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SEMIOLÓGICOS
DO DISCURSO
1ª edição
SESES
rio de janeiro 2017
Conselho editorial roberto paes e luciana varga
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2017.
isbn: 978-85-5548-460-5
cdd 616.075
Prefácio 5
Signo 16
Os elementos da comunicação 24
Comunicação é um processo que realiza atos sêmicos 24
3. Coerência e discurso 49
Formas básicas do discurso: textos concretos e textos abstratos 50
Textos temáticos 51
Textos figurativos 54
Elementos de coerência 64
Polifonia 81
Dialogismo: Baktin 83
Intertextualidade 85
Prezados(as) alunos(as),
Bons estudos!
5
1
Aspectos
semiológicos do
discurso
Aspectos semiológicos do discurso
Sistemas de linguagens
Assim começa a relação das linguagens com o estudo delas. Costuma-se dizer
que se ingressa em uma viagem que tem começo, mas não tem fim, pois surgem
sempre novas formas de comunicação que se dão de modo cíclico e o homem,
com sua grande capacidade criativa, multiplica a cada dia as possibilidades de
novas leituras.
capítulo 1 •8
Por que multiforme?
Ao se visualizar essa imagem, percebe-se que há uma relação dela com nossos
conhecimentos, uma determinada cultura e, provavelmente, será descrita por
um ornitólogo de uma maneira, por um religioso de outra, por uma criança com
olhar de alegria.
Pode-se concluir que a linguagem tanto pode ser expressa com uma imagem
ou com palavras ou expressões e, ainda, com sentidos diferentes.
capítulo 1 •9
Portanto, a linguagem é multiforme.
A língua funciona como um acervo, visto que armazena no cérebro uma série de hábitos
linguísticos tanto sob a forma de léxico (vocabulário) quanto sob a de combinações
possíveis regidas por regras de uso consagrado. Há nesse acervo toda a história de
um povo e de uma língua de origem que permite ao falante expressar-se de diferentes
maneiras, mas dentro de uma cultura preexistente.
capítulo 1 • 10
A língua que se fala, e da qual se faz uso para escrever, não é a única e exclusiva
forma de linguagem que se é capaz de produzir, criar, reproduzir e consumir, ou
seja, é preciso ver-ouvir-ler, para que se possa estabelecer comunicação uns com
os outros.
A linguística proposta por Ferdinand Saussure é a ciência que estuda a
linguagem verbal: a língua e a fala.
capítulo 1 • 11
Semiologia e semiótica: as contribuições de Ferdinand de Saussure
e Charles Sanders Peirce
Nomenclatura
capítulo 1 • 12
O autor (1995) afirma, ainda, que Saussure definiu a semiologia como
Com Charles Sanders Peirce, a corrente americana usa o termo semiótica para
a pesquisa dos processos sígnicos, e, segundo Noth, o termo semiótica é hoje o
nome internacionalmente mais comum para designar o campo de pesquisa dos
signos, sistemas e processos sígnicos.
O que é semiologia?
Saussure (1999, p. 41) teve uma visão mais avançada sobre os estudos da
linguagem e observou que “a língua não é uma função do sujeito, é o produto
que o indivíduo registra passivamente; ela nunca supõe premeditação (…). A fala
é, pelo contrário, um ato individual da vontade e da inteligência (...)”. Com isso,
observou a necessidade de haver uma ciência mais abrangente que a linguística,
a que denominou semiologia, e que abarcasse os possíveis sentidos que os signos
pudessem ter, fossem verbais ou não verbais, mas produzidos pelo homem.
Como se viu anteriormente, a necessidade de comunicação levou o homem a
criar mecanismos que o levassem a interagir socialmente; logo, com o surgimento
das línguas, os sentidos deveriam ser partilhados para que, além da forma, o
conteúdo fosse comum aos falantes. Tendo Saussure começado a estudar a língua
de modo mais abrangente, isso levou seus seguidores a questionamentos e à
ampliação de seus conceitos.
capítulo 1 • 13
Roland Barthes (1997, p. 13) diz:
A linguística não é uma parte, menos privilegiada, da ciência dos signos:
semiologia é que é parte da linguística; mais precisamente, a parte que se
encarregaria das grandes unidades significantes do discurso.
Nesse conceito está a palavra discurso, que é uma manifestação da fala, visto
que não se empregam palavras isoladamente, e sim em construções linguísticas.
Esse termo, na concepção de Stubbs (1983), é um:
Acontecimento estrutural manifestado em comportamento linguístico
e não linguístico. Do ponto de vista da pragmática, discurso refere o
modo como os significados são atribuídos e trocados por interlocutores
em contextos reais. Num discurso particular, os enunciados são
compreendidos por meio de referência a um conjunto particular de
ideias, valores ou convenções que existem fora das palavras trocadas.
Percebe-se, então, a importância da semiologia, a qual pretende examinar em
todas as suas consequências a presença e inserção do signo na vida humana.
O que é semiótica?
REFLEXÃO
A semiótica, por suas várias perspectivas, pretende levar o indivíduo a inserir-se no
mundo da leitura como prazer, pelos efeitos extraordinários que os conhecimentos advindos
dela podem proporcionar. Os estudos semióticos vêm trazendo cada vez mais contribuições
teóricas e práticas para a exploração dos significados presentes nos mais diversos códigos
à disposição, em um universo cada vez mais em rotação.
A leitura de mundo pelo caminho da semiótica conduzirá à decifração de textos verbais
e não verbais, abrangendo a comunicação e diversas áreas afins, pois a abrangência da
diversidade de domínios irá nos possibilitar viajar pelos sentidos em diferentes graus na
metodologia de análise de discursos e textos, além de trabalhar o lúdico, envolvendo os
leitores com seus possíveis olhares.
capítulo 1 • 14
Segundo Santaella (1983, p. 8), “a Semiótica se apresenta como alguma coisa
frágil e delicada, campo aberto a muitas possibilidades ainda não inteiramente
consumadas e consumidas”.
A semiótica é uma ciência, um território do saber e do conhecimento ainda
não sedimentado, com indagações e investigações em progresso.
Ainda, segundo Santaella (1992, p. 43), “a Semiótica peirceana não é uma ciência
aplicada, nem é uma ciência teórica especial, ou seja, especializada”. A semiótica
ou lógica “é uma ciência formal e abstrata, num nível de generalidade ímpar”.
A semiótica como se conhece hoje surgiu em fins do século XIX, começo
do século XX. Peirce na América, Marr na então União Soviética e Saussure na
França. No entanto, muito antes deles, já se falava sobre signos e representação,
ainda que indiretamente e de modo não sistematizado.
Segundo Santaella (1983, p. 9), “o homem ‒ na sua inquieta indagação para a
compreensão dos fenômenos ‒ desvela significações. É no homem e pelo homem
que se opera o processo de alteração dos sinais (qualquer estímulo emitido pelos
objetos do mundo) em signos ou linguagens (produtos da consciência).
Diferença entre os dois conceitos
Percebe-se que, embora alguns autores usem as duas nomenclaturas como
sinônimos, há diferenças objetivas entre semiologia e semiótica, pois elas advêm
de tradições diferentes:
SEMIOLOGIA SEMIÓTICA
Para Peirce (1977, p. 45), a lógica, em sentido geral, é apenas um outro nome
para a semiótica, a quase-necessária, ou formal, doutrina dos signos.
capítulo 1 • 15
As linguagens estão no mundo e nós estamos na linguagem.
ENERGIA INFORMAÇÃO
Signo
Você deve ter reparado que, tanto na semiologia quanto na semiótica, falou-
se em estudo dos signos. Hoje, pode-se dizer que o mundo resulta da ação do
homem e que a cultura resulta de um conjunto de signos, organizados em uma
sociedade que se expressará culturalmente por meio das tradições, do senso
comum, da mitologia, da filosofia ou de expressões artísticas. São várias as formas
como as culturas se apresentam, já que são múltiplas as maneiras de pensar, agir,
interpretar e valorar.
capítulo 1 • 16
Signo do ponto de vista de Saussure
capítulo 1 • 17
Signo do ponto de vista de Peirce
O signo é uma coisa que representa outra: seu objeto. Só há signo quando houver
essa representação. O signo só não é o objeto, ele está no lugar do objeto.
ATENÇÃO
O representamen do signo seria o significante na nomenclatura de Saussure. No caso, o
representamen seria a percepção do signo, isto é, como uma pessoa o percebe.
Nas palavras de Peirce, é “o veículo que traz para a mente algo de fora”.
capítulo 1 • 18
SIGNO - MAÇÃ
Signo e cultura
capítulo 1 • 19
O percurso que se vai percorrer nesse estudo tem as diversas linguagens como
foco e é preciso que se verifique como a narratologia presente nos discursos
representa o eco de outros textos, de outros espaços, de muitas vozes e tradições.
Cultura é um termo utilizado de diversas formas pelos que lhe atribuem sentido, indo
do mais genérico, que é aquela que se começa a cultivar desde o nascimento, dentro
da família e da comunidade, constituindo todo o sentido social que forma cada cidadão
até as especificidades dos novos conhecimentos que se adquire.
capítulo 1 • 20
Leitura: um conceito polissêmico
A palavra “leitura” tem sido discutida em seus mais diversos âmbitos e parece
ter um significado indefinido, pois se apresenta como uma colcha de retalhos
mal construída quando se quer defini-la como algo pronto e sedimentado. É
preciso levar em conta que leitura é uma prática social que nos leva a caminhos
diversos, desde a leitura de mundo à leitura de grandes autores.
Para começar, eis a visão de dois autores sobre o tema:
POLI = MUITOS + SEM (IA): sentidos = uma palavra que tem muitos significados.
Isto faz lembrar que a palavra pode ter um significado denotativo (sentido
original, a primeira definição no dicionário) e um conotativo (sentido figurado).
capítulo 1 • 21
EXEMPLO
Sentido denotativo: Há 2 mil anos, o gato era um animal sagrado no Antigo Egito.
Sentido conotativo: Cortaram a luz do vizinho porque ele fizera um “gato”.
Procurando no dicionário:
Gato: 1. pequeno mamífero carnívoro, doméstico, da família dos felídeos (Felis catus),
que descende do gato selvagem encontrado na África e no Sudoeste da Ásia (Felis
silvestris libyca).
2. Brasileirismo (gíria). Ligação irregular feita para furtar energia elétrica.
capítulo 1 • 22
ATENÇÃO
Cuidado! Não confunda polissemia com homonímia.
A homonímia está inserida nos estudos semânticos da língua portuguesa.
Etimologicamente, esse termo surgiu do grego homós, que quer dizer “igual”, e ónymon, que
significa “nome”.
SIGNIFICADO DE GRAMA
Grama - nome masculino Grama - nome feminino
capítulo 1 • 23
Os elementos da comunicação
O que é isto?
As funções da linguagem
Integrar os vários níveis de sentidos não é tarefa fácil nem para o leitor nem
para quem escreve. A reflexão tão importante nessas situações somente ganhará
eficácia se vier acompanhada de experiências e fatos significativos.
O sentido resulta da construção de conhecimento, integrando o leitor ao
texto, isto é, efetiva relações do texto e do leitor, fruto de uma atividade inferencial
e colaborativa. As condições contextuais determinam o acesso ao sentido.
capítulo 1 • 24
É certo que o discurso, muitas vezes, privilegia um dos elementos ou mistura
mais de um. São as funções da linguagem.
Função referencial
capítulo 1 • 25
Fonte: https://goo.gl/pMcUvB
Função emotiva
Aponta para um ponto de vista ou estado de espírito. Centrada no emissor,
uso da 1a pessoa.
capítulo 1 • 26
Função poética
Fonte: https://goo.gl/02N4yV
capítulo 1 • 27
Função fática
Centrada no canal. O
objetivo desta função é testar o
canal, interromper ou reafirmar
a comunicação, não no sentido
de informar, mas de assegurar a
transmissão da mensagem.
No cotidiano, certos tiques
linguísticos como “Entende?”,
“Tá?”, “Certo?”, “Com certeza!”
são elementos conectores que
reforçam a mensagem, embora
não transmitam informação.
Função metalinguística
capítulo 1 • 28
A interpretação discursiva
EXEMPLO
Observe os trechos de alguns autores:
1. “Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula
e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história e havia o nunca e havia o sim.
Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.” (LISPECTOR, 1977)
2. “— Por que ele fugiu? — indagou a menina.
— Não sei — respondeu dona Carochinha — mas tenho notado que muitos dos personagens
das minhas histórias já andam aborrecidos de viverem toda vida dentro delas. Querem novidade.
Falam em correr o mundo a fim de se meterem em novas aventuras. Aladino queixa-se de que
sua lâmpada maravilhosa está enferrujando. A Bela Adormecida tem vontade de espetar o
dedo noutra roca para dormir outros cem anos. O Gato de Botas brigou com o Marquês de
Carabás e quer ir para os Estados Unidos […].” (LOBATO, 1993, p. 11)
3. “Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. Os infelizes
tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. Ordinariamente andavam
capítulo 1 • 29
pouco, mas como haviam repousado bastante na areia do rio seco, a viagem progredira bem
três léguas. Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu
longe, através dos galhos pelados da catinga rala.
Arrastaram-se para lá, devagar, sinhá Vitória com o filho mais novo escanchado no quarto
e o baú de folha na cabeça, Fabiano sombrio, cambaio, o aió a tiracolo, a cuia pendurada
numa correia presa ao cinturão, a espingarda de pederneira no ombro. O menino mais velho
e a cachorra Baleia iam atrás.” (RAMOS, 1938)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Livros:
ANDRADE, Carlos Drummond de. Caminhos de João Brandão. 3. ed. Rio de Janeiro: Record; 1985.
ANTUNES, Irandé. Análise de Textos. São Paulo: Parábola; 2010.
ARANHA, Maria Lucia da Silva; MARTINS, Maria Helena. Filosofando: Introdução à Filosofia. São Paulo:
Editora Moderna; 2009.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Estética da Criação Verbal. 3. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
BARTHES, Roland. Elementos de Semiologia. 17. ed. São Paulo: Cultrix; 1997.
CARVALHO, Castelar de. Para Compreender Saussure. Rio de Janeiro: Editora Rio; 1976.
CORREIA, Claudio Manoel de Carvalho. Fundamentos da Semiótica Peircena. Disponível em: http://
www.filologia.org.br/ixfelin/trabalhos/pdf/38.pdf.
FREIRE, P. A Importância do Ato de Ler. São Paulo: Cortez; 2005.
LISPECTOR, Clarice. A Hora da Estrela. Rio de Janeiro: Rocco; 1977.
LOBATO, Monteiro. Reinações de Narizinho. Rio de Janeiro: Editora Globinho, 2012.
MAINGUENEAU, Dominique. Novas Tendências em Análise do Discurso. Campinas: Pontes – Editora
da Unicamp; 1997.
NOTH, Winfried. A Semiótica no Século XX. São Paulo: Annablume; 1998.
ORLANDI, Eni Puccinelli. A Linguagem e seu Funcionamento. As formas do discurso. Campinas: Pontes
– Editora da Unicamp; 2003.
PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo: Editora Perspectiva; 1977.
SANTAELLA, Lúcia. A Assinatura das Coisas: Peirce e a Literatura. Rio de Janeiro: Imago; 1992.
__________. O que é Semiótica. São Paulo: Brasiliense; 1983.
capítulo 1 • 30
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. São Paulo: Cultrix; 1975.
STUBBS, Michael. Discourse Analysis: the Sociolinguistic Analysis of Natural Language. Oxford:
Blackwell; 1983.
TRABANT, Jürgen. Elementos de Semiótica. Lisboa: Presença; 1980.
Sites:
The Best Stock Photos, Images & Illustrations. Disponível em: https://www.dreamstime.com/best-
stock-photos?gclid=CKb7yK25880CFU6AkQodQcUNpg#ref401
Pôr do sol. Disponível em: https://pixabay.com/pt/p%C3%B4r-do-sol-sun-abendstimmung-1365830/
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capítulo 1 • 31
capítulo 1 • 32
2
O sentido social da
linguagem
O sentido social da linguagem
O que é o texto?
[...] o texto não deve ser entendido como um amontoado de frases com
significados autônomos. Os significados das partes de um texto não
podem ser considerados de forma isolada e sim, dentro de correlações
que vão se articulando internamente para criar uma trama de sentido.
capítulo 2 • 34
pois o homem, mesmo transmitindo informações, não o faz apenas como se
anunciasse algo, ele também considera na sua linguagem os contextos social,
histórico e ideológico em que aquele texto está sendo produzido. Nas palavras
de Pêcheux, citado por Orlandi, “O discurso transpassa uma exterioridade da
linguagem e abarca elementos ideológicos e sociais” (Fonte: Site webartigos –
Análise do Discurso: linguagem como prática social).
Por isso, é preciso ler os explícitos e os implícitos de um texto. Para sentir,
perceber e refletir sobre os possíveis sentidos nele contidos.
Segundo Koch (2002), a manifestação de discurso se dá no texto, e, para
ser compreendido, deve conter todos os elementos implícitos ou explícitos bem
estruturados para que haja a coerência necessária.
A intencionalidade implícita do discurso reflete a argumentatividade e está
presente nas pistas deixadas pelo autor.
capítulo 2 • 35
autora sustenta essa ideia, apoiando-se em texto de Pêcheux (1982, apud
Orlandi, 2001, p. 60):
Pode haver ligação, identificação ou transferência, isto é, existência
de uma relação abrindo a possibilidade de interpretar. E é porque há
essa ligação que as filiações históricas podem organizar em memórias,
e as relações sociais em redes de significantes.
REFLEXÃO
Para interpretar um texto, o leitor precisa levar em conta as referências históricas e
sociais de seu cotidiano, seja na cidade ou na comunidade, na cidade ou no campo, na
escola ou em casa, no urbano ou no rural. Nesse ponto, convém destacar a importância da
leitura na vida de cada nativo, que será um bom interpretante apenas quando entender o
funcionamento da língua e perceber sua função social e ideológica.
Isto se torna evidente quando se percebe que, ao ler um texto pela primeira vez, tem-
se uma interpretação, mas cada leitura, feita pela mesma pessoa em épocas diferentes,
terá uma nova interpretação, pois cada dia da vivência do leitor será acrescido de novas
experiências, novos olhares, e isso permitirá releituras.
capítulo 2 • 36
Você estará fazendo uma interpretação de acordo com as situações em que está
inserido naquele momento.
A interpretação está presente em toda e qualquer manifestação da linguagem.
Não há sentido sem interpretação. Mais interessante ainda é pensar os diferentes
gestos de interpretação, uma vez que linguagens, ou as diferentes formas de
linguagem, com suas diferentes materialidades, significam de modos distintos.
(ORLANDI, 1996, p. 9).
Daqui em diante, serão apresentados alguns textos sobre os quais será preciso
refletir e analisar a partir dos estudos apresentados até então.
capítulo 2 • 37
ESPORTES
capítulo 2 • 38
Delegação australiana se queixou muito das instalações da Vila Olímpica
capítulo 2 • 39
CHARGES
Apesar de não apresentar palavras, o texto não verbal pode indicar uma
situação social, um problema cultural.
A análise dessas duas charges coloca o leitor diante de fatos do dia a dia, de
uma sociedade que precisa ser repensada, e essa leitura leva o interpretante a uma
tradução verbal, pois há argumentos inseridos nas imagens que, certamente, são
reconhecidos e fazem parte do cotidiano ideológico de cada um.
NA LITERATURA
A) “‘Não entender’ era tão vasto que ultrapassava qualquer entender ‒ entender
era sempre limitado. Mas não entender não tinha fronteiras e levava ao infinito,
ao Deus. Não era um não-entender como um simples de espírito. O bom era ter
uma inteligência e não entender. Era uma bênção estranha como a de ter loucura
sem ser doida. (...) Mas de vez em quando vinha a inquietação insuportável:
queria entender o bastante para pelo menos ter mais consciência daquilo que
ela não entendia. Embora no fundo não quisesse compreender. Sabia que aquilo
era impossível e todas as vezes que pensara que se compreendera era por ter
compreendido errado. Compreender era sempre um erro ‒ preferia a largueza
tão ampla e livre e sem erros que era não-entender” (CLARICE LISPECTOR.
Uma aprendizagem ou o livro dos prazeres.)
capítulo 2 • 40
B) Não há vagas
O preço do feijão
não cabe no poema.
O preço do arroz
não cabe no poema.
O funcionário público
não cabe no poema
com seu salário de fome
sua vida fechada
em seus arquivos.
Só cabe no poema
o homem sem estômago
a mulher de nuvens
a fruta sem preço
O poema, senhores,
não fede nem cheira.
capítulo 2 • 41
O discurso social na literatura é percebido nesses dois autores como um
autêntico corpo a corpo com a expressividade, demonstrando o sofrimento do
ser humano em seu cotidiano, suas dúvidas, suas necessidades, sem camuflar
sentimentos; a meta está em apresentar a realidade de modo crítico, as aflições nas
dores e nas incertezas, os fatos sociais de maneira geral e real.
CAMPANHAS
Esse caminho nos leva a Vygotsky, que trata o discurso no plano psicológico, e
a Bakhtin, que apresenta uma crítica às posições empíricas e ideológicas previstas
nas teorias do fenômeno linguístico. A perspectiva dialógica de Bakhtin realça
a natureza viva da língua, que se constrói e reconstrói pela interação verbal. A
palavra, por sua multipluralidade significativa, é tratada com destaque nas ideias
bakhtinianas, exercendo a função sígnica. Já a ideologia linguística está centrada
no contexto que terá tantos sentidos quanto o homem é capaz de produzir.
capítulo 2 • 42
É importante retomar algumas nomenclaturas.
EXEMPLO
Como exemplo, Machado de Assis, em Dom Casmurro, dialoga com o leitor previsível:
“Agora que expliquei o título, passo a escrever o livro, antes disso, porém, digamos
os motivos que me põem a pena na mão [...]. Quis variar, e lembrou-me escrever um livro.
Jurisprudência [...] tive outras muitas, melhores e piores, mas aquela nunca se apagou do
espírito. É o que vais entender, lendo” (ASSIS, 1982, p. 178/9).
Ou:
“Abane a cabeça leitor; faça todos os gestos de incredulidade. Chegue a deitar fora este
livro, se o tédio já o não obrigou a isso antes; tudo é possível. Mas, se o não fez antes e só
agora, fio que torne a pegar do livro e que o abra na mesma página, sem crer por isso na
veracidade do autor. Todavia, não há nada mais exato. Foi assim mesmo que Capitu falou,
com tais palavras e maneiras. Falou do primeiro filho, como se fosse a primeira boneca.
Quanto ao meu espanto, se também foi grande, veio de mistura com uma sensação
esquisita. Percorreu-me um fluido. Aquela ameaça de um primeiro filho, o primeiro filho de
Capitu, o casamento dela com outro, portanto, a separação absoluta, a perda, a aniquilação,
tudo isso produzia um tal efeito, que não achei palavra nem gesto; fiquei estúpido. Capitu
sorria; eu via o primeiro filho brincando no chão [...]” (https://goo.gl/j16sei).
capítulo 2 • 43
É certo que o autor chama o leitor a participar do texto, dialogando com ele,
para que concorde ou não com sua afirmação, mas o faz de modo persuasivo,
pois pretende que o seu pensamento prevaleça e, por isso, usa palavras ou
expressões fortes como:
Imagem: goo.gl/L8vPzD.
capítulo 2 • 44
“Este número de ISTO É, que você tem nas mãos, nos traz vários motivos de satisfação.
O principal é justamente o fato de ele estar em suas mãos. O resto é consequência
disso. Esta edição ultrapassa o meio milhão de exemplares e o fato de cada vez mais
leitores escolherem ISTOÉ como sua semanal preferida faz com que nós, os jornalistas
que a produzem, trabalhemos cada vez com mais ânimo e prazer. E como o nosso
trabalho é feito justamente para você, esse constante aumento da tiragem nos
chega como prêmio, como um reconhecimento e, ao mesmo tempo, um importante
componente do combustível para aprimorarmos sempre mais o nosso trabalho. Ou
seja, fazer, toda semana, uma revista útil, agradável, indispensável e independente. E
que busca apontar caminhos para chegarmos um dia a um País mais digno, ético e
justo” (ISTO É, n. 1572, 1999)
ATENÇÃO
O saber compartilhado precisa de representação/apreciação/conhecimento de mundo,
saberes culturais, históricos, regionais, étnicos que fazem parte da memória do falante a fim
de que seja capaz de interpretar e reconstruir discursos.
capítulo 2 • 45
Mas como a terra é sagrada
tinha uma doação marcando todo limite
que pertencia à nação
e por capricho da sorte se encontra em boa mão.
As boas mãos que eu falo do cacique Rodrigão
que lutou todo esse tempo
tendo até perseguição
muitos lhe deram fazendas pra deixar o seu irmão
Mas ele não aceitava a oferta que lhe fazia
e continuou lutando pra ver o que acontecia
no peito uma esperança de bom resultado um dia.
Foi quando teve notícia de um tal SPI
procurou denunciar todas invasões daqui da área Xacriabá
perto de Itacarambi.
O órgão lhe deu uma carta
dizendo este cidadão pode rodar pelo Brasil
sem nenhuma interdição
essa carta foi tomada por um forte capitão.
Quando todos os fazendeiros começaram a descobrir
Rodrigo pra viajar tinha às vezes de fugir
sem dizer pra onde iria pra ninguém lhe perseguir.
Eles diziam um pro outro ouça o que vamos fazer
Rodrigo sem essa carta nada poderá fazer
então mandamos prendê-lo para nada resolver.
Rodrigo dizia eu sei que eles vão me pegar
mas não ligo para isso e nem paro de lutar
enquanto livre estiver pretendo continuar.
O leitor pode bem ver que tamanha paciência
dispensar uma fazenda pra viver na sofrença
são poucos homens que têm essa tal de consciência.
Mas que luta desastrosa desse pobre cidadão
andou até mal vestido e às vezes de pé no chão
só pra tomar nossas terras da unha do tubarão.
(...)
Agradeço a meu irmão José
Por ter me ajudado
Colocando a minha história
capítulo 2 • 46
No seu livro publicado
E a todos os leitores
Deixo meu muito obrigado.”
(DOMINGOS NUNES DE OLIVEIRA)
Esse trecho de texto, publicado em “O tempo passa e a história fica” – Fonte: site
Domínio Público, demonstra a riqueza de uma história cuja leitura, para ser bem sentida
e interpretada, precisa do saber sobre índios brasileiros e toda a sua “sofrência”, como
disse o autor.
Desse modo, o sentido do enunciado produzido depende simultaneamente de elementos
extralinguísticos e de mecanismos linguísticos utilizados na produção do discurso.
capítulo 2 • 47
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Cartaz%2BFRIO1.jpg
https://www.google.com.br/search?q=caro+leitor&espv=2&biw=1900&bih=875&tbm=isch&imgil=9f
sH-3LZGlabjM%253A%253Bfwfh_1idOI7_6M%253Bhttp%25253A%25252F%25252Fwww.arazao.
net%25252F06index-junho07.html&source=iu&pf=
capítulo 2 • 48
3
Coerência e
discurso
Coerência e discurso
A leitura e compreensão de textos tem sido alvo de muitas discussões tanto em
projetos educacionais quanto em concursos. Redações também vêm provocando
propostas de mudança nas formas de ensino. O que está faltando afinal? Criatividade
não é. O que falta é saber como estruturar as ideias de modo organizado.
Segundo Marcuschi (2008), o texto é uma unidade comunicativa que deve
obedecer a um conjunto de critérios de textualização (esquematização e figuração),
pois não é um conjunto aleatório de frases. Esses critérios são a coesão e a coerência
textuais, principalmente.
capítulo 3 • 50
nem pegar e muito menos acreditar. É concreto por se tratar de um “ser”. Os
substantivos abstratos são aqueles que dependem de um ser para existir como
os sentimentos: divindade, beleza, coragem. Conclui-se, então, que essa é uma
questão linguística e não de real ou irreal, de acreditar ou não, de ocupar lugar no
espaço ou ser fruto de ficção.
Os textos concretos se organizam em torno de substantivos concretos,
enquanto os textos abstratos se baseiam em substantivos abstratos.
Textos temáticos
capítulo 3 • 51
Causas e fatores de risco
capítulo 3 • 52
Pode-se dizer que se trata de um texto temático, pois é predominantemente
dissertativo. Os substantivos abstratos como violência, desigualdade, relações
de poder, discriminação, direitos fundamentais estão presentes a fim de levar
o leitor a refletir sobre o problema, levantando argumentos que fundamentem
o tema. Em geral, é redigido em tom impessoal e é dinâmico, demonstra uma
questão histórica que indica a presença de fatos do mundo natural, focado em
conceitos e prestando-se à interpretação e à conscientização do leitor.
Veja outro texto:
Nesse texto, o leitor precisa ler também os implícitos, isto é, lembrar-se do que
aconteceu no episódio relatado, conhecer a cultura que opõe Oriente × Ocidente,
questões relativas a ação e reação.
Segundo Orlandi (2008), o implícito consiste naquilo que não está dito e
que também está significando: (a) o que não está dito, mas que, de certo modo,
sustenta o que está dito; (b) o que está suposto para que se entenda o que está dito;
(c) aquilo a que o que está dito se opõe; (d) outras maneiras diferentes de se dizer
o que se disse e que significa com nuances distintas etc.
capítulo 3 • 53
Textos figurativos
capítulo 3 • 54
Inspirados pelo filme americano Sem Limites - em que o personagem principal, um
escritor fracassado que tomou uma pílula da inteligência (chamada NZT48), tornou-se
bem-sucedido e rico rapidamente graças ao seu aumento de inteligência, muitos
boatos sobre um suplemento natural que permite a pessoas “comuns” ficarem
superinteligentes quase que do dia para a noite surgiram na internet. As histórias
começaram a vir à tona quando muitos concurseiros, como o caso do gari que
passou na Receita Federal, estudantes, vestibulandos e candidatos do Enem (com o
conhecido caso do Bernardo, que chegou a ser detido pela polícia) foram vítimas de
processos para anulação de seus resultados por dopping, uma vez que eles utilizaram
tais suplementos (todos os casos utilizando o mesmo produto, o Optimemory) e
obtiveram sucesso impressionante, alguns até como primeiros colocados em suas
respectivas disputas.
Mesmo que todos os casos noticiados fossem reais, pois os candidatos e alunos foram
inocentados e ficaram livres para continuarem com seus cargos e estudos, a Anvisa
quer acabar com este tipo de escândalo e evitar processos desta natureza. O órgão
admite que não teria motivos clínicos para proibir o uso de tais pílulas da inteligência,
como o Optimemory, único que até hoje apresentou os resultados de real aumento de
inteligência e foco, pois em pesquisa descobriu-se que se trata de um nootrópico, uma
substância usada para aumentar o potencial cognitivo do cérebro humano. A fórmula
já é comercializada nos Estados Unidos e agora está sendo distribuída no Brasil pela
empresa Qualydade Vida, única distribuidora e detentora da fórmula original no país.
Nos Estados Unidos, a fórmula já deu muito o que falar, e megaempresários, cientistas
proeminentes e diversas celebridades de Hollywood declararam utilizá-la. Alguns
cientistas chegaram a afirmar que a pílula oferece uma vantagem injusta àquelas
pessoas que a tomam, e querem que o suplemento seja proibido. Ainda nos Estados
Unidos, estudantes das melhores universidades do país, como Harvard e Stanford,
afirmam que fazem uso diário do suplemento para aumentar seu desempenho.
O lançamento da pílula também causou polêmica aqui no Brasil, quando empresários
e banqueiros (que já faziam uso da fórmula) resolveram processar a empresa
responsável pela venda de Optimemory. A alegação era a de que o preço do composto
deveria ser mantido a valores altos, pois caso a chamada “fórmula do sucesso” fosse
vendida a preços muito acessíveis, poderia haver um desequilíbrio na economia. O
processo ainda corre na justiça, mas Optimemory continua sendo vendido pelo seu
preço original, segundo o fabricante.
capítulo 3 • 55
Observa-se que a reportagem trata de problemas atuais e nela predominam
substantivos concretos, o que torna o texto figurativo, embora se perceba que
subliminarmente o tema apresente opiniões e relatos.
A literatura também exemplifica textos figurativos como as narrativas. Elas
podem aparecer como poesia ou prosa.
Texto 1
JOSÉ
E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
Você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?
capítulo 3 • 56
E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio, - e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse,
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
capítulo 3 • 57
você marcha, José!
José, para onde?
(Carlos Drummond de Andrade)
Texto 2
Bruxas não existem
Quando eu era garoto, acreditava em bruxas, mulheres malvadas que passavam o
tempo todo maquinando coisas perversas. Os meus amigos também acreditavam nisso.
A prova para nós era uma mulher muito velha, uma solteirona que morava numa
casinha caindo aos pedaços no fim de nossa rua. Seu nome era Ana Custódio, mas nós
só a chamávamos de “bruxa”.
Era muito feia, ela; gorda, enorme, os cabelos pareciam palha, o nariz era
comprido, ela tinha uma enorme verruga no queixo. E estava sempre falando sozinha.
Nunca tínhamos entrado na casa, mas tínhamos a certeza de que, se fizéssemos isso, nós
a encontraríamos preparando venenos num grande caldeirão.
Nossa diversão predileta era incomodá-la. Volta e meia invadíamos o pequeno
pátio para dali roubar frutas e quando, por acaso, a velha saía à rua para fazer
compras no pequeno armazém ali perto, corríamos atrás dela gritando “bruxa, bruxa!”.
‒ Vamos logo ‒ gritava o João Pedro ‒, antes que a bruxa apareça. E ela apareceu.
No momento exato em que, finalmente, conseguíamos introduzir o bode pela janela,
a porta se abriu e ali estava ela, a bruxa, empunhando um cabo de vassoura. Rindo,
saímos correndo. Eu, gordinho, era o último.
capítulo 3 • 58
de vassoura na mão, aproximava-se. Àquela altura a turma estava longe, ninguém
poderia me ajudar. E a mulher sem dúvida descarregaria em mim sua fúria.
‒ Está quebrada ‒ disse por fim. ‒ Mas podemos dar um jeito. Não se preocupe, sei
fazer isso. Fui enfermeira muitos anos, trabalhei em hospital. Confie em mim.
Dividiu o cabo de vassoura em três pedaços e com eles, e com seu cinto de
pano, improvisou uma tala, imobilizando-me a perna. A dor diminuiu muito e,
amparado nela, fui até minha casa. “Chame uma ambulância”, disse a mulher à
minha mãe. Sorriu.
Tudo ficou bem. Levaram-me para o hospital, o médico engessou minha perna e
em poucas semanas eu estava recuperado. Desde então, deixei de acreditar em bruxas.
E tornei-me grande amigo de uma senhora que morava em minha rua, uma senhora
muito boa que se chamava Ana Custódio.
(Moacyr Scliar)
ATENÇÃO
Figuras ‒ são os elementos concretos presentes no texto, são palavras ou expressões
que correspondem a algo existente no mundo natural. O mundo natural não quer dizer apenas
o mundo realmente existente, mas também os mundos fictícios criados pela imaginação
humana. (FIORIN, 2003).
capítulo 3 • 59
Pode-se concluir que esses textos se relacionam e que figuras podem trazer
fortemente a questão conceitual, portanto temática, e que elementos abstratos
podem vir travestidos de figuras.
Observem-se, por exemplo, os ditados populares, as fábulas e até alguns contos:
Ditados populares
Fábulas
O leão e o ratinho
Um leão, cansado de tanto caçar, dormia espichado debaixo da sombra boa de
uma árvore.
Vieram uns ratinhos passear em cima dele e ele acordou.
Todos conseguiram fugir, menos um, que o leão prendeu debaixo da pata.
Tanto o ratinho pediu e implorou que o leão desistiu de esmagá-lo e deixou que
fosse embora.
Algum tempo depois o leão ficou preso na rede de uns caçadores.
Não conseguindo se soltar, fazia a floresta inteira tremer com seus urros de raiva.
Nisso apareceu o ratinho, e com seus dentes afiados roeu as cordas e soltou o leão.
Moral: uma boa ação gera outra.
capítulo 3 • 60
A raposa e corvo
Um dia um corvo estava pousado no galho de uma árvore com um pedaço de queijo no
bico quando passou uma raposa. Vendo o corvo com o queijo, a raposa logo começou
a matutar um jeito de se apoderar do queijo. Com esta ideia na cabeça, foi para debaixo
da árvore, olhou para cima e disse:
Que pássaro magnífico avisto nessa árvore! Que beleza estonteante! Que cores
maravilhosas! Será que ele tem uma voz suave para combinar com tanta beleza! Se
tiver, não há dúvida de que deve ser proclamado rei dos pássaros.
Ouvindo aquilo o corvo ficou que era pura vaidade. Para mostrar à raposa que sabia
cantar, abriu o bico e soltou um sonoro “Cróóó!”. O queijo veio abaixo, claro, e a raposa
abocanhou ligeiro aquela delícia, dizendo:
Olhe, meu senhor, estou vendo que voz o senhor tem. O que não tem é inteligência!
Moral: cuidado com quem muito elogia.
Contos
Maneiras de amar
O jardineiro conversava com as flores, e elas se habituaram ao diálogo. Passava manhãs
contando coisas a uma cravina ou escutando o que lhe confiava um gerânio. O girassol
não ia muito com sua cara, ou porque não fosse homem bonito, ou porque os girassóis são
orgulhosos de natureza.
Em vão o jardineiro tentava captar-lhe as graças, pois o girassol chegava a voltar-se contra
a luz par não ver o rosto que lhe sorria. Era uma situação bastante embaraçosa, que as
outras flores não comentavam. Nunca, entretanto, o jardineiro deixou se regar o pé de
girassol e de renovar-lhe a terra, na ocasião devida.
O dono do jardim achou que seu empregado perdia muito tempo diante dos canteiros,
aparentemente não fazendo coisa alguma. E mandou-o embora, depois de assinar a
carteira de trabalho.
Depois que o jardineiro saiu, as flores ficaram tristes e censuravam-se porque não tinham
induzido o girassol a mudar de atitude. A mais triste de todas era o girassol, que não se
conformava com a ausência do homem. “Você o tratava mal, agora está arrependido?”
“Não, respondeu, estou triste porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de
amar, ele sabia disso, e gostava”.
(Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis) arrependido?” “Não, respondeu, estou triste
porque agora não posso tratá-lo mal. É a minha maneira de amar, ele sabia disso, e gostava”.
(Carlos Drummond de Andrade. Contos plausíveis)
capítulo 3 • 61
Um apólogo
Era uma vez uma agulha, que disse a um novelo de linha:
Por que está você com esse ar, toda cheia de si, toda enrolada, para fingir que vale
alguma cousa neste mundo?
Deixe-me, senhora.
Que a deixe? Que a deixe, por quê? Porque lhe digo que está com um ar insuportável?
Repito que sim, e falarei sempre que me der na cabeça.
Que cabeça, senhora? A senhora não é alfinete, é agulha. Agulha não tem cabeça. Que
lhe importa o meu ar? Cada qual tem o ar que Deus lhe deu. Importe-se com a sua vida
e deixe a dos outros.
Mas você é orgulhosa.
Decerto que sou.
Mas por quê?
É boa! Porque coso. Então os vestidos e enfeites de nossa ama, quem é que os cose,
senão eu?
Você? Esta agora é melhor. Você é que os cose? Você ignora que quem os cose sou
eu e muito eu?
Você fura o pano, nada mais; eu é que coso, prendo um pedaço ao outro, dou feição
aos babados...
Sim, mas que vale isso? Eu é que furo o pano, vou adiante, puxando por você, que vem
atrás obedecendo ao que eu faço e mando...
Também os batedores vão adiante do imperador.
Você é imperador?
Não digo isso. Mas a verdade é que você faz um papel subalterno, indo adiante; vai
só mostrando o caminho, vai fazendo o trabalho obscuro e ínfimo. Eu é que prendo,
ligo, ajunto...
Estavam nisto, quando a costureira chegou à casa da baronesa. Não sei se disse que
isto se passava em casa de uma baronesa, que tinha a modista ao pé de si, para não
andar atrás dela. Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou da
linha, enfiou a linha na agulha, e entrou a coser. Uma e outra iam andando orgulhosas,
pelo pano adiante, que era a melhor das sedas, entre os dedos da costureira, ágeis
como os galgos de Diana para dar a isto uma cor poética. E dizia a agulha:
capítulo 3 • 62
Então, senhora linha, ainda teima no que dizia há pouco? Não repara que esta distinta
costureira só se importa comigo; eu é que vou aqui entre os dedos dela, unidinha a eles,
furando abaixo e acima...
A linha não respondia; ia andando. Buraco aberto pela agulha era logo enchido por ela,
silenciosa e ativa, como quem sabe o que faz, e não está para ouvir palavras loucas. A
agulha, vendo que ela não lhe dava resposta, calou-se também, e foi andando. E era
tudo silêncio na saleta de costura; não se ouvia mais que o plic-plic-plic-plic da agulha
no pano. Caindo o sol, a costureira dobrou a costura, para o dia seguinte. Continuou
ainda nessa e no outro, até que no quarto acabou a obra, e ficou esperando o baile.
Veio a noite do baile, e a baronesa vestiu-se. A costureira, que a ajudou a vestir-se,
levava a agulha espetada no corpinho, para dar algum ponto necessário. E enquanto
compunha o vestido da bela dama, e puxava de um lado ou outro, arregaçava daqui ou
dali, alisando, abotoando, acolchetando, a linha para mofar da agulha, perguntou-lhe:
Ora, agora, diga-me, quem é que vai ao baile, no corpo da baronesa, fazendo parte do
vestido e da elegância? Quem é que vai dançar com ministros e diplomatas, enquanto
você volta para a caixinha da costureira, antes de ir para o balaio das mucamas?
Vamos, diga lá.
Parece que a agulha não disse nada; mas um alfinete, de cabeça grande e não menor
experiência, murmurou à pobre agulha:
Anda, aprende, tola. Cansas-te em abrir caminho para ela e ela é que vai gozar da vida,
enquanto aí ficas na caixinha de costura. Faze como eu, que não abro caminho para
ninguém. Onde me espetam, fico.
Contei esta história a um professor de melancolia, que me disse, abanando a cabeça:
Também eu tenho servido de agulha a muita linha ordinária!
(Machado de Assis)
capítulo 3 • 63
De acordo com Fiorin (2003, p. 71),
Como o nível temático e o nível figurativo são dois níveis sucessivos
de concretização, podemos ter textos temáticos, isto é, sem a
cobertura figurativa, mas todo texto figurativo pressupõe, sob as
figuras, um tema. Assim para entender um texto figurativo é preciso
alcançar seu nível temático. Se um leitor ingênuo, ao ler o primeiro
texto permanecesse apenas no nível figurativo, poderia dizer que o
texto não passa de uma grosseira mentira, pois os asnos não têm
indecisões. Um leitor mais avisado, porém, procuraria logo um
significado mais amplo para o texto, que fosse além desses fatos mais
concretos e mentirosos. Um texto figurativo joga sempre com dados
concretos para, por meio deles, revelar significados mais abstratos.
Classificar os textos em figurativos ou temáticos depende dos elementos
concretos ou abstratos predominantes.
Elementos de coerência
Segundo Silva (2006), lendo um texto de Manoel de Barros em que ele dizia
que as palavras eram conchas de clamores antigos e que as palavras possuem
no corpo muitas oralidades remontadas e muitas significâncias remontadas,
percebemos o porquê do fascínio pelo estudo da língua. “Escovar palavras”, como
disse esse mestre da narrativa, é um mistério que encanta e nos faz mergulhar em
um mundo inesgotável de descobertas.
Certamente alguns perguntarão:
capítulo 3 • 64
“E o que isto tem a ver com o tema?”
Tudo, responde-se, pois “escovar palavras” é buscar o significado das coisas, é
perceber a sabedoria do povo em suas formas de dizer.
O homem, na busca da comunicação, é um recriador de palavras e expressões e
quanto mais ele se expõe através da linguagem, novas formas de dizer vão surgindo.
Nada disto é novidade, apenas é preciso que, na procura de regularidades, não se
criem fórmulas de aprisionamento para o estudo da língua (SILVA, 2006).
A seleção vocabular na formação de um texto está ligada à cultura, à comunicação
e à percepção pelo leitor da intencionalidade discursiva. É preciso destacar as
competências textuais, interacionais que permitirão ao leitor inferir sentidos.
CURIOSIDADE
O que significa inferir?
As inferências são informações propositivas que não precisam ser explicitadas no
momento da produção do texto, por isso são também chamadas de subentendidos, ou seja,
“inferências são proposições que derivam, por alguma regra específica, de outra proposição”
(MOURA, 2007, p. 33). Segundo Moura (2007, p. 33), as inferências podem ser “(…)
baseadas no conhecimento linguístico (situadas, portanto, no campo da semântica)” quanto
“(…) no conhecimento do mundo (situadas, portanto, no campo da pragmática).”
Fonte: http://200.17.141.110/periodicos/interdisciplinar/revistas/ARQ_INTER_16/INTER16_005.pdf
capítulo 3 • 65
Além disso, metáfora e a metonímia também são recursos da linguagem que
podem modificar semanticamente o texto e o leitor precisa decodificá-las.
Koch e Travaglia (1993, p. 38) afirmam que:
Tome-se o seguinte exemplo:
EXEMPLO
Modos de xingar
Biltre!
O quê?
Biltre! Sacripanta!
Traduz isso para português.
Traduzo coisa nenhuma. Além do mais, charro! Onagro!
Parei para escutar. As palavras estranhas jorravam do interior de um Ford de bigode.
Quem as proferia era um senhor idoso, terno escuro, fisionomia respeitável, alterada pela
indignação. Quem as recebia era um garotão de camisa esporte, dentes clarinhos emergindo
da floresta capilar, no interior de um fusca. Desses casos de toda hora: o fusca bateu no
Ford. Discussão. Bate-boca. O velho usava o repertório de xingamentos de seu tempo de sua
condição: professor, quem sabe? Leitor de Camilo Castelo Branco.
(Carlos Drummond de Andrade)
capítulo 3 • 66
Veja a linguagem do sertanejo em produção literária:
Compadre meu Quelemém me hospedou, deixou meu contar minha história inteira.
Como vi que ele me olhava com aquela enorme paciência calma de que minha dor
passasse; e que podia esperar muito longo tempo. O que vendo, tive vergonha, assaz.
Mas, por fim, eu tomei coragem, e tudo perguntei:
“O senhor acha que a minha alma eu vendi, pactário?!”
Então ele sorriu, o pronto sincero, e me vale me respondeu:
“Tem cisma não. Pensa para diante. Comprar ou vender, às vezes, são as ações que
são as quase iguais...”
(...)
Cerro. O senhor vê. Contei tudo. Agora estou aqui, quase barranqueiro.
(...) Amável senhor me ouviu, minha ideia confirmou: que o Diabo não existe. Pois não?
O senhor é um homem soberano, circunspecto. Amigos somos. Nonada. O diabo não
há! É o que eu digo, se for... Existe é homem humano. Travessia.
(Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas)
A coerência pode se dar por uma sequência comum ao leitor, embora pareçam
palavras desconectadas, sem coesão.
Circuito fechado
Chinelo, vaso, descarga. Pia, sabonete. Água. Escova, creme dental, água, espuma, cre-
me de barbear, pincel, espuma, gilete, água, cortina, sabonete, água fria, água quente,
toalha. Creme para cabelo, pente. Cueca, camisa, abotoadura, calça, meias, sapatos,
gravata, paletó. Carteira, níqueis, documentos, caneta, chaves, lenço, relógio. Jornal.
Mesa, cadeiras, xícara e pires, prato, bule, talheres, guardanapo. Quadros. Pasta, carro.
Mesa e poltrona, cadeira, papéis, telefone, agenda, copo com lápis, canetas, bloco de
notas, espátula, pastas, caixas de entrada, de saída, vaso com plantas, quadros, papéis,
telefone. Bandeja, xícara pequena. Papéis, telefone, relatórios, cartas, notas, vale, che-
ques, memorando, bilhetes, telefone, papéis. Relógio, mesa, cavalete, cadeiras, esboços
de anúncios, fotos, bloco de papel, caneta, projetor de filmes, xícara, cartaz,
capítulo 3 • 67
lápis, cigarro, fósforo, quadro-negro, giz, papel. Mictório, pia, água. Táxi. Mesa, toalha,
cadeira, copo, pratos, talheres, garrafa, guardanapo, xícara. Escova de dentes, pasta,
água. Mesa e poltrona, papéis, telefone, revista, copo de papel, telefone interno, exter-
no, papéis, prova de anúncio, caneta e papel, telefone, papéis, prova de anúncio, caneta
e papel, relógio, papel, pasta, cigarro, fósforo, papel e caneta. Carro. Paletó, gravata.
Poltrona, copo, revista. Quadros. Mesas, cadeiras, prato, talheres, copos, guardanapos.
Xícaras. Poltrona, livro. Televisor, poltrona. Abotoaduras, camisa, sapatos, meias, calça,
cueca, pijama, chinelos. Vaso, descarga, pia, água, escova, creme dental, espuma, água.
Chinelos. Coberta, cama, travesseiro.
Ricardo Ramos (www.pucrs.br/gpt/substantivos.php)
(Guimarães Rosa. Grande Sertão: Veredas)
capítulo 3 • 68
Como se pode verificar pelos exemplos, o estudo do léxico deve superar a
significação das palavras apenas pelo dicionário, pois muitas delas se recriam, se
expandem, ganham sentidos locais. É preciso “escovar as palavras” para encontrar
em seu âmago o que elas significam realmente no plano do texto.
Segundo Antunes (2010, p. 186), “somente a instância dos textos reais
propicia o conhecimento de todas as possibilidades de sentido que o léxico de
uma língua pode abranger”.
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SCLIAR, Moacir. Bruxas não existem. Disponível no site Nova Escola. Acesso em 07/11/2016.
capítulo 3 • 69
capítulo 3 • 70
4
Formação
discursiva e
formação ideológica
do discurso
Formação discursiva e formação
ideológica do discurso
capítulo 4 • 72
Embora haja texto verbal como:
O preconceito isola.
“Há uma coisa dentro de mim, contagiosa e mortal, perigosíssima, chamada vida, lateja
como desafio” (Herbert Daniel)
CONEXÃO
*Inferir significa deduzir, concluir. É chegar a uma conclusão final sobre algum fato
ocorrido por intermédio de seguidas deduções. É formar uma ideia final, de algumas informações,
mediante raciocínio, exame dos fatos. Uma informação pode ser passada e conter ideias que estão
subentendidas e para entendê-las temos que buscar o raciocínio (http://www.significados.com.br)
capítulo 4 • 73
Os sentidos não se esgotam, reajustam-se, reproduzem-se, cabendo, por isso,
novas interpretações de acordo com as leituras que são feitas do texto.
Você poderá pensar, então, que o texto pode significar o que você quiser.
Não é bem assim. Há uma cadeia de referências a qual se baseia em uma série
de fatores que se associam para fornecer pistas de identificação das significações
possíveis; são os implícitos presentes nas relações linguagem, língua, mundo e que
dependem das inferências que deverão ser feitas pelo interlocutor.
Como se pode verificar, é uma campanha cujo objetivo é conscientizar contra
o preconceito e, nesse caso, o vírus da AIDS. Geralmente as campanhas são
institucionais e tratam de problemas sociais.
EXEMPLO
Outras situações podem ser encontradas em fotos, sem linguagem verbal:
Forças armadas na rua? O que está acontecendo? É apenas uma corrida? Por
que o isolamento? Há tumulto na favela?
E lá no fundo se vê o símbolo das Olimpíadas. Não há guerra, e sim uma disputa por
medalha, por prêmio, às vezes por superação dos atletas. A medalha não precisa ser física, é
a importância da chegada que tem significação.
capítulo 4 • 74
O atleta está com raiva?
Por que morde a medalha?
Fonte: goo.gl/yS3NA2
capítulo 4 • 75
Em textos literários:
A Viuvinha
“Janeiro de 1857.
Se passasse há dez anos pela Praia da Glória, minha prima, antes que as novas ruas
que se abriram tivessem dado um ar de cidade às lindas encostas do morro de Santa
Teresa, veria de longe sorrir-lhe entre o arvoredo, na quebrada da montanha, uma
casinha de quatro janelas com um pequeno jardim na frente.
Ao cair da tarde, havia de descobrir na última das janelas o vulto gracioso de uma
menina que aí se conservava imóvel até seis horas, e que, retirando-se ligeiramente,
vinha pela portinha do jardim encontrar-se com um moço que subia a ladeira, e
oferecer-lhe modestamente a fronte, onde ele pousava um beijo de amor tão casto
que parecia antes um beijo de pai.
Depois, com as mãos entrelaçadas, iam ambos sentar-se a um canto do jardim, onde
a sombra era mais espessa, e aí conversavam baixinho um tempo esquecido; ouvia-se
apenas o doce murmúrio das vozes, interrompidas por esses momentos de silêncio em
que a alma emudece, por não achar no vocábulo humano outra linguagem que melhor
a exprima.
O arrulhar destes dois corações virgens durava até oito horas da noite, quando uma
senhora de certa idade chegava a uma das janelas da casa, já então iluminada, e
debruçando-se um pouco, dizia com a sua voz doce e afável:
Olha o sereno, Carolina!”
(José de Alencar)
O Cabeleira
A Meu amigo,
A casa onde moro está situada ao lado de uma rua de bambus, em um dos cantinhos
mais amenos da bacia de Botafogo.
Vejo daqui uma grande parte da baía, os morros circunstantes cravando seus cumes
nas nuvens, o céu de opala, o mar de anil. Infelizmente este belo espetáculo não
é imutável.
De súbito o céu se torna brusco, e só descubro cabeços fumegantes em torno de mim;
capítulo 4 • 76
ribomba o trovão nos píncaros alcantilados; a chuva fustiga as palmeiras e casuarinas;
a ventania brame no bambuzal; a casa estala. Parece que tudo vai derruir-se.
Estas tormentas duram horas, noites, dias inteiros, e reproduzem-se com mais ou me-
nos frequência.
Quando elas têm passado de todo, o céu mostra-se mais puro e belo, o mar mais azul,
as árvores mais verdes, a viração tem mais doçura, as flores mais deliciosos aromas.
Pela face das pedreiras correm listões d’água prateada, que refletem a luz do sol, for-
mando brilhantes matizes. Coberta de frescas louçanias, a natureza sorri com suave
gentileza depois de haver esbravejado e chorado como uma criança.
É tempo de cumprir a promessa extorquida pela amizade, que não atendeu às mais
legitimas escusas. Essa natureza brilhante e móvel estava a cada instante convidando
o meu desânimo a romper o silêncio a que vivo recolhido desde que cheguei do extre-
mo norte do império.
Depois de cerca de dois anos de hesitações, dispus-me enfim a escrever estas pálidas
linhas — notas dissonantes de uma musa solitária, que no retiro onde se refugiou com
os desenganos da vida não pode esquecer-se da pátria, anjo das suas esperanças e
das suas tristezas.
Tive porém que melhor seria leres umas centenas de páginas na estampa, do que
traduzires um volumoso in-fólio inçado de tantas emendas e entrelinhas que a mim
mesmo custa às vezes decifrá-las, pela razão de que tudo aqui se escreveu sem ordem,
sem arte, sem se atender a ideal, por aproveitar momentos vagos e incertos de uma
pena que pertence ao Estado e à família.”
(Franklin Távora)
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
capítulo 4 • 77
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
Heterogeneidade discursiva
capítulo 4 • 78
Segundo o autor:
capítulo 4 • 79
EXEMPLO
Fonte: https://goo.gl/BPPQlNii
Fonte: https://goo.gl/DhYzii
capítulo 4 • 80
Polifonia
Polifonia é uma noção que deriva da língua grega. O conceito refere-se à simultaneida-
de de sons diferentes que formam uma harmonia. Deste modo, apesar de serem sons
independentes, o ouvinte percebe-os com um todo.
Leia mais em: Conceito de polifonia O que é, definição e significado.
Disponível no site Conceito.de. Acesso em 18/11/2016
A DIPIRONA E AS OLIMPÍADAS
Marcelo Câmara
Fábula desmoralizante e corruptora
capítulo 4 • 81
Podia-se até imaginar que estávamos numa democracia e vivíamos num país onde os
indivíduos eram respeitados nos seus fundamentais direitos e comiam relativamente
bem; se vestiam e tinham saúde, eram humanamente atendidos nas unidades de
saúde e hospitais; estudavam em escolas decentes, iam e vinham no seu cotidiano
sem assaltos, a salvo das balas perdidas e estupros; o esporte e o lazer eram
generalizados; os direitos culturais estavam garantidos e eram amplamente exercidos;
havia transportes públicos seguros e eficazes; trabalhavam dignamente; enfim, as
pessoas viviam e conviviam em paz, felizes. Sonhavam, criavam, produziam. Os serviços
públicos eram públicos, atendiam à população.
Naquela manhã, as edições dos jornais e revistas, os telejornais e a Internet não
recuperavam as pautas dos últimos meses: as irregularidades de toda ordem, a lama
pútrida que lambuzou todas as instituições públicas que planejaram, organizaram e
realizaram os Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro em 2007. Corrupção ativa,
peculato, licitações fraudadas, projetos não executados ou mal realizados, desvio
de dinheiro público, incúria, prevaricação, furtos, formação de quadrilha, falsidade
ideológica, superfaturamento de obras e serviços, que, quando prestados eram
insuficientes ou criminosos.
REFLEXÃO
A seleção vocabular feita pelo autor incorpora essas vozes: “carnavalizou-se, a festa,
shows na praia de Copacabana. governos, compromissos ideológicos”, entre outras.
Os receptores iriam ou não se solidarizar com o jornalista, mas o texto polifônico marcou
toda a ideologia possível.
capítulo 4 • 82
O site começa com a seguinte imagem e título, apresentando o texto publicado em 2009
e os acontecimentos de 2016.
A tragédia anunciada da Olimpíada no Rio, em um texto escrito em 2009
Postado em julho 26, 2016 por Tribuna da Internet
“Da abertura que encantou o mundo ao título inédito no futebol e o tri no vôlei, a Rio
2016 foi histórica também pela festa nas ruas e na praia, bom humor nas arquibancadas
e na internet, a água verde e alguns casos de violência. O G1 levantou 20 temas que
marcaram os Jogos.”
(Publicado em 21/08/2016, atualizado em 22/08/2016 http://especiais.g1.globo.com/rio-de
janeiro/olimpiadas/rio2016/2016/olimpiada-rio-2016/)
Dialogismo: Baktin
Dialogismo:
“De acordo com a teoria bakhtiniana, o dialogismo reafirma a natureza sociocultural
do enunciado. O indivíduo, ao mesmo tempo que negocia com seu interlocutor, recebe
influências deste, as quais interferirão na estrutura e na organização do enunciado.”
Fonte: Puc Rio
capítulo 4 • 83
Como se tem visto, o discurso é uma prática social, e os textos, por fazerem
parte de um contexto sócio-histórico-cultural, refletem uma determinada visão
de mundo.
As palavras organizadoras do discurso participam da construção do sentido
junto com os leitores ou coprodutores interpretantes.
Segundo Bakhtin (1992), a enunciação é o produto da interação de dois ou
mais indivíduos socialmente organizados, pois sua natureza é social. A enunciação
não existe fora de um contexto socioideológico.
Qualquer enunciação propõe uma réplica, uma reação. Desse modo, não
existe um discurso que já não contenha outro ou a ideia de outro. Pode-se dizer
com Bakhtin (1999) que a palavra vai à palavra.
A polifonia em textos verbais pressupõe recursos, estratégias argumentativas
presentes na comunicação linguística que visam à formação de opinião.
As estratégias argumentativas têm, em textos jornalísticos, bons exemplos.
Veja:
EXEMPLO
Brasileiros estão gastando menos em Lisboa
POR GIULIANA MIRANDA
capítulo 4 • 84
Mesmo com a queda, as receitas do turismo e das atividades relacionadas a ele vão
muito bem em Portugal como um todo: alta de 10,4% em junho de 2016, em comparação
com o mesmo período de 2015.
Entre os lojistas, há a expectativa que a recuperação do valor do real frente ao euro volte
a impulsionar o lado mais consumista do brasileiro.
Fonte: Ora Pois – blog da Folha de São Paulo. Acesso em 18/11/2016
Intertextualidade
Fonte: https://goo.gl/UzCf9k
capítulo 4 • 85
A criatividade nessas peças publicitárias está em usar textos da literatura, da
música e do cinema para interagir com os consumidores, seduzindo-os. Esses
novos textos com trechos de outros constituem a intertextualidade.
EXEMPLO
1. Dois milhos de Francisco - Dois filhos de Francisco (filme brasileiro lançado em
2005, do gênero drama, dirigido por Breno Silveira).
2. O aipo da compadecida - O auto da compadecida (romance de Ariano Suassuna).
3. O que é que a banana tem? - O que é que a baiana tem? (música de Dorival Caymmi).
CONCEITO
Retomando o conceito de intertextualidade:
“Relação de copresença entre dois ou vários textos, que se concretiza, mais
frequentemente, pela ‘presença efetiva de um texto em outro.” (Gerard Genette)
Portanto:
Um texto está inserido no outro e há algumas maneiras de se encontrar a
intertextualidade:
EXPLÍCITA IMPLÍCITA
Nesse caso há uma citação O leitor deve reconhecer o
do texto entre aspas ou sem texto-fonte, visto que este deve fazer
aspas, quando de domínio público. parte da memória coletiva, do senso
comum ou da bagagem cultural de
uma sociedade.
capítulo 4 • 86
Na estrutura do termo textualidade tem-se:
(...) o sufixo inter, de origem latina, que se refere a uma noção
de relação, dependência. Dessa forma, podemos dizer que a
intertextualidade acontece quando os textos conversam entre si,
estabelecendo assim uma relação dialógica, representada em citações,
paródias ou paráfrases. Sua importância é inquestionável para a
leitura e a produção de sentidos, pois realça o estudo da coerência
através do conhecimento declarativo ou através do conhecimento
construído a partir de nossas vivências. (grifos do autor)
(Fonte: site Português UOL. Acesso em 01/09/2016)
Mania de Você
(Rita Lee)
Meu bem você me dá água na boca
Vestindo fantasias, tirando a roupa
Molhada de suor
De tanto a gente se beijar
De tanto imaginar loucuras (...)
capítulo 4 • 87
Haiti
(Caetano Veloso e Gilberto Gil)
Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô
E se você não for
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
“No princípio era o verbo, e o verbo estava com Deus, e o verbo era Deus”
Na música
(João, 1:1).
EXPLÍCITA
O Haiti é aqui
As chuvas destruíram 17 cidades em Alagoas e Pernambuco e, outra
vez, a falta de preparo e o descaso das autoridades deixam milhares de
vítimas abandonadas à própria sorte
No texto jornalístico
capítulo 4 • 88
Este tipo de intertextualidade pode estar também presente nas resenhas de
trabalhos acadêmicos como dissertações e teses, em livros e também em diversos
anúncios publicitários.
Quadrilha
João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
Flor da Idade
(Chico Buarque)
A gente faz hora, faz fila na vila do meio dia
Pra ver Maria
A gente almoça e só se coça e se roça e só se vicia
A porta dela não tem tramela
A janela é sem gelosia
Nem desconfia
Ai, a primeira festa, a primeira fresta, o primeiro amor
Carlos amava Dora que amava Lia que amava Léa que amava Paulo que amava Juca que amava
Dora que amava
Carlos amava Dora que amava Rita que amava Dito que amava Rita que amava Dito que amava
Rita que amava
Carlos amava Dora que amava Pedro que amava tanto que amava a filha que amava Carlos que
amava Dora que amava toda a quadrilha
capítulo 4 • 89
Percebe-se a conversa entre a poesia de Drummond e a letra de Chico Buarque,
mas não se trata de uma citação direta e sim de uma alusão. Não se trata de plágio
por ser a poesia de domínio público e a música, usada como referência, também.
Veja outro exemplo bastante rico em intertextualidade explícita e implícita ao
mesmo tempo:
capítulo 4 • 90
Sou Mangueira... uma poesia singular
Fui ao Lácio e nos meus versos canto a última flor
3. Minha pátria é ...............................
minha língua
Cantando eu vou
mangueira meu
grande amor. Do Oiapoque ao Chuí ouvir
Meu samba A minha pátria é minha língua
vai ao Lácio
e colhe Idolatrada obra-prima te faço imortal
a última flor Salve... Poetas e compositores
Salve também os escritores
(Lequinho, Júnior
Fionda, Anibal Que enriqueceram a tua história
e Amendoim do Ó meu Brasil
Samba)
Dos filhos deste solo és mãe gentil
Hoje a herança portuguesa nos conduz
capítulo 4 • 91
Lendo atentamente esses textos, pode-se encontrar o eco de um em outros:
1. Em Língua, de Caetano Veloso, encontra-se o eco de Fenando Pessoa
(minha pátria é minha língua), Guimarães Rosa, Jamelão (Fala Mangueira! Fala!) e
ainda colocando em destaque a semelhança entre a língua do Brasil e a de Portugal
na citação do nome de Camões (a minha língua roçar a língua de Luís de Camões).
2. No samba-enredo da escola de samba Mangueira, há presença de Fernando
Pessoa (minha pátria é minha língua), Olavo Bilac (Fui ao Lácio e nos meus
versos canto a última flor), além da letra do Hino Nacional (Dos filhos deste
solo és mãe gentil).
3. Da poesia de Olavo Bilac saiu o verso retomado pelo samba-enredo.
4. O texto de Fernando Pessoa aparece não apenas na letra de Caetano, mas
também no samba da Mangueira.
A intertextualidade pode ser encontrada também com outras nomenclaturas
além da citação: epígrafe, paráfrase, paródia.
Epígrafe
capítulo 4 • 92
Olhos de ressaca? Vá, de ressaca. É o que me dá ideia daquela feição
nova. Traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força
que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da praia, nos
dias de ressaca. “...” mas tão depressa buscava as pupilas, a onda que
saía dela vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me,
puxar-me e tragar-me.
Introdução
capítulo 4 • 93
Citação: Referência a uma passagem do discurso de um autor conhecido ou não no
meio de um texto. Apresenta-se entre aspas e acompanhada da identidade do criador.
Como disse Antonio Gramsci, filósofo italiano, "Todos os homens são intelectuais –
pode-se dizer, mas nem todos os homens têm na sociedade a função de intelectuais.
Não se pode separar o homo faber do homo sapiens. " Em nossos estudos, há vários
exemplos de citação.
Paráfrase
EXEMPLO
TEXTO ORIGINAL PARÁFRASE
Canção do Exílio “Meus olhos brasileiros se
fecham saudosos
“Minha terra tem palmeiras Minha boca procura a ‘Canção do Exílio’
Onde canta o sabiá Como era mesmo a ‘Canção do Exílio’?
As aves que aqui gorjeiam Eu tão esquecido de minha terra…
Não gorjeiam como lá” Ai terra que tem palmeiras
Onde canta o sabiá!”
(Gonçalves Dias)
(Carlos Drummond de Andrade)
capítulo 4 • 94
A paráfrase também é usada em resumos, sinopses e trabalhos acadêmicos.
EXEMPLO
Exemplo de resumo:
O livro narra inicialmente a saga de João Romão rumo ao enriquecimento. Para acumular
capital, ele explora os empregados e se utiliza até do furto para conseguir atingir seus
objetivos. João Romão é o dono do cortiço, da taverna e da pedreira. Sua amante, Bertoleza,
o ajuda de domingo a domingo, trabalhando sem descanso.
Em oposição a João Romão, surge a figura de Miranda, o comerciante bem estabelecido
que cria uma disputa acirrada com o taverneiro por uma braça de terra que deseja comprar
para aumentar seu quintal. Não havendo consenso, há o rompimento provisório de relações
entre os dois.
Com inveja de Miranda, que possui condição social mais elevada, João Romão trabalha
ardorosamente e passa por privações para enriquecer mais que seu oponente. Um fato, no
entanto, muda a perspectiva do dono do cortiço. Quando Miranda recebe o título de barão,
João Romão entende que não basta ganhar dinheiro, é necessário também ostentar uma
posição social reconhecida, frequentar ambientes requintados, adquirir roupas finas, ir ao
teatro, ler romances, ou seja, participar ativamente da vida burguesa.
No cortiço, paralelamente, estão os moradores de menor ambição financeira. Destacam-
se Rita Baiana e Capoeira Firmo, Jerônimo e Piedade. Um exemplo de como o romance
procura demonstrar a má influência do meio sobre o homem é o caso do português
Jerônimo, que tem uma vida exemplar até cair nas graças da mulata Rita Baiana. Opera-se
uma transformação no português trabalhador, que muda todos os seus hábitos.
A relação entre Miranda e João Romão melhora quando o comerciante recebe o título de
barão e passa a ter superioridade garantida sobre o oponente. Para imitar as conquistas do rival,
João Romão promove várias mudanças na estalagem, que agora ostenta ares aristocráticos.
O cortiço todo também muda, perdendo o caráter desorganizado e miserável para se
transformar na Vila João Romão.
O dono do cortiço aproxima-se da família de Miranda e pede a mão da filha do comerciante
em casamento. Há, no entanto, o empecilho representado por Bertoleza, que, percebendo as
manobras de Romão para se livrar dela, exige usufruir os bens acumulados a seu lado.
Para se ver livre da amante, que atrapalha seus planos de ascensão social, Romão a
denuncia a seus donos como escrava fugida. Em um gesto de desespero, prestes a ser
capturada, Bertoleza comete o suicídio, deixando o caminho livre para o casamento de Romão.
Fonte: site Guia do Estudante
capítulo 4 • 95
Sinopse
EXEMPLO
A arte da conquista
Marcadores: amor, arte, escola, solidão, vida
George Zinavoy (Freddie Highmore) é um jovem solitário que não vê sentido na vida nem
na escola, ele acredita que o ser humano nasce e morre sozinho, para ele tudo é uma grande
ilusão. Mergulhado em sua amargura, ele acaba conhecendo a bela Sally Howe (Emma
Roberts) e algo de diferente acontece, ele faz novas amizades e começa a sentir novas
sensações, sem saber ainda ao certo o significado. No meio do caminho, os dois conhecem
Dustin (Michael Angarano), um artista de sucesso apresentado pelo professor de arte, dando
início a um inesperado triângulo amoroso.
Fonte: site Scribd. Acesso em 01/09/2016)
Paródia
EXEMPLO
Exemplo 1:
capítulo 4 • 96
Tem um processo seguro E nem fome nem doença
De impedir a concepção Impedem a concepção
Tem telefone automático Telefone não telefona
Tem alcalóide à vontade Drogas são falsificadas
Tem prostitutas bonitas E prostitutas aidéticas
Pra gente namorar São as nossas namoradas
(...) (...)
Manoel Bandeira Millôr Fernandes
Exemplo 2:
Fonte: https://goo.gl/jKlJYF
Exemplo 3:
Fonte: https://goo.gl/4jy7Ye
capítulo 4 • 97
Eis uma paródia ao quadro O grito, obra de arte expressionista de Edvard Munch que
simboliza o sentimento de angústia do ser humano.
Exemplo 4:
A tirinha humorística
faz referência a
Van Gogh.
Fonte: https://goo.gl/mCixfT
Exemplo 4:
Sobre a Canção de Exílio, de Gonçalves Dias, da qual há paródias e paráfrases, veja
alguns exemplos:
capítulo 4 • 98
Uma Canção
Minha terra não tem palmeiras...
E em vez de um mero sabiá,
Cantam aves invisíveis
Nas palmeiras que não há.
Ainda se pode falar em intertextualidade externa (em que o autor cita outro[s]
autor[es]), e interna (em que cita a si mesmo).
Exemplo de intertextualidade externa que é a mais comum e da qual
foram apresentados vários textos.
capítulo 4 • 99
Fonte: https://goo.gl/4EE5gt
Monte Castelo
Ainda que eu falasse a língua dos homens
e falasse a língua dos anjos, sem amor eu nada seria.
É só o amor, é só o amor
Que conhece o que é verdade
O amor é bom, não quer o mal
Não sente inveja ou se envaidece.
Intertextualidade interna:
Drummond é um dos autores que citam a si mesmo, fazendo uma nova leitura
de um de seus versos em outro poema.
capítulo 4 • 100
“No meio do caminho tinha uma pedra “Uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra no meio do caminho Ou apenas um rastro, não importa.
tinha uma pedra Estes poetas são meus. De todo o orgulho,
no meio do caminho tinha uma pedra. [...]” De toda a precisão se incorporam
Ao fatal meu lado esquerdo. Furto
a Vinícius
Sua mais límpida elegia. Bebo em Murilo.
Que Neruda me dê sua gravata
Chamejante. Me perco em Apollinaire.
Adeus Maiakovski.”
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALENCAR, José de. A Viuvinha. Texto proveniente de: A Biblioteca Virtual do Estudante Brasileiro A
Escola do Futuro da Universidade de São Paulo.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Nova Reunião. Rio de Janeiro: José Olympio; 1985.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Marxismo e Filosofia da Linguagem. 6 ed. São Paulo: Hucitec; 1992.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovich. Estética da Criação Verbal. São Paulo: Martins Fontes; 1997.
BILAC, Olavo. Língua Portuguesa. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/
PesquisaObraForm.do?select_action=&co_autor=99. Acesso em: 11/11/2016
CHARAUDEAU, Patrick; MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de Análise do Discurso. 3 ed. São
Paulo: Contexto; 2004.
FIORIN, José Luiz; SAVIOLI, Francisco Platão. Para Entender o Texto – Leitura e Redação. 16 ed.
São Paulo: Ática; 2003.
FIORIN, José Luiz. Linguagem e Ideologia. São Paulo: Ática; 2007.
ORLANDI, Eni Puccinelli. Discurso e Texto. Formulações e Circulação dos Sentidos. Campinas:
Pontes; 2001.
capítulo 4 • 101
ORLANDI, Eni Puccinelli. Análise de Discurso: Princípios & Procedimentos. 8 ed. Campinas:
Pontes; 2009.
VALENTE, André (Org.). Aulas de Português - Perspectivas Inovadoras. Petrópolis: Vozes; 1999.
Sites:
capítulo 4 • 102
5
Da obra ao texto -
discurso, poder
e cultura
Da obra ao texto - discurso, poder e cultura
Neste capítulo, o enfoque é a relação entre o texto e a obra, como o discurso se
estrutura de maneira significante (linguística) e situacional (o homem e o mundo:
atores sociais e sujeitos comunicativos na nomenclatura de Charaudeau).
Segundo esse mesmo autor (2006, p. 7):
A religiosidade aparente deixa entrever a crítica ao poder, usando a palavra como não
aceitação ao que ocorria no momento.
capítulo 5 • 104
NAS CHARGES
capítulo 5 • 105
NAS REPORTAGENS
Chefe de direitos humanos da ONU critica político que
nutre preconceito
NAS IMAGENS
“Só um sentimento grandioso que extrapola o limite do lúdico, do brincar, pode manter
vivo um bem cultural por tanto tempo, resistindo ao preconceito pelo qual passaram as
brincadeiras de Boi no século XIX e atravessando o século XX para chegar ao Século XXI,
apesar dos limites territoriais impostos às brincadeiras que ficavam circunscritas aos arra-
baldes da cidade até os anos 60. Hoje os desafios são outros. Mas o Boi resiste tal como
um TOURO, como muitos de nossos boieiros o denominam. Valente, poderoso, altivo.
capítulo 5 • 106
A diversidade do Bumba-meu-boi do Maranhão, com a variedade de estilos, de formas
de brincar uma única manifestação cultural, o forte sentimento de pertencimento dos
atores dessa prática cultural popular e a grande carga simbólica do Bumba maranhen-
se, articulando significados, seja no plano ritual, expressivo ou material, presentes na
vida cotidiana daqueles que o praticam, foram fundamentais para a patrimonialização
do Bumba-meu-boi.”
Fonte: https://goo.gl/czZnT8
NA PINTURA
Fonte: https://goo.gl/tBlU67
capítulo 5 • 107
NA CULINÁRIA
Fonte: Shutterstock
NA DANÇA
Fonte: Shutterstock
capítulo 5 • 108
Roland Barthes: a crítica literária
ATENÇÃO
O termo “crítica”, do grego “julgar”, “discriminar”, encerra em si a noção de “avaliação”;
assim, a crítica literária seria um processo de avaliação de uma obra ou de obras literárias,
e o “crítico” alguém que enuncia juízos críticos ou exerce a crítica literária. (http://www.
seminariosmv.org.br/2009/textos/09_eduardo.pdf)
Dito isso, convém recordar que Saussure propôs o termo semiologia e Peirce,
semiótica. Nesse estudo, prevalece a concepção de Peirce (2000) que estabelece
três níveis: o sintático, o semântico e o pragmático.
capítulo 5 • 109
A relação entre:
capítulo 5 • 110
e, portanto, precisaria acompanhar o conceito de literatura vigente em um
determinado contexto. É simbólica. O texto, ao contrário, precisa ser revisitado,
pois “pratica o recuo infinito do significado” (BARTHES, 1987, p. 56), deve
passar por constante revisão e ampliação. O texto é dinâmico, plural.
Assim, precisa-se ler o texto pelo texto, tomando-se os signos nele colocados:
o significante e os significados.
capítulo 5 • 111
2. Medo de intervenção na Amazônia é “paranoia”, dizem americanos
Pesquisadores ouvidos pelo G1 dizem que Brasil é desconfiado demais.
Eles alegam não existir risco de 'internacionalização' da floresta.
Quando visitou o Brasil em 2003, no início da invasão do Iraque, o advogado
americano Mark London ficou chocado com faixas que viu penduradas pela
capital do país. O pesquisador estudava a Amazônia brasileira havia décadas, era
autor de um livro pioneiro sobre o assunto nos Estados Unidos, e se viu diante de
frases que alegavam que, depois do Iraque, o alvo dos americanos seria o Brasil,
por conta da floresta e das suas reservas de água, o que achou absurdo.
A experiência dele é comum entre quase todos os estudiosos norte-americanos
que se debruçaram sobre a importância da região amazônica para o Brasil para o
mundo. O G1 entrevistou mais de dez pesquisadores brasilianistas e de geopolítica
que estudam a Amazônia sob a ótica americana e constatou que eles sempre dizem
se ver diante do que consideram uma desconfiança excessiva e desnecessária, fruto
do que acham ser “paranoia” dos brasileiros.
1
No primeiro, o medo é tratado de modo emotivo, prevalece a linguagem metafórica,
em que se aproxima o imaginário do real. O objetivo é fazer com que o leitor vá além das
palavras. Constrói-se com harmonia, ritmo, arte e subjetividade.
capítulo 5 • 112
2
O segundo texto trata do medo de modo objetivo, como perspectiva de uma realidade.
É informativo e traz relatos a fim de informar, por isso emprega linguagem direta, em 3a
pessoa, com função referencial.
3
O terceiro texto alia a imagem à palavra, apresenta uma declaração com motivação
histórica e a linguagem busca informar.
EXEMPLO
1. “Três personagens me ajudaram a compor estas memórias. Quero dar ciência
delas. Uma, a criança; dois, os passarinhos; três, os andarilhos. A criança me deu a semente
da palavra. Os passarinhos me deram desprendimento das coisas da terra. E os andarilhos, a
preciência (sic) da natureza de Deus”
(BARROS, 2008).
Sobre Manoel de Barros, em Memórias inventadas. A terceira infância. É importante explicar
que os textos vêm em folhas destacadas, sem numeração de página, amarradas com uma fita,
dentro de uma caixinha de papelão. O autor procura desconstruir a sequencialização, deixando
ao leitor a incumbência de ler como quiser, de acordo com sua sensibilidade. É um texto literário
por excelência, pois cria neologismos, arruma as palavras de acordo com a emoção.
O interpretante tem papel destacado na organização dos sentidos.
capítulo 5 • 113
Cargo muito pesado pra mulher,
Esta espécie ainda envergonhada.
Aceito os subterfúgios que me cabem,
Sem precisar mentir.
Não sou tão feia que não possa casar,
Acho o Rio de Janeiro uma beleza e
Ora sim, ora não, creio em parto sem dor.
Mas o que sinto, escrevo. Cumpro a sina.
(Adélia Prado)
3. Rachel de Queirós, em uma crônica, resolveu conversar com o leitor. Veja um trecho:
“Tanto neste nosso jogo de ler e escrever, leitor amigo, como em qualquer outro jogo,
o melhor é sempre obedecer às regras. Comecemos, portanto, obedecendo às da cortesia,
que são as primeiras, e nos apresentemos um ao outro. Imagine que pretendendo ser
permanente a página que hoje se inaugura, nem eu nem você, ‒ os responsáveis por ela, ‒
nos conhecermos direito. É que os diretores de revista, quando organizam as suas seções,
fazem como os chefes de casa real arrumando os casamentos dinásticos: tratam noivado e
celebram matrimônio à revelia dos interessados, que só se vão defrontar cara a cara na hora
decisiva do “enfim sós”.
Cá estamos também os dois no nosso “enfim sós” ‒ e ambos, como é natural, meio
desajeitados, meio carecidos de assunto: Comecemos, pois, a falar de você, que é tema mais
interessante do que eu. Confesso-lhe, leitor, que diante da entidade coletiva que você é, o meu
primeiro sentimento foi de susto ‒, sim, susto ante as suas proporções quase imensuráveis.
Disseram-me que o leitor de O CRUZEIRO representa pelo barato mais de cem mil leitores,
uma vez que a revista põe semanalmente na rua a bagatela de 100.000 exemplares”.
Fonte: site Contos, Crônicas e Poesias.
capítulo 5 • 114
A linguagem figurada alia-se à linguagem coloquial, como pede uma conversa,
e pretende seduzir o leitor com o uso da conotação em expressões como “enfim
sós, o uso da 1ª pessoa do plural, o vocativo “leitor amigo”, por exemplo.
O texto literário, tem como foco o plano da expressão que predomina sobre
o do conteúdo. Ele recria a realidade, o mundo, é polissêmico, usa recursos
sonoros e figurados. A função do texto literário é a estética e predomina a
forma como se diz e não o que é dito.
São exemplos de textos literários:
• Lendas;
• Romances;
• Novelas;
• Poemas;
• Contos;
• Peças teatrais;
• Crônicas.
EXEMPLO
1. Rumo à Ecologia Profunda, de Fritjof Capra
O físico austríaco Fritjof Capra acredita que a humanidade está passando por diversas
crises que convergem em uma única: a crise de percepção. O desafio é enxergar os problemas
de maneira integrada, como parte de um único sistema.
O texto “Rumo à Ecologia Profunda” é parte do primeiro capítulo do seu livro A Teia da
Vida – Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos (Editora Cultrix). A obra aborda
a urgência de mudança do paradigma antropocêntrico (ser humano como centro) para o
ecocêntricos (com valores centralizados na Terra), com uma visão de mundo que reconhece
capítulo 5 • 115
o “valor inerente da vida não humana”. A ecologia profunda enxerga o mundo como rede de
fenômenos que estão fundamentalmente interconectados e são interdependentes.
Fonte: site Super Interessante. Acesso em 08/09/2016
Esse texto é informativo, explicativo e tem como objetivo ser claro quanto a determinado
tema, apresentando um livro que trata de assunto relevante.
2. Abuso de direito
Revista deve indenizar delegados por texto “em desacordo com a verdade”
21 de julho de 2015, 17h05
Por Felipe Luchete
É dever da imprensa comprovar a veracidade da informação obtida antes de publicar
acusações, ainda mais quando os casos citados tramitam em segredo de Justiça. Esse foi o
entendimento do juiz Nilson Ivanhoé Pinheiro, da 38a Vara Cível de São Paulo, ao determinar
que a revista IstoÉ pague R$ 200 mil (R$ 425,3 mil com correção monetária) a dois ex-
secretários de Segurança do Rio de Janeiro.
Os delegados da Polícia Federal Roberto Precioso e Marcelo Itagiba foram citados
em reportagem publicada em 2006 sobre a operação cerol. Na época, eram investigados
policiais federais suspeitos de obter vantagens em troca de benefícios a pessoas acusadas
de fraudar o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). A IstoÉ escreveu que Precioso,
então secretário de Segurança Pública do Rio, e Itagiba, seu antecessor no cargo, também
eram alvos da operação.
Fonte: site Consultor Jurídico. Acesso em 08/09/2016)
O texto trata de questões relativas à lei e, para isso, usa linguagem denotativa, objetiva,
explicando os fatos expostos.
capítulo 5 • 116
De que se tem registro, as festas que celebram Santo Antônio, São João e São Pedro
passaram a fazer parte do calendário brasileiro em 1583. O costume foi importado dos
portugueses. Na Europa, entretanto, essas celebrações não marcavam o início do inverno,
mas sim do verão. O dia 21 de junho é importante nessa história. Na data, ocorrem os
solstícios de verão no hemisfério norte e de inverno no sul, quando tais regiões contam,
respectivamente, com o dia e a noite mais longos do ano.
Fonte: site Nexo.
Nesse caso, o texto aborda o significado e a origem de uma das mais tradicionais festas
que, em determinadas regiões do Brasil, chega a ter calendário turístico e apresenta danças,
vestuário e comidas típicas. É uma linguagem denotativa, que se preocupa com o conteúdo
passado ao leitor.
Ingredientes:
2 xícaras (chá) de leite
1 lata de leite condensado
3 ovos
1 e ½ xícaras (chá) de açúcar
1 xícara (chá) de fubá pré-cozido
3 colheres (sopa) de farinha de trigo
2 colheres (sopa) de manteiga (30 g)
1 colher (sopa) de fermento em pó
1 xícara (chá) de queijo minas meia cura ralado
1 pitada de sal
capítulo 5 • 117
As receitas culinárias são didáticas e precisam de um passo a passo para que o
resultado seja o esperado. Usa-se linguagem com função utilitária.
No entanto, aqui uma nova nomenclatura está sendo abordada e por isso é
preciso comentá-la.
O que se entende por função estética?
Ao analisar a imagem, pode-se observar que,
primeiro, os nossos sentidos são mobilizados ‒ no
caso a visão (é a primeiridade de que nos fala Peirce)
‒, é o sentir. É preciso destacar que estética não
está vinculada necessariamente ao belo, pois isso
é uma questão subjetiva, mas sim ao domínio da
sensibilidade, à percepção do objeto.
capítulo 5 • 118
Estética se origina do grego aisthesis e significa o que é sensível ou o que se
relaciona com a sensibilidade. Assim se fundamenta o termo.
Voltando à imagem, tem-se como primeira sensação a forma, a cor, o volume.
No entanto, a visualização do objeto passa por outra fase que está subordinada
a aspectos socioculturais e corresponde à vivência do interpretante que busca o
equilíbrio, a harmonia, o conforto ‒ é o critério da beleza.
O que é belo?
A percepção depende dos
aspectos momentâneos. É o
julgamento estético, é o que
se transforma em significado
e pode ser um processo
individual ou de grupo.
Voltando ao texto
literário em que a função
estética se evidencia, mas de forma simbólica, isto é, passando do sensorial às
relações com o experimental, com o psicológico, com a abstração, tem-se a
linguagem figurada, conotativa e é envolvida por fatores sociais, políticos,
ideológicos, emotivos.
Exemplos da função estética em textos literários:
EXEMPLO
capítulo 5 • 119
de sua casa e desejava boa tarde a toda a gente. Não. O mundo ia além. Além do horizonte
havia mais terras, e campos, e montanhas, e cidades, e rios e mares sem fim. Dava em nós
vontade de correr mundo, andar nos trens que atravessavam as terras, nos vapores que
cortam os mares. Nos olhos do menino havia uma saudade impossível, a saudade de uma
terra nunca vista”.
(VERISSIMO. Clarissa; páginas 34-35)
O autor se preocupou em criar um clima bucólico para envolver o leitor, a fim de que este
o visualizasse. Para isso organizou as palavras de maneira harmoniosa: olhos interrogadores,
mistério, cantos de pássaros, um cego que tocava concertina entre outras expressões.
3. Falta de Condescendência
Fabrício acaba de cometer um grave erro e que para ele será de más consequências.
Quem pede e quer ser servido, deve medir bem o tempo, o lugar e as circunstâncias, e Fabrício
não soube conhecer que o tempo, o lugar e as circunstâncias lhe eram completamente
desfavoráveis. Vai exigir que Augusto o ajude a forjar cruel cilada contra uma jovem de
dezessete anos, cujo único delito é ter sabido amar o ingrato com exagerado extremo. Ora,
para conseguir semelhante torpeza, preciso seria que Fabrício aproveitasse um momento de
loucura, um desses instantes de capricho e de delírio em que Augusto pensasse que ferir a
fibra mais sensível e vibrante do coração da mulher, a fibra do amor, não é um crime, não é
pelo menos louca e repreensível leviandade; é apenas perdoável e interessante divertimento
de rapazes; e nessa hora não podia Augusto raciocinar tão indignamente. Ainda quando não
houvesse nele muita generosidade, estava para desarmá-lo o poder indizível da inocência, o
poderoso magnetismo de vinte olhos belos como o planeta do dia, a influência cativadora da
formosura em botão, de beleza virgem ainda, de um anjo, enfim, porque é símbolo de um anjo
a virgindade de uma jovem bela.
(Joaquim Manuel de Macedo. A Moreninha.)
capítulo 5 • 120
Textos não literários com função utilitária:
EXEMPLO
Reportagem:
Um desastre chamado Banco Central
O erro central do BC é ter interlocução única e exclusivamente com o mercado
Por Luis Nassif, publicado 21/01/2016 11h01, Marcelo Camargo/Agência Brasil
O dia em que se fizer o inventário da atuação do Banco Central na gestão Alexandre
Tombini, provavelmente se terá o retrato de uma das mais desastradas gestões da história
pós-estabilização, só superada pela de Gustavo Loyolla e seus 45% de taxa básica ao ano.
Desde o primeiro governo Dilma, avaliações incorretas do BC sobre a economia
comprometeram a política econômica e ajudaram a jogar a economia nesse buraco.
O erro fundamental foi a reversão da política monetária em fins de 2012, voltando a subir
a Selic justo em um momento em que se iniciava um remanejamento dos investimentos ‒
dos fundos de pensão e dos grandes gestores de fortunas – em direção à infraestrutura e a
investimentos de longo prazo.
Fonte: site Carta Capital. Acesso em 12/09/2016
Notícia:
Pela primeira vez, cientistas registram lesão cerebral por zika em feto de
macaco. Antes disso, microcefalia por zika só tinha sido reproduzida em roedores.
Malformação foi detectada em feto cuja mãe foi infectada na gravidez.
Mariana Lenharo
capítulo 5 • 121
haviam conseguido reproduzir a microcefalia por zika em camundongos, em um importante
estudo brasileiro publicado em maio na revista Nature.
Pesquisas anteriores também já tinham sido bem sucedidas em infectar primatas não
humanos com o vírus da zika, mas esta é a primeira vez que se consegue reproduzir as
malformações decorrentes do vírus nesses animais.
Trata-se de um avanço importante já que primatas humanos e não humanos têm muitas
similaridades, por isso os macacos podem servir para testar estratégias terapêuticas contra
o vírus de forma mais eficiente do que os roedores.
O estudo atual, liderado por pesquisadores da Universidade de Washington, nos Estados
Unidos, foi publicado na revista Nature Medicine nesta segunda-feira (12).
“Nossos resultados eliminam qualquer dúvida que possa ter restado de que o vírus da zika
é incrivelmente perigoso para o feto em desenvolvimento e dá detalhes de como as lesões
cerebrias se desenvolvem”, afirmou a pesquisadora Kristina Adams Waldorf, professora da
Universidade de Washington e principal autora do estudo, em um comunicado divulgado
pela instituição.
Segundo os pesquisadores, os problemas observados no desenvolvimento cerebral
dos fetos de primatas são compatíveis com a síndrome congênita do zika observada em
humanos. “Ficamos chocados quando vimos a primeira imagem de ressonância magnética
do cérebro fetal 10 dias após a inoculação do vírus. Não tínhamos previsto que uma área
tão grande do cérebro fetal seria danificada tão rapidamente”, disse a pesquisadora Lakshmi
Rajagopal, também professora da Universidade de Washington e uma das autoras do estudo.
Fonte: site G1. Acesso em 12/05/2016
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Analisando os textos, é
possível destacar informações,
pesquisa, apuração de dados,
numa linguagem objetiva,
informativa que pretende ser
de utilidade pública.
Fonte: https://goo.gl/k5D6ZB
capítulo 5 • 122
Plano da expressão e plano do conteúdo
Fonte: https://goo.gl/RhWIYN
capítulo 5 • 123
Aí há textos verbal e não verbal. Em ambos há o plano da expressão e o
do conteúdo. O primeiro pode ser analisado na imagem e nas palavras, mas o
conteúdo está no conjunto, nas inferências que se faz a partir do conhecimento
que se tem do assunto, nas significações possíveis a partir da proposta. Parte-se das
formas (cores, imagens, movimentos, seleção de objetos e palavras) ‒ é o plano
da expressão ‒ e há ainda os valores sociais e ideológicos que naturalmente essas
formas vão provocar no interpretante, visto que existe uma situação enunciativa
que compõe o conteúdo, o conjunto de ideias que se articulam na mente do
observador ‒ é o plano do conteúdo.
Fonte: https://goo.gl/RhWIYN
Fonte: https://goo.gl/SNqpMM
capítulo 5 • 124
Os signos verbais e não verbais (formas de expressão) das peças publicitárias podem
ser analisados no plano do conteúdo porque, de alguma forma acionam discursos
anteriores conhecidos e conceitos pré-construídos (MAINGUENEAU, 2002).
Linguagem simbólica
É proibido fumar
capítulo 5 • 125
com o termo isolado, como por exemplo tavola (mesa): ele se nos apresenta como
membro virtual de diferentes frases em que se fala de coisas diferentes; sozinho,
porém, não permite reconstruir o estado de consciência de que se fala. (BUYSSENS,
1943, p. 38, apud ECO, 1991)
Veja:
Fonte: https://goo.gl/SNqpMM
Fonte: https://goo.gl/SNqpMM
capítulo 5 • 126
Após cinco anos de debates internacionais e de trabalho que envolveu
especialistas, autoridades, personalidades, organizações e entidades de todo o
mundo, foi oficialmente lançada no final de 2010 a ISO 26000, conhecida como
a norma da responsabilidade social.
De uma cultura para outra os sentidos mudam, por isso é necessária a
compreensão da cultura em que os símbolos são criados para que a comunicação
seja eficaz.
A relação entre a imagem e o conceito precisa ser criada para que haja
partilhamento do conteúdo expresso.
Fonte: Shutterstock
capítulo 5 • 127
Em seu caráter aberto, o texto não tem um significado “teológico” (o que
Barthes chama de a mensagem do Autor-Deus), mas se constitui num
“espaço de muitas dimensões, no qual estão casados e contestados
vários tipos de escrituras, não sendo nenhum deles original: o texto é
um tecido de citações que resulta de milhares de fontes de cultura.”
(BARTHES, 1988, p. 68-69, apud SANTOS, 2007)
capítulo 5 • 128
Cabe lembrar Umberto Eco, que em Obra Aberta (1960) chamava a atenção
para os possíveis desdobramentos interpretativos, pois, ao tornar público um texto,
o autor passa ao leitor a incumbência de coautor. Cada leitura é uma reinvenção
de cenas, de emoções, deixa-se de ter um eu-autor e passa-se ao eu-lírico, ao eu-
interpretante, ao eu-possível.
Embora possa parecer, as interpretações não são aleatórias; há uma estrutura
reguladora. Eco (1991) propõe que o signo é “aquilo que sempre nos faz conhecer
algo mais”.
capítulo 5 • 129
Nota: O original, de autoria desconhecida, parece ter sido escrito em espanhol e a tradução para português é muitas
vezes atribuída, de forma errônea, a Clarice Lispector.
Signo é aquilo que, sob certo aspecto ou modo, representa algo para
alguém. Dirige-se para alguém, isto é, cria, na mente dessa pessoa, um
signo equivalente, ou talvez um signo mais desenvolvido. Ao signo assim
criado denomino interpretante do primeiro signo. O signo representa
alguma coisa, seu objeto. Representa seu objeto não em todos os seus
aspectos, mas como referência a um tipo de ideia que eu, por vezes
denominei fundamento do representâmen. (PEIRCE, 2003, p. 46)
capítulo 5 • 130
Tipologias textuais
EXEMPLO
POEMA TIRADO DE UMA NOTÍCIA DE JORNAL:
JOÃO GOSTOSO era carregador de feira livre e morava no morro da Babilônia num
barracão sem número.
Uma noite ele chegou no bar Vinte de Novembro
Bebeu
Cantou
Dançou
Depois se atirou na lagoa Rodrigo de Freitas e morreu afogado.
(BANDEIRA, Manuel. Libertinagem)
capítulo 5 • 131
Tragédia brasileira
capítulo 5 • 132
Narração em 1a pessoa:
“Termino o livro e fecho o computador sabendo que por mais que os escritores
escrevam, os músicos componham e cantem, os pintores e escultores joguem
com formas, cores e luzes -, por mais que o contexto paralelo da arte expresse o
profundo contraditório sentimento humano, embora dance à nossa frente e
nos convoque até o último fio de lucidez, o essencial não tem nome nem forma: é
descoberta e assombro, glória ou danação de cada um”.
(LUFT, Lya. Perdas e Ganhos. 34 ed. Rio de Janeiro: Record, 2009, p. 24)
“Manuelzão, em meio à festa, descobre-se numa encruzilhada. Sua saúde já não é tão
boa, a morte não é tão remota, ele tem medo de retornar à miséria na qual nasceu,
e pesa-lhe não ser o dono do lugar, ainda que respeitado. Tem um filho do qual não
gosta nem respeita, numa atração inequívoca pela nora. Mas o que a festa começa a
desmanchar nele é a alienação de si mesmo, de quem sublimou no trabalho ininterrupto
todas as perplexidades da vida. Nem novo (como os vaqueiros que se divertem) nem
velho (como Seo Camilo, a quem recolhe como agregado ou o Senhor de Vilamão, um
latifundiário caduco), ele sente solidão de quem tem que estar em atividades constantes
para não cair na angústia. Enquanto Miguilim descobria o mundo, Manuelzão tenta
redescobrir o seu sabor dificultosamente, através das estórias contadas na festa pelos
representantes daqueles seres que não se consomem na luta pela vida, párias de uma
sociedade obcecada pelo produtivo: Joana Xaviel e Seo Camilo, figuras que atraem
Manuelzão assim como o irmão de sua nora, Promitivo, com sua vadiagem simpática,
enquanto o filho trabalhador lhe causa antipatia”.
(ROSA, 1970)
capítulo 5 • 133
Descrição: nessa tipologia, o objetivo principal é descrever pessoas, lugares,
situações ou até objetos. Na literatura pode apresentar-se como descrição subjetiva
e deve fazer o leitor criar uma imagem mental do que foi descrito, por isso, quanto
mais detalhes forem empregados, melhor interação com o leitor.
Esse tipo de texto não se limita ao espaço e nele predominam substantivos,
adjetivos e, quando são usadas formas verbais, geralmente, ocorrem com verbos
de estado. Há também o emprego de linguagem figurada de modo a torná-lo
mais criativo.
Na poesia:
Retrato
Cecília Meireles
Na prosa:
“Eu sou um menino maior que muitos e menor que outros. Na cabeça tenho cabelo que
mamãe manda cortar muito mais do que eu gosto e, na boca, muitos dentes, que doem.
Estou sempre maior que a roupa, por mais que a roupa do mês passado fosse muito
grande. Só gosto de comer o que a mãe não me quer dar e ela só gosta de me dar o
que eu detesto. Em matéria de brincadeiras as que eu gosto mais são as perversas, mas
essa minha irmãzinha grita muito”. (Millôr Fernandes)
capítulo 5 • 134
Os autores se descrevem de forma subjetiva. Na poesia, há muita sensibilidade diante
de uma visão mais amarga. Na prosa, o autor se coloca numa posição mais infantil e uma
linguagem simples e tratada com humor.
Bocatorta
“Bocatorta excedeu a toda pintura. A hediondez personificara-se nele, avultando,
sobretudo, na monstruosa deformação da boca. Não tinha beiços, e as gengivas largas,
violáceas, com raros tocos de dentes bestiais fincados as tontas, mostravam-se cruas,
como enorme chaga viva. E torta, posta de viés na cara, num esgar diabólico, resumindo
o que o feio pode compor de horripilante. Embora se lhe estampasse na boca o quanto
fosse preciso para fazer aquela criatura a culminância da ascosidade, a natureza malvada
fora além, dando-lhe pernas cambaias e uns pés deformados que nem remotamente
lembrariam a forma de um pé humano. E os olhos vivíssimos, que pulavam das órbitas
empapuçadas, veiados de sangue na esclerótica amarela. E pele grumosa, escamada de
escaras cinzentas. Tudo nele quebrava o equilíbrio normal do corpo humano, como se a
teratologia caprichasse em criar a sua obra-prima”.
(Monteiro Lobato)
O autor desconstrói a imagem da descrição física comum e cria uma visão grotesca do
personagem.
OS AVENTUREIROS
I CENÁRIO
“De um dos cabeços da Serra dos Órgãos desliza um fio de água que se dirige para o norte, e
engrossado com os mananciais que recebe no seu curso de dez léguas, torna-se rio caudal.
É o Paquequer: saltando de cascata em cascata, enroscando-se como uma serpente, vai
depois se espreguiçar na várzea e embeber no Paraíba, que rola majestosamente em seu
vasto leito.
Dir-se-ia que, vassalo e tributário desse rei das águas, o pequeno rio, altivo e sobranceiro
contra os rochedos, curva-se humildemente aos pés do suserano. Perde então a beleza
selvática; suas ondas são calmas e serenas como as de um lago, e não se revoltam contra
os barcos e as canoas que resvalam sobre elas: escravo submisso, sofre o látego do senhor.
capítulo 5 • 135
Não é neste lugar que ele deve ser visto; sim três ou quatro léguas acima de sua foz,
onde é livre ainda, como o filho indômito desta pátria da liberdade.
Aí, o Paquequer lança-se rápido sobre o seu leito, e atravessa as florestas como o tapir,
espumando, deixando o pelo esparso pelas pontas do rochedo, e enchendo a solidão
com o estampido de sua carreira. De repente, falta-lhe o espaço, foge-lhe a terra; o
soberbo rio recua um momento para concentrar as suas forças, e precipita-se de um só
arremesso, como o tigre sobre a presa.”
(ALENCAR. O Guarani)
Esse trecho apresenta uma visão metafórica do local descrito. Há muitas linguagens
figuradas próprias da literatura do Romantismo.
Sou muito especial. Minha tecnologia é insuperável. Funciono sem fios, bateria, pilhas
ou circuitos eletrônicos. Sou útil até mesmo onde não há energia elétrica. E posso ser
usado mesmo por uma criança: basta abrir-me.
Nunca falho, não necessito de manual de instruções, nem de técnicos que me consertem.
Dispenso oficinas e ferramentas. Sou isento a vírus, embora figure no cardápio das
traças. Se algo em mim o leitor não entende, há um similar que explica todos os
meus vocábulos.
Através de mim as pessoas viajam sem sair do lugar. Não é fantástico? Basta abrir-me e
posso levá-las a Roma dos Césares ou à Índia dos brâmanes, aos estúdios de Hollywood
ou ao Egito dos faraós, ao modo como as baleias cuidam de seus filhos e aos paradoxos
dos buracos negros.
Sou feito de papiro, pergaminho, papel, plástico e, hoje, existo até como matéria virtual.
Domino todos os ramos do conhecimento humano. E, ao contrário dos seres humanos,
jamais esqueço. Se me consultam, elucido dúvidas, respondo indagações, estimulo a
reflexão, desperto emoções e ideias.
Fonte: site Adital. Acesso em 17/09/2016)
Aqui se tem uma descrição subjetiva, na qual o autor se coloca no lugar do objeto descrito.
capítulo 5 • 136
Dissertação:
Argumentativa
Suponha que, na escola pública do seu filho, o professor de história é fã de Jair Bolsonaro.
Ele ensina que o governo militar não foi uma ditadura, e sim uma democracia que fez muito
bem ao matar comunistas. Na prova de fim de ano, seu filho dá uma opinião diferente – e
leva zero. Você reclama à diretoria, que dá razão ao professor e diz a você:
capítulo 5 • 137
– Escola sem pensamento crítico não é escola!
Intelectuais que eu admiro, como Joel Pinheiro da Fonseca e Luiz Felipe Pondé, acreditam
que o movimento Escola sem Partido acerta no diagnóstico (a doutrinação de esquerda das
escolas) mas erra na solução (leis contra a doutrinação que tornariam o professor um refém).
Discordo da segunda parte. Fará muito bem às escolas públicas uma lei para proteger
alunos contra o proselitismo de professores, sejam esses professores fãs de Che
Guevara ou do coronel Ustra. A lei não necessariamente restringirá a liberdade de
ensino e terá o poder de preservar alunos contra a discriminação ideológica.
Assim como o professor não pode agir com preconceito contra etnias ou preferências
sexuais, também não pode discriminar de acordo com a opção partidária.
No ensino público (falo apenas das escolas públicas; não acho que o governo deve se
meter nas escolas privadas), professores são pagos para preparar alunos ao debate,
para a tolerância a ideias divergentes. Geralmente contrários à privatização, professores
de esquerda privatizam o espaço público quando usam a sala de aula para pregação
política. Muitos deles mal percebem a diferença entre ensino e doutrinação.
A Constituição passa rápido pelo assunto. Determina que o ensino deve ser ministrado
com base no princípio do “pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas, e
coexistência de instituições públicas e privadas de ensino”. É pouco. Não faria mal uma
lei que estabelecesse critérios mais precisos e desse ferramentas para pais e alunos
reclamarem de professores abusivos.
É verdade que a tentação legiferante, a crença de que leis resolverão todos os
problemas do país, costuma resultar em tiros no pé. Não é o caso aqui. A lei só garantiria
uma liberdade negativa, o direito de não ser discriminado pelo professor. Os membros
do Escola sem Partido já disseram diversas vezes que estão abertos à discussão e
defendem uma lei que contenha abusos sem mexer na liberdade de ensino.
O apreço à divergência de ideias é o bem mais valioso que professores podem transmitir
aos alunos. Se tantos professores brasileiros não reconhecem esse bem, e pior, se
discriminam alunos por causa da opinião política, uma lei para proteger a livre opinião
nas escolas públicas viria muito bem a calhar. Fonte: site Veja.
Expositiva
Esse tipo de dissertação pretende informar sobre determinado assunto. Para
isso, é preciso enumerar características de modo claro e conciso. É a linguagem
própria de reportagens, resumos, artigos, seminários, fichamentos etc.
capítulo 5 • 138
EXEMPLO
1) Suspeito por explosões em Nova Jersey e Nova York é detido
Ahmad Khan Rahami foi detido pela polícia em Linden, Nova Jersey, após trocar
tiros com a polícia
(Da redação access_time 19 set 2016, 12h48. Atualizado em 19 set 2016, 14h25)
O cidadão americano nascido no Afeganistão e procurado por conexão com as explosões
em Nova York e Nova Jersey foi preso nesta segunda-feira após trocar tiros com a polícia,
informou a imprensa americana. Ahmad Khan Rahami foi detido pela polícia em Linden, Nova
Jersey, reporta o site do jornal The New York Times. Rahami foi levado em uma ambulância
depois de ficar ferido no tiroteio com a polícia, segundo imagens da rede CNN.
Fonte: site Veja.
capítulo 5 • 139
se encaixaria no perfil delineado para o bóson de Higgs. A massa detectada é 133 vezes
mais pesada do que os prótons no centro de cada átomo.
Fonte: site Revista Planeta.
3) SINOPSE
PARATODOS
SUPERAÇÃO É SÓ O COMEÇO PARA ESSA HISTÓRIA
Texto injuntivo
É indicado para se realizar uma ação qualquer, é instrucional. Usa linguagem
objetiva e simples com verbos no imperativo, no infinitivo ou no futuro do
presente. É encontrado em receitas, bulas, uso de aparelhos.
EXEMPLO
1)
Fonte: https://goo.gl/Smwngr
capítulo 5 • 140
2)
GÊNERO PUBLICITÁRIO
Fonte: https://goo.gl/6cmY1x
capítulo 5 • 141
GÊNERO TUTORIAL
Fonte: https://goo.gl/qC6VZx
HISTÓRIA EM QUADRINHOS
Fonte: https://goo.gl/EsVhdw
CHARGE
Fonte: https://goo.gl/qC6VZx
capítulo 5 • 142
são ainda gêneros textuais uma peça de teatro, uma entrevista, um poema, um
aviso, um e-mail, uma logomarca, um anúncio, um folheto, um banner, uma
carta, um romance, entre tantos outros.
Roland Barthes fala da obra como algo fechado em si, acabado, enquanto
o texto seria o que ultrapassa a obra, pois se estende à construção do sentido.
Para esse autor, a obra estaria condicionada a fatores históricos, políticos, sociais,
portanto, precisa acompanhar o conceito de literatura vigente em um determinado
contexto. É simbólica. O texto, ao contrário, precisa ser revisitado, pois “pratica
o recuo infinito do significado”; deve passar por constante revisão e ampliação. O
texto é dinâmico, plural.
Para tratar do pós-modernismo, é preciso fazer um pequeno roteiro histórico
já que essa ideia surgiu pela primeira vez no mundo hispânico (1930), mas coube
a Jean-François Lyotard (1979), com a publicação “A condição pós-moderna”, a
expansão do conceito. A perda da historicidade e o fim da grande narrativa visavam
buscar novos espaços: feminismo, ecologia, intertextualidade, intersemiotização,
pluralidade cultural, polarização social etc.
A pós-modernidade se preocupa com o instantâneo, desaparecem fronteiras
e o mundo se globaliza ‒ é época da virtualidade, da imagem, do som e do texto
com diferentes graus de complexidade.
Rouanet (1987, p. 229) escreve:
(...) depois da experiência de duas guerras mundiais, depois de
Auschwitz, depois de Hiroshima, vivendo num mundo ameaçado
pela aniquilação atômica, pela ressurreição dos velhos fanatismos
políticos e religiosos e pela degradação dos ecossistemas, o homem
contemporâneo está cansado da modernidade. Todos esses males são
atribuídos ao mundo moderno. Essa atitude de rejeição se traduz na
convicção de que estamos transitando para um novo paradigma. O
desejo de ruptura leva à convicção de que essa ruptura já ocorreu, ou
está em vias de ocorrer (...). O pós-moderno é muito mais a fadiga
crepuscular de uma época que parece extinguir-se ingloriosamente
que o hino de júbilo de amanhãs que despontam. À consciência
pós-moderna não corresponde uma realidade pós-moderna.
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Nesse sentido, ela é um simples mal-estar da modernidade, um
sonho da modernidade. É literalmente, falsa consciência, porque
consciência de uma ruptura que não houve, ao mesmo tempo, é
também consciência verdadeira, porque alude, de algum modo, às
deformações da modernidade.
(apud Revista Espaço Acadêmico n. 35. Abril 2004)
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Ler textos dessa nova fase significa um novo leitor.
Alguns exemplos:
“Se houver uma camisa preta e branca pendurada no varal durante uma tempestade, o
atleticano torce contra o vento. Ah, o que é ser atleticano? É uma doença? Doidivana
paixão? Uma religião pagã? Bênção dos céus? É a sorte grande? O primeiro e único
mandamento do atleticano é ser fiel e amar o Galo sobre todas as coisas. Daí, que a
bandeira atleticana cheira a tudo neste mundo.
A gente muda de tudo na vida. Muda de cidade. Muda de roupa. Muda de partido político.
Muda de religião. Muda de costumes. Até de amor a gente muda. A gente só não muda
de time, quando ele é uma tatuagem com a iniciais C.A.M., gravada no coração. É um
amor cego e têm a cegueira da paixão.”
(Roberto Drummond)
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“Toda e qualquer política que repousa sobre a prisão e o ressentimento conduz a
nada, no máximo a uma ideologia de crucificados e mártires, que terminam por ser
os fracassados heróis da causa. Livrar-me do raciocínio que considera a experiência
como positiva para a luta política não significa cair em raciocínio oposto: aceitá-la como
negativa para a minha individualidade no campo social. Nem positiva para mim enquanto
homem político, nem negativa para a mim enquanto cidadão. Qualquer aproveitamento
político da prisão é sinal de imaturidade no plano psicológico e de fraqueza no campo
partidário: nada se constrói sobre os pilares da perseguição”
(SANTIAGO, 1994, p. 57).
“Quando o silêncio se refez dentro do silêncio, Martim adormeceu ainda mais longe.
Embora no fundo do sono alguma coisa ecoasse difícil, tentando se organizar. Até que,
sem nenhum sentido e livre do incômodo de precisar ser compreendido, o ruído do carro
se refez na sua memória com as minúcias mais finamente discriminadas. A ideia do
carro despertou um aviso suave que ele não entendeu de pronto. Mas que já espalhara
pelo mundo um vago alarme, cujo centro irradiador era o próprio homem: ‘assim, pois,
eu’, pensou seu corpo se comovendo. Continuou deitado, remotamente gozando”
(LISPECTOR, 1961, p. 4).
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Também entram nesse contexto:
AS CHARGES
Fonte: https://goo.gl/VY8JFk
OS POEMAS
Fonte: https://goo.gl/U12Xj6
capítulo 5 • 147
Fonte: https://goo.gl/o2J6Hk
O design:
Fonte: https://goo.gl/EG22OT
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O interpretante e os argumentos
Na relação triádica de Peirce, o interpretante corresponde à relação entre o
rema, o dicente e o argumento.
EXEMPLO
Por exemplo: pomba. É um termo, um enunciado que depende de averiguação para se
tornar verdade.
Caso a palavra seja inserida em uma frase, como “A pomba voou livre pela praça.”, em
lugar de um termo, tem-se uma sentença. Em Semiótica, essa sentença chama-se dicente
(dici-signo ou dissisigno). Há outros elementos além do termo “pomba” que permitem
averiguação da verdade.
No entanto, se a sentença for “Depois que foi solta da gaiola, a pomba voou livre pela
praça.”, há uma comprovação do que foi dito “Depois que foi solta da gaiola” ‒ é o argumento
que justifica o que foi dito.
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Munch, com sua arte na pintura “O Grito” trouxe
a questão do homem moderno angustiado, usou
a imagem para expressar o cidadão na pós-
modernidade com seus conflitos, incertezas.
Revendo símbolos:
A cruz suástica é uma cruz cujos braços definem
um sentido giratório, em um movimento de rotação
em torno de um centro imóvel, uma vez que representa
um símbolo de ciclo, de manifestação, de ação e
de regeneração.
CURIOSIDADE
A suástica gamada
Símbolo antigo e universal do Sol, a suástica, também chamada de “Cruz Gamada”,
representa o ciclo do nascimento e do renascimento, sendo, portanto, o símbolo da
condição cósmica de contínuo movimento. Desse modo, esse símbolo místico corresponde
ao emblema do fogo divino, donde a energia criadora que constrói os mundos torna-se a
chave para o ciclo da ciência humana e divina. Note que, a despeito de ser um símbolo
solar, a suástica também está associada aos quatro pontos cardeais, aos quatro elementos,
aos quatro ventos.
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Ganhou um movimento diferente do símbolo original, mas, graças à
propaganda, foi o que ficou mais conhecido. Mudou o interpretante, mudaram o
símbolo e seu significado.
É interessante que os símbolos nos rodeiam e nem sempre nos damos conta de
que, para chegar a esse estágio, o interpretante valeu-se de argumentos.
CURIOSIDADE
Você sabia que o sabiá é símbolo do Brasil?
Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
DECRETO DE 3 DE OUTUBRO DE 2002.
Dispõe sobre o “Dia da Ave” e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso
II, da Constituição, DECRETA:
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Art. 2º O centro de interesse para as festividades do “Dia da Ave” será o Sabiá (Turdus
Rufiventris), como símbolo representativo da fauna ornitológica brasileira e considerada
popularmente Ave Nacional do Brasil.
EXEMPLO
I. “Minha terra tem palmeiras
Onde canta o Sabiá
As aves que aqui gorjeiam
Não gorjeiam com lá”
(Gonçalves Dias)
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Como exemplo, podem ser mencionados os emoticons que tanto sucesso fazem
hoje em dia:
EXEMPLO
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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