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Biblioteca Escolar
no Brasil
Os desafios e as
oportunidades que a Lei
12.244/10 impõe a
biblioteconomia
/ ENTREVISTAS
José Adolfo Snajdauf e Maria Alice Ciocca
O que experiências de profissões tão díspares, como
são os casos da Biblioteconomia e da Astronomia,
podem trocar
/ COTIDIANO
Roma Antiga e o Rodo Cotidiano
O que a sociedade moderna guarda em comum às
sociedades antigas
/ OPINIÃO
Mídia e Excitação 1
Uma arqueologia da palavra sensação, de quando
apenas significava sensação
/ Edição 1
Ano 1, Nº 01 – Junho de 2011
ISSN 2238–3336
SUMÁRIO
/ EDUCAÇÃO / NA ÍNTEGRA
Mudanças no INEP, será? Isaura Lima Maciel Soares
Por Luan Yannick Por Chico de Paula
05 32
/ COTIDIANO / NA ÍNTEGRA
Roma Antiga e o Rodo Cotidiano Jonathas Carvalho
Por Albert Vaz Por Chico de Paula
07 35
/ COTIDIANO / ESTANTE
Sobre o acesso ao conhecimento Mídia e excitação
no Brasil Por Claudio Rodrigues
Por Allan Rocha 11 41
/ CONECTADO / REPORTAGENS
Cinema, filosofia e tecnologia Biblioteca Escolar no Brasil
Por Conceição Gomes Por Chico de Paula
13 44
/ DIÁLOGOS
José Adolfo Snajdauf e Maria
Alice Ciocca
Por Chico de Paula 17
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EXPEDIENTE / Edição 1
EDITORES
Chico de Paula
Emilia Sandrinelli
Filipe Santos
Hanna Gledyz
Jailton Lira
Rodolfo Targino
COLABORADORES
Albert Vaz
Allan Rocha
Claudio Rodrigues
Conceição Gomes
Luan Yannick
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Fala, editor!
CULTURA INFORMACIONAL
eis que surge uma nova opção de informação
Por Chico de Paula
A
primeira Conferência Nacional de representa cada vez mais um campo de força
Comunicação (ocorrida em política, cuja consequência é inerente a cada
dezembro de 2009 em Brasília) indivíduo.
evidenciou uma verdade dura, Embora o surgimento da revista tenha se
contudo, remediável: o desprezo dos dado pelo somatório de forças de um grupo
grandes veículos de comunicação por de bibliotecário inconformados, a ideia é abrir
qualquer iniciativa de discutir o setor. Tanto a este espaço de discussão a um número cada
ABERT (Associação Brasileira de Emissoras vez maior de categorias profissionais que
de Rádio e Televisão) quanto a ANER estejam de alguma forma envolvida com esta
(Associação Nacional dos Editores de tal cultura informacional. Nesta primeira
Revistas) divulgaram carta criticando a edição a reportagem da biblioo traz uma
Confecom por, supostamente atentar contra matéria especial sobre a Lei nº 12.244/10
a “liberdade de expressão”. Liberdade de (que acaba de completar um ano), a qual
expressão esta, como se sabe, reservada dispõe sobre a universalização das
somente aos mandatários destes veículos. A bibliotecas escolares no Brasil. O diretor de
revista biblioo nasce da necessidade de, por redação Chico de Paula e o diretor de
um lado, contribuir com o fim do monopólio comunicação e marketing Jailton Lira
da comunicação, mesmo que de forma conversaram com especialistas e trazem
modesta, e de outro, pela necessidade informações relevantes para o debate sobre
gritante de se discutir a fundo a isto que se este tema.
vem denominando Cultura Informacional, que Biblioo foi até Olinda em Pernambuco e
nada mais é do que o imperativo de uma colheu uma entrevista exclusiva com o
sociedade pautada pelo crescente fluxo de Bibliotecário Edson Nery da Fonseca, cuja
informação no mundo, sobretudo em virtude militância intelectual colocou a
do aumento na utilização do aparato biblioteconomia como uma das atividades
tecnológico, que ora se denomina Novas profissionais mais respeitadas entre a
Tecnologias. intelectualidade. Além disso, nesta edição,
A informação constitui objeto de trabalho de apresentamos aos leitores uma variedade de
um número crescente de profissionais que textos de profissionais destacados que se
vão do jornalismo à informática, passando propõem a discutir temas importantes no
pela educação, pelo direito, letras, cenário nacional, como a indicação de
museologia, arquivologia, biblioteconomia Malvina Tutemam para presidir o INEP (Luan
etc. Sendo assim, ninguém pode se eximir de Yannick). Esperamos que aproveitem. Boa
discuti-la. Primeiro porque esta permeia toda leitura!
a vida em sociedade; segundo porque esta
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/ EDUCAÇÃO
Mudanças no INEP,
Por Luan Yannick
será?
O que representa a indicação Malvina as campanhas eleitorais.
Tuttman para presidir a instituição
organizadora do Enem Plano de Reestruturação das
A professora Malvina Tânia Tuttman assumiu a Universidades
presidência do INEP (Instituto Nacional de No caso das propostas oriundas do Ministério da
Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Educação, durante a implementação do REUNI
Teixeira) após dois anos de problemas com o (Plano de reestruturação das universidades) e a
Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Em utilização do ENEM como vestibular, a reitoria da
2009, depois de um vazamento das provas, caiu UNIRIO as tratou como se fossem a “salvação da
Reynaldo Fernandes, entrou Joaquim Soares lavoura”, a solução dos problemas do Ensino
Neto, quando em 2010, além de vazamento, Superior público no país, quando na verdade a
houve também erro na confecção dos gabaritos. primeira, em médio prazo, acarretará em
Fui estudante da Universidade Federal do Estado superlotação nas salas de aula, o que, sem
do Rio de Janeiro (UNIRIO) entre março de 2005 dúvida, é péssimo para a qualidade do ensino
e abril de 2010, e pude acompanhar a maior (quem já teve aula numa sala com mais de 100
parte da gestão da professora Malvina bem de alunos pode detalhar mais!). Mesmo
perto. Nesse período passei pelo Diretório considerando o ponto positivo da ampliação de
Acadêmico do meu curso e pelo Diretório Central vagas, sem entrar no mérito se foi eleitoreiro ou
dos Estudantes da instituição e por vezes tive não, o problema da superlotação existe e só o
opiniões divergentes da reitora, como, por governo e as reitorias das Instituições Federais
exemplo, com seu modo de lidar com as de Ensino Superior parecem não ter percebido,
propostas do governo e com demagogia durante defendendo o projeto a ponto de violar princípios
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democráticos em diversos conselhos superiores mesma coisa. E foi isso que a magnífica reitora
universitários. fez. Dessa vez com um molho especial,
estipulando uma data para a conclusão da obra.
O fim do vestibular O início do ano letivo de 2009. Adivinhem: até o
O caso do tão propagado “fim do vestibular”, que fim do mês de abril de 2011, nenhum tijolo havia
na verdade foi substituído pelo ENEM, mostrou sido colocado. Entendo que problemas técnicos
governamental. Presenciei a professora Malvina como eu, à época estudante, entendia, acredito
Tuttman alegar que a medida promoveria a que os que tivessem na gestão da Universidade
fiz questão de repetir o que a reitora havia falado algo que não tinham garantia (e, portanto, uma
dia, apontando as escolas com maior média no Passar por esses momentos me faz concluir que
ENEM e quantas eram públicas, o que no mínimo há uma ideologia cega por trás das
maiores médias do país, apenas duas eram que representa. Essas atitudes sem dúvidas
públicas, e essas duas públicas são os colégios geraram ótimos frutos para a carreira da
de aplicação da Universidade Federal de Viçosa professora Malvina, mas será que trouxe
que como todos sabem, têm seu acesso através É cogitada pelo INEP nesse momento a criação
de prova. Não precisa ser nenhum gênio pra de um órgão específico para cuidar do ENEM,
perceber que a média de renda da família de tirando assim a bomba das mãos da instituição.
seus estudantes é infinitamente superior as dos Detalhe: essa hipótese foi cogitada no último ano
que estudam em colégios ligados às secretarias pelo ministro Fernando Haddad. Ou seja, a
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/ COTIDIANO
O
entendimento muitas vezes que se faz dos hábitos e costumes de civilizações antigas é de
distanciamento e indiferença por parte de sua abrangência. Mas algumas dessas peculiaridades
desses povos refletem e estão presentes na nossa vida cotidiana, e estamos acostumados a
achar que os homens sempre e em toda parte viveram como nós vivemos hoje, como Pedro Paulo Abreu
Funari já tinha retrato em seu Roma: vida pública e vida privada, no qual temos a interpretação
tendenciosa amparada na compreensão de humanidade na contemporaneidade. É alicerçado nesse
engajamento do que se habituava antigamente a como isso tem a ver um pouco com hoje em dia que
faremos a retrospectiva a Roma Antiga.
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Apesar de alguns pesquisadores atentarem para o fato de que o deslocamento histórico no parâmetro de
épocas distintas ser um equívoco, constata-se um espelhamento sutil de diversos atributos da sociedade
antiga com a sociedade atual, com ponderações e sem uma visão moralizante taxativa. Assim, podemos
visualizar o cotidiano implicado no meio social em Roma Antiga no propósito em questão, principiando na
noção das camadas sociais. Mas tinha classes sociais em Roma? A princípio, esta possibilidade seria
descartada, pois não haveria distinção social por grupos já que essa noção está vinculada à formação da
massa proletária que está relacionada à indústria, o que era impensável para a época. Ao invés de
classes, haveria estamentos que denominavam grupos que seriam juridicamente separados, como os
homens livres e os libertos, que poderiam acumular a mesma riqueza, porém seriam enquadrados em
estatutos jurídicos distintos, com o ultimo não tendo o tratamento de cidadão romano e,
consequentemente, tendo algumas privações, como no caso de concorrer a cargos públicos. O que nos
faz observar que poderia haver uma ascensão social, pois também não se tinha o domínio absoluto das
riquezas. O liberto poderia se tornar uma pessoa enriquecida e ter status de pessoa importante naquela
região em que vive, mas não teria a refinação aristocrata e nem chegaria a ter um titulo de nobreza.
Escalas sociais
Com isso, poderia haver então uma divisão baseada em valores sociais pautados pelos níveis das
fortunas dos indivíduos, que é o que se aplica na prática na Era Contemporânea. Isso quer dizer também
que o tratamento perante o Estado será diferenciado, exemplificado bem no caso dos humildes
(humiliores), a plebe das pessoas insignificantes sem capitais declarados, à menor contravenção eram
açoitados e, ao menor crime, eram sentenciados à morte. Isso se espelha um pouco com o elemento da
massa miserabilizada atual que tem uma imagem estereotipada e ao menor deslize perante a sociedade e
o Estado pode ter uma crucificação moral ou física sem muitas vezes ter um julgamento justo dos fatos
ocorridos. Noutra escala desse plano social estão os decentes (honestiores), compreenderiam os
burgueses de nossos tempos, no qual tinham que ter uma posse mínima de quantia – na base de 5.000
sestércios – valeria uma situação mais assegurada: em caso de atos mais graves, castigos mais leves e
menos infamantes, como confiscação e proscrição. Essa característica poderia ser refletida na classe
média atual, que na maioria das vezes chega a ter o mínimo para usufruir seus bens e quando tem alguma
falta com Estado é referente ao atraso ou calote de tributos e afins que deveram ser corrigidos, senão
poderá “sujar” seu nome perante a lei e assim não poderá gozar dos plenos direitos cívicos, como disputa
por cargos públicos ou manutenção de conta bancária. E acima desses na escala seriam os Ordos, que
compreenderiam a ordem senatorial e que poderiam ter vários segmentos – com uma base que continha
uma quantia acima de 400.000 sestércios – podendo desfrutar dos mais restritos privilégios. Esta
atribuição se assemelha à considerada classe alta da atualidade – a elite, no qual quando está em apuros
diante o Estado, normalmente consegue dar um “jeitinho” de apadrinhamento ou aparato financeiro para a
não execução correta por seu ato falho.
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Isto ajuda a formar uma conjectura social favorável à articulação de artimanhas na política, pelo qual se
entendia que a plebe constituía em elemento a ser cativado e não coagido, evidenciando a presença do
clientelismo. No que denominaria “popular”, que seria o representante do povo comum, pois agradaria em
ações e palavras a massa e o “ótimo”, membro das classes altas e elegíveis para o Senado e procuraria a
aprovação dos bons cidadãos, englobava integrantes da classe alta de reconhecimento na sociedade.
Esta efervescência social necessitava em curto prazo de medidas amenizadoras para manter em equilíbrio
o poder dominador e as determinadas camadas sociais com a implementação da política do “pão e circo”,
que se baseava em medidas imediatistas em proporcionar a maior parcela dos miseráveis da população
alimentação e diversão, como as lutas de gladiadores no Coliseu. Servia para abrandar
momentaneamente a inquietude da massa com relação à fome e a negligência do Estado em acolhê-los
para ter condições mínimas de sobrevivência. Esta ação política caracterizaria hoje o “populismo”, no qual
é fundamentado na relação particular entre o Estado e as classes sociais na incorporação das massas
populares ao processo político, adotando uma atitude agregadora por parte do Estado e podendo ser
alinhada ao clientelismo. Do mesmo modo, a propaganda eleitoral tinha mecanismos aprimorados no
alcance do apoio popular tanto no tratamento de generosidade com a plebe como um instrumento de
divulgação de campanha. Veja o exemplo a seguir:
P(ublium) (P)aquium Proculum duumvirum j(ure) d(icundo) d(ignum) r(ei) p(ublicae) (oro vos faciatis) (CIL
IV 1122)
Tradução aproximada: Voto para Publius magistrado Próculo Paquius responsável pela justiça, pois ele é
digno de gerir os negócios públicos
Isto demonstra a presença de cartazes pintados nas paredes referentes a candidaturas políticas, mas
também podia se referir a manifestações populares sobre qualquer assunto através do grafite e/ou
pichação para divulgar alguma ideia, o que sobrepuja a observar que esses integrantes das camadas
populares tinham algum grau de instrução para poderem se expressar em palavras escritas. O grafite nos
dias contemporâneos é tratado como manifestação cultural ligada ao gueto e as ruas ou simplesmente
como poluição visual urbana.
A questão do trabalho
A questão de trabalho também implica nesse entendimento das classes sociais, pelo qual o trabalho braçal
tinha uma imagem degradante por parte da elite que enaltecia o ócio, porém os próprios trabalhadores
braçais se orgulhavam daquilo e se sentiam dignificados. Tanto é que chegavam a fazer representações
de seus ofícios em “sarcófagos” com a ideia de preservar a memória e a representação do falecido na sua
vida. Além de não ser muito bem visto pelas classes privilegiadas nos dias de hoje, o trabalho braçal da
mesma forma não tem seu devido reconhecimento econômico, tendo na maioria das vezes baixa
renumeração. Pois tal como o trabalho, a moradia era um reflexo das diferenças e privações impostas às
diversas camadas sociais, pois ao povo era designado apartamentos minúsculos em grandes edifícios –
até 6 metros de altura – presentes nas grandes cidades, com risco de desabamentos a incêndios. Essa
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questão se clareia bem com os cortiços existentes na atualidade que consistem em pequenos quartos com
um banheiro coletivo para todos residentes daquela moradia e os riscos vão exatamente a desabamentos,
pela má conservação do imóvel, e aos incêndios, pela instalação precária da rede elétrica ou por motivos
adversos, cujos habitantes desses imóveis são justamente indivíduos das camadas mais carentes, pois
sem condições e recursos de morar em lugar mais agradável devido à especulação imobiliária, ficam
fadados a morarem nesse tipo de lugar. Aos ricos restavam as grandes e sofisticadas moradias,
ostentando luxo e um cômodo que era restrito a muito poucos: banheiro. Já para a maioria da população,
restava usar os banheiros públicos que seriam as latrinas públicas de uso coletivo com jarros individuas
para cada pessoa.
Portanto, verifica-se que problemas sociais concernidos à estruturação e ao planejamento de uma cidade
que afligem as mais diversas camadas de uma sociedade daquele respectivo recinto podem se efetivar em
condições adversas, com variação de tempo histórico, época, lugar e cultura. A questão não é comparar
os problemas, procurando ver quais são maiores e piores de cada um, até por que isso é uma visão
descontextualizada dos componentes, mas de constatar que tal problemática não é exclusividade de um
determinado grupo de pessoas de sua época e que todos estão sujeitos a tais angústias, pois isso está
inserido na questão de humanidade que ao menor ato de desenvolvimento desigual e heterogêneo facilita
a criação de mecanismo de distinção socioeconômica que propícia a conflitos e até mesmo ao caos. E
essa angústia e aflição que nos acomete no dia-a-dia são retratadas um pouco na letra de Marcos Lobato
em Rodo Cotidiano: “amarrotada social; no calor alumínio; nem caneta nem papel; e uma ideia fugia; era o
Rodo Cotidiano”
ACESSE. INFORME-SE.
www.biblioo.info
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/ COTIDIANO
Sobre o acesso ao conhecimento no Brasil
Por Allan Rocha
Difundindo ideias para contribuir com o principalmente daqueles que concluíram seus
desenvolvimento científico cursos e faculdades. É possível constatar, com
O compromisso com a verdade é um discurso um exemplo bem simples, que a digitalização dos
comum entre todos os profissionais da área de TCC’s, dissertações, teses e outros trabalhos
informação e pesquisadores em geral. Mas ainda afins, por bibliotecas digitais, facilitam e
procedência e até mesmo equivocadas nos melhor qualidade. Sem contar que evitam um
google, ferramenta de pesquisa mais utilizada todo o país, que é a perda desses trabalhos
entre as que temos acesso, tem seu valor e é pelas bibliotecas das universidades, sobretudo
imprescindível para auxiliar qualquer que seja a aqueles trabalhos mais antigos (embora os mais
necessidade. Porém, no meio acadêmico, sabe- recentes também padeçam desse problema), por
se que existem bases de dados onde é possível conta de extravios, má conservação, etc. São
confiáveis e utilizadas por pesquisadores sérios e enfrentados por bibliotecas de todos os tipos.
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exemplo as revistas da área de Direito e Saúde apresenta também uma problemática que se
são as que mais dificultam o acesso aos seus encontra intrínseca, que é a baixa produção
conteúdos (gratuitamente). Tudo bem que elas cientifica de nosso país. Obviamente só a
têm direito de escolher o que fazem com seus disponibilização dos trabalhos dos pesquisadores
conteúdos e é de se entender, já que vivemos não vai resolver este problema, mas é uma ajuda
numa sociedade capitalista. Pois então vamos que pode proporcionar um incentivo maior para
aos pesquisadores. Se fosse possível colocar em os futuros mentores da produção acadêmica
prática uma conduta ética e de responsabilidade deste País. Conhecer o Estado da Arte é
social, onde a questão mais importante para fundamental para desenvolver uma pesquisa de
todos fosse a simples contribuição para o qualidade. O ineditismo também é importante,
desenvolvimento da comunidade ou da mas é preciso refletir sobre o que já conhecemos
sociedade, e não a pretensão em obter lucro para, de repente, aprimorarmos ainda mais o que
sobre as reflexões e descobertas científicas, já nos é de domínio.
teoricamente o resultado desse processo seria o Além dos trabalhos acadêmicos, os artigos
melhoramento de nossa sociedade como um científicos também são de grande importância
todo. Os exemplos citados são apenas para para o desenvolvimento científico. Existem muitas
figurar uma situação, até porque é possível revistas bem conceituadas que disponibilizam
encontrar muitos textos sobre a área de Saúde, seus conteúdos na web, não existindo razão para
mas a área de Direito é visivelmente mais restrita. não o fazer. Assim, pode-se encontrar um maior
As experiências de cada indivíduo são os numero de citações dos pesquisadores brasileiro.
agentes catalisadores responsáveis pela Outra atitude que pode contribuir para isso é a
formação do caráter destes, somadas a elas, são produção de artigos em outras línguas, como a
as experiências acadêmicas que definem o língua inglês, por exemplo.
profissional. Nosso país carece de produção Portanto, para conseguirmos desenvolver o Brasil
científica. Uma prova disso são os resultados que cientificamente e seus centros de pesquisa, é
podemos encontrar expostos na Coordenação de imprescindível contar com a contribuição dos
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, a discentes dos mestrados brasileiros, discentes
CAPES. Quando entramos na página da dos doutorados e demais pesquisadores para
CAPES, ou seja, acessamos o proporcionar o desenvolvimento da produção
portal, procurando conhecer o ranking dos científica no país, facilitando o acesso aos seus
melhores periódicos, fica claro que o Brasil ainda textos, sejam de dissertações, teses ou artigos. O
deve muito para ser um país mais respeitado importante é encaminhar, direcionar os novos
em termos científicos. A WebQualis é onde pesquisadores para um caminho mais assertivo
podemos conhecer os periódicos científicos mais na pesquisa cientifica.
bem conceituados e infelizmente são poucos os
periódicos brasileiros com conceito A1, ou seja,
conceito máximo para um periódico. Este quadro
mostra-nos o quanto precisamos melhorar;
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/ CONECTADO
Cinema, filosofia e tecnologia
Por Conceição Gomes
O cinema e a teoria social de George importantes, mas, talvez não seriam controláveis
Simmel: O diálogo com Walter Benjamin para o modo de pensamento científico do século
que antecipou a questão da tecnologia e da obra deste pensador está fundamentada na ideia
sua obra uma teoria da cultura. Para tanto, ao Tedesco afirma que “[…] por isso
investigar o fenômeno tecnológico, utilizou-se de seu panteísmo estético como episteme, no qual
percepções pioneiras, tais como o ceticismo à se entende que cada ponto, cada fragmento
tecnológicos, pois reconheceu a tecnologia como A valorização destes aspectos aproxima Simmel
parte integrante da cultura moderna. Para José de Walter Benjamin. Talvez por este último ter
Luís Garcia “é certo que pode ser objetado que sido aluno de Simmel, foi um dos que
Simmel não dedicou um estudo particular à proporcionou a Benjamin o contato com uma
e as implicações da ciência e da tecnicidade Assim, tanto para um, quanto para outro, a
moderna têm uma presença importante em alienação tem profunda relação com a cultura.
muitos dos seus trabalhos centrais, na medida Memória e Modernidade possuem em comum o
expande para esfera da religião e da arte, da vida resultando nestes autores a noção de tempo
interdisciplinar, sobretudo porque adentrou por Monetarização interferindo na vida mental, nos
temas que eram considerados fluidos e não modos de existir do homem moderno. Como bem
passíveis de aprofundamentos, por vários constata João Carlos Tedesco “[...] os problemas
pensadores da época, não porque não eram mais graves da vida moderna derivam da
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reivindicação que faz o indivíduo de preservar a Sabemos, portanto, que não se pode dizer que
autonomia e a individualidade de sua existência não haja interferências, seja de indivíduos,
em face das esmagadoras forças sociais da instituições, seja de corporações na obra de
herança histórica da cultura externa e da técnica qualquer autor. Este, por sua vez, é parte
da vida”. integrante da engrenagem social e sua produção
artística é atravessada pela maquínica
George Simmel, Walter Benjamin e a capitalística ou do poder. Afinal, o cinema como
alienação cultural partícipe da indústria cultural, sempre esteve
Com mais de cem anos de existência o cinema é intimamente relacionado com a cultura de
um dos artefatos culturais que disseminam, massas. Walter Benjamin no ensaio A obra de
simultaneamente, subjetividades hegemônicas e arte na era de sua reprodutibilidade
de resistência. Não podemos nos referir a ele técnica lembra que “no interior de grandes
como elemento artístico, puramente, pois está períodos históricos, a forma de percepção das
condicionado aos interesses da indústria do coletividades humanas se transforma ao mesmo
entretenimento que controla e operacionaliza tempo que seu modo de existência”. O que há de
toda a cadeia produtiva dos elementos e etapas fato é a possibilidade de expressão do cinema
da produção cinematográfica. O filme é uma como arte, nas diversas fases históricas
criação da coletividade e para a coletividade. Sua existentes, em conjunturas diversas no tempo e
reprodutibilidade técnica está no espaço. Esta possibilidade de expressão não
relacionada/subordinada à própria produção. se realiza sem disputas, consensos e dissensos.
Esta autoriza a difusão em massa para que o Trata-se, então, de colocar em discussão as
produto possa chegar às massas e seja passível subjetividades expostas pelo cinema cujo alcance
economicamente de ser consumido. Porém, faz- perpassa décadas e países. Tanto como tentativa
se necessário apontar as diversas experiências de criação autoral como coletiva, a obra
conhecidas como “cinema de autor”, “cinema cinematográfica, o produto final que é o filme traz
autoral”. São aquelas em que o diretor/roteirista em todas as etapas de criação modos de
e/ou diretor e roteirista expressam suas ideias a subjetivação. Rejeitando a noção de
partir do uso de linguagens que experienciam subjetividade como sinonímia de identidade e
novos rumos estéticos e que não estão, personalidade, apresentadas de forma dualística
necessariamente, a serviço dos produtores e (exterior versus interior) carregada pela ideia de
distribuidores que lucram com este mercado; ou, verdade, a subjetividade pode ser pensada como
até mesmo, em adesão a governos e às formações provisórias de sentidos que se
subjetividades em movimento que surgem das misturam em infindáveis arranjos. Leila Machado
relações de poder. concebe os modos de subjetivação como
históricos, todavia esta relação é de
O cinema como partícipe da indústria processualidade. Para esta autora “os modos de
cultural subjetivação referem-se à própria força das
transformações, ao devir, o intempestivo, aos
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processos de dissolução das formas dadas e Esta perspectiva redimensiona o conceito de
cristalizadas, uma espécie de movimento poder, deslocando-o de um lugar central, de
‘instituinte’ que, ao se instituir, ao configurar um uma persona detentora do mais absoluto
território, assumiria uma dada forma- designo. Ele torna-se um exercício, uma relação
subjetividade”. afastada de qualquer polarização, pois se trata
O que é desvelado nesta passagem é o antigo de usos e práticas. Desse modo ocupamos tanto
modo de se pensar a vida de forma polarizada, as práticas de dominação quanto de resistências,
binária, maniqueísta e que escolhe um dos todas anônimas e movediças. Nossa época
extremos para coroá-lo com a verdade. A noção engendra expressões que constituí aquilo que
de subjetividade, assim entendida, põe em chamamos indivíduo, individualidade, homem,
reclusão as subjetividades sob o prisma da mulher, criança, família. Quando acreditamos
esfera privada, do auto-conhecimento nestas categorizações, estamos, nada mais do
(interioridade), do intimismo característico dos que, enxergando através das lentes de uma
discursos burgueses. época, assim como faz o cinema através da
Para pensar esta trama é preciso compreender narrativa das estórias contadas pela imagem.
que nós, as instituições, o sistema econômico
somos formas que geram, criam sentidos Fahrenheit 451
específicos para todas as redes de relação em A obra Fahrenheit 451de Ray Bradbury,
todos os âmbitos da existência. Nossas publicada em 1953, período que converge com o
nomeações, filiações, gostos, desejos, rejeições auge do Macartismo, foi de início uma produção
e aprovações passam por esta rede de que se voltou para a crítica daquilo que o autor
significações que são alteradas pelo jogo de entendia por uma sociedade desfuncionalizada,
forças existentes no meio social. cuja característica principal era o individualismo e
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ausência de vida criativa. Escrito e dirigido por parte da dinâmica do poder que se apresenta
François Truffautt em 1966, o filme homônimo à como totalitário. Este exercício do poder gera a
obra nos apresenta o caráter de vazio das melancolia vista em todos os personagens do
existências que não passam mais pelo filme, com exceção de Clarice, cuja disposição e
aprendizado a partir da experiência. A proibição a dinamismo contagia completamente o bombeiro
qualquer forma de leitura foi uma crítica Montag. A incapacidade de narrar suas próprias
contundente a televisão na década de 1960. experiências é fruto da interferência da
Naquele momento, acreditava-se no predomínio transformação do mundo pela tecnologia que o
de um suporte sobre o outro e o fascínio que capitalismo conformou em diversas fases
causava a difusão da imagem em detrimento da históricas. Para ir de encontro à solidão e a
leitura. Sabe-se, hoje, que os suportes podem melancolia, os habitantes que resistiram ao modo
coexistir, inclusive, para estimular e divulgar de vida da maioria, resolverão, através da leitura,
obras literárias. O filme de Truffaut apresenta incorporar as narrativas dos romances, que para
uma atmosfera em que os indivíduos, esvaziados eles eram mais significativos, a tal ponto de cada
de sentido para sua relação com a vida e com o indivíduo representar uma obra e incorporá-la
mundo, são suscetíveis a aprendizados como seu próprio “eu”.
mecânicos e desprovidos de criação e interação. A discussão em torno da tecnologia no filme,
A atrofia da experiência, entendida por Benjamin ancorada na teoria social de Simmel contribui
como a capacidade de narrar a vida através da para que compreendamos que os aparatos
memória constituída por uma narrativa coletiva e tecnológicos são permeados pelas relações de
social, vista em Fahrenheit 451, simbolizada pela poder subjacentes nas correlações de forças que
metáfora do fogo que destrói livros, aí está a compõem a sociedade. Simmel percebeu que era
função da memória que é anulada em importante introduzir a dimensão metafísica,
substituição da presentificação que fragmenta as psicológica e cultural junto às análises do
relações sociais e afetivas mais profundas. O Materialismo Histórico.
esvaziamento do indivíduo e da sociedade faz
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/ DIÁLOGOS
José Adolfo Snajdauf e Maria Alice Ciocca
O que experiências de profissões tão díspares, como são os
casos da Biblioteconomia e da Astronomia, podem trocar
Por Chico de Paula
RIO - Inteligente e proativa, Maria Alice Ciocca de Oliveira é uma daquelas profissionais que provoca
orgulho entre seus pares. Tendo defendido recentemente sua dissertação de mestrado em museologia, a
bibliotecária do Observatório do Valongo – OV (Instituto do Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza
– CCMN – da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ) destaca sua preocupação com a questão
da memória das ciências: “hoje a gente tá tendo a oportunidade de olhar para trás e querer recuperar,
reconstruir, ou melhor, até construir essa memória”. Não obstante, José Adolfo Snajdauf de Campos,
astrônomo e professor do OV, cativa por sua disposição intelectual. Instigado a falar sobre a história das
ciências, professor Adolfo, como normalmente é tratado, não poupa conhecimento e discorre longamente
sobre informações dignas de um historiador perspicaz. “Não é que a pessoa vá virar historiador de ciência,
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mas pelos menos que demonstre uma certa sensibilidade com essa questão”, ressalta. Cercados por
raridades bibliográficas (a conversa foi gravada na Biblioteca de Obras Raras do Centro de Tecnologia da
UFRJ), os dois pesquisadores falam neste Diálogos sobre as afinidades profissionais que lhes
impulsionaram a uma parceria que tem rendido frutos a ambos.
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/ NA ÍNTEGRA
RIO - Isaura Lima Maciel Soares, presidente do Fazenda no Estado do Rio de Janeiro,
Conselho Regional de Biblioteconomia da Sétima desenvolvendo trabalhos técnicos nas áreas de
Região (CRB 7) fala, nesta entrevista, da atuação pesquisa, catalogação e classificação. No
do órgão face às novas determinações legais Ministério da Fazenda ocupei o cargo de Chefe
advindas da Lei nº 12.244/10, a qual dispõe Substituta do Setor de Documentação do
sobre a universalização das bibliotecas escolares Ministério da Fazenda.
no Brasil. Trabalhei em vários projetos em instituições
Chico de Paula – Fale um pouco de sua públicas como Arquivo Público do Estado do Rio
trajetória profissional e seu envolvimento com a de Janeiro – Biblioteca, Assembleia Legislativa
biblioteconomia. do Estado do Rio de Janeiro, Arquivo Nacional,
Isaura Lima Maciel Soares – Estudei na Arquivo Jurídico da Vale do Rio Doce e
Federação das Escolas Federais Isoladas do instituições privadas como escritórios de
Estado da Guanabara (FEFIEG) transformada em advocacia e na organização de acervos
1969 para Federação das Escolas Federais particulares.
Isoladas do Estado do Rio de Janeiro (FEFIERJ) Obras elaboradas em parceria: “Obras raras
e modificada em 1979 em Universidade do Rio existentes na BMF-RJ”, publicação editada pelo
de Janeiro (UNIRIO). Os dois primeiros anos da IBGE, e “Delegacias do Ministério da Fazenda e
faculdade foram nos porões da Biblioteca seus delegados” editada pela BMF/RJ, e a
Nacional, local onde hoje é o Auditório Machado atualização do livro “Terceira Idade”, obra editada
de Assis. No último ano, quando me formei, o e publicada pelo governo do estado do Rio de
Curso de Biblioteconomia ocupava uma casa na Janeiro.
Rua Washington Luis, local provisório para a sua No Conselho Regional de Biblioteconomia –
instalação definitiva no prédio da UNIRIO. CRB-7 na 14ª Gestão, ocupei o cargo de 1ª
Em 1973 me formei, e como profissional trabalhei secretária da Diretoria (2006-2009). Na atual, 15ª
por 23 anos na Biblioteca do Ministério da Gestão (2009-2011), assumi como vice-
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presidente, permanecendo até maio de 2009. CFB/CRBs a constituir parceria com a CAPES,
Atualmente sou a presidente do CRB-7. por meio da Universidade Aberta do Brasil (UAB),
C. P. – Como a senhora avalia a Lei 12.244/10 para a oferta de curso de bacharelado em
que dispõe sobre a universalização das Biblioteconomia na modalidade a distância que
bibliotecas escolares? será ofertado pelas universidades públicas,
I. L. M. S. – A Lei 12.244 surgiu de um projeto federais e municipais que já possuam curso na
elaborado pelo Sistema CFB/CRBs de modalidade presencial.
implantação de uma rede de informação A proposta foi entregue a CAPES/UAB e aguarda
dinâmica e eficaz, visando promover maior sua aprovação, prevista para ainda este ano.
qualidade no ensino público. Dirigido a duas Este é outro fator positivo, a abertura de mais
vertentes, a sociedade em geral, focando na cursos de formação de bibliotecários qualificados
formação do cidadão e ao bibliotecário como para inserir no mercado de trabalho que vem
facilitador da informação. crescendo e necessitando de profissionais da
Projeto Mobilizador que foi enviado e aprovado informação.
pelo Congresso Nacional (Projeto de Lei n. C. P. – Com base em sua experiência, como a
1.831/2003), seguiu para o Senado passando a senhora enxerga o panorama da biblioteca
ser o Projeto de Lei da Câmara n. 324 (PLC escolar no Brasil?
n.324/2009). I. L. M. S. – O Programa Mobilizador Biblioteca
Em 2010 foi sancionada a Lei 12.244, que em Escolar favorece a construção de redes de
seu artigo terceiro determina que “os sistemas de disseminação da informação no ensino público. A
ensino do País deverão desenvolver esforços proposta visa melhorar a qualidade do ensino no
progressivos, para que as escolas brasileiras Brasil.
num período de dez anos tenham uma biblioteca Estimula o aprendizado e a criatividade. Através
com um título para cada aluno matriculado, da biblioteca escolar o professor incentiva o
respeitada a profissão de bibliotecário”. gosto pela leitura, pois o aluno adquire desde
A implantação de bibliotecas escolares demanda pequeno o hábito de ler.
de contratação de bibliotecários para organizar, Favorece também a pesquisa escolar e ao
gerenciar e dinamizar a biblioteca escolar. A Lei trabalho intelectual que proporciona ao educando
12.244/2010 determinou a contratação de 175 mil meios para melhor desempenhar seus papéis
bibliotecários, até 2020, aumentando as vagas sociais.
para bibliotecários em todo o país. Na hora do conto o aluno pode criar e interagir
A minha avaliação é positiva no que se refere ao com o professor.
campo de trabalho do bibliotecário, mas com a Biblioteca escolar assume papel importante como
implantação da Lei o número de profissionais não complemento ao exposto na sala de aula na
será suficiente para ocupar tantas vagas. consolidação do conhecimento, apoiando a
Surgiu a necessidade de formar um maior seleção e produção do material didático.
contingente de bibliotecário no país, sem abrir C. P. – De que forma o profissional bibliotecário
mão da qualidade. Isto motivou o Sistema pode contribuir para a efetivação dessa lei?
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I. L. M. S. – O bibliotecário pode sensibilizar os As fiscalizações preventivas, nesses casos, têm
parceiros e autoridades para que abracem a ideia um caráter mais pedagógico que punitivo, já que
da biblioteca escolar mostrando a sua visa à conscientização do empregador da
importância na formação da criança, que será um importância da biblioteca e, da necessidade e
futuro cidadão com capacidade para melhor exigência do profissional habilitado para exercer
desempenhar um papel na sociedade. a função de acordo com as leis vigentes.
C. P. – De que forma o CRB7 irá trabalhar para C. P. – Fique a vontade para fazer as
fiscalizar a aplicação dessa nova lei? considerações finais.
I. L. M. S. – Através de fiscalizações preventivas I. L. M. S. – A Biblioteconomia, profissão que
e rotineiras o CRB-7 detectará e acompanhará se escolhi, faz parte da minha vida até hoje. No
a Lei nº 12.244/2010 está realmente sendo início da minha carreira me identifiquei com a
aplicada. área técnica com a indexação, com a pesquisa
Há necessidade também que mais cursos de legislativa e jurisprudencial.
Biblioteconomia sejam criados e também seja Hoje como presidente do CRB-7 estou
aprovado o ensino à distância, para que trabalhando para dar cada vez mais visibilidade a
possamos viabilizar a formação de bibliotecários nossa profissão na mídia e melhor informação do
em número ideal para suprir as demandas mercado de trabalho e da sociedade em geral,
existentes. sobre o papel técnico e social do Bibliotecário.
Mostrar que a biblioteca escolar é parte da escola A minha meta é aproximar o Conselho dos
onde reúne o conhecimento e disponibiliza-o para profissionais e atendê-los, cada vez melhor.
que haja uma integração com o planejamento
escolar, possibilitando o acesso dos alunos,
professores e comunidade.
ACESSE. INFORME-SE.
www.biblioo.info 34
/ NA ÍNTEGRA
JONATHAS
CARVALHO
“Reconhecimento da
biblioteca escolar
não perpassa
simplesmente por leis”
Por Chico de Paula
Mídia e excitação
Uma arqueologia da palavra sensação, de
quando apenas significava sensação
Por Claudio Rodrigues
É
manhã e um raio de sol atravessa diferente na minha forma de ler: toda vez que
obliquamente a fissura entre as cortinas, aparece uma citação, a referência de um autor ou
resvalando sobre meu rosto. Abro os olhos artista, um comentário sobre determinada pintura
lentamente, quase que irritado com a claridade ou música, interrompo a leitura, abro o Google e
impertinente. O corpo não quer levantar, mas digito a referência. Não me contento em
sorrateiramente a mão já alcança a mesinha de pesquisar depois, mas faço isso
cabeceira e pega meu mais novo vício, que simultaneamente, como se a internet fosse uma
atende pelo nome de iPad. Basta um clique e o extensão do livro, como quando lemos as notas
aparelhinho se mostra generosamente. Trata-se de rodapé ou de fim de página num livro
de um computador de mão, ou melhor, um tablet. acadêmico ou quando clicamos numa palavra
Começo verificando os e-mails, abro os sublinhada cujo link nos leva a outro site, um
aplicativos com as notícias do dia, vejo os sites hiperlink. O livro e o computador disputam as
preferidos, escrevo mais um post no meu blog, informações, dialogam, enchem-me de dados,
olho meu escasso saldo na conta bancária, faço páginas e páginas, hipermídia, hipertextos.
pagamentos, transferência… O dia mal começou Definitivamente, não lemos mais como antes, não
e já estou mergulhado na infindável catarata da temos mais o mesmo time de leitura. Queremos
hipermídia. Totalmente hipnotizado por ela. abarcar o maior número possível de informações,
Depois do café da manhã, sento-me à mesa de desejamos ouvir a música, lendo a letra, vendo o
trabalho, diante do notebook, abro o processador clipe. Tudo junto e misturado. Enfim, quando
de textos para preparar minhas aulas. O iPad fica estou acordado, não conseguimos mais estar
ligado e de pé, ao lado do notebook, pronto para num ócio pleno, porque assumimos um “padrão
me mostrar novas mensagens eletrônicas. Mais comportamental híbrido”, uma compulsão que
tarde, começo a ler um livro que acabei de pegar nos leva a estar fazendo algo o tempo todo.
na biblioteca. De repente, noto que há algo
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“O meio é a mensagem” atuais, quando passa a significar uma postura
Esta frase célebre de um dos grandes social, um comportamento que torna o homem
pensadores das mídias no século XX foi escrita dependente. Estamos mergulhados numa bolha
há meio século. Quem a proferiu foi o professor de sensação produzida pelos suportes midiáticos,
americano Marshall McLuhan, no seu livro A recebemos constantemente injeções que nos
galáxia de Gutenberg (1962). O estudo de excitam e têm o mesmo efeito das drogas
McLuhan abordava o meio como tão ou mais poderosas, alucinógenas. Se sensação era ponte
importante que o conteúdo. No advento dos do homem com o meio exterior, uma ligação
suportes tecnológicos, os conteúdos se física ou fisiológica, agora constitui uma atitude
adaptariam em função dos meios. McLuhan é coletiva, social, que nos torna dependentes
considerado o pioneiro dos estudos de dos media. Passamos da “sociedade do
comunicação e, embora apontasse pontos espetáculo” (referência à obra de Gay Debord, da
negativos na massificação da mensagem, década de 60, na qual o pensador mostra
acreditava nos media como produtos da “aldeia debilidade da sociedade pelo consumo
global”. Da oralidade à escrita, da escrita à capitalista) para outro tipo de exibicionismo que
tipografia e desta à máquina elétrica, McLuhan consiste em dar molde virtual para o social. As
anunciava que o avanço da tecnologia deslocaria redes sociais, os blogs, os álbuns, os diários
as percepções e pensamento do homem, à nada secretos, os vídeos que mostram a
medida que ele precisaria readaptar-se ao novo intimidade do quarto, os chats, a
suporte. Assim, com a invenção da escrita, o videoconferência… são apenas exemplos deste
ouvido deu lugar ao olho, passamos de uma quase infindável itinerário pelo planeta web.
cultura acústica para uma cultural visual; com a
máquina, penetramos na cultura eletrônica, a O quarto é o mundo
aldeia global. Essas três galáxias exigiram do Vicia essa necessidade frenética de invadir a
homem uma adaptação tanto física quanto privacidade alheia e escancarar a nossa a
psicológica diante da sensação, ou melhor, da qualquer custo. Somos quando e porque nos
leitura de mundo. Ver/ler/tocar/ouvir não têm a mostramos. As notícias há muito tempo deixaram
mesma configuração em cada uma dessas de ser importantes por serem novidades, para
galáxias. serem importantes porque noticiadas,
Passados 50 anos da Galáxia de Gutenberg, o sensacional e sensacionalista é a mídia, que nos
filósofo alemão Christoph Türcke, professor obriga a ingerir o que não queremos, o que não é
da Universidade de Leipzig, em plena era do do interesse de todos é oferecido como sendo
audiovisual e do universo virtual, denuncia uma coletivo, numa percepção que permanece, o
mudança de comportamento na sociedade da banal é inflado numa “injeção multissensorial”.
hipermídia. Sua obra A sociedade excitada: uma Qualquer um pode fazer notícia. Qualquer um
filosofia da sensação (Editora Unicamp, 2010) faz pode ser notícia. Qualquer um pode “causar”. De
uma arqueologia da palavra sensação, de repente, sem nos darmos conta, somos invadidos
quando apenas significava sensação, até os dias por informações que não têm nenhuma
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relevância para nós, mas que ganham sua alucinado pelo espetáculo que agora consiste em
importância à medida que a sociedade acessa mostrar-se o tempo todo, num elaborado corpo
(basta ver como um vídeo de uma dancinha virtual, ou melhor, “um ‘aí’ etéreo, receptível em
engraçada, uma gafe ou, o que é pior, uma cena todos os lugares de um determinado campo de
de sexo entre adolescentes, atinge rapidamente transmissão, mas em lugar alguma palpável” (p.
considerável número de acessos no Youtube em 45).
poucas horas). Cada qual, do seu mundo-quarto, Num mundo de sujeitos descentrados,
partilha sua vida, não importa o quão vazia de fragmentados, de relações líquidas,
sentido ela seja. A droga da sensação permite características da sociedade pós-moderna (ou
fazer de um simples gesto um evento hipermoderna, como quer o pensador francês
hipermidiático. Queremos plateia a qualquer Lipovetsky), o trabalho do professor Türcke toca
preço. Queremos ser a notícia, por isso, nossa ferida à medida que nos propõe uma
importantes. Ou será, o contrário: “importante reflexão sobre essa sensação sensacionalista,
porque comunicado…”, segundo Türcke. que coloca a mídia como extensão dos nossos
sentidos, uma ponte que elimina distâncias,
Presença etérea e choques imagéticos quebrando barreiras, aproximando os diferentes,
Dividido em cinco capítulos (1. paradigma da unindo pessoas… Até quando vão permanecer o
sensação, 2. lógica da sensação, 3. fisioteologia frenesi, os estímulos e as convulsões, como se a
da sensação, 4. sensação absoluta, 5. substituto vida real fosse feita de orgasmos múltiplos? O
da sensação), o livro aborda a palavra sensação gozo intermitente cessará? E após isso, o que
desde o seu estado primitivo até sua restará daquilo que ousamos ser? Para onde vai
reconfiguração como pressuposto para a todo esse nosso hedonismo? O que fazer com
excitação que tomou conta da sociedade atual. toda essa excitação? Segundo o autor, ainda é
Não basta mais ao homem sentir o mundo, é possível resistir a isso.
preciso estar constantemente excitado a ponto de A obra de Türcke se alia à de pensadores
promover um alheamento da realidade física em contemporâneos como Antonny Giddens,
virtude da experiência virtual ou imagética. A Zigmunt Baumann e Gilles Lipovetsky, entre
sociedade do espetáculo agora é a sociedade do outros, e nos ajuda a traçar um panorama
estímulo, em que doses e mais doses da “injeção reflexivo sobre que tipo de relações a mídia está
poderosa” vão moldando o homem num ser moldando. O meio é a mensagem. Que
virtual, quase que destituído do contato físico, mensagem?
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/ REPORTAGENS
RIO - Partindo do Centro do Rio em direção ao bairro de Jacarepaguá, Zona Oeste da cidade, primeiro
pela Avenida Brasil, depois pela Linha Amarela, chega-se a uma escola que nem de longe reflete a
realidade da educação brasileira. A Escola Sesc de Ensino Médio (ESEM) é um projeto piloto mantido pelo
Sesc - Serviço Social do Comércio – e ocupa uma área de
130 mil m² num terreno onde antes existia um pântano.
Tudo é muito bonito. O teatro, por exemplo, se destaca na
paisagem pela imponência de sua arquitetura. Lagos
artificiais, jardins floridos e uma brisa constante
completam a sensação de bem estar. Mas o que nos
interessa mesmo é a biblioteca que, em termos de beleza,
não deixa nada a desejar para os outros prédios da
escola.
O bibliotecário-chefe, Vagner Amaro, nos recebe com
simpatia e vai logo tratando de nos mostrar a biblioteca
modelo que encantou figuras públicas como o então
ministro da educação Fernando Adadd, quando este
visitou a instituição no ano passado, e o filosofo francês
Edgard Morin, que esteve na biblioteca em 2008.
Embora a biblioteca da ESEM provoque entusiasmo pela
exuberância do projeto, esta não reflete a realidade das
bibliotecas escolares no Brasil. Primeiro pela estrutura
física que em muito lembra as biblioteca dos chamados
países de primeiro mundo. Segundo pelo aporte financeiro
que garante à biblioteca da ESEM a manutenção
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constante de seu acervo, além dos investimentos em pessoal. E por último, e talvez mais significativo, a
importância que a instituição dispensa à biblioteca. De acordo com Vagner Amaro, a biblioteca da ESEM
assume na escola a posição de espaço privilegiado, pois é para lá que converge a comunidade escolar
nas ocasiões mais especiais.
Muito embora a lei tenha sido recebida com atividade, o que reforça a necessidade da
simpatia pela comunidade biblioteconômica, esta formação de profissionais para atuar neste setor.
tem suscitado bastante preocupação nos A presidente do CRB7 enxerga um fator positivo
profissionais desta área. Isso por que o universo na determinação da lei para com o respeito à
instituições de ensino teriam de formar pelo Para ela, “isto motivou o Sistema CFB/CRBs a
menos 170 mil profissionais até 2020 de modo a constituir parceria com a CAPES, por meio da
contemplar as novas exigências. Para Isaura Universidade Aberta do Brasil (UAB), para a
(CRB7), a avaliação é positiva no que se refere será ofertado pelas universidades públicas,
ao campo de trabalho do bibliotecário, mas esta federais e municipais que já possuam curso na
teme que, com a implantação da nova lei, o modalidade presencial”. Ela informou que a
número de profissionais não seja suficiente para proposta foi entregue a CAPES/UAB e aguarda
ocupar tantas vagas. “A implantação de sua aprovação, prevista ainda para este ano.
Segundo o Censo Escolar de 2010, divulgado bibliotecário Jonathas Carvalho ressalta que “a
ano passado, apenas 30,4% das escolas lei não se dará apenas como contribuição
brasileiras nos anos iniciais têm bibliotecas. Em individual, mas sim como uma contribuição de
pesquisa divulgada em 2009, o Ministério da classe”. Ele lembra o “argumento de Zita Catarina
Cultura apontou que 445 municípios do país não Prates de Oliveira, em 1983, de que dois fatores
têm biblioteca, o que representa 8% do total dos são essenciais para uma mobilização política da
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Efetivação da lei a participação dos CRBs como órgãos aptos a
Tendo em vista que as leis constituem cartas de atividade fiscalizadora de escolas públicas e
intenções e que o poder público tem que fazer particulares é crucial para identificar como a lei
valer as determinações legais, uma pergunta tem sido aplicada ou se não tem sido aplicada”.
ressoa entre aqueles que esperam pela A presidente do CRB7 destaca que o órgão
efetivação da Lei em questão: como fazer para atuará através de fiscalizações preventivas e
aplica-la na prática? Um aspecto que tem rotineiras, procurando detectar e acompanhar se
chamado a atenção nas novas regras é o fato de a Lei nº 12.244/2010 está realmente sendo
que esta Lei determina um prazo (dez anos) para aplicada. Ela esclarece que “as fiscalizações
que as escolas se adequem as exigências, sem, preventivas, nesses casos, têm um caráter mais
contudo, dizer o que irá acontecer a quem ignorar pedagógico que punitivo, já que visa à
tais determinações. conscientização do empregador da importância
Para Jonathas Carvalho, “o primeiro tom da biblioteca e, da necessidade e exigência do
especulativo de punição, em um possível não profissional habilitado para exercer a função de
cumprimento da lei deve ser visualizado nas acordo com as leis vigentes”.
gestões públicas municipais e estaduais, pois é Não há dúvida de que a biblioteca representa
nesse contexto onde reside as reais importante instrumento no desenvolvimento
possibilidades dessa Lei ser efetivada ou não”. educacional de qualquer nação. Também não há
Pode ocorrer, segundo Carvalho, “de muitas dúvida de que historicamente o Brasil tem
escolas não se adequarem a nova lei em virtude ignorado a educação como aspecto relevante
da atuação deficitária das gestões municipais e para a independência do indivíduo enquanto
estaduais, o que, de certo modo, exime a escola pessoa humana. Sendo assim, embora com
de uma ampla responsabilidade”. O bibliotecário receios, espera-se que a nova lei não seja mais
ressalta que “a fiscalização dos órgãos públicos e uma bela intenção para uma feia não realização.
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do grupo Biblioo Publicações