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MOREIRA, Alexandre Magno Fernandes. O direito à educação domiciliar.

Brasília, DF:
Editora Monergismo, 2017.

Em comparação com a média da população, as pesquisas sugerem que as crianças


educadas em casa são mais engajadas no sentido cívico, empreendedoras, envolvidas na
sociedade, e a educação domiciliar foi tema de debates políticos intensos ao longo de duas
décadas. (65)

parece que muitas pessoas confundem o ensino obrigatório com frequência obrigatória à
escola, em especial nas escolas públicas. (77)

Constituição Federal diz que dos 4 aos 17 anos, a pessoa deve ser obrigatoriamente
“educada”. Não há o mínimo consenso, porém, sobre o processo exato de preparação para
o futuro denominado educação. (159)

A educação domiciliar não é apenas uma alternativa à escola; muito mais que isso, ela
consiste no mais integral cumprimento dos deveres decorrentes do poder familiar. Em
essência, educar os filhos em casa talvez seja a maior manifestação de amor que os pais
podem lhes dar. (184)

a banda inglesa Pink Floyd também cometeu um erro, que passou despercebido por quase
todos os ouvintes da música. O erro foi a confusão entre educação e escolarização. Bem,
não precisamos jogar toda a culpa em Roger Waters & cia., pois esse erro é bastante
disseminado. E não é o único: instrução, por exemplo, também é associada muitas vezes
com escolarização.3 Da mesma forma, os termos professor e educador são tomados com
frequência como sinônimos. (217)

Sem dúvida, o termo “educação” é o de mais problemática definição. (223)

Entre as várias definições reconhecidas de educação, destaco: Educação desenvolve no


corpo e na alma do aluno toda a beleza e toda a perfeição de que ele é capaz. — Platão A
educação é a criação da mente sadia em um corpo sadio. Desenvolve a faculdade do
homem, em especial sua mente, para que ele possa ser capaz de desfrutar a contemplação
da verdade suprema, a bondade e beleza. — Aristóteles A educação é o desenvolvimento
da criança de dentro. — Rousseau A educação é desdobramento do que já existe em
germe. É o processo através do qual a criança faz com que o interno torne-se externo. —
Friedrich Fröbel A educação é o desenvolvimento harmonioso e progressivo de todos os
poderes e faculdades inatas do ser humano — físicas, intelectuais e morais. — Pestalozzi
A educação é o completo desenvolvimento da individualidade da criança para que ela possa
fazer uma contribuição original para a vida humana de acordo com o melhor de sua
capacidade. — Thomas P. Nunn. (230)

A aprendizagem conta com três dimensões: a) humana: relacionamento interpessoal


(professores, alunos, direção, funcionários); b) político-social: época histórica, políticas
governamentais etc.; c) técnica: definição de objetivos, seleção de conteúdos, técnicas e
recursos de ensino. (351)

A escolarização não é apenas a educação institucionalizada (isto é, conduzida por


estruturas burocráticas reguladas, as escolas), mas também uma ideologia,28 um mito,29
uma religião30 e um processo educacional. (368)

Intelectual, em sentido lato, é quem, dotado de cultura bem maior que a média da
população, reflete sobre as realidades sociais e propõe soluções para seus problemas.
(397)

Maria Lúcia de Arruda Aranha, autora do mais influente manual de filosofia da educação no
Brasil, afirma esse vínculo entre professor e intelectual orgânico de forma assaz
contundente: Ser um educador intelectual transformador é compreender que as escolas
não são espaços neutros de mera instrução, mas carregados de pressupostos que
representam as relações de poder vigentes e convicções pessoais nem sempre
explicitadas.
Imaginar que a escola seja um local apolítico, em que são transmitidos conhecimentos
objetivos e apartados do mundo das injustiças sociais, é manter uma postura
conservadora. Perigosamente conservadora, por contribuir com a manutenção do status
quo Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 2006, p. 47. (418)

Doutrinação e propaganda Educação Unilateral: Diferentes ou opostos pontos de vista são


ignorados, deturpados, subrepresentados ou denegridos. Multifacetada: As questões são
examinadas a partir de muitos pontos de vista; os lados opostos são equitativamente
representados. Usa generalizações, declarações “totalizantes” e despreza referências e
dados específicos. Usa qualificadores: as declarações são apoiadas em referências e dados
específicos. Omissão seletiva: Dados cuidadosamente selecionados — e mesmo
distorcidos — para apresentar apenas o melhor ou o pior caso possível. A linguagem é
usada para esconder. Equilibrado: Apresenta as amostras de uma ampla gama de dados
disponíveis sobre o assunto. Linguagem usada para revelar. Uso enganador das
estatísticas. Referências estatísticas qualificadas com respeito ao tamanho, duração,
critérios, controles, fonte e subsídios. Aglomeração: ignora distinções e diferenças sutis.
Tenta reunir elementos superficialmente semelhantes. Raciocina por analogia.
Discriminação: Assinala as diferenças e distinções sutis.
Use analogias com cuidado, apontando diferenças e casos de inaplicabilidade. Falso dilema
(ou/ou): apenas duas soluções para o problema ou duas maneiras de ver a questão — o
“caminho certo” (o caminho do orador ou do escritor) e o “caminho errado” (qualquer
outra forma). Alternativas: Há muitas maneiras de resolver um problema ou visualizar uma
questão. Apelos à autoridade: declarações selecionadas de autoridades utilizados para
encerrar uma discussão. Abordagem “só o especialista sabe”. Apelos à razão: Declarações
de autoridades e partes envolvidas utilizados para estimular o pensamento e a discussão.
Abordagem “especialistas raramente concordam”. Apelos ao consenso ou “efeito
arrastão”: “Se todo mundo está fazendo isso, então devem estar certos”. Apelos aos fatos:
fatos selecionados a partir de ampla base de dados. Aspectos lógicos, éticos, estéticos
e psicoespirituais considerados. Apelos às emoções: Usa palavras e imagens com fortes
conotações emocionais.
Apelos à capacidade das pessoas para respostas fundamentadas e atenciosas: usa
explicações e palavras emocionalmente neutras. Rotulagem: usa rótulos e linguagem
depreciativa para descrever os defensores de pontos de vista opostos. Evita rótulos e
linguagem depreciativa: aborda o argumento, e não as pessoas que apoiam um ponto de
vista específico. Promove atitudes de ataque e/ou de defesa com o objetivo de vender uma
atitude ou produto. Promove atitudes de abertura e de pesquisa. O objetivo é descobrir.
Ignora os pressupostos e os vieses embutidos. Explora os pressupostos e os vieses
embutidos. O uso da linguagem promove a falta de consciência. O uso da linguagem
promove maior consciência. Pode levar à pobreza de espírito e à intolerância.
Pode levar à compreensão e à visão mais abrangente. Estudos citados escondem os
conflitos de interesse das fontes de financiamento. Estudos citados revelam os conflitos
de interesse das fontes de financiamento. As estatísticas sempre são apresentadas para
mostrar o máximo de dano do problema e mínimo de danos da solução.
As estatísticas são apresentadas para mostrar vários aspectos do problema, nem sempre a
partir de uma abordagem maximalista ou minimalista. Socialização é o processo de
absorção e Concepção sociocultural: No Brasil, Paulo Freire é o representante mais
significativo da abordagem sociocultural. Nessa perspectiva, o ser humano não pode ser
compreendido fora de seu contexto; ele é o sujeito da própria formação e se desenvolve
por meio da contínua reflexão sobre seu lugar no mundo e sua realidade. Essa
conscientização é pré-requisito para o processo de construção individual do conhecimento
ao longo de toda a vida, na relação pensamento-prática. Visa à consciência crítica, que é a
transcendência do nível de assimilação dos dados do mundo concreto e imediato, para o
nível de percepção subjetiva da realidade como o processo de relações complexas e
flexíveis. (440-522)

A geração que nasceu nas décadas de 1960 e 1970 foi a primeira a ter o rock nacional como
grande referência musical e talvez a última a ter a noção mais estabilizada do termo
“família”. (800)
mesmo que apenas de forma intuitiva, todos nós sabíamos que família “pra valer” abrangia
apenas as pessoas com as quais tínhamos relações de parentesco. (806)

Essa noção bem definida de família tem sido contestada pouco a pouco por movimentos
sociais que procuram inflar sua abrangência (para incluir, por exemplo, uniões informais,
casais gays ou mesmo uniões afetivas de mais de duas pessoas) ou mesmo para destruir o
próprio conceito de família, considerada uma instituição criada na era patriarcal e sem mais
nenhuma função na sociedade contemporânea. Por isso, mais do que nunca, é preciso
identificar as diversas definições de família, além das variadas formas de estruturas
familiares. (809)

A família tem algumas semelhanças com o Estado. Em primeiro lugar, ambos têm uma
finalidade em comum: proteger os direitos fundamentais de seus membros, possibilitando
a fruição do máximo bem-estar possível. Os direitos fundamentais, apesar de serem
dirigidos em sentido primordial ao Estado, são providos primariamente pela família que, se
contar o mínimo de estabilidade, atua com eficiência bem maior que o Estado.
Divirjo do autor no ponto concernente à direção exata da relação. Não é a família que se
parece com o Estado, mas é o Estado que se constitui em uma simulação, em grande
medida uma distorção, da família. (1011)

é dever dos pais “assistir, criar e educar os filhos menores” e dos filhos maiores “ajudar e
amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade” (art. 229). (1032)

Eduardo Soto Kloss: Família que nasce do poder soberano de um homem e de uma mulher
que se dão mutuamente e em que ambos são “cossoberanos”, comunidade de vida e amor
que constitui a primeira e mais radical forma de sociedade humana, “autônoma” em seus
fins e bens, independente de todo o poder estatal e “soberana” na sua potencialidade de
gerar direitos, anteriores e superiores ao Estado. (1038)

todos os dias, milhões de famílias por todo o país descumprem seu dever natural (e
obrigação constitucional) de educar os próprios filhos, de prepará-los para a vida adulta.
Do descumprimento dessa função essencial, geradora da disfuncionalidade da família até
a pura e simples desagregação familiar, costuma haver um caminho curto, muitas vezes
percorrido sem que se tenha consciência do destino.

a educação é um processo que de forma ideal ocorre durante toda a vida do indivíduo, que
tem não apenas o direito, mas o dever de se educar. (1327)

A opção pelo termo “instrução” em vez de “educação” deve-se ao fato de não haver
controvérsias a respeito do poder dos pais de educar os filhos (p. ex., o art. 205 da CF
estabelece a educação como “dever da família”).7 O que se questiona juridicamente é se
esse poder abrange também a prerrogativa de ministrar, de maneira direta ou por meio de
terceiros, selecionados para isso, os conhecimentos necessários à preparação para o
mercado de trabalho. (1331)

Antes de a escola tornar-se um fenômeno de massas nos séculos XIX e XX, a educação era
quase sempre provida integralmente em casa, de modo mais informal, com o aprendizado
do ofício paterno pelos filhos das famílias mais humildes, e de modo mais formal, com a
contratação de tutores e preletores para a educação dos filhos das famílias mais prósperas.
Essa modalidade de educação, predominante em quase toda a história da humanidade, foi
se tornando cada vez mais marginalizada com a propagação das leis de escolarização
compulsória, até o ponto de ser realizada por minorias (linguísticas, culturais e étnicas) não
inseridas na cultura majoritária. A esse fenômeno determinado pela história, denomino
educação em casa, para diferenciar do movimento contemporâneo de educação
domiciliar. (1526)

O primeiro país no qual a educação domiciliar adquiriu relevância foram os Estados Unidos,
que conta com um expressivo número de famílias desde a década de 1970. Atualmente, a
educação domiciliar é legal em todos os 50 estados da federação americana, estimando-se
em 2,5 milhões o número de crianças e adolescentes educados em casa. (1533)

Não há um censo que indique com precisão o número de famílias que adotam a educação
domiciliar; estima-se que em 2016 eram cerca de 3.200 famílias. (1545)

(existem registros de várias tribos indígenas que não consideravam os estrangeiros seres
humanos). (1639)

Assim, o que diferenciaria o respeito da dignidade? A dignidade refere-se ao valor imputado


a algo. A dignidade humana é o valor intrínseco de cada ser humano, sem levar em
consideração sua situação concreta. O respeito, por sua vez, vai além da dignidade; trata-
se de um grau superior de consideração pessoal, em que a pessoa é tratada com especial
apreço, atenção, admiração e deferência. (1873)

Na história, o desrespeito às crianças tem sido a regra. Desde abortos, infanticídios,


trabalho escravo, maus-tratos até a mais simples desconsideração de suas necessidades
físicas, mentais e psicológicas, as crianças talvez sejam o grupo humano que mais tenha
sofrido abusos e negligências em toda a história da humanidade. (1891)

a criança é retirada de suas atividades espontâneas e submetida a diversas ações que têm
por objeto não a criança de hoje, mas o hipotético adulto futuro. Quase sempre, isso
significa retirar a criança da casa dos pais e colocá-la em uma instituição escolar onde, por
várias horas diárias, ela deve obedecer a certos padrões, absorver determinados
conteúdos, obedecer a diversos adultos e conviver todos os dias com incontáveis outras
crianças, com as quais geralmente o único ponto em comum é a idade. (1927)

A educação escolar, em especial, encontra-se tão naturalizada que se tornou lugar comum
identificar educação com escolarização. (1935)

A intervenção realizada pela escola na vida da criança só pode ser comparada na vida adulta
à realizada pela prisão. Os pontos de semelhança são vários, como: estrutura autoritária,
perda da autonomia individual, ausência de participação na formulação das decisões e
tempos determinados para todas as atividades. Há uma notável semelhança incluindo-se a
relação à função primordial: enquanto a escola se destinaria à socialização das crianças, a
penitenciária se destinaria à ressocialização dos adultos. (1939)

O sistema escolar brasileiro atual não confere nenhum espaço para que as crianças possam
exercer autonomia.
Ao contrário: não há nenhuma participação ativa dos alunos no processo educacional ao
qual são submetidos. O aluno é apenas o recipiente passivo, não apenas das informações,
mas também das atitudes e dos valores de quem o ensina. (2000)

Das relevantes instituições modernas, a escola talvez seja a mais autoritária: (2002)

No limite, o único direito das crianças, no processo pedagógico, é serem submetidas a


maus-tratos. (2003)

O maior prejuízo causado pelos sindicatos de professores é sentido pelas famílias de baixa
renda, sem alternativa à escola pública, alvo quase exclusivo dos movimentos grevistas.
(2020)

Existe ainda outro poderoso interesse interno à instituição escolar: a transmissão de


determinada visão de mundo pela classe docente. Essa transmissão, denominada
doutrinação ideológica, transforma a educação em propaganda. (2030)

Como consequência, as crianças, em vez de absorverem a visão abrangente da realidade,


são transformadas em instrumentos de propagação de determinada ideologia, sendo as
demais visões de mundo repassadas de forma distorcida ou mesmo ignoradas por
completo. (2032)

A escola, em vez de servir aos alunos, serve-se deles como instrumentos para a satisfação
de interesses internos de seus membros. (2035)
a única opção para minorar os efeitos deletérios da escolarização sobre as crianças, como
a conhecemos, consiste em conferir a maior liberdade educacional possível às famílias e
instituições educacionais. (2083)

alternativas devem estar disponíveis às famílias que assim puderem e quiserem. E a


educação domiciliar tem se mostrado a alternativa que mais respeita a criança como ser
humano completo (2107)

(“não há legítimos interesses particulares, mas apenas estatais”), (2165)

por meio da autonomia o ser humano se constrói em sentido moral, intelectual, filosófico
e espiritual, sendo vedadas, a princípio, quaisquer intervenções externas ao indivíduo e no
caso das crianças, à sua família, (2179)

O mito da neutralidade da educação, que leva à negação da natureza política do processo


educativo e a tomá-lo como um quefazer puro, em que nos engajamos a serviço da
humanidade entendida como uma abstração, é o ponto de partida para compreendermos
as diferenças fundamentais entre uma prática ingênua, uma prática “astuta” e outra crítica.
Do ponto de vista crítico, é tão impossível negar a natureza política do processo educativo
quanto negar o caráter educativo do ato político. Isto não significa, porém, que a natureza
política do processo educativo e o caráter educativo do ato político esgotem a
compreensão daquele processo e deste ato.
Isto significa ser impossível, de um lado, como já salientei, uma educação neutra, que se
diga a serviço da humanidade, dos seres humanos em geral; de outro, uma prática política
esvaziada de significação educativa.
Neste sentido é que todo partido político é sempre educador e, como tal, sua proposta
política vai ganhando carne ou não na relação entre os atos de denunciar e de anunciar.
Mas é neste sentido também que, tanto no caso do processo educativo quanto no do ato
político, uma das questões fundamentais seja a clareza em torno de a favor de quem e do
quê, portanto contra quem e contra o quê, fazemos a educação e de a favor de quem e do
quê, portanto contra quem e contra o quê, desenvolvemos a atividade política. Quanto
mais ganhamos esta clareza através da prática, tanto mais percebemos a impossibilidade
de separar o inseparável: a educação da política. Entendemos então, facilmente, não ser
possível pensar, sequer, a educação, sem que se esteja atento à questão do poder. (2241)

os pais têm primazia na transmissão de convicções fundamentais de determinada religião


ou filosofia de vida, não meros gostos ou caprichos pessoais. (2284)

A liberdade de consciência, crença e religião está indissoluvelmente ligada à educação que


os pais devem prover aos filhos. A educação talvez seja uma das atividades humanas mais
permeadas por valores políticos, morais, filosóficos e religiosos. (2359)
Carta Encíclica Divini Illius Magistri, promulgada pelo Papa Pio XI em 1929: Daqui resulta
precisamente que a escola chamada neutra ou laica, donde é excluída a religião, é contrária
aos princípios fundamentais da educação. De resto uma tal escola é praticamente
impossível, porque de fato torna-se irreligiosa. Não ocorre repetir aqui quanto acerca deste
assunto disseram os Nossos Predecessores, nomeadamente Pio IX e Leão XIII, em cujos
tempos começou particularmente a dominar o laicismo na escola pública. Nós renovamos
e confirmamos as suas declarações, e juntamente as prescrições dos Sagrados Cânones
pelas quais é proibida aos jovens católicos a frequência de escolas acatólicas, neutras ou
mistas, isto é, daquelas que são abertas indiferentemente para católicos e não católicos,
sem distinção…(2380)

a educação massificada e institucionalizada na escola é incapaz de prover o aprendizado


individualizado necessário a cada criança. (2413)

sendo a cultura um conjunto de valores, crenças e convicções, a responsabilidade para


decidir em qual cultura devem ser educados os filhos recai em primeiro lugar sobre os pais.
(2473)

demandar a escolarização compulsória de todas as crianças significa desrespeitar a


identidade cultural dessas mesmas crianças e desobedecer a um dos objetivos
fundamentais da educação infantil, expresso na Convenção sobre os Direitos das Crianças:
“imbuir na criança o respeito aos seus pais, à sua própria identidade cultural, ao seu idioma
e seus valores” (art. 29.1.c). (2477)

a família é uma espécie de associação íntima. Sua proteção contra interferências estatais
indevidas deriva não apenas das garantias constitucionais de associação, vistas acima, mas
também pelo direito de autonomia individual (previsto no art. 5º, inc. II), por meio do qual
os indivíduos são livres para buscar as relações íntimas que estejam de acordo com seu
projeto de vida e sua visão de mundo; pelo direito de privacidade (protegido pelo art. 5º,
inc. X a XII), prerrogativa pela qual é possível evitar o conhecimento e a atuação de pessoas
estranhas à vida íntima dos indivíduos; incluindo os direitos culturais, uma vez que a família
é o principal meio de transmissão de “formas de expressão” e “modos de criar, fazer e
viver” (art. 216, inc. I e II). (2669)

A importância do ato de ler em três artigos que se completam. São Paulo: Autores
Associados: Cortez, 1989. (Coleção polêmicas do nosso tempo; 4) (3026)

A Constituição Federal, no art. 6º,1 classifica a educação como direito social, ou seja, como
prestação que pode ser exigida pelo cidadão ao Estado. A finalidade dos direitos sociais é
proporcionar melhores condições de vida aos setores mais fragilizados da sociedade; trata-
se de uma decorrência do princípio da igualdade substancial (art. 5º, caput) e do objetivo
da República Federativa do Brasil de “erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais” (art. 3º). (3253)

a chamada educação domiciliar não é, a rigor, um direito da família ou dos pais, mas um
dever que não pode ser descumprido, sob pena de perda ou suspensão do poder familiar.
(3286)

é natural existir uma visão de mundo comum entre os detentores do poder estatal, sem se
identificar de forma necessária com a visão de mundo da maioria da população. Essa
dissonância pode provocar um déficit de legitimidade das autoridades políticas, o que as
levará a tentar diminuí-la. O instrumento mais útil para esse fim é a educação pública,14 por
meio da qual pode se realizar a doutrinação ideológica, que propaga abertamente
determinada visão de mundo, e a alteração comportamental, que induz as crianças à
adoção de alguns comportamentos sem a defesa explícita de uma ideologia. (3325)

Torna-se, portanto, muito difícil conceber a situação em que a educação escolar, pública
ou privada, não possa trazer sérios riscos à transmissão de valores fundamentais dos pais
aos filhos, violando o princípio da neutralidade estatal e o direito humano dos pais de
educar os filhos de acordo com suas concepções morais e religiosas. (3351)

se a família recusar-se a utilizar a educação escolar, estatal ou privada, caberá ao Estado


respeitar essa opção, a não ser que demonstre, após o devido processo legal, que a família
não provê esse direito do modo adequado. (3375)

quando houver conflito de interesses, deve-se privilegiar o interesse das crianças. (3411)

Educar sempre tem em vista uma visão de mundo e um ideal de ser humano a ser
alcançado, ou ao menos buscado. (3648)

a educação provida por meio do sistema escolar reflete as concepções valorativas da elite
intelectual de sua época. Desse modo, a escola não é, como se afirma, um lugar de
pluralismo e de diversidade. (3648)

as famílias de baixa renda são as que menos têm condições para escapar desse processo
de destruição cultural, uma vez que a elas reservam-se apenas as escolas públicas, que
operam em padrões muito bem definidos — a formação dos professores, o material
didático utilizado e as avaliações têm padronização nacional. (3652)

os mais variados pontos de vista sobre a educação devem ser permitidos pelo Estado
brasileiro. (3658)
a escola não é e não pode ser a única instância educadora. Na verdade, a escola é apenas
um dos elementos integrantes da variadíssima gama de ideias e concepções pedagógicas.
(3662)

não existem evidências empíricas de que a escola seja a única instituição apta a prover
todas estas finalidades. (3709)

o questionamento mais frequente com relação à educação domiciliar refere-se à


socialização das crianças. Ao que parece, a família não seria o locus adequado para prover
as crianças com conhecimentos e valores necessários à vida na sociedade democrática e
pluralista. É preciso deixar bem evidente o absurdo dessa afirmação. Em primeiro lugar, ela
reflete um inaceitável preconceito contra a família brasileira, que, nessa visão, seria uma
verdadeira fábrica de pessoas desajustadas e incapazes da mínima convivência social. Pior:
ela considera a família produtora de pessoas intolerantes, preconceituosas e de
mentalidade totalitária. (3725)

Em segundo lugar, a crítica da educação domiciliar baseada na socialização deficiente ou


inapropriada das crianças não dispõe de nenhum fundamento empírico. Chama a atenção
que nesse processo nem a Procuradoria Geral da República nem o Colégio Nacional de
Procuradores dos Estados e do Distrito Federal foram capazes de trazer uma única
evidência empírica da inadequação da educação domiciliar como instrumento para a
formação de cidadãos. (3734)

tanto em antropologia quanto em teoria educacional, há tempos formou-se o consenso de


que a família é uma instituição educacional, uma vez que, como se viu repetidas vezes aqui,
educar constitui uma das funções precípuas da instituição social denominada família.
(3957)

nenhuma disposição do Pacto Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais


pode ser interpretada no sentido de impedir as famílias, legítimas instituições educacionais,
de escolher a exclusiva educação domiciliar. (3959)

direito à objeção de consciência (4030)

A escola não pode: fazer juízos de valor (certo/errado) com relação a comportamentos
moralmente controversos, pois essa avaliação é exclusiva da família. Da mesma forma, não
pode estimular ou reprimir esse tipo de comportamento. (4118)

Caso ela manifeste expressamente a recusa em frequentar a escola, a única opção em


sentido jurídico é garantir a ela meios de educação fora do ambiente escolar. (4157)
Por socialização você entende a formação de cidadãos? Olha, se você chama de cidadão
quem conhece seus direitos e deveres frente ao Estado, não há segredo algum: em poucas
horas, uma pessoa de inteligência média pode aprender o necessário. Porém, se você
chama de cidadão um tipo específico de pessoa comprometida com a manutenção do
sistema político atual, esqueça: meus filhos terão a capacidade de fazer escolhas políticas
que poderão muito bem ser contrárias ao estado de coisas atual. (4168)

“O homem nobre é exigente consigo mesmo, o homem vulgar é exigente para com os
outros.” — Confúcio. (4223)

Um resumo extremo de uma questão bem complexa: Se você acha que o mundo é dividido
entre opressores (“malvados”) e oprimidos (“bondosos”), você é provavelmente de
esquerda. Se você acha que todos os seres humanos são defeituosos por natureza e
propensos tanto ao bem quanto ao mal, você é provavelmente de direita. (4237)

Os dez países com maior índice de liberdade educacional são: Irlanda, Holanda, Bélgica,
Malta, Dinamarca, Reino Unido, Chile, Finlândia, Eslováquia e Espanha. Os dez países com
menor índice de liberdade educacional são: Gâmbia, Líbia, Cuba, Arábia Saudita,
Afeganistão, República Democrática do Congo, Etiópia, República Árabe da Síria,
Mauritânia e Serra Leoa. O Brasil, em 58° lugar, está ao lado de Benin (56°), Qatar (57°),
Camboja (59°) e Vietnã (60°). (4288)

Na essência, educação é o processo de concretização do potencial de cada pessoa. A


pessoa bem-educada torna real em sua vida o que existia apenas como possibilidade
dentro de si. (4402)

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