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Fundado em 1997 por iniciativa de professores da Faculdade

de Medicina da disciplina Internato em Saúde Coletiva, UFMG

# 74
JULHO u 2015
Saúde, Ambiente e Cidadania na Bacia do Rio das Velhas

ética?
saúde?
participação?
transposição?
sustentabilidade?
Av. Alfredo Balena, 190, sl. 813.
Manuelzão • 07.2015 cOMUNIDADE 3

manuelzão
COMUNIDADE Menos esgoto no rio

Foi aprovada a obra de interli-


gação de esgoto na região do
Parque Belmonte que vai permi-
tir interceptar o esgoto de cerca
carta do leitor de 40 mil pessoas na região do
Baixo Onça. Isso foi anunciado
rio S. Francisco tá morrendo! no evento “Deixa O Onça Beber
Córrego da Água Limpa” realizado no Parque
Foi interrompida a navegação no São Avenida Dois Belmonte com organização do
Francisco no trecho entre Ibotirama e Comurpa, e apoio do Projeto Ma-
Petrolina (700 km), devido à baixa va- Sou vice-presidente da Associa- nuelzão e CBH Velhas.
zão e assoreamento do rio. Sobradi- ção de Moradores do Bairro Co-
nho está com 21% da sua capacidade lorado e membro do comitê ges- Mais aves no céu
de armazenamento. A vazão no Baixo tor da bacia. No dia 06 de maio
São Francisco está em 900m³/s numa tivemos uma audiência pública O projeto ‘Aves do Carste’ irá criar
região onde a vazão era de 1500m³/s. com a Copasa e o Departamento mais um bioindicador da quali-
de Obras Públicas (DEOP) em dade ambiental do Rio das Ve-
Parque do Brejinho: que foi tratada a retomada das lhas. O intuito é capacitar alunos
ainda um sonho obras de canalização do Córrego e professores do ensino médio
da Avenida Dois em Contagem na identificação, documentação
As obras para a bacia de detenção – algo que demorou cerca de 18 e monitoramento e acompanha-
do Parque do Brejinho, no bairro São anos para acontecer. Recente- mento da migração da avifauna
Francisco, região Norte de BH, se en- mente recebi um documento do local, que será integrado a uma
contram paralisadas e os recursos para Ministério Público atestando que rede de informação. Participarão
implantação ainda não estão garanti- a obra já estava concluída. Levei do projeto escolas de Confins,
dos. Enquanto isso, as nascentes estão o documento, tirei cópia, espalhei Funilândia, Lagoa Santa, Matozi-
sendo degradadas. pela comunidade e o promotor nhos, Pedro Leopoldo e Prudente
me deu 10 dias para contestar de Morais. O projeto será coorde-
Alta tensão no rio das Velhas por escrito aquele documento. nado pelo ICB/UFMG.
Na audiência pública que teve
A proposta de instalação de uma rede em maio na Associação, o DEOP
Pela revitalização
de altíssima tensão passando pela re- e a Copasa assumiram o com-
promisso de retomarem as obras
do Córrego Capão
gião do Alto Velhas ligando Rio Acima,
Itabirito e Vespasiano, está preocupan- no prazo de 10 a 15 dias e estão
Em comemoração à Semana do
do ambientalistas. Isso porque a linha cumprindo até o momento.
Meio Ambiente, o Núcleo Capão e
de 500KV gera uma grande radiação, a comunidade do bairro Lagoa da
o que pode acarretar danos à saúde Carlos Alberto Ferreira Regional Venda Nova realizaram o
Núcleo João Gomes
humana, à fauna e à flora da região. evento “Enquanto Houver Sol”, em
Além disso, há um risco de passar por favor da preservação dos recursos
regiões habitadas. hídricos e da revitalização do Córre-
go do Capão. O evento aconteceu
Aquíferos "estressados" Causa santa no dia 2 de junho na Escola Muni-
cipal Adauto Lúcio Cardoso. Foram
Um terço dos aquíferos do mundo O Papa Francisco divulgou a Encíclica Am- realizadas oficinas, trilhas, palestras
está secando a uma taxa alarmante, biental intitulada “Laudato si” (Louvado e apresentações culturais.
revelam dados da NASA. Oito dos 37 Seja). O documento cobra uma postura
principais aquíferos, inclusive o Gua- menos gananciosa de países desenvolvi- Augusto de Lima
rani, foram classificados como “sobre dos para evitar mais alterações climáticas e
estressados” e outros 5, classificados lembra que a ecologia integral deve incluir Cerca de 600 estudantes, entre
como “altamente estressados”. as dimensões humanas e sociais. crianças e adolescentes, visitaram o
ônibus do Manuelzão em Augusto
de Lima. A visita fez parte da reali-
zação do ‘Seminário sobre Conser-
Envie seu relato ou denúncia: manuelzao@manuelzao.ufmg.br ou facebook.com/manuelzao vação de Água e Solo’.
4 HISTÓRIA Manuelzão • 07.2015

a história da ocupação humana


da bacia do rio das velhas
navegar pelo velhas é vasculhar suas origens e mudanças,
desvendando uma região que faz parte da formação de minas
ACERVO MANUELZÃO

Caiqueiros durante expedição pelo rio São Francisco

as existentes no médio Rio das Velhas. Na Portanto, um formato de face


Eugênio Goulart região de Lagoa Santa, muitos ossos foram bastante diferente dos indígenas posterio-
Coordenador de Publicações
Científicas e Literárias do Manuelzão encontrados, tanto de animais, como de res, que chegaram às Américas, pelo mes-
seres humanos. O mais antigo fóssil huma- mo roteiro, nos últimos oito mil anos, que
no já encontrado nas Américas foi desen- apresentam faces com características asiá-
terrado a poucos quilômetros das margens ticas. Estes achados antigos da bacia do Rio
Os primeiros seres humanos che-
do Rio das Velhas. Os ossos eram de uma das Velhas chamaram a atenção do mundo.
garam há cerca de 12 mil anos atrás, com-
mulher de 1,50 metros de altura e com cer- Assim, a região de Lagoa Santa tem impor-
provam os estudos por datação com o car-
ca de 20 anos de idade. Ganhou o nome de tância reconhecida internacionalmente na
bono radioativo encontrado na natureza.
Luzia, dado pelos arqueólogos que a estu- área da arqueologia e paleontologia.
Nessa época, ainda pastavam e caçavam
daram. A ocupação humana seguinte
pela várzea do Rio das Velhas muitos ani-
Os traços culturais do seu povo ocorreu no período colonial, quando os
mais, alguns da megafauna, que logo em
puderam ser estudados parcialmente. Luzia bandeirantes vasculharam toda região em
seguida foram extintos: preguiça gigante,
tinha a habilidade de iniciar um fogo, por busca de ouro e pedras preciosas. A mais
tigres dente-de-sabre, cavalos pré-histó-
meio da fricção de gravetos, de trançar uma famosa expedição da época foi a coman-
ricos e tatus imensos. As tribos indígenas
cesta para coletar côcos e raízes comestí- dada por Fernão Dias, no final dos anos
vieram do norte, pois deixaram a Ásia e
veis, caçar pequenos animais, e pescar com 1600, que ganhou fama como o “caçador
chegaram às Américas pela ponte de gelo
anzóis feitos com ossos. Morreu acidental- das esmeraldas”. Muitas outras bandeiras
que naquela época existia, ligando a Sibéria
mente, ao cair no escuro de uma caverna, palmilharam cada recanto, garimpando e
ao Alasca. Lentamente foram descendo em
e não recebeu os rituais de sepultamento aprisionando índios para o trabalho escra-
direção ao sul, explorando novos territó-
típicos da sua tribo. O fato surpreendente vo. Foi tamanha a captura dos nativos que
rios.
é que o estudo do seu crânio, assim como a grande maioria das tribos indígenas foi
Quando chegaram ao centro do
de outros fósseis contemporâneos a ela, extinta.
nosso continente, usavam com frequência
mostraram características negróides, mais Os bandeirantes fundaram as pri-
as grutas como abrigo, como, por exemplo,
parecido com a fisionomia dos africanos. meiras cidades de Minas Gerais, todas pró-
Manuelzão • 07.2015 HISTÓRIA 5

PROCÓPIO DE CASTRO
ximas ao Rio das Velhas: Ouro Preto, na sua
nascente, e a poucos quilômetros, na bacia
do Rio Doce, a cidade de Mariana. E ainda Pinturas rupestres da região
na bacia do Velhas: Sabará, Caeté e Santa de Lagoa Santa, datadas em
Luzia. Parte do município de Diamantina, seis mil anos
fundada nos anos 1700, pertence também
à bacia hidrográfica do Rio das Velhas. O
rio, e toda a sua bacia, sofreram muito com
o garimpo, com o desmatamento, inclusive
das matas ciliares, e depois com a explo-
ração das montanhas regionais, ricas em
minério de ferro. E sofreram também com
a poluição originada nos centros urbanos,
que utilizam os curso d’água como destino
para todo o tipo de esgoto e lixo.
Apesar da degradação ambien-
tal dos últimos séculos, a cultura regional
sobreviveu com criatividade e firmeza. Isso
pode ser constatado no depoimento de
moradores, como, por exemplo, sempre
valorizam as memórias de suas cidades e
vilas. Nos relatos emocionados e saudo-

Apesar da
degradação
ambiental, a
cultura regional
sobreviveu com
criatividade
e firmeza
WALTER NEVES/USP
sistas sobre os vestígios da navegação, em do rio, de seus afluentes e de suas milhares
barcos apelidados de “gaiolas”, que des- de nascentes. O Projeto Manuelzão, sedia-
ciam o rio em direção à Bahia, e o subiam do na Universidade Federal de Minas Ge-
no retorno. E dos restos da extensa rede rais, orgulhosamente faz parte deste grupo
ferroviária iniciada no tempo do Brasil Im- de entidades.
pério, com suas patéticas marias-fumaça. Além de nossa participação co-
Também, nos atuais grupos organizados de tidiana em defesa do rio, já promovemos
dança, música, teatro e na fértil produção cinco FestiVelhas, todos com o objetivo de
literária dos seus habitantes, que resistem conciliar as agendas ambiental e cultural. O
ativos, mesmo com a falta de estímulo de primeiro, em 2005, na cidade de Morro da
órgãos governamentais. No orgulho em Garça; o segundo, em 2007, em Jequitibá; o
preservar as receitas antigas da típica culi- terceiro, em 2009, itinerante por seis cida-
nária mineira e na apreciação, nem sempre des da bacia do Velhas (Ouro Preto, Santa
moderada, dos derivados alcoólicos à base Luzia, Curvelo, Presidente Juscelino, Várzea
da cana-de-açúcar, cada um deles com sua da Palma, terminando em Belo Horizon-
história de muitas décadas e de muitas ge- te); o quarto em Belo Horizonte; e neste
rações de cultivadores, produtores e consu- ano, quando é comemorada a maioridade
midores. do Projeto Manuelzão, pois chega aos 18
Atualmente, a bacia hidrográfica anos de existência, e 10 anos do primeiro
do Rio das Velhas tem uma população de FestiVelhas, a cidade escolhida foi Itabirito.
aproximadamente quatro milhões e meio Mais uma vez, teremos a oportunidade de
de habitantes, espalhados em 51 municí- valorizar as várias formas de expressão da
pios, que englobam inclusive a Região Me- rica cultura da bacia hidrográfica do Rio das
tropolitana de Belo Horizonte. Vários gru- Velhas, fruto de vários séculos de ocupação
pos organizados estão lutando em defesa lUZIA: A PRIMEIRA MINEIRA de toda a região pelo Homo sapiens. u
6 crise e cultura Manuelzão • 07.2015

A crise está nas ruas e por isso a democracia tem valor. Ela nos
tira da zona de conforto e nos obriga a pensar, refletir e reagir

UMA NOVA CULTURA PARA


ALÉM DA ESCASSEZ
RENATO CRISPINIANO

Marcus v. Polignano
Professor e Coord. do Manuelzão

Nada melhor que um contexto


pONTE SOBRE O de crise para nos dar a sensação de que
RIO DAS VELHAS a vida muda, que a história anda e precisa
EM VÁRZEA DA ser mudada. A crise nos faz importantes,
PALMA EM 2014 pois fazemos parte dela e passamos a ser
ouvidos.
A crise está nas ruas, na acade-
mia, na política, e por isso a democracia
tem valor. Ela nos tira da zona de conforto,
do esperar acontecer e nos obriga a pen-
sar, a refletir sobre o porquê de chegarmos
a este ponto e como reagir. A crise nos tira
as certezas que julgávamos ser verdades
absolutas e eternas, nos tira o chão e nos
precipita no voo. O voo nos leva a buscar
novas referências e novos caminhos. Não
chegamos à escassez hídrica por acaso,
mas por um caminho que a nossa cultura
construiu.
A nossa cultura elaborada social-
mente e perpetuada através da reprodu-
ção do conhecimento nos levou a pensar e
agir sobre o ambiente de forma arrogante
e prepotente. Nos posicionamos acima de
todas as espécies, da biodiversidade, do
planeta e até da própria vida.
Fizemos do planeta Terra uma
”grande oportunidade de negócios”, e re-
solvemos consumi-lo como forma de ge-
ração de riqueza. Esquecendo que a maior
riqueza do planeta é a própria vida. E nem
mesmo poupamos os da nossa espécie.
Matamos e violentamos até os nossos
próprios irmãos.
Nossos rios não ficaram imunes a
este processo de destruição coletivo. Eles
estão morrendo de sede, pois não tem
água. Antes eles nos alimentavam, hoje
morrem de sede.
Mas a crise é uma escola, e nos
ensina. Neste contexto, descobrimos que
as empresas de saneamento não produ-
zem água, mas apenas tratam e distri-
buem o que captam de nossos manan-
Manuelzão • 07.2015 crise e cultura 7

ALEXSANDER SOUSA

Que preservar seja a preocupação básica da sociedade. No Festivelhas, a população esperou os caiaqueiros

ciais. Que estes dependem de sistemas da cultura. De uma cultura que seja “per- processo a exaustão total, da qual com
naturais complexos que requerem áreas meável” a água e comprometida com a certeza não teremos salvação.
de recarga, solo permeável, áreas de pro- vida. Uma cultura que entenda cada nas- A crise só não pode nos privar de
teção, vegetação e nascentes para se man- cente como expressão do nascimento da futuro, pois nela também há os oportunis-
terem vivos. vida e da necessidade de preservação, que tas que ao invés de procurar rever concei-
Ao longo de nossa história ge- torne as cidades “permeáveis”, deixando tos, querem apenas vender soluções sim-
ramos uma cultura de degradação e de os rios existirem e seguir seu caminho na- plificadas do mesmo. Repetindo modelos
morte lenta dos rios, e assim passamos tural sem poluição. e não pensando o novo. A crise tem que
despejando esgotos domésticos, efluentes Que preservar e não poluir seja ser uma ponte para novos paradigmas e
industriais e minerários para dentro dos a preocupação básica e fundamental de não para o precipício. Nela os prejuízos
cursos d’água. As nascentes foram degra- qualquer empreendimento, que poupar são socializados.
dadas, aterradas e enterradas e córregos anteceda em muito o consumir; que a res- Assim, apesar da escassez de
deixaram de ser perenes para se tornarem ponsabilidade com a vida se torne o com- água, da energia e do ambiente, o lucro
intermitentes. Com isso, os afluentes dei- promisso maior e essencial da sociedade. que não cessa a mudança de modelos não
xam de alimentar o Rio das Velhas, que Infelizmente, nossa atual cultura é da es- é discutido. É possível aumentar as tarifas,
como outros, deixam de alimentar o São cassez, que representa o fim de um mo- garantir os lucros do capital e socializar a
Francisco. Assim vai se formando um ce- delo. Continuar a reproduzi-lo é levar o má gestão de serviços e do modelo am-
mitério de rios. biental, seguindo a expressão-símbolo do
A crise nos ensina que a degra- liberalismo econômico “laissez faire, laissez
dação não é conceito, mas uma institui- aller, laissez passer”, que significa literal-
ção, pois nossa cultura legitima e reforça Não chegamos mente “deixai fazer, deixai ir, deixai passar”.
este modelo com o argumento do cresci- à escassez hídrica Nesse contexto, o FestiVelhas Ma-
mento a qualquer custo. A escassez não nuelzão convoca a todos para refletirem e
é somente hídrica. Ela também é ética, por acaso, mas pensarem sobre este estado de coisas, res-
política, de falta de compromisso com a gatando as raízes históricas e culturais para
questão ambiental, com a justiça social e por um caminho entender que somos fruto desta fusão de
com as gerações futuras. que a nossa ideais, energias e expressões. Temos que
Portanto, há muito o Projeto Ma- utilizar isso para resgatar a história do Rio
nuelzão defende que as mudanças neces- cultura construiu das Velhas para que possamos reconstruí
sárias e fundamentais tem que vir através -la de outra forma para o futuro. u
8 autonomia e ação Manuelzão • 07.2015

AUTONOMIA E PARTICIPAÇÃO NA
GESTÃO DE RECURSOS HÍDRICOS
diálogo e construção coletiva são chaves na formação autônoma

Segundo a Política Nacional de


Carla wstane
Rodrigo Lemos Recursos Hídricos (Lei 9433/97), “a gestão O Comitê tem de
Marcus V. Polignano dos recursos hídricos deve ser descentrali-
zada e contar com a participação do Poder ir além de suas
Público, dos usuários e das comunidades” capacidades ...
(BRASIL, 1997). Os comitês são compos-
Autonomia pode ser entendida O comitê tem de
tos por diferentes (e conflituosos) atores e
como um conceito aplicável à instituições
deve buscar o diálogo, procurando aprimo-
ou pessoas que possuem a capacidade de
rar o entendimento entre esses entes, com-
ser um espaço de
se autogerir, de estabelecer as suas pró-
prias regras, sem imposições de outrem. A
partilhando experiências e promovendo questionamento
novas formas de atuar no território. Os rios
autonomia é o andar sozinho, com as pró-
são apropriados de múltiplas formas pelas e também de
prias energias, ciente e responsável de suas
ações e do contexto em que se insere.
sociedades modernas – além de importan- transgressão,
te recurso –, são vistos também como po-
O oposto da autonomia é a hete-
tenciais instrumentos políticos por meio da onde se constrói
ronomia que representa a incapacidade de
reconhecer a origem das regras, de obe-
dinâmica social que os envolve. política pública a
A autonomia é um pré-requisito
decer cegamente sem compreender e sem
para a valorização do outro e de sí próprio. partir das águas
questionar as formas como as coisas se
Acreditamos que pessoas autônomas re- e pelas águas
constroem. Por isso, como é oposto à he-
conhecem seus limites e suas incertezas,
teronomia, a autonomia deve pressupor a
assim como valorizam os diversos saberes
transgressão e o questionamento às regras
individuais e coletivos, saberes que nem
externas; não significa negar as estruturas
sempre são técnicos. Para se ter uma re- capacidades técnicas e articulações políti-
externas, mas sim reconhecer essas estru-
flexão sobre a autonomia dos comitês de cas tão discrepantes e desiguais? É justa-
turas e de forma crítica poder discordar e
bacias, é preciso pensar em como se cons- mente devido à existência de discursos
mudá-las se assim for necessário.
troem espaços de encontro do complexo, distintos, dessa estrutura desigual, que se
A autonomia não deve se formar
como se possibilita a participação de vários precisa visar à autonomia de seus partici-
pelo isolamento, mas deve se consolidar
tipos de sujeitos na gestão das águas de pantes, apenas assim podemos construir
pelo diálogo e pela construção coletiva, ela
forma justa, e da mesma maneira, como se relações menos desiguais e consequente-
é uma travessia, uma construção contínua
promove a descentralização dos poderes mente mais justas, efetivando condições de
desenvolvida pelas práticas e diálogos coti-
em condições distintas de existência. negociar interesses tão discrepantes. Nessa
dianos. O professor Paulo Freire, nesse sen-
Aqui é preciso destacar a impor- perspectiva a autonomia é entendida como
tido, nos ensina que a autonomia é “ama-
tância de um processo dialógico de debate, um processo de conquista social, conquista
durecimento do ser para si, é processo, é vir
que priorize e reconheça a existência de de grupos que hoje conseguem construir
a ser. Não ocorre em data marcada. É neste
realidades desiguais e conflituosas no seio uma sociedade que se auto-questiona, que
sentido que uma pedagogia da autonomia
dos comitês de bacias. Além da gestão do se desconstrói e reconstrói a partir das ne-
tem de estar centrada em experiências es-
substrato espacial (o rio e sua bacia) é pre- cessidades e interesses coletivos.
timuladoras da decisão e da responsabili-
ciso gerir também as relações sociais que Não existe receita de bolo. Mas,
dade, vale dizer, em experiência respeitosas
ali se encontram. Na prática muitas contra- ao olhar para trás e ver o caminho percor-
da liberdade”. (FREIRE, p. 67, 1997)
dições podem existir e a gestão compar- rido pelo Comitê de Bacia Hidrográfica do
Acreditamos que é possível en-
tilhada das águas deve permitir que uma Rio das Velhas, é possível perceber a bus-
tendermos autonomia como uma sucessão
pluralidade de interesses, muitas vezes ca por autonomia em momentos de sua
de conquistas que permitam a transgres-
conflitantes e supostamente incompatíveis, existência. O CBH Rio das Velhas buscou
são e a construção diferenciada a partir
se encontrem. Mas como é possível diálo- efetivar o que preconiza a Lei 9.433/97 ao
da perspectiva dos sujeitos. A autonomia
go se temos instâncias e estruturas tão di- publicar a Deliberação Normativa 02/2004,
é um conceito que pode ser utilizado para
ferentes e tão desiguais. Como pode haver que instituiu seus Subcomitês: com “finali-
se pensar pessoas e instituições, mas como
diálogo entre o Estado, as grandes empre- dades propositivas e consultivas, cada um a
discutir a aplicação do conceito de auto-
sas usuárias de água, as comunidades ri- sua maneira, como formas efetivas de des-
nomia a uma instituição complexa, plural e
beirinhas e as organizações da sociedade centralização do planejamento e da gestão
conflituosa como os comitês de bacia e os
civil? Como dialogar se os atores possuem territorial” (SEPULVEDA, p. 5, 2012). Avan-
subcomitês?
Manuelzão • 07.2015 autonomia e ação 9

LILA GAUDÊNCIO
possa permitir a liberdade de negociação
entre vários atores sociais se estabelece
quando gera a sensação de interdepen-
dência envolvendo o Estado e a sociedade.
Discutir autonomia significa dis-
cutir as relações de poder que existem e as
responsabilidades que geram. E justamen-
te, por este motivo, grupos sociais precisam
constantemente fazer valer a autoridade
que lhe é legítima. A autonomia que se
quer construir não está apenas em parida-
de quantitativa, mas na qualidade de sua
participação, no respeito à liberdade de ex-
pressão e no poder de transformação. Para
isso, é preciso exercitar uma democracia
que se reinventa no cotidiano, entendendo
isto como certo alargamento da política,
trazida para os lugares de experimentação
da vida. Os caminhos percorridos pelos
conselheiros devem permitir o diálogo en-
tre diversos saberes e práticas e, na dire-
ção de somar conhecimentos aos níveis de
consciência dos sujeitos, se deixar deslocar,
buscando perceber formas de ser e atuar
no mundo.
Não existe uma fórmula de como
ter autonomia, mas existem formas de con-
duzir escolhas, de ter atitudes e comporta-
mentos coerentes com o que se almeja em
grupo. Para isso é preciso navegar, nadar,
atravessar o rio, o que não se encerra em
operacionalizar as ações. É preciso reavaliar
constantemente nossas práticas, capacitan-
É PRECISO CONSTRUIR POLÍTICAS A PARTIR DAS ÁGUAS E PELAS ÁGUAS do os conselheiros, convidando outros ato-
res, ampliando o debate na direção do ho-
rizonte que se quer alcançar. Que sejamos
çou no sentido de descentralizar a tomada gestão territorial social e ambientalmente
também capazes de reconhecer a origem
das suas decisões, compartilhando poderes mais justa; o comitê tem de ser um espaço
deste movimento, do seu imaginário trans-
com representantes de toda a bacia. Além de questionamento e também de trans-
gressor que faz de sua autonomia uma tra-
desses espaços de diálogo, que são os sub- gressão, onde se constrói política pública a
vessia, uma construção contínua e também
comitês, é importante lembrar também partir das águas e pelas águas.
um estado a ser atingido em sucessão de
atuação na bacia do rio das Velhas, do Pro- Se queremos a autonomia isso
pequenas conquistas. u
jeto Manuelzão, que criou um movimento significa o direito de discordar uns dos ou-
social em prol de rios vivos. A existência tros, mas este discordar deve ser propositi-
dos Núcleos Manuelzão, que compartilham vo, deve conseguir questionar as estruturas
informações, discutem e definem ações lo- e propor adequações. É preciso permitir a
cais para solucionar problemas ambientais mudança em um legítimo espaço de diá-
e sociais. logo e construção. Sabemos que para que Referências
É possível aos comitês terem au- um espaço de diálogo legítimo seja cons-
tonomia, uma vez que são amarrados de truído, é preciso que os agentes da socie- FREIRE, Paulo. Pedagogia da auto-
forma heterônoma às estruturas e às com- dade civil, acreditem em sua própria força, nomia: saberes necessários a prática
petências jurídicas e normativas? É possível escavem e briguem pela construção de um educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1997.
que o CBH seja mais que uma instância de tipo de participação igualitária. Isso se dá,
Brasil. LEI DAS ÁGUAS. Lei 9.433, de
decisão de alguns instrumentos de uma entre diversas outras ações políticas, na
08 de Janeiro de 1997. Disponível em:
política setorial e restrita? Queremos que o formulação, desenvolvimento e avaliação http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/
CBH faça mais do que analisar instrumen- dos projetos que são comuns a todos. Essa LEIS/L9433.htm; acesso em 04 de maio
tos da gestão de recursos hídricos! Acredi- é uma forma de explicitar as diferenças, de 2011.
tamos que é possível que os Comitês, se- fazendo desvelar o sentimento de corres-
guindo com seu tempo e suas condições ponsabilidade de todos nos processos de SEPULVEDA, Rogério. Descentralização
limitadas, possam desenvolver autonomia, construção de um projeto público. participativa por meio dos subcomi-
partindo de um movimento social e de um Da mesma forma deve ser enten- tês na bacia hidrográfica do rio das
Velhas/Brasil. VI Fórum Mundial das
forte imaginário na mente dos sujeitos. O dimento do Estado que a democracia parte
Águas. Marselha/França, fev. 2012.
Comitê tem de ir além de suas capacidades também da construção de condições para
normativas e jurídicas para efetivar uma a participação coletiva. Uma relação que
10 sustentabilidade Manuelzão • 07.2015

A relação predatória
produz euforias o falso discurso
consumistas
inconsequentes
da sustentabilidade
Anônimo, 1780; coleção j.f. almeida prado ieb/usp

pROCÓPIO DE CASTRO
Pres. do Instituto Guaicuy

Como nossos hábitos, costumes


e ações conduzem e nos transformaram
numa sociedade que privilegia a abundan-
cia momentânea, o consumo exacerbado?
Porque mantemos o discurso de susten-
tabilidade praticando o desperdício e a
dilapidação dos recursos planetários que
estão nos conduzindo a quadros sombrios
futuros, onde a gestão não será mais de
riquezas e sim da escassez? É preciso de-
bater esta condição humana e nos colocar
em estado de alerta para que possamos re-
pensar nossos valores e recuperar a consci-
ência e o cuidado com os bens disponíveis,
cujo acesso a estes bens aparentemente
ilimitados, aconteceu muito recentemente
na história humana. Este acesso fácil trou-
xe benefícios indiscutíveis à humanidade é
também o que foi, em pouco mais de um
século, o responsável pela degradação pla- Extração de ouro por lavagem de barranca aurífera no rio das Velhas
netária em intensidade maior do que todo
nosso passado.
A relação predatória e de muitas nais a ser aprimorada, principalmente pelo novos mercados, mas seu exagero, prati-
facilidades tem produzido euforias con- desenvolvimento de valores para além dos cada sem políticas publicas transnacionais
sumistas e inconsequentes. Em pequena meramente econômicos e que reduzam as de mínimo controle, tem consumido o es-
parte da população, representada perfeita- perdas dos excedentes produzidos fomen- toque de matéria prima, exigindo outros
mente no perfil egocêntrico dos “yuppies” tando e praticando uma distribuição mais planetas para esgotar a fúria consumista.
na década de noventa, onde o “eu sou, eu eficiente e igualitária. A nossa realidade brasileira não é
posso”, se refletiu no modo de vida, e cultu- Não é possível querer produzir diferente e, sim, possuidora de agravantes
ra e arte de toda uma geração que almeja- cada vez mais e se jogar fora o excesso de no modelo civilizatório imposto pelos eu-
va atingir aquele patamar idílico de sucesso produção quando o preço não é aceitável ropeus portugueses que aqui não vieram
e estilo de poder, na realidade insustentá- apenas na visão do capital e do lucro. Esta para morar e sim extrair riquezas de for-
vel, logo se mostrou uma bolha explosiva é a hora de ações do Estado regulador e ma predatória e rápida. Modelo este, que
de falsa riqueza. A crise que se seguiu, fomentador de políticas pela nação e pela a bacia do rio das Velhas foi palco prefe-
infelizmente, parece não produziu aprendi- distribuição das benemesses. O planeta rencial por sua riqueza mineral, em especial
zado contra o desenvolvimento a qualquer não aguenta o modelo do sempre mais e o ouro. Queimadas eram praticadas pelos
custo. As nações continuam, junto com o mais. A cultura do desperdício esta acaban- bandeirantes a partir das margens dos rios
sistema capitalista, na prática do modelo do com os recursos naturais em suas fontes (Warming in Lagoa Santa 1908), instituin-
de corrida pela geração de riqueza acumu- mineração/produção, e no seu fim com a do a prática da destruição da vegetação
lativa de rendas descomunais para poucos geração cada vez maior de resíduos, que em prol do interesse imediato. Prática que
e socialização dos prejuízos. O capitalismo apesar de serem matérias primas em po- também norteou a agricultura nos últimos
tem seus méritos, pois foi o sistema que tencial, são tratadas apenas como lixo des- séculos com o nome de coivara para abrir
permitiu os avanços tecnológicos e de cartável e que nesta quantidade e por sua novos campos de cultivo, trazendo grandes
acessos para grande parte da humanidade, composição contaminam todo o planeta, prejuízos para as terras, promovendo o seu
mas que necessita de correções para que desde o solo, onde são jogados aos cursos rápido esgotamento pela lixiviação do solo
aprenda a distribuir social e igualitariamen- d’água, e ao mar, formando uma triste pe- e a perda da biodiversidade. Criou-se uma
te seus resultados, promovendo o equilí- gada ecológica de passivos insustentáveis. cultura e uma prática que até hoje persiste
brio entre pobres e ricos. Esta é a seara de A obsolescência programada estimula o e é difícil de ser erradicada.
políticas públicas nacionais e transnacio- desenvolvimento de novas tecnologias e O modelo da mineração do ouro
Manuelzão • 07.2015 sustentabilidade 11

promoveu desvios de cursos d’água para A escassez da água zer uso. Esta é a mentalidade mais perver-
lavagem de barrancas auríferas, assore- A nossa forma de agir construiu um mode- sa no modo que lidamos com a água, pois
ando os rios, segundo o geólogo alemão lo civilizatório que claramente conduz a es- transfere aos outros o prejuízo da nossa
Barão de Eschewege: “Revolvendo-se fre- cassez deste líquido precioso, seja por con- inconsciência. O resultado é que rios que
quentemente as cabeceiras dos rios, estas duzir à sua falta, seja por contaminá-la. Isto poderiam ser fonte de vida se tornam em
se carregam cada vez mais de lama, a qual se reflete claramente na expressão “tempo locais evitados, malcheirosos, perigosa-
se foi depositando sobre a camada rica, bom” que significa sol de rachar. Esta ex- mente poluídos: rios mortos produtores
alcançando de ano para ano maior espes- pressão reflete nossa cultura de expulsão de doenças e mortes. Rios que para serem
sura, tal como vinte, trinta e até mesmo da água praticada na impermeabilização provedores de água para consumo huma-
cinquenta palmos. Por este motivo, as di- dos quintais, na eficiência dos sistemas de no e industrial necessitam de tratamento
ficuldades tornaram-se tão grandes, que drenagem, nas retificações dos rios, na des- cada vez mais caros e na natureza produ-
não se pode mais atingir o cascalho vir- truição dos sistemas naturais de absorção, zem a escassez de vida, pois ela não têm
gem.” (Eschwege, 1833, p. 168) apud Gue- como os alagadiços e matas ciliares. como reagir. O produto final é a mortanda-
des. O assoreamento histórico, por causas Depois que a água desaparece de de peixes que nos faz lembrar o que diz
naturais e minerárias, atingem até 12 me- pensamos em soluções emergenciais da o lema do Projeto Manuelzão: “o destino
tros conforme estudos realizados na calha reservação, sem praticar a recuperação dos do peixe anuncia o nosso”.
do rio do Velhas por Giovana Parizzi et al sistemas naturais produtores de água. Uma Temos que mudar este paradigma
(2011) : “Geofísica e sedimentologia aplica- floresta absorve a água da chuva e a libera ou nunca produziremos sustentabilidade e
das à avaliação do grau de assoreamento lentamente por longos períodos. Em nos- nossa herança para as próximas gerações
de trecho do Rio das Velhas em Rio Acima, sas cidades impermeabilizadas a absorção será apenas a escassez. u
Minas Gerais”. é muito baixa e a água é liberada com mui-
Este mesmo modelo extrativista ta rapidez.
adotado pela mineração do ferro e outros
minerais, resulta em imensos passivos que Comparação rural e urbano REFERÊNCIAs
extrapolam a área das minas. Um modelo No campo á água é absorvida pela vege-
relegado ao extrativismo sem preocupa- tação e pelo solo e demora para escoar en- WARMING, Eugênius. Lagoa Santa: a Vegetação
ções em se desenvolver as fases sequen- quanto na cidade impermeabilizada ela se dos Cerrados brasileiro por Ferri, Mario G. Belo
Horizonte, Itatiaia; São Paulo, Ed. da USP, 1973.
ciais dos processos produtivos em que esvai rapidamente provocando enchentes e
outros valores são agregados aos produtos outros problemas. GUEDES, Valdir Lamim. Uma análise históri-
finais por adição de tecnologia. O Rio das Culturalmente viramos as costas co-ambiental da região de Ouro Preto pelo
Velhas é testemunha dos assoreamentos, relato de naturalistas viajantes do século XIX.
para o rio e nele jogamos nossos dejetos Disponível em: https://naraiz.wordpress.
das contaminações químicas, dos desma- humanos e industriais como sendo a coisa com/2010/11/05/uma-analise-historico-am-
tamentos, dos passivos históricos de ca- mais normal a se fazer. Realmente o rio tem biental-da-regiao-de-ouro-preto-pelo-rela-
vas não recuperadas e do esgotamento de capacidade de depuração, mas esta nunca to-de-naturalistas-viajantes-do-seculo-xix/.
Acessado em 12-06-2015
recursos e de insegurança de um futuro foi sua função, que é prioritariamente a de
incerto para quando o mineral acabar. O fornecer base de vida para todos os seres M.G. Parizzi, et al. / Geofísica e sedimentologia
resultado desta cultura predatória nos di- vivos. Quando o usamos para limpar nossa aplicadas à avaliação do grau de assoreamento
reciona para sermos gestores da escassez de trecho do Rio das Velhas em Rio Acima, Mi-
sujeira o estamos poluindo e prejudicando nas Gerais - Geonomos, 19(2), 152-162, 2011.
que o modelo produz. a todos os que dele ainda necessitarão fa-

área florestal área residencial área urbana

Escoamento Infiltração Escoamento Infiltração Escoamento Infiltração

10 a 80 a 40 a 50 a 90 a 0a
20% 90% 50% 60% 100% 10%
12 água e cultura Manuelzão • 07.2015

por uma
CULTURA
da ÁGUA
Há diferentes culturas da água e diferentes formas de reflexão a
respeito desse recurso. Estas culturas são povoadas por discursos
que são de uma só vez manifestações estruturantes, reguladoras
e instrutivas de ações. A cultura não é uma, mas multifacetada e
variada quanto a própria humanidade.

Renato Crispiniano
Repórter

A
água é inseparável do fenômeno ral à água, ela faz um paralelo e revela os o mau cheiro (a Lagoa da Pampulha, por
da vida. É um recurso que com- simbolismos destes termos na história. Os exemplo), o desvio de seus cursos, a des-
partilhamos com o resto dos seres egípcios estabeleceram uma rica civiliza- truição das matas ciliares, mudança de co-
vivos. Do ponto de vista antropo- ção às margens do Rio Nilo. “O rio favo- loração, incapacidade de uso original de
cêntrico, a importância da água na receu a produtividade da terra e serviu de seus recursos (por exemplo, o Rio Tietê e
vida se reflete de muitas formas e enten- acesso às fontes de matérias primas”. o Rio Iguaçu)”, disse.
der que isto é fundamental para conseguir A professora do Departamento
uma gestão adequada deste recurso é pri- Há uma escassez de cultura? de Antropologia e coordenadora do Ges-
mordial para se caracterizar uma cultura Atualmente muito se fala em escassez de ta (Grupo de Estudos em Temáticas Am-
da água. cultura, seja no que se concerne a palavra, bientais)/UFMG, Andrea Zhouri, também
“Cultura pode ser entendida como um conjunto de características hu- considera que não há escassez de cultu-
como sendo um conjunto de característi- manas, ou num contexto social e econô- ra, mas uma despolitização da sociedade.
cas humanas que não são inatas, ou seja, mico. Para Fernanda Matos, não há uma “A ideia de escassez é própria da cultura
não nascem com os indivíduos”, afirma a escassez cultural, pois cada cultura é o ocidental, que pensa a natureza fora como
professora doutora em Administração e resultado de evolução histórica e sua rela- algo que é delimitado. Há na verdade um
Mestre em Turismo e Meio Ambiente, Fer- ção com outras culturas. “Nesse sentido, a problema e ele é político. Há uma escassez
nanda Matos. Para ela, essas característi- cultura é o meio de adaptação do homem política, vivemos na verdade uma crise de
cas culturais se desenvolvem, preservam aos diferentes ambientes. Existem dois má distribuição do poder na sociedade.
ou aprimoram através da comunicação e tipos de mudança cultural: interna, que Pequenos grupos têm o poder de definir
cooperação entre indivíduos em socieda- resulta da dinâmica do próprio sistema como as coisas devem ser para a maioria.
de, associada a uma capacidade de simbo- cultural. Esta mudança é lenta; porém, o O poder está mal distribuído e com ele,
lização considerada própria da vida coleti- ritmo pode ser alterado por eventos histó- o meio ambiente também”, afirma ao res-
va. ricos, como catástrofe ou uma grande ino- saltar que: “cultura não é sabedoria, não é
Portanto, como explica, a cultu- vação tecnológica. E a mudança externa, informação e nem acesso a determinado
ra é fortemente influenciada por seu am- que é resultado do contato de um sistema atendimento. Ela é uma forma de ser no
biente. “Assim, as condições geográficas cultural com outro. Esta mudança é mais mundo. É a introdução do ser no mundo,
influenciam toda a cultura de seus habi- rápida e brusca”, esclarece. são formas de existir no mundo”.
tantes. Onde a cultura determina o meio “Os rios favoreceram o desen- “È preciso resgatar a política em
ambiente, e, também é determinada por volvimento urbano e agrícola, mas esse todos os níveis. E isso significa abrir o de-
ele, adaptando às condições externas im- crescimento tem ocasionado a ‘morte’ de bate à diferença de opiniões, incorporá-la,
portantes a fim de elevar a qualidade de vários deles, ao transformá-los em meio ouví-la e abrir espaços para o contraditó-
vida”, declara. de escoamento de esgoto. Os rios urbanos rio. A despolitização do debate ambiental
Ao relacionar a questão cultu- sofrem com a poluição, o assoreamento, de certa forma banil o dissenso, a oportu-
Manuelzão • 07.2015 água e cultura 13

ACERVO MANUELZÃO

O CONTRASTE ENTRE A CULTURA DE DEGRADAÇÃO DOS CÓRREGOS POLUÍDOS E AS NASCENTES LIMPAS: PRESERVAR É PRECISO

nidade do não. Fica um debate em torno conviver com a sazonalidade do ciclo da crença, fluidos medicamentosos são adi-
dos meios e esquecem os fins, sobre o que água. “Os ribeirinhos amazônicos e panta- cionados à água. Nas tradições afro-bra-
queremos da sociedade. Qual o projeto neiros vivem ao sabor das cheias e vazan- sileiras têm-se também elementos relacio-
político e modelo de sociedade querem tes, expandindo sua vida social durante o nados à água.
construir?”, acrescenta Zhouri. período de estiagem e restringindo-a du- Entre os usos múltiplos da água,
rante a subida das águas”, exemplifica Fer- o turismo depende de forma direta da
Ambiente geográfico e cultura nanda Matos ao destacar que ao percorrer existência de patrimônio hídrico com po-
“O ambiente não determina o tipo e o as cidades, pode-se perceber também a tencial cênico e paisagístico. No Brasil,
grau de cultura dos povos, mas limita ou incorporação da água como elemento na- parte significativa das localidades com
favorece o desenvolvimento de uma cul- tural ao ambiente construído pelo homem, atividades turísticas ou com potencial tu-
tura”, afirma Matos. Para ela, quanto mais como fontes (os chafarizes das cidades rístico - como é o caso da Serra do Gan-
uso e aproveitamento uma cultura faz do históricas mineiras, os monjolos e rodas darela, em Minas Gerais -, a água torna-se
meio geográfico, tanto mais dependente d’água), pontes, aquedutos, barragens, um atrativo. Nesse contexto, é relevante a
ela fica. Ou seja, o domínio do homem so- dentre outros que são partes do patrimô- articulação da gestão de recursos hídricos
bre a natureza o torna cada vez mais de- nio cultural; presentes também no paisa- com a gestão do patrimônio cultural.
pendente desses recursos. gismo com a valorização da paisagem dos
“Desempenhando um leque de espelhos d’água e lagos urbanos. conscientização cultural
funções, a água é utilizada para cultivo e Nas religiões, ela também des- Falar em cultura da escassez, numa época
produção de alimentos, como símbolo po- taca que o uso ritual da água segue um em que temos muitos caminhos e modos
lítico e cultural, bem como um local para ritmo de envolvimento crescente que de receber informações, é desafiador, por-
entretenimento, lazer e esportes. Ao longo vai desde a simples aspersão, até a total que vemos sempre no novo, possibilida-
da história da arte a água também aparece imersão. Para se livrarem do ciclo de reen- des diversas. Mas cultura não diz apenas
em esculturas, pinturas, objetos, além de carnações, os hindus mergulham nos rios do conjunto dos conhecimentos adqui-
música e literatura. A representação do ele- considerados sagrados, como o Ganges. ridos, mas do que é feito desse conheci-
mento aquático na arte ocorreu também Os judeus se purificam pelo banho ritual. mento e como ele pode transformar nos-
por meio de alegorias mitológicas, como Os muçulmanos lavam os pés, os braços e sas vidas.
os personagens Netuno, Narciso e as se- o rosto antes da oração. Do mesmo modo, A proposta é ir além e fazer com
reias”, argumenta Matos ao revelar que as o cristianismo incorporou, no sacramento que a identidade das manifestações cultu-
representações culturais das águas variam do batismo (presente também em outras rais possa contribuir para o entendimento
segundo as culturas, as religiões, o habitat denominações religiosas) o simbolismo de do processo da atual cultura de degrada-
em que se desenvolveram, sua maior ou regeneração que a água irradia, e o uso da ção e destruição por qual estamos passan-
menor disponibilidade e sazonalidade. água benta. No espiritismo tem-se o uso do, perdendo valores e criando outros que
As comunidades aprenderam a da água fluidificada, no qual, segundo a geralmente não consolidam um sentimen-
14 água e cultura Manuelzão • 07.2015

LILA GAUDÊNCIO
to de pertencimento. No entanto, é pre-
ciso despertar a conscientização cultural INTERVENÇão REALIZADa
das pessoas para a necessidade absoluta NO PARQUE MUNICPAL:
de uma política cultural, seja ela qual for, "GUARDA CHUVA"
como fruto do mais amplo debate, cuja
preparação todas as pessoas possam con-
tribuir sem dogmatismos.
Por isso, é importante sensibili-
zar criticamente as pessoas sujeitas a um
permanente processo de massificação e
procurar transformá-las em agentes ati-
vos da criação cultural, pois quando se fala
em cultura da escassez, não se quer dizer
cultura ‘popular’ ou ‘erudita’; a questão vai
além, remete a cultura do que falta, a cul-
tura da miséria de pensamentos e atitudes,
pois a escassez cultural se faz na falta de
conscientização e efetivação dos fazeres
locais.
Estamos nos acostumando a não
dialogar com nossa própria cultura e nos-
so saber local, por isso, é necessário uma
substancial democratização da cultura que
terá que ser inevitavelmente completada
pela descentralização das suas consequ-
ências, ou seja, uma cultura germinada,
apropriada por todos e que retrate o pro-
cesso cultural que se deu por diferentes
raças, povos, e interesses que forjaram um
processo diverso que ora resiste, ora justi-
fica essas ações de degradação.
A escassez não se esgota na cul-
tura enraizada, lógica, pontual, vivida, mas
também no ponto de vista social, quando
revela as mazelas da sociedade. Do ponto
de vista educacional, quando não há uma
educação de qualidade quando a popula-
ção não tem o mínimo necessário para se
satisfazer; ora fisiologicamente, ora ma-
terialmente. A hora de mudar é agora e o Alexsander sousa
movimento tem que ser o de alertar para a
necessidade de um esforço para descons-
truir uma cultura poluidora, consumidora
e que nos levou a escassez, pois a luta se
amplia e vai além da quantidade de água,
também se faz na qualidade consciente,
mostrada através de uma nova dimensão
cultural.
É necessário que haja um com-
promisso ético e esse passa pela constru-
ção de alternativas e exemplos práticos
em que as melhorias da qualidade de vida
se baseiem na recuperação e conservação
dos ecossistemas hídricos e não se limi-
tem apenas a ser compatíveis com eles.
Uma das chaves está em reconhecer e en-
tender que um rio é muito mais que um
canal de água, do mesmo modo que hoje
entendemos que um bosque é muito mais
que um armazém de madeira. A questão é
entender os valores sociais, culturais e de
identidade, tanto territorial como coletiva
da água. u Envolver a comunidade nas ações pró-meio ambiente
fortalece a conscientização política local
Manuelzão • 07.2015 ENTREVISTA 15
Foto: Alice Okawara

S diante dos desafios atuais, escassez de água. Isso para não dizer
como trabalhar uma nova outros resíduos. Ainda não sabemos
proposta de preservação calcular, por exemplo, o que significa a
ambiental? extinção de um bioma tão raro como
o campo rupestre sobre as cangas
Penso que hoje a mais danosa questão ferruginosas ou os raros trechos de
cultural brasileira seja não a da des- mata atlântica primaria que restaram
truição ambiental em si, mas a do des- em Minas Gerais e estão na Serra do
Bernardo puhler
conhecimento e depois a da omissão Gandarela. O que está evidente é o
Músico e Comunicólogo
perante o fato. Atualmente Belo Ho- impacto que representará a perda de
rizonte, com seus mais de 3 milhões um aquífero fundamental.
de habitantes, está ameaçada por um O Gandarela, o Fica Ficus, Salve
projeto de mineração irresponsável a Mata do Planalto e os Núcleos S O que representa a água para
(Projeto Apolo) que irá comprometer Manuelzão, em BH, são alguns a cultura de uma população?
gravemente seu abastecimento hídri- exemplos de mobilização popular.
co nos próximos anos. Tudo porque, Para o músico Bernardo puhler, um Desde cedo aprendemos na escola
em outubro do ano passado, foi criado dos coordenadores do Movimento que o Brasil é a maior reserva de água
um parque nacional na região da Ser- pela Serra do Gandarela, a mais doce do mundo. Esqueceram de fa-
ra do Gandarela que inexplicavelmen- danosa questão cultural brasileira lar, no entanto, que a maior parte da
te não contemplou locais de imensa talvez não seja a da destruição população brasileira não tem acesso
importância para a preservação de ambiental, mas o desconhecimento à abundância desse recurso, que veio
nascentes responsáveis por 70% do e a omissão do fato. sendo mal gerido pelos órgãos com-
abastecimento da cidade. Este cená- petentes. Penso que esse discurso de
rio catastrófico iminente não pertence nossas potencialidades tem certa cul-
ao diálogo cotidiano da maior parte Mato Dentro é a cidade com menor índice pa no comportamento irresponsável
daqueles que serão diretamente atin- de violência no Estado. Já Conceição está com o meio-ambiente que apresen-
gidos. Logo, a cultura da destruição regularmente no noticiário do crime, algo tamos. Trazemos ainda a herança do
ambiental, por parte de segmentos da inacreditável para uma cidade com menos índio e sua relação plena com a natu-
sociedade, sequer é percebida. Então de 10 mil habitantes na zona urbana que reza. O índio tomava 3 banhos por dia,
a função principal do Movimento é a era considerada até há pouco tempo a ca- no rio, e tais reflexos podem ser vistos
difusão deste conhecimento e suas pital mineira do ecoturismo. na sociedade moderna. Mas o índio
implicações. Basicamente sensibilizar não destruía seu habitat e nem joga-
para mobilizar. S O que estaria levando as va esgoto em cursos d`água. A maior
pessoas a essa cultura? parte dos brasileiros hoje tem grande
S Há atualmente uma cultura zêlo com a higiene pessoal, mas não
da escassez? Por quê? Fundamentalmente dois pontos protago- tem mais contato direto e diário com a
nizam na construção desse perfil: primei- água, a não ser a que saí das torneiras.
A gestão dos recursos naturais de for- ro o estímulo ao consumo inconsciente e Não tem mais os rios pra se banhar
ma sustentável exige tempo e esforço depois fragilidade do sistema educacional quando quiser. É esse o ponto onde a
de todos os setores, sejam eles públi- de base. Os dois partidos que dominam adaptação ao meio se deu de manei-
cos ou privados. A urgência dos inte- a política brasileira permanecem alheios à ra equivocada e a água deixou de ter
resses de grandes corporações num questão ambiental. Há uma disputa pelos o valor que sempre teve em qualquer
país emergente, claramente vulnerá- números de crescimento do poder de con- cultura no mundo.
vel à imposição do capital, implica no sumo. Fulano comemora que a classe X já
atropelamento dos melhores procedi- pode comprar TV 40 polegadas, mas se es- S O movimento acredita na
mentos. A esse quadro se soma o tão quece que as questões básicas de cidada- transformação cultural pela
falado enraizamento da corrupção na nia continuam inacessíveis. Não há saúde, mudança da realidade?
sociedade e o resultado é a ruptura do segurança e principalmente educação de
compromisso social a longo prazo. Vi- qualidade. Se houve um reposicionamento Achamos que a transformação a par-
vemos, antes de todas essas precarie- de receita para uma parcela da sociedade tir da cultura é potencialmente uma
dades, a escassez moral, das empresas não existiu uma condução deste processo, ferramenta poderosa, de acesso ao
e do poder público principalmente. orientando este novo fator. Veja, por exem- coração e à sensibilidade das pesso-
Conceder licenciamentos para de- plo, o constante estímulo à indústria auto- as. E, por mais que isso pareça ingê-
terminados empreendimentos pode mobilística com todo seu lobby criminoso nuo, ainda acreditamos que este é o
ser o atestado de óbito de todo um que atingiu estratégias de desenvolvimen- melhor caminho. Não podemos crer
contexto cultural. Estamos assistindo to brasileiro ao longo das últimas décadas que as pessoas só irão se movimentar
isso acontecer em Conceição do Mato e, paralelamente, políticas de transporte quando não houver mais uma gota de
Dentro, por exemplo, onde a implan- público e/ou alternativo totalmente in- água na torneira. Até por que as pos-
tação de uma mina e mineroduto mo- cipientes. Os governos permanecem de sibilidades reais de mudar a grave si-
dificou de maneira brusca a qualidade mãos dadas com a indústria automobilísti- tuação atual estão no “agora”, porque
de vida na cidade. Observe o contras- ca e as mineradoras. Enquanto isso, as cida- qualquer minuto adiante já pode ser
te: a menos de 60 km dali, Itambé do des têm graves problemas de mobilidade e tarde demais. u
16 REVITALIZAÇÃO Manuelzão • 07.2015

a infraestrutura existente deve ser tratada como paisagem, indo


contra uma arquitetura funcionalista para algo mais poético

POR UMA VISÃO URBANÍSTICA


DE INCLUSÃO DOS RIOS
CARLOS M. TEIXEIRA deria tirar partido do único elemento natu- Centro; de uma transposição que possa
Arquiteto ral presente no Centro, é uma arquitetura aproveitar o vetor da passarela existente
de serviço, predominando galpões, postos para então remodelá-la e transformá-la
de gasolina, depósitos e vazios urbanos. num parque elevado, como se fosse uma
Muito já se falou sobre o descaso O prédio da Rodoviária, por extensão do jardim suspenso de Burle
para com o Arrudas em Belo Horizonte: O exemplo, situa-se num rotor de modais de- -Marx plantado sobre a laje da Rodoviária.
rio foi canalizado e hoje não é mais perce- sarticulados que necessita ser costurado. O Esse paisagismo flutuaria sobre aquela ba-
bido como um elemento natural. Seu leito que antes era uma várzea do rio separando rulhenta conjunção de viadutos, provendo
natural foi sucessivamente retificado, cana- o Centro do bairro Lagoinha transformou- sombras ao árido percurso bairro-Centro,
lizado e por fim coberto. Seu vale foi trans- se num mar de viadutos, num complexo revisitando os padrões burle-marxistas da
posto por dezenas de viadutos, mas poucas de vias expressas bem típico do urbanismo Rodoviária e incorporando uma ciclovia,
são as passarelas que unem a margem sul rodoviarista que infelizmente moldou as ci- assim permitindo que a futura malha ciclo-
e norte para pedestres. Sua topografia cor- dades brasileiras nas últimas décadas. Com viária da avenida Antônio Carlos seja arti-
robora este aspecto de divisor norte-sul: se a transferência de suas funções para os culada às ciclovias das avenidas Paraná e
levarmos em conta que junto ao Arrudas bairros, seu novo programa pode se trans- Santos Dumont.
temos a ferrovia que foi aproveitada como formar numa oportunidade para iniciarmos Passarelas de pedestres poderiam
trem urbano, há três barreiras paralelas tra- uma nova relação entre arquitetura e rio. se transformar num verdadeiro instrumen-
balhando juntas: rio, topografia de fundo Urge ir contra aquele urbanismo to de uma nova identidade do vale: pontes
de vale e ferrovia. Sua presença na cidade e privilegiar as áreas verdes, as praças e, generosas, com programas acoplados e
só é manifesta como obstáculo e problema principalmente, o resgate da força do sim- potencial para valorizar um rio para o qual
(enchente, mau-cheiro, poluição sonora e bolismo como potenciais requalificadores a cidade virou as costas. Lembremos não
visual, descuido de áreas públicas, edifícios da cidade. Ao norte, a Lagoinha precisa de apenas de exemplos históricos que propor-
abandonados). E sua arquitetura, que po- uma melhor conexão de pedestres com o cionam, alhures, uma travessia de rios ur-

Carlos m. teixeira

Jardins, praças e cinema sobre o rio arrudas piscina filtrante no rio hudson em nova york
Manuelzão • 07.2015 REVITALIZAÇÃO 17

banos prazerosa para o pedestre (a Ponte Infraestrutura como Paisagem


Vecchio de Florença, a Ponte do Brooklin de No Centro, o chamado Boulevard Arrudas
Nova York, a Pont Neuf de Paris, a ponte D. precisa se transformar num boulevard de

nascentes ou
Luiz I no Porto, em Portugal), mas também fato, com calçadas mais largas, árvores que
o fato de que nossas pontes mais ambicio- justifiquem sua alcunha e um tratamento
sas são de uma escala intimidante para não ambiental ambicioso que vai da Praça da

'morrentes'?
dizer acachapante: a ponte mais famosa do Estação ao Corredor Verde. Nesta perspec-
Brasil é a Rio-Niterói... tiva, a Avenida Andradas deixa de ser uma
Além de uma conexão Centro-La- via de oito pistas para se transformar num
goinha mais generosa que a pinguela de calçadão capaz de recriar um vale verde
pedestres atual, é preciso construírmos vá- Centro-Leste.
rias outras: uma primeira ligando o circuito A infraestrutura do canal existente Nas últimas décadas, o des-
da praça Floriano Peixoto à praça Duque de deve passar a ser vista com um olhar me- matamento de encostas, das matas
Caxias em Santa Tereza, outra como con- nos funcionalista e um pouco mais poético. ciliares e o uso inadequado dos so-
tinuação da rua Sapucaí e rua Itambé na As centenas de vigas de concreto sobre o los tem contribuído para a diminui-
Floresta até o Parque Municipal, uma outra Arrudas não estão a espera de novas pistas ção dos volumes e da qualidade da
na Avenida Bernardo Monteiro – todas co- de rolagem (como o foram no retrógrado água, um bem natural insubstituível
laborando para que a infraestrutura urbana Boulevard Arrudas): são vazios expectantes na vida do ser humano. Os cuidados
se transforme para prover identidade e no- onde estão os melhores futuros da cidade. devem se iniciar com a preservação
vos marcos visuais a estes bairros. Já há a Praia da Estação; agora imaginemos das nascentes, pois, são as origens
a praia sobre o rio: o leito do Arrudas como dos rios. Elas são manifestações su-
Um Parque Linear um vazio urbano a espera de jardins ele- perficiais de água armazenadas em
E sob essas passarelas, não um trânsito de vados, cinemas ao ar livre, shows musicais, reservatórios subterrâneos, chama-
passagem, mas um parque linear ao longo atividades cívicas inusitadas. dos de aquíferos ou lençóis, que dão
de um canal com seções de diferentes ti- Quimeras? Enquanto Belo Hori- início a pequenos cursos d’água, que
pos e com novas encostas verdes, quadras zonte duplica a avenida Andradas, outras formam os córregos, se juntando
esportivas, escadarias, jardins verticais e cidades estão redescobrindo seus rios. para originar os riachos e dessa for-
diversos equipamentos para a prática de Aquelas vigas, elemento molesto concebi- ma surgem os rios.
esportes – todos conformando um futuro do por uma engenharia de trânsito caduca, Para a conservação de nas-
Corredor Verde Centro-Leste. Sendo uma podem ser ressignificadas como elemento centes e mananciais em proprieda-
das raríssimas regiões planas de BH, este propulsor de novos espaços públicos e de des rurais, podem ser adotadas algu-
corredor vai funcionar também como item uma nova relação com o Centro e com o mas medidas de proteção do solo e
fundamental da rede de ciclovias que está rio. E assim uma cidade de festas e de cele- da vegetação, que vão desde a elimi-
sendo implantada, definindo uma nova brações poderá reativá-lo: o Arrudas como nação das práticas de queimadas até
infraestrutura de mobilidade e desempe- evento, como um campo ativo capaz de ca- o enriquecimento das matas nativas.
nhando papel importante num urbanismo talisar uma ampla gama de atividades fixas “A água é um recurso valioso nas áre-
agora pensado para a experiência daqueles e transitórias, públicas e privadas, lúdicas e as rurais e por isso precisamos cuidar
que mais fazem uso da cidade: o pedestre de lazer, possibilitando diferentes arranjos para que sejam sempre limpas e vi-
e o usuário de transporte coletivo. e assumindo as mais diversas facetas. u vas”, comenta Odilon Lima, produtor
rural da região de Acurui, em Itabiri-
to.
Para ele, perceber que a
água é um bem vital e que pode de-
terminar a cultura de um local é fun-
Prefeitos assinam por damental para que haja mais pesso-
as dispostas a conviver em sintonia

proteção de nascentes com o meio ambiente. “Em minha


propriedade temos 13 nascentes que
cuidamos com carinho e técnicas de
preservação como as barraginhas e
Os prefeitos de quatro muni- entorno das nascentes. outras”, disse.
cípios da região do Alto Rio das Velhas: O convênio prevê implantar “È necessário conviver com
Nova Lima, Rio Acima, Raposos e Ita- a gestão compartilhada da bacia com o meio ambiente e isso é o mínimo.
birito, assinaram em junho, em Nova ações socioambientais para proteção Aqui fazemos com que a nature-
Lima, acordo de cooperação para recu- dos afluentes do Rio das Velhas. As za seja parte de nosso cotidiano e
perar e preservar as nascentes e áreas ações terão abrangência no território um meio de socialização. No Brasil,
de preservação permanente da região. de cada um dos municípios e as prefei- a agricultura familiar pode ser um
Os prefeitos somarão esfor- turas deverão fazer o mapeamento das meio diferente de utilização do meio
ços para a revitalização ambiental, ca- nascentes, estabelecendo prioridades ambiente rural. Uma alternativa a
bendo às cidades que têm viveiros flo- e cronogramas dos planos. O trabalho essa cultura da destruição”, afirma
restais, como Nova Lima e Rio Acima, começará pela identificação das áreas Odilon.
produzir as mudas de espécies nativas mais comprometidas e pela conscien-
para recomposição da mata ciliar e do tização das comunidades do entorno.
18 áreas verdes urbanas Manuelzão • 07.2015

Soluções ecológicas que


investem na cultura social
FOTOS: Dimas correia

as áreas verdes são


resultado de uma
melhor integração
do espaço urbano

RENATO CRISPINIANO
Repórter

O Projeto Manuelzão vem de-


fendendo a criação de parques lineares
como modelo de harmonia arquitetôni-
ca de convivência com os rios urbanos.
O Parque Ecológico de Itabirito, palco da
quinta edição do FestiVelhas é um modelo
de parque linear a ser seguido. A arquiteta
Rousemara Lopes, uma das idealizadoras
do projeto, faz um histórico do processo.
“Coincidentemente, na mesma época, es-
crevi meu trabalho final do curso de pós-
graduação em Planejamento Ambiental
transformação do espaço natural em cultura e lazer
Urbano, sobre o tema dos vazios urbanos
da cidade. Havia acabado de constatar
que os interesses comerciais haviam aca-
bado com quase todas as áreas verdes da
região central da cidade, restando apenas
as áreas localizadas às margens de rios,
em áreas muito íngremes ou de difícil
acesso. Não foi necessário muito tempo
para amadurecermos juntos sobre a ideia
da criação de um parque ecológico na-
quele local”, disse.
Segundo ela, a área era bem
grande e se encontrava totalmente sem
uso e completamente tomada por lixo.
“Alguns corajosos moradores do bairro
Nossa Senhora de Fátima e trabalhadores
do Distrito Industrial atalhavam por den-
tro dessa área, em uma trilha de terra, em
meio a muito lixo e falta de segurança. Ela
pertencia a um próspero comerciante lo-
cal, que pretendia instalar ali futuramente
um supermercado ou um shopping cen-
ter”, explicou ao revelar que no início o
processo de desapropriação que se arras-
tou em litígio por vários anos.
“A vegetação se restringia a inú-
meros eucaliptos e muito mato. Não foram
poucas as pessoas que não acreditaram
Manuelzão • 07.2015 áreas verdes urbanas 19

que naquele local poderia surgir um belo


e harmonioso parque. Buscamos arquite-
tos especialistas na criação de parques e
contamos ainda com o apoio do IEF no
auxílio do trabalho de planejamento da
substituição gradual dos eucaliptos por
espécies mais adequadas à nova realida-
de da área, pois queríamos um local com
muitos pássaros, sombreado e seguro. To-
neladas de lixo, inclusive de lixo hospitalar
seriam retirados da área”.
Sobre essa situação de abando-
no, especialistas esclarecem que, nas cida-
des, o urbano pode ser entendido como
o resultado maior da capacidade social
de transformar o espaço natural. Assim,
as diferentes intervenções do homem no
crescente “espaço urbano”, nem sempre
foram pautadas em ações de controle e
preservação ambiental, e como decorrên-
cia deste fato, muitos problemas foram se
fazendo cada vez mais presentes.
O Parque Ecológico possui 45 mil
metros quadrados, com lagoa, anfiteatro,
passarela, mirante, centro de educação
ambiental, ciclovia, pista de caminhada,
playground, lanchonete, aparelhos de gi-
nástica para idosos, cinco nascentes pre-
servadas e áreas com mata nativa. Possui
também viveiros com animais sem condi-
ções de voltar ao habitat natural, cedidos
e legalizados pelo Ibama.
O parque tem um diferencial, faz
divisa com o Rio Itabirito, afluente do Rio
das Velhas. “Para valorizar e proteger o rio
caminhos apontam as mudanças do espaço verde em itabirito e incentivar a prática de esportes decidi-
mos manter o acesso ao Distrito Industrial
por bicicleta. “Infelizmente outras áreas
verdes não são poupadas pela especula-
ção imobiliária e acabam se transforman-
do em prédios comerciais e residenciais,
fazendo com que o percentual de área
verde por habitante seja baixo na zona ur-
bana. O sonho de vários parques urbanos
que se complementem está cada dia mais
distante nos municípios brasileiros, o que
é um prejuízo enorme para os cidadãos
que não veem surgir outros pontos de la-
zer, esporte e cultura”. u

Serviço

O Parque Ecológico de
Itabirito se localiza à
Avenida Queiroz Júnior,
1510, e funciona de terça
a domingo e feriados de
7h às 22h.
20 festivelhas 2015 ARTE E CULTURA NA BACIA DO RIO DAS VELHAS Manuelzão • 07.2015

um movimento cultural que convocou as populações


ribeirinhas a se manifestarem usando a arte como linguagem

arte, cultura E transformação


fOTOS: dIVULGAÇÃO

FestiVelhas é o Festival Cultu- desfigurando suas características naturais e “FestiVelhas 2009” foi itinerante, e aconte-
ral da Bacia do Rio das Velhas, idealizado o modo de vida dos povos que habitam a ceu durante a expedição de 2009 pelo Rio
pelo Projeto Manuelzão UFMG a partir da região. A cultura é parte fundamental do das Velhas, com o objetivo de sensibilizar
expedição de 2003 que percorreu toda a Projeto Manuelzão que, desde seu surgi- todas as comunidades da bacia para a pro-
extensão do rio. Além da riqueza em biodi- mento, anunciou que a revitalização da posta de revitalização da Meta 2010.
versidade, esse rio alimenta uma corrente- bacia do Rio das Velhas depende da cons- A edição do evento em Belo Hori-
za cultural que compartilha o seu destino. trução de novos imaginários. O objetivo é zonte, no ano de 2011, focou no teatro do
Entretanto, como consequência da degra- fazer da cultura o motor da mudança de “absurdo” as ações antrópicas insustentá-
dação das águas, muitas espécies da fauna mentalidade que se transforme em ação. veis movidas por um modelo econômico
e da flora começaram a desaparecer e, com Graças à expedição, surgiu a ideia de sem preocupação com a gestão ambiental.
elas, várias manifestações culturais. organizar um movimento cultural que con- Passada a Meta 2010-2014 é necessário
Cada dia fica mais difícil pescar vocasse as populações ribeirinhas a se ma- estabelecer novos rumos e metas a serem
um dourado, um pacu, descansar à sombra nifestarem usando a arte como linguagem. alcançadas.
de um jequitibá, ver um beija-flor gravata E deu certo. Centenas de artistas, escritores, A nova edição do Festivelhas 2015,
verde, um canarinho chapinha, um trinca- dançarinos, violeiros, contadores de histó- em Itabirito, tem como objetivo resgatar
ferro, ou ouvir um violeiro tocar uma moda rias, homens e mulheres de toda a bacia o movimento sociocultural da bacia, inte-
de viola. As lavadeiras não cantam, nem la- reuniram-se no “FestiVelhas Manuelzão em grando povos e pensamentos através da
vam; os barcos não navegam, a biodiversi- Morro da Garça”, em 2005, que procurou arte e cultura na busca da transformação
dade morre por não ter água limpa. demonstrar a diversidade cultural da bacia da mentalidade em tempo de escassez hí-
Desde o início, o Projeto Manuel- no “FestiVelhas Jequitibá 2007” fortale- drica. O FestiVelhas Itabirito é uma realiza-
zão se empenhou em mudar esse paradig- cemos os debates e procuramos sinalizar ção do Projeto Manuelzão em parceria com
ma de progresso sem conservação, que a riqueza do passado através do folclore a prefeitura de local e o Comitê de bacia do
aniquila as veredas e a fauna das Gerais, presente em todas as regiões da bacia. Já o Rio das Velhas. u
Manuelzão • 07.2015 festivelhas 2015 ARTE E CULTURA NA BACIA DO RIO DAS VELHAS 21

Capoeira Cativeiro Carlos Bolívia cia. Belkiss Amorim


Fundado em 1978 por cinco mes- O “cantautor” mescla gêneros como Há 32 anos o premiado grupo de
tres, incluindo o Miguel Machado, samba, rock e música caribenha em dança clássica e contemporânea
hoje o grupo itabiritense é coorde- canções sobre o cotidiano da cida- de Lagoa Santa encanta com suas
nado pelo Mestre Beto Braga e dá de, em busca de um diálogo próxi- coreografias ecléticas, sempre as-
verdadeiras aulas de capoeira. mo com o público. sociadas à cultura brasileira.

Contato 31 8849.4090 Contato 31 9931.8088 Contato 31 8778.0406

cia. primitiva circo em cena fanfarra da paz


O rico e importante histórico afri- Com o objetivo de difundir a cul- A Fanpaz de Itabirito trabalha com
cano, se faz presente nas apre- tura circense, a companhia encanta crianças, jovens e adultos, promo-
sentações desse grupo que se ca- crianças e adultos com espetáculos, vendo o desenvolvimento musical
racteriza pela força da raça e suas oficinas e intervenções, adaptando- e cultural de seus integrantes em
conquistas. se aos mais diversos espaços. apresentações por Minas Gerais.

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FLOR DO CERRADO gabriel guedes ganga b. & congadar


Formado por professores de Geo- Após gravar um disco interpretan- De um lado, a banda Ganga Bruta
grafia, Artes e Literatura, além de do chorinhos de seu avô Godofredo carrega em suas músicas uma mar-
cantores e compositores, o grupo Guedes, o também músico Gabriel ca de Blues, do outro o Congadar
canta para falar de amor, poesia e Guedes está lançando um novo tra- representa o Congado; ambos esti-
sertão. balho, agora autoral. los originados da África.

Contato 31 3395.4672 Contato 31 9553.3279 Contato 31 3771.2743


22 festivelhas 2015 ARTE E CULTURA NA BACIA DO RIO DAS VELHAS Manuelzão • 07.2015

alto batuque grupo urucum libre cantare


Com batidas fortes e um som vi- Grupo de amigos que se reuniram O coral infanto-juvenil de Itabirito
brante, o grupo de BH usa a per- para criar um bloco caricato e levar representa um marco da cultura
cussão para encantar o público, to- para as ruas grandes nomes da bos- local. Seu estilo inconfundível traz
cando corações e fazendo com que sa, da tropicália, do baião, das ciran- positividade e alegria aos cora-
todos participem do show. das de roda, da MPB e do axé. ções de quem os ouve.

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Lil Rinox Lollipop Chinatown Meninas de Sinhá


Atual e com estilo próprio, os MCs Desde 2012 a banda reúne músicos Jovens senhoras que encontram
tomam conta da nova geração. Lil com trajetórias musicais diferentes, em velhas cantigas de roda uma
Rinox não é diferente e com seus mas um objetivo em comum: criar forma de rejuvenescer. Entregam-
shows de rap e duelo de MCs cha- um som visceral a partir das vivên- se à arte, tocando seus instrumen-
ma a galera para dançar. cias com rock, eletro e MPB. tos e o coração de quem as assiste.

Contato 31 7536.7988 Contato 31 9398.5048 Contato 31 9243.3291 . 8862.0937

Orquestra Jovem Pereira da Viola Romero Bicalho


As orquestras jovens Vallourec, Es- O violeiro, rabequeiro, cantor e com- O músico canta sobre as coisas
cola Estadual Padre João Botelho e positor de Teófilo Otoni tem uma simples da vida, como os valores
o Grupo de Câmara participam do carreira reconhecida em todo territó- humanos e a beleza de sua terra,
projeto que já realizou mais de 200 rio brasileiro: um verdadeiro ícone da numa mescla de samba, reggae e
apresentações em Minas. viola caipira. Música Popular Brasileira.

Contato 31 3225.9746 Contato 31 9973.1246 Contato 31 3541.2868 . 8809.4202


Manuelzão • 07.2015 festivelhas 2015 ARTE E CULTURA NA BACIA DO RIO DAS VELHAS 23

Soneto da Meditação

Com quantas bombas se


destrói o mundo? Quanto
cimento faz um coração?
Com quantos mortos
se ganha uma guerra?
Com quantas serras, a
Rosas do S. Bernardo Samba de Cumpadre devastação?
Oriundo do projeto Senhores e Ricardo Coelho (voz e violão) e Vini-
Senhoras do Tempo, o grupo de cius Nascimento (percussão) tocam Com quanto lixo se
mulheres trabalha desde 2008 pela canções autorais e interpretam gran- assassina um rio? Com
cultura popular e pelo resgate da des artistas do samba de raiz. Já se quantos votos se vende uma
memória do patrimônio cultural. apresentaram em vários locais. nação? Com quanto ouro se
Contato 31 3491.8620 . 3456.2609 Contato 31 8628.9207 . 9641.7259 faz uma vida? Com quantos
brios, uma insurreição?

De quanto tempo o futuro


é feito? Quanto amor
enternece um peito? Quantos
compassos para uma
canção?

Com quantos passos se faz


um caminho? Com quantos
laços se trança o carinho?
Severino Iabá Vilmar e o Trio Viva a esperança da reflexão!
Salve Nossa Mãe terra! Poeta, o A banda “Vilmar e o Trio Lapinhô”,
artista mineiro dedica seus ver- de Lapinha da Serra, representa a Viva o FestiVelhas! Viva
sos a natureza, ao meio ambiente cultura popular da Serra Espinhaço, Itabirito! Viva a força da
e, em especial, aos guardiões das a cantoria regional brasileira e a pre- nossa união.
nossas águas. servação ambiental das serras.
Tadeu Martins
Contato 31 9171.1314 Contato 31 8736.6422 . 2510.6558

aCERVO mANUELZÃO

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