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Minha trajetória
Quis dizer que a sociedade existia, mas que não era equivalente ao estado. A
sociedade é formada por indivíduos que se associam livremente e formam
comunidades de interesses que os socialistas não têm o direito de controlar nem
qualquer autoridade legal para proibir.
Queria recordar aos conservadores que existe essa tal sociedade, e que sociedade
é a razão de ser do conservadorismo.
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Começando de casa
Um mercado pode fazer a alocação racional dos bens e serviços somente onde
há confiança entre os integrantes, e a confiança só existe onde as pessoas assumem a
responsabilidade por seus atos e se tornam responsáveis por aqueles com quem
negociam. Em outras palavras, a ordem econômica depende de uma ordem moral.
A sociedade, para Burke, depende das relações de afeto e lealdade que só podem
ser construídas debaixo para cima, por uma interação face a face. É assim na família,
nos clubes locais e nas associações, na escola, nos locais de trabalho, na igreja, na
equipe esportiva, nos regimentos e na universidade em que as pessoas aprendem a
interagir como seres livres, assumindo a responsabilidade por seus atos e levando em
consideração o próximo.
“ninguém tem nenhuma obrigação que não derive de algum de seus próprios
atos.”
HOBBES, Thomas. Leviatã ou matéria, forma e poder de um Estado eclesiástico e
civil. Coleção: Os Pensadores. São Paulo: Editora Nova Cultural, 1999, p. 175.
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A verdade no nacionalismo
[...] nacionalismo como uma ideologia, é perigoso apenas à medida que as
ideologias são perigosas. Ocupa o espaço vago deixado pela religião e, ao fazê-lo,
estimula o verdadeiro crente a venerar a ideia nacionalista e a buscar nesta concepção
aquilo que ela não pode oferecer – o propósito último da vida, o caminho da redenção
e o consolo para todas as aflições.
[...] a família é parte da identidade; é aquilo que não muda enquanto as diversas
opiniões se modificam e entram em choque. Uma identidade comum abranda a
divergência. É o que torna possível o antagonismo e, consequentemente, a discussão
racional. É o fundamento de qualquer modo de vida em que a solução conciliatória é a
regra, não o despotismo.
[...] a causa conservadora estaria perdida caso não atraísse também os novos
imigrantes das cidades industriais e se não levasse a sério a situação deles. Um
conservadorismo crível deveria sugerir formas de expandir o benefício de pertença
social àqueles que não foram bem-sucedidos para obtê-lo por conta própria.
[...] pessoas que passam a depender dos pagamentos dos benefícios sociais,
talvez ao longo de várias gerações, e perderam todos os incentivos para viver de outra
maneira. Com frequência, o sistema de benefícios é concebido de tal forma que
qualquer tentativa de escapar dele pelo trabalho levará a uma perda, em vez de um
ganho, na renda familiar. E, uma vez que o ciclo de recompensa é instituído, cria
expectativas que são transmitidas às famílias daqueles que se beneficiam. Hábitos
como a geração de filhos ilegítimos (fora do casamento), a simulação de doença para
fugir do cumprimento de alguma obrigação e a hipocondria são premiados, e essas
práticas usuais são passadas de pai para filho, criando uma classe de cidadãos que
nunca viveu do próprio esforço e que não conhece ninguém que já o tenha feito. O custo
disso não é fundamentalmente econômico: esses comportamentos provocam um
impacto direto no sentimento de pertença social e estabelecem um antagonismo entre
os que vivem de forma responsável e os demais que não vivem assim, e afastam a
minoria dependente da experiência plena da cidadania.
A segunda falha é que o sistema de benefícios sociais, da maneira como foi até
então concebido, não possui limites orçamentários. A despesa aumenta
constantemente: a assistência médica gratuita, que prolonga a vida da população,
resulta em custos cada vez mais elevados nos cuidados com a saúde até o fim da vida,
e há também os encargos das pensões que não podem ser pagos com os recursos
existentes. Como consequência, os governos estão contraindo cada vez mais
empréstimos para o futuro, hipotecando os ativos dos que ainda irão nascer em
benefício dos vivos. A sempre crescente dívida pública foi mantida em ordem até agora
com base no pressuposto de que os governos não deixariam de pagá-la e que não
inadimplirão enquanto o nível da dívida se mantiver na atual ordem de grandeza. No
entanto, a confiança na dívida governamental tem sido durante abalada pelos
acontecimentos recentes na Grécia e em Portugal, e essa confiança deve desaparecer,
assim como o estado de Bem-Estar Social, pelo menos no seu formato atual.
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A verdade no capitalismo
[...] o livre mercado é uma economia regida por seres livres. Esses seres livres
são seres responsáveis. Transações econômicas em um regime de propriedade privada
não só têm por base a distinção do que é meu daquilo que é seu, mas também do que é
meu e diz respeito ao outro. Sem responsabilidade e prestação de contas ninguém é
confiável, e sem confiança as virtudes que são atribuídas a uma economia livre não
surgiriam. Toda transação no mercado leva tempo, e no período entre o início e a
conclusão só a confiança, e não o direito de propriedade, mantém as coisas no devido
lugar.
[...] distinção entre desejos verdadeiros, que conduzem à realização daquele que
o satisfaz, e desejos falsos, que são “tentações” que levam à ruptura, alienação e
fragmentação do eu. Essa diferenciação está no cerne da religião e é o tema de muita
arte séria. É algo que deve ser reconhecido, especialmente, agora que vivemos em uma
época de abundância. Valores materiais, idolatria e indulgência nos prazeres sensoriais
estão corroendo constantemente a nossa consciência de que realmente existem bens
que não podem ser colocados à venda, uma vez que fazê-lo é destruí-los – bens como
o amor, o sexo, a beleza e a comunidade. Esses bens não são completamente
compreendidos até que os recebamos, nem conseguimos quantifica-los ou inseri-los
em alguma equação de custo-benefício.
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A verdade no liberalismo
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A verdade no multiculturalismo
[...] em um período muito curto, vimos a universidade ser dominada por outro
tipo de teologia – uma teologia ímpia, se dúvida, mas não menos insistente na
submissão incondicional à doutrina e não menos fervorosa na busca por hereges,
céticos e desmascaradores. As pessoas não são mais queimadas na fogueira por suas
opiniões: hoje, simplesmente perdem o emprego ou, se forem alunos, são reprovados
nos exames do curso. O efeito, oporem, é similar, isto é, reforçar uma ortodoxia em que
ninguém, de fato, acredita.
[...] As pessoas esquivam-se das verdades inconvenientes e constroem muros
para tirá-las de vista.
[...] nem todas as culturas são igualmente admiráveis e [...] nem toas as culturas
podem existir confortavelmente lado a lado. Negar isso é renunciar a própria
possibilidade de um juízo a própria possibilidade de um juízo moral e, portanto, negar
a experiência fundamental de comunidade.
[...] o que acontece quando pessoas cuja identidade é determinada pela crença
ou consanguinidade imigram para lugares estruturados pela cultura ocidental? Os
ativistas dizem que devemos abrir-lhes caminha cedendo espaço para que a cultura
delas possa se desenvolver. [...] essa é a receita para o desastre e [...] só podemos
receber imigrantes se os acolhermos dentro, não afastados ou em oposição a nossa
cultura. No entanto, isso significa dizer-lhes para aceitar as regras, os costumes e as
maneiras de agir que podem ser discrepantes aos antigos modos de vida. É uma
injustiça? Não acho que seja. Se os imigrantes vêm é porque se beneficiam ao vir. É,
portanto, razoável lembra-los de que também há um custo.