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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO....................................................................................................06
2. ESTATUTO DO CONGRESSISTA.....................................................................07
2.1 IMUNIDADE MATERIAL........................................................................07
2.2 IMUNIDADE FORMAL...........................................................................08
2.3 PRERROGATIVA DE FORO.................................................................10
3. CONCLUSÃO.....................................................................................................11
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA............................................................................12
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1. INTRODUÇÃO

As prerrogativas dos congressistas estão previstas no art. 53 da Constituição


Federal e estabelecem as imunidades e privilégios que têm garantidos os deputados e
senadores. Suas origens remontam à Inglaterra do século XVII e à França
revolucionária de 1789. A criação dessas prerrogativas tornou-se vital para a proteção e
manutenção do Legislativo, tendo em vista ser esse um período de transição entre o
Antigo Regime e o ainda em construção Estado de Direito. Havia nessa transição
grande tensão entre o rei e o povo, consequentemente também entre os representantes
deste e aquele, chegando ao ponto de haver prisões de parlamentares em razão do
uso, considerado ilegal, de suas palavras e votos. Objetivava-se com tais regalias,
portanto, um equilíbrio entre o emergente Poder Legislativo e os outros poderes,
garantindo sua proteção contra arbitrariedades e possibilitando sua legítima
representação dos interesses da população.

Conquanto essas garantias possuam um escopo bom, o que se tem observado no


Brasil são as suas desvirtuações e utilização como forma de permanecer impune. Seja
por meio da imunidade formal, seja por meio da prerrogativa de foro, ou ainda da
imunidade material, os deputados e senadores têm se valido de garantias
constitucionais para evadir-se da justiça, um problema notório e ainda não sanado.

Com base nisso, pretende-se aqui tratar especificamente de cada prerrogativa dos
congressistas, a imunidade material, a imunidade formal e a prerrogativa de foro,
demonstrando como elas têm sido usadas para evitar uma punição do Estado, o
entendimento do STF sobre o assunto e o que se poderia fazer para melhorar a
deplorável situação.
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2. ESTATUTO DO CONGRESSISTA

2.1 IMUNIDADE MATERIAL

A imunidade material está prevista no caput do art. 53 da Constituição Federal e


diz respeito à inviolabilidade civil e penal dos deputados e senadores por quaisquer de
suas opiniões, palavras e votos1. A imunidade material é extensiva aos Deputados
Federais e Senadores, bem como aos Deputados Estaduais. Com relação aos
Vereadores, esta imunidade esta restrita aos limites do município no qual exerce seu
mandato.

Existem, ainda, mais especificidades quanto à imunidade material. Conforme aduz


o ministro Carlos Ayres Britto, no inquérito 1958 de 2004, "é de se distinguir as
situações em que as supostas ofensas são proferidas dentro e fora do Parlamento.
Somente nessas últimas irrogadas fora do Parlamento é de se perquirir da chamada
conexão com o exercício do mandato ou com a condição parlamentar. Para os
pronunciamentos feitos no interior das Casas Legislativas não cabe indagar sobre a
condição parlamentar. Para os pronunciamentos feitos no interior das Casas
Legislativas não cabe indagar sobre o conteúdo das ofensas ou a conexão com o
mandato, dado que acobertadas com o manto da inviolabilidade. Em tal seara, caberá à
própria Casa a que pertencer o parlamentar coibir eventuais excessos no desempenho
dessa prerrogativa"2. Também nesse inquérito, ressalta que “o parlamentar, no
exercício do seu mandato, não comete crime, porque exatamente inviolável” 3.

Observa-se, portanto, o cuidado o Pretório Excelso com a questão da imunidade


material. Não tendo as palavras proferidas fora da Casa a que pertence o parlamentar

1 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado,
1998.
2 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito n° 1.958 de 18 de fevereiro de 2004. In: MENDES, Gilmar

Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional.
4. ed. São Paulo: Saraiva. 2009. P. 942.
3 Idem.
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íntima relação com sua condição de Deputado ou Senador, não se entende este
preservado pela imunidade, mesmo esta não se restringindo ao âmbito espacial da
Casa. Dessa forma, observa-se uma mitigação desta imunidade, podendo, nesse caso,
ser o parlamentar punido. Vale ressaltar que alguém que seja injuriado por deputado ou
senador, beneficiado pela imunidade, e retruca de imediato, pode também ser livre de
repressão criminal.

No que tange à imunidade material, não há grandes problemas, porquanto é uma


garantia de suma importância para a atividade parlamentar e o Supremo já entende que
há situações em que deva ser desconsiderada dado o seu abuso.

2.2 IMUNIDADE FORMAL

As imunidades formais estão previstas nos parágrafos 2º, 3º, 4º e 5º do art. 53 da


Constituição Federal e garantem ao parlamentar não ser preso, salvo em flagrante de
crime inafiançável, ou não permanecer preso, por voto da Casa, assim como a
possibilidade de ser sustado o processo penal em curso contra ele.

A partir da expedição do diploma, não poderão os membros do Congresso


Nacional ser presos, salvo em flagrante de crime inafiançável, caso em que os autos
serão remetidos dentro de vinte e quatro horas à casa respectiva para que, por voto de
maioria dos seus membros, resolva sobre a prisão. Entende o STF, contudo, ser
possível a prisão decorrente de sentença judicial transitada em julgado, assim como a
soltura por voto da Casa não ser algo absoluto, havendo situações excepcionais, como
o habeas corpus 89417 RO, em que, na Assembléia Legislativa, dos 24 deputados
existentes, 23 eram indiciados em diversos inquéritos, o que desvirtua a norma
constitucional.

Ainda no que tange à imunidade formal, a partir da Emenda Constitucional nº 35


de 2001, o Supremo Tribunal Federal deverá, após recebida a denúncia contra
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parlamentar, dar ciência à Casa respectiva, que, por iniciativa de partido político nela
representado, poderá sustar o andamento da ação por voto da maioria dos seus
membros. Ressalte-se não poder o próprio réu pedir a sustação à Casa4.

A imunidade formal, diferentemente da material, não é essencial para o trabalho


do parlamentar, ao passo que gera diversos problemas para a efetivação do processo
penal. Com relação à impossibilidade de prisão após a diplomação, são notórias as
consequências práticas e maléficas que tal garantia gera, tendo em vista o uso da
candidatura como forma de evadir-se da prisão. Isso porque, apesar das exceções
acima referidas, outras formas de prisão expedidas até mesmo antes da diplomação
são embargadas a partir daí. Dessa forma, o que se objetiva que seja uma garantia
torna-se um mecanismo para se evitar os efeitos penais, seja os anteriores ou
posteriores à vitória nas eleições. Além disso, considerando-se a existência da
imunidade material, a imuidade formal no que diz respeito à prisão se mostra
desnecessária ao exercício da representação, visto que não tem relação intrínseca com
a função de parlamentar e, quando tem, já há imunidade. A partir disso, dever-se-ia
eliminá-la do ordenamento, ou, pelo menos, mitigar-lhe profundamente.

Outrossim, a sustação do processo se apresenta menos como uma prerrogativa e


mais como uma maneira de evitar a punição estatal. Apesar de ter sido mitigada pela
Emenda Constitucional n º 35 e agora o processo poder ser iniciado naturalmente,
apenas sobrestado depois pela Casa, essa sustação dificulta o processo de
conhecimento. Isso ocorre, pois, mesmo sendo a prescrição suspensa nesse ínterim, é
de se destacar que o processo penal prima pela verdade real, como salienta o Ilmo.
Nestor Távora5, sendo notório que, quanto mais se demora para realizar a instrução e
promover o julgamento, mais árduo é colher as provas necessárias à aproximação do
real acontecido. Ademais, isso promove uma diferenciação supérflua entre os
deputados e senadores e o cidadão comum, a quem representam, por alterar o devido
processo legal para uns e para outros, que deveria ser o mesmo para todos. Com base

4MENDES, Gilmar Ferreira et al. Op. Cit.


5TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual Penal. 7. ed. Salvador:
JusPodivm. P. 61.
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nisso, também é a sustação um dispositivo dispensável e que poderia ser eliminado da


nossa legislação.

2.3 PRERROGATIVA DE FORO

A prerrogativa de foro, ou prerrogativa de função, está delineada no art 53, §1º, da


Constituição Federal e determina que os deputados e senadores serão julgados pelo
Supremo Tribunal Federal desde a expedição do diploma. Dessa forma, todos os
processos que corriam contra o parlamentar antes da expedição do diploma passam a
ser competência do STF, cessando a competência no momento em que ele não exerce
mais a função. Além disso, todo o inquérito ocorre por coordenação do Supremo.

Embora não tanto como a imunidade formal, também a prerrogativa de foro


diversas vezes é usada como forma de ludibriar a justiça. Isso ocorre, pois, como no
caso da Ação Penal 3336, há quem se candidate ou mesmo renuncie ao mandato para
que haja a mudança de competência logo antes do julgamento, de modo a protelá-lo,
podendo mesmo chegar à prescrição e conseqüente extinção da punibilidade. Foi com
base nisso que o STF, na decisão da Ação Penal 3967, entendeu que, havendo
renúncia, pode o Supremo analisar se sua motivação foi a evasão ao julgamento pelo
Tribunal, ou a mudança de competência ocasionar a prescrição e, constatando a
manipulação de instância, permanecer na competência mesmo não estando mais o
parlamentar em suas funções.

Apesar de acertada, essa decisão ainda não soluciona outros problemas


ocasionados pela prerrogativa de foro. O Ministro Joaquim Barbosa, em entrevista à
revista VEJA8, expressa a sua discordância desse dispositivo, pois entende ser uma
forma que “os políticos conceberam para se proteger, um escudo para que as

6 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AP 333 PB.


7 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AP 396 RO.
8 GOMES, Joaquim Benedito Barbosa. Político não pega cadeia. Veja, São Paulo, n. 2221, p. 17-21, 15

de junho de 2011. Entrevista concedida a Hugo Marques.


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acusações formuladas contra eles jamais tenham conseqüências”. Isso porque “é difícil
conciliar esse rol gigantesco de competências que o Supremo tem com a condução de
um processo criminal”, dado que “coordenar a busca de provas, determinar medidas de
restrição à liberdade, invasivas de intimidade, são coisas delicadíssimas”. Aduz, ainda,
que essa “distinção cruel” entre o julgamento dos deputados e o do cidadão comum
“não deveria existir”.

Observa-se, portanto, também nessa prerrogativa, um privilégio longe de ser


essencial e que também poderia ser suprimido sem que houvesse perdas para o
exercício da função parlamentar. Contudo, tendo em vista a decisão do Pretório
Máximo supracitada, poder-se-ia mantê-lo, contanto que houvesse criação de
jurisprudência no sentido de que se observasse o princípio da perpetuatio jurisdictioni
no âmbito da Justiça Comum, para que não haja também nela situação semelhante à
referida anteriormente na renúncia.

3. CONCLUSÃO

Depreende-se, do acima exposto, ser as prerrogativas parlamentares tema atual e


ainda em discussão no mundo jurídico. Tendo o Estado o dever de perpetrar a justiça e
promover a igualdade, é imprescindível zelar para a não existência de normas
tendentes a obstruir a efetivação dessa função estatal.

Assim sendo, propõe-se, como solução aos problemas descritos, a criação de


Emendas Constitucionais que eliminem as prerrogativas que não são passíveis de
interpretação e proporcionam obstáculos à punição, como a sustação do processo, e,
nas que são passíveis de interpretação, como a prerrogativa de foro, que se forme
jurisprudência de modo a evitar abuso por parte dos parlamentares.
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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil.


Brasília, DF, Senado, 1998.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Inquérito n° 1.958 de 18 de fevereiro de 2004.

MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo


Gustavo Gonet. Curso de Direito Constitucional. 4. ed. São Paulo: Saraiva. 2009.

TÁVORA, Nestor; ALENCAR, Rosmar Rodrigues. Curso de Direito Processual


Penal. 7. ed. Salvador: JusPodivm.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AP 333 PB.

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. AP 396 RO.

GOMES, Joaquim Benedito Barbosa. Político não pega cadeia. Veja, São Paulo,
n. 2221, p. 17-21, 15 de junho de 2011. Entrevista concedida a Hugo Marques.

BRASIL. Tribunal Superior Eleitoral. Estudos Eleitorais. Vol. 5, nº 2, maio/agosto,


2010.

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