Você está na página 1de 6

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CIÊNCIAS SOCIAIS
LICENCIATURA - NOTURNO

DANIEL JUVENAL AMORIM RODRIGUES JUNIOR

Prova 01 – Formação do Estado no Brasil

Avaliação formulada para consolidação de


leituras relativas à disciplina Forma do
Estado no Brasil da Universidade Federal da
Paraíba – UFPB

Professor: José Henrique Artigas de Godoy

JOÃO PESSOA
2019
I Avaliação de Formação do Estado no Brasil - 06/08/2019 11:12
Queridos(as) alunos(as), segue a I Avaliação da disciplina de Formação do Estado
no Brasil.

Avaliação? Disciplina Formação do Estado no Brasileira

Responda a 4 (quatro questões) sendo, obrigatoriamente, uma do primeiro grupo


e três de outros diferentes grupos de questões. Todas as questões são dissertativas. Apenas
para efeito de reiteração, quaisquer sinais de plágio acarretarão nota 0,0 (zero). As provas
deverão ser entregues na próxima segunda-feira (12 de agosto). Não esqueçam de indicar
os números dos grupos e das questões escolhidas para resposta.

Grupo 1

4) Luzias e Saquaremas foram os principais atores políticos do II Reinado. O


que os aproximava e o que os distinguia?

Os Luzias nada mais eram que os “Liberais” no Segundo Reinado,


oriundos do “Partido” (grupo político, ainda não eram considerados partido
realmente) Progressista durante a Regência de 1834, formados em sua maioria por
uma elite de “segunda classe”, profissionais liberais, agricultores de menor porte
(mais ligados ao mercado interno), sua alcunha advém de um protesto (revolta)
acontecido na cidade de Santa Luzia. Lá foram ferozmente derrotados pelas forças
do Barão de Caxias e a partir deste episódio os liberais passaram a ser chamados
de “Os Luzias” por seus adversários políticos, já que este tenha sido o maior revés
dentre todas as revoltas do período.
Os “Conservadores” passaram a ser identificados como Saquaremas, estes
originados basicamente do “Partido” Regressista de 1834, porque a maioria dos
seus membros eram pertences ao munícipio de Saquarema na baixada fluminense,
onde inclusive o próprio partido se reunia, formado em sua essência por burocratas
do governo, grandes proprietários rurais, comerciantes e a elite do nordeste e Rio
de Janeiro.
Em última análise, apesar de serem adversários políticos ferrenhos, os dois
partidos eram praticamente iguais, ou seja, todos de elite, latifundiários,
escravocratas, monárquicos, sendo ambos favoráveis à manutenção dos
privilégios da elite, a favor do modelo econômico agroexportador, manutenção da
hierarquia social existente, manter o direito à propriedade. O que realmente os
diferenciavam era mais uma questão “geográfica”, pois os Luzias eram a favor de
uma administração mais descentralizada, tendenciado a um federalismo com uma
ideia de autonomia para as províncias e contra o poder Moderador, querendo
maior representação política. Em relação aos Saquaremas, é fato que estes
queriam manter o governo centralizado no poder executivo, evitando dar maior
autonomia às províncias e totalmente favoráveis ao poder Moderador.
Grupo 2

2) Em? Brasil: mito fundador e sociedade autoritária? Marilena Chauí trata


dos conceitos de povo, pátria e nação. Explique cada um deles e comente o
argumento da autora em relação a relação destes com o contexto político brasileiro.
Chauí inicia o processo de construção do seu conceito de nação (tal qual
temos hoje) nos direcionando aos idos de 1830, partindo, portanto, de um
pressuposto histórico e ideológico bem recente. Primeiramente como conceito
biológico, ou seja, pessoas que vivem em um mesmo lugar e logo em seguida o
conceito de pátria, em outras palavras, ligado diretamente a figura de um chefe
“pater” e, portanto, seguindo a ideia de patrimônio. Contudo, com as revoluções
burguesas em meados do século XVIII, assume-se o significado de local onde um
determinado povo está devidamente organizado, tal qual um Estado independente.
A autora levanta o conceito de povo, oriundo ainda da Idade Média, que
basicamente se referia “a um grupo de indivíduos organizados institucionalmente,
que obedece a normas, regras e leis comuns ... portanto um conceito jurídico-
político” (pág.9). Logo na sequência, levanta a concepção de pátria, evocando
novamente o conceito latino “Pater”, pai. “Pater é o senhor, chefe, que tem a
propriedade privada absoluta e incondicional da terra e de tudo o que nela
existe...” (pág.9). Deste modo, pátria é o que pertence ao pai e está sob seu poder.
Assim, segundo Chauí, com o intuito de unificar três linhas bem definidas,
que se segue, social, política e econômica em um único “ser”, surge a ideia de
nação. Desta forma, objetiva resolver três grandes problemas, ou seja, a resistência
dos grupos tradicionais sob a constante ameaça da modernidade, as revoltas
populares de classes e por fim, o surgimento (não menos importante,
historicamente falando) de uma nova classe, a pequena burguesia. Para Chauí, este
conceito de nação surge com mais veemência, justamente no instante em que fica
clara a distinção econômica-social das classes.
Em resumo, a nação vai caminhando em um pseudo processo de evolução
e formação de sua identidade, de forma a entendermos como se fosse algo que
sempre existirá, possuindo um grande elemento de identificação social e político,
produzindo, desta forma, o que a autora chama de nacionalismo histórico ( que no
âmago da questão não é histórico, pois é criado, inventado).
Concluo ainda que o pensamento da autora levanta a questão de
“identidade nacional”, visto que ela trabalha em cima de uma relação com o
diferente e, portanto, o ideal é tomado como base, ou seja, o país capitalista
desenvolvido. Desta maneira, a nossa identidade enquanto nação nasce falha e
cheia e privações, conceituada como subdesenvolvida.
Essa ideia de nação é, portanto, concebida pela perspectiva do atraso,
subdesenvolvimento, haja visto que é feita pela ausência, ou seja, pelo que lhe
falta e não pelo que existe no país. Assim, esse conceito de nação criado
recentemente foi idealizado no sentido de unir os indivíduos por meio de uma
“espécie de religião cívica”, na forma de nacionalismo, fascismo ou patriotismo.
Por fim, desde 1980, esta noção de nação acaba se movendo para uma espécie de
campo das representações, que acaba legitimando uma sociedade autoritária.
Grupo 3

2) Relacione a dissolução da Assembleia Constituinte de 1823 e a


Constituição de 1824 com o debate sobre a soberania.

Em 1823, ao perceber que a independência do Brasil era praticamente fato


consumado, ou melhor dizendo, questão de tempo, D. Pedro convoca uma
Assembleia Constituinte, tendo como objetivo, teoricamente, a confecção de uma
constituição para o novo Estado. Esta constituição ficou conhecida como a
“Constituição da Mandioca”, pois só quem tivesse renda anual superior a 150
alqueires de farinha de mandioca teria direito a voto, demonstrando todo o poder
da elite agrária do país, por meio do voto censitário. Vale lembrar ainda, que nesta
primeira constituição ficava mantido o trabalho escravo e ainda foi dado ao
governo a obrigação de zelar pela mão de obra escrava. Ainda nesta mesma
constituição, foi definido a divisão dos três poderes, contudo, ficou definido a
predominância do poder legislativo sobre o executivo, fato este que gerou grande
desconforto aos interesses centralizadores e absolutistas de D. Pedro I.
A partir deste fato, o monarca toma uma decisão inesperada: demite José
Bonifácio e implanta um golpe, devidamente apoiado pelos militares,
desmontando a Assembleia Constituinte, fato conhecido na história como “Noite
da Agonia”. Assim, podemos afirmar que a primeira constituição do país não
nasce de uma Assembléia Constituinte, mas simplesmente do interesses pessoais
de um rei, pois a referida constituição tinha como premissa diminuir o poder do
imperador e principalmente subordiná-lo ao parlamento.
Poucos meses depois o monarca outorga a Constituição de 1824,
diferentemente da de 1823, que agora lhe confere plenos poderes por intermédio
do que foi denominado “Poder Moderador”. Esta constituição perdurou por mais
de 60 anos e até hoje é uma das constituições mais longas da história. Como alguns
itens desta constituição destaco: quatro poderes (ênfase para o “Poder
Moderador”), voto censitário, união entre igreja e estado e, por fim, monarquia
constitucional e hereditária.
Concluo fazendo alguns apontamentos sobre este “Poder Moderador”, que
basicamente era exercido pelo imperador, o qual era uma espécie de instituição
“intocável e sagrada”. Este conferia ao Imperador o direito de intervir, a seu
critério, em qualquer disputa entre os demais poderes, tal qual um juiz, definindo
quem teoricamente teria razão. Outras atribuições deste “Poder Moderador”, eram
de: nomear senadores, dissolver a Câmara e, um dos principais (se é que podemos
definir assim, pois o próprio “Poder Moderador” já o são por si só), o direito a
veto e/ou aprovação sobre todas as decisões, tanto do Senado quanto da Câmara.
Assim, podemos afirmar que este “Poder Moderador” nada mais é do que a
instauração de um poder absolutista. Deste modo, com toda esta articulação,
devidamente orquestrada desde 1822 quando da implantação da Assembléia
Constituinte o imperador consegue se manter no poder.
Grupo 6

2) Joaquim Nabuco defende a abolição do trabalho compulsório, mas


também uma segunda abolição, que superasse a obra da escravidão. Explique e
comente.

Joaquim Nabuco enxergava o abolicionismo de uma forma quase transcendente


ao seu tempo, indo muito além da exploração da raça negra, entendendo-o como uma
necessidade de desenvolvimento econômico e moral para o país.
Na perspectiva de Joaquim Nabuco, o abolicionismo era visto como única
alternativa viável para a verdadeira socialização do negro, fosse escravo ou ex-escravo,
na sociedade brasileira. O combate impetrado por Nabuco à escravidão, era entendido
como um projeto de desenvolvimento do país, sem o qual o país jamais estabeleceria sua
independência efetivamente, inclusive ameaçando a constituição liberal. Segundo ele,
sem liberdade individual não poderia haver civilização, muito menos geração de riqueza
efetiva. Para ele, a escravidão derrubou economicamente o Brasil, inviabilizando seu
progresso material e o fomento de novas indústrias, o que já se fazia bem presente em boa
parte da Europa. Nesse sentido a escravidão poderia ser compreendida como um peso que
atrasava todo o desenvolvimento do país, principalmente em relação a outros pontos do
mundo.
Ele resume muito bem o que pensava sobre a escravidão no Brasil em sua obra
“O Abolicionismo”, conforme trecho citado:

“Moralmente é a destruição de todos os princípios e fundamentos da moralidade


religiosa ou positiva – a família, a propriedade, a solidariedade social, a aspiração
humanitária; politicamente, é o servilismo, a degradação do povo, a doença do 7
funcionalismo, o enfraquecimento do amor da pátria, a divisão do interior em feudos,
cada um com o seu regime penal, o seu sistema de provas, a sua inviolabilidade perante
a polícia e a justiça; econômica e socialmente, é o bem-estar transitório de uma classe
única, e essa decadente e sempre renovada; a eliminação do capital produzido, pela
compra de escravos; a paralisação de cada energia individual para o trabalho na população
nacional; o fechamento dos nossos portos aos imigrantes que buscam a América do Sul;
a importância social do dinheiro, seja como for adquirido; o desprezo por todos os que
por escrúpulos se inutilizam ou atrasam numa luta de ambições materiais; a venda dos
títulos de nobreza; a desmoralização da autoridade desde a mais alta até à mais baixa; a
impossibilidade de surgirem individualidades dignas de dirigir o país para melhores
destinos [...]” (p. 198-199).

Nesse projeto, ele vincula uma interessante questão moral, pois em sua
perspectiva, a escravidão cria um abismo de anarquia e impede a modernização, na qual,
somente o fim da escravidão formaria indivíduos próximos ao seu verdadeiro nível, o que
ele conceitua como liberdade.
A urgência proposta por Nabuco, não se baseia apenas na necessidade de por um
fim à natureza monstruosa da escravidão em si e tudo que ela significa às pessoas
sujeitadas. Para ele, a escravidão tem influência sobre a própria nacionalidade,
corrompendo inclusive as práticas sociais, gerando um entrave aos avanços da economia
e da ciência. E sua manutenção seria uma manutenção de uma pseudo racionalidade
degradante em uma população já muito marcada pelo império da crueldade e nem um
pouco de liberdade.
Concluo expressando a perspectiva de Joaquim Nabuco de que o abolicionismo
se tornou um movimento político, não só visando o bem do escravo e a libertação em si,
mas toda uma reconstrução nacional, unindo as raças por meio da liberdade. E no centro
dessa argumentação, vejo interessante ressaltar que a abolição não seria apenas a correção
de uma injustiça para com os escravos, mas na verdade a eliminação de dois tipos
completamente antagônicos: o escravo e o próprio senhor dos escravos. Enfim, na obra
já citada do próprio Nabuco, a escravidão deve ser extirpada da nação, por meio da
educação, a imprensa, a imigração, a religião, gerando, desta forma, um novo estado.
Assim, os abolicionistas seriam aqueles, que não somente brigam pelo fim da escravidão,
mas acima de tudo, confiam e lutam pelo progresso da própria nação.

Você também pode gostar