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VENTOS

Zeus, deus dos céus e pai dos deuses, deu a superintendência dos ventos a Eólio, que vivia
na ilha flutuante de Eólia juntamente com Aurora, sua mulher, e seus 6 filhos e 6 filhas
casados entre si.
Quando Ulisses saiu da ilha, foi-lhe dado um odre que continha os "os ventos uivantes"
podendo ser libertados consoante as necessidades. O sopro de Zéfiro foi então enviado
para ajudar os barcos a afastarem-se e prosseguirem a sua odisséia. No entanto, a
curiosidade e a ganância dos seus homens fez com que estes abrissem o odre, pensando
conter riquezas, libertando assim os ventos e desencadeando uma tempestade na qual
se afundariam, salvando-se apenas Ulisses.
Na mitologia moderna a história é outra e a explicação um pouco mais complexa. E assim...
Devido ao aquecimento e arrefecimento da superfície terrestre, formam-se respectivamente zonas de baixas e
altas pressões. Para equilibrar estas diferenças de pressões o ar desloca-se de uma alta para uma baixa
pressão, dando origem ao que chamamos Vento. Este ainda sofre umas deflexões devido a uma força
resultante da rotação da Terra (força de Coriolis), explicando-se assim o sentido de rotação diferente dos
ciclones no hemisfério Norte e Sul. A força do vento depende da velocidade do ar em movimento.
Meteorológicamente é dada em metros/segundo, mas, em termos náuticos, em nós (milhas marítimas/hora).
Desde o séc. XVI ou começo do seguinte, a tabela do piloto português Gaspar Manuel (cerca de 1604) era
preparada em função da ação do vento sobre uma nau da carreira da Índia. O nosso piloto chamou-lhe de
Léguas que uma nau das da carreira da Índia, poderá andar por singradura conforme ao vento que levar.
Esta é a primeira tabela que se conhece de classificação dos ventos.
A que se apresenta a seguir contem as respectivas conversões para milhas e nós.

Tabela de Gaspar Manuel


Vento Singradura (léguas) Singradura (milhas) Velocidade da nau em nós
Designação antiga Beaufort Bolina Popa Bolina Popa Bolina Popa
De governo Calmo 8 10 25,6 32 1,1 1,3
Calmo Aragem 12-14 14-16 38,4-44,8 44,8-52,1 1,6-1,9 1,9-2,1
Bonança Bonança 16-17,5 18-20 51,2-56 57,5-64 2,1-2,3 2,4-2,7
Galerno Moderado 20-22 24-26 64-70,4 76,8-83,2 2,7-2,9 3,2-3,5
Fresco Fresco 25 30 80 96 3,3 4
Esperto Muito fresco 20-30 33-35 89,6-96 105,6-112 3,7-4 4,4-4,7
Teso Forte 32-34 36-38 102,4-108,8 115,2-121,6 4,3-4,5 4,8-5,1
Ventante Muito forte 38-40 43-45 121,6-128 137,6-144 5,1-5,3 5,7-6

Em 1805 o almirante irlandês Sir Francis Beaufort (1774-1857), ao serviço da marinha inglesa, idealizou
uma tabela que escalava a força do vento por 12 partes, tendo esta sido reconhecida pelo Almirantado Inglês
em 1838. O Comitê Meteorológico Internacional adotou-a em 1874.

Escala de Beaufort
Velocidade Altura da
Símbolo Possibilidades de
Força do vento em Descrição Aspecto do mar Vaga
meteorológico navegação
nós (metros)
Descai-se com a corrente;
0 0-1 Calma Mar de azeite 0 não se pode manobrar, é o
paraíso do descanso.
Rugas na água em forma de
escamas, sem cristas de Já se pode manobrar,
1 1-3 Aragem 0 - 0.10 largar um "spinnaker”.
espuma.
Pequenas vagas curtas mas
O "spinnaker" dá para o
marcadas; cristas
2 4-6 Fraco
translúcidas, mas não 0.10 - 0.25 largo e aumenta-se de
velocidade.
rebentam
Pequenas vagas mais O barco adorna, o mar
alongadas, as cristas molha o convés e os
3 7 - 10 Bonançoso
começam a rebentar, espuma 0.25 - 1.0 pequenos barcos
vítrea; alguns carneiros. regressam ao porto.
O vento puxa, a tripulação
Pequenas vagas alongadas, está atenta às manobras,
4 11 - 16 Moderado
mais carneirada. 1.0 - 1.50 pensa-se em rizar pano
nos barcos pequenos.
Os veleiros maiores
reduzem panos, as
Vagas médias de forma
tripulações dos pequenos
5 17 - 21 V. Fresco alongada, aumenta a 1.50 - 2.50 barcos têm todo o
carneirada
interesse em tomar uma
bebida no bar do clube.
Os veleiros metem nos
segundos rizes; a
Vagas grandes em formação;
Muito Fresco tripulação enverga a
6 22 - 27 (Frescalhão)
cristas espumantes com 2.50 - 4.0 paramenta de salvação e
ronciana.
está tudo preparado para o
mau tempo.
As vagas acumulam-se a Se nada de urgente houver
espuma alonga-se em fieiros a fazer no mar fica-se no
7 28 - 33 Forte
esbranquiçados na direção do 4.0 - 5.50 porto; navega-se com
vento. estai de tempo.
Vagas medianamente altas,
mas compridas; as cristas Toda a gente se põe ao
Muito Forte rebentam em turbilhão, a abrigo caso contrário
8 34 - 40 (Muito Rijo) 5.50 - 7.50 arranja-se mareação para
espuma estende-se em fieiros
correr com o tempo.
nítidos na direção do vento.
Vagas altas, fieiros densos, o
Sentado à lareira pensa-se
mar enrola, a ronciana
9 41 - 47 Tempestuoso
diminui, por vezes, a 7.5 - 10.0 naqueles que estão no mar
desejando-lhes boa sorte.
visibilidade.
Vagas muito altas, de cristas
compridas e pendentes,
ronciana em lençóis Conversa-se, discute-se
estirados em faixas brancas, sobre barcos e deseja-se
10 48 - 55 Temporal
superfície da água 10.0 - 12.0 de novo boa sorte aos que
esbranquiçada, o rolo é estão no mar.
violento e caótico, má
visibilidade.
11 56 - 63 Temporal Vagas excepcionalmente 12.0 - 16.0 As discussões passam a
Desfeito altas, mar coberto de faixas ter altos e baixos e quando
de espuma, os picos das o vento assobia soltam-se
cristas são poeira de água,
exclamações de espanto.
má visibilidade.
O ar está saturado de espuma Começa-se a dar conta de
e ronciana, mar que a navegação é uma
12 > 64 Furacão
completamente branco, > 16.0 coisa linda, desde que se
péssima visibilidade. fique em terra!

A verdadeira Escala de Beaufort dava a força do vento avaliada pelo pano que um navio à vela podia largar.
Posteriormente foi convertida em função da velocidade do vento, pelo que existem diversas escalas com
algumas discrepâncias, dependendo de quem a calculou.

Ora as vagas são relação direta do vento e o seu tamanho a sua conseqüência. Poderão ser agravadas pelas
marés sobretudo nas alturas de lua cheia e lua nova. São as chamadas marés vivas.

Escala de Douglas
(referente ao estado do mar)
Altura da Vaga Designação
(em metros)
0 Estanhado
0.00 a 0.10 Mar Chão
0.20 a 0.50 Encrespado
0.50 a 1.25 Pequena Vaga
1.25 a 2.50 Cavado
2.50 a 4.00 Grosso
4.00 a 6.00 Alteroso
6.00 a 9.00 Tempestuoso
9.00 a 14.00 Encapelado
Mais de 14.00 Excepcional

Tratar por tu...


Sotavento - Lado para onde sopra o vento.
Barlavento - direção de onde sopra o vento.
Arribar - Guinar para sotavento. Afastar a proa da direção do vento.
Orçar - Guinar para barlavento. Aproximar a proa do barco da direção do vento.
Amurado a Bombordo / Estibordo - Embarcação que recebe o vento por bombordo / estibordo.
Vento Verdadeiro - Vento que se sente com a embarcação parada.
Vento Aparente - Vento resultante do movimento da embarcação e do vento verdadeiro.
Rosa dos Ventos - Círculo onde estão marcados os 4 pontos cardeais, com os quadrantes intermédios
divididos em quartas, meias-quartas e quartos.
Ventos - Rumos indicados na rosa-dos-ventos até quartas. Usado pelos gregos o seu número foi
sucessivamente de 2, 4, 8 e 12. No séc. XIV passou a ser de 16 e entre nós durante a época do Infante era já
de 32.

Família dos Ventos


Alísios ou Alíseos - ventos regulares que durante o ano sopram regularmente de NE no hemisfério Norte e
do SE no do Sul. A partir dos 30º vão diminuindo de intensidade em direção ao Equador até se extinguirem
formando aí a zona de calmarias equatoriais.
Austro - o vento do Sul.
Bora - vento seco e frio do NE que sopra na parte Norte do Adriático, sobretudo durante o Inverno.
Bóreas - o vento do Norte. (irmão de Notos e Zéfiro na mit. Grega).
Brisa - nome que os pescadores do bacalhau davam ao vento fresco. Na costa sul da Madeira são os ventos
do quadrante E ou de E a NE.
Camacheiro - vento que sopra em rajadas fortes de N ou NE na Madeira.
Carpinteiro da Costa - temível vento sueste que sopra na costa nordeste do Brasil.
Ciclone - grandes massas de ar animadas de grande velocidade de rotação formadas nas zonas tropicais. No
centro do ciclone existe uma zona de calmas. O sentido de rotação no hemisfério Norte é direto sendo
retrógrado no hemisfério Sul. A sua trajetória é parabólica e na direção de latitudes mais elevadas, pelo que
nunca salta de hemisfério.
Furacão - vento repentino e impetuoso de origem ciclónica.
Garbino - vento que sopra de Sudoeste.
Garoa - nome dado ao vento fresco de Sudoeste na região de Setúbal. Os pescadores da região de
Moçâmedes aplicam também o mesmo nome ao vento rijo também de Sudoeste.
Gravana - Vento fresco que sopra do sul ao sudoeste no Golfo da Guiné.
Greco ou Gregal - vento que sopra da Grécia ou do Nordeste.
Harmatão - vento muito quente e seco, o qual, de Dezembro a Fevereiro sopra do NE da costa ocidental da
África.
Lariço - vento bonançoso que sopra na baía de Cascais.
Lestada - vento que sopra forte de Leste.
Levante - vento quente e seco que sopra de Leste no Mediterrâneo e se faz sentir no Algarves
principalmente durante o Verão.
Maestro - vento do quadrante de Noroeste.
Mareiro - vento que sopra do mar para terra.
Mata-vacas - nome que nos Açores dão ao vento Nordeste.
Minuano - vento oeste frio do Sul do Brasil, que costuma soprar com violência depois da chuva, no inverno.
Vem dos Andes e passa pela antiga zona dos índios Minuanos, de quem tomou o nome.
Mistral - vento seco e frio dos quadrantes do Norte que sopra no Sul de França. Faz-se sentir entre esta
região, as Baleares e a Córsega.
Monção - vento periódico soprando por largo período de tempo nas regiões do Oceano Índico. A Monção
de Verão sopra de SW de Abril a Outubro acompanhada de grandes chuvadas, sendo também conhecida por
estação das chuvas. A mudança da direção do vento, que passa a NE de Outubro a Abril, anuncia a Monção
de Inverno.
Naulu - vento que sopra contrário ao vento Ukiukiu na ilha de Maui no Havaí.
Nortada - vento forte do Norte ou de direções próximas, que sopra na costa portuguesa especialmente
durante o Verão.
Notos - vento Sul. (irmão de Bóreas e Zéfiro na mit. Grega).
Pampeiro - vento sudoeste violento que sopra na costa Brasileira e Argentina, acompanhado de chuvas, cuja
duração pode ir de 6 a 26 horas.
Ponente ou Poente - vento de oeste.
Puelche - Ventos que atravessam a Patagônia Argentina vindos do Atlântico que ao chegarem ao litoral
chileno chocam com os ventos do Pacífico viram para Norte com rajadas geladas.
Rabanada - Rajada ou Pé de Vento.
Rafa - Rajada de Vento.
Rajada - vento que de quando em quando sopra com maior intensidade.
Refrega, Refega ou Rafega - vento forte de fraca duração, menos forte que a rajada.
Repiquete - salto de vento para outro rumo.
Salvante - vento favorável.
Samatra - temporal violento e normalmente de fraca duração que se levanta no estreito de Malaca vindo de
Samatra.
Setentrião - vento que sopra do Norte.
Simum - vento ciclónico do Saara que se faz sentir na parte oriental do Mediterrâneo, vindo de Sul a
Sudoeste.
Siroco - vento quente, asfixiante e empoeirado de SE que sopra na região do Mediterrâneo, especialmente na
Itália, Sicília, Malta e Grécia. Vindo do Norte de África, com origem no deserto do Sara, aparece durante a
Primavera e Verão.
Suão ou Soão - vento quente e calmoso soprando entre leste e sueste.
Suestada - vento forte de Sudeste. Nome que dão a um temporal, geralmente pouco duradouro, na Terra-
Nova.
Terral - vento que sopra de terra para o mar durante a noite até pouco depois do nascer do Sol.
Tornado - Tempestade ciclónica não excedendo em geral uma hora. Forma-se com mais freqüência de
meados de Maio a meados de Novembro na costa ocidental de África, entre o Trópico de Câncer e o
Equador.
Tramontana - vento que sopra de Norte.
Travessão - vento que sopra de través.
Tufão - tempestade ciclónica no Mar da China, com grandes mares levantados por ventos de enorme
violência. Formados geralmente na região das Carolinas e Marianas.
Ukiukiu - vento alíseo de Nordeste que sopra no Havaí na ilha de Maui.
Vara - Temporal de duração curta.
Vara do Coromandel - Vento fresco do quadrante leste que sopra no equinócio do Outono na costa do
Coromandel na Índia.
Vendaval - vento do Sul. Também um vento forte com pesados aguaceiros e mar alteroso.
"Vento Porão" - também conhecido por "Vento Auxiliar". A direção e intensidade deste "vento" depende da
direção imprimida pelo leme à embarcação e da potência do motor instalado no porão...
Viração - Vento fraco que sopra do mar para terra depois do meio-dia até ao pôr-do-sol até cerca de 20
milhas da costa.
Xarouco - vento terral.
Zéfiro ou Zephyrus - vento suave e fresco de Oeste. (irmão de Bóreas e Notos na mit. Grega).

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