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relacionamento marital de ambos os cônjuges consequência prejudicial dos «blues» é poder
nos períodos pré e pós-natal. Estudou-se anteceder a depressão pós-parto - em mais de
também o efeito dos life events (acontecimentos 10% dos casos - não se sabendo ao certo se
existenciais) adicionais vivenciados pelos são um factor causal da depressão ou se ambos
cônjuges durante a gestação e pós-parto, uma apontam para causas comuns (O’Hara, 1987).
vez que alguns estudos encontraram relação
entre o stress que estes acontecimentos Depressão
introduzem no humor da mulher e a depressão A maior parte, senão todas as características
puerperal (Paykel, 1979). das depressões que ocorrem noutros momentos,
Dada a importância das relações que a prejudicam a capacidade da mulher actuar nas
mulher estabelece no seu ajustamento ao suas diversas funções de mãe, esposa,
nascimento de uma criança, e a situação de profissional, ets.. A depressão pós-parto
dependência em que a gravidez e o puerpério caracteriza-se por abaixamento do humor e/ou
colocam a mulher face ao seu meio relacional, irritabilidade notória e, em muitos casos,
procurou-se neste estudo identificar a qualidade sintomas típicos de depressão, c o m o
do relacionamento conjugal como um preditor perturbações do apetite e do sono, fadiga, perda
de perturbações psicológicas no pós-parto. Os de interesse e culpabilidade. Pode acompanhar-
estudos neste âmbito têm sido efectuados, na -se também de sentimentos de vergonha, de
sua grande maioria, nos EUA, pelo que se desesperlo, resultando num sentimento de
tornava necessário estudar estas inter-relações incapacidade. A puérpera queixa-se de não saber
na população portuguesa. ocupar-se do bebé afirmando que os choros
deste a inquietam e irritam. Pode preocupar-se
1.1. Conceitos Principais excessivamento com a saúde do bebé ou com
o seu bem-estar - multiplicando assim as
Depressão durante a Gravidez consultas pediátricas - e mostra-se
Trata-se de um conjunto de sintomas que culpabilizada pela sua falta de amor ou de
traduzem um estado depressivo, normalmente desejo de cuidar do recém-nascido.
ligeiro, decorrente da gestação e de todas as A puérpera sente-se «mudada», compreende
modificações que têm lugar neste período e que mal as suas reacções, inquieta-se com a sua
são particularmente fomentadoras de stress. saúde, na medida em que experimenta um
grande abatimento físico e intelectual. A fim
«Blues Pós-Parto)) de reduzir a sua angústia intolerável, evita os
Refere-se a um síndrome afectivo ligeiro que contactos, põe o filho a distância ou delega os
se manifesta frequentemente - em 39% a 85% seus cuidados as pessoas que a rodeiam. Na
das mulheres que dão a luz - com a duração maioria dos casos, estas depressões evoluem
de algumas horas até vários dias, podendo espontaneamente no sentido da melhoria e
estender-se até h segunda semana do pós-parto. remissão em algumas semanas ou meses
Os ((blues))são normalmente caracterizados por (Lemperième et al., 1984).
sintomas tais como humor depressivo, crises Autores há que afirmam que este síndroma
repetidas de choro, irritabilidade, ansiedade, se pode estender de três meses para além de
labilidade do humor, confusão, perturbações do um a n o d o pós-parto, embora estes
sono e do apetite. Pelo menos quatro daqueles investigadores tenham efectuado «follow-ups»
sintomas têm de estar presentes para o apenas até a nona semana do pós-parto
diagnóstico de «blues». Frequentes são, (O’Hara, 1987).
também, a astenia e os sentimentos de
incapacidade manifestados pela puérpera, as Relacionamento Conjugal
queixas de não saber ocupar-se do bebé e uma É um processo em movimento ao longo de
vivência de esgotamento. A puérpera mostra-se uma continuidade que pode ser avaliado em
muito susceptível, irrita-se com facilidade e termos de proximidade a um bom ou deficiente
queixa-se frequentemente de ser desprezada. relacionamento (Spanier, 1976). Trata-se do grau
Tanto quanto se pode determinar, a Única de satisfação marital ou do nível de relação
390
conseguida pelos cônjuges - marido e mulher conjugal de ambos os cônjuges no
ou dois indivíduos a viver maritalmente. Esta segundo e terceiro trimestres de
interacção contempla a contribuição dos vários gravidez e na sexta semana do
aspectos da relação, tais como a comunicação, pós-parto.
a afectividade, a compatibilidade sexual, as 1.2.1.5. A sintomatologia depressiva e a
actividades sociais, as diferenças de valores, etc., satisfação conjugal dos homans na
que atestam da qualidade deste relacionamento. sexta semana do pós-parto mostram
significativa correlação com a
Apoio Social do Cônjuge satisfação das mulheres em relação
Compreende o apoio efectivo providenciado ao apoio dado pelos cônjuges na
pelo cônjuge quer sob o ponto de vista material nona semana do pós-parto.
- actividades de suporte - quer afectivo - 1.2.1.6. Existe correlação estatisticamente
intimidade e suporte afectivo/emocional. Alguns significativa entre o nível d a
aspectos deste apoio são: sintomatologia depressiva e a
- Tempo que o pai passa com a criança; qualidade d o relacionamento
- Frequência com que ajuda a alimentar, conjugal nas mulheres no segundo
a dar banho, a mudar fraldas, a brincar, e terceiro trimestres de gravidez e
etc.; na sexta semana do pós-parto.
- Tempo com que se ocupa das demais 1.2.1.7. A satisfação conjugal e os life events
tarefas familiares; das mulheres avaliados na sexta
- Apoio afectivo dado a cônjuge, etc. semana do pós-parto mostram
significativa associação com a sua
Life Events sintomatologia depressiva avaliada
Acontecimentos significativos vivenciados nos no mesmo momento.
seis meses anteriores a avaliação e que pudessem 1.2.1.8. A satisfação conjugal e os rife events
alterar o estado de humor dos sujeitos. dos homens avaliados na sexta
semana do pós-parto mostram
1.2. Hipótese(s) significativa associação com a sua
sintomatologia depressiva avaliada
1.2.1. Hipótese Principal: Existe uma
no mesmo momento.
inter-relação entre o humor e o
relacionamento conjugal de homens e
mulheres durante a gravidez e no
pós-parto. 2. METODOLOGIA
1.2.1.1. Os homens sentem menos
sintomatologia depressiva n o
decurso da gestação e pós-parto que 2.1. Sujeitos
as esposas.
1.2.1.2. Há correlações positivas e Os sujeitos foram 34 mulheres e os seus
significativas entre a sintomatologia cônjuges, contactados inicialmente no segundo
depressiva de ambos os cônjuges no trimestre de gravidez nas consultas externas de
segundo e terceiro trimestres de Obstetrícia da Maternidade Dr. Alfredo da
gravidez e na sexta semana do Costa, Hospital de Santa Maria, Clínica de São
pós-parto. Gabriel e consultas particulares em alguns
1.2.1.3. A sintomatologia depressiva dos consultórios da especialidade.
homens avaliada na sexta semana Os sujeitos acederam participar no estudo,
prediz o nível de sintomatologia comprometendo-se seguir um protocolo do
depressiva das mulheres na nona segundo trimestre de gravidez até a nona
semana do pós-parto. semana d o pós-parto. As características
1.2.1.4. H á correlações positivas e demográficas dos elementos da amostra são
significativas entre a satisfação apresentadas no Quadro 1.
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QUADRO 1
Características Demográficas da Amostra
VARIÁVEL ESTATÍSTICA
IDADE (ANOS)
M 30.4 28.2
SD 4.7 4.9
Amplitude 22-41 19-39
ESCOLARIDADE
Primário (Oro) 20 15
Secundário (Oro) 59 50
Pós-Secundário (Oro) 21 35
M (anos) 9.9 10.7
SD 4.4 4.8
Amplitude 4-19 4-18
RELAÇÃO
Casados (Oro) 91
Marital (Oro) 9
Duração (anos)
M 4.7
SD 3.5
O 59
1 32
2 6
3 3
392
Spanier, 1976), serviu-nos como orientador de em apenas três dos momentos de avaliação das
recolha de dados. mulheres. O quadro 2 resume os momentos de
avaliação e os instrumentos completados.
Escala de Avaliação de Acontecimentos
Existenciais: a EAAE foi baseada na Échelle
d’Auto-Évaluation d’Événements Existentieles 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
de Andrews (in Cottraux et al., 1985) que
comporta 45 items, dos quais foram retirados 3.1. Prevalência e Curso d a Sinto-
3, a saber: a interrupção voluntária e rnatologia Depressiva
involuntária de gravidez e o acontecer da
menopausa nos seis meses anteriores a De um modo geral a sintomatologia
avaliação. Os life events estão agrupados em depressiva decresceu ao longo das avaliações em
clusters: Saúde, Vida Familiar e Social, Trabalho ambos os cônjuges.
e Acontecimentos Monetários e Legais. De acordo com as previsões - Hipótese 1.2.1
-, os homens evidenciaram níveis mais baixos
Questionário de Apoio Conjugal no Pós- de sintomatologia depressiva que as suas
-Parto: baseado no The Post-Partum Social mulheres nos três momentos comuns de
Support Questionnaire (Hopkins, 1984), o avaliação durante a gravidez e após o parto.
QACPP é constituído por 18 items e destina-se A menor intensidade da sintomatologia
a avaliar junto da mulher a amplitude do apoio depressiva vivenciada pelos homens no decurso
provido pelo cônjuge num leque de suportes das avaliações, pode dever-se, por um lado, a
materiais e afectivos. Cada um dos items é dificuldade em admitir um aumento da sua
pontuado duas vezes em duas escalas de 7 sintomatologia depressiva durante a gravidez e
pontos cada de cotação 1 (nunca) a 7 (sempre). o pós-parto da mulher e, por outro lado, ao
A mulher é solicitada a responder inicialmente facto de a mulher se encontrar mais sensível
assinalando quão frequentemente o cônjuge dá a o seu m o d o de estar num p e r í o d o
um tipo particular de apoio - frequência actual particularmente vulnerável da sua existência.
- após o que relata a frequência com que Apurámos que o padrão de sintomas no IDB
desejava que esse apoio ocorresse - frequência das mulheres mostra algumas mudanças
desejada. Para cada item calcula-se uma interessantes ao longo dos diferentes momentos
diferença cuja soma expressa o grau de de avaliação. Enquanto que no segundo
insatisfação da mulher face ao apoio do cônjuge trimestre de gravidez, o nível médio de
no pós-parto. intensidade da escala cognitivo-afectiva (items
A-N) eram significativamente mais elevados
2.3. Procedimento que o nível médio da sub-escala somática (items
0-U), no terceiro trimestre e na terceira
As mulheres foram abordadas no segundo semana do pós-parto estes mostraram-se mais
trimestre de gravidez assim como os seus pronunciados. No entanto, nos últimos dois
cônjuges - se estivessem presentes -, tendo momentos de avaliação do pós-parto, foi a
lugar o primeiro contacto numa consulta vertente cognitivo-afectiva que predominou em
obstétrica. Cada cônjuge foi abordado após o relação aos sintomas somáticos.
acedimento da mulher ao pedido de colaboração Os resultados que daqui se retiram estão de
num estudo acerca do humor na gravidez e no acordo com as razões da escolha destes
pós-parto. Se os cônjuges não estivessem momentos de avaliação. Por um lado, o segundo
presentes, as mulheres levavam os instrumentos trimestre de gravidez é um período em que já
que seriam devolvidos em envelope previamente terão escasseado algumas manifestações
selado e endereçado. Os instrumentos relativos somáticas, tais como as indisposições matinais
ao terceiro trimestre de gravidez, terceira, sexta do início da gravidez, e a fadiga associada com
e nona semanas de pós-parto foram enviados o trazer consigo o bebé, do final da gestação,
e devolvidos pelo correio sem qualquer encargo ainda não terá tido início. Sendo menos
por parte dos sujeitos. Os homens participaram evidentes estes sintomas, a grávida estará mais
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QUADRO 2
Avaliações e Instrumentos Completados no Pré e Pós-Parto
disponível para vivenciar as preocupações que mostravam deprimidas durante a gravidez e nas
são mais de índole cognitivo-afectiva. A duas avaliações subsequentes do pós-parto,
avaliação d o terceiro trimestre deu-nos deram conta de um relativo bem-estar e
i n f o r m a ç ã o acerca d o a u m e n t o d a optimismo na terceira semana do pós-parto.
sintomatologia somática que se manteve mais No caso particular da mulher portuguesa, os
elevada na terceira semana do pós-parto. scores baixos do IDB da terceira semana do
Das três avaliações efectuadas aos cônjuges, puerpério podem decorrer de uma certa
os sintomas cognitivo-afectivos prevaleceram relutância em divulgar sentimentos negativos
sempre em relação aos somáticos no IDB dos num inventário de auto-avaliação devido a
homens, tendo-se verificado o mesmo no IDB normas culturais que levam as mulheres a crer
das mulheres no segundo trimestre de gravidez que se deveriam sentir eufóricas ou sentirem-se
e na sexta e nona semanas do pós-parto. gratificadas pelo facto de terem conseguido ser
Usando o score mínimo de 10 como limite mães e não terem entrado ainda na rotina e
inferior de depressão branda (O'Hara, 1985; deixado de ser o primeiro objecto de atenções.
O'Hara et al., 1984), de 26.5% das mulheres
e 18% dos homens durante o segundo trimestre 3.2. Intercorrelações entre a Sintomatologia
de gràtridez; 26.5% das mulheres e 6% dos Depressiva dos Cônjuges
homens no terceiro trimestre de gravidez e 15% Na avaliação do segundo trimestre de gravidez
das mulheres e 6% dos homens na sexta semana não se encontrou significativa entre os IDB de
do pós-parto deram conta no mínimo de ambos os cônjuges (r=.117) - pelo que a
sintomas de depressão branda. Hipótese 1.2.2. se verifica parcialmente -,
A percentagem de mulheres com depressão possivelmente por ser um período em que as
pós-parto legítima, isto é, aquela que ocorre no vivências da gravidez estão ainda a estabilizar-
puerpério na ausência de depressão significativa -se e que os sintomas somáticos que têm a ver
na gravidez, foi de apenas 3%. Parece claro, com o mal-estar do terceiro trimestre ainda não
deste modo, que a depressão durante a gravidez se fazem sentir. Os valores do IDB dos cônjuges
é um factor de risco apreciável para a depressão nos outros momentos de avaliação estão
pós-parto. fortemente correlacionados. O humor, quer da
O relativo bom humor mostrado pelas mulhrer quer do cônjuge, pode ser influenciado
mulheres na avaliação, imediatamente após o pelos mesmos factores dentro e fora da família.
parto (terceira semana), merece ser salientado. Um factor plausível pode ser o bom curso da
No nosso estudo, mesmo as mulheres que se gravidez no que concerne a saúde física e
394
conforto. Os homens mostram-se normalmente DIAGRAMA 1
mais solícitos com a saúde das mulheres durante
a gravidez, especialmente durante o último (t)Relacionamento Sintomatologia
período, que em outro qualquer momento e Conjugal Depressiva
podem ser muito mais afectados pela maneira
como elas se sentem fisicamente, o que tem de
certeza uma influência significativa no humor
das mulheres. Os IDB de ambos os cônjuges
na sexta semana do pós-parto têm uma
~
Satisfação
Apoio Pós-Parto J
correlação elevada. A correlação entre o humor
dos homens neste período e o das mulheres na Esta conclusão sugere que os homens que têm
nona semana do pós-parto é novamente um relacionamento conjugal mais satisfatório
acentuada e mais elevada que em estudo são mais solícitos em prover um apoio que é
anterior (O’Hara, 1985). Dada a importância percepcionado pelas cônjuges como mais
do apoio do marido durante o período pós- efectivo e adequado.
-natal, uma mudança no seu humor, para
melhor ou pior, pode ter implicações na
disponibilidade, boa vontade ou capacidade 3.5. Intercorrelações entre a Sintomatologia
para prover apoio a mulher. Maridos menos Depressiva e a Satisfação Conjugal das
preocupados com o seu modo de estar podem Mulheres
melhor apoiar as mulheres. O efeito de um
suporte afectivo e material adequado ou Encontraram-se, como previmos (Hipótese
diminuto do homem pode afectar a mulher 1.2.6.), correlações significativas entre os IDB
quando os efeitos desse apoio são sentidos e as ERC das mulheres nas avaliações da
claramente. gestação e na sexta semana do pós-parto. As
mulheres que relataram maior sintomatologia
3.3. Intercorrelações entre a Satisfação depressiva vivenciavam também um
Conjugal dos Cônjuges relacionamento conjugal menos feliz e
problemas maritais mais frequentes, quer na
C o n f o r m e apontavam as previsões gravidez quer no pós-parto.
- Hipótese 1.2.4. -, os valores da ERC de
ambos os cônjuges nos três momentos de
avaliação estiveram muito correlacionados. 3.6. Relacionamento Conjugal e Life Events
Embora as ERC tenham sido completadas na Prevalência da Sintomatologia
separadamente, cada cônjuge analisou a mesma Depressiva dos Cônjuges na Sexta
relação. Semana do Pós-parto
395
DIAGRAMA 2 depressiva ter um papel nefasto sobre as relações
precoces mãe-bebé. A mãe rejeita a criança e
(-) Relacionamento Life-Events
mostra hostilidade. Os sentimentos de rejeição
Conjugal
dão origem a sentimentos desagradáveis de
Sintomatologia
Depressiva J culpa. As relações precoces têm uma influência
decisiva no desenvolvimento harmonioso da
criança, o que deste modo sugere que a
depressão puerperal pode vir a ter a longo termo
um impacto negativo na família.
DIAGRAMA 3
5. SUGESTÕES PARA ACONSELHAMENTO
(-) Relacionamento Life-Events
FAMILIAR: PREVENÇÃO OU TRATAMENTO
Conjugal
396
recuperação d o parto, expectativas e cuidados BIBLIOGRAFIA
que ele requer pode reduzir a predisposição para
potenciais problemas emocionais e relacionais
dos pais em perspectiva. Beck, AT., Ward, C.H., Mendelson, M., Mock, J.
& Urbaugh, J. (1961). An inventory for measuring
U m d o s o b j e c t i v o s de ste t i p o d e
depression. Archives of General Psychiatry, 4:
aconselhamento familiar preventivo pode ser o 561-569.
de aumentar a coesão entre os membros da
Cottraux, J., Bouvard, M. & Legeron, P. (1985).
família n o sentido das suas relações de Méthodes et échelles d’évaluation des
interajuda mútua. comportements. Issy-les-Moulineaux: Ed. EAP.
Outra estratégia, j á não preventiva, mas de Cox, J.L., Holden, J.M. & Sagovsky, R. (1987).
tratamento, é a de identificar mulheres com Detection of postnatal depression: Development
sintomatologia depressiva após o parto e que of the 10-item Edinburgh postnatal depression
estão necessitadas de intervenção psicológica scale. British Journal of Psychiatry, 150: 782-786.
terapêutica. Este tipo de abordagem está j á a Cutrona, C.E. (1982). Nonpsychotic postpartum
efectuar-se no caso d a psicose, mas ainda não depression: A review of recent research. Cfinical
na depressão pós-parto nos E.U.A. e Grã- Psychofogy Review, 2: 487-503.
-Bretenha (O’Hara & Zekoski, 1988). E m Hopkins, J. (1984). Social support and postpartum
depression. University of Pittsburgh: Unpublished
Portugal, excluindo alguns casos muito
doctoral dissertation.
pontuais, não existe uma estratégia específica
Lemperième, T., Rouillon, F. & Lépine, J.P. (1984).
de prevenção e tratamento da depressão pós-
Troubles psychiques liés a la puerperalité. In
-parto. Esta intervenção parece possível se Encyclopédie Medico-Chirurgicale (Paris-France),
clínicos obstetras e psicólogos trabalharem em Psychiatrie, 4.37.660 Alo.
equipa. Estes casos seriam seleccionados O’Hara, M.W. (1985). Depression and marital
utilizando uma escala capaz de identificar adjustment during pregnancy and after delivery.
mulheres com depressão pós-natal aquando de The American Journal of Family Therapy, 13(4):
uma consulta pelo obstetra ou pelo pediatra. 49-55.
A Escala de Depressão Pós-Natal de Cox, O’Hara, M.W. (1987). Postpartum «blues», depression
Holden e Sagovsky (1987) é uma escala de 10 and psychosis: A review. Journal of Psychosomatic
item s q u e a v al ia c o m se nsi bil ida de a Obstetrics & Gynecology, 7: 205-227.
sintomatologia depressiva d o pós-parto e que O’Hara, M.W., Rehm, L.P. & Campbell, S.B. (1983).
se completa facilmente e num curto espaço de Postpartum depression: a role for social network
tempo. and life stress variables. Journal of Nervous and
Mental Diseases, 171: 336-341.
As mulheres identificadas com depressão pós- O’Hara, M.W., Neunaber, D.J. & Zokoski, E.M.
-parto seriam encaminhadas para a consulta d o (1984). A prospective study of postpartum
psicólogo que confirmaria o diagnóstico através depression: Prevalence, course and predective
de uma entrevista clínica e seguiria a mulher, factors. Journaf of Abnormaf Psychofogy, 93(2):
e eventualmente o cônjuge, durante algumas 158-171.
sessões. Esta segunda estratégia seria então o OHara, M.W. & Zekoski, E.M. (1988). Postpartum
acompanhamento terapêutico da mulher já depression: A compreensive review. In Motherhood
deprimida. Qualquer que seja o risco da and Mental IIIness 2: Causes and Consequences
depressão pós-natal, ela é um problema sério (R. Kumar & I.F. Brockington, Eds.), pp. 17-63,
que deve ser tido em conta pela comunidade London: Wright.
de Saúde Mental (O’Hara & Zekoski, 1988). Paykel, E.W. (1979). Recent life events in the
development of depressive disorders. In The
Os propósitos deste trabalho e desta Psychobiology of the Depressive Disorders (R.
intervenção inscrevem-se n o â mbi to d a Depue, Ed.), pp. 245-262, New York: Academic
Psicologia da Saúde, nomeadamente na área Press.
que serve de ponte entre a psicologia e a Spanier, G. B. (1976). Measuring dyadic adjustment:
obstetrícia, n a identificação, prevenção e New scales for assesing the quality of mariage
tratamento das mulheres em risco de depressão and similar dyads. Journal of Marriage and the
pós-parto. Family, 38: 15-28.
397
RESUMO discutidas quanto a uma abordagem familiar
preventiva e terapêutica.
Este estudo investigou a sintomatologia depressiva
e a satisfação conjugal na gravidez e no pós-parto
em 34 casais. Aquelas variáveis foram avaliadas ABSTRACT
durante o 2P e 3P trimestres de gravidez e 6.”semana
de pós-parto. As mulheres foram também avaliadas This s t u d y examined the depressive
quanto A sintomatologia depressiva e qualidade do symptomatology and the marital satisfaction during
relacionamento conjugal na 3: e 9.”semanas d o pós- pregnancy and after delivery in 34 couples. Measures
-poarto. Ambos os cônjuges relataram os life events of these constructs were obtained during the 2nd and
aquando d a avaliação da 6? semana de puerpério. 3rd trimesters of pregnancy and 6 weeks postpartum.
Na 9: semana do pós-parto, as mulheres deram conta Women were also evaluated regarding the depressive
da satisfação relativamente ao apoio provido pelo symptomatology and marital satisfaction at 3 and
cônjuge. A sintomatologia depressiva dcresceu ao 9 weeks postpartum. Both subjects described life
longo das avaliaçóes da gravidez e do puerpério em events at 6 weeks postpartum. At 9 weeks
ambos os cônjuges. Os homens relataram postpartum, women reported their satisfaction with
sintomatologia depressiva inferior relativamente as leve1 of support from their husbands. Men reported
mulheres. A depressão dos homens na 6: semana lower levels of depressive symptom than women,
predizia a sintomatologia depressiva das mulheres na Husbands’ depression at 6 weeks predicted women’s
9: semana do pós-parto. Encontraram-se correlações depressive symptomatology at 9 weeks postpartum.
significativas entre a sintomatologia depressiviva dos Significative correlations were found between
cônjuges no 3P trimestre de gravidez e 6: semana do depressive symptoms of both partners at 3rd trimester
pós-parto. A associação entre a satisfação conjugal of pregnancy and 6 weeks postpartum. Association
de ambos foi encontrada em todas as avaliações. between marital satisfaction of both was found at
Verificou-se que a satisfação conjugal dos homens each common assessments. It was also found that
na 6: semana era o melhor preditor da satisfação husbands’ 6 weeks marital satisfaction was the best
das mulheres em relação ao apoio por eles dado na predictor of wives’ satisfaction with the social support
9: semana do pós-parto. A sintomatologia depressiva provied by them at 9 weeks postpartum. Women’s
e a satisfação conjugal das mulheres estiveram depressive symptomatology and marital satisfaction
fortemente correlacionadas. No puerpério, o stress were strongly correlated. Wives’ life events stress were
dos life events só se fazia sentir na presença de um only noticed in presence of a disfunctional marital
relacionamento marital disfuncional nas mulheres, adjustment, while both life events and marital
ewnquanto que para os homens, tanto os life events unsatisfaction had similar effects on depressive
como a insatisfação conjugal tinham pesos symptomatology in men. The implications of the
semelhantes na sintomatologia depressiva. As results of this study for preventive and therapeutical
consequências dos resultados deste estudo são perspective are discussed.
398