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Tema: desafios da imparcialidade do juiz no processo penal

contemporâneo
Palestrante: Profº André Machado Maya1
Aluna: Maria Benedita Froes Sousa2

Sistemas inquisitório e acusatório


O palestrante iniciou sua fala colocando uma pergunta fundamental, a
saber: o que cada um espera do comportamento de um juiz criminal? A
conclusão é óbvia, espera-se imparcialidade. Ninguém quer o inimigo julgando.
A ideia de um juiz imparcial é esperar de um processo um resultado justo. Então
a ideia de imparcialidade está intimamente relacionada com um processo justo.
A nossa Constituição quer o melhor dos mundos, mas a prática a gente sabe
que é muito diferente. A essência da diferença entre o sistema acusatório e o
inquisitivo está na separação de funções, alguém tem que acusar e outra pessoa
tem que julgar, isso não pode ser função de uma mesma pessoa. No sistema
inquisitivo é que a mesma pessoa acusa e julgar. Embora o modelo inquisitório
esteja superado, mas a gente estuda na teoria.
Por que começou se perceber a necessidade de separação de funções
de acusar e julgar? A ideia de imparcialidade está na ideia da própria evolução
do processo. Não há uma evolução linear, há um vai e volta. Quando eu
concentro mais poder eu tenho um sistema mais autoritário, e quando eu
distribuo poderes eu tenho um sistema mais democrático, ou seja, um modelo
acusatório. O modelo acusatório tem em seu cerne um modelo imparcial, a partir
daí vem outras garantias, tais como a ampla defesa, o contraditório, ampla
defesa. Se o juiz não for imparcial então não adianta nada. Nós temos um código
de processo penal que é de 1941, que tem como modelo o código italiano de
1913, que foi montado por um jurista fascista italiano. O código é sempre na
perspectiva de combate ao criminoso. Precisamos entender que isso foi feito
num momento histórico que não era democrático. O momento de Getúlio Vargas
era um momento autoritário.
São fundamentos da República Federativa do Brasil: a dignidade da
pessoa humana. Agora é o Estado sendo construído em razão da pessoa
humana. As garantias constitucionais visam garantir a dignidade da pessoa
humana. É por isso que se presume que o indivíduo é inocente. O Estado tem
obrigação de respeitar e de fazer valer cada inciso do art. 5º da CF, pois nós
somos sujeitos de direitos, isso que conforme o movimento constitucionalista de
88. Sendo assim, o processo penal deve ser democrático. Um processo
acusatório é um processo democraticamente conformado com a CF, tem
contraditório, ampla defesa etc. Mas não basta separação de funções, tem que

1
Doutor e mestre em ciências criminais (PUCRS). Professor de graduação e mestrado na faculdade de
direito da fundação Escola Superior do Ministério Público. Sócio fundador do IBRASPP. Advogado
criminalista.
2
Graduanda do 6º período do curso de Direito da Universidade CEUMA.
ter imparcialidade do juiz. Imparcialidade é a ausência de interesses prévios a
uma das hipóteses, de acusação ou de defesa. O julgador precisa ter isenção da
condução do processo. Tanto o promotor quanto o defensor tem as mesmas
condições, isso é um processo com paridade de armas, com igualdade, é um
processo em que o juiz dá às partes as mesmas oportunidades. O juiz deve ter
a mesma distância em relação ao promotor e a defesa, isso que o faz
equidistante. O juiz não pode favorecer nenhuma das partes. Regras que nos
permite evitar perdas da imparcialidade no processo. Impedimento e suspeição:
O juiz não pode ser casado com a promotora e o advogado não pode ser marido
da juíza.
Nessas hipóteses há perda concreta de imparcialidade. Por isso que
existe a teoria da aparência. Não basta ser imparcial, tem que ser imparcial.
Existem situações em que é provável a perda da imparcialidade. Havendo duvida
sobre a perda da imparcialidade, o juiz tem que sair do processo. Essas são
técnicas para efetivar o direito de ser julgado por um juiz imparcial. Uma coisa
são as hipóteses subjetivas de suspeição e impedimentos, outra coisa é o juiz
agir a preencher lacunas deixadas pelas partes. A gestão da acusação tem que
ser da acusação e não do juiz.
A função do MP não pode ser só de acusar, ele tem que produzir provas
sobre aquilo que alega, pois essa responsabilidade não pode ser passada para
o juiz. A nossa legislação processual é do positivismo, e nós insistimos em
aplicar o CPP e não A CF. O código de processo penal deveria ser interpretado
conforme a CF, mas muitas vezes estamos fazendo o contrário. Atualmente
estamos em ambiente em que a política tomou conta. A gente precisa voltar a
discutir o direito, temos que enfrentar a situação diante desse momento
improvisado. Nesse ambiente de insegurança, de globalização, sociedade de
risco etc, as coisas viralizam. Nesse contexto o crime é noticiado de uma forma
muito rápida e a mídia são grupos privados que precisam de lucro, não é à toa
que Beccaria já criticava isso, porque notícia de crime vende. O juiz passa a ser
um defensor da sociedade contra o crime. Precisamos encontrar soluções para
que crie um ambiente para que o processo seja mais garantista.
Desse modo o judiciário vai entrando cada vez mais na seara que em tese
seria do legislativo. As funções de acusar, defender e julgar são muito nobres. A
sentença é um produto do promotor, defesa e juiz, portanto a sentença é
democrática, não pode ser um ato exclusivo do juiz. Uma sentença como ato
exclusivo do juiz é autoritária. Portanto o processo deve ser uma participação da
acusação, defesa e do juiz.

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