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17/10/2019 Carta para Joseph Bloch
No mais, eu iria pedir para que você estude esta teoria de fontes originais e
não de materiais secundários; será muito mais fácil. Marx dificilmente escreveu
algo que ele não tomou parte. Especialmente o Dezoito Brumário de Louis
Bonaparte é o mais excelente exemplo da aplicação desta teoria. Também
existem muitas alusões n’O Capital. Também devo indicá-lo alguns de meus
escritos: Herr Eugen Duhring’s Revolução na Ciência e Ludwig Feuerbach e o fim
da filosofia alemã clássica, nestas obras eu dei, até onde sei, a mais detalhada
explicação sobre o materialismo histórico que é possível encontrar.
Similarmente com a lei. Assim que a nova divisão do trabalho surge, na qual
se tornam necessários advogados profissionais, uma nova e independente esfera
é criada e ainda especialmente capaz de reatar as esferas de produção e
comércio. No Estado moderno, a lei não deve apenas corresponder à condição
econômica geral e ser sua expressão direta, mas ser expressão internamente
coerente o que não se reduz ao nada, devido suas contradições internas. E com o
objetivo de atingir isto, o fidedigno reflexo das condições econômicas sofre cada
vez mais. Assim, cada vez mais raramente que um código legal é a direta, não-
suavizada e não-adulterada expressão da dominação de uma classe — isto por si
iria ofender a “concepção de direito”. Mesmo no Código Napoleônico, a pura e
consistente concepção de direito que a burguesia revolucionaria de 1792-1796 se
dizia titular, é em muitas formas adulterada e, da forma como foi constituído, foi
sujeita às atenuações decorrentes do nascente poder do proletariado. Isto não
impede o Código Napoleônico de ser o estatuto que serve de base para novos
códigos em todos os cantos do mundo. Portanto, em grande parte, o curso do
“desenvolvimento dos direitos” apenas consiste (i) em uma tentativa de desfazer
as contradições emergentes, sendo destarte, tradução direta dos antagonismos
de relações econômicas em princípios jurídicos e (ii) nas reiteradas brechas feitas
neste sistema pela influência e pressão do desenvolvimento econômico seqüente,
envolvendo contradições posteriores para estabelecer um sistema jurídico
harmonioso. (Neste momento, eu estou apenas falando no Direito Civil).
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17/10/2019 Carta para Joseph Bloch
No reinados da ideologia que deslizam ainda alto nos céus, religião, filosofia,
etc., têm um estoque pré-histórico que encontra sua existência no e é tomada
pelo período histórico do que chamamos nonsense. Estas variadas falsas
concepções da natureza, do ser, de espíritos, forças mágicas, etc., têm, na maior
parte das vezes, apenas um fundamento econômico negativo; o baixo
desenvolvimento econômico do período pré-histórico é suplementado e
parcialmente condicionado e mesmo criado por falsas concepções de natureza. E
mesmo que a necessidade econômica seja a principal força motriz do
conhecimento progressivo sobre a natureza e se torna cada vez mais assim, seria
certamente pedante tentar encontrar e indicar causas econômicas para este
nonsense primitivo. A história da ciência é a história da gradual substituição
deste nonsense ou sua eliminação por formas mais recentes, mas nem sempre
menos absurdas de tolices. As pessoas que tomam parte nisto, aderem a
dimensões especiais da divisão do trabalho e isto aparenta para eles como se
estivessem trabalhando em um campo independente. E na medida em que eles
formam um grupo separado dentro da divisão social do trabalho, a sua produção,
incluindo seus erros, reage novamente e influencia o desenvolvimento total da
sociedade, e mesmo o desenvolvimento econômico. Mas todos estes estão,
novamente, sob a dominante influência do desenvolvimento econômico. Na
filosofia, por exemplo, isto pode ser mais prontamente demonstrado através do
período burguês. Hobbes foi o primeiro materialista moderno (no sentido possível
dos limites do século XVIII), mas ele era um absolutista no período em que a
monarquia absolutista estava em seu mais alto ponto por toda a Europa e
quando a luta da monarquia contra o povo estava se iniciando na Inglaterra.
Locke era uma criança no compromisso de classe de 1688 tanto em matéria de
religião como de política.
Sobre religião, eu disse o que era mais importante na última sessão sobre
Feuerbach.
Se, no entanto, Barth supõe que nós negamos toda e qualquer reação do
político, etc., reflexos do movimento econômico sobre o movimento em si, ele
está simplesmente lutando contra moinhos de vento. Ele só precisa olhar para o
Dezoito Brumário de Marx, que lida quase que exclusivamente o papel particular
desempenhado pelas lutas políticas e outros eventos; é claro que dentro da
dependência geral das pré-condições econômicas. Ou O Capital, no capítulo sobre
a jornada de trabalho, por exemplo, onde a legislação, que é certamente um ato
político, tem efeito incisivo. Ou então a parte sobre a história da burguesia
(capítulo XXIV). Ou por qual razão nós lutamos pela ditadura política do
proletariado se o poder político é economicamente impotente? Força (isto é,
poder estatal) é também poder econômico!
Mas eu não tempo agora para criticar este livro. Eu devo agora pegar o
volume III e no mais, penso que Bernstein, por exemplo, poderia efetivamente
lidar com estes assuntos.
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Nota:
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17/10/2019 Carta para Joseph Bloch
que seria um anti-cientificismo do materialismo histórico. Engels responde a este ponto e explica
a inter-relação entre a legislação e o direito no capitalismo, bem como o papel do Estado. O texto
é pequeno, e embora não seja de fácil leitura, é fundamental pela sagacidade dos conceitos
elaborados e explicados.
Inclusão 02/10/2009
Última alteração 25/09/2011
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