito do estudante à "meia -entrada ", também está previsto pela Lei Estadual nº
12.302, de 17 de maio de 1994, in verbis:

"Art. 1º Fica assegurado o abatimento de cinqüenta por


cento (50%) do valor efetivamente cobrado para o
ingresso em casas de diversões, de espetáculos teatrais,
musicais, circenses em casas de exibição, similares das
áreas de cultura e lazer do Estado do Ceará, aos
estudantes regularmente matriculados em

32
estabelecimentos de ensino de primeiro, segundo e
terceiro graus, existentes no Estado do Ceará."

Como se vê, o direito ora pleiteado está fartamente amparado pelas leis, Municipal e
Estadual, que tratam a matéria de forma clara e direta.

Ocorre, que tal exigência legal vem sendo abusivamente desrespeitada, muito embora haja
o requerente, bem como A Comissão de Defesa do Consumidor, em audiência pública,
tomado a iniciativa de alertar os Estabelecimento e Produtoras ora requeridos para o
cumprimento da lei.

Os Requeridos, visando burlar as leis Estadual e Municipal, estão vendendo ingressos


com preço único, com a alegativa absurda de que TODOS PAGAM MEIA
ENTRADA, verifica-se o total desrespeito a legislação vigente, não respeitando o
direito dos estudantes portadores de identidade estudantil a meia entrada. Os
ingressos são vendidos antecipadamente nas Farmácias

Pague Menos. Tal conduta comprova o descaso a Legislação Pátria pelo promovido.

Durante os 20 a 21 de julho do corrente ano, serão realizados os seguintes shows:

DATA LOCAL DO SHOW PREÇO PROMOÇÃO ATRAÇÃO


20/07/01 OPÇÃO FUTURO R$ 15,00 FM CIDADE 99.1 CIDADE NEGRA
NANDO REIS
ANA CAROLINA
20/07/01 PARQUE DO R$ 7,00 RÁDIO 100 RAÇA NEGRA
VAQUEIRO
21/07/01 CLUBE DO R$ 12,00 BLOCO EXALTASAMBA
VAQUEIRO ABARCA
Os ingressos são vendidos antecipadamente nas Farmácias Pague Menos, pelo preço
único, como comprova ingresso anexo (Doc. 01). Tal conduta comprova o descaso a
Legislação Pátria pelo promovido.

Vale ainda ressaltar que a BOAT PROMOÇÕES E EVENTOS LTDA é


REINCIDENTE como comprova entrevista ao Jornal O POVO no

Dia 14 de julho do corrente ano, ao comentar liminar concedida no Processo n.º


2001.023259-01, conforme comprova documentos anexo (Docs. 02 e 03).
Desta forma, necessária se faz a presente ação, para requerer que o Poder Judiciário, através
deste Douto Juízo, arbitre as penalidades argüidas, tanto liminarmente, como em decisão
definitiva.

DO PEDIDO LIMINAR

Não há que se questionar sobre a presença dos pressupostos legais ensejadores do


deferimento da medida liminar.

33
A violação aos dispositivos invocados é flagrante, daí resultando danos irreparáveis ou de
difícil reparação aos estudantes portadores de identidade estudantil que poderão vir a sofres
as conseqüências do suposto desrespeito às leis vigentes, como efetivamente, já vem
ocorrendo.

Em caso de improcedência, "ad argumentandum tantum", os Requeridos, continuarão


negando ao estudante o direito ao pagamento de 50%(cinqüenta por cento) do valor do
ingresso, inclusive nas promoções sujeitando-os a uma situação abusiva e constrangedora.

ISTO POSTO, Requer a Vossa Excelência o seguinte:


Seja a presente ação recebida, autuada, e decidido o pedido de ordem liminar inaudita altera
pars, com vistas a serem resguardados os interesses de todo o universo de estudantes por
esta alcançados.

Como pedido de ordem liminar, se digne arbitrar a multa em R$1.000,00(hum mil reais)
por cada estudante preterido em seu direito ao abatimento de 50%(cinqüenta por cento) do
valor do ingresso nas vendas realizadas antecipadamente ou no local onde será realizado o
presente evento, inclusive nas promoções, comprovado, "per capita", mediante reclamação
instaurada no DECOM, com o devido contraditório e ampla defesa.

Dado o alcance desta ação, erga omnes, seja citado o Requerido, para, querendo, responder
a presente ação, no prazo legal, sob pena de revelia, devendo da carta citatória constar a
advertência de que não sendo contestada a ação presumir-se-ão como verdadeiros os fatos
articulados, ensejando o julgamento antecipado da lide, como prescreve o art. 330, inciso I,
do Código de Processo Civil, vez que se trata de matéria unicamente de direito.

Tendo em vista a urgência no cumprimento da decisão liminar, eis que os eventos de


ingressos em desrespeito à Legislação Estadual e Municipal, requer ainda a citação
excepcional do demandado em dia de Sábado, se for o caso, para evitar a perda do objeto
da presente ação. Requer ainda a juntada posterior dos demais ingressos.

Protesta e requer provar o alegado por todos os meios de provas em direito permitidos, se
necessário for, inclusive juntada posterior de documentos.

Finalmente, pugna o Ministério Público, seja a presente ação julgada PROCEDENTE,


tornando definitiva a liminar nos moldes em que foi requerida.

Requer, ainda, que no caso de reincidências, em shows de datas distintas realizados pela
mesma produtora, sejam as multas cobradas em dobro, bem como suspensão do evento.
Dá-se a causa, para os efeitos fiscais, o valor de alçada.

Termo em que
Espera Deferimento.
Fortaleza, 19 de julho de 2001.

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João Gualberto Feitosa Soares
Promotor de Justiça
Ministério Público do Ceará

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