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contextos contemporâneos
Cláudia Regina dos Anjos*
Sandra Pereira Tosta**
Resumo
Este texto é baseado na dissertação de mestrado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Educação da PUC Minas em 2008. Os objetivos com a inves-
tigação foram identificar, descrever e compreender como está sendo apropriado o
ensino de Arte no cotidiano de uma escola da Rede Municipal de Ensino de Belo
Horizonte e, especificamente, no terceiro ciclo de idade de formação, com base
nas definições, pressupostos e indicações pedagógicas presentes na LDBEN n.
9.394/96, nos PCN/Arte e no Programa Escola Plural, para o ensino dessa disci-
plina. Na pesquisa buscamos, assim, aprofundar os modos como essa escola
compreende a Arte como área de conhecimento e como ocorre sua inserção nas
práticas pedagógicas cotidianas. A metodologia usada foi o estudo de caso, no
qual foram feitas observações sistemáticas das práticas cotidianas de ensino de
Arte, bem como entrevistas semiestruturadas com estudantes, com uma profes-
sora de Arte e com a direção da escola. Além do uso dessas técnicas, foram feitos
registros audiovisuais que compõem o texto e ancoram as análises realizadas. Os
resultados da pesquisa evidenciam que a escola, bem como os professores e a
equipe pedagógica, tem avançado nessa concepção, principalmente no que se
refere à organização mais democrática dos tempos/espaços de aprendizagem
em Arte. Mas há, ainda, um longo caminho a trilhar para que a Arte seja, de fato,
desenvolvida e considerada como área de conhecimento no cotidiano escolar.
*
Professora da Rede Municipal de Belo Horizonte e presidente da Associação Mineira de Arte/Educação (AMARTE) –
2009-2012.
**
Sandra Pereira Tosta é professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da PUC Minas.
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Introdução
Neste artigo,1 temos as seguintes questões como ponto de
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Este texto é baseado partida: As práticas pedagógicas em escolas estão dialogando
na pesquisa realizada
para a dissertação de com a formação humana? Como está o ensino de Arte na Rede
mestrado apresentada
ao Programa de Pós- Municipal de Belo Horizonte a partir da Lei de Diretrizes e Bases da
Graduação em Educa-
ção da PUC/Minas, em Educação Nacional (LDBEN) n. 9394/96? Como os PCNs/Arte es-
2008, intitulada Ima-
gens visíveis, imagens tão sendo compreendidos e contribuindo para o ensino de Arte?
invisíveis: um estudo de
caso sobre o ensino de Tais questões nos mobilizaram neste texto, considerando que
arte na rede municipal
de Belo Horizonte. as novas diretrizes estabelecidas para o ensino de Arte implicam,
do nosso ponto de vista, uma retomada de como, até então, esse
ensino era ministrado na educação escolar e que cenário se des-
cortina com a referida legislação.
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Com efeito, até pouco tempo, para conhecer uma obra de arte
era necessário se deslocar para os museus e galerias; atualmente,
é possível conhecê-las virtualmente. Primeiro, por serem conside-
radas como arte somente aquelas obras expostas e guardadas
em museus e galerias. Segundo, porque a distância entre os mu-
seus e galerias e a população ainda era grande e de alto custo.
Associada a esses fatores, a visão cristalizada e difundida de que
esses lugares são somente para conhecedores de arte e para
especialistas também foi se formando no imaginário das pessoas.
De acordo com Ott (2002, p.114-115), “o museu ainda perma-
nece como o lugar, a fonte, onde a sociedade coleciona e cuida
de seus tesouros”, como se os tesouros estivessem guardados
a sete chaves. Tudo isso gerava maiores dificuldades de acesso
às obras e acentuava a distância cultural das pessoas em relação
aos bens culturais e artísticos. Ainda hoje o acesso não é para
todos, mas, sem dúvida, a tecnologia ampliou significativamente
esse acesso.
Outra questão apontada por Canclini é a possibilidade de ver,
de fruir e de produzir arte na contemporaneidade não se restringir
aos artistas e às obras consagradas e reconhecidas como tal. Essa
apreciação se encontra, também, nas expressões e manifestações
das comunidades e na vida cotidiana, propõe o autor.
A discussão sobre o fruir e o produzir arte está relacionada
com a Arte-Educação contemporânea, em termos, por exemplo,
do “contexto [como] componente definidor da percepção e da
experiência artística” (BARBOSA, 1998, p. 42). Nesse sentido,
é oportuno afirmar que essa é a grande contribuição da Arte-
Educação na contemporaneidade, isto é, os modos de conhecer,
de pensar, de se apropriar e de produzir no contexto cultural em
que está inserida a obra de arte, bem como as relações entre os
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O registro foi textualiza- Esse registro, associado a observações, nos permitiu perce-
do para melhor enten-
dimento e organização ber o processo que os estudantes desenvolveram até chegar ao
das ideias.
produto final – o trabalho exposto –, bem como as contribuições
dessa exposição de trabalhos para o público que a contemplou.
Em outros termos, queremos afirmar que a experiência estética foi
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Conclusão
Em relação ao ensino de Arte, destacamos duas questões que nos
pareceram muito importantes: o planejamento e o conteúdo contem-
plado no ensino de Arte na escola. Quanto ao planejamento, ficou
explícita a dificuldade da escola, bem como das professoras de Arte,
em organizar, planejar e sistematizar o seu currículo, a exemplo do
que ocorre em outras escolas. Esse fato nos leva a perceber que, não
obstante o esforço dos profissionais da educação em acompanhar
a dinâmica social, a dicotomia se estabelece entre o trabalhar com
o currículo pronto e rígido e o currículo aberto e mais flexível. Essa
dicotomia se reflete nas práticas pedagógicas de forma contundente,
quando a professora afirma, por exemplo, que seu planejamento é
por aula, o que nos alerta para esse tipo de prática docente, para não
cairmos na armadilha das atividades isoladas, sem conexão com a
cultura do estudante e com o conhecimento construído pela humani-
dade ao longo de sua história, que, como já afirmamos, constitui um
acervo de todos. Em outras palavras, há de se ter cuidado para não se
retomar a concepção do ensino de Arte como “atividade artística”, em
um ensino esvaziado de conteúdos, tão difundida pela LDBEN, Lei
n. 5.692/71.
Em relação aos conteúdos do ensino de Arte, sabendo da
necessidade de definir objetivos, metodologias e estratégias que
favoreçam ao estudante a compreensão da sequência e da lógica
daquilo que está construindo, a professora-sujeito da pesquisa
entendeu o seguinte:
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Recebido em 25/10/2010
Aprovado em 10/11/2010
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