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1- Funcionalidade dos Componentes

Hidráulicos das Centrais


Hidrelétricas

Prof. Dr. Arthur B. Ottoni


3 – ESTRUTURAS HIDRÁULICAS DOS APROVEITAMENTOS
HIDRELÉTRICOS

Os cursos d’água dispõem naturalmente ao longo do seu percurso de um potencial


energético (energia cinética e potencial), e a Engenharia explora esta energia, através dos
Aproveitamentos Hidrelétricos, transformando-a em energia mecânica, e, finalmente, em
energia elétrica, conforme referido no item 1.1.2.
Os componentes hidráulicos (obras civis) indispensáveis à obtenção da energia
elétrica a partir de um Aproveitamento Hidrelétrico são sucintamente descritos a seguir:
E,finalmente,

3.1 – FASES DE CONSTRUÇÃO E DESVIO DO RIO (ENSECADEIRA)

Grande parte das obras do Aproveitamento são construídas dentro do leito do rio,
que deve ser desviado levando em conta a secagem de parte do mesmo, possibilitando,
assim a construção no leito seco.
A construção das obras do leito fluvial, conforme Projeto Hidráulico do Desvio é
subdividida em fases de construção, prevendo-se assim o desvio do rio durante a execução
de uma ou mais fases construtivas.
A escolha de como subdividir a construção em fases e como desviar o rio vai
depender das condições topográficas e geológicas do local da obra, do arranjo do
aproveitamento, e do regime fluviométrico, notadamente a vazão máxima esperada
durante a fase de construção.
As obras de desvio são provisórias, devendo ser, pelo menos parcialmente,
destruídas ou tamponadas após o seu uso. É comum utilizar partes da obra de
ensecamento, incorporando as mesmas nas estruturas definitivas (Barragem).
FIGURA 3.1: Fases do Desvio do Rio

3.2 – BARRAGEM

A Barragem no Arranjo hidráulico de um Aproveitamento Hidrelétrico tem por


finalidade a formação de um desnível para produzir uma queda, ou a formação de um
grande reservatório capaz de regularizar um deflúvio, ou ainda a elevação do nível da
água do rio para permitir o afogamento da “tomada d’água” para alimentar a adução de
um Canal, Túnel ou de uma Tubulação até a casa de força. A construção da Barragem de
regularização de deflúvios (reservatório de estiagem) possui finalidades múltiplas: para
navegação, controle de cheias, irrigação, abastecimento de água, conforme descrito no
item 2.
A seleção do tipo de Barragem se dá de acordo com o material de construção
disponível no local, sendo: terra, enrocamento, concreto ou mista. Outrossim, a escolha
do tipo de Barragem dependerá da qualidade do material sobre o qual a estrutura ficará
assentada (fundação).
FIGURA 3.2: Tipos Construtivos de Barragem

3.3 – VERTEDOURO

O Vertedouro tem por objetivo escoar para jusante o excesso de água de um evento
de enchente acumulada no reservatório, levando em conta evitar os riscos que o nível
d’água do mesmo atinja a crista da Barragem, mantendo, desta forma, as condições
seguras de operação previstas para o Aproveitamento.
As vazões de projeto do Vertedouro devem ser as vazões máximas com a
probabilidade de ocorrência compatível com o tipo, porte e vida útil da obra, assim como
com as conseqüências sociais e econômicas que um eventual transbordamento da onda
de enchente sobre a barragem possa provocar para a própria obra ou à jusante e, de um
modo geral, sobre a economia de uma região ou País.
Dependendo do porte da obra, podem ser definidos dois tipos básicos de solução
para o extravasamento do excesso de água afluente ao local do Aproveitamento:
- Extravasamento por um canal lateral posicionado em cota elevada em
relação ao leito natural do rio, dispondo de Soleira ao final;

FIGURA 3.3: Canal Vertedouro para PCH

- Extravasamento sobre o próprio corpo da barragem-vertedoura, sobre a


sua crista.
FIGURA 3.4: Barragem (Creager) Vertedoura

3.4 – DISSIPADOR DE ENERGIA

Com o objetivo de minimizar os efeitos devido às perturbações introduzidas no


regime natural quando da execução de um Aproveitamento, torna-se necessário que a
restituição das vazões vertidas se faça em condições que se aproximem o mais possível
das condições naturais do rio.
Desta forma, é necessário que o excesso de energia oriundo das vazões de
vertimento e de sua queda, devido a execução do Aproveitamento, se dissipe, sem que se
verifiquem erosões significativas no leito natural do rio a jusante das obras, as quais
poderiam por em risco a sua estabilidade.

FIGURA 3.5: Dissipador de Energia Tipo “BUCKET”


FIGURA 3.6: Estudo da Cratera de Erosão Gerada pela Energia do Escoamento

3.5 – DESCARGA DE FUNDO

A descarga de fundo é uma abertura (ou conjunto de aberturas) em forma de Galeria


ou de Túnel fechado por Comportas ou Válvulas, que atravessa a Barragem, e se localiza
na parte inferior da mesma.
A descarga de fundo pode ter as seguintes finalidades:
- Esvaziar o reservatório quando necessário;
- Evacuar os sólidos decantados no reservatório próximos ao barramento;
- Liberar água durante a parada completa das turbinas;
- Escoar total ou parcialmente as águas de enchente;
- Desviar o rio durante a construção da obra.

Durante a operação do reservatório do Aproveitamento a descarga de fundo é bastante


minimizada, pois irá representar em deplecionamento do nível da água do mesmo.
FIGURA 3.7: Descarga de Fundo: Válvula Borboleta

3.6 – CANAL DE ADUÇÃO

O canal de adução corresponde a um sistema de baixa pressão (escoamento por


gravidade). Ele faz a interligação da Tomada D’Água às Turbinas. A sua utilização se dá
para os Arranjos correspondentes às usinas de Desvio, de Derivação e as PCH’s. Nas
PCH’s a água é conduzida no Canal quase horizontalmente (baixa declividade do fundo)
até o ponto onde se aproveita um desnível concentrado (Câmara de Carga), e daí, por uma
Tubulação vertical ou inclinada, até as Turbinas. O Canal tem formato trapezoidal, e a
sua construção vai depender da geologia local, de acordo com estudos para análise de
custo: solo natural (ou rocha), revestido com enrocamento, pedra argamassada ou
concreto.
FIGURA 3.8: Vista em Planta do Canal de Adução (UHE Franca Amaral)
3.7 – CAPTAÇÃO D’ÁGUA

A captação da descarga necessária para alimentação das Turbinas de um


Aproveitamento Hidrelétrico é feita pelas estruturas de captação, constituídas pelos
dispositivos de proteção e os de Tomada D’Água, este último podendo ser de superfície
e de fundo. A finalidade da captação é, portanto: captar e conduzir água dos órgãos
adutores (Canal, Tubulação, Túnel) até as Turbinas, proteção contra corpos flutuantes e
sedimentos, e fechamento da entrada de água quando for necessário (Comportas de
fechamento para manutenção).
A classificação da captação é feita segundo sua posição altimétrica em relação ao
nível d’água do reservatório em tomada de superfície na margem (PCH), sub-superficial,
de meio e fundo (Grandes e Médias Usinas).
A Tomada D’Água de superfície na margem, (usada para PCH’s), fica exposta ao
afluxo de corpos flutuantes (plantas aquáticas, folhas, galharias etc.), sendo previsto para
proteção estruturas de gradeamento para impedir a entrada destes materiais na turbina,
sendo as mesmas limpadas com freqüência. Neste tipo de tomada também é previsto um
Desarenador na entrada da captação para remoção por decantação dos sedimentos com
granulometria entre 0,1 mm e 10 mm (normalmente é de 0,5 mm) carreados com o
escoamento. Este tipo de tomada é implantado preferencialmente nas margens, em um
trecho reto, ou então na margem côncava de um trecho curvo com maior velocidade.
Na Tomada D’Água de meio e de fundo (média ou grande profundidades, utilizada
para grandes e médios reservatórios) a pressão é maior, não existindo riscos de
entupimento das Grades por corpos flutuantes. Requer comportas (manutenção) mais
pesadas devido à alta pressão e Stop-Logs. A limpeza da Grade é feita por içamento das
mesmas, e a freqüência é bem mais reduzida.
FIGURA 3.9: Tomada D’Água Superficial (PCH)
FIGURA 3.10: Tomada D’Água Sub-Superficial (Média/Grande Usina)

FIGURA 3.11: Tomada D’Água em Média Profundidade


3.8 – CÂMARA DE CARGA

A Câmara de Carga é uma estrutura destinada a fazer a transição entre o escoamento


livre no Canal de Adução e o escoamento sob pressão da Tubulação Forçada inclinada ou
vertical que liga este Canal às Turbinas. Tem também a função de aliviar o Golpe de
Aríete que se processa nesta Tubulação Forçada quando há um fechamento brusco das
descargas turbinadas, ao mesmo tempo em que ela supre de água a mesma Tubulação
Forçada quando se dá uma abertura brusca, até que se estabeleça no Canal de Adução o
regime permanente do escoamento. Deve, portanto, ter um grande volume para acomodar
estas flutuações, seja no canal de adução (fechamento da Turbina), seja para suprir de
água a operação da Turbina quando do seu funcionamento brusco. É previsto na câmara
de carga um Vertedouro de alívio para evitar flutuações no nível da água do Canal de
Adução quando as descargas da Tubulação Forçada variarem em função da Turbina.

FIGURA 3.12: Câmara de Carga


3.9 – CHAMINÉ DE EQUILÍBRIO

A Chaminé de Equilíbrio é um componente utilizado para as Usinas de Desvio e


de Derivação. A estes Arranjos está relacionado um sistema de adução da tomada d’água
(captação) às turbinas, composto por uma Tubulação adutora (ou Túnel) de baixa pressão
e uma Tubulação Forçada, a primeira ligada à captação e a segunda às Turbinas.
Este sistema está vulnerável ao funcionamento das Turbinas, pois, durante o
funcionamento das mesmas, toda massa d’água que se escoa no sistema tem certa
velocidade e inércia de movimento. Quando as Turbinas são fechadas bruscamente, a
velocidade dessa massa d’água se transforma num aumento de pressão nos Órgãos
Adutores, se propagando na forma de uma onda com grande velocidade para a montante
até um ponto com nível d’água livre, se refletindo e percorrendo no sentido contrário para
jusante, diminuindo a pressão. No caso contrário, quando as Turbinas abrem
bruscamente, a massa d’água na Tubulação é acelerada pela diminuição da pressão no
sistema adutor, podendo produzir o vácuo no mesmo. Este fenômeno é chamado de Golpe
de Aríete. Estas condições críticas de operação da Turbina criam sobrepressão no sistema
adutor, até o seu rompimento.
Com a finalidade de reduzir estes efeitos, notadamente para Tubulação Forçada
inclinada longa, intercala-se na mesma uma bacia aberta ao ar livre, que se chama
Chaminé de Equilíbrio. Portanto, este componente hidráulico tem as finalidades: de
restringir o Golpe de Aríete no trecho inclinado do sistema adutor, reduzindo a magnitude
da sobrepressão; e de fornecer às Turbinas, no caso de aumento brusco da descarga no
sistema adutor, o volume de água necessário até que a massa d’água no mesmo esteja
suficientemente acelerada.
FIGURA 3.13: Chaminé de Equilíbrio

3.10 – CASA DE MÁQUINAS

A Casa de Máquinas tem a finalidade de alojar os Grupos Geradores e os


Equipamentos (Trilho e as Pontes Rolantes) de manutenção destinados à produção de
energia elétrica, de modo a possibilitar suas montagens ou eventuais desmontagens e,
finalmente, a sua operação e manutenção. Seu dimensionamento é determinado pelo
tamanho das Máquinas e Equipamentos.
O seu projeto deve facilitar, do ponto de vista de ergonomia, as operações de conserto
e manutenção preventivas, de modo que as mesmas sejam ao máximo aceleradas. Para
definição da cota do piso principal devem ser analisadas as cheias locais, para evitar que
os Equipamentos Elétricos sejam atingidos em caso de uma inundação.
Os aspectos arquitetônicos devem também ser considerados, pois um ambiente de boa
aparência estética e limpo leva o pessoal da operação a manter a limpeza no Edifício, e
conseqüentemente nas Máquinas e Equipamentos.
FIGURA 3.14.1: Casa de Máquinas – Planta
FIGURA 3.14.2: Casa de Máquinas -corte I – I

FIGURA 3.14.3: Casa de Máquinas – corte II – II


3.11 – CANAL DE FUGA

O Canal de Fuga é a estrutura responsável pela restituição adequada das vazões


turbinadas ou vertidas na calha natural do rio à jusante.
Estas vazões na saída das Turbinas ou Vertedouro tendem a gerar no Canal de Fuga
(ou de restituição de vazões), altas velocidades, apresentando, portanto, o escoamento no
canal um alto poder de erosão.
O revestimento com rugosidade adequada do Canal, a implantação de uma Soleira
submersa numa seção do seu trecho final, e o alargamento deste trecho, são algumas
medidas preventivas para reduzir a velocidade do escoamento no canal. Estas
intervenções, no entanto, dever ser analisadas em conjunto com a perda de potencial que
as mesmas podem causar na Turbina, diminuindo a queda bruta.

FIGURA 3.15: Canal de Fuga ou de Restituição de Vazões – Planta

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