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Esquema de casos práticos sobre invalidades e demais vicissitudes

1) Identificar a causa
 Invalidade (46º ss.)
 Cessação da vigência (54º ss.)
 Requisitos

2) Se for invalidade
 Qualificá-la
 Nulidade: relativa ou absoluta? Porquê?1
 Causa de invalidade de cláusula separável ou não? Redução? Art.º 44º
CVDT
 Se há restrição à invocabilidade da parte que está a invocar (45º)
(“confirmou expressa ou tacitamente após tomar conhecimento?”)

3) Fase comum
 Identificar o procedimento (65º):
a) Notificar (nº 1), por escrito (67º/1) às partes
b) 3 meses (sem objeções, nº 2): proceder à medida!
 Qual o regime aplicável/ consequências (69º, 70º e 71º):
a) Nulidade (69º)
 Nº 2, al. a): exigir a reconstituição da situação que haveria sem o
tratado (efeitos de facto destruídos)
 Nº 3: a quem for imputável o dolo, a corrupção ou a coação- não têm
este direito (!!!)
b) Cessação/ suspensão (70º)
 Nº 1, al. a): já não vincula
 Nº 1, al. b): sem efeitos retroativos
 Nº 2: só com as partes afetadas

Invalidades:

46º ss. → Nul. Relativa ou absoluta? → 44º → 45º → 69º, 70º, 71º

Vicissitudes:

54º ss. → 65º → 69º, 70º, 71º

1
Nulidade relativa:
a) Protege interesses de cada Estado
b) Invocável apenas pela parte prejudicada (como decorre da sua natureza)
c) Passível de ser confirmada
Nulidade absoluta:
a) Motivações de Ordem Pública
b) Invocável por qualquer parte
c) Não é passível de ser confirmada (nem expressa, nem tacitamente)

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Invalidades, extinção e suspensão

Tipicidade das causas

 Art.º 42º CVDT: invalidade apenas nas situações tipificadas na CVDT; quanto à
extinção e suspensão (42º/2) a CVDT admite que o próprio Tratado de que se
pretendem desvincular estabeleça outras causas, para além das que aqui estão
previstas

Regras gerais

1) Separabilidade das disposições


 Por uma disposição estar inquinada, o tratado não vê nulas todas as suas
disposições (art.º 44º CVDT)
 Quatro condições (cumulativas):
 A causa de invalidade apenas atinge uma ou algumas disposições
 A execução das restantes é independente das que foram atingidas
(44º/3, al. a) CVDT)
 Não decorre do tratado, nem fora estabelecido, que as partes fundaram
o seu consentimento com base nas disposições afetadas (44º/3 al. b)
CVDT)
 Equilíbrio original entre direitos e obrigações não é alterado de forma
desrazoável, por força da limitação dos efeitos da causa invocada em
relação apenas às disposições atingidas (44º/3 al. c) CVDT)

Não separabilidade: 44º/5 CVDT

 Invalidade por coacção sobre o representante (51º)


 Invalidade por coacção sobre o Estado (52º)
 Derrogação originária de norma de ius cogens (53º)

44º/1: denúncia, recesso ou suspensão por decisão unilateral discricionária prevista no


tratado

2) Invocação de causa e perda desse direito (art.º 45º CVDT)2


 Violação de direito interno (46º)
 Abuso de poderes Causas que têm
 Erro (48º) subjacentes interesses
 Dolo (49º) diretos das partes nos
 Corrupção (50º) tratados
 Excepção de não cumprimento
 Alteração de circunstâncias

2
Após tomar conhecimento do vício

2
Invalidades: 8 causas + 42º/1

 Violação de normas internas de  Incapacidade da entidade


competência  Incapacidade intelectual do
 Violação de restrições específicas ao representante
poder de vinculação  Impossibilidade originária
 Erro  Erro- obstáculo
 Dolo
 Corrupção do representante
 Coacção sobre o representante
 Coacção sobre a entidade
 Derrogação de ius cogens

Causas em especial
7 vícios do consentimento + 1 causa objetiva de invalidade

1. Violação de normas internas de competência (46º CVDT)

3 requisitos cumulativos:

i) Norma interna que é violada é relativa à competência (violada num dos atos
decisivos para a conclusão do tratado- aprovação, aceitação, ratificação,
confirmação formal ou ato paralelo)
ii) Norma fundamental (norma constitucional essencial para a formação da
vontade do Estado)
iii) Violação manifesta (46º/2: “objetivamente evidente”)

Não relevam:

 Normas quanto à forma *


 Conteúdos antijurídicos

→ Se no ato interno de vinculação não participou um órgão cuja participação é


imposta, o próprio consentimento do Estado foi deficientemente formado
→ * Regras de forma podem excecionalmente viciar a formação da vontade: ex. se
houver uma aprovação por um órgão colegial sem a maioria ou o quórum
necessário, quando tal afetar o sentido da decisão

Exemplo: carta de ratificação ser assinada expressamente por um MNE ou outro órgão
menor

3
2. Violação de restrições específicas ao poder de vinculação (47º CVDT)
 A vontade de se vincular ao Tratado é manifestada de forma contrária a uma
restrição dos plenos poderes do seu representante (ex. o representante está
autorizado a vincular-se ao tratado se ele tiver X conteúdo, mas já não se
este tiver Y conteúdo)
 O que o art.º 47º proíbe é as violações a restrições específicas, não a tratado
de conteúdo totalmente diferente (aí, estaríamos no âmbito do art.º 8º)
 Aplica-se apenas a atos de vinculação definitiva do Tratado (nos tratados
informais, é a mera assinatura)

“E se algumas partes não souberem das restrições?”

 Por culpa: não é oponível


 Obrigações bilaterais: a parte não poderá deixar de cumprir o tratado
em relação a estas sem o seu consentimento
 Obrigações indivisíveis: a parte que alega o vício não pode deixar de
cumprir o tratado (pois não é possível deixar de o cumprir apenas em
relação a algumas partes)
 Sem culpa do Estado que alega o vício: o Estado pode deixar de cumprir o
Tratado em relação a estas

3. Erro (48º CVDT)


 Falsa representação da realidade
 Requisitos:
 Erro sobre factos ou situações (ex. erro sobre a realidade sobre a qual
incide o tratado, como por ex., delimitação geográfica ou incorreções em
mapas) (outro ex. é o erro sobre a identidade ou qualidade
 Essencialidade do erro: facto determinante da vontade (a falsa
representação da realidade deve ser anterior à manifestação do
consentimento definitivo)
 Desculpável: não pode ter contribuído para ele; circunstâncias impediam
que se apercebesse do erro, com a diligência normalmente esperada

NÃO É: erro na redação do texto (48º/3)- quando verificado, deve, simplesmente, ser
corrigido

4. Dolo (49º CVDT)


 Erro qualificado por dolo: uma entidade induziu a outra em erro
 Falsas declarações sobre um facto
 Requisitos:
 Essencial: não tem de ser desculpável
 Induzido por alguém parte das negociações (mediadores ou
observadores cabem nesta previsão)

4
Ex. se as negociações decorreram normalmente, mas, posteriormente, a aprovação ou
ratificação do tratado são determinadas por falsas declarações de um outro Estado, há
dolo (vício do consentimento)

5. Corrupção do representante (50º CVDT)


 Atuação fraudulenta, mas não há falsa representação da realidade
 Tem de ser determinante para a decisão de vinculação ao Tratado
 A partir de uma entidade participante nas negociações: mesmo que seja apenas
o seu autor moral e não o concretizador (CONTUDO, a mera instigação não
entra aqui)
 Plenipotenciário que, sob suborno, assina acordo que vincula o Estado
 Titular de órgão político cuja vontade é decisiva para o Estado se vincular

6. Coacção sobre o representante (51º CVDT)


 Causa de nulidade absoluta

 Coacção física: ausência de vontade


 Coacção moral: recurso à força ou ameaças- há vontade, mas está viciada (ex.
chantagens)
 Diretamente sobre o representante ou alguém que com ele se relacione
pessoalmente (ex. família)
 NÃO É: ameaça de recorrer à força contra o seu Estado ou de bombardear uma
cidade (estes serão casos de coação sobre o Estado)
 Pode partir de qualquer pessoa, não necessita de ser parte das negociações,
nem é necessário que as outras partes saibam

7. Coacção sobre a entidade (52º CVDT)


̶ Carácter costumeiro desta norma
 Cocção militar, política e económica (contudo, medidas de pressão política ou
económica não serão fundamento de nulidade nestes termos)

8. Derrogação de ius cogens (53º CVDT)


 Saber se a norma de ius cogens já vigorava aquando da conclusão do Tratado
ou não (derrogação originária // derrogação superveniente- 64º)
 Nulidade

9. Incapacidade da entidade (por analogia com o 46º)


 Ato praticado por entidade, sujeito de DIP
 Estado federado
 Organização internacional
 Movimento de libertação nacional
 Região autónoma

5
 Multinacional
 Indivíduo
 Movimento revolucionário
 Consequência: nulidade! (enquanto tratado pode, no entanto, valer para o Direito
Interno)

Incapacidade da entidade3 X Violação de competência interna4

10. Incapacidade intelectual do representante


 Incapacidade permanente OU acidental
 Tem de ter sido determinante para a vinculação da entidade: se as
negociações são realizadas por um incapaz, mas o ato de vinculação é
praticado por alguém perfeitamente capaz, o vício que afeta a negociação será
irrelevante

11. Impossibilidade originária de cumprimento


 Natureza material/ física, não jurídica
 Por se tratar de uma limitação que decorre da realidade e não do Direito, parece
constituir uma verdadeira ineficácia (!)
 O facto de o tratado ser ineficaz (pois ninguém pode estar obrigado a algo que
é, fisicamente, impossível) não impede que a parte que se obrigou a algo
impossível, se tinha ou deveria ter conhecimento de tal impossibilidade, incorra
em responsabilidade internacional

Natureza das invalidades

Nulidade absoluta

 Coacção sobre o representante e sobre o Estado (entidade)


 Derrogação de ius cogens

 Motivações de ordem pública


 Invocável por qualquer parte do Tratado nulo (e até entidades não parte)
 Não é suscetível de ser confirmada, nem expressa nem tacitamente (terá de
praticar, de novo, todos os atos de vinculação- multilateral- ou celebrar novo
tratado- bilateral)
 Não depende de qualquer prazo para ser invocada

Nulidade relativa

 Restantes situações de vício do consentimento típico


 Atípico: incapacidade intelectual do representante do Estado

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Capacidade: heterodeterminada (atribuída à entidade)
4
Competência: autorregulada (atribuída aos órgãos)

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 Protegem interesses diretos de cada Estado
 Invocável apenas pela parte prejudicada (decorre da própria natureza da
invalidade!)
 Não é passível de ser confirmada (nem expressa nem tacitamente)
 Não depende de qualquer prazo para ser invocada

Efeitos da invalidade

 Art.º 69º (geral)


 Art.º 71º/1 (ius cogens)

Regime geral

̶ Só depois de declarada a nulidade estamos efetivamente


Exemplo:
perante o Tratado nulo, ou seja, sem qualquer efeito
Estado A obrigou-se a vender ao Estado jurídico: não opera automaticamente
̶ 69º/2, al. a): depois de declarada a nulidade, a situação
B certa quantidade de trigo todos os
inicial que existiria sem Tratado deve ser reposta, na medida
anos, sob erro relevante. Contudo,
do possível (não é uma obrigação, é um direito)
desconhecendo a circunstância do seu
̶ Efeitos de facto destruídos retroativamente
erro, o Estado A cumpriu o tratado.
̶ Atenção: nos termos do 69º/3, a parte responsável não
Assim sendo, certas quantidades de pode exigir a reconstituição da situação anterior, mesmo
trigo foram entregues ao Estado B, em que tenha interesse nisso
troca de uma contrapartida deste, ou
seja, produziram-se efeitos de facto Regime do ius cogens

 71º/1: dever (e não direito) de reconstituir a situação que haveria se não


houvesse tratado
 71º/1, al. a) CVDT: eliminadas as consequências materiais dos atos praticados
ao brigo da disposição violadora de ius cogens

Extinção e suspensão

Causas típicas das CVDT

1) Decorrência automática do próprio Tratado (54º al. a) e 57º al. a) CVDT)


̶ Caducidade
̶ Termo (final): facto futuro, mas certo quanto à sua ocorrência
̶ Condição (resolutiva): facto incerto quanto à sua ocorrência
̶ Execução completa do tratado
̶ Perda de um nº mínimo de partes (55º): caduca sempre que resta
somente uma parte
2) Revogação ou suspensão do acordo entre todas as partes
̶ Revogação (54º/b); 59º/1; 30º/3): questiona-se qual o critério para
determinar qual o tratado anterior e qual o posterior (critério adotado é o

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do momento da adoção/ autenticação do texto do tratado); forma solene
ou não é irrelevante (um tratado informal pode revogar um tratado solene)
̶ Suspensão (59º/2)
3) Extinção ou suspensão por ato jurídico unilateral discricionário
̶ Denúncia (tratados bilaterais): acarreta a extinção do próprio tratado,
porque restaria apenas uma parte
̶ Recesso (tratados multilaterais): afeta apenas a vinculação da parte que
o pratica, subsistindo o tratado relativamente às demais partes
̶ Ato unilateral pelo qual uma parte se desvincula discricionariamente de
um tratado, sem invocar qualquer fundamento objetivo
̶ O tratado prevê: 54º/a)
̶ O tratado nada prevê: 56º
i) É necessário que o tratado nada disponha sobre a sua extinção
(ex. se o tratado estabelecer um prazo de extinção, não poderá
haver denúncia/ recesso- 56/1/a))
ii) A admissibilidade da figura decorre da própria natureza do tratado
(56/1/b))
̶ 56º/2: deve avisar as restantes partes com 12 meses de antecedência

4) Excepção de não cumprimento (60º CVDT)


̶ Se uma parte violar as suas obrigações, as outras tambem não terão de cumprir
̶ Tem de haver uma “violação substancial do tratado”: 60º/3
5) Impossibilidade superveniente (61º + 63º CVDT)
̶ Impossibilidade física: destruição ou desaparecimento permanente do
objeto do tratado (ex. desaparecimento de uma parcela de território
essencial)
̶ Ruptura de relações diplomáticas ou consulares (63º)
̶ Conflito armado entre as partes
̶ Perda de jurisdição por parte de um Estado sobre uma parcela de
território que constitui objeto do tratado
6) Alteração das circunstâncias (62º CVDT)
̶ Após a vinculação (X erro- que é anterior à vinculação)
̶ 4 requisitos:
i) Alteração fundamental (62º/1)
ii) Não tenha sido prevista pelas partes (62º/1)
iii) Base do consentimento (62º/1, al. a))
iv) Modificação no equilíbrio de obrigações com o acréscimo
inaceitável para a parte que quer desvincular-se do tratado (62º/1,
al. b))

7) Revogação de norma costumeira contrária ao ius cogens (64º)

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Efeitos

Extinção: deixa de vincular para o futuro (70º/1/a))

Suspensão (72º): durante a suspensão, as partes estão desvinculadas do tratado; dever


adicional de boa-fé (devem abster-se de praticar atos que impeçam a reentrada do
tratado em vigor)

ATENÇAO:

 Erro: antes da vinculação


 Alteração de circunstâncias: após a vinculação

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