Pós-graduação ALEPI: Constitucional e Administrativo
Disciplina: Controle da Administração Pública e Improbidade Administrativa
Alunos: Maria Clara Rufino e José Dantas da Fonsêca Júnior
Questões Improbidade
1. A indisponibilidade pode ser decretada ANTES do recebimento da petição inicial da
ação de improbidade? Sim. Um dos objetivos da Lei de Improbidade Administrativa (LIA) é a proteção do patrimônio público, assim o art. 7° da LIA prevê a indisponibilidade dos bens quando o ato de improbidade causar lesão ao patrimônio público ou ensejar enriquecimento ilícito. Como o procedimento para a indisponibilidade não está previsto aplica-se subsidiariamente o Código de Processo Civil. A indisponibilidade é uma medida de cautela, pois ela visa garantir a tutela judicial ao final do processo, as medidas assecuratórias podem ocorrer tanto de modo incidental como de modo cautelar. Na mesma esteira o entendimento da jurisprudência do STJ indica que é possível que o julgador entender presentes fortes indícios de responsabilidade na prática de ato de improbidade que cause dano ao Erário, estando o periculum in mora implícito e atendidas as circunstâncias presentes no artigo 37, § 4º, da CF/88. (AgRg no REsp 1317653/SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, Segunda Turma, julgado em 07/03/2013, DJe 13/03/2013).
2. Instaurado o procedimento administrativo para apurar a improbidade, conforme
permite o art. 14 da LIA, a indisponibilidade dos bens pode ser decretada ANTES mesmo de encerrado esse procedimento? Sim, o art. 14 trata do procedimento administrativo para apuração de ato de improbidade administrativa, esse procedimento visa levantar indícios suficientes para comprovação da improbidade, evitando, assim, ações de improbidades infundada e com o término do procedimento administrativo será tomada as medidas cabíveis. Ocorre que durante o procedimento a autoridade competente pode constatar que existe motivos para crê que o investigado esteja dilapidando seu patrimônio ou praticando atos que possivelmente impossibilite a aplicação das medidas da Ação de Improbidade Administrativa. A autoridade administrativa não possui o poder geral de cautela, que é próprio as autoridades judiciais, assim ela deverá representar ao Ministério Público ou ao órgão de representação da Pessoa Jurídica que esteja vinculada para solicitar a indisponibilidade de bens antes de encerrado o procedimento. Da mesma forma o julgado do STF entende que havendo o periculum in mora implícito, e possível que a indisponibilidade e sequestro dos bens seja decretada antes de encerrado o procedimento.
3. Em janeiro de 2018, o Ministério Público de um estado da União começou a apurar
possíveis irregularidades referentes a contratos com empresas de transporte urbano no âmbito de determinada prefeitura municipal daquele estado. Para realizar as diligências, o órgão ministerial requisitou informações à referida prefeitura, por meio de ofícios, que foram encaminhados ao então secretário municipal de urbanismo, Sr. José Silva. Ao todo, foram expedidos pelo parquet, no período de dez meses, entre janeiro de 2018 e outubro de 2018, oito ofícios, que não obtiveram resposta do mencionado secretário. Posteriormente, o sr. José Silva fez consultas à Procuradoria-Geral do município citado acerca dos possíveis desdobramentos da sua omissão à luz dos dispositivos da Lei 8.429/1992. Considerando essa situação hipotética e os aspectos legais a ela relacionados, julgue e explique o item abaixo: A conduta omissiva do sr. José Silva poderá caracterizar ato de improbidade administrativa que atenta contra os princípios da administração pública mesmo que não seja comprovado o elemento subjetivo do dolo para violar tais princípios. Não, pois de acordo com a lei 8429/92, em seus artigos 9 a 11, é necessária a comprovação do dolo, sendo o único crime que aceita o dolo ou culpa o prejuízo ao erário.
4. É possível Acordo, Transação ou Conciliação na Ação de Improbidade Administrativa?
Explique. Não, pois de acordo com o artigo 17, § 1º, é vedada a transação, conciliação e o acordo em ações de improbidade, devido ao principio da indisponibilidade do interesse publico. De acordo com Celso Antonio Bandeira de Melo, essa indisponibilidade significa que sendo interesse próprio da coletividade não se encontra a disposição de quem quer que seja. O próprio órgão administrativo não tem disponibilidade sobre eles, sendo apenas incumbido de curá-los. Ocorre, todavia, que há normas as quais autorizam a aplicação de uma espécie do gênero justiça negociada: o termo de ajustamento de conduta. A Resolução CNMP 179/2017 – que regulamenta o Termo de Ajustamento de Conduta – dispõe, em seu artigo 1º, § 2º, inovando completamente o que se tinha até então, que “é cabível o compromisso de ajustamento de conduta nas hipóteses configuradoras de improbidade administrativa, sem prejuízo do ressarcimento ao erário e da aplicação de uma ou algumas das sanções previstas em lei, de acordo com a conduta ou o ato praticado”. Mais tarde, em 2018, uma alteração na Lei de Introdução às Normas do Direito Brasileiro acresceu o artigo 26, caput, que passou a definir que “para eliminar irregularidade, incerteza jurídica ou situação contenciosa na aplicação do direito público, inclusive no caso de expedição de licença, a autoridade administrativa poderá, após oitiva do órgão jurídico e, quando for o caso, após realização de consulta pública, e presentes razões de relevante interesse geral, celebrar compromisso com os interessados, observado a legislação aplicável, o qual só produzirá efeitos a partir de sua publicação oficial”. Tais dispositivos, a bem da verdade, decorrem de um novo paradigma para auxiliar o Estado no enfrentamento aos ilícitos administrativos. Com a inerente limitação dos órgãos investigativos, bem como com a complexidade e evolução dos esquemas criminosos, cada vez mais é necessário que sejam permitidos novos meios de obtenção de provas.