Carreira no terceiro Reich[editar | editar código-fonte]
Peenemünde[editar | editar código-fonte]
Um foguete V-2 no centro de testes de Peenemünde em 1942.
Já ao final de 1935, ficava muito claro que as instalações de Kummersdorf eram
insuficientes para acomodar a rápida expansão do programa de mísseis. Para testar os mísseis muito maiores que estavam sendo planejados, eles necessitariam de algumas centenas de quilômetros de área de testes. Com essa necessidade em mente, uma área próxima ao Mar Báltico passou a ser seriamente considerada. O Exército e a Força Aérea concordaram em usar a área da ilha de Usedom para esse fim. Entre 1937 e 1945, Wernher von Braun foi o diretor técnico do recém criado centro de pesquisas do Exército de Peenemünde, onde ele liderou o desenvolvimento do míssil Aggregat 4 (A4), um grande foguete movido a combustível líquido. A partir de 1943, esse míssil foi posto em produção, e logo depois das suas primeiras missões sobre Londres, passou a ser conhecido como: Vergeltungswaffe 2 (V-2), ou "Arma de Vingança 2". Esse foi o primeiro míssil terra-terra a combustível líquido operacional do Mundo, contando com sistemas de controle por giroscópio que permitiam estabilizar e controlar o voo de forma automática e autônoma. Desde junho de 1943, foi instalado um campo de concentração.[12] Além dele, havia um segundo campo, este de prisioneiros, na área de Karlshagen-Trassenheide, comportando cerca de 1400 homens.[13] Além desses havia mais cerca de 3000 "trabalhadores do leste europeu" (da Polônia e da União Soviética).[14] Boa parte desse contingente foi usado como mão de obra na fábrica dos foguetes V-2 em Peenemünde. Em várias passagens de suas anotações, von Braun menciona o uso de mão de obra de prisioneiros nas fábricas de Peenemünde, deixando claro que ele tinha consciência das condições em que isso se dava.[15] Ocorreu também troca de memorandos com outros diretores, onde as condições precárias dos prisioneiros são mencionadas.[16] Em 1945, atingindo regularmente 200 km de altitude, o foguete V-2, passa a ser o primeiro foguete a ultrapassar o "limite oficial do espaço" (100 km).
Envolvimento com o regime Nazista[editar | editar código-fonte]
Wernher von Braun em Peenemünde, na primavera de 1941.
Wernher von Braun teve um relacionamento complexo e ambivalente com o regime do
terceiro Reich. Quando já nos Estados Unidos, ele sempre negou qualquer envolvimento político com o regime da época, alegando que a sua filiação ao Partido Nazista teve a intenção apenas de permitir que ele continuasse no "trabalho de sua vida". A sua filiação ao Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores, foi registrada em 1 de dezembro de 1938, sob o número 5738692.[17] Em 1 de maio de 1940, ele se tornou membro da Allgemeine SS (SS-Nr. 185068), uma unidade desarmada daquela força. Von Braun também alegou mais tarde que sua associação a esta força foi para se proteger de caçadas anticomunistas, dizendo que vestiu aquele uniforme apenas uma vez, havendo controvérsias quanto a essa afirmação.[17] Na SS, ele começou com a patente de segundo tenente, tendo sido promovido três vezes por Himmler, a última delas em 1943 para major. Von Braun argumentou que essas promoções eram técnicas, recebidas todo ano pelo correio.[8] Com o desenvolvimento do A-4, ele criou uma arma sem precedentes em termos de alcance e velocidade, capaz de transportar uma tonelada de explosivos até o alvo. A precisão em relação ao alvo final, no entanto, era pequena, fazendo desta uma arma de terror contra a população civil, o que resultou em mais acusações contra von Braun. Naquela época no entanto, ele prosseguiu não só trabalhando na arma, como também fazendo campanhas e visitas as autoridades a favor do potencial dos foguetes. Em 22 de dezembro de 1942, Hitler assinou a aprovação para a produção do A-4. Numa das visitas de von Braun ao quartel general de Hitler em 7 de julho de 1943, ele exibiu um filme colorido mostrando a decolagem de um A-4. Hitler ficou tão entusiasmado que concedeu pessoalmente a von Braun o título de Professor. Na Alemanha da época, este era um título excepcional para um engenheiro de apenas 31 anos de idade.[18] Naquela época, as inteligências britânica e soviética já tinham ciência do programa de foguetes e do trabalho da equipe de Von Braun em Peenemünde. Durante as noites de 17 e 18 de agosto de 1943, a operação Hydra do comando de bombardeiros da RAF enviou missões de bombardeio sobre a ilha, compostas por 596 aviões que despejaram 1 800 toneladas de explosivos.[19] Por um conjunto de fatores, boa parte do centro de pesquisa ficou intacto, e a maior parte da equipe permaneceu a salvo. No entanto, o projetista de motores Walter Thiel e o engenheiro chefe Walther foram mortos e o programa sofreu atrasos.[20][21] Em março de 1944, von Braun foi pivô de uma conspiração de Heinrich Himmler para obter o controle de todos os programas de armamento alemães, inclusive o de foguetes. Com isso, von Braun foi detido em 15 de março de 1944,[22] e levado para uma cela da Gestapo na Polônia, onde ficou detido por duas semanas, até que Dornberger conseguiu a sua "liberdade condicional". O primeiro A-4 de combate, rebatizado como V-2 (Vergeltungswaffe 2, "Arma de Vingança 2"), para fins de propaganda, foi lançado contra a Inglaterra em 7 de setembro de 1944, apenas 21 meses depois de o projeto ter sido aprovado oficialmente. Em 29 de outubro daquele mesmo ano, Wernher von Braun e Walter Dornberger foram condecorados com a Cruz do Cavaleiro de mérito de guerra, pelos resultados das operações com a V-2.