Você está na página 1de 5

Dados Gerais

Processo: RE 451829 SP
Relator(a)
Min. DIAS TOFFOLI
:
Julgamen
12/03/2010
to:
Publicaçã
DJe-053 DIVULG 23/03/2010 PUBLIC 24/03/2010
o:
MARCOS TADEU RIBEIRO E OUTRO(A/S)
ADRIANA ORFANO RAMOS
CLEUSA MARIA DE MACEDO
MARIA ELIZABETH DE OLIVEIRA COUTO
Parte(s): PREFEITURA MUNICIPAL DE ITAÍ
FERNANDO CLAUDIO ARTINE
CEMAT - ASSESSORIA JURÍDICA E ADMINISTRATIVA
S/A LTDA
CELIA MARIKO UMEKI

Decisão

Vistos.MARCOS TADEU RIBEIRO E OUTROS interpõem recurso extraordinário (folhas


89 a 101) contra acórdão proferido pela Sétima Câmara de Direito Público do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo, assim do:“APELAÇÃO CÍVEL – AÇÃO POPULAR – R.
sentença (fls. 419/440) que a julgou procedente, anulando o concurso público de Itaí –
Falta de confiabilidade e transparência do concurso objeto do processo em face de
sua realização e organização pela co-ré CEMAT –Evidenciamento de vício
incontornável e insanável, que nulificou não apenas a prova realizada em sua
integralidade, como todo o concurso objeto do processo – Imperiosa confirmação da
excelente r. sentença recorrida – Improvimento do recurso oficial e único” (folha
74).Interpostos embargos de declaração (folhas 79 a 81), foram parcialmente
acolhidos, sem alteração no resultado do julgado (folhas 84 a 87).Insurgem-se, no
apelo extremo, fundado nas alíneas “a” e “c”, do permissivo constitucional, contra
suposta violação dos artigos 5º, incisos LIV e LV e 41, da Constituição Federal,
consubstanciada pela sua exoneração, dos cargos públicos que ocupavam, em razão
da anulação do concurso público através do qual ascenderam a tais
cargos.Processado sem contrarrazões (folha 128), o recurso não foi admitido, na
origem (folhas 130 a 137), o que ensejou a interposição de agravo de instrumento, ao
qual o eminente Ministro Sepúlveda Pertence deu provimento, para determinar sua
conversão em recurso extraordinário.Por fim, o parecer da douta Procuradoria-Geral
da Justiça (folhas 188 a 189) é pelo não conhecimento do recurso.Decido.Anote-se,
inicialmente, que o acórdão dos embargos de declaração foi publicado em 18/6/03,
conforme expresso na certidão de folha 88, não sendo exigível a demonstração da
existência de repercussão geral das questões constitucionais trazidas no recurso
extraordinário, conforme decidido na Questão de Ordem no Agravo de Instrumento nº
664.567/RS, Pleno, Relator o Ministro Sepúlveda Pertence, DJ de 6/9/07.A irresignação
não merece prosperar, não devendo o presente recurso sequer ser conhecido, pois os
dispositivos constitucionais indicados como violados no recurso extraordinário
carecem do necessário prequestionamento, sendo certo que o acórdão proferido pelo
Tribunal de Justiça paulista não cuidou explicitamente das referidas normas, nem
mesmo depois de terem sido interpostos embargos de declaração, para sanar essa
eventual omissão. Incide, na espécie, a Súmula nº 282 desta Corte.No sentido dessa
conclusão, cite-se o seguinte trecho do voto proferido pelo eminente Ministro Celso
de Mello, nos autos do RE nº 294.267/RJ-AgR, Segunda Turma, DJ de 4/3/05, que bem
aborda a questão:“Impende advertir, neste ponto, na linha da orientação
jurisprudencial fi (...) rmada pelo Supremo Tribunal Federal, que o recurso
extraordinário apenas deve ser apreciado nos estritos limites temáticos em que a
controvérsia constitucional for examinada pelo Tribunal ‘a quo’ sem possibilidade de
aplicação do princípio ‘jura novit curia’ :‘Não se aplica ao julgamento do recurso
extraordinário, pelo Supremo Tr (RTJ 173/335, Rel. Min. CELSO DE MELLO) ibunal
Federal, o princípio ‘jura novit curia.’ .’‘No exame do recurso extraordinário, no
Supremo Tribunal Federal, não (...)é (RTJ 147/994-995, Rel. Min. CELSO DE MELLO)
aplicável o princípio ‘jura novit curia’ .’Isso significa, portanto, que a atividade
jurisdicional desenvolvida p (...) el (RE 99.978-ED/PR, Rel. Min. ALDIR PASSARINHO –
grifei) o Supremo Tribunal Federal, em sede de recurso extraordinário, apresenta-se
essencialmente limitada pela matéria constitucional, desde que esta, além de
suscitada nas razões recursais deduzidas pela parte recorrente , tenha sido
efetivamente prequestionada .Somente os temas de direito co (RTJ 90/516, v.g.)
nstitucional versados no acórdão impugnad (debatida, portanto, de modo expresso,
pelo acórdão recorrido) o revelar-se-ão suscetíveis de apreciação pelo Supremo
Tribunal Federal, c (e igualmente veiculados no recurso extraordinário interposto) ujo
julgamento, no entanto, não poderá‘exceder os limites da devolução, apreciando
questões não ventiladas na decisão recorrida ’ .”Como se não bastasse, eventual
análise acerca da alegada violação do (...) s (ADA PELLEGRINI GRINOVER, ANTONIO
MAGALHÃES GOMES FILHO E ANTONIO SCARANCE FERNANDES, ‘Recursos no
Processo Penal’ p. 298, item n. 196, 1996, RT) princípios constitucionais objetos do
presente recurso demandaria o necessário reexame do conjunto fático-probatório
constante dos autos, o que se mostra de inviável ocorrência no âmbito do recurso
extraordinário, a teor do que dispõe a Súmula 279 do STF.De fato, conforme consta do
acórdão recorrido, in verbis:“O conjunto probatório trazido aos autos bem o mostra
não ser digno da mínima necessária confiabilidade e transparência o concurso objeto
do processo em face de sua realização e organização pela segunda co-ré CEMAT.O
Decreto Municipal local nº 940 de 18.05.1994 em seu artigo décimo reza que a prova
não será assinada nem conterá qualquer sinal que permita identificação de seu autor,
e mais, que a assinatura será lançada em talão destacado da prova, os quais serão
envelopados após a realização do exame, com o objetivo de garantia de sigilo e,
obviamente, imparcialidade necessários para atendimento da finalidade dos
princípios administrativos que norteiam a Administração Pública: o da moralidade, o
da legalidade,e o da finalidade.No entanto, de forma inadmissível contém a prova o
número de inscrição do candidato a qual faz parte de uma relação publicada em
caráter oficial no jornal local que presta seus serviços à Municipalidade de Itaí (fl.
205). Certamente, a segurança da imparcialidade na aferição da avaliação nas provas
realizadas não se apresenta revestida da legalidade imprescindível a sua
validade.Além do que, supra referido decreto municipal estabelece que em havendo
contratação de firma especializada em realização de concurso público não seria
constituída comissão examinadora (fl. 198).Observe-se de todo desnecessária
realização de prova técnica, tendo se vista a ocorrência de incineração da primeira
prova, a qual foi anulada, inexistindo ata atinente a realização de tal ato incineratório,
cuja realização é atribuída à consulta verbal à Municipalidade em tela, a qual,
provavelmente, teria sido outorgada por Gerival (fls. 252/254, 268/ verso e 460).Não
frutifica a vaga e isolada alegação de vingança política; a real apuração dos fatos
bem o mostra a inidoneidade do concurso em exame, o candidato Vanderci Fernandes
Diogo informa não haver prestado a segunda prova escrita, porém, inexplicável e
inesperadamente seu nome consta na lista dos aprovados, em que pese na primeira e
única prova que realizou ter sido ele reprovado, a qual veio a ser anulada na forma do
Decreto Municipal nº 946/94 (fl. 283/verso, 23/27).Da análise da prova oral produzida,
nada leva a se por em dúvida o depoimento acima aludido de Vanderci Fernandes.A
prova pericial produzida no inquérito policial a pedido da Municipalidade ré conclui-se
que a assinatura lançada na folha de presença datada de 14.08.94 (fl. 406 ‘in fine’) da
segunda prova não é de Vanderci (fls. 404/409). Nada havendo nos autos a por em
dúvida tal conclusão técnica.Também, no mínimo sem explicação plausível o
indeferimento do requerimento de revisão de prova pelo motivo de extemporaneidade
(fl. 18), sem sequer lhe haver sido mostrada a questionada segunda prova, que
Vanderci declarou não haver realizado.Esta extemporaneidade não apresenta
conformidade com os decretos municipais nº 940 e 946 ambos de 1994.Dessarte,
seguramente, tem-se que o concurso público promovido foi único, com o propósito de
preenchimento de diversos cargos na estrutura administrativa da Municipalidade ré, o
que leva a certeza de que há vício incontornável e insanável, que o nulificou em sua
integralidade, não apenas em relação às provas realizadas, porque em relação a estas
derivam as mesmas de procedimento administrativo concursal único.É obvio que toda
esta situação instalada a partir da abertura do concurso em tela redundou prejuízo ao
erário público Municipal local a ser, ulteriormente, apurado em liquidação de
sentença na forma bem colocada pela r. sentença recorrida, a qual adequada e
moderadamente impôs os ônus sucumbenciais de acordo com os ditames legais do
regramento processual civil” (fls. 75 a 77).E, ainda, para a adequada perquirição da
suposta violação dos referidos preceitos constitucionais, mister seria uma detida
análise de normas municipais utilizadas em suas fundamentação, bem assim do
edital que regrou a realização do concurso público em questão, o que se mostra de
insuscetível realização, no âmbito de um recurso como o presente.Nesse sentido,
citem-se os seguintes precedentes:“CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO
REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ORDEM DE CLASSIFICAÇÃO EM
CONCURSO PÚBLICO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. FATOS E PROVAS.1. O
acórdão recorrido decidiu a lide com base na legislação infraconstitucional.
Inadmissível o recurso extraordinário porquanto a ofensa à Constituição Federal, se
existente, se daria de maneira reflexa.2. Decidir de maneira diferente do que
deliberado pelo tribunal a quo demandaria o reexame de fatos e provas da causa, ante
a incidência da Súmula STF 279.3. Agravo regimental improvido” (RE nº 544.373/ES-
AgR, Segunda Turma, Relatora a Ministra Ellen Gracie, DJe de 7/8/09).“AGRAVO
REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONCURSO PÚBLICO. ORDEM DE
CLASSIFICAÇÃO. PRETERIÇÃO. REEXAME DOS FATOS QUE DERAM ENSEJO À CAUSA.
IMPOSSIBILIDADE.Concurso público. Nomeação de candidato. Inobservância da
ordem de classificação. Preterição. Reexame dos documentos e fatos que deram
ensejo à causa. Impossibilidade. Súmula 279/STF. Agravo regimental não provido” (RE
nº 377.291/DF-AgR, Primeira Turma,Relator o Ministro Eros Grau, DJe de 7/10/05).“Para
se chegar a conclusão diversa daquela a que chegou o acórdão recorrido, seria
necessário reexaminar os fatos da causa, o que é vedado na esfera do recurso
extraordinário, de acordo com a Súmula 279 do Supremo Tribunal Federal. Falta de
prequestionamento de dispositivos constitucionais. Matéria que não foi abordada nas
razões de apelação ou mesmo em embargos declaratórios. Agravo regimental a que
se nega provimento” (AI nº 491.543/SP-AgR, Segunda Turma, Relator o Ministro
Joaquim Barbosa, DJe de 29/6/07).“ CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. AGRAVO
REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ORDEM DE CLASSIFICAÇÃO EM
CONCURSO PÚBLICO. MATÉRIA INFRACONSTITUCIONAL. FATOS E PROVAS. 1. O
acórdão recorrido decidiu a lide com base na legislação
infraconstitucional.Inadmissível o recurso extraordinário porquanto a ofensa à
Constituição Federal, se existente, se daria de maneira reflexa. 2. Decidir de maneira
diferente do que deliberado pelo tribunal a quo demandaria o reexame de fatos e
provas da causa, ante a incidência da Súmula STF 279. 3. Agravo regimental
improvido ” (RE nº 544.373/ES-AgR, Segunda Turma, Relatora a Ministra E llen Gracie ,
DJe de 7/8/09). “AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONCURSO
PÚBLICO. ORDEM DE CLASSIFICAÇÃO. PRETERIÇÃO. REEXAME DOS FATOS QUE
DERAM ENSEJO À CAUSA. IMPOSSIBILIDADE. Concurso público. Nomeação de
candidato. Inobservância da ordem de classificação. Preterição. Reexame dos
documentos e fatos que deram ensejo à causa. Impossibilidade. Súmula 279/STF.
Agravo regimental não provido” (RE nº 377.291/DF-AgR, Primeira Turma, Relator o
Ministro Eros Grau, DJ de 7/10/05).“ RECURSO. Embargos de declaração.
Inadmissibilidade. Concurso público. Reexame de fatos e provas. Omissão,
contradição ou obscuridade. Inexistência. Embargos de declaração rejeitados. Não se
admitem embargos de declaração de decisão em que não há omissão, contradição
nem obscuridade. Embargos de declaração. Caráter meramente protelatório.
Litigância de má-fé. Imposição de multa. Aplicação do art. 538, § único, cc. arts. 14, II
e III, e 17, VII, do CPC. Quando abusiva a oposição de embargos de declaração
manifestamente protelatórios, deve o Tribunal condenar o embargante a pagar multa
ao embargado ” (AI nº 724.732/CE-AgR-ED, Segunda Turma, Relator o Ministro Cezar
Peluso , DJe de 5/6/09).Diga-se, por fim, que inviável também se mostra o
conhecimento do recurso com fundamento na alínea “c” do permissivo constitucional,
pois a decisão recorrida nada dispôs sobre a eventual constitucionalidade dos
aludidos decreto e portaria municipais,não apresentando, ademais, tal
fundamentação, dentre suas razões de decidir.Ante o exposto, não conheço do
recurso extraordinário.Publique-se.Brasília, 12 de março de 2010.Ministro DIAS
TOFFOLI Relator

Você também pode gostar