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Resumo:
A música Rap ultrapassou as fronteiras dos guetos e tornou-se uma forma de expressão
cultural marcadamente inserida como um canal de resistência social. Porém outra faceta
deste gênero é que ele não necessariamente se apóia em imagens para que seja entendido e
para criar significação. É um retorno, um resgate aos registros sensoriais da oralidade, da
fala e da audição. Aproveitando-se de uma crise de saturação imagética que insiste em
permanecer em nossa cultura da mídia, o Rap surge como uma nova forma cultural
permeada de sentidos de luta e resistência social que se consolida através da própria
resistência a função exacerbadora das imagens. O Rap dá o tom de uma nova
possibilidade de romper com o estatuto da imagem em nossa cultura para inaugurar um
resgate ao mundo dos sentidos esquecidos por nós já há algum tempo.
Abstract
The Rap music exceeded the borders of the ghettos and became a form of inserted cultural
expression as a canal of social resistance. However another one side of this sort is that it if
not necessarily support in images so that it is understood and to create meaning. It is a
return, a rescue to the sensorial registers of the orality, of it speaks and the hearing. Using
to advantage itself of a crisis of the image saturation that it insists on remaining in our
culture of the media, the Rap appears as a new cultural form of felt of fight and social
resistance that if the increasing functions of the images consolidates through the proper
resistance. The Rap gives the tone of a new possibility to breach with the statute of the
image in our culture to inaugurate a rescue to the world of the directions forgotten for us
already has some time.
1
Trabalho apresentado para obtenção de nota na disciplina Mídias e cultura ministrada pelo Prof. Dr. Alberto
Klein do programa de Mestrado em Comunicação e Linguagens da Universidade Tuiutí do Paraná - UTP
Introdução
2
Rappers que cantam, compõem as músicas e animam os bailes.(CONTIER, 2005)
A partir daí, novos ingredientes foram sendo colocados como marcas de
identidade dos negros norte-americanos, criando assim o movimento chamado Hip-Hop,
que provém do inglês to hip e to hop, ou seja, movimentar os quadris e saltar.(CONTIER
2005)
Foram desenvolvidas novas formas de música, dança e canto, apropriadas à
experiência e a cultura negra da sociedade norte-americana. O grafite urbano, o break, as
rádios segmentadas e os Disc-jóqueis - Dj’s de clubes que praticavam o chamado
sampling (sobreposição de músicas populares com sons do rap e ruídos eletrônicos), o
scratching (movimentação rápida da agulha sobre o disco) e o punch-phrasing (mudança
hábil de um prato para outro).
O Rap é na realidade a forma, ou o estilo musical do movimento. Esse
movimento é constituído basicamente por outras formas de expressão além da música,
como o break (a dança) e o grafitismo (a expressão plástica). Em suma, os praticantes
desta forma cultural pregam ser esta um modo de vida, uma filosofia cultural das ruas e
dos guetos das grandes cidades.
O Rap é uma forma cultural nascida nas ruas, que se destaca não só pelo seu
conteúdo mas também pela sua forma de expressão, onde a oralidade dá o tom das ações
principalmente quando é executado in loco nas comunidades expostas ao tema da música.
Douglas Kellner descreve assim a música Rap:
Foi natural o crescimento do movimento Rap que teve a seu favor ainda, novas
formas de gravação e reprodução de sons cada vez mais apoiados pela cultura da mídia e a
indústria cultural globalizada dos anos 90 e 2000.
Uma questão que não pode deixar de ser mencionada é o fato de que a música
rap acompanhou o próprio desenvolvimento e mutação da cultura mundial apoiada nas
novas tecnologias de gravação, reprodução e distribuição de formatos culturais,
derrubando fronteiras, quebrando regras comerciais, minimizando tabus e preconceitos
(apesar de ainda sofrer com eles) e estabelecendo um elo comum entre as comunidades
negras e pobres das sociedades onde é escutada.
O Rap é uma expressão cultural marcadamente ligada à tecnologia, uma vez
que utiliza a ritmos reproduzidos eletronicamente que são as bases, porém muitas vezes
também são utilizados apenas as cordas vocais e o próprio corpo para a produção do som.
Essa faceta do Rap é que interessa a esse trabalho e a partir dela, é que irão se
concentrar as atenções e o foco deste ensaio. O Rap enquanto forma cultural baseado na
oralidade, e que longe das formatações midiáticas tradicionais toma a forma da mais pura
expressão cultural nascida nos últimos tempos, passa a ser o núcleo da discussão.
É claro que não podemos esquecer do suporte em mídias terciárias4 que tanto
faz expandir a cultura Hip Hop e a música Rap, porém a forma da ação cultural que se
torna o alvo deste trabalho é justamente a forma mais “simples” e natural das
comunidades que, sem muitos recursos tecnológicos, ainda assim perpetuam a cultura Rap
em suas vidas e suas rimas.
4
Ver a “Teoria das Mídias” do autor alemão Harry Pross
O corpo na cultura Rap
A música Rap se difere dos outros gêneros musicais pelo fato de explorar com
mais propriedade a função da fala e da audição. As percepções que advém de seu
conteúdo são mais complexas devido a forma como a mensagem é disseminada. Não
podemos negar que também os sons geram imagens internas, mas diferentemente de
outras formas musicais e culturais, o ouvido é mais exigido e presume a existência de um
código novo e próprio daqueles que estão inseridos no meio Rap.
Nosso ouvido também participa da apropriação das imagens. O filme sonoro foi a
primeira mídia visual a explorar nossa capacidade de ligar som e visão de forma
aproximada. Tanto que o acompanhamento musical, já oferecido em filmes
mudos por um pianista, muda também a experiência das imagens no sentido de
que elas se tornam diferentes quando uma trilha sonora distinta forma a
impressão que se opera em nossos sentimentos (BELTING, 2001)
Esse espírito de ruptura estética e o desejo de dizer algo fora dos padrões
estabelecidos por uma sociedade, como forma de expressão aparece de acordo
com os novos modelos culturais ligados diretamente ao conceito de apropriação
(samplear bases melódicas existentes num outro contexto). Essas manifestações
causam estranhamento e incômodo social. (ROSA, 2004)
A música Rap como experiência do corpo com sua linguagem e sua oralidade
específicas retiradas dos guetos, nos trás princípios próprios para a compreensão da
parcela jovem das periferias, que produz uma nova forma de comunicação, dando
legitimidade à expressão cultural “vozes dos excluídos”. Surge um novo discurso
atribuído a um contingente de jovens negros e pobres nas grandes cidades que não tinham
suas vozes ouvidas e seus problemas sociais observados pelos setores públicos. O Rap
propõe uma maneira particular de abordar o corpo. A oralidade que esse discurso produz,
representa um corpo supostamente matizado pela violência, fragmentado e simulado.
(ROSA, 2004)
A crise da imagem e a oportunidade do som
Podemos pensar que o que aconteceu com a imagem, mesmo antes, ou a partir
da possibilidade de reprodução, aconteceu com a música. Se no aspecto imagético houve
uma saturação do olhar, uma cegueira, podemos afirmar que na música (nos sons) a
indústria cultural promoveu uma espécie de surdez.
A música Rap que nasce nos guetos e que tem por característica a sua
oralidade, resgata a forma de audição pré-reprodutibilidade. O Rap é ritmado pelo som
que quando executado interpessoalmente remete o ouvinte a uma experiência única
daquele momento. Os “ruídos” emitidos tanto pela voz, como que imitando o scratching,
tanto pela própria linguagem cadenciada pela letra, eleva a performance do Rap a um
novo grau de percepção da música contemporânea. Nas formas mais “puras” a voz do
rapper substitui o scratching, as cordas vocais se encarregam da reprodução. Podemos
observar a linguagem do Rap nas considerações de Jaramillo:
BELTING, Hans. Imagem, Mídia e Corpo: Uma nova abordagem à Iconografia - 2001 -
Texto apresentado na disciplina “Mídias e culturas” ministradas pelo Prof. Dr. Alberto
Klein.
ROSA. Celso Martins.- Cultura Rap nas conexões das linguagens artísticas -
http://geocities.yahoo.com.br/anpap_2004/textos/chtca/celso_rosa.pdf