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EXPEDIENTE

Comandante Geral da Polícia Militar de Pernambuco

Cel QOPM Carlos Alberto D'Albuquerque Maranhão Filho

Subcomandante Geral da Polícia Militar de Pernambuco

Cel QOPM Adalberto Freitas Ferreira

CONSELHO EDITORAL

Chefe do Estado-Maior Geral

Cel QOPM André Pessoa Cavalcanti

Chefe da 1ª seção do Estado-Maior Geral

Cel QOPM Ícaro de Freitas Barata

Adjunto da 1ª seção do Estado-Maior Geral

Ten Cel QOPM Ney Rodrigo Lima Ribeiro

Diretor de Ensino, Instrução e Pesquisa

Ten Cel QOPM Divaldo Augusto Almeira Bastos de Figueiredo

ORGANIZAÇÃO

Adjunto da Subseção de Doutrina da 1ª Seção do Estado-Maior Geral

Cap QOPM Paulo Henrique Oliveira Gomes

Apoio Técnico

Sd QPMG Kelly Patrícia Xavier dos Santos

Sd QPMG Clodoaldo Santos Rodrigues de Medeiros

Biomédica e Doutoranda em Inovação Terapêutica – UFPE – Renata Virgínia Cavalcanti


Santos

Nota ao leitor: Os artigos publicados na revista Doutrinal da PMPE são de


responsabilidade dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião da Revista nem
da Polícia Militar de Pernambuco.
PREFÁCIO

Impende-se registrar, de logo, que, com muito júbilo, mais uma Revista Doutrinária da
Polícia Militar de Pernambuco, edição de aniversário dos 191 anos da briosa
Corporação, é tornada pública à comunidade interessada, na qual está composta por
artigos escritos por Oficiais e Praças da PMPE - Secretaria de Defesa Social, com
temas atuais e relevantes, dentro do contexto da liberdade de pensamento, pesquisa,
pluralismo de ideias, divulgação da cultura e o saber.
Pois bem, os artigos contidos nesta edição são multidisciplinares e se inter-relacionam,
os quais atendem os propósitos desta Revista, como também estão escritos de forma
clara, didática e de fácil leitura, notadamente com o condão de preservar a história dos
bravos guerreiros do passado e dos atuais heróis do Leão do Norte.
Assim, parabéns aos autores pela significativa contribuição cultural!
Não obstante, a quase bissecular Polícia Militar de Pernambuco, com esta edição
comemorativa de 191 anos, reacende a esperança da discussão e a difusão de
informação técnico-científica, visando à homogeneização do conhecimento, dos
procedimentos e do aperfeiçoamento técnico-profissional, com a finalidade de
tomarmos decisões pautadas no equilíbrio, coerência e eficiência, e, sobretudo, na
legalidade.
É sob esta perspectiva que a presente Revista Doutrinária da Polícia Militar de
Pernambuco significa uma inconteste e relevante contribuição à literatura nacional, que
tem como resgate os valores especiais da PMPE, porquanto vos concito que enalteçam
mais e mais o elevado nome que a Corporação goza no seio da Sociedade
pernambucana, por meio de investigações científicas colaborativas.
SUMÁRIO

Artigos:

1. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: Âmago da Constituição


Federal de 1988 e vetor interpretativo para aplicabilidade no processo
administrativo disciplinar militar ………………………………………………….…..05-18
Autor: Ten Cel QOPM Ney Rodrigo Lima Ribeiro

2. A PRESCRIÇÃO DO PROCESSO DE CONSELHO DE DISCIPLINA E DE


JUSTIFICAÇÃO E A LEI 11.781/2000: UMA VISÃO ATUAL E CRÍTICA …..……..19-32
Autor: Ten Cel QOPM Manoel de Jesus Santos Filho

3. O USO DE APLICATIVO ESTIMAPM PARA MENSURAR ESTIMATIVA DE


PÚBLICOS EM EVENTOS ABERTOS ………………………………………………....33-46
Autores: Ten Cel QOPM Ely Jobson Bezerra de Melo, Cap QOPM Carlos André Lins
dos Santos, Cap QOPM Paulo Roberto Albuquerque

4.2PRINCÍPIOS ORIENTADORES DAS ATIVIDADES DE SEGURANÇA


INSTITUCIONAL GOVERNAMENTAL E A INDISPONIBILIDADE DO DIREITO À
PROTEÇÃO PESSOAL DO GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO ..47-62
Autor: Maj QOPM Werner Walter Heuer Guimarães

5. A PERCEPÇÃO DE ESPECIALISTAS SOBRE A ATUAÇÃO PREVENTIVA DA 1ª


COMPANHIA INDEPENDENTE DE POLICIAMENTO DO MEIO AMBIENTE NAS
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE PERNAMBUCO ………………………….…..63-78
Autor: Cap QOPM Bruno Silva Cavalcante

6. A PROBLEMÁTICA DA DESMILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIAS ESTADUAIS NO


BRASIL …………………………………………………………………………………….79-94
Autor: Sgt PM Luiz Carlos de Carvalho Ordonho

Jurisprudências:

Súmulas Vinculantes do Supremo Tribunal Federal…………………………………..96

Medida Cautelar No Habeas Corpus 127.900 - Amazonas……….…………....97-100


PARTE I

Artigos
DOUTRINAL
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Artigo publicado no Vol.05 Nº 01 - Edição de Jan a Jun 2016 - ISSN 2318-3152


Versão on-line disponível em: http://www.portais.pe.gov.br/web/pmpe/edicao-atual
PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA: ÂMAGO DA CONSTITUIÇÃO
FEDERAL DE 1988 E VETOR INTERPRETATIVO PARA APLICABILIDADE NO
PROCESSO ADMINISTRATIVO DISCIPLINAR MILITAR

Ney Rodrigo Lima Ribeiro1

RESUMO

O artigo em destaque tem por finalidade discorrer a respeito do estudo do Princípio


da Dignidade da Pessoa Humana, cuja pretensão é ressaltar que este postulado
cuida-se de inconteste âmago da Constituição Federal de 1988, bem assim é um
vetor interpretativo para aplicabilidade das normas infraconstitucionais e do processo
constitucional brasileiro, como também no gênero processo administrativo disciplinar
militar. Defende-se, por meio do método hipotético-dedutivo utilizado na construção
deste trabalho científico, que no âmbito administrativo disciplinar, nas espécies de
processos administrativos disciplinares militares (Conselho de Justificação,
Conselho de Disciplina, Processo de Licenciamento e Sindicância), especialmente
na aplicação da pena disciplinar de prisão de até 72 (setenta e duas) horas, na
dosimetria e aplicação das penas em face dos Militares do Estado, e, considerando
que o administrador público não tem vontade própria, mas é jungido, vinculado e
subordinado aos ditames da lei, urge, em respeito princípio da dignidade da pessoa
humana, que o julgador, no mínimo, respeite os princípios basilares da legalidade,
impessoalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa e o
contraditório.

Palavras-chave: Constituição Federal de 1988. Princípio da dignidade humana.


Processo administrativo militar.

ABSTRACT

The feature article aims to discourse about the study's Principle of Human Dignity,
whose intention is to point out that this postulate takes care of undisputed core of the
1988 Federal Constitution, as well as is an interpretive vector for applicability of infra-
constitutional norms and the Brazilian constitutional process but also in the genre
military disciplinary administrative process. It is argued, through the hypothetical-

1 Tenente-Coronel da PMPE. Mestre e Especialista em Direito Público e Fundamentais pela


Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa (FDUL). Especialista em Direito Público
(ESMAPE/FMN). Especialista em Formação de Educadores (UFRPE). Autor de 04 (quatro) obras
individuais, e coautor de 02 (duas) coletivas, além de artigos jurídicos publicados e citações como
doutrinador. Professor. Endereço eletrônico: neyrodrigolr@hotmail.com. CV:
http://lattes.cnpq.br/9365301347007736.

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deductive method used in the construction of this scientific work, which in
administrative levels, in species of military disciplinary administrative proceedings
(Council of Justification, Council of Discipline, Process Licensing and Inquest),
especially in the application the disciplinary prison sentence of up to 72 (seventy-two)
hours in dosimetry and application of penalties in the face of State’s Military, and
considering that the public administrator had no choice, but it is yoked, bound and
subordinate to the dictates of law, it is urgent, respecting the principle of human
dignity, the judge, at least, respect the basic principles of legality, impartiality,
motivation, reasonableness, proportionality, legal defense and contradictory.

Key words: Federal Constitution of 1988. Principle of human dignity. Military


administrative process.

1 INTRODUÇÃO

Principia-se, registrando que a dignidade da pessoa humana, apesar


dos inúmeros desrespeitos diários, é perspectivada em função do lugar central que
ocupa no universo, corolário da capacidade racional e autodeterminação que
permite ao homem tomar consciência da sua dimensão como ser livre
(MIRANDOLA, 2008, p. XXI-XXII).

No entanto, embora se tenha afirmado que é mais fácil desvendar e


dizer o que a dignidade não é do que expressar o que ela é, consabido é que se
trata de um princípio real, algo vivenciado concretamente pelo ser humano, devendo
ser reconhecida, protegida, promovida e respeitada por todos, indistintamente
(RIBEIRO, 2013, p. 146)
Cumpre-se anotar que o princípio da dignidade da pessoa humana no
ordenamento jurídico nacional e internacional, aliado à sua dimensão e
controvérsias doutrinárias, tem sido denominado por renomados juristas, por
exemplo, como superprincípio constitucional, sobreprincípio, valor pré-constituinte e
hierarquia supraconstitucional, metaprincípio, valor supremo por parte do Estado,
princípio diretivo, valor jurídico mais elevado, valor axial e nuclear da Constituição,
vetor paradigmático para a interpretação das demais normas e valores
constitucionais, dentre outros (RIBEIRO, 2013, p. 146 e 147)

Compreende-se que o princípio da dignidade da pessoa humana

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representa a superação da intolerância, da discriminação, da exclusão social, da
violência, da incapacidade de aceitar o outro, o diferente, na plenitude de sua
liberdade de ser, pensar e criar, ou seja, expressa ele um conjunto de valores
civilizatórios que se pode considerar incorporado ao patrimônio da humanidade,
incluindo-se a proteção do mínimo existencial, sem prejuízo da persistência de
violações cotidianas ao seu conteúdo (RIBEIRO, 2013, p. 147).
Postas essas breves considerações, o artigo tem como delimitação do
objeto, o estudo da problemática jurídica o Princípio da Dignidade da Pessoa
Humana, na qual almeja-se demonstrar que este sobreprincípio trata-se do âmago
da Constituição Federal de 1988, para além de ser um vetor interpretativo para
aplicabilidade no processo administrativo militar, não tendo a investigação a
pretensão de esgotar, jamais, o complexo estudo, mas será realçado,
resumidamente, uma síntese histórica, o conceito de dignidade da pessoa humana e
suas perspectivas legal, doutrinária e jurisprudencial de sua aplicabilidade no
processo constitucional brasileiro.
Outrossim, utilizou-se na construção deste trabalho científico o método
hipotético-dedutivo, haja vista que se optou por formular conclusões por intermédio
de algumas conceituações trabalhadas pela doutrina nacional e comparada,
buscando aplicá-las aos fins deste artigo.

2 SÍNTESE HISTÓRICA

É possível separar claramente duas correntes de pensamentos das


quais a dignidade humana retira seu valoroso conteúdo, como: a doutrina Cristã e a
Filosofia Kantiana. Explica-se.
A uma, no que pese alguns de seus elementos terem sido formulados
pela Escola Estoicista, foi o Cristianismo o responsável pelo surgimento da noção de
dignidade humana, notadamente o conceito de pessoa, como ser dotado de
dignidade, corolário, dessarte, da sua vinculação à ideia da criação e da ação
Divina, ou seja, a concepção cristã é sustentada no sentido de que, por serem
criados à imagem e semelhança de Deus, os homens possuem uma igualdade
essencial (RIBEIRO, 2013, p. 149).

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O Concílio Ecumênico Vaticano II aduz que “o homem foi criado à
imagem de Deus”; “o homem, por sua própria natureza, é um ser social, que não
pode viver nem desenvolver as suas próprias qualidades sem entrar em relação com
os outros” (VATICANO II, p. 23).
A duas, destaca-se o pensamento do filósofo Immanuel Kant, pioneiro
da concepção humanista, universal e moderna de dignidade humana. Giza Kant, em
resumo, que todos os seres humanos, quaisquer que sejam, são igualmente dignos
de respeito, sendo que o traço distintivo do homem, como ser racional, está no fato
de existir como “um fim em si mesmo”, isto é, ele não pode ser usado como simples
“meio”, limitando, por decorrência, o uso arbitrário da vontade (KANT, 2010, p. 28-
31).
Nessa ótica, infere-se que a dignidade humana fora reconhecida
anteriormente pelos jusnaturalistas e positivistas. Contudo esta noção passou ter
maior relevância no plano normativo constitucional após o final da drástica 2.ª
(segunda) Guerra Mundial, cenário este, portanto, denominado neopositivismo ou
pós-positivismo, tendo ela assumido o papel de eixo central do Estado Democrático
de Direito, cuja configuração projeta-se hoje muito mais rumo à sociedade e ao
mundo, do que propriamente em direção à organização do Estado e à tipologia dos
poderes representativos da soberania (RIBEIRO, 2013, p. 105 e 106).
Comunga-se, contudo, que a origem da relevância da dignidade
humana no mundo ocidental conjuga quatro principais vertentes, a saber: a) o
contributo judaico-cristão, configurando a pessoa humana como um ser criado à
imagem e semelhança de Deus e dotado de um valor sagrado; b) a concepção
renascentista de Mirandola que, reconhecendo a cada pessoa a capacidade de
determinar o seu próprio destino, articula a liberdade e a soberania da vontade; c) o
pensamento Kantiano, sublinhando que a pessoa é sempre um fim em si mesma,
não podendo ter preço e nunca sendo válida a sua transformação ou degradação
em meio, coisa ou objeto; e d) o movimento existencialista, deixando claro que não
se trata de um conceito abstrato ou transpersonalista de pessoa humana, antes a
dignidade humana tem sempre como referencial cada ser humano vivo e concreto
(OTERO, 2007, p. 550 e 551).

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E mais, o ser humano precede o Direito e o Estado, que apenas se
justificam em razão dele e, por decorrência lógica, a pessoa humana deve ser
concebida e tratada como valor-fonte (REALE, 1990, p. 59-69) do ordenamento
jurídico e, como bem sublinhou Santo Agostinho, parafraseia-se:

(...) tendo Deus feito o homem à sua imagem, conferiu-lhe razão e


inteligência que permite ao ser humano elevar-se acima de todos os animais
da terra, das águas e do ar, desprovidos de um espírito deste gênero,
porquanto é na razão e na inteligência humanas que reside o ponto de
contato entre Deus e os homens e, neste raciocínio, o alicerce da dignidade
do homem (OTERO, 2008, p. 100-101).

Postas essas premissas, em sucessivo, abordar-se-á o conceito de


dignidade da pessoa humana.

3 CONCEITO DE DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA

À partida, o conceito de dignidade da pessoa humana, hodiernamente,


não se reveste de uma edificação sólida e, sequer, uníssona, haja vista sua
concepção ser corolário de diversas tradições, por exemplo, teleológica, jurídica,
filosófica e histórica, aliado ao fato de ser reconhecida desde a Declaração Universal
dos Direitos Humanos de 1948, frise-se, no Sistema Global de Proteção, como
consagrada expressamente na Lex Fundamentalis de inúmeros países, assim como
referenciada em diversas convenções e documentos internacionais.
Referente à etimologia da palavra, é sabido que provém do latim
dignitas, significando respeitabilidade, valor intrínseco, mérito, prestígio, estima,
consideração, excelência, nobreza, enfim, indica qualidade daquilo que é digno e
merece respeito ou reverência. Na antiguidade, o conceito de dignidade da pessoa
humana estava ligado ao mérito, que poderia ser aferido pelo dinheiro, título de
nobreza, capacidade intelectual. Contudo, ao lado desse substantivo abstrato
dignidade que expressa uma qualidade ou atributo de um determinado sujeito, deve-
se considerar também o termo dignificação, derivado do verbo dignificar, ou melhor,
tornar digno que expressa um processo de busca ou de aprimoramento da
dignidade. Pessoa, por conseguinte, também de origem etimológica latina “per-

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sonare”, que se referia alhures à mascara teatral utilizada para amplificar a voz dos
atores, passando depois a servir para designar a própria personagem representada
e, todavia, incorporando, à linguagem jurídica, filosófica e teleológica, funcionando
para designar os seres humanos (RIBEIRO, 2013, p. 154-155).
Para José Joaquim Gomes Canotilho, a dignidade da pessoa humana,
como base e núcleo essencial da República significa, sem transcendência ou
metafísicas, o reconhecimento do homo noumenon, ou seja, do individuo como limite
e fundamento do domínio político da República, além dela exprimir a ideia de
comunidade constitucional inclusiva, pautada pelo multiculturalismo mundividencial,
religioso ou filosófico (2003, p. 225-226).
Compartilha-se, entretanto, com o magistério de Paulo Bonavides, para
quem:

(...) nenhum princípio é mais valioso para compendiar a unidade material da


Constituição que o princípio da dignidade da pessoa humana; sua
densidade jurídica no sistema constitucional há de ser, portanto, máxima, e
se houver reconhecidamente um princípio supremo no trono da hierarquia
das normas, esse princípio não deve ser outro senão aquele em que todos
os ângulos éticos da personalidade se acham consubstanciado.
(BONAVIDES, 2001, p. 233).

4 PERSPECTIVAS LEGAL, DOUTRINÁRIA E JURISPRUDENCIAL DE SUA


APLICABILIDADE NO PROCESSO CONSTITUCIONAL BRASILEIRO

Inicialmente, o princípio da dignidade da pessoa humana, no


ordenamento jurídico brasileiro, tem espeque legal no Art. 1º, inciso III, da
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Adite-se que a dignidade da pessoa humana também é
categoricamente homenageada no Art. 226, § 7º, da Carta Cidadã supra (DANTAS,
2016, p. 252-253), porquanto sua influência, seja direta ou indiretamente, cinge-se,
dentre outros, nos direitos e garantias fundamentais.
Nessa senda, o valor da dignidade humana impõe-se como núcleo
básico e informador do ordenamento jurídico brasileiro, como critério e parâmetro de
valoração a orientar a interpretação e compreensão do sistema constitucional
instaurado em 1988. A dignidade humana e os direitos e garantias fundamentais

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vêm a constituir os princípios constitucionais que incorporam as exigências de
justiça e dos valores éticos, conferindo suporte axiológico ao sistema jurídico
brasileiro. Os direitos e garantias fundamentais passam a ser dotados de uma
especial força expansiva, projetando-se por todo o universo constitucional e servindo
como critério interpretativo de todas as normas do ordenamento jurídico nacional
(PIOVESAN, 2009, p. 353).
Sobreleva realçar que a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal
tem se posicionado no sentido de que a dignidade da pessoa humana é princípio
central do sistema jurídico, sendo significativo vetor interpretativo, verdadeiro valor-
fonte que conforma e inspira todo o ordenamento constitucional vigente em nosso
país e que traduz, de modo expressivo, um dos fundamentos em que se assenta,
entre nós, a ordem republicana e democrática consagrada pelo sistema de direito
constitucional positivo (RIBEIRO, 2013, p. 122).
De frisar ainda que a jurisprudência do Tribunal Constitucional
português, o Supremo Tribunal Federal e demais órgãos do Poder Judiciário
brasileiro têm se manifestado de forma equânime e moderada na aplicação concreta
do princípio da dignidade da pessoa humana, reconhecendo-o como verdadeiro
vetor paradigmático ou sobreprincípio para a interpretação das demais normas e
valores constitucionais, notadamente nas hipóteses de colisão (RIBEIRO, 2013, p.
123-124).
Na sequência dessa argumentação, delinear-se-ão, a seguir,
exemplificativamente, hipóteses que o princípio da dignidade da pessoa humana é
um inegável vetor interpretativo para aplicabilidade do processo constitucional
brasileiro. Confiram-se:
I) Compreende-se que a ideia nuclear do princípio em evidência
constitui o âmago material aglutinador da normatividade de direitos humanos e
fundamentais, isto é, um parametrizador cerne que se projeta num princípio
normativo de igualdade, liberdade e socialidade;
II) O postulado da dignidade da pessoa humana compreende:
dever de respeito (impede a realização de atividades prejudiciais à dignidade –
obrigação de abstenção); dever de proteção (exige uma ação positiva dos poderes
públicos na defesa da dignidade); e dever de promoção (impõe a adoção de

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medidas que possibilitem o acesso aos bens e utilidades indispensáveis a uma vida
digna – mínimo existencial ou núcleo da dignidade humana);
III) É um verdadeiro superprincípio, irradiando sobre os direitos e
garantias fundamentais (individuais e sociais), contidos na Constituição e normas
esparsas brasileiras, com o fito de orientar a devida interpretação e ponderação das
normas de direito internacional e interno;
IV) Segundo jurisprudência pacifica do Supremo Tribunal Federal,
com espeque no princípio da dignidade da pessoa humana:
a) A discriminação contra homossexuais é reprovável;
b) A tortura é prática inaceitável de ofensa à dignidade da pessoa
humana;
c) A prestação jurisdicional é um das formas de concretizar o
princípio da dignidade da pessoa humana, o que torna imprescindível que seja ela
realizada de forma plena, eficaz e célere;
d) O direito ao nome se insere no conceito de dignidade da pessoa
humana;
e) O uso indistinto de algemas em presos ou acusados de crime
sem que haja uma justificativa socialmente aceitável é ofensivo da dignidade da
pessoa humana;
f) A prisão prolongada, abusiva e não razoável da prisão cautelar
do réu sem julgamento da causa ofende o postulado da dignidade da pessoa
humana;
g) A instauração de procedimento criminal a partir de documento
apócrifo, configurando denúncia anônima, é contrária à ordem jurídico-constitucional
e à dignidade da pessoa humana;
h) A boa aplicação dos direitos fundamentais de caráter processual,
notadamente a proteção judicial efetiva, configura elemento essencial de realização
do princípio da dignidade da pessoa humana;
i) O trabalho escravo é prática condenada pela sociedade,
violadora da ordem constitucional e da dignidade da pessoa humana;
j) A vedação do aborto de anencéfalo, impondo à gestante que
conviva diuturnamente com a triste realização de que o feto dentro de si nunca

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poderá se tornar um ser vivo, conflita com a dignidade da pessoa humana;
k) O direito de defesa constitui pedra angular do sistema de
proteção dos direitos individuais e materializa uma das expressões do princípio da
dignidade da pessoa humana.
l) O princípio da dignidade da pessoa humana irradia e
salvaguarda os direitos individuais, sociais e coletivos, bem assim as garantias ou
remédios constitucionais, especificamente o habeas corpus (Art. 5º, LXVIII), o
mandado de segurança individual e o coletivo (Art. 5º, LXIX e LXX, c/c a Lei nº
12.016/09), o mandado de injunção (Art. 5º, LXXI, c/c as Leis nºs 8.038/90 e
12.016/09), o habeas data (Art. 5º, LXXII, “a” e “b”, c/c a Lei nº 9.507/97) e a ação
popular (Art. 5º, LXXIII, c/c a Lei nº 4.717/65), bem assim a ação civil pública (Art.
129, III, c/c a Lei nº 7.347/85);
m) O princípio da dignidade da pessoa humana irradia e protege as
cláusulas pétreas (Art. 60, § 4º, I a IV) e o princípio constitucional sensível (Art. 34,
VII, “b”);
n) O princípio da dignidade da pessoa humana almeja que na
dosimetria e aplicação da pena o magistrado prolate a devida decisão em respeito e
homenagem aos princípios da motivação, razoabilidade, proporcionalidade e
individualização da pena, como também assegure a ampla defesa, o contraditório, a
duração razoável do processo, a presunção da inocência, dentre outros ao acusado;
o) O princípio da dignidade da pessoa humana atua como um
escudo em face das prisões em flagrantes, preventivas e temporárias ilegais e
abusivas, inclusive no que tange a aplicação da pena disciplinar de prisão de até 72
(setenta e duas) horas, prevista no art. 29, como também nas penas disciplinares
militares contidas no art. 28, todos da Lei Ordinária Estadual nº 11.817, de 24 de
julho de 2000 (Código Disciplinar dos Militares do Estado de Pernambuco);
p) Em respeito ao princípio da dignidade da pessoa humana, é
dever das autoridades com competência para aplicar as penas disciplinares (art. 10,
da Lei nº 11.817/00), quando for o caso, reconhecer as exculpantes ou causas
excludentes da conduta, as excludentes da antijuridicidade ou ilicitude, as dirimentes
ou eximentes da culpabilidade e as causas de justificação (art. 23, I a IV, da Lei nº
11.817/00) da transgressão disciplinar militar, bem como o perdão disciplinar militar;

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q) No âmbito administrativo disciplinar, nas espécies de processos
administrativos disciplinares militares (Conselho de Justificação, Conselho de
Disciplina, Processo de Licenciamento e Sindicância), especialmente na dosimetria
e aplicação das penas em face dos Militares do Estado, considerando que o
administrador público não tem vontade própria, mas é jungido, vinculado e
subordinado aos ditames da lei, urge, em respeito princípio da dignidade da pessoa
humana, que o julgador, no mínimo, respeite o princípios basilares da legalidade,
impessoalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa e o
contraditório;
r) À luz do princípio da dignidade da pessoa humana, recomenda-
se que os profissionais de segurança pública atuem com equilíbrio no exercício de
suas funções, sob pena de incorrerem em abuso de autoridade (Lei n° 4.898/65).
s) Aqui chegado, apresentar-se-ão as conclusões sumárias que se
defende.

5 CONCLUSÕES

O presente artigo procurou ser claro e conciso, debruçando-se sobre a


temática, Princípio da Dignidade da Pessoa Humana, cuja pretensão foi ressaltar
que este postulado trata-se de inconteste âmago da Constituição Federal de 1988,
bem assim é um vetor interpretativo para aplicabilidade das normas
infraconstitucionais e do processo constitucional brasileiro, como também no gênero
processo administrativo disciplinar militar, especialmente no Conselho de
Justificação, Conselho de Disciplina, Processo de Licenciamento e Sindicância, na
aplicação da pena disciplinar de prisão de até 72 (setenta e duas) horas e na
dosimetria e aplicação das penas em face dos Militares do Estado.
De mais a mais, pontuar-se-ão, abaixo, as argumentações sumárias
que se advoga:
I. A Constituição Federal de 1988, apesar de sua longa vida
constitucional, foi a primeira a enaltecer a Dignidade da Pessoa Humana (Art. 1º, III)
como inconteste âmago da Lex Fundamentalis, diferentemente da forma como foi
mencionada nas Cartas Magnas de 1824 (dignidade da nação, do Imperador de sua
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esposa), 1934 (Art. 115 – dispôs sobre a ordem econômica e social) e 1946 (Art.
145, Parágrafo único – A todos é assegurado tratamento que possibilite existência
digna).
II. O princípio da dignidade da pessoa humana, agrega-se ou
prende-se com a sobreposição, numa mesma realidade, quanto ao caráter de valor
e norma (princípios e regras), vez que ocupa lugar ou posição de destaque no
edifício constitucional brasileiro.
III. O princípio da dignidade da pessoa humana no ordenamento
jurídico nacional e internacional é denominado por renomados juristas, por exemplo,
como superprincípio constitucional, sobreprincípio, valor pré-constituinte e hierarquia
supraconstitucional, metaprincípio, valor supremo por parte do Estado, princípio
diretivo, valor jurídico mais elevado, valor axial e nuclear, âmago da Constituição,
vetor paradigmático para a interpretação das demais normas e valores
constitucionais, além de detentor de força centrípeta para exegese de qualquer
norma constitucional.
IV. O princípio da dignidade da pessoa humana é um metaprincípio
ou valor supremo por parte do Estado ou valor axial e nuclear ou valor jurídico mais
elevado.
V. O princípio da dignidade da pessoa humana consiste num
postulado diretivo ou vetor paradigmático.
VI. Apesar de a dignidade da pessoa humana haver sido elevada a
valor fundamental que confere sentido e unidade às disposições constitucionais,
diante de sua demasiada abrangência e imprecisão, cogita-se de uma norma quadro
ou moldura, haja vista seu pórtico ser amplo e pujante, envolvendo valores
materiais, inclusive os implícitos.
VII. Dentro de uma perspectiva laica, neutra e universalista, infere-
se que o conteúdo mínimo da ideia da dignidade humana, portanto, cuida-se de uma
noção plástica, aberta e plural, capaz, por conseguinte, de ser aceito por liberais e
conservadores, bem assim por qualquer visão ideológica e religiosa.
VIII. O princípio da dignidade da pessoa humana, em que pese sua
importância e realce no ordenamento jurídico internacional e nacional, a melhor
exegese é que não pode jamais ser banalizado, vendo nele todo e qualquer

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conceito, incontestável e absoluto.
IX. O princípio da dignidade da pessoa humana não deve ser
tratado como um mito ou como justificativa para uma postura extremista, razão pela
qual infere-se que a viga mestra em exame como valor intrínseco da pessoa
humana, a dignidade não pode ser violada ou sacrificada, mas, repise-se, como
norma que traz consigo a pretensão de eficácia e efetividade não é absoluta; na sua
perspectiva principiológica, atuando como mandado de otimização, não há como
negar a sua possibilidade de ponderação ou relativização no caso concreto,
especialmente quando colocadas em colisão as dignidades de duas pessoas.
X. O princípio da dignidade da pessoa humana funciona no
ordenamento jurídico, sem dúvidas, como verdadeiro “limite dos limites dos direitos
fundamentais”, principalmente que desempenha um papel de proeminência entre os
fundamentos do Estado brasileiro.
XI. O princípio da dignidade da pessoa humana deve ser
devidamente respeitado quando da aplicação da pena disciplinar de prisão de até 72
(setenta e duas) horas (art. 29) e das penas disciplinares militares (art. 28), todos da
Lei Estadual nº 11.817/00.
XII. As autoridades com competência para aplicar as penas
disciplinares (art. 10, da Lei nº 11.817/00), na qualidade de julgadores, antes de
aplicá-las, devem volver os olhos ao princípio da dignidade da pessoa humana,
como também deve, quando for o caso, reconhecer as causas excludentes da
conduta, as excludentes da ilicitude, as eximentes da culpabilidade, as causas de
justificação e o perdão disciplinar militar da transgressão disciplinar militar.
XIII. Em respeito princípio da dignidade da pessoa humana,
designadamente nos processos administrativos disciplinares militares, o julgador, no
mínimo, deve respeitar os princípios basilares da legalidade, impessoalidade,
motivação, razoabilidade, proporcionalidade, ampla defesa e o contraditório,
especialmente na dosimetria e aplicação das penas em face dos Militares do Estado.

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A PRESCRIÇÃO DO PROCESSO DE CONSELHO DE DISCIPLINA E
DE JUSTIFICAÇÃO E A LEI 11.781/2000: UMA VISÃO ATUAL E
CRÍTICA

Manoel de Jesus Santos Filho1

RESUMO

O presente artigo trata da prescrição no Processo Administrativo Disciplinar trazendo


uma investigação acerca do problema da prescrição administrativa disciplinar após a
promulgação da Constituição Cidadã, mas nitidamente sobre a ótica dos Operadores
de Segurança Pública e de Defesa Civil do Estado de Pernambuco, onde existe a
dicotomia entre a contagem do tempo para o instituto da prescrição das infrações
administrativas puras e as infrações administrativas consideradas como crimes
militar ou comuns, exigindo para isso uma interpretação própria e específica
consoante aos ditames Constitucionais.

Palavras-chave: Constituição. Código Disciplinar. Prescrição.

ABSTRACT

The article deals with the prescription in the Administrative Disciplinary Process
bringing an investigation into the problem of disciplinary administrative regulation
after enactment of the Citizen Constitution, more sharply on the viewpoint of Public
Safety Operators in the military police, where there is a dichotomy between pure
administrative activity and military administrative activity, requiring it to its own
interpretation and specifies to establish a Disciplinary Code suited to military Police
officers and of Military Firemen Bodies, according to constitutional dictates.

Keywords: Constitution. Code Discipline. Prescription.

1 Tenente-coronel da PMPE. Assessor Militar da Corregedoria Geral da SDS.

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1 INTRODUÇÃO

O instituto da prescrição, historicamente, nasce da visão do direito


romano, conhecido como praescriptio que literalmente significa “um escrito posto
antes”, esta é a gênese do termo moderno de prescrição, sendo, originariamente,
um meio de defesa, atribuído ao possuidor contra terceiros 2.
Por outro lado, na idade média a igreja estabeleceu, no direito
canônico, uma hostilização à prescrição, restringindo por considerá-la nutritiva
dipeccato, porém, nos dias atuais aparece em todas as legislações como sendo pro
bono publico, tendo em vista ser havida como filha do tempo e da paz.
Este instituto que possui o condão de sepultar as situações
jurídicas que não foram exercidas por certo lapso temporal, tem a inércia como a
defesa, pois sem a tomada de iniciativa de defesa de determinado direito material,
dentro de um prazo determinado pela legislação, possui em alguns casos, a força de
sepultar situações lesivas ao interesse próprio ou de outrem.
Este pensamento advém da percepção de que a perpetuidade de
litígio e da pretensão de instaurá-lo não é salutar para a Segurança Jurídica, pois o
tempo funciona como o senhor da razão, solucionando as injustiças e cicatrizando
as chagas, ou curando atos defeituosos que passam por um período de maturação
até que se tornam inatingíveis. Conclui-se que a prescritibilidade é a regra e a
imprescritibilidade moderada, por assim dizer, é a exceção.
Essa exceção no ordenamento jurídico Estadual, para o militar do
Estado de Pernambuco, está descrita no art. 5º da Lei Complementar 158/2010 que
a prescreverão em 06 (seis) anos, computados da data do fato, os casos previstos
no Decreto nº 3.639, de 19 de agosto de 1975, e alterações, o qual será
interrompido quando da instauração do Conselho de Disciplina, e em parágrafo
único estabelece que os casos tipificados no Código Penal, no Código Penal Militar
e nas demais legislações penais prescreverão nos prazos neles estabelecidos, que
será tratado mais a frente com mais detalhes.
Dessa forma, a prescrição funciona como uma garantia criada
pela ordem jurídica capaz de proporcionar segurança jurídica e a paz social. A

2 Monteiro, Washington de Barros. Curso de direito civil. 30 ed. S. Paulo: Saraiva, pag. 286

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ordem jurídica deve contemplar nos seus pressupostos a busca da justiça e da
equidade, observando os princípios da estabilidade e da segurança jurídica.
Portanto, esse instituto concebido em favor da estabilidade e a
segurança jurídica, pode ser visto como a perda do Direito de Ação, pela exaustão
do prazo legalmente estabelecido. A perca do Direito da Ação, vale salientar, será a
perca do Direito, pois o detentor do Direito, não o exercendo dentro da dilação
própria, ou seja, dentro do tempo estabelecido em Lei, perde o direito de acionar a
outra parte.
Destarte, na presente exposição, examinar-se-á uma visão do
entendimento do instituto da Prescrição nos Processos Administrativos Disciplinares,
movidos contra servidores públicos militares do Estado de Pernambuco. Também
serão objetos de comentários alguns julgamentos em que foram alegadas ofensas a
este instituto do Direito, além de uma visão da Procuradoria Geral do Estado de
Pernambuco.

2 O INSTITUTO DA PRESCRIÇÃO NO DIREITO PÚBLICO NO ESTADO DE


PERNAMBUCO E O TERMO DE INÍCIO DE SUA CONTAGEM

Na ceara do Direito Público, a prescrição funciona como fator de


estabilidade na relação entre os administrados com a Administração Pública. Neste
diapasão, a prescrição no que pertine ao prazo prescricional das ações e direitos no
estado de Pernambuco, em linhas gerais, está lastreado na Lei Estadual 11.781, de
6 de junho de 2000, que disciplina o Processo Administrativo no âmbito da
Administração Pública direta, indireta e fundacional, visando, em especial, a
proteção dos direitos dos administrados e ao melhor cumprimento dos fins da
administração pública.
Nessa Lei está previsto os princípios que a Administração Pública
Estadual obedecerá, dentre outros, ao da legalidade, finalidade, motivação,
razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório,
segurança jurídica, impessoalidade e do interesse público.
Como se sabe, os princípios são importantes para estabelecer
entendimento e jurisprudências, pois são mandamentos nucleares de um sistema,

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um verdadeiro alicerce, poder-se-ia dizer que se irradia sobre diferentes normas,
compondo-lhe o espírito e servindo de critérios para sua exata compreensão.
Dessa forma, para a boa aplicação no que concerne ao
atingimento desses princípios estabelecidos na legislação em comento, um ponto
chave, em relação ao instituto da prescrição, é o momento de sua ocorrência, e a
motivação do ato administrativo que deve ser explícita, clara e congruente, podendo
consistir em declaração de concordância com fundamentos de pareceres anteriores,
informações decisões ou propostas, que neste caso, serão parte integrante do Ato
Administrativo.
Portanto, o ponto crucial para se identificar o início da contagem
do tempo prescricional, ou seja, o marco inicial, é a data do ato ou do fato, o qual a
Administração pretende analisar ou rever, ou o administrado desfazer o ato,
podendo iniciar-se de ofício ou a pedido do interessado, tendo o prazo legal de 10
(dez) anos como barreira. Observa-se que, diferentemente da União, que a
prescrição administrativa no campo do direito público possui como regra geral a
preconizada no Decreto 20.910/32, que determina a quinquenal como vigente, o
Legislador Estadual estabeleceu a prescrição decenal.
Desse modo, toda a legislação que estabelecem direitos e
deveres para os administrados e servidores civis e militares no Estado de
Pernambuco que são uma espécie do gênero servidor, devem seguir o prazo legal
de 10 (dez) anos para a sua prescrição.
Surge aí um dilema, pois a Lei 11.781/2000 cala-se quanto a data
de início da contagem do processo administrativo. Desta forma, para os servidores
militares do Estado de Pernambuco, por haver lei específica, a contagem
prescricional se inicia da data do fato, nos casos previstos no Decreto nº 3.639, de
19 de agosto de 1975, e alterações, o qual será interrompido quando da instauração
do Conselho de Disciplina, ou nos casos tipificados no Código Penal, no Código
Penal Militar e nas demais legislações penais prescreverão nos prazos neles
estabelecidos3.
Esse entendimento decorre da leitura do artigo 1º Lei em
comento, pois a Lei 11.781/2000 estabelece normas básicas sobre o processo

3 Artigo 5º Caput e c/c seu parágrafo único da Lei Complementar 158, de 26 de março de 2010.

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administrativo no âmbito da administração estadual direta, indireta e fundacional,
visando, em especial, a proteção dos direitos dos administrados e ao melhor
cumprimento dos fins da administração pública.
Desse modo, a prescrição se inicia, para os servidores militar do
Estado de Pernambuco, a partir do momento do fato e não do conhecimento do
ilícito praticado pela autoridade.
Fazendo-se um estudo comparativo, com os servidores da União,
sobre este tema, observa-se que o início da contagem do tempo prescricional se dar
a partir do momento da ciência do fato pela administração, esta também é visão
das Cortes Superiores.
Este entendimento das Cortes Superiores está baseado na
interpretação da Lei Federal 8.112/90, onde a prescrição do processo administrativo
inicia-se a contar a partir do conhecimento do fato, isto o qual prevê o § 1º do artigo
142 o seguinte:
O prazo de prescrição começa a correr da data em que o fato se tornou
conhecido.

Nesse sentido já decidiu a Primeira Seção MS 20.162/DF, da


Relatoria do Ministro Arnaldo Esteves Lima, no qual se assentou que
O termo inicial da prescrição punitiva estatal começa a fluir na exata data do
conhecimento da irregularidade, praticada pelo servidor, por alguma
autoridade do serviço público e não, necessariamente, pela autoridade
competente para a instauração do processo administrativo disciplinar.

Contudo, ponto interessante para ser apreciado no estudo da


prescrição nos processos disciplinares no âmbito da Secretaria de Defesa Social no
Estado de Pernambuco é a interrupção do prazo prescricional nos termos da Lei
Complementar 158/2010, que estabelece
Art. 5º Prescreverão em 06 (seis) anos, computados da data do fato, os
casos previstos no Decreto nº 3.639, de 19 de agosto de 1975, e alterações,
o qual será interrompido quando da instauração do Conselho de
Disciplina.
Parágrafo único. Os casos tipificados no Código Penal, no Código Penal
Militar e nas demais legislações penais prescreverão nos prazos neles
estabelecidos. (Grifo Nosso)

Pela análise deste artigo, entende-se que somente o Processo


Administrativo Disciplinar instaurado com caráter punitivo tem o condão de
interromper o prazo prescricional, e não aquele com caráter meramente
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investigatório ou preparatório de um processo disciplinar.
Não obstante, são frequentes os casos em que a Administração
recebe denúncia de ilícito que está sendo praticado por um determinado servidor
civil ou militar, sem identificação precisa dos responsáveis.
Nessas circunstâncias, surge à necessidade de se instaurar
Procedimentos Investigatórios para se verificar se realmente existem fatos que
merecem ser apurados em processo administrativo disciplinar e quem deve ser
acusado.
Atualmente no âmbito da Secretaria de Defesa Social de
Pernambuco, foi publicada a portaria do Corregedor Geral 395/2015, com a
finalidade de normatizar, padronizar e orientar os procedimentos para a elaboração
de Sindicância Administrativo-Disciplinar Militar em Pernambuco, que baliza os
procedimentos disciplinares para investigação preliminar e procedimento acusatório.
Dessa forma, surge a dúvida se ao decorrer da realização da
Sindicância Administrativo-Disciplinar Militar, surgirem fatos que presumivelmente
apresente indícios que servidor militar estadual realizou fatos que, em tese, o torne
incapaz de permanecer na situação em que se encontra de militar estadual, fatos
que ensejam a punição capital.
Nesse caso, sobre qual deve ser considerado o termo inicial da
prescrição: se aquele primeiro momento em que a Administração recebeu a
denúncia; ou se é o momento em que a sindicância administrativa efetivamente
identificou um possível responsável pela prática da infração.
Nessa situação, aquele primeiro momento, sob pena de a
Administração ser impedida de processar e punir servidor público que tomou parte
em ilícito cuja apuração só se tornou possível após a instauração de complexa
sindicância administrativa.
De qualquer forma, deve a Administração cuidar para que a
sindicância punitiva ou o processo administrativo disciplinar seja instaurado antes do
término do prazo prescricional contado a partir do momento em que o fato foi
praticado, mesmo que a Administração tomou conhecimento posteriormente, ainda
que de forma genérica e abstrata, da prática de ilícitos.

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Ad argumentandum tantum, só com a instauração do Conselho de
Disciplina é o processo administrativo especial, no qual é assegurado o contraditório
e a ampla defesa, julga-se a incapacidade do Aspirante-a-Oficial PM e das demais
praças da Polícia Militar de Pernambuco com estabilidade assegurada, para
permanecerem na ativa criando-lhes, ao mesmo tempo, condições para se
defenderem.
Em outras palavras, o Conselho de Disciplina visa constatar a
incapacidade moral ou profissional em decorrência da prática de atos que,
transcendendo a esfera das meras contravenções ou transgressões disciplinares
descritas no Código Disciplinar dos Militares do Estado de Pernambuco e
Regulamento de Ética Profissional dos Militares do Estado de Pernambuco.
E por este fato que a publicação da portaria instauradora do
Conselho de Disciplina é o termo inicial da interrupção do prazo prescricional, tanto
pela própria determinação legal contida no artigo 5º e seu parágrafo único da Lei
Complementar 158/2010, quanto da decorrência lógica do processo administrativo.

3 A DISTINÇÃO ENTRE O FATO CONSIDERADO COMO INFRAÇÕES


ADMINISTRATIVAS PURAS E OS CASOS TIPIFICADOS COMO CRIME
Primeiramente, antes de adentrar no assunto propriamente dito,
custa lembrar que constitui princípio elementar do Direito Penal e que deve ser
seguido no Processo Administrativo Disciplinar, que o acusado se defende dos fatos
que lhe são imputados e não da capitulação legal formulada no indiciamento que,
inclusive, poderá receber enquadramento diverso no relatório final ou no julgamento
pela autoridade competente.
Portanto, mesmo que haja alteração da capitulação legal da
conduta, não há o condão de nulidade da decisão, o servidor não está se
defendendo dos crimes que foram denunciados na esfera Penal, mas está se
defendendo de fatos tidos como condutas irregulares na esfera administrativa, pois
o acusado se defende dos fatos, e não da classificação jurídica. Basta que os
fatos sejam minuciosamente descritos na indiciação, de molde a permitir o exercício
do direito de defesa pelo acusado. Como os seguintes jugados do STJ, MS

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14045/DF, 3ª Seção, Rel. Ministro Napoleão Nunes Maia Filho, DJe 29/04/2010.
STF, MS 24536; RMS 24536
- Excerto de julgado do STJ: “O indiciado se defende dos fatos que lhe
são imputados e não de sua classificação legal, de sorte que a posterior
alteração da capitulação legal da conduta não tem o condão de inquinar de
nulidade o processo. Precedentes: (MS 14.045/DF, Rel. Min. Napoleão
Nunes Maia Filho, Terceira Seção, DJe 29.4.2010; MS 10.128/DF, Rel. Min.
Og Fernandes, Terceira Seção, DJe 22.2.2010; MS 12.386/DF, Rel. Min.
Felix Fischer, Terceira Seção, DJ 24.9.2007, p. 244”(STJ, MS 12.677/DF, 1ª
Turma, DJe 20/04/2012).

- “5. Quanto ao mérito, cabe frisar que a alegação de cerceamento da


defesa está baseada no fato de que a autoridade julgadora o puniu com
demissão, acatando o parecer da consultoria jurídica, que reinterpretou as
provas dos autos; a comissão processante havia - também
fundamentadamente - recomendado a punição com advertência ou
suspensão. No entanto, não procede a pretensão de que a alteração da
capitulação legal obrigue a abertura de nova defesa, já que o indiciado se
defende dos fatos, e não dos enquadramentos legais. Precedente: MS
14.045/DF, Rel. Min. Napoleão Nunes Maia Filho, Terceira Seção, DJe
29.4.2010.” (STJ, MS 15810/DF, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS,
PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 29/02/2012, DJe 30/03/2012)

2. "O indiciado se defende dos fatos que lhe são imputados e não de
sua classificação legal, de sorte que a posterior alteração da capitulação
legal da conduta não tem o condão de inquinar de nulidade o Processo
Administrativo Disciplinar; a descrição dos fatos ocorridos, desde que feita
de modo a viabilizar a defesa do acusado, afasta a alegação de ofensa ao
princípio da ampla defesa" (MS 14.045/DF, Rel. Min. NAPOLEÃO NUNES
MAIA FILHO, Terceira Seção, DJe 29/4/10)

- STF: RMS 25.910/DF, 2ª Turma , Rel. Min. Joaquim Barbosa, DJe


25/05/2012: “É que esta Corte há muito tempo se orientou no sentido de que
o servidor, em processo administrativo disciplinar, defende-se dos fatos e
circunstâncias que cercam a conduta faltosa identificada, não sendo
possível falar-se em vício procedimental ou violação do direito de defesa
quando o julgamento final da autoridade competente atribui peso maior ou
menor aos fatos comprovados pela investigação. Refiro-me aos seguintes
precedentes, entre outros: MS 21.635, rel. min. Carlos Velloso, Pleno, DJ
20.04.1995; MS 22.791, rel. min. Cezar Peluso, Pleno, DJ 19.12.2003; RMS
24.536, rel. min. Gilmar Mendes, Segunda Turma, DJ 05.03.2004; RMS
25.105, rel. min. Joaquim Barbosa, Segunda Turma, DJ 20.10.2006”.
(Grifamos)

Dessa forma, como o servidor, seja ele civil ou militar, se defende


dos fatos imputados e não de sua classificação legal, deve o administrador
público observar se a conduta faltosa se adequa como infração administrativa pura
ou singela, ou como crime, observado se o fato cometido pelo Agente Público se
adequa a um dos tipos penais ou administrativo deve, não obstante o transcurso de

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prazo prescricional estabelecido em lei, abrir Processo Administrativo Disciplinar, e
julgá-lo.
Se a conduta, no caso dos militares do Estado de Pernambuco,
tem a subsunção a uma infração administrativa pura ou singela gravosa que afete as
meras contravenções ou transgressões disciplinares descritas no Código Disciplinar
dos Militares do Estado de Pernambuco e Regulamento de Ética Profissional dos
Militares do Estado de Pernambuco, deve ser enquadrada na prescrição contida no
art. 17, caput, do Decreto 3.639, de 19 de agosto de 1975. Posto que, o prazo de 6
(seis) anos previsto no caput da supracitada norma somente se aplica às infrações
disciplinares puras ou singelas.
Por outro lado, havendo a subsunção da conduta praticada a um
fato considerado como crime, a prescrição a ser aplicada ao caso, indubitavelmente,
é aquela prevista para os correspondentes crimes na esfera penal, consoante o
ensinamento de Ronaldo João Roth, citado por Jorge César de Assis 4
Ronaldo João Roth esclarece ainda, e o faz de forma didática, que, no que
tange às infrações administrativas puras, a fixação do dies a quo se inicia a
partir da prática da falta ou da sua consumação, aplicando-se a teoria do
resultado, no entanto, não estabelece a referida Lei causas de interrupção
ou suspensão, da prescrição. Logo, se ocorrida a infração administrativa
pura e a Administração ou, ainda que instaurado este, deixe o tempo
superar 6 (seis) anos, o fato estará prescrito, não mais podendo ser punido
seu autor e nem instaurado o referido processo.
Por outro lado, na esteira de Ronaldo João Roth, se o fato ensejador do
Conselho de Justificação for igualmente tipificado como crime, a prescrição
ocorrerá nos prazos da lei penal podendo incidir na prescrição da pretensão
punitiva (calculada sobre o máximo da pena em concreto); ou na prescrição
da pretensão punitiva retroativa (calculada com base na sentença
condenatória e aplicável da data do recebimento da denúncia e desta até a
data da condenação); ou da prescrição intercorrente (calculada com base
na pena efetivamente fixada pelo juiz na sentença condenatória e aplicável
da data sentença para trás, ou seja, da data do fato até a data do
recebimento da denúncia e desta até a data da condenação); ou da
prescrição da pretensão executória (calculada diante da pena fixada na
sentença condenatória definitiva para frente).

Deve-se ressaltar que a norma do parágrafo único do art. 17, do


Decreto Estadual nº 3.639/75 não tem aplicação restritiva aos casos de infrações
disciplinares objeto de ação penal na justiça militar. É aplicável em casos de
apurações de faltas disciplinares também tipificadas como crimes na legislação
penal militar, independente do foro onde o militar esteja sendo processado, e
4 Assis, Jorge César de. Curso de direito disciplinar militar: da simples transgressão ao processo
administrativo. 2 ed., Curitiba: Juruá, 2011, pag. 253 – 254

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mesmo que contra ele não tenha sido oportunamente oferecida uma denúncia
criminal (aplicação do princípio da independência entre as instâncias).
No caso em que se verifica que a conduta faltosa atribuída ao
militar Estadual corresponder a crime previsto na legislação penal comum ou militar,
deve-se tomar a prescrição a partir do ato praticado e o tempo prescricional
conforme o Código Penal Militar, ou no Código Penal Brasileiro.
Se a um militar Estadual for imputado uma conduta faltosa,
também tipificada como crime, seja no Código Penal Brasileiro, seja no Código
Penal Militar, esta imputação autoriza ao Administrador Público a aplicação da
norma prevista no parágrafo único do art. 17, do Decreto Estadual nº 3.639/75. Haja
vista que a referida norma não conferiu tratamento diferenciado, em relação ao
computo do prazo prescricional, entre as faltas correspondentes a crimes militares
próprios e impróprios, e tampouco, neste último caso, entre os crimes de
competência da justiça comum e militar.
A norma prevista no parágrafo único, do art. 17, do Decreto
Estadual nº 3.639/75 objetivou conferir tratamento diferenciado, em matéria de
prescrição, apenas entre a infração disciplinar pura e aquela correspondente a
crime previsto na legislação penal, atribuído à primeira (infração disciplinar pura),
um prazo prescricional de 6 (seis) anos, e à segunda (infração também tipificada
como crime), o correspondente prazo prescricional penal.
Custa observar que o ponto nodal é o entendimento do que seja
crime militar e crime comum, pois o STJ firmou entendimento de que o prazo
prescricional da pretensão punitiva disciplinar da Administração em casos de
conduta prevista como crime é estabelecido de acordo com o art. 109 e 110 do CP.
Nesse sentido: RMS 32.285/RS, Rel. Ministro Mauro Campbell Marques, Segunda
Turma, DJe 17.11.2011.
Portanto, devemos nos ater na discussão do que seja crime
comum e crime especial para adentrarmos mais profundamente no que seja
prescrição neste caso de crime para os militares estaduais.
Para compreender este raciocínio, seguido pelo Superior Tribunal
de Justiça e construído pelo Supremo Tribunal Federal, deve-se fazer uma
interpretação sistemática da constituição, para diferenciar crimes comuns aqueles

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estabelecidos nas normas infraconstitucionais, e neste caso se encontra os crimes
militares, e os crimes especiais, que são aqueles enquadrados pela Constituição
Federal. Ou seja, são considerados crimes comuns todas as infrações que não
constitui crime de responsabilidade e nem infrações eleitorais, descritas na Lei
Fundamental5.
Portanto, por mais tecnicamente inadequado que seja estabelecer
que crimes militares sejam considerados como crimes comuns, quis a Constituição
colocar as infrações penais militares ente as infrações penais comuns propriamente
ditas. Sendo assim, se considera infrações penais comuns as que não descritas na
Carta Magna.

4. A PRESCRIÇÃO ADMINISTRATIVA E O DEVER DE JULGAR


Preliminarmente, tendo em vista que todos os atos administrativos
contidos em um Processo Administrativo Disciplinar devem ser motivados, convém
lembrar que a punição do servidor público civil ou militar por descumprimento do
dever ou por violação de norma proibitiva pressupõe a instauração de sindicância ou
processo administrativo disciplinar devidamente motivado que deve ser extinto após
um julgamento da conduta do servidor.
O julgamento é a ultima fase do processo, quando a Autoridade o
recebe o relatório da Comissão Processante, procedendo a sua análise para
eventual aplicação de penalidade disciplinar. Nesta fase a Autoridade pode constatar
alguma nulidade insanável no bojo dos autos e decretá-la de ofício, anulando o
processo parcial ou totalmente, determinando o seu refazimento com a mesma
comissão Processante, ou nomear nova comissão processante.
Nesta fase, se avaliará as provas e se fará o juízo de valor pelo
livre convencimento, tendo como base a expressa e infestável motivação, sendo
fundamental a perfeita conjugação entre o motivo oferecido como suporte do ato
administrativo e os elementos fáticos e jurídicos comprovados nos autos.
Aqui se faz uma ressalva, no caso do fato estar prescrito, seja a
infração disciplinar cometida considerada pura ou como crime, pois é muito comum

5 Alves-Medeiros, Adriano; Rocha, Guilherme; Freitas, Ricardo. Direito penal militar. Rio de Janeiro:
Forense; S. Paulo: Método, 2015. pag. 58.

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o julgador, ao se deparar com este instituto no decurso do Processo, extingui-lo sem
julgamento do mérito.
Isso decorre do fato que a autoridade julgadora, como é cediço,
não está inteiramente jungida ao relatório da comissão, pois a autoridade pode
buscar novos esclarecimentos para decidir, de modo a perseguir a verdade real,
para promover a justiça, sempre observando os preceitos constitucionais.
O Administrador não deve se limitar apenas a encerrar o Processo
sem julgamento do mérito por prescrição, deve realizar um juízo de valor da conduta
do Agente Público, fazer a submissão da conduta ao tipo administrativo
correspondente, e, posteriormente, acatar a prescrição, atentando-se para a norma
insculpida no § 5º do art. 37 da Constituição Federal 6, pois ao constatar que o
Agente Público cometeu ato ilícito, deverá a Administração Pública propor a ação
civil por responsabilidade do servidor público, em razão de danos causados ao
erário ser imprescritível.

5 CONCLUSÃO

Como se pode observar, a prescrição deve ser vista por dois


ângulos: como uma benesse para os administrados e como um dever para a
Administração, pois, como foi visto, a prescrição é um pro bono público.
Dessa forma, deve-se ter em mente que a perpetuidade de litígio
e da pretensão de instaurá-lo não é salutar para a Segurança Jurídica, um dos
princípios do Estado Democrático de Direito, pois o tempo funciona como o senhor
da razão, solucionando as injustiças e cicatrizando as chagas, ou curando atos
defeituosos que passam por um período de maturação até que se tornam
inatingíveis.
Para que este princípio seja tomado, deve ser observado que
prazo determinado pela legislação, possui em alguns casos, a força de sepultar
situações lesivas ao interesse próprio ou de outrem. Portanto, deve haver um
hiperativo categórico, como discute Bobbio (2003, p. 93), como sendo “aqueles que

6 A lei estabelecerá os prazos de prescrição para ilícitos praticados por qualquer agente, servidor ou não, que
causem prejuízos ao erário, ressalvadas as respectivas ações de ressarcimento.

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prescrevem uma ação boa em sentido absoluto, que deve ser cumprida
incondicionalmente, ou com nenhum outro fim a não ser o seu cumprimento
enquanto ação devida”.
Para que o Estado exerça seu poder de punir deve seguir normas
preestabelecidas que prescrevam uma ação em sentido absoluto que devem ser
cumpridas em sua totalidade. Portanto, havendo fato gerador, deve este fato se
adequar a hipótese de incidência, devendo o poder público analisá-lo e cumpri-lo o
que estabelece a norma, sob pena de ofender ao princípio da legalidade estrita.
Para que este princípio seja seguido em sua totalidade, a
Administração Pública de Pernambuco deve-se seguir a norma prevista no parágrafo
único, do art. 17, do Decreto Estadual nº 3.639/75, utilizando também, no que
couber, a Lei 11.781/2000 estabelece normas básicas sobre o processo
administrativo no âmbito da administração estadual direta, indireta e fundacional,
visando, em especial, a proteção dos direitos dos administrados e ao melhor
cumprimento dos fins da administração pública, e, finalmente, fazendo uma analogia
com a lei Federal 8.112/90, que serviu de inspiração para a nossa Lei Estadual.
Conclui-se que a prescritibilidade é a regra e a imprescritibilidade
é a exceção, pois na dicção do § 5º do art. 37 da Constituição Federal, constata-se
que a ação civil por responsabilidade de servidor público, em razão de danos
causados ao erário, é imprescritível.

REFERÊNCIAS

ALVES-MEDEIROS, Adriano; Rocha, Guilherme; Freitas, Ricardo. Direito penal


militar. Rio de Janeiro: Forense; S. Paulo: Método, 2015

ARENDT, Hannan. Sobre a violência. 2 ed. R. de Janeiro: Civilização Brasileira,


2010.

ASSIS, Jorge César de. Curso de direito disciplinar militar: da simples


transgressão ao processo administrativo. 2 ed., Curitiba: Juruá, 2011

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. S. Paulo: Martin Claret, 2004.

BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10. ed. Brasília: UNB. 1997

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DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito administrativo. 20. Ed. S. Paulo: Atlas,
2007.

FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Tradução de Raquel


Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2004.

IHETING, Rudolf Von. A luta pelo direito. São Paulo: Martin Claret, 2003.

MALUF, Sahid. Teoria geral do estado. 21. ed. São Paulo: Saraiva, 1991.

MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil. 30. ed. São Paulo:
Saraiva

MORAES, Alexandre de. Direito constitucional. 17. ed. São Paulo: Atilas, 2005.

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O USO DE APLICATIVO ESTIMAPM PARA MENSURAR ESTIMATIVA DE
PÚBLICOS EM EVENTOS ABERTOS

Ely Jobson Bezerra de Melo1


Carlos André Lins dos Santos2
Paulo Roberto Albuquerque3

RESUMO

Frequentemente verificamos divulgações com divergências grandiosas relacionadas


a cálculo de estimativa do número de participantes em determinados eventos, onde
organizadores buscam superestimar o público presente. Apesar de parecer uma
tarefa complicada, computar de pessoas em eventos se torna uma tarefa prática
quando são aplicadas técnicas que auxiliam o examinador. A estimativa de público
serve de parâmetros para inúmeras situações, Mormente o planejamento para
lançamento de um policiamento de forma inteligente adequada, quanto de estimativa
próxima a realidade de pessoas que realmente compareceram ao evento, bem como
para os operadores de defesa civil. Quanto mais precisa possa parecer essa
estimativa, mais eficiente será o planejamento das respostas e de se evitar possíveis
catástrofes. Nesse contexto, procuramos aliar as técnicas já existentes com a
interação com aplicativo para aparelhos mobiles, muito empregados nos dias atuais.

Palavras-chave: Aplicativos. Celular. Estimativa de público. Eventos abertos.

ABSTRACT

Often we see disclosures with grand differences related to estimated calculations of


the number of participants in certain events, which organizers seek overestimate the
audience. Although it seems a complicated task, compute people at events becomes
a practical task when applied techniques that assist the examiner. The public
estimation serves parameters for a number of situations, ranging from the planning to
release a smartly policing when the next estimate the reality of people who actually
attended the event, as well as for civil defense operators. The more accurate this
estimate may seem, but efficient the planning of responses and to avoid possible

1 Tenente Coronel QOPM – 9º BPM. Bacharel e Pós-Graduado em Direito pela Universidade Cruzeiro
do Sul. Pós-Graduação MBA em Gestão Governamental. Endereço Eletrônico: elyj14@gmail.com.
2 Capitão QOPM- 9º BPM. Pós-graduado em Segurança Pública-ASCES. Pós-graduando Direito
Administrativo. Programador Web PHP e de aplicativos Android. Endereço Eletrônico:
ca_lins@ig.com.br.
3 Capitão QOPM – 9º BPM. Curso de Inteligência e Segurança Pública – PMPE, Curso de
Inteligência para Oficiais – PMRJ. Curso de entrevista e interrogatório – FBI. Endereço Eletrônico:
cappmalbuquerque@hotmail.com.

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disasters. In this context, we seek to combine existing techniques with the interaction
with application for mobiles devices, much used today.

Keywords: Applications. Public estimation. Open events.

1 INTRODUÇÃO

O presente estudo científico visa submergir o espaço da análise


estatística de mensuração de estimativa de público em eventos de locais abertos,
importante no aspecto de alocação de recursos e otimização da prestação de
serviços.
Atualmente, há uma grande preocupação em saber o quantitativo de
pessoas em um evento aberto, tanto para divulgação na imprensa, quanto para
subsidiar tomadas de decisões que impliquem em auxiliar nos parâmetros de
segurança ora alocados para determinado evento ou até mesmo para situações
emergenciais.
Nos grandes eventos que se desenvolvem, ocorrem sempre distorções
quanto a divulgação do público presente, quer seja por uma supervalorização ou de
números aquém do real, por falta de uso de técnicas adequadas para mensuração.
Reportamo-nos aos recentes movimentos no país que os órgãos envolvidos
divulgavam valores de ocupação/participação popular amplamente distorcidos ou
imprecisos, que ao público ouvinte foge a compreensão de forma e modo a proceder
aquela análise, principalmente tendo como fonte os órgãos de segurança pública,
que num exame profundo geram a não sensação de segurança e credibilidade
naquelas informações.
Nos últimos anos, a Polícia Militar de Pernambuco vem evoluindo a
passos largos na preocupação em normatizar procedimentos operacionais e
administrativos, onde, aliando-se a isso, deve-se ampliar também às novas
tecnologias da informação e a utilização de métodos como ferramentas
imprescindíveis para a gestão eficiente dos profissionais, frente às novas demandas
oriundas da sociedade e, que implique em qualidade do serviço prestado.
Este artigo se sustenta em dois pilares importantes na atividade
policial: o primeiro no sentido de planejar, assessorar e executar a missão, com

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eficiência e eficácia, que se traduzem em otimizar recursos e que suas ações
permitam alcançar resultados positivos e estimar o público alvo para prospectar
policiamento em eventos de modo que sejam redimensionados dentro de acordo
com uso de técnicas e métodos e, por conseguinte propicie uma sensação de
segurança efetiva, bem como dispor de informações precisas quanto a dimensão
populacional do evento, fundamental nos canais de veiculação de informação
planejamento operacional e o segundo pilar, vislumbrando esse cenário operacional,
desenvolvemos um projeto por meio de um aplicativo na plataforma Android, aliando
a tecnologia e correlacionando com normas técnicas já pré-existentes em nosso
país, com a intenção de possibilitar estimar de forma mais próxima possível da
realidade o quantitativo de participantes em eventos abertos.
O aplicativo, denominado “EstimaPM” possui uma interface simples e
objetiva, onde sua utilização não requer custo para o usuário final, por não estar
vinculado a necessidade de se estabelecer conexão com a internet e construído de
acordo com normas técnicas direcionado para subsidiar os operadores da
segurança pública.
Para tanto, utilizamos com parâmetros base de referência a Instrução
Técnica – IT CEPD 001, da Defesa Civil do Município do Rio de Janeiro, onde
apresenta técnicas para estimar o quantitativo de indivíduos em multidões e cria
uma metodologia para gerar informações oficiais confiáveis.

2 A NECESSIDADE DE SE MEDIR E DIMENSIONAR PÚBLICOS

O homem difere dos outros animais de modo mais acentuado pela sua
linguagem, cujo desenvolvimento foi essencial para que surgisse o pensamento
matemático. Houve uma grande necessidade em realizar medições, contagem como
parte da vida diária.
Desde os primórdios da humanidade o homem já se preocupava em
realizar contagem. Segundo Ronney (2012, p.10): “os primeiros registros da
atividade matemática - além da arte de contar – datam de 4000 anos atrás. Eles
vieram dos deltas férteis do Nilo (Egito) e das planícies entre os dois rios, o Tigre e o
Eufrates.”

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Por volta de 600 a.C., os gregos antigos desenvolveram um interesse
pela matemática.
Ainda segundo ele:

“A coleta de informações sobre o número de pessoas que habitam uma


determinada área através do censo é algo que tem sido praticado
intermitentemente por milhares de anos. Os babilônios, chineses, egípcios,
gregos e romanos todos fizeram censo de população. Na tradição cristã, os
pais de Jesus viajaram até Belém logo antes do seu nascimento porque o
censo que era realizado a cada cinco anos exigia que todos os cidadãos do
Império Romano retornassem a seus locais de nascimento para serem
contados. (...) No Egito, o censo era usado também para redistribuir a terra
depois das enchentes anuais do Nilo.” (ROONEY, 2012 p. 179)

Atualmente, na era do conhecimento, há uma necessidade de se avaliar


estatisticamente, principalmente para os administradores nos mais diversos setores.
Na segurança pública, sua finalidade e importância, baliza a
administração para o planejamento, execução e redirecionamento de ações do
sistema policial para o público presente, por conseguinte ter a percepção real de
segurança e organização pela ausência de superdimensionamento de recursos nos
eventos alvos.
Segundo Souza (2008):

“Um dos maiores desafios lançados às organizações policiais está em


potencializar sua capacidade de produzir, organizar, processar informações
de forma sistemática, bem como de desenvolver uma metodologia de
gestão que possa orientar, com base em evidências e análises, tanto o
planejamento estratégico e operacional de suas atividades quanto à
avaliação e o monitoramento de seus resultados”.

O uso da estatística incentiva dimensionar efetivos para os mais diversos


setores, visando cobrir o máximo possível de área para garantir segurança, onde os
administradores deverão ter capacidade de prever e reagir de modo inteligente às
informações que lê ou escuta, passando a refletir, analisar e questionar as
informações encontradas.
Buscamos tratar de estimativa de público, onde primeiramente
procuramos a acepção da palavra estimativa no dicionário, sendo encontrados os
seguintes significados: Segundo o dicionário AURÉLIO (2001) significa: s.f. 1.

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Avaliação, 2. Cômputo e segundo BUENO (2009): s.f 1. Cálculo, avaliação, 3
apreciação, 4. Computo, onde neste trabalho a estimativa é uma análise de
dimensão do evento e a relação do emprego do meio logístico.
O uso de métodos estatísticos de estimativa tem um papel crucial, além
de uma poderosa ferramenta, passa a ser visto como um influente método de
gestão, quando utilizados com processos adequados para a coleta, organização,
análise e interpretação dos dados e consequentemente para a utilização dos
resultados nas tomadas de decisões.
Segundo Toledo (1985, p.13) a utilização da estatística é:

Cada vez mais acentuada em qualquer atividade profissional da vida


moderna. Nos seus mais diversificados ramos de atuação, as pessoas estão
frequentemente expostas à Estatística, utilizando-a com maior ou menor
intensidade. Isto se deve às múltiplas aplicações que o método estatístico
proporciona àqueles que dele necessitam.

3 ESTIMAR PESSOAS EM AMBIENTES ABERTOS

A biblioteca que discute acerca do tema estimativa de público é bastante


diminuta, notadamente na área policial militar. No Estado de Pernambuco não temos
registros oficiais de métodos e técnicas uniformizados para tal computação.
Para um melhor entendimento do trabalho, estudaremos a coleta de
dados para projeção, planejamento e execução na corporação em suas frações
territoriais e, nas suas esferas de atribuição estão inseridos na amostragem, que tem
como objetivo coletar informações apenas de um subconjunto da população alvo,
também denominado de amostra. Desta feita, a população alvo, o tamanho das
amostras ou manchas, o método de cálculo e a estimativa de público são fatores
preponderantes para uma análise de dimensão do evento e a relação de emprego
do meio logístico.
De acordo com Nazareth (2009, p.211), em se tratando de amostra, a
preocupação central é que ela seja representativa. (...) Assim que decidimos obter
informações através de um levantamento amostral, temos imediatamente dois
problemas: definir cuidadosamente a população de interesse e selecionar

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característica que iremos pesquisar.
Ausentando-se um pouco do território brasileiro e reportando na história,
verificamos que na Califórnia o jornalista Herbert A. Jacobs (1903 -1987) presenciou
os motins que ocorriam em Berkeley para protestar contra a Guerra do Vietnã e
diante do que via desenvolveu um método para medir multidão, o "Método Jacobs".
Para o desenvolvimento do método, Jacobs delineou linhas imaginárias
em forma de grade quadrada na praça, o que permitiu ver quantos daqueles
quadrados seriam preenchidos com os alunos e quantos alunos em média, cabiam
em cada grade.
Continuadas as observações por Jacobs, elaborou alguns parâmetros que
servem de referência nos dias de hoje para a estimativa multidão. Verificou que em
uma multidão solta cada pessoa é o comprimento de um braço do corpo de seus
vizinhos mais próximos, sendo 10 pés quadrados por pessoa. Segundo ainda o
cálculo, uma multidão mais bem acondicionada enche 4,5 pés quadrados por
pessoa.
Em outro contexto mais recente, o Centro de Estudos e Pesquisas de
Desastres da Defesa civil do município do Rio de Janeiro preparou uma Instrução
Técnica específica para aferir indivíduos em multidões. Segundo esta obra é
necessário alguns conhecimentos elementares como noções básicas de cartografia
e fotointerpretação, além de conhecimento de escala gráfica, o qual serviu como
referência de base técnica para desenvolvimento deste aplicativo para a Polícia
Militar de Pernambuco. Nessa Instrução Técnica foram levados em consideração
alguns parâmetros de referências, tais como o corpo humano, veículos, ruas,
avenidas, calçadas comprimento de trechos de ruas e quarteirões, dimensões que
podem ser identificadas na carta e na foto do evento.
Conforme o mesmo compêndio de referência, temos as seguintes
definições:
a) Multidão: Aglomeração de pessoas;
b) Densidade ou taxa de ocupação: densidade de pessoas por metro quadrado;
c) Mancha: Área delimitada pela projeção horizontal coberta pela multidão;
d) Quantitativo de pessoas: número total de pessoas que compõem a multidão;
e) Erro: erro máximo esperado.

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O cálculo do método a ser utilizado para a estimativa se resume a uma
relação que envolve a área da mancha e a taxa de ocupação da mesma.
Procuramos também trabalhar com amostras de diversos setores de um
evento, subdividindo o local, de acordo com cada representatividade, denominada
manchas.
Segundo ainda o estudo mencionado, foi elaborado parâmetros de
referências, conforme o seguinte:
a) Com relação a taxa de ocupação, levando-se em consideração ambientes abertos
e indivíduos adultos de estatura média, é praticamente impossível atingir a taxa de
10 pessoas/m2;
b) No caso de taxa de 9 pessoas/m 2 é a ocorrência excepcional em áreas
confinadas, podendo ser claustrofóbica;
c) Taxa de 8 pessoas/m 2 – É uma taxa raríssima em áreas confinadas, não
ocorrendo em eventos muito menos em grandes extensões, porém é possível em
condições excepcionais e transitórias, extremamente incômoda e insuportável por
um período prolongado uma vez que as pessoas ficam completamente imobilizadas.
Do ponto de vista do controle de uma multidão essa taxa deve ser evitada, pois
qualquer incidente pode se transformar em desastre, sendo praticamente impossível
retirar uma pessoa de uma mancha dessa densidade em caso de emergência;
d) A taxa de 7 pessoas/m 2 – É rara em áreas confinadas e raríssima em áreas
desconfinadas, só ocorrendo de forma pontual e localizada. Em eventos dificilmente
ocorre a não ser no perímetro imediatamente adjacente ao acontecimento e em
condições excepcionais;
e) Taxa de 6 pessoas/m2 – É uma taxa máxima em áreas desconfinadas. Na prática,
essa é a taxa máxima que acontece em áreas desconfinadas, no cinturão de
pessoas que formam o perímetro imediatamente adjacente ao acontecimento, não
se sustentando em profundidade numa mancha, em um perímetro máximo de 5 m a
10 m em torno do local onde o evento acontece;
f) Taxa de 5 pessoas/m 2 – Pouco frequente em áreas extensas, ocorrendo em
eventos concorridos, porém somente no perímetro privilegiado adjacente ao cinturão
de pessoas que cerca o acontecimento. Onde o espaço entre as pessoas é
reduzido, ficando a mobilidade extremamente reduzida.

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Versão on-line disponível em: http://www.portais.pe.gov.br/web/pmpe/edicao-atual
g) Taxa de 4 pessoas/m 2 – É uma taxa normal em áreas extensas, ocorrendo em
shows e eventos que concentram grande público. Normalmente essa é a taxa da
grande massa de público na área intermediária da mancha. Não há espaço que
permita a passagem de pessoas, mas é possível ver algumas áreas vazias e
dificilmente ocorre em deslocamentos de massas;
h) Taxa de 3 pessoas/m2 – É mais frequente em áreas extensas, sendo frequente em
shows e eventos que concentram grande público. Normalmente ocorre nas áreas
periféricas da mancha;
i) Taxa de 2 pessoas/m 2 – É uma taxa frequente em deslocamentos, como
passeatas e comícios. Eventualmente ocorre em eventos, nas áreas mais afastadas
dos acontecimentos;
j) Taxa de 1 pessoas/m2 – Taxa que ocorre frequente em formaturas ou
deslocamentos para comícios.
Além de estabelecer parâmetros para taxa de ocupação, levaram-se em
conta ainda na Instrução Técnica referências a quantidades de amostras que devem
ser consideradas para aferir a quantidade de pessoas, vislumbrando que para definir
as densidades médias devem ser escolhidos no mínimo 25 (vinte e cinco) pontos e
que em manchas superiores 100.000 m 2 esse número deve aumentar na proporção
de 1 foto adicional para cada 10.000 m2.
A Instrução Técnica ressalta que as fotos das amostras serão tiradas de
forma representativa, devendo ter no mínimo, para uma melhor qualidade no
resultado da aferição do público presente:
a) 5 fotos do cinturão que cerca o evento;
b) 5 fotos na área adjacente de alta densidade;
c) 5 fotos na área de média densidade;
d) 5 fotos da área de baixa densidade;
e) 5 fotos da área periférica da mancha.
Para tanto, utilizamos ainda como referência estas amostras para
construção do nosso aplicativo.
Devemos observar que aumentando o tamanho amostral, mais próximo o
subconjunto estará da população como um todo e, assim, maior a precisão. No
entanto, também maiores serão os custos associados a tal coleta.

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Em relação aos erros do cálculo de estimativa de público, vislumbramos
que podem ser oriundos do observador, do método de observação e do próprio
objeto. No primeiro caso, o próprio observador impõe vícios na coleta, fazendo com
que a informação sobre a população contida na amostra seja destorcida. O erro do
método está basicamente associado ao fato de usar um método errado para medir o
que se quer. O erro do objeto é, na verdade, um erro por não consideração da
variação que pode haver em um indivíduo.

4 CRIAÇÃO DO APLICATIVO ESTIMAPM

Buscamos nesse contexto de cálculo de estimativa de público em


ambientes abertos, unir a tecnologia à necessidade de termos informações em
tempo real, com mais precisão e facilidade de manuseio e sem custos operacionais.
Segundo a última estimativa divulgada da PNAD (Pesquisa Nacional por
amostra de domicílios) realizada pelo IBGE em 2011 mostraram que o contingente
de pessoas de 10 anos ou mais de idade que tinham telefone móvel celular para uso
pessoal foi estimado em 115,4 milhões, o que correspondia a 69,1% da população.
Frente a 2005, quando havia 55,7 milhões de pessoas que possuíam esse aparelho,
ou 36,6% da população, o crescimento foi de 107,2%. No mesmo período, a
população de 10 anos ou mais de idade do País cresceu 9,7%: de 152,3 milhões de
pessoas em 2005 para 167,0 milhões de pessoas em 2011.
Entre os operadores de segurança pública em Pernambuco este uso
também é bastante significativo, mesmo não se tendo o quantitativo destes
números, considerando-se inclusive a utilização de celulares com sistema
operacional Android, salientando-se ainda uma grande diversidade de aplicativos
que facilitam a comunicação e reduzem significativamente custos operacionais e que
os resultados são imediatos.
Partindo deste princípio, desenvolvemos o aplicativo denominado
EstimaPM, no qual temos algumas telas autoexplicativas, que devidamente
preenchidas fornecem um resultado estimado de pessoas em um ambiente aberto,
com parâmetros extraídos da Instrução Técnica do Rio de Janeiro.

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Mostraremos abaixo, as telas do aplicativo, com suas finalidades:

Figura 1: Tela de abertura - Nesta tela inicial há uma contagem regressiva para carregamento do
aplicativo de 3 segundos. Também é informada a versão e ano do aplicativo.

Figura 2: Menu Principal - É aberta a tela com as opções do Menu para acesso ao cálculo da
estimativa de público, cálculo da área do local do evento, ajuda sobre o uso do aplicativo,
informações sobre o aplicativo e opções para encerrar o aplicativo.

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Figura 3: Calcular Estimativa - Nesta tela, temos a opção de calcular a estimativa de público,
propriamente dita. Serão inseridos cinco valores numéricos de amostras de densidades com as Taxas
de ocupação e teremos o resultado da densidade média das amostras. São 25 amostras a serem
preenchidas de taxa de ocupação dos setores do evento.

Figura 4: Continuação da tela anterior - Após termos a densidade média, inserimos a área do evento
e após isso, clica-se em calcular estimativa e teremos o valor estimado de pessoas presentes no
evento, conforme os argumentos informados.

Figura 5: Cálculo da área - Nesta tela, temos a opção de calcular a área do evento, caso não tenha
disponível essa informação.

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Figura 6: Tela de Ajuda - Temos a opção de instruções de uso simplificado do aplicativo, com a
descrição detalhada sobre a finalidade de uso do aplicativo.

Figura 7: Continuação da tela anterior - Após as instruções, teremos informações acerca de taxa de
ocupação.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para tanto é possível compreender e verificar que o uso de ferramentas


adequadas e com baixo custo auxiliam os operadores da segurança pública no dia a
dia da profissão.
A implantação de um dispositivo tecnológico, simples e prático de ser
utilizado para mensurar públicos em eventos abertos, pode trazer um benefício
enorme para os operadores da segurança pública, pois com um método simples
poderão planejar e reduzir custos na gestão de recursos logísticos de pessoal e de
material, podendo ter maior eficiência, após ser devidamente usados recursos
técnicos.
A criação deste aplicativo denominado EstimaPM possibilita aos policiais

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colocarem em prática uma metodologia de pesquisa criada para dar uma resposta
mais técnica e próxima da realidade, evitando-se distorções grandiosas, comumente
divulgadas pelos órgãos de mídia, como ocorre nos dias atuais, desenvolvendo
também papel de capacidade proativa, aumentando-se assim a eficiência policial na
prevenção e, por conseguinte, aumento de sensação de segurança.
Procuramos aliar os conhecimentos adquiridos em norma técnica com os
a tecnologia Android, que atualmente se tornou uma plataforma bastante usual entre
os usuários de aparelhos mobiles, principalmente entre os operadores da segurança
pública.
Uma das vantagens do uso deste dispositivo é que seu custo é zero, pois
não necessita de conexão com a internet e sendo inseridos os dados devidamente,
fornece informações técnicas rápidas e que poderão auxiliar em diversas vertentes
para o planejamento e execução de um trabalho policial em eventos abertos.

REFERÊNCIAS

BÍBLIA, Português. Bíblia Sagrada. Nova trad. na linguagem de hoje. São Paulo:
Paulinas Editora, 2005. 1472p.

BUENO, Silveira. Dicionário Global escolar Silveira Bueno da língua


portuguesa. 3 ed. São Paulo: Global, 2009;

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Miniaurélio Século XXI: O


minidicionário da língua portuguesa. 5 ed. Rio de Janeiro: Nova Fronteira S.A,
2001;

GLOBO. Venda de Smartphones. Disponível em: <http://g1.globo.com/tecnologia


/noticia/2015/04/ venda-de-smartphones-sobe -55-no-brasil-em-2014-diz-idc.html>.
Acesso em: 14 set. 2015.

JACOBS, Herbert. Disponível em: <https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-


BR&sl=en&u=https://en.wikipedia.org/wiki/Herbert_Jacobs&prev=search>. Acesso
em: 14 set. 2015.

NAZARETH, Helenalda Resende de. Curso básico de estatística. 1 ed. Rio de


Janeiro: Ática, 2009;

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ROONEY, Anne. A História da Matemática – Desde a criação das pirâmides até


a exploração do infinito. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda, p. 10 e 179,
2012;

SOUZA, Elenice de. Explorando Novos Desafios na Polícia: O Papel do Analista,


o Policiamento Orientado para o Problema e a Metodologia IARA. Coleção
Instituto de Segurança Pública, Série Análise Criminal, Volume 1. Rio de Janeiro:
ISP, 2008;

TOLEDO, Luciano Geraldo; OVALLE, Ivo Izidoro. Estatística Básica. 2 ed. São
Paulo: Atlas, 1992.

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PRINCÍPIOS ORIENTADORES DAS ATIVIDADES DE SEGURANÇA
INSTITUCIONAL GOVERNAMENTAL E A INDISPONIBILIDADE DO DIREITO À
PROTEÇÃO PESSOAL DO GOVERNADOR DO ESTADO DE PERNAMBUCO

Werner Walter Heuer Guimarães1

RESUMO
Este trabalho tem por escopo proceder a um estudo sobre as prerrogativas de
proteção pessoal do Governador do Estado de Pernambuco, em razão do seu cargo
e durante seu mandato. A atividade de segurança pública difere-se da atividade de
segurança institucional governamental, uma vez que a primeira se refere às
atividades destinadas à preservação da ordem pública em geral e a segunda, às
ações de segurança de autoridades, estas compreendidas como pessoas investidas
de cargo público e que fazem jus ao serviço conforme legislação peculiar. Do
mesmo modo que a segurança pública é direito constitucional do cidadão e dever do
Estado, e por isso, uma prerrogativa popular indisponível, a segurança institucional
governamental é destinada a assegurar a incolumidade física e psicológica da
autoridade governamental, que em razão da sua situação pelo cargo que ocupa e
instituição que representa, também não pode dispor dessa prerrogativa, uma vez
que a proteção é destinada à figura pública que aquela pessoa representa e não à
pessoa que ocupa o cargo público. Pretendemos com o presente artigo contribuir
para a difusão da cultura e das competências dos órgãos de segurança institucional
no Brasil, além de tratar metodologicamente acerca das atividades de segurança de
autoridades, dando enfoque jurídico e embasamento legal às ações.

Palavras-chave: Autoridade. Governador do Estado. Segurança Institucional.

ABSTRACT

This work aim to conduct a study on the protection of personal prerogatives of the
Governor of the State of Pernambuco during his tenure. The law enforcement activity
differs from the government's institutional security activity, since the first one refers to
activities designed to preserve public order in general and the second one, to the
authorities of safety actions, these understood as people position of investees public
and are entitled to serve as peculiar legislation. In the same way that public safety is
constitutional citizen's right and duty of the state, and therefore a popular prerogative
unavailable, the government institutional security is to ensure the physical and
1 Major da Polícia Militar de Pernambuco; Bacharel em Direito; Especialista em Direito Penal e Direito
Processual Penal; Especialista em Formação de Educadores; MBA em Planejamento e Gestão
Organizacional; MBA em Gestão Governamental; Especialista em Segurança e Proteção de
Autoridades; Coordenador e instrutor dos Cursos de Segurança e Proteção de Autoridades
ministrados pela Casa Militar do Governo do Estado de Pernambuco.

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psychological safety of government authority, which because of their situation by
position he holds and the institution it represents, cannot have that prerogative, since
the protection is for public figure who that person is not the person who holds public
office. We intend with this article contribute to the dissemination of culture and skills
of institutional security agencies in Brazil, in addition to treating methodologically
about the authorities of security activities, giving legal approach and legal foundation
to actions.
Keywords: Authority. State governor. Institutional Security.

“Nós somos o que fazemos repetidas vezes. Portanto, a


excelência não é um ato, mas um hábito”. (Aristóteles)

1 INTRODUÇÃO

O dia 25 de julho de 1966 ficou conhecido como o marco balizador do


início da luta contra o terrorismo no Brasil. Naquela data, em Recife, mais
precisamente no Aeroporto Internacional dos Guararapes, militantes comunistas do
grupo revolucionário Ação Popular (AP), colocaram um artefato explosivo
cronometrado no saguão do aeroporto. O principal alvo do atentado foi o então
Ministro do Exército General Arthur da Costa e Silva e candidato à sucessão do
General Castelo Branco que iria desembarcar no aeroporto da capital
pernambucana naquela data.

Por volta das 08h30minh a bomba explodiu como haviam programado,


matando quatro pessoas, entre elas o Almirante Nelson Gomes Fernandes, Diretor
da CHESF à época, e o Secretário de Governo de Pernambuco, Edson Régis de
Carvalho, além de ferir outras quinze.

Naquele mesmo mês outras duas bombas explodiram em Recife. Uma,


na sede da União de Estudantes de Pernambuco, ferindo, com escoriações e
queimaduras no rosto e nas mãos uma vítima inocente que passava pelo local e
uma outra, no escritório de uma representação americana, causando, apenas, danos
materiais. (MACIEL, 2012).

No episódio do aeroporto, o objetivo do grupo só não foi atingido, pois

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o Serviço de Segurança Institucional da Presidência da República identificou a
ameaça e substituiu a tempo o vôo do futuro Presidente por uma viagem de
automóvel. Uma rota alternativa.

Tratada sempre com reservas, a segurança institucional ou proteção de


autoridades no Brasil é dividida entre vários órgãos do governo federal e estadual,
com a participação das Forças Armadas, da Polícia Federal, Gabinetes Militares
estaduais e seguranças dos poderes Legislativo e Judiciário. Em todos os casos, os
efetivos empregados são mantidos em sigilo e os órgãos evitam dar detalhes sobre
as ações e atividades.
A atividade de segurança institucional difere-se das atividades
destinadas à segurança pública, pois esta última tem foco preponderante nas ações
de polícia ostensiva, preventiva e investigativa, desempenhadas pelas polícias
conforme previsto no artigo 144 da nossa Carta Magna, com vistas à preservação da
ordem pública. A seu turno, malgrado não haver uma definição formal no Direito, a
segurança institucional compreende as ações de salvaguarda de autoridades
governamentais ou congêneres, desde a proteção pessoal até a segurança das
instalações onde estejam ou venham estar.

O presente artigo tem por objetivo contribuir para a difusão da cultura


da segurança institucional no Brasil elencando as competências dos órgãos
envolvidos na atividade, além de tratar metodologicamente acerca de tais ações,
dando enfoque jurídico e embasamento legal, com especial atenção ao trabalho
desempenhado pela Casa Militar de Pernambuco no seu mister de proteção do
Governador do Estado.

De início, o estudo incidirá sobre os aspectos gerais que norteiam as


atividades de segurança pública, apresentando aspectos constitucionais e
doutrinários, tendo em vista entendermos necessária uma análise e comparação
com as atividades de segurança institucional, apontando os limites de cada atividade
e as diferenciando.
Deixemos claro que a diferenciação entre ambas dar-se-á tão somente
pelo fato de que as atividades de segurança institucional são pouco conhecidas e
estudadas, além do que a doutrina sobre o assunto é muito escassa e se resume às

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cartilhas e manuais de procedimentos-padrão dos órgãos diretamente envolvidos
com esse ramo.

Demonstraremos que do mesmo modo que a segurança pública é um


direito constitucional e uma prerrogativa popular indisponível, a segurança
governamental é de interesse público “indisponível”, uma vez que seu objetivo é a
preservação da “figura” do Governador e não do particular que ocupa do cargo.

Desmistificaremos as ações dos agentes de segurança do Governo,


procurando descrever suas atividades, modus operandi e legislação que ampara
seus atos praticados. Por fim, trataremos da Casa Militar de Pernambuco - órgão
responsável pela segurança do Chefe do Poder Executivo estadual de Pernambuco
- sua composição e missão institucional prevista em lei.

2 SEGURANÇA PÚBLICA X SEGURANÇA INSTITUCIONAL GOVERNAMENTAL

Já não há mais dúvida de que é função precípua do Estado atender ao


bem comum e ao interesse da coletividade, levando em consideração o princípio
constitucional da supremacia do interesse público ante o interesse privado.

Neste sentido, a segurança pública recebeu especial atenção do


Constituinte e teve um capítulo próprio na Constituição Federal de 1988, contido no
Título V, “Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas”. Assim, o capítulo III
do Livro V, “Da Segurança Pública”, consigna o artigo 144, de onde extraímos a
definição constitucional do conceito de segurança pública. Senão vejamos:

“Art.144. A segurança pública, dever do Estado, direito e responsabilidade


de todos, é exercida para a preservação da ordem pública e da
incolumidade das pessoas e do patrimônio, através dos seguintes órgãos:
I - polícia federal;
II - polícia rodoviária federal;
III - polícia ferroviária federal;
IV - polícias civis;
V - policias militares e corpos de bombeiros militares.”
(Grifo nosso)

Nota-se, pois, que segurança pública se trata de um conceito amplo e


complexo que vai além do enfrentamento à criminalidade e não se restringe apenas

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às ações e atividades policiais.
Como percebemos para a Carta Magna a segurança pública também
não se resume a uma mera opção do Estado, antes disso trata-se de um dever
constitucional dos Governos, uma vez que foi elevada à condição de direito
fundamental do cidadão.
Prova disso é que a Carta Cidadã relacionou a segurança no rol dos
direitos fundamentais consagrados em seu artigo 5º, conforme vemos abaixo:

“Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a invio-
labilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propri-
edade (...).” (Grifo nosso)

Deste modo, como começaremos a perceber, segurança pública e


segurança institucional governamental são atividades e conceitos que não se
confundem.

O Ministro Dias Toffoli, em julgamento recente, afirmou que a


segurança pública é atividade de Estado e uma prerrogativa constitucional
indisponível.

Vejamos:

“O direito a segurança é prerrogativa constitucional indisponível, garantido


mediante a implementação de políticas públicas, impondo ao Estado a
obrigação de criar condições objetivas que possibilitem o efetivo acesso a
tal serviço. É possível ao Poder Judiciário determinar a implementação pelo
Estado, quando inadimplente, de políticas públicas constitucionalmente
previstas, sem que haja ingerência em questão que envolve o poder
discricionário do Poder Executivo.” (RE 559.646-AgR, Rel. Min.Ellen
Gracie, julgamento em 7-6-2011, Segunda Turma, DJE de 24-6-2011.) No
mesmo sentido: ARE 654.823-AgR, rel. min. Dias Toffoli, julgamento em
12-11-2013, Primeira Turma, DJE de 5-12-2013. (Grifo nosso)

No dizer de NETO (2007, p. 09) segurança pública é um serviço


público que deve ser universalizado de maneira igual, ressaltando-se o fato de
resultar dos princípios fundamentais constitucionais, fato asseverado pela
compreensão extraída do caput do art. 144 ao afirmar que a segurança pública é
“dever do estado” e “direito de todos”. Como os demais, tal direito deve ser

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universalizado de maneira igual: não pode deixar de ser prestado à parcela mais
pobre da população, ou prestado de modo seletivo, por exemplo. Desde o
contratualismo dos séculos XVII e XVIII, preservar a “ordem pública” e a
“incolumidade das pessoas e do patrimônio” é a função primordial que justifica a
própria instituição do poder estatal. O estado social não só mantém a preocupação
central com a segurança, como amplia o seu escopo, concebendo-a como
“segurança social” contra os infortúnios da economia de mercado.

3 AUTORIDADE: CONCEITUAÇÃO JURÍDICO-LEGAL

Foi do artigo 5º da lei nº 4.898/65 que extraímos o conceito de


autoridade. Para o legislador, considera-se autoridade quem exerce cargo, emprego
ou função pública, de natureza civil, ou militar, ainda que transitoriamente e sem
remuneração.
A seu turno, Telles Júnior (1977, p. 110) nos ensinou que para o Direito,
autoridade é o poder pelo qual uma pessoa ou entidade se impõe às outras, em
razão do seu estado ou situação. É, assim, o poder de Direito de uma pessoa, em
virtude de sua especial capacidade de fato. Neste sentido, cumpre definir estado e
situação, para o perfeito entendimento do conceito.
Estado da pessoa é a conjuntura, reconhecida pelo Direito, na qual a
pessoa se encontra. A seu turno, situação é a posição na qual a pessoa se encontra,
relativamente a outra ou outras, de acordo com as determinações do Direito
(excluídas as situações familiares e profissionais).

São “situações”, por exemplo, as posições de tutor, curador,


proprietário, condômino, usuário, locador, credor e devedor, cessionário, doador e
donatário, mutuário, depositante e depositário, herdeiro, testamenteiro, inventariante;
Prefeito Municipal, Secretário e Ministro de Estado, Governador de Estado e
Presidente da República; vereador, deputado, dentre tantas outras.
Em razão de seu estado ou de sua situação - em razão de suas
especiais capacidades de fato -, pode uma pessoa ter o poder de se impor a outras,
nos termos da lei. Esse poder é que, nos domínios do Direito, se denomina

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autoridade.
Por sua vez, para Tornaghi (2011), o conceito de autoridade está
diretamente ligado ao de poder de Estado. Os juristas alemães, que mais
profundamente do que quaisquer outros estudaram o assunto, consideram
autoridade todo aquele que, com fundamento em lei, é parte integrante da estrutura
do Estado e órgão do poder público, instituído especialmente para alcançar os fins
do Estado, agindo por iniciativa própria, mercê de ordens e normas expedidas
segundo sua discrição. Daí se vê que a autoridade é órgão do Estado, exerce o
poder público, e em sua atividade não visa apenas aos meios, mas fins do Estado.
São ainda os publicistas alemães que proclamam: a autoridade é o
titular e portador dos direitos e deveres do Estado. Não tem personalidade, mas faz
parte da pessoa jurídica Estado. Em outras palavras: o Estado é o titular do poder
público. Mas como o exerce? Evidentemente por meio de pessoas físicas que a lei
investe daquele poder. Elas são o Estado. O pensamento delas é o dele: a vontade
delas é a dele. Tudo é deixado à sua discrição. Não ao seu arbítrio, pois arbítrio é
capricho, e não conhece lei.

4 A SEGURANÇA DE AUTORIDADES NO ÂMBITO FEDERAL

De início, cabe-nos esclarecer e de certa forma conceituar “proteção e


segurança de autoridades”. Para nós, trata-se muito mais de uma noção funcional e
dinâmica do que conceitual.
A “segurança institucional”, “segurança de autoridades” ou
simplesmente “proteção de autoridades” engloba um conjunto de medidas voltadas
para a prevenção e para a obstrução de ações adversas de qualquer natureza em
desfavor da autoridade protegida por lei.
Assim, é composta por uma série de procedimentos de segurança
necessários à redução de eventuais ameaças externas que comprometam em
primeiro plano a integridade física, moral e psicológica do protegido, neste caso, do
Governador do Estado de Pernambuco, e que em último plano atingem o âmago da
instituição “Estado”, colocando em xeque a ordem social. Tais medidas estão
agrupadas nos segmentos de Segurança de Pessoal, Segurança das Áreas e

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Instalações, Segurança da Documentação e Material e Segurança dos Sistemas de
Informação.
As ações de segurança institucional a nível federal, a saber, as que
envolvam diretamente o Presidente da República são desenvolvidas com
exclusividade pelo Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da
República, que tem suas legitimadas pela lei nº 10.683/2003 (com redação alterada
pela lei nº 12.462/2011), que dispõe sobre a organização da Presidência da
República e dos Ministérios, além do que estabelece suas competências e
organização.
Conforme a legislação citada em seu artigo 6º compete ao Gabinete de
Segurança Institucional da República assistir direta e imediatamente ao Presidente
da República no desempenho de suas atribuições; prevenir a ocorrência e articular o
gerenciamento de crises, em caso de grave e iminente ameaça à estabilidade
institucional; realizar o assessoramento pessoal em assuntos militares e de
segurança; coordenar as atividades de inteligência federal e de segurança da
informação; e, zelar, assegurado o exercício do poder de polícia, pela segurança
pessoal do Chefe de Estado, do Vice-Presidente da República e respectivos
familiares, dos titulares dos órgãos essenciais da Presidência da República e de
outras autoridades ou personalidades quando determinado pelo Presidente da
República, bem como pela segurança dos palácios presidenciais e das residências
do Presidente e do Vice-Presidente da República.
A já sedimentada democratização da sociedade brasileira consagrada
pela atual Constituição Federal exige das forças policiais a obrigação de
enquadramento ao regime do Estado Democrático de Direito, esculpido naquela
Carta Legal, através do qual o “império da lei” é uma realidade, ou seja, não se
encontra mais no campo das ideias. Por isso mesmo, não é demais lembrar que os
líderes de uma democracia constitucional e seus representantes devem agir sempre
em consonância com a lei que define e limita a sua autoridade.

Tal situação também é claramente observada nos órgãos responsáveis


pela proteção de autoridades, que também têm suas atividades reguladas por leis
específicas, em perfeita consonância com os princípios insculpidos na Constituição
Federal.

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Neste sentido, ainda é forçoso citar que a proteção de “ex-autoridades”
no Brasil ainda carece de normatização. Pessoas que já desempenharam cargos pú-
blicos de extrema responsabilidade ou risco, exceto o de Presidente da República,
não tem direito à proteção às custas do erário.
No caso específico do Presidente da República, a lei nº 7.474/1986 ga-
rante a segurança pessoal para o Chefe do Poder Executivo mesmo após o término
do seu mandato.
Vejamos:

“Art. 1º O Presidente da República, terminado o seu mandato, tem direito a


utilizar os serviços de quatro servidores, para segurança e apoio pessoal,
bem como a dois veículos oficiais com motoristas, custeadas as despesas
com dotações próprias da Presidência da República.” (Grifo nosso)

5 A SEGURANÇA DE AUTORIDADES NO ESTADO DE PERNAMBUCO:


ASPECTOS PRÁTICOS E LEGAIS

A Casa Militar de Pernambuco é o órgão que possuiu a


responsabilidade institucional pela segurança do Governador do Estado.

O órgão é composto por militares do Estado (policiais e bombeiros


militares) dos quadros da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar de
Pernambuco. Também compõem o contingente de servidores do órgão civis,
nomeados em cargos em comissão, além de servidores civis que trabalham em
regime de contrato temporário. No entanto, são os militares do Estado, por razões
técnicas óbvias, os responsáveis e envolvidos diretamente nas atividades de
segurança governamental.
Ao contrário do que muitos acreditam a Casa Militar não é um órgão
subordinado ao Comando da Polícia Militar de Pernambuco ou mesmo da Secretaria
de Defesa Social, malgrado o seu efetivo de militares do Estado ser proveniente
daquela Corporação policial e do Corpo de Bombeiros Militar. Trata-se, na realidade,
de órgão integrante do primeiro escalão do Governo do Estado vinculado
diretamente ao próprio Governador, como veremos a seguir.
Ressalte-se, no entanto, que para fins de controle de lotação do

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efetivo, e regularização junto ao órgão de recursos humanos da Polícia Militar, o
Quadro de Organização da Casa Militar é vinculado diretamente ao da corporação
policial militar. De fato, a composição de cada órgão nos Estados da federação
(Casas Militares e Gabinetes Militares) depende das suas particularidades e não há
um modelo predefinido.
A responsabilidade institucional da Casa Militar de Pernambuco inclui
todos os aspectos relacionados à salvaguarda do Governador, do Vice-Governador e
seus familiares, além dos demais usuários dos serviços, nos termos da legislação
em vigor. O órgão também é responsável pela segurança do Palácio do Campo das
Princesas, sede do poder executivo estadual, Palácio Frei Caneca, sede da Vice-
Governadoria, e das residências do Governador e Vice-Governador do Estado.
Também é papel da Casa Militar produzir e difundir conhecimentos
específicos de inteligência relacionados com a segurança das autoridades e
instalações governamentais; desenvolver atividades de inteligência e segurança das
informações; produzir outros conhecimentos específicos de contra inteligência,
voltadas para os núcleos estratégico, tático e de apoio ao Poder Executivo estadual;
além de avaliar e identificar as ameaças, internas e externas, à ordem pública e à
própria figura do Governador do Estado.
O inciso II do Art. 1º, da lei nº 15.452, de 15 de janeiro de 2015, que
dispõe sobre a estrutura e o funcionamento do Poder Executivo traz claramente a
competência institucional da Casa Militar.

Senão vejamos:

“III – CASA MILITAR - Assessoria Especial para prestar apoio e


assessoramento de natureza militar e de segurança ao Governador e
ao Vice-Governador do Estado; apoiar as autoridades dos Poderes
Executivo, Judiciário e Legislativo da União, dos Estados e dos Municípios,
quando solicitado; executar as ações técnico-administrativas relacionadas
ao transporte de autoridades; prestar apoio a administração, referente à
manutenção e segurança dos prédios da governadoria; executar as
funções de segurança ostensiva e preventiva do Governador, Vice-
Governador e respectivos parentes; proporcionar ações de
desenvolvimento de sistemas de comunicações, segurança, transporte
aéreo, terrestre e apoio logístico às representações do Estado e autoridades
mencionadas neste inciso; exercer atividade de inteligência de natureza
administrativa no âmbito de sua missão institucional; planejar, coordenar,
desenvolver e executar as atividades de defesa civil; planejar, coordenar,
desenvolver, executar e fiscalizar as ações de engenharia e arquitetura no

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âmbito de sua missão institucional.” (grifo nosso)

Nota-se, pois, que como desdobramento de suas atribuições


institucionais, a Casa Militar de Pernambuco assume a responsabilidade de zelar
pelo Chefe do Poder Executivo estadual, em face do exercício de suas funções, bem
como de seus familiares e ainda de autoridades estrangeiras e de outras federações
que estejam em missão oficial no Estado de Pernambuco.
Afora a Lei nº 15.452/2015, o Regulamento da Casa Militar de
Pernambuco - RECAMIL, Decreto nº 37.861/2012 traz a fundamentação legal das
atividades do órgão e sua estrutura básica, com as respectivas competências.
Do RECAMIL extraímos ainda que compete à Casa Militar integrar o
Gabinete de Gerenciamento de Crises e planejar e executar os serviços de
segurança e proteção pessoal aos Chefes de Estado ou autoridades
governamentais em visita oficial ao Estado de Pernambuco, quando solicitado ou em
apoio a órgãos Federais de Segurança.
Além disso, o Manual de Serviços da Casa Militar é a norma legal que
detalha mais amiúde toda a sua estrutura orgânica e onde são encontradas, de
forma detalhada, as nuances das ações de segurança institucional, através de cada
setor existente no órgão.

6 INDISPONIBILIDADE DO DIREITO À PROTEÇÃO PESSOAL DO


GOVERNADOR DO ESTADO

Segundo Guedes (2009) afirma-se, com certa frequência, que os direi-


tos públicos são, predominantemente, indisponíveis e os privados, em regra, dispo-
níveis. Contudo, é fato que se admite não existirem critérios uniformes e seguros
que distingam os bens disponíveis dos bens indisponíveis. Ademais, reconhece-se
que a separação e classificação dos direitos públicos como indisponíveis e dos inte -
resses privados como disponíveis não é adequada, uma vez que há interesses públi-
cos disponíveis e, por outro lado, interesses privados indisponíveis.

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Além disso, a doutrina convencionou afirmar que os interesses públicos
primários seriam indisponíveis e que os secundários seriam, em princípio, indisponí-
veis, podendo se tornar disponíveis por meio de lei.
As dificuldades de se estabelecer uma clara distinção entre os direitos
e interesses públicos disponíveis e os indisponíveis levam a crer que, se existe um
critério seguro a ser adotado com esse propósito, o tal ainda não fora descoberto,
pois, do contrário, não haveria tanto dissenso e tamanhas dificuldades no manejo e
no implemento dos métodos ora aceitos (CARVALHO, 2012).
Didier e Zanetti (2009) distinguem muito bem as duas diferentes castas
de interesse público já citadas, quais sejam: O interesse público primário, consisten-
te no complexo de interesses coletivos prevalentes na sociedade, e que pode quase
sempre ser concebido como o bem comum; e o interesse público secundário, que é
o interesse do ente público que vai a juízo e que, muitas vezes, encontra-se comple-
tamente dissociado dos interesses públicos primários e, portanto, dos interesses co-
letivos.
Interesses públicos primários seriam, portanto, as aspirações de todos
os cidadãos e entidades civis por uma vida melhor; ao passo que os secundários
seriam os da Prefeitura, da Câmara de Vereadores, do Governo do Estado, da
Assembleia Legislativa Estadual, da Presidência da República, do Senado Federal,
da Câmara dos Deputados, do Congresso Nacional, do INSS, da Caixa Econômica
Federal e daí por diante.
Diante disso, e como cerne deste trabalho surge um questionamento: a
segurança pessoal do Governador do Estado durante o exercício do seu mandato
seria um direito público indisponível? Tratar-se-ia de um interesse privado disponí-
vel? Seria o caso de um interesse público disponível? Ou, por fim, seria um interes-
se privado indisponível?
Infelizmente, a doutrina jurídica não se quedou em discutir o assunto
pontualmente. Não se encontram tratativas acerca do tema, tampouco jurisprudên-
cia, mas entendemos que a questão merece resposta. O debate deve ser levantado.
Estamos certos de que não há dúvida de que as atividades de seguran-
ça destinadas ao Governador do Estado são devidas em razão do seu cargo. No en-

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tanto, queremos definir a sua natureza jurídica. No nosso entender é um ponto que
carece ser vencido.
Parece-nos que a resposta para os questionamentos acima é muito
mais filosófica do que doutrinária. Pois bem, vejamos.
O mandato do Governador do Estado é conferido pelo povo após elei-
ções a cada quatro anos através do sistema majoritário. Logo, trata-se da própria
vontade do povo traduzida nas urnas. Por sua vez, é forçoso lembrar que o Gover -
nador só pode deixar o cargo - antes de cumprido o seu mandato - em apenas duas
circunstâncias. A primeira, através de processo legal de impedimento (Impeach-
ment), pela vontade do povo mediante atos do legislativo estadual. E a segunda, de
foro íntimo, por ato unilateral do próprio Governador, a saber, a renúncia ao cargo.
Pois bem! O Governador é a autoridade máxima do Poder Executivo
estadual. É um símbolo vivo, representa o Estado, ou melhor, é a própria personifi-
cação da legitimidade do Estado. O representa nos aspectos jurídico, político e ad -
ministrativo. Qualquer agressão à figura do Governador representa uma afronta dire-
ta ao próprio Estado.
Hoffmann (2014), ao citar Hely Lopes Meirelles, afirmou que os Esta-
dos de Direito e os Estados Democráticos não admitem privilégios pessoais, só re-
conhecem prerrogativas funcionais. Além disso, os poderes e deveres do administra-
dor público são os expressos em lei, impostos pela moral administrativa e exigidos
pelo interesse da coletividade. Desta forma, cada agente administrativo tem em si in-
vestida a necessária parcela de poder público para o desempenho de sua atividade.
Sendo assim, levando em consideração a ideia central de que todo o
poder emana do povo – como já discutimos – e que os cidadãos são detentores do
poder, sendo alguns deles escolhidos para serem governantes, e, portanto, repre-
sentantes da sociedade, podemos afirmar que o povo não pode se furtar em deixar
de ter um seu governante pelo simples fato de que teve a vida ceifada por um agen-
te externo (criminoso, por exemplo). Tampouco pode permitir que sua integridade
moral seja afetada. Logo, a manutenção do exercício do cargo de Governador do
Estado é, sem sombra de dúvidas, do interesse da coletividade. Trata-se, pois, de
um interesse público.

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É neste ponto que destacamos como fundamental a proteção pessoal
devida não ao particular ocupante do cargo, mas à figura do Governador como re-
presentante da soberania popular, que não pode ser abalada, muito menos posta em
xeque. O que se protege, em última análise, é o próprio Estado ali representado, a
sua imagem. No nosso entender, por esse motivo, não pode o Governador abdicar
da sua própria proteção, uma vez que representa algo maior que ele mesmo.
Justen (2006, p. 36) destacou que juridicamente, efetivo titular do inte-
resse público é a comunidade, o povo. O direito não faculta o agente público o poder
para escolher entre cumprir e não cumprir o interesse público. O agente é um servo
do interesse público - nessa acepção, o interesse público é indisponível.
Por outro lado, a atuação de grupos extremistas radicais aliada a
grande onda de ataques tentados e consumados a autoridades internacionais ao
redor do mundo têm deixado em alerta os grupos de proteção pessoal e de
autoridades, que têm de demonstrar antecipação de ações, flexibilidade e
adaptabilidade ante esse cenário.

No plano nacional, a crescente onda de violência urbana também traz


para os agentes brasileiros preocupações similares, notadamente às Casas Militares
ou Gabinetes Militares, órgãos responsáveis pela proteção e segurança de
autoridades presidenciais e governamentais, uma vez que um atentado intencional
contra o Governador do Estado, por exemplo, é um sinal gravíssimo de descontrole
social; é uma afronta a ordem pública e contra o próprio Estado - Estado que aliás,
somos todos nós.

Diante do acima exposto, parece-nos claro que o serviço de proteção


pessoal do Governador do Estado trata-se de um interesse público indisponível.

CONCLUSÃO

Nosso propósito, ao realizarmos o presente estudo, foi o de contribuir


para a difusão da cultura e das competências dos órgãos de segurança institucional
no tocante à proteção de autoridades ou dignitários, além de levantar questões de
ordem prática e doutrinária que pudessem chamar o tema a mais discussão.

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Pouco conhecida, as ações de segurança institucional governamental
não carecem de fundamentação legal tampouco normatização de procedimentos,
uma vez que são amparadas em legislação específica, a depender de cada órgão
em particular, no âmbito federal ou no âmbito estadual. No entanto, tais atividades
são cobertas de nuances que merecem mais discussão, como a indisponibilidade do
direito à proteção pessoal do Governador do Estado, e as questões de interesse pú-
blico e privado que foram levantadas neste trabalho.
As modernas democracias não exigem que os seus governos sejam
fracos, mas que tenham limites impostos por lei, o que é uma das principais regras
do Estado Democrático de Direito. Como as demais forças policiais no Brasil, os ór-
gãos do Governo (federal ou estadual) responsáveis pela proteção de autoridades
devem buscar que suas ações sejam sempre cobertas pelo pálio da legalidade,
como o fazem com frequência, sobretudo pelo fato de que têm como missão uma
atividade de interesse público, que é a proteção da imagem do próprio Estado perso -
nificada através da autoridade protegida.

REFERÊNCIAS

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indisponibilidade do interesse público e do dever de ofício de recorrer.
Disponível em: <http://jus.com.br/artigos/21180/verdades-e-mitos-em-torno-da-
supremacia-e-da-indisponibilidade-do-interesse-publico-e-do-dever-de-oficio-de
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Secretaria da Casa Militar, e dá outras providências.

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A PERCEPÇÃO DE ESPECIALISTAS SOBRE A ATUAÇÃO PREVENTIVA DA 1ª
COMPANHIA INDEPENDENTE DE POLICIAMENTO DO MEIO AMBIENTE NAS
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO DE PERNAMBUCO

Bruno Silva Cavalcante1

RESUMO

Esta pesquisa apresenta um estudo de percepção a ser realizado entre especialistas


em conservação do meio ambiente no estado, com o objetivo de conhecer seus
posicionamentos a respeito da atuação preventiva da 1ª Companhia Independente
de Policiamento do Meio Ambiente – 1ª CIPOMA - nas Unidades de Conservação de
Pernambuco. As Unidades de Conservação são territórios especialmente protegidos,
instituídos pelo Poder Público com o objetivo de preservar os atributos ecológicos e
seus recursos naturais. A metodologia consistiu na análise temática do conteúdo
obtido em entrevistas presenciais, realizadas com especialistas em conservação da
natureza, envolvidos na gestão e fiscalização das Unidades de Conservação. Os
resultados da pesquisa identificaram, mediante a análise das entrevistas, sete
paradigmas que podem influenciar de forma positiva na atuação eficaz da Polícia
Militar nas Unidades de Conservação de Pernambuco.

Palavras-chave: 1ª Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente.


Crimes ambientais. Unidades de Conservação.

ABSTRACT

This research presents a perception study of environmental conservation specialists


in the state of Pernambuco in order to know their positions and opinions regarding
the preventive action of the 1st Independent Company Policing the Environment - 1st
CIPOMA - in Units conservation of Pernambuco. The Conservation Units are
especially protected territories, instituted by the Government in order to preserve the
ecological attributes and its natural resources. The methodology consisted of
thematic content analysis obtained in-person interviews conducted with nature
conservation specialists, involved in the management and monitoring of protected
areas. Research results identified through the analysis of interviews seven
paradigms can have a favorable effect the preventive action of the Military Police in
Pernambuco Conservation Units.

Keywords: 1st Independent Company Policing the Environment. Conservation Units.


Environmental crimes.

1 Capitão da Polícia Militar de Pernambuco. Bacharel em Ciências Biológicas pela Universidade


Federal Rural de Pernambuco. Pós-graduado em Estratégias para Conservação da Natureza pela
Universidade Salesiana Santa Teresa e o Instituto Homem Pantaneiro – MS.

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1 INTRODUÇÃO

As Unidades de Conservação, mundialmente conhecidas como Áreas


Protegidas, são territórios estabelecidos pela Lei nº 9.985, de 18 de julho de 2000,
que instituiu, no Brasil, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC. A
Comissão de Áreas Protegidas da União Internacional para a Conservação da
Natureza – IUCN adota o seguinte conceito de Unidades de Conservação.

‘’ Uma área de terra ou mar especialmente dedicada à proteção e


manutenção de diversidade biológica, e de recursos naturais e culturais
associados e manejados por instrumentos legais ou outros meios efetivos’’.
Essas áreas são manejadas para fins diversos, que incluem pesquisa
científica, proteção da vida selvagem, conservação de espécies e de
ecossistemas, manutenção de serviços ambientais, proteção de
determinados aspectos culturais, turismo e lazer, educação ou uso
sustentável de ecossistemas ’’ (BENSUSAN, 2002, p.34).

As Unidades de Conservação brasileiras sofrem constante degradação


ambiental, decorrentes de problemas relacionados à criação, regularização fundiária
e manejo (CONEGLIAN, CASTRO e NASCIMENTO, 2008). Ocorre ainda a carência
de técnicos e falta de preparo, principalmente em técnicos como guarda-parques
(DOUROJEANNI e PÁDUA, 2007). As Unidades de Conservação do estado de
Pernambuco não constituem exceção à regra; Leite, Geiseler e Pinto (2011, p.14)
afirmam que apesar do número de Unidades ser expressivo, a área efetivamente
protegida é reduzida, considerando o tamanho dos fragmentos nela inseridos.
Figueiredo e Silva (2011) relatam que foi detectado, em menos de 10 anos, a
degradação em 26% das reservas ecológicas da Região Metropolitana do Recife.
Para Primack e Rodrigues (2011, p.119 e 120) quando se estabelece
uma área de conservação, é preciso que se tenha o compromisso de proteger a
diversidade biológica e a função do ecossistema e de satisfazer as necessidades
imediatas da população local. A gestão e fiscalização das Unidades de Conservação
são efetuadas pelos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente –
SISNAMA, incluindo as Polícias Militares estaduais. Para a Política Florestal de
Pernambuco, em seu Art. 66, cabe a Polícia Militar adotar ações preventivas ao
combate às infrações em Unidades de Conservação (PERNAMBUCO, 2010).
A 1ª Companhia Independente de Policiamento do Meio Ambiente – 1ª

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CIPOMA, é a unidade da Polícia Militar de Pernambuco – PMPE, especializada no
policiamento ambiental, criada através do Decreto Estadual nº 14.147 de 18 de
dezembro de 1989, com o objetivo de conter os desmatamentos na Região
Metropolitana do Recife (CAVALCANTI, 1995). A 1ª CIPOMA compõe o arranjo
institucional do Sistema Estadual de Meio Ambiente e atua nas Unidades de
Conservação estaduais como órgão complementar, conforme estipula o artigo 6º,
inciso IV, da Lei nº 13.787, de 08 de junho de 2009, que institui o Sistema Estadual
de Unidades de Conservação – SEUC (PERNAMBUCO, 2010).
Amparada pelo Poder de Polícia Ambiental que limita, disciplina e
regula as práticas lesivas ao Meio Ambiente (MACHADO, 2010), a 1ª CIPOMA
realiza fiscalizações rotineiras em diversas Unidades de Conservação; entretanto, as
ações promovidas nesses territórios ainda não são norteadas por uma doutrina
consolidada de policiamento ambiental. Com o objetivo de aperfeiçoar a missão
preventiva da Polícia Militar nos espaços naturais protegidos, novos paradigmas de
policiamento devem ser concebidos, de modo a incorporar a visão multidisciplinar e
o conhecimento técnico dos especialistas que atuam na conservação ambiental. O
objetivo geral da pesquisa foi de conhecer, a partir da percepção de especialistas em
meio ambiente, os paradigmas relacionados a melhor atuação preventiva da 1ª
CIPOMA nas Unidades de Conservação de Pernambuco.

2 MÉTODOS

A pesquisa consistiu em entrevistas presenciais direcionadas a


profissionais especialistas em conservação da natureza em Pernambuco. As
entrevistas foram realizadas com o uso de um Smartphone e do aplicativo de áudio
Gravador de Voz™, para registro dos dados de voz no formato MP3. Foi utilizada a
técnica denominada Entrevista Não Estruturada, que possibilita ao entrevistado
desenvolver de forma livre e aberta a temática em estudo (MARCONI e LAKATOS,
2010), expressa em única pergunta: ‘’Na sua percepção, que paradigmas de
atuação podem ser aplicados pela 1ª CIPOMA no policiamento preventivo das
Unidades de Conservação de Pernambuco?’’
Para identificar os paradigmas, as citações relacionadas ao objeto da

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pesquisa foram transcritas literalmente e submetidas às técnicas de análise temática
e categorização, seguindo a metodologia apresentada por Bardin (2011). Por fim, a
pesquisa bibliográfica permitiu a discussão pormenorizada dos paradigmas
identificados, em torno dos seus aspectos conceituais e legais, além da forma como
foram abordados pelos especialistas consultados.

3 RESULTADOS

3.1 Identificação dos Paradigmas

Foram realizadas 25 entrevistas presenciais, totalizando 04 horas e 51


minutos de dados de áudio no formato MP3. As técnicas de análise temática e de
categorização das 109 citações identificaram 07 paradigmas fundamentais que
refletem a percepção dos especialistas sobre a atuação preventiva da 1ª Companhia
Independente de Policiamento do Meio Ambiente nas Unidades de Conservação de
Pernambuco. Foram identificados os seguintes paradigmas: Investimento e
ampliação da 1ª CIPOMA, Integração institucional, Capacitação/Treinamento,
Marketing social, Educação Ambiental, Doutrina/Planejamento e Ferramentas
tecnológicas.

Tabela 1. Frequência quantitativa das citações por paradigma identificado.

PARADIGMA IDENTIFICADO FREQUÊNCIA DE CITAÇÕES

Investimento e ampliação da 1ª CIPOMA 15


Integração institucional 20
Capacitação/Treinamento 08
Marketing social 18
Educação ambiental 12
Doutrina e Planejamento 26
Ferramentas tecnológicas 09
TOTAL 109

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Quadro 1. Ficha com algumas citações relevantes das entrevistas, por paradigma
identificado.

Investimento e ampliação da 1ª CIPOMA


1
‘’Se a CIPOMA fosse Batalhão ela teria uma estrutura melhor.’’
Integração institucional
2
‘’Se a gente conseguir juntar tudo, integrar, a gente pode começar a diminuir esse problema.’’
Capacitação/Treinamento
3 ‘’A CIPOMA precisa ser mais capacitada, e o governo do estado precisa dar mais atenção à
CIPOMA, que é uma chance enorme.’’
Marketing Social
‘’Outra coisa que eu também vejo, numa nova postura do serviço público, é a abertura para se
4
trabalhar com a sociedade. Não ter a sociedade como adversária, dificultando o processo, mas
como aliada de processo.’’
Educação Ambiental
‘’A gente sabe que tudo é muito dinâmico, o ambiente está mudando o tempo todo, as
5 estruturas estão mudando, e a preservação ela só pode existir se existir uma intenção também
de preservar e uma capacidade de compreender a importância daquilo ali ser preservado pelas
pessoas que vivem naquele entorno.’’
Doutrina e Planejamento
‘’Você tem duas ações: a preventiva e a ação corretiva; a preventiva é aquela que seria a ideal.
Uma das coisas que mais inibe o desmatamento, a invasão e os danos às unidades de
conservação é você ter, da mesma forma que você tem na cidade nos pontos mais críticos,
6
você tem um policiamento preventivo, isso deveria ser, a mesma estratégia deveria ser
adotada para unidades de conservação, porque você não precisa ter um efetivo
constantemente implantado em cada unidade, mas as pessoas sabendo que existe um
policiamento.’’
Ferramentas tecnológicas
‘‘Com a aplicação exatamente desses novos instrumentos, aí a ideia era essa, com a
tecnologia, aí depois de um determinado tempo, a gente vai saber onde é que tem mais
7
denúncias, agir preventivamente é fazer umas rondas maiores naquela área, ou então fazer
educação ambiental, mais isso a gente só saber depois de descobrir onde é que tem uma
incidência maior.’’‘

4 DISCUSSÃO

4.1 Aspectos dos Paradigmas Identificados

4.1.1 Investimentos e Ampliação da 1ª CIPOMA

Os investimentos públicos são essenciais para as políticas


governamentais e para manutenção de um serviço público de qualidade. A questão
ambiental normalmente é preterida diante de outras demandas, e geralmente é a
primeira a sentir os efeitos do contingenciamento das despesas públicas em custeio
e investimento. Em Pernambuco, os órgãos integrantes do SISNAMA, enfrentam

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orçamentos reduzidos, funcionários insuficientes, carência de materiais e
equipamentos, sazonalidade de dirigentes, reformas estruturais, mudanças de
diretrizes e dificuldades da atuação compartilhada (COELHO e MELO, 2010).

O pequeno efetivo de policiais militares da 1ª CIPOMA foi o aspecto


mais citado entre os entrevistados; sem policiais suficientes, a Companhia encontra
limitações para a concretização de ações preventivas baseadas na presença efetiva
e constante do policiamento. Atualmente, nenhuma Unidade de Conservação do
estado é contemplada com efetivo de forma permanente. Consideradas modelo e
contando com policiamento mais intenso, a Estação Ecológica de Caetés e o Parque
Estadual de Dois Irmãos foram exceções à regra em passado recente. Na ESEC
Caetés a experiência foi bem sucedida, embora tenha enfrentando problemas
relacionados a reduzida equipe técnica de policiais (SILVA e GEHLEN, 2013). A
deficiência de policiais também compromete o apoio prestado aos demais órgãos
ambientais, que muitas vezes são dependentes do apoio policial fardado e armado
para fiscalizar áreas que representam riscos aos agentes e técnicos ambientais.

Para Silva (2010), visando universalizar a presença, há a demanda da


sociedade para a criação de um Batalhão de Policiamento Ambiental, interiorizando
suas ações e interagindo com as comunidades rurais. A transformação da 1ª
CIPOMA no 1º Batalhão de Policiamento Ambiental – 1º BPA, recomendada por
alguns entrevistados, seria uma decisão política relevante, e, na prática provocaria
um incremento imediato de efetivo. Em longo prazo, ampliaria os investimentos
públicos na estrutura e na interiorização das ações de modo permanente.

4.1.2 A Integração Institucional

O Sistema Nacional de Meio Ambiente – SISNAMA - tem por objetivo


estabelecer um conjunto articulado e descentralizado de ações para a gestão
ambiental no país, integrando e harmonizando regras e práticas específicas que se
complementam nos três níveis de governo. A atuação do SISNAMA se dará pela
atuação coordenada dos órgãos e entidades de gestão e fiscalização ambiental,
com previsão na Constituição Federal, que diz em seu Art. 23 que é competência
comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios proteger o meio

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ambiente e combater a poluição, além de preservar as florestas, a fauna e a flora
(BRASIL, 2015). A Carta Magna é regulamentada pela Lei Complementar nº 140 de
08 de dezembro de 2011; este dispositivo legal institui um sistema comum de
proteção ambiental, estabelecendo e disciplinando instrumentos de cooperação e
atuação conjunta entre os entes federais, estaduais e municipais (PEREIRA, 2014).
Integrantes seccionais do SISNAMA, as Polícias Militares se integram mediante
programas de fiscalização ambiental compartilhada nas Unidades de Conservação.
Em algumas unidades da federação a integração está avançada; no Rio de Janeiro
foi criada uma Coordenadoria Integrada que articula os órgãos públicos de
fiscalização pertencentes às três esferas de governo. Planeja e executa ações de
combate aos crimes ambientais, inclusive nas Unidades de Conservação estaduais,
mediante fiscalizações contínuas (RIO DE JANEIRO, 2014).
No estado de Pernambuco, as iniciativas de integração com sua
unidade de policiamento ambiental compreendem a celebração de convênios e
parcerias técnicas, além das recorrentes ações conjuntas, normalmente como apoio
operacional aos demais órgãos ambientais. Recentemente houve avanços, a partir
da integração com a rede de gestores das Unidades de Conservação estaduais,
através da participação ativa de representantes da 1ª CIPOMA nos seus Conselhos
Gestores, obedecendo a previsão legal do artigo 35, parágrafo 1º, da Lei nº 13.787,
de 08 de junho de 2009, que institui o Sistema Estadual de Unidades de
Conservação – SEUC (PERNAMBUCO, 2010). Para boa parte dos especialistas
entrevistados, a integração institucional é essencial e altamente vantajosa, não
apenas à 1ª CIPOMA, mas para todos os envolvidos na fiscalização e gestão das
Unidades de Conservação, por permitir a convergência de procedimentos e a
multiplicação do aproveitamento dos escassos recursos de logística e de pessoal.

4.1.3 Capacitação/Treinamento

A capacitação e o treinamento de pessoal podem influir diretamente na


qualidade do serviço prestado por qualquer organização pública ou privada. Nas
organizações, os cursos devem cada vez mais se preocupar em aumentar o grau
de aprendizado dos profissionais, fomentando sua curiosidade e suas atitudes, além

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de proporcionar um ambiente e metodologias de trabalho adequadas à
autoaprendizagem (TARAPANOFF, 2012). Bachtold (2013, p.49) afirma que a
aprendizagem individual e a aprendizagem coletiva são igualmente necessárias e
interdependentes para o bom desempenho institucional. O Policiamento Ambiental,
como modalidade altamente especializada, exige que o policial seja submetido a um
programa de aprendizagem constante e com ênfase no conhecimento técnico, de
modo a assimilar os saberes afetos à modalidade.
Os entrevistados citaram a necessidade de se fomentar capacitações
direcionadas aos policiais militares que atuam nas Unidades de Conservação,
considerando o alto grau de informações necessárias ao exercício pleno da
fiscalização nesses espaços. Os conhecimentos devem ser estar com consonância
com os objetivos de conservação das Unidades de Conservação, com o objetivo de
se buscar o Princípio da Eficiência nas ações de policiamento. Segundo Meirelles
(2002), o Princípio da Eficiência é o que se impõe a todo agente público de realizar
suas atribuições com presteza, perfeição e rendimento profissional. Para o mesmo
autor, é o mais moderno princípio da função administrativa, que já não se contenta
em desempenhar apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o
serviço público e satisfatório atendimento das necessidades da comunidade.

4.1.4 O Marketing Social

O termo Marketing social é empregado para descrever o uso de


princípios e técnicas de marketing na promoção de uma causa, idéia ou
comportamento. Desde então, passou a significar uma tecnologia de gestão da
mudança social, associada ao projeto, implantação e controle de programas
voltados para o aumento da disposição de aceitação de uma ideia ou prática social
em um ou mais grupos de adotantes escolhidos como alvo (CAMPANER, ARAÚJO e
PINHEIRO, 2009). Os entrevistados enfatizaram as ações de marketing social como
uma poderosa estratégia a ser utilizada pela 1ª CIPOMA, visando aumentar a
aproximação e a parceria do policiamento ambiental com as comunidades que
habitam o entorno e o interior das Unidades de Conservação. A população precisa
ter pleno conhecimento da existência e da atuação de um órgão público dedicado á
proteção dos recursos naturais, cuja atividade possui grande apelo popular; para

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isso, o marketing social da Companhia deve incluir campanhas intensivas nas
mídias de massa, a divulgação imediata de ações exitosas e a organização de
eventos promovidos pela corporação que permitam a participação ativa da
sociedade, realizados nas unidades e subunidades de policiamento ambiental ou
nas próprias Unidades de Conservação.
O policiamento ambiental deve ganhar a confiança das pessoas,
especialmente a que colhe os benefícios diretos do meio ambiente preservado,
portanto é uma excelente estratégia para transformar essas populações em aliados
da Polícia Militar, auxiliando diretamente na fiscalização e na prevenção dos crimes
ambientais que ocorrem nas áreas protegidas. Essa estratégia está alinhada com os
princípios elementares do policiamento comunitário, que visa a aproximação e uma
relação de confiança entre o policial e o cidadão. Segundo Lima (2014, p.31), o
policiamento comunitário reivindica a parceria com a comunidade como forma de
buscar a excelência do controle da criminalidade; ainda para este autor o sucesso
da polícia depende não somente das suas habilidades e recursos, mas também
depende, solidariamente, dos recursos operacionais e políticos da comunidade.

4.1.5 A Educação Ambiental

Em 1977, foi realizada a Conferência Intergovernamental sobre


Educação Ambiental, em Tiblisi, na Geórgia, que definiu o seguinte conceito de
Educação Ambiental:

‘’Uma dimensão do ambiente e da prática da educação em geral,


orientando-se para a prevenção e resolução dos problemas concretos do
meio, sempre a partir de uma abordagem interdisciplinar e graças à
participação ativa e responsável de cada indivíduo e da coletividade ‘’
(QUESADA, 2014, p.828).

No Brasil, a Lei nº 9.795 de 27 de abril de 1999, que institui a Política


Nacional de Educação Ambiental, traz em seu Art. 1º uma definição abrangente
sobre a Educação Ambiental.

‘’Art. 1º. Entendem-se por educação ambiental os processos por meio dos
quais o indivíduo e a coletividade constroem valores sociais,
conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas para a
conservação do meio ambiente, bem de uso comum do povo, essencial à

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sadia qualidade de vida e sua sustentabilidade ‘’ (BRASIL, 1999).

Instituição integrante do Sistema Nacional de Meio Ambiente –


SISNAMA, a 1ª CIPOMA possui pleno amparo legal e vocação para aplicação da
Educação Ambiental nas ações cotidianas de policiamento ambiental. O Art. 3º da
Política Nacional de Meio Ambiente, cita que a Educação Ambiental é de
incumbência dos órgãos do SISNAMA.

‘’Art. 3º. Como parte do processo educativo mais amplo, todos têm direito à
educação ambiental, incumbindo:
III - aos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Meio Ambiente -
SISNAMA, promover ações de educação ambiental integradas aos
programas de conservação, recuperação e melhoria do meio ambiente.‘’
(BRASIL, 1999).

Tema Transversal com aplicação prevista na legislação brasileira, a


Educação Ambiental foi vista pelos entrevistados como essencial para atingir o
ideário do desenvolvimento sustentável, agindo como ferramenta de conscientização
sobre a importância das Unidades de Conservação como mantenedoras da
qualidade da vida e dos recursos naturais às futuras gerações. A Educação
Ambiental assume um papel crucial na eficácia do policiamento ambiental
preventivo, quando passa a ser adotada nas comunidades inseridas em Unidades
de Conservação, ou ainda nas instituições de ensino fundamental, tendo como
público-alvo as crianças e os adolescentes. Neste sentido, Silva (1996, p. 39), afirma
que a educação de um povo, principalmente das crianças, quanto à conservação da
natureza, assume especial importância, considerando as dimensões continentais do
Brasil, porque se torna muito difícil a fiscalização das leis de proteção.

4.1.6 Doutrina e Planejamento

A adoção de novas doutrinas operacionais pelo Policiamento Ambiental


é essencial para a proteção efetiva das Unidades de Conservação do estado. A
opinião dos especialistas reflete a tendência para a adoção das ações
socioeducativas, mediante a realização de abordagens mais flexíveis,
correlacionadas com os conceitos de gestão participativa e que evitem conflitos

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entre a população do entorno, responsável pela maior quantidade de infrações
ambientais em Unidades de Conservação, com os gestores e funcionários desses
territórios protegidos. Neste contexto, Theborgh (2002, p. 294) define o seguinte.

‘’A fiscalização tradicional envolve o uso de força armada para capturar


infratores e punição apropriada para a infração. No entanto, a menos que os
possíveis infratores respeitem o poder e a jurisdição dos guarda-parques, a
fiscalização será ineficaz. O emprego de um poder armado é o último
recurso em uma sociedade ordeira, de modo que mecanismos menos
radicais podem ser empregados para parar potenciais infratores ou para
conseguir cumplicidade voluntária‘’.

O planejamento operacional da 1ª CIPOMA visa rotineiramente o


atendimento das denúncias de crimes ambientais ou o apoio a pesquisadores nas
Unidades de Conservação. Os entrevistados defenderam a necessidade de ações
proativas, com a adoção de um planejamento operacional alinhado às necessidades
dos gestores, mediante a adoção de um calendário de ações em todas as Unidades
de Conservação. O planejamento pode aumentar a ação de presença da força
policial, armada e uniformizada, o que, por si só, representa um fator intimidante aos
potenciais infratores ambientais. Neste sentido, Noronha (2005, p.60) explica que a
atividade policial militar é, por essência e definição, de cunho preventivo, uma vez
que a primeira intenção da ação ostensiva fardada é evitar o acontecimento do
ilícito. Lima (2011, p.118), explica a necessidade do planejamento da ação policial.

‘’É necessária a adequada cobertura territorial, mediante um planejamento


sério e dinâmico de distribuição do efetivo e desenvolvimento dos
programas de policiamento, com base no histórico recente das ocorrências
e pela identificação de áreas de interesse de segurança pública‘’.

As Unidades de Conservação são espaços que são submetidos a


regimes de uso bastante restritivos; portanto, são áreas de forte interesse de
segurança para o policiamento ambiental. Para os entrevistados as Unidades de
Conservação devem ser a prioridade no planejamento operacional da 1ª CIPOMA,
levando em conta o atual panorama de investimentos na Companhia, além do fato
que esses territórios especiais tendem a ser preservados para as futuras gerações.
A ação de presença constante do policiamento ambiental, também foi enfatizada, e
adotada com sucesso em unidades modelo, como a Estação Ecológica de Caetés e

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o Parque Estadual de Dois Irmãos; contudo, a maioria dos entrevistados defende
uma atuação suplementar, porém constante e sistemática, em apoio às equipes de
gestão e de fiscalização (Guarda-Parques) das Unidades de Conservação. Foi
enfatizado que a doutrina do policiamento ambiental nas áreas protegidas seja
efetuada em alinhamento com a gestão da unidade. De fato, a Lei nº 11.206 de 11
de março de 1995, que dispõe sobre a Política Florestal de Pernambuco, define, em
seu artigo 62, parágrafo 3º que o Policiamento Ambiental, respeitada a legislação
pertinente, será executado em consonância com as diretrizes ambientais fixadas
pela Secretaria do Meio Ambiente (PERNAMBUCO, 2014).

4.1.7 Ferramentas Tecnológicas

A tecnologia pode ser definida como a ciência da técnica, que é a


faculdade de produzir e inventar meios artificiais de resolver problemas. Envolve
instrumentos, métodos e técnicas e representa um produto da ciência e da
engenharia (PINTO, 2008). Usualmente, a atividade policial ostensiva utiliza
tecnologia tradicional, como armamentos e equipamentos de segurança individual, o
policiamento ambiental, por sua vez, considerando a sua missão peculiar, exige o
uso de tecnologias necessárias à orientação no terreno, registro de imagens,
captura e manejo de animais e levantamento de parâmetros ambientais diversos. As
ferramentas tecnológicas fornecem eficiência ao policiamento ambiental nas
Unidades de Conservação, no entanto, a utilização ampla esbarra na carência de
profissionais habilitados para operá-las de forma satisfatória. Para Schlesinger et al
(2008, p. 33) o problema não está na tecnologia, mas na falta de pessoas
habilitadas e estruturas organizacionais adequadas para tratar dados e informações
a fim de transformá-los em conhecimento.
Os entrevistados citaram a necessidade de uma de utilização intensiva
desses recursos, com destaque para os softwares de georreferenciamento,
comunicação e levantamento de dados. Diante da enorme extensão territorial sob a
responsabilidade do policiamento ambiental, o emprego da tecnologia pode garantir
a otimização do efetivo das patrulhas especializadas ambientais (BIAGIONI, 2010).
Além de economizar pessoal, as novas tecnologias podem ainda tornar o
atendimento ao cidadão mais ágil, favorecer a localização dos crimes ambientais

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que ocorrem no âmbito das Unidades de Conservação e aprimorar o tratamento
estatístico das ocorrências, facilitando a seleção dos pontos de importância
operacional prioritários ao planejamento das missões preventivas.

5 CONCLUSÃO

A percepção convergente dos especialistas sugere que a atuação mais


eficaz da 1ª CIPOMA nas Unidades de Conservação está relacionada aos
paradigmas identificados na pesquisa. Os investimentos e a ampliação da 1ª
CIPOMA, a integração institucional e a aquisição de novas tecnologias devem,
preferencialmente, fazer parte das políticas e programas governamentais ou
corporativos de amplo espectro. Por outro lado, a doutrina e o planejamento
preventivo, a capacitação do efetivo, o Marketing Social e a Educação Ambiental
podem ser adotados imediatamente pela Companhia, a nível organizacional, embora
seja desejável que sejam expandidas para as ações corporativas e governamentais.
A adoção integrada e universal dos paradigmas pode fornecer o
escopo para a concepção de uma diretriz básica, visando aperfeiçoar da atuação
preventiva do policiamento ambiental. Embora esse escopo estabeleça um fluxo
hierarquizado dos paradigmas, existe uma forte relação de interdependência,
sugerindo que as ações isoladas são ineficazes aos objetivos propostos. Em
síntese, a adoção conjunta desses paradigmas, a nível organizacional, corporativo e
governamental, pode melhorar a atuação preventiva da 1ª Companhia Independente
de Policiamento do Meio Ambiente nas Unidades de Conservação de Pernambuco.

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Figura 1: Escopo de diretriz para o policiamento ambiental preventivo nas Unidades
de Conservação em Pernambuco: visão hierarquizada e integrada dos paradigmas.

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A PROBLEMÁTICA DA DESMILITARIZAÇÃO DAS POLÍCIAS ESTADUAIS NO
BRASIL

Luiz Carlos de Carvalho Ordonho 1

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo um estudo aprofundado sobre a segurança


pública no Brasil, em destaque às polícias militares, as quais exercem atividade
tipicamente civil. No desenvolvimento desse artigo será debatida a problemática da
Desmilitarização utilizando como escopo o ordenamento jurídico atual, os Códigos
Disciplinares Militares, os argumentos utilizados pelos especialistas, bem como nas
restrições a determinados Direitos Fundamentais e Sociais elencados na própria
Carta Maior. Sabe-se que a sociedade evolui sobremaneira e que o poder público e
os particulares têm que acompanhar tal evolução, contudo, as polícias militares não
estão acompanhando tal movimento. Ainda existem práticas absurdas aos cidadãos
que nelas labutam tratando-os como subumanos, e estranhamente com a
aquiescência da Carta Magna, que por mais 27 anos já sofreu dezenas de emendas,
mas não no tocante às policias militares. Vê-se, as claras nuvens, que o sistema
militarizado das polícias trazido na “Lex Mater” não está surtindo efeito na
sociedade. Portanto, há de se debater este tema tão gritante dentro da sociedade
brasileira.

Palavras-chave: Desmilitarização. Segurança Pública. Sociedade.

ABSTRACT

This article aims at an in-depth study on public safety in Brazil, highlighted the
military police, which typically exert civil activity. In the development of this article will
discuss the issue of demilitarization using scoped to the current law, the Military
Disciplinary Code, the arguments used by the experts, as well as the restrictions on
certain fundamental and social rights listed in the very Letter Larger. It is known that
society evolves greatly and that the government and individuals have to monitor
these developments, however, the military police are not following such a move.
There are still absurd practices to citizens who toil in them treating them as
subhuman, and strangely with the acquiescence of the Constitution, which for over
27 years has suffered dozens of amendments, but not with respect to the military
police. I see the clouds clear, the system militarized police brought in "Lex Mater" is
not having an effect on society. Therefore, one has to debate this issue so rampant
within Brazilian society.

Keywords: Demilitarization. Public safety. Society.


1 2º Sargento da Polícia Militar de Pernambuco. Graduado em Direito pelo Instituto de Ensino
Superior de Olinda. Endereço Eletrônico: ordonho2201@hotmail.com

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1 INTRODUÇÃO

A problemática Segurança Pública é um tema bastante discutido não


apenas no cenário Nacional, mas também em todo o mundo. Com o advento nos
diversos movimentos sociais que vêm ocorrendo no Brasil em busca da melhoria
nos diversos ramos do Direito Público, iniciado em meados de 2013 com as
passeatas conhecidas como “Passe Livre”, os diversos movimentos citados
anteriormente vêm sendo combatido, por vezes, pelas Polícias Militares dos
Estados, criando outros diversos movimentos e debates públicos com o fito de
desmilitarizar as Polícias Militares Estaduais.
Este artigo científico tem por objetivo abordar a problemática da
desmilitarização com a finalidade de responder aos seguintes questionamentos: Não
haverá mais policiais fardados? A Polícia Militar será extinta? Como será feito o
combate à criminalidade?
Os argumentos aqui explanados deverão demonstrar que o militarismo
nas Instituições estaduais não acompanha a evolução social deixando a desejar na
prestação do serviço à sociedade, na qualidade de vida dos seus componentes no
ordenamento jurídico que as cercam, bem como na sua filosofia empregada nos
cursos de formação.
O norteamento do referido artigo, apesar de não haver muitos
doutrinadores específicos, terá como referencial alguns pesquisadores que por hora
são ou já passaram pelas Instituições Militares Estaduais ou Federais, bem como
alguns Doutores em Direitos Humanos e Cientistas Sociais.
O presente artigo científico será dividido em três capítulos, nos quais
serão apresentadas algumas fundamentações que subsidiarão o referido artigo na
busca pela real necessidade da sociedade, bem como dos militares; em seguida, irá
ser detalhada uma pesquisa realizada pela Polícia Militar do Estado de Pernambuco,
acerca da desmilitarização, devidamente autorizada pelo comandante da respectiva
corporação; por fim, será feita uma análise de algumas Propostas de Emenda à
Constituição, que tramitam no Congresso Nacional, com o objetivo de se identificar a
mais completa e a que melhor se adéque à situação atual.

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2 JUSTIFICATIVA

2.1 Retirada da Privação de Liberdade nos Códigos Disciplinares


Os Códigos Disciplinares Militares, via de regra, trazem no rol de
punições a privação da liberdade. Não há que se discutir a legalidade ou não das
privações de liberdade, pois, a Magna Carta é taxativa quanto a esta possibilidade,
tanto no artigo 5º, inciso LXI como também no § 2º do artigo 142.
Entretanto, no cabimento de habeas corpus nas punições disciplinares
militares apesar da expressa vedação constitucional há um entendimento majoritário
da Corte guardiã da Magna Carta de que há possibilidade de tal pedido. Vejamos:

“A legalidade da imposição de punição constritiva da liberdade, em


procedimento administrativo castrense, pode ser discutida por meio de
habeas corpus. Procedentes.”(RHC 88.543, Rel Min. Ricardo Lewandowski,
julgamento em 3-4-2007, Primeira Turma, DJ de 27-4-2007.)
“Não há que se falar em violação ao art. 142, §2º, da CF, se a concessão de
habeas corpus, impetrado contra punição disciplinar militar, voltar-se tão
somente para os pressupostos de sua legalidade, excluindo a apreciação de
questões referentes ao mérito.” (RE 338.840, Rel. Min. Ellen Graice,
julgamento em 19-8-2003, Segunda Turma, DJ de 12-9-2003.)

Segundo entendimento da corte caberá habeas corpus nas punições


disciplinares quando houver ilegalidade em alguns pressupostos da transgressão.
Sabe-se que não é em qualquer caso, pois quando se tratar do mérito da punição
não poderá ser debatido através de habeas corpus.
O que se quer aqui demonstrar é que há uma distorção entre a norma
e a atual interpretação da privação da liberdade. A privação da liberdade é uma ex-
ceção na esfera penal, pois, doutrinadores e juristas entendem que essa privação
deverá ser exceção, tendo em vista o Princípio Constitucional da Dignidade da Pes-
soa Humana entre outros argumentos. Já no âmbito castrense há entendimento em
direção contrária, na qual a privação da liberdade é a regra, pois uma mera trans -
gressão disciplinar pode ensejar em privação da liberdade.
A transgressão disciplinar nada mais é que uma infração administrativa
aplicada ao Militar Estadual, em Pernambuco está disciplinada pela Lei Ordinária
11.817 de 2000, na qual prevê como pena máxima a privação da liberdade de até 30
(trinta) dias. Utilizando-se como comparativo, a Lei 8112 de 1990 (lei do servidor pú-
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blico federal), existe no rol punições desde a advertência até a demissão, inexistindo
a privação da liberdade.
Observa-se que as punições administrativas têm caráter educativo, as-
sim entende o doutrinador Celso Antônio Bandeira de Mello em seu livro “Curso de
Direito Administrativo” (2009, p. 842); entretanto, as transgressões disciplinares mili-
tares são maculadas utopicamente como caráter educativo, mas, o que se vê é o ca -
ráter humilhante e vexatório dos castigos aplicados, infringindo a Dignidade da Pes -
soa Humana e não causando a reparação do dano causada pelo infrator.
Há de se observar a única exceção com relação à restrição da
liberdade como punição administrativa aos militares. Dentre as 27 instituições
existentes no país é no Estado de Minas Gerais, onde fora retirado do Código de
Ética e Disciplina dos Militares do referido Estado a privação de liberdade desde o
ano de 2002, restando como punições desde a advertência até a demissão.

2.2 Aquisição de Direitos Sociais não Amparados pela Constituição de 1988

Além da problemática elencada anteriormente há algumas outras


aberrações que também não deveriam receber guarida na Constituição em relação
aos militares. Sabe-se que o militarismo das polícias estaduais está disciplinado na
própria carta constitucional, tornando as Polícias Militares força auxiliar e reserva do
Exército, como determina o artigo 144, § 6º da CF.
Com base na hierarquia militar do Exército os militares estaduais estão
sujeitos às mesmas vedações que os militares federais, por conseguinte, as
vedações destinadas a estes serão também empregadas àqueles. Dentre as
diversas vedações de direitos sociais podemos elencar a vedação ao direito de
sindicalização e greve, bem como direito de filiação partidária, citados na norma
constitucional, elencada no artigo 142, § 3º, IV, CF.
Com relação ao direito de sindicalização, é nele que se pode contar
com uma entidade que defende os interesses trabalhistas, buscando melhores
condições de trabalho e salários mais dignos. Como os militares não podem
sindicalizar-se, por determinação constitucional, são os líderes das instituições
militares os responsáveis por propor melhorias aos subordinados ficando um pouco

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difícil de se ver tal esforço, pois, para melhoria destes há uma contraprestação do
Estado e os seus líderes são nomeados e exonerados a critério do Chefe do poder
Executivo do próprio Estado, de certa forma “amarrando” os líderes à condição de
uma possível exoneração.
Já em relação ao direito de greve, elencado como direito social no
artigo 9º da Carta Magna, o trabalhador tem direito a este, mesmo nos chamados
serviços essenciais elencados na Lei 7783 de 1989 tais como: servidores da saúde,
tratamento de água, controle de tráfego aéreo, entre outros; tais serviços são tão
essenciais quanto o serviço de segurança interna realizado pelas Polícias Militares
Estaduais.
Há de se observar que antes mesmo de o miliciano ser militar é um
cidadão como qualquer outro e precisa ter seus direitos resguardados, nestes casos,
há de se defender o direito de greve a estes, preservando-se um percentual mínimo
de servidores ativos entre outros estabelecidos na Lei Federal 7783/89.
Já no tocante a filiação partidária é uma garantia que todo cidadão tem
de se filiar a um partido político para defender suas ideologias políticas. Tal regalia é
condição de elegibilidade, entretanto este direito dever-se-ia ser preservado aos
milicianos. Não se está falando de se tornar elegível, neste caso, deverá haver o
afastamento como a qualquer outro servidor público, deve-se observar apenas a
filiação que é um direito de qualquer eleitor, entretanto a Constituição também veda
tal possibilidade aos militares.

2.3 Criação do Ciclo Completo de Polícia no Âmbito Estadual

Instituir, no âmbito estadual, o “ciclo completo de polícia”, pois, a Carta


Magna vigente, no Capítulo III quando trata da Segurança Pública, mais
precisamente em seu artigo 144; divide as Polícias Estaduais em: polícia civil e
polícia militar. Não obstante, esta divisão delega determinadas atribuições às
mesmas, que é a função de polícia judiciária para as polícias civis, e as polícias
militares o policiamento ostensivo e a preservação da ordem pública.
Destarte, o ordenamento atual prevê “duas meias polícias”, pois, cada
uma delas têm competências distintas, fazendo, portanto, o chamado “ciclo

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incompleto de polícia”. Esse sistema é adotado apenas no Brasil, em Cabo Verde e
na Guiné Bissau, pois, nos demais países em que ainda existam polícias militares
elas se dividem ou em competência territorial, delimitando geograficamente o limite
de competência da referida polícia, ou em competência quanto a matéria, atribuindo
como responsabilidade o tipo de infração penal a ser trabalhada, tornando-as
polícias de ciclo completo. Sabe-se que o sistema de ciclo completo é muito mais
eficiente, pois, há uma maior velocidade na distribuição das informações, uma vez
que ficará em uma mesma instituição.
Com a Desmilitarização e a criação de uma instituição policial no
Estado, deixará de existir as chamadas “guerras” institucionais, onde uma instituição
quer mostrar que produz mais que a outra, deixando de compartilhar, entre elas,
informações relevantes, vindo a prejudicar a segurança pública como um todo.

2.4 Posição da ONU sobre a Desmilitarização no Brasil

A Organização das Nações Unidas (ONU) promove periodicamente


reuniões cujo objetivo é acompanhar a implementação de medidas adotadas em
relação aos direitos humanos pelos Estados-membros, chamadas de Revisão
Periódica Universal (RPU). Via de regra, estas reuniões tratam de diversos temas
voltados aos Direitos Humanos. Em 2008 e 2012 o tema em debate quanto ao Brasil
foi referente a diversos temas, dentre eles, a segurança pública.
Na revisão de 2008 a ONU já citara como um de seus argumentos o
fato da exacerbação da violência praticada pelas polícias de todo o Brasil, alegando
que ocorrem execuções extrajudiciais. A delegação norte-americana elencou a
seguinte preocupação, vejamos:

“Considerando os inúmeros relatos de policiais estaduais, militares e civis,


cometer execuções extrajudiciais, os Estados Unidos da América perguntou
sobre os passos que o Brasil tomou para processar indivíduos responsáveis
por tais crimes e prevenir futuras ocorrências de execuções extrajudiciais”.
(Traduzido)

Ainda na citada RPU de 2008 a delegação da Alemanha fez a seguinte


observação:

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“[...] outra área de preocupações identificadas no relatório nacional é a


violência em curso de policiais. A este respeito, a Alemanha queria ouvir
sobre o que o Governo pretende fazer, a fim de provocar uma mudança na
estratégia e cultura da violência, e se tem a intenção de implementar as
mais recentes recomendações do Relator Especial sobre execuções
extrajudiciais, sumárias ou arbitrárias a fim de iniciar uma profunda reforma
do sistema judiciário penal [...]” (Traduzido)

Já na RPU de 2012, a ONU fora mais contundente quanto às suas


recomendações, na qual culminou com a recomendação ao Brasil que procedesse à
desmilitarização de suas polícias estaduais, vejamos: "[...] sistema separado de
Polícia Militar, aplicando medidas mais eficazes (...) para reduzir a incidência de
execuções extrajudiciais [...]"(Traduzido)
Sabe-se que com a desmilitarização em um período de médio a longo
prazo mudará a filosofia de trabalho empregado nos cursos de formações policiais.
Com a referida mudança ocorrerão outras melhorias não elencadas pela ONU, tais
como: mais dignidade ao policial, abrangendo os direitos fundamentais aos mesmos;
adequação da atividade policial tipicamente civil ao cargo em que é exercido; a
possível criação do ciclo completo de polícia; entre outros.
Por saber que o teor do documento em epígrafe é apenas de uma
resolução, e não de uma determinação, não vincula o Brasil a cumprir o que fora
orientado a fazer para mitigar os efeitos da violência em seu país.
Ainda em 2012 o Brasil, através do Ministério das Relações Exteriores,
emitiu uma nota como resposta, alegando que acataria as inúmeras orientações da
ONU. Contudo, a orientação de desmilitarizar as polícias estaduais não poderia ser
feita, pois a Constituição do Brasil não permite tal possibilidade, senão, vejamos: “É
significativo que o governo tenha acolhido todas essas manifestações, com exceção
de uma, que trata da estrutura das polícias no Brasil e que conflita com a
Constituição brasileira”

3 PESQUISA DE CAMPO

Com a crescente pressão social a favor da desmilitarização, o clamor


dos militares estaduais aumentou ainda mais e com esta situação vieram vários

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debates, conferências e algumas pesquisas.
A enquete que será utilizada como pesquisa de campo para o referido
artigo é a que fora realizada pela Policia Militar do Estado de Pernambuco (PMPE),
e coordenada pela Diretoria de Ensino Instrução e Pesquisa (DEIP), na qual se teve
acesso a todos os dados nela respondidos com a devida autorização do
Comandante Geral da referida corporação.
A citada pesquisa foi realizada entre os dias 06 de agosto de 2013 e 07
de outubro do mesmo ano, na qual os milicianos adentravam no site da DEIP e, de
forma voluntária, respondiam aos questionários. Não foram apenas os policias
militares que responderam à pesquisa, os bombeiros militares também tiveram
acesso para responder, contudo, foi descartado o opinativo desses aguerridos
profissionais e também militares, pois, senão teria que ser dado um direcionamento
específico a esta classe, tornando, o artigo científico prolongado por demais. Por
hora, afirma-se favorável à desmilitarização da instituição coirmã da polícia militar,
sem mais delongas.
A referia pesquisa teve 1731 (mil setecentos e trinta e um) policiais
participantes, pouco menos de 10% de membros de sua corporação ativa, que
contou com a participação desde o soldado até o coronel, e com os mais variados
tempos de serviço, desde os mais novos aos mais antigos. Contudo, para expor a
referida pesquisa dentro do artigo científico foram analisados tão somente os
campos posto ou graduação e opções sobre a desmilitarização. Fazendo-se a
subdivisão em posto e graduação chega-se aos seguintes percentuais:

Tabela 01
POSTO OU GRADUAÇÃO NÃO TÊM OPINIÃO
A FAVOR CONTRA
(nº pesquisados) FORMADA
Oficiais Superiores (32) 48% 40% 12%
Oficiais Intermediários (55) 51% 40% 9%
Oficiais Subalternos (72) 60% 20% 20%
Subtenentes e Sargentos (287) 87% 8% 5%
Cabos e Soldados (1285) 95% 3% 2%

Por fim, a pesquisa final da PMPE, levando-se em consideração todos


os postos e graduações dos pesquisados chegou-se aos seguintes números.

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Gráfico 01

Como fora observado, a situação é gritante, a todo instante no


decrescer das patentes observou-se que quanto maior o posto ou graduação do
militar menos se almeja a desmilitarização e quanto menos graduado aumenta-se a
vontade de desmilitarizar. Os números são alarmantes olhando a vontade dos
pesquisados em deixarem de ser militar. A sociedade civil também já expôs seu
pensamento quando nos diversos movimentos sociais reivindicara a
desmilitarização.

4 PROJETOS DE EMENDA À CONSTITUIÇÃO (PEC’s)

4.1 PEC 430/2009 – Deputado Celso Russomanno (PP/SP)

Criada pelo então Deputado Federal Celso Russomanno esta Proposta


de Emenda Constitucional, doravante denominada de PEC 430 tem como
fundamento inicial a preocupação com a população devido ao aumento do crime
organizado no país, destacando que o sistema de segurança pública vigente se
encontra falido.
Bem como com as condições precárias da atividade policial, qual seja,
a má remuneração, a falta de equipamentos de proteção individual e a falta de
valorização profissional. E, também preocupado com as disputas dentro dos Estados
entre as polícias, na qual, segundo o parlamentar, em vez de trabalharem de forma

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integrada, por vezes, disputam espaço dentro de uma mesma secretaria.
A PEC em epígrafe tem o condão não somente de desmilitarizar as
polícias militares e os corpos de bombeiros e unificar as polícias, mas sim de criar
uma nova polícia denominada polícia do estado, na qual extinguir-se-á as duas
atuais polícias do âmbito estadual, qual seja, as polícias civis e as polícias militares.
Esta nova polícia tem seus pilares baseados na hierarquia e disciplina.
Outro ponto importante trazido neste projeto é que a Direção Geral da
Polícia dos Estados será exercida, pelo período de dois anos, alternadamente, por
delegado de polícia e oficial da polícia militar remanescentes das extintas
instituições, até que um delegado de polícia formado pelo novo sistema previsto
nesta emenda, reúna condições para assumir.
O parlamentar também se preocupou em seu projeto de estabelecer
como ficará a transposição dos cargos hoje existentes para os novos cargos que
serão criados. Determinando também que o novo delegado de polícia figurará como
dirigente auxiliado pelos investigadores, escrivães, policiais e peritos, sendo este
último, com autonomia técnico-funcional.
Será exigido o curso de bacharel em direito para o desempenho da
atividade de investigação criminal e de polícia judiciária, na qual, o oficial que não
possuir o referido curso exercerá a atividade de polícia ostensiva. Nos concursos
públicos para o provimento dos cargos da Polícia dos Estados serão reservadas
cinquenta por cento das vagas para os integrantes das demais carreiras da
respectiva instituição, permitindo a progressão funcional dentro da própria
instituição.
Preocupando-se também com os crimes de menor monta, que muito
incomodam a população, este projeto pretende entregar às guardas municipais a
competência para atuarem na prevenção ao delito, com a coordenação do novo
delegado de polícia buscando elevar a segurança preventiva da população.
Haverá também a criação do Conselho Nacional de Segurança Pública
composto por 20 membros, onde terão a função de controlar a atividade funcional,
administrativa e financeira dos órgãos relacionados no artigo 144 da Constituição
Federal, que trata sobre segurança pública; e a delegação a uma Lei Complementar
para a criação de um fundo nacional, estadual e municipal de segurança pública.

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Só não há que se concordar com a revogação do inciso VII do artigo
129 da Carta Magna, que trata do controle externo da atividade policial exercida pelo
Ministério Público, pois, esta é uma instituição permanente e essencial à defesa
da ordem jurídica e do regime democrático, não devendo estar isento do controle da
atividade policial que é de crucial importância a um Estado democrático de direito.
Por fim, vale destacar que esta PEC está bem elaborada e bastante
ampla, não só no fato de desmilitarizar, bem como, no direcionamento dado aos
servidores que se encontram em atividade nas instituições que serão extintas.

4.2 PEC 102/2011 - Senador Blairo Maggi (PR/MT)

Criada pelo Senador Blairo Magggi com fulcro na defesa dos direitos
do cidadão e na luta pela democracia, proposta após diversas discussões dentro das
instituições com o fito de reestruturação dos órgãos de segurança pública. Esta
Proposta de Emenda à Constituição, doravante denominada de PEC 102, tem o
condão de permitir que a União e os Estados criem a polícia única.
Segundo o parlamentar o modelo de ciclo incompleto de polícia se
torna ineficaz, burocrático e oneroso, e não atendem satisfatoriamente os anseios da
sociedade, que clama por mais agilidade.
Após análise da referida PEC a de se ressaltar alguns pontos a serem
elencados, inicialmente a principal distinção em relação à PEC 430/09 é que não
será criada uma nova instituição que aglutinará as forças policiais estaduais, ficará
sob faculdade dos entes federativos a adoção de polícia única.
Será assegurado o piso nacional dos agentes que fazem parte do
sistema de segurança pública do artigo 144 da Magna Carta. E uma lei federal
disporá sobre algumas situações, dentre elas o direito de greve.
Os municípios poderão exercer atividade complementar de
policiamento ostensivo e preventivo, mediante convênio com o Estado. Não há que
se concordar também com a revogação de se retirar o poder de controle externo da
atividade policial cujos argumentos já foram expostos anteriormente.

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4.3 PEC 321/2013 - Deputado Chico Lopes (PCDOB/CE)

Criada pelo Deputado Federal Chico Lopes após ter acesso a uma
pesquisa realizada em rede nacional, onde apontava que mais de 70% do povo
rejeita as polícias do país, teve este como um dos principais motivos para a
apresentação desta Proposta de Emenda à Constituição, doravante denominada de
PEC 321, no sentido de desmilitarizar as forças policiais estaduais. Segundo projeto,
as polícias internas servem para lidar com o povo e não com o inimigo, como no
caso das Forças Armadas de todo o mundo.
Fora observado que a PEC 321 não prevê a extinção da PM, mas cria
uma polícia estadual estruturada a partir de uma formação civil, desta forma, a
polícia militar não seria instantaneamente eliminada. O parlamentar não destacou
como ficaria as polícias civis em caso de aprovação da referida proposta. Uma
iniciativa importante desta PEC é a faculdade que dá aos municípios de instituir suas
polícias nos locais onde houver mais de quinhentos mil habitantes.
Não há que se concordar com o ilustre deputado em relação aos
bombeiros militares, pois, o parlamentar não deu direcionamento adequado a esta
instituição deixando-o inserido às polícias estaduais, sendo, notadamente, o serviço
destes profissionais diversos do serviço de polícia. Tampouco discutiu como ficaria o
período de transição entre a desmilitarização e a implementação desta nova polícia
estadual. Restando a seguinte pergunta: haveria a continuidade das polícias
militares, civis e corpos de bombeiros após a total implantação no novo regime?

4.4 Direcionamento Final da Análise das PEC’S

Após análise de algumas das diversas Propostas de Emenda à


Constituição, referente ao tema desmilitarização, que tramitam no Congresso
Nacional, observa-se que os parlamentares estão tendentes a modificar o sistema
arcaico de segurança pública estadual adotado pelo Brasil, principalmente devido ao
insucesso no combate ao crime elevando a índices alarmantes de violência no país.
O principal pleito que se busca é a desmilitarização dos órgãos
estaduais para adequar as instituições à sociedade que vem evoluindo

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principalmente com o advento do século XXI. Outro ponto que se deve debruçar é
com a gritante necessidade de descentralizar a segurança pública, delegando
também aos municípios esta competência, destarte, diminuindo boa parte das
demandas federais e estaduais na manutenção da ordem pública.
Analisando as propostas supra verificou-se que a PEC 430 é a mais
completa, a qual se deve defender, pois, além de desmilitarizar as polícias estaduais
cria uma instituição policial estadual de caráter civil na qual fará o ciclo completo de
polícia atuando tanto no policiamento ostensivo como no policiamento investigativo.
Concomitantemente, a proposta do deputado Celso Russomano, dá
total direcionamento de como ficarão os membros das instituições policiais que
serão extintas. Além de prevê a criação do Conselho Nacional de Segurança Pública
órgão que atuará no controle funcional, administrativo e financeiro das instituições
relacionadas à segurança pública.
As únicas alterações que deverão ser feitas na PEC 430 para dar o
norteamento final deste artigo é que ela poderia dar aos municípios o direito de
instituir suas polícias, nos entes municipais onde houver mais de quinhentos mil
habitantes. Deve-se alterar também o fato da revogação do inciso VII do artigo 129
da carta maior, que dá ao Ministério Público a função de exercer o controle externo
da atividade policial, pois, este controle é essencial a um Estado democrático de
direito, e os profissionais de segurança pública que trabalham dentro da legalidade
não temem este tipo de controle.
Ainda na PEC 430, quando se cria o fundo nacional, estadual e
municipal de segurança pública com um percentual de arrecadação de cada ente
federativo, dever-se-ia implantar neste trecho o piso salarial para os profissionais da
segurança pública do Brasil.
Por fim, salienta-se também que se deveria constar na referida PEC,
que os policiais estaduais teriam direito de greve, respeitando-se um percentual
mínimo, para que haja continuidade na prestação do serviço aos cidadãos. Contudo,
deve ser observada a greve no tocante à atuação dos policiais estaduais em prol da
soberania do Brasil, nestes casos, não deverá se defender o estado de greve.

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5 CONCLUSÃO

Sabe-se que as normas jurídicas que disciplinam a coletividade, via de


regra, estarão sempre obsoletas quando se fizer uma comparação com a sociedade
atual. A respeito do tema acima desenvolvido não diverge deste ponto de vista,
entretanto, deve haver o momento do despertar para a mudança desta norma. De
acordo com o conteúdo retromencionado no decorrer deste artigo científico vê-se
claro que é hora dessa mudança.
Este artigo teve o condão de nortear o leitor sobre alguns elementos
que não são de fácil observação e busca ajustar as polícias militares estaduais a
uma nova era, a era do respeito à Dignidade da Pessoa Humana tanto dentro das
instituições quanto fora delas, externada pelas atitudes de seus membros.
Portanto, há de se defender a desmilitarização com a possível
formação de apenas uma polícia no âmbito estadual fazendo o ciclo completo, pois,
se assim não acontecer ainda haverá a existência de duas polícias e continuarão a
existir as já elencadas “guerras” entre ambas, tentando cada uma buscar ser mais
bem-vista aos olhos do chefe do Poder Executivo.
A pretensão que se buscou esclarecer é que a desmilitarização deixará
um legado de que a curto ou longo prazo haja uma melhor qualidade de serviço
prestado à sociedade, e concomitantemente possa propor uma melhor qualidade de
vida para seus membros.
Vê-se, as claras nuvens, que é gritante a necessidade da
desmilitarização das polícias estaduais por meio da Emenda à Constituição
defendida neste artigo científico, pois, esta força representa um grande percentual
de trabalhadores que combatem o crime organizado e a crescente onda de violência
que aterroriza não só as grandes metrópoles, bem como algumas cidades pacatas e
interioranas.
Mostrou-se a todo momento o quão importante e fundamental é este
passo primordial para a redução no alarmante número de violência retromencionada,
outrossim, a atitude aqui defendida busca a real inclusão cidadã dos milicianos, e, o
primordial de tudo isso é que quem mais ganhará é a própria sociedade que carece
de um grande avanço estruturador nas forças de segurança pública.

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REFERÊNCIAS

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Câmara com os convidados deputados Major Fábio e Efraim Filho. Disponível em:
<http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/tv/materias/BRASIL-EM-DEBATE/
471751-DESMILITARIZACAO-DAS-POLICIAS.html>. Acesso em: 17 jul. 2014.
CARDOSO, Aderivaldo Martins. A Polícia e a Sociedade “Bandida”.
Desmilitarização das polícias uma mudança cultural ou uma questão de
sobrevivência?
CARDOSOS. Rasuilson. O corpo como alvo da sanção disciplinar e suas
consequências. Disponível em: <http://abordagempolicial.com/2013/03/o-corpo-
como-alvo-da-sancao-disciplinar-e-suas-consequencias/#.UnESq3AQa3U>. Acesso
em: 30 out. 2013.
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COSTA, Arthur Trindade Maranhão. As reformas nas polícias e seus obstáculos:


uma análise comparada das interações entre a sociedade civil, a sociedade política
e as polícias, Porto Alegre, Civitas, 2008.

COSTA, Arthur Trindade Maranhão. Entre a lei e a ordem: violência e reforma nas
polícias do Rio de Janeiro e Nova York, Rio de Janeiro, FGV, 2004.

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DESIDÉRIO. Mariana. Policiais querem desmilitarização da PM. Disponível em:


<http://www.pnud.org.br/Noticia.aspx?id=2205>. Acesso em: 09 jun. 2014.

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em: <http://www.youtube.com/watch?v=0RtUt6wbNh0#at=45>. Acesso em: 02 ago.
2013.

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MEDEIROS, Mateus Afonso. Revista de Informação Legislativa. Brasília a. 42 n.


165 jan./mar. 2005. A Desmilitarização das Polícias e a Legislação Ordinária.

MELLO, Celso Antônio Bandeira de “Curso de Direito Administrativo”, 26ª Edição,


2009, Malheiros Editora.

MENDONÇA. Olavo. Só existe Polícia Militar no Brasil? Disponível em:


<http://blitzdigital.com.br/index.php/artigos/-so-existe-policia-militar-no-brasil/>.
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MORAIS, Alexandre de. Constituição do Brasil Interpretada e Legislação
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Acesso em: 12 ago. 2013.

Rádio JC News. Debate sobre a Desmilitarização das Polícias. Disponível em:


<http://radiojcnews.ne10.uol.com.br/2014/02/17/associacoes-e-projetos-de-emenda-
constitucional-defendem-a-desmilitarizacao-da-policia/>. Acesso em: 20 fev. 2014.

Regulamento Disciplinar dos Policiais Militares do Estado de Minas Gerais.

VASCONCELOS. Jocleber Rocha. Elementos para a interpretação constitucional


da prisão disciplinar militar. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/
index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=8800>. Acesso em: 30 out. 2013.

VIANNA. Túlio. Aula pública: Desmilitarização da Polícia. Disponível em:


<http://www.youtube.com/watch?v=o2x8XFv7ap8>. Acesso em: 05 jul. 2013.

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PARTE II

Repertório Jurisprudencial
DOUTRINAL
Revista Doutrinária da Polícia Militar de Pernambuco

Artigo publicado no Vol.05 Nº 01 - Edição de Jan a Jun 2016 - ISSN 2318-3152


Versão on-line disponível em: http://www.portais.pe.gov.br/web/pmpe/edicao-atual

JURISPRUDÊNCIA
SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL

SÚMULAS VINCULANTES

Nº 41- O serviço de iluminação pública não pode ser remunerado mediante taxa.

Nº 42- É inconstitucional a vinculação do reajuste de vencimentos de servidores


estaduais ou municipais a índices federais de correção monetária.

Nº 43- É inconstitucional toda modalidade de provimento que propicie ao servidor


investir-se, sem prévia aprovação em concurso público destinado ao seu
provimento, em cargo que não integra a carreira na qual anteriormente investido.

Nº 44- Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a


cargo público.

Nº 45- A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por


prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela constituição estadual.

Nº 55- O direito ao auxílio-alimentação não se estende aos servidores inativos.

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MEDIDA CAUTELAR NO HABEAS CORPUS 127.900 - AMAZONAS

DECISÃO:

Vistos.

Habeas corpus, com pedido de liminar, impetrado em favor de Blenner Antunes


Vieira e Maick Wander Santana de Souza, apontando como autoridade coatora o
Superior Tribunal Militar, que negou provimento à Apelação nº 120-
30.2013.7.12.0012/AM.

Sustenta a impetrante, em linhas gerais, a incompetência da Justiça Militar para


processar e julgar a ação penal à qual respondem os pacientes. Aduz, para tanto,
que eles

“já não se encontram na condição de militares, pois já estão


licenciados das Forças Armadas, sendo assim, entende-se que a
Justiça Penal Comum é a competente para processar e julgar os
pacientes, por ser esta justiça menos rigorosa do que a justiça
castrense” (fl. 3 da inicial).

Ainda sobre a questão, argumenta que

“no momento em que a Administração Militar, considerou


discricionária e desnecessária a manutenção dos pacientes como
militares, licenciando-os, abriu mão também de puni-los sob a
legislação penal castrense, na medida em que só a esta interessa o
acionamento do dispositivo castrense.
Não há como se admitir que os agora civis sejam submetidos à
legislação penal militar se não mais militares, num regime de
normalidade institucional.
Assim, mostra-se descabida a aplicação de uma sanção penal militar
aos ora pacientes que sequer estão na condição de militares,
porquanto a lei penal comum é menos rigorosa e seria mais
adequado aplicar a este caso concreto por ter sanção mais branda
para o delito cometido pelos pacientes, e que tem a condição de civis
neste momento” (fl. 3 da inicial).

Alega, por fim, a nulidade do interrogatório dos pacientes como primeiro ato da

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instrução processual na forma do art. 302 do Código de Processo Penal Militar.

Afirma a impetrante que o art. 400 do Código de Processo Penal, na redação dada
pela Lei nº 11.719/08, por melhor atender às garantias constitucionais do
contraditório e da ampla defesa, deve também ser aplicado ao procedimento
especial da Justiça Militar.

Requer o deferimento da liminar para suspender o julgado proferido pelo Superior


Tribunal de Militar na Apelação nº 120-30.2013.7.12.0012/AM. No mérito, pede a
concessão da ordem para que seja reconhecida a incompetência da Justiça
Castrense para processar e julgar os pacientes ou que seja determinada “a
realização de ‘novo interrogatório’ ao final da instrução criminal para possibilitar ao
paciente a contradição a todas as provas produzidas” (fl. 8 da inicial).

Examinados os autos, decido.

Narra a impetrante, na inicial, que:

“Os pacientes foram denunciados em 24 de setembro de 2013, pela


prática do delito descrito no art. 290, caput, do CPM.
Fato ocorrido em 13.09.2013. (fls. 67/72).
No dia 19.09.2013, a DPU requereu o relaxamento da prisão em
flagrante ou a concessão de liberdade provisória aos pacientes.
Em 24.09.2013 foi denegado o relaxamento da prisão ou a
concessão de liberdade provisória e foi convertida a prisão em
flagrante em prisão preventiva.
O STM deferiu a liminar em Habeas Corpus em 14.10.2013,
expedindo alvará de soltura em favor dos pacientes.
A sentença foi proferida em 29.07.2014 e publicada em 06.08.2014,
com fulcro no art. 290, caput, do CPM, à pena definitiva de 01(um)
ano de reclusão, com direito a apelarem em liberdade e o benefício
da suspensão condicional da execução da pena- sursis- pelo prazo
de dois anos.
A Defesa apelou da sentença, alegou-se violação ao parágrafo 4º do
art. 394 do CPP, e requereu a preliminar para anular o feito, ab initio,
a partir do recebimento da denúncia, inclusive, a sentença recorrida,
por entender que o interrogatório se constitui em último ato da
instrução processual, e que a Justiça Militar da União é incompetente
para processar o feito uma vez que os réus agora são civis, ou ainda
a reforma da sentença para absolver os pacientes com base na
aplicação do princípio da insignificância.

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O MPM apresentou as contrarrazões ao apelo defensivo.
O STM por unanimidade de votos conheceu e negou provimento ao
apelo da Defesa” (fl. 2 da inicial).

Eis a ementa do acórdão proferido por aquela Corte Castrense:

“APELAÇÃO. DEFESA. POSSE DE ENTORPECENTE EM ÁREA


SUJEITA À ADMINISTRAÇÃO MILITAR. COMPETÊNCIA DA JMU
PARA PROCESSAR E JULGAR O
FEITO. INOCORRÊNCIA DE NULIDADE DECORRENTE DA NÃO
OBSERVÂNCIA DA LEI Nº 11.719/08. VALIDADE DO LAUDO
PERICIAL SUBSCRITO POR UM ÚNICO PERITO.
INAPLICABILIDADE DO PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA.
1. Compete à Justiça Militar da União processar e julgar crimes
relacionados à posse e ao uso de entorpecente em lugar sujeito à
Administração Militar, com supedâneo no art. 9°, inciso I, do CPM.
2. As alterações trazidas pela Lei nº 11.719, de 20 de junho de 2008,
não se aplicam à Justiça Militar da União. Ausência de demonstração
do prejuízo sofrido pelos Apelantes.
3. É válido o laudo pericial subscrito por um perito oficial,
principalmente quando o exame de corpo de delito for requisitado
pela autoridade policial militar ou judiciária a institutos ou laboratórios
oficiais civis, os quais seguem as regras do Código de Processo
Penal. Inteligência do art. 318 do CPPM.
4. O porte de droga em local sob administração militar,
independentemente da quantidade, compromete não só a segurança
e a integridade física dos membros das Forças Armadas que,
usualmente, portam armas letais, como atenta, também, contra os
princípios basilares da hierarquia e da disciplina militares.
5. É inaplicável o Princípio da Insignificância ao delito de porte de
substância entorpecente praticado em local sujeito à Administração
Militar, conforme remansosa jurisprudência. Preliminares rejeitadas
por unanimidade. Recurso conhecido e não provido. Decisão
unânime” (fl. 275 do anexo 3).

Essa é a razão pela qual se insurge a impetrante neste writ.

O deferimento de liminar em habeas corpus, como se sabe, é medida de caráter


excepcional, cabível apenas se a decisão impugnada estiver eivada de ilegalidade
flagrante, demonstrada de plano, ou quando a situação apresentada nos autos
demonstrar manifesto constrangimento ilegal.

No que tange a alega incompetência da justiça militar, anoto que os pacientes,


quando soldados da ativa, foram surpreendidos na posse de substância

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entorpecente (CPM, art. 290) no interior do 1º Batalhão de Infantaria da Selva em
Manaus/AM. Cuida-se, portanto, de crime praticado por militares em situação de
atividade em lugar sujeito à administração militar, o que a trai a competência da
Justiça Castrense para processá-los e julgá-los (CF, art. 124).

De outra parte, reconheço a plausibilidade jurídica dos argumentos relativos à


nulidade do interrogatório dos pacientes como primeiro ato da instrução processual
(CPPM, art. 302).

Isso porque, o Superior Tribunal Militar ao assentar a inaplicabilidade do art. 400 do


Código de Processo Penal (redação da Lei nº 11.719/08) ao procedimento especial
da Justiça Militar, decidiu contrariamente ao entendimento jurisprudencial da Corte
fixado no sentido de que

“a realização do interrogatório ao final da instrução criminal, prevista


no art. 400 do Código de Processo Penal, na redação dada pela Lei
nº 11.719/2008, também se aplica às ações penais em trâmite na
Justiça Militar, em detrimento do art. 302 do Decreto-Lei nº 1.002/69”
(121.907/AM, Primeira Turma, de minha relatoria, DJe de 24/10/14).

No mesmo sentido o HC nº 115.698/AM, Primeira Turma, Relator o Ministro Luiz


Fux, DJe de 14/8/13.

Ante o exposto, defiro a liminar para suspender o andamento da Apelação nº 120-


30.2013.7.12.0012/AM à qual respondem os pacientes.

Comunique-se, com urgência, solicitando informações à autoridade coatora.

Após, abra-se vista à Procuradoria-Geral da República.


Publique-se.
Brasília, 28 de abril de 2015.
Ministro DIAS TOFFOLI
Relator
Documento assinado digitalmente

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