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DOCÊNCIA E

EMPREENDEDORISMO

Professores: Dr.ª Leociléa Aparecida Vieira


DIREÇÃO

Reitor Wilson de Matos Silva


Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho
Pró-Reitor de EAD Willian Victor Kendrick de Matos Silva
Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA

Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho


Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha
Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Pinelli
Head de Planejamento de Ensino Camilla Cocchia
Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo
Supervisão do Núcleo de Produção de
Materiais Nádila de Almeida Toledo
Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey
Projeto Gráfico Thayla Guimarães
Design Educacional Giovana Vieira Cardoso
Design Gráfico Isabela Mezzaroba Belido
Qualidade Textual Estela Pereira dos Santos / Kaio Vinicius Cardoso Gomes

C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação


a Distância; VIEIRA, Leociléa Aparecida;

Docência e Currículo no Ensino Superior . Leociléa
Aparecida Vieira.
Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.
30 p.
“Pós-graduação Universo - EaD”.
1. Docência. 2. Currículo. 3. EaD. I. Título.

CDD - 22 ed. 370.7


CIP - NBR 12899 - AACR/2

NEAD - Núcleo de Educação a Distância


Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900
Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360
sumário
01 |09 DOCÊNCIA E EMPREENDEDORISMO: EM BUSCA DE
SIGNIFICADOS

02 |13 O ENSINO E O EXERCÍCIO DA PROFISSÃO DOCENTE:


SABERES E COMPETÊNCIAS

03 |19 EMPREENDEDORISMO E SUAS RELAÇÕES COM A


FORMAÇÃO DOCENTE
DOCÊNCIA E EMPREENDEDORISMO

OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
•• Contextualizar sobre a docência.
•• Conceituar o que é empreendedorismo.
•• Refletir sobre o significado da docência enquanto profissão.
•• Identificar as relações do empreendedorismo com a formação escolar.

PLANO DE ESTUDO

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:


•• Docência e empreendedorismo: em busca de significados
•• O ensino e o exercício da profissão docente: saberes e competências
•• Empreendedorismo e suas relações com a formação docente
INTRODUÇÃO

Caro(a) Acadêmico(a), as realidades sociais, econômicas, políticas e culturais das di-


versas sociedades humanas, na era da globalização, passam a exigir da escola e dos
profissionais que nela atuam mudanças em seus projetos educativos, para atender
às demandas de formação de uma nova cidadania, sob a ótica da justiça e da supe-
ração das desigualdades sociais.

Nesta sociedade, os objetivos da docência se alteram, o professor, outrora um mero


transmissor de conteúdos, deve ser o mediador dos conhecimentos acumulados
pela humanidade aos alunos, a quem cabendo a estes assimilarem os conteúdos e
se sentirem motivados a aprender.

Sendo assim, pensar na profissão docente é um assunto amplo e abrangente. Para


termos uma noção, as práticas docentes no Brasil iniciaram-se a partir de 1500, com a
vinda dos padres jesuítas. Dessa forma, faremos um recorte iniciando sobre os signifi-
cados para os vocábulos docência e empreendedorismo, na sequência apresentamos
os saberes e competências necessários ao profissional docente e, posteriormente, as
relações do empreendedorismo com a formação docente.

É importante ressaltarmos que a formação docente empenha-se no estudo dos


processos pelos quais os professores aprendem e desenvolvem sua competência
profissional. Ela é um processo que não é assistemático, pontual ou improvisado,
mas sim, sistemático e organizado, que possui uma dimensão individual ou grupal.

Diante disso, este capítulo tem por intuito refletir sobre as inter-relações da docência
e empreendedorismo. Lembramos que a docência, como profissão, exige do profes-
sor o domínio adequado da ciência, da técnica e da arte inerentes a ela, isto é, requer
competência profissional.

A partir daqui, convidamos você para mergulhar conosco nesta reflexão e, encon-
trar respostas para o seguinte questionamento: de que maneira um profissional da
educação, em nosso país, pode ser empreendedor?

Boa reflexão!!!
Pós-Universo 7
8 Pós-Universo
Pós-Universo 9

DOCÊNCIA E
EMPREENDEDORISMO:
EM BUSCA DE
SIGNIFICADOS
Em busca dos significados para os termos “docência” e “empreendedorismo”, inicia-
mos pelo entendimento de docência. Recorremos ao dicionário Houaiss ([2018],
on-line)1 e descobrimos que etimologicamente, é uma palavra derivada do latim
“docēre, no sentido de ensinar, instruir, mostrar, indicar, dar a entender”, também sig-
nifica “ação de ensinar; exercício do magistério; qualidade de docente”. Notem que
quando ouvimos a palavra “docência”, logo nos vem à mente à figura do professor,
não é mesmo?
De acordo com Paquay e Wagner (2001), a docência é uma atividade assentada
em paradigmas, que tem por intuito transmitir o saber científico de geração a geração.

saiba mais

Paradigmas “são as realizações cientificas universalmente reconhecidas que,


durante algum tempo, fornecerem problemas e soluções modelares para
uma comunidade de praticantes de uma ciência”.

Fonte: adaptado de Kuhn (1991, p. 13).


10 Pós-Universo

Paquay e Wagner (2001, p. 136) elencam seis tipos de paradigmas relativos à natureza
de ensino, os quais denominam como competências de um profissional do ensino:

•• Um professor culto, que domina os saberes.

•• Um técnico, que adquiriu sistematicamente os saber-fazer técnicos.

•• Um prático artesão, que adquiriu no próprio terreno esquemas de ação


contextualizados.

•• Um prático reflexivo, que construiu para si um “saber da experiência” siste-


mático e comunicável, mais ou menos teorizado.

•• Um ator social, engajado em projetos coletivos e consciente dos desafios


antropossociais das práticas cotidianas.

•• Uma pessoa em relação a si mesma e em autodesenvolvimento.

Diante do que foi exposto, percebemos que a ação docente demanda vários requi-
sitos por parte do profissional que a exerce.
Nas palavras de Gómez Pérez (1997, p. 122), a docência é

““
[...] um processo de investigação na ação, mediante o qual o professor sub-
merge no mundo complexo da aula para compreendê-la de forma crítica e
vital, implicando-se afectiva e cognitivamente nas interacções da situação
real, questionando as suas próprias crenças e explicações, propondo e ex-
perimentando alternativas, participando na reconstrução permanente da
realidade escolar.

Nesse sentido, a docência é entendida como uma atividade prática, alicerçada na re-
flexão e sobre a ação. Atividades estas que possibilitam reconstruir, constantemente,
as questões educacionais.
Pós-Universo 11

atenção

O aprendizado só é possível na prática. Ela coloca o professor em contato


com conhecimentos que não estão disponíveis em outra parte e permite-
-lhe assimilar condutas, rotinas circunstanciadas, isto é, nas circunstâncias e
no momento em que elas são eficazes. Além disso, permite vivenciar seus
resultados. Esse aprendizado na ação supõe um posicionamento de ator
(insider) por parte do professor, ele pode agir nas situações, modificá-las,
experimentando novas condutas, mais do que sofrê-las.

Fonte: adaptado de Charlier (2001).

Agora que você já sabe o que significa docência, que tal conhecermos o significado
de empreendedorismo? Vejamos!
Empreendedorismo é uma palavra de origem francesa “entrepreuner”. De acordo
com o dicionário Houaiss (on-line)1, significa “disposição ou capacidade de idealizar,
coordenar e realizar projetos, serviços, negócios” e ‘iniciativa de implementar novos
negócios ou mudanças em empresas já existentes com alterações quem envolvem
inovação e riscos”.

De acordo com Peters, Hisrich e Sheperd (2009), na Idade Média, o termo empreen-
dedor foi utilizado para participantes e administradores de projetos de produção
relevantes. Entretanto, nessa época cabia a eles o gerenciamento dos projetos, cujos
recursos eram advindos, em sua maioria, do governo de um país e, nesse sentido, o
empreendedor não corria riscos financeiros.
12 Pós-Universo

Os primeiros indicativos de empreendedorismo, como assumir riscos por parte


do empreendedor, remontam ao século XVII. A partir de então, o sujeito (empreen-
dedor) firmava um contrato com o governo para a prestação de algum serviço ou
fornecimento de produtos, mas o risco era por sua conta.
O mérito da criação do termo “empreendedorismo” é atribuído ao economista
francês Richard Cantillon (1680-1734), o primeiro pesquisador a diferenciar aquele
que assume risco (empreendedor), daquele que fornecia o capital (capitalista). O
empreendedor comprava a matéria-prima, geralmente produtos agrícolas, por um
preço determinado, processava e revendia por um preço incerto e criavam, assim,
uma oportunidade de negócio.
Entretanto, a palavra empreendedorismo foi utilizada pela primeira vez em 1950,
pelo economista Joseph Schumpeter (1883-1960). Empreendedor para ele era uma
pessoa criativa e inovadora. Este conceito foi alterado em 1967, quando Knight men-
ciona que um sujeito empreendedor era aquele que se arrisca em algum negócio.
Esta interpretação foi reforçada por Peter Drucker em 1970.

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Na atualidade, empreendedor é “aquele capaz de deixar os integrantes da


empresa surpreendidos, sempre pronto a trazer e gerir novas ideias, produtos,
ou mudar tudo o que já existe. É um otimista que vive no futuro, transfor-
mando crises em oportunidades e exercendo influência nas pessoas para
guiá-las em direção às suas ideias. É aquele que cria algo novo ou inova o
que já existe e está sempre pesquisando. É o que busca novos negócios e
oportunidades com a preocupação na melhoria dos produtos e serviços.
Suas ações baseiam-se nas necessidades do mercado”.

Fonte: adaptado de Felippe (1996).

No Brasil, o termo empreendedorismo se popularizou a partir da década de 90, devido


a abertura da economia (entrada de produtos importados no país). Atualmente, é
empregado em todas os setores, inclusive, na área educacional.
Pós-Universo 13

O ENSINO E O
EXERCÍCIO DA
PROFISSÃO
DOCENTE: SABERES E
COMPETÊNCIAS
A reflexão dos saberes e competências, no exercício da profissão docente, perpas-
sam pelo entendimento de prática pedagógica e prática docente.

reflita

Você já pensou para que servem as práticas docentes e em que conteú-


doelas se aplicam?
14 Pós-Universo

Comumente, prática pedagógica e prática docente são tidas como sinôminos.


Entretanto, alguns pesquisadores militantes da área da educação, fazem distinção
entre estas expressões. Dentre eles, Gimeno Sacristán (1999) e Franco (2012).
Então, vejamos primeiro o que significam práticas pedagógicas. Franco (2012, p.
152), entende as práticas pedagógicas como “práticas sociais exercidas com a fina-
lidade de concretizar processos pedagógicos, organizadas intencionalmente para
atender a determinadas expectativas educacionais solicitadas/requeridas por dada
comunidade social”.
As práticas pedagógicas se organizam para dar conta de determinadas expecta-
tivas educacionais de um grupo social.

““
Elas adentram na cultura escolar, expandem-se na cultura social e modificam-
-na; expressam interesses explícitos ou disfarçados; demonstram a qualidade
dos processos educativos de uma sociedade, marcando uma intervenção
nos processos educacionais mais espontaneístas; condicionam e instituem
as práticas docentes (FRANCO, 2012, p. 152).

Ainda, segundo a autora supracitada, essas práticas devem ser compreendidas na


perspectiva da totalidade, pois expressam um determinado momento e/ou espaço
histórico permeado pelas relações de produção, culturais, sociais e ideológicas.
Produzem, desse modo uma dinâmica entre o dentro e fora da escola.
A prática pedagógica se desenvolve sustentada em um conjunto de concepções
e visões de mundo. Assim, alguns saberes e experiências influenciam as decisões do
planejamento de ensino por parte dos docentes, são eles: os saberes sobre a cultura
dos alunos (quais são suas visões de mundo, de que maneira expressam seus co-
nhecimentos); os saberes didáticos (ação pedagógica); os saberes políticos (porque
se ensina, contra o que e a favor de quem se exerce a docência) e os saberes vividos
(escolha didática e do percurso metodológico).
Agora que você já sabe o que significa prática pedagógica, que tal conhecermos
o que se entende por prática docente?
Pós-Universo 15

Com relação à prática docente, Franco (2012, p. 160) menciona que ela se “exerce
com finalidade, planejamento, acompanhamento, vigilância, crítica, responsabilida-
de social”. Assim, está relacionada à forma como o professor dá sentido para sua aula,
qual foco ele encaminha para a formação do aluno e de que maneira acompanha os
interesses dos discentes para que aprendam. Nesse caso, o professor age como um
vigia crítico no processo de ensino-aprendizagem.
Franco (2012, p.159), declara, ainda, que “as práticas docentes não se transformam
de dentro da sala de aula para fora, mas ao contrário” e, é por meio da prática peda-
gógica que ela é transformada, seja para o melhor ou para o pior. A autora afirma
que a prática docente não subsiste por si só, ou seja, ela não pode estar desconecta-
das de um todo, sem o fundamento das práticas pedagógicas, pois são estas últimas
que lhes dão sentido e direção a ação docente.
Franco e Gilberto (2010, p. 2, on-line)2, alertam que

““
[...] a complexidade da prática docente também se vislumbra no atual cenário
da sala de aula, com a inclusão de alunos oriundos de diferentes camadas
sociais, o que vem exigindo do professor um olhar diferenciado para melhor
compreensão da prática que desenvolve.

Neste sentido, a prática vai além do domínio de técnicas por parte do professor, mas
demanda que ele compreenda o contexto social e cultural, no qual a prática docente
se efetiva. Conforme Tardif (2002), o professor é um profissional dotado de razão, no
entanto sua prática pedagógica é construída no processo de aprender fazendo e co-
nhecer fazendo.

atenção

A prática docente não se circunscreve no visível da prática pedagógica


em sala de aula e não é exterior às condições sociais, emocionais, profis-
sionais e culturais do professor, como também não se realiza unicamente
nos procedimentos didático-metodológicos utilizados em sala de aula. [...]
há todo um sistema de representações coletivas e configurações pessoais
que determinam as decisões do docente frente às demandas institucionais
e organizacionais.
Fonte: adaptado de Franco e Gilberto (2010).
16 Pós-Universo

Azevedo e Alves (2004, p. 8) acrescentam que não se deve desconsiderar e nem des-
qualificar a prática docente gestada no cotidiano escolar.

““
É nesse contexto – o do cotidiano escolar – que são forjados os docentes.
Nele se aprende a ser professor sendo professor. Nessa materialidade – eu,
turma, conteúdos escolares, tempos escolares, localização da escola, cursos
de formação, políticas educacionais (nacional, regional, local) – nossas redes
vão sendo fortemente confrontadas, esgarçadas e refeitas, continuamente.
Só se aprende a fazer fazendo [...] é no instante em que assumimos a respon-
sabilidade de uma turma que vamos aprendendo a ser professor.

Azevedo (2004, p. 15), complementa ainda que:

““
[...] o cotidiano se constitui num espaço de formação porque nele se dá a
relação com um outro (singular e plural), com o saber, com o não-saber,
comigo mesmo. Nele transitam e são operadas múltiplas e complexas ne-
gociações e traduções entre as políticas educacionais e as redes de cada um
dos sujeitos do processo, nelas incluídas as trajetórias escolares, a formação
acadêmica, as expectativas e os desejos.

Para Gimeno Sacristán (1999, p. 74), a prática pedagógica constitui “toda a bagagem
cultural consolidada acerca da atividade educativa, que denominamos propriamen-
te como prática ou cultura sobre a prática”. Já a prática educativa, constitui-se pelas
vivências, os conflitos, as trocas profissionais entre os pares e as experiências acumu-
ladas pelos docentes sobre o processo de ensino e aprendizagem.
No que se refere às práticas pedagógicas, Gimeno Sacristán (1999) propõe consi-
derarmos ao menos quatro tipos mais ou menos organizados: as práticas institucionais
(relacionadas com a estrutura e o funcionamento do sistema escolar); as práticas or-
ganizativas (relativas à configuração e funcionamento da instituição educativa); as
práticas didáticas (relativas às ações e interações sob a responsabilidade imediata do
professor); as práticas concorrentes (relativas às práticas sociais mais amplas, não es-
tritamente pedagógicas).
Altet (2001, p. 24), por sua vez, propõe uma formação dos professores “a partir
da prática para que haja reflexão sobre as práticas reais”, unindo três processos dife-
rentes e suas respectivas lógicas: formação, ação e pesquisa e a seguinte tipologia:
saberes teóricos, os saberes práticos e os saberes intermediários.
Pós-Universo 17

Os saberes teóricos são indissociáveis, subdividem-se em: saberes a serem ensi-


nados (disciplinares e didáticos que possibilitam a aquisição de saberes constituídos
e exteriores aos alunos) e os saberes para ensinar (pedagógicos sobre a gestão inte-
rativa em sala de aula, os didáticos nas diferentes disciplinas e os saberes da cultura
que o transmite.
Os saberes práticos, também conhecidos como saberes empíricos ou da expe-
riência, são oriundos das experiências cotidianas da profissão, contextualizados e
adquiridos em situação de trabalho.
O saber da prática é construído na ação, com a finalidade de ser eficaz. Ele é
contextualizado, encarnado e finalizado, transformando-se em um saber adaptado
à situação. Essa adaptação do saber é construída a partir da experiência vivida, com
a ajuda de percepções e interpretações dadas às situações anteriormente vividas.
Os saberes oriundos da prática são os saberes de integração. O professor reúne
um grande número de elementos da situação para se adaptar e agir. Essa articulação
entre saberes e adaptação, na ação, ocorre implicitamente e requer uma reflexão do
profissional sobre seus atos.
Já os saberes intermediários são aqueles utilizados para analisar, ler, nomear e teo-
rizar as práticas. São conceitos operatórios para por as práticas em palavras, os quais
são chamados de saberes instrumentais e que descrevem a prática.
Conforme podemos perceber, a prática docente é permeada ora por saberes
oriundos da academia, ora da experiência vivenciada em sala de aula, sempre sub-
sidiada pela prática pedagógica.

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O saber é um constructo social produzido pela racionalidade concreta dos


atores, por suas deliberações, racionalizações e motivações, as quais são a
fonte de seus julgamentos, escolhas e decisões. As competências profissionais
do professor estão diretamente ligadas a suas capacidades de racionalizar
sua própria prática, de criticá-la, de revisá-la, de objetivá-la, empenhando-se
em fundamentá-la sobre razões de agir. Nesse sentido, o prático reflexivo
corresponde ao profissional dotado de razão, concebido em função de uma
abordagem mais argumentativa e deliberativa do que cognitiva.

Fonte: adaptado de Tardif (2002).


18 Pós-Universo
Pós-Universo 19

EMPREENDEDORISMO E
SUAS RELAÇÕES COM A
FORMAÇÃO DOCENTE
Já vimos o que é docência, empreendedorismo, os saberes e competências necessá-
rios para a profissão do professor e agora você deve estar curioso(a) para compreender
qual é a relação do empreendedorismo com a formação do professor, não é? Pois,
então vamos adiante!
Constamos que uma das características do empreendedor é ser criativo e ino-
vador, isto indica que o sujeito não pode se acomodar, tem de estar em constante
transformação. De acordo com Dolabela (2008, p. 60), empreendedor

““
[...] é aquele que se dedica à geração de riquezas, seja por meio da transfor-
mação de conhecimentos em produtos ou serviços, na geração do próprio
conhecimento ou na inovação nas diversas áreas existentes na organização.

O autor acrescenta que a pedagogia empreendedora

““
[...] toma o empreendedor como alguém capaz de gerar novos conhecimen-
tos a partir de uma dada plataforma, constituída por ‘saberes’ acumulados na
história de vida do indivíduo e que são os chamados quatro pilares da edu-
cação’ – aprender a saber, aprender a fazer, aprender a conviver e aprender
a ser (DOLABELA, 2003, p. 26).

Sendo assim, no que diz respeito à educação, é necessário que a escola não seja um
ambiente estático, mas sim, seja uma instituição empreendedora, que, por meio de
docentes comprometidos e qualificados, propicie a elaboração de pesquisas e o de-
senvolvimento de projetos inovadores.
Nas palavras de Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p, 98), a escola empreen-
dedora é aquela que
20 Pós-Universo

““
[...] não só focalizou o processo de formação de estratégia exclusivamente
no líder único, mas também enfatizou o mais inato dos estados e processos
– intuição, julgamento, sabedoria, experiência, critério. Isto promove uma
visão da estratégia como perspectiva, associada com imagem e senso de
direção, isto é visão.

Nesse sentido, o profissional da educação tem um enorme desafio, pois compete a


ele estimular e promover o pensamento criativo e inovador de seus alunos, incenti-
vando-os, constantemente, à produção e construção de conhecimentos, por meio
de resolução de problemas.
Gimeno Sacristán (1999) depende que a profissão do professor exige a articulação
entre as diferentes práticas (institucionais, organizativas, didáticas e concorrentes) .
Sendo assim, os docentes desempenham várias atividades educativas, sobre as quais
não têm poder de negociação e livre arbítrio.

Nesse sentido, Perrenoud et al. (2001, p. 223), alertam que se tornar um professor pro-
fissional é, acima de tudo, aprender a refletir sobre a prática, não somente a posteriori,
mas no momento mesmo da ação. É tomar essa distância que permite adaptar-se a
situações inéditas e, sobretudo, aprender a partir das experiências.
Pós-Universo 21

Nas palavras de Lopes (2010, p. 139), o docente para desenvolver as capacidades


de um aluno empreendedor deve fazer uso de algumas práticas pedagógicas e/ou
procedimentos metodológicos, tais como:

““
a) Workshops e discussões em grandes grupos; b) revisões críticas; c) apre-
sentações; d) ensino em pares; e) aconselhamento em pares; f ) resolução
de problemas reais; g) simulação de resolução de problemas; h) debates; i)
estudo de casos; j) uso de incidentes críticos; k) enfoques de consultorias e
aconselhamento (coaching); l) aprendizagem por experiências; m) brainstor-
ming; n) aprendizagem investigativa; o) vídeo interativo; p) aprendizagem
baseada em informática; q) seminários; r) aulas expositivas; s) apostilas, livros
textos etc.

saiba mais

Brainstorming é o nome dado para técnica grupal (ou individual) na qual


são realizados exercícios mentais com a finalidade de resolver problemas
específicos. O termo no Brasil também é conhecido como ‘Tempestade de
ideias’. Tal técnica vem sendo considerada a espinha dorsal em muitas áreas,
como a Publicidade, o Marketing, a Gestão de Processos, bem como em
todas as ramificações da engenharia.

Fonte: Ramos ([2018], on-line)2.


22 Pós-Universo

Até aqui nós vimos as demandas da escola e do docente para formar o empreende-
dor, mas quais os requisitos necessários em relação à formação docente? Ou ainda,
em que consiste a formação docente?

Segundo Garcia (1999, p. 26):

““
[...] a formação de professores é a área de conhecimentos, investigação e de
propostas e práticas que, no âmbito da Didática e da Organização Escolar,
estuda os processos através dos quais os professores – em formação ou em
exercício – se implicam individualmente ou em equipe, em experiências de
aprendizagem através das quais adquirem ou melhoram os seus conhecimen-
tos, competências e disposições, e que lhes permite intervir profissionalmente
no desenvolvimento do seu ensino, do currículo e da escola, com o objetivo
de melhorar a qualidade da educação que os alunos recebem.

Nesse contexto, é preciso que o docente esteja sempre em transformação, buscar


conhecimentos constantemente, estar ciente de que a formação inicial não basta.
Assim, os profissionais da educação precisam se atualizar sempre, devem aprender
a reciclar seus saberes por meio da formação continuada.
Pós-Universo 23

De acordo com Candau (1996), a formação continuada é o processo dinâmico


por meio do qual, ao longo do tempo, um profissional vai adequando sua formação
às exigências de sua atividade profissional e que deve ter como locus da formação a
própria escola, ter como referência fundamental o reconhecimento e a valorização
do saber docente e levar em consideração as diferentes etapas do desenvolvimen-
to profissional.
É importante ressaltar que ser um professor empreendedor, na atualidade, nem
sempre é fácil, visto, que o docente passa por uma crise de identidade, consequência
das mudanças sociais e econômicas, que alteraram os padrões de ensino, da identi-
dade da escola e do professor (FAGUNDES, 2011).
Fagundes ressalta a desvalorização do trabalho do professor, atualmente, e alerta
sobre as políticas educacionais influenciadas por “princípios neoliberais do mercado,
os quais têm interferido e determinando a profissão do professor a um estado de
proletarização, a sua crescente desprofissionalização” (FAGUNDES, 2011, p. 114).
Em relação ao salário, a autora ressalta que eles são aviltantes se comparados
aos demais no mundo – são mais elevados apenas aos da Indonésia e do Peru. Este
fato faz com que os professores complementem seus salários atuando em mais de
uma jornada de trabalho, o que ocasiona, muitas vezes, o esgotamento mental do
docente. Estes fatores ocasionam uma crise na identidade docente costuma inibir o
comportamento empreendedor do profissional da educação.
atividades de estudo

1. Com relação ao significado de docência, pode-se afirmar que:

I) É uma palavra derivada do grego “ensinare”.


II) Tem por intuito transmitir o saber científico de geração a geração.
III) É uma atividade prática alicerçada na reflexão e sobre a ação.
IV) Instruir, indicar, dar a entender são umas das ações que lhe são atribuídas.

Marque a alternativa correta:


a) Somente as alternativas I, II e III.
b) Somente as alternativas I e IV.
c) Somente as alternativas I, III e IV.
d) Somente a alternativa I.
e) Somente as alternativas II, III e IV.

2. Em relação ao significado de empreendedorismo é incorreto afirmar que:

a) É uma palavra de origem francesa ”entrepreuner”.


b) Significa acomodar em uma situação para evitar riscos.
c) Significa disposição ou capacidade de idealizar, coordenar e realizar projetos.
d) Iniciativa de implementar novos negócios.
e) Mudanças em empresas já existentes com alterações que envolvem inovação e
riscos.

3. De acordo com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel (2000, p. 98), escola empreendedo-


ra é aquela que:

a) Focaliza o processo de formação de estratégias exclusivamente no líder.


b) Não estimula o sujeito à inovação.
c) Difunde que empreender é uma tarefa muito difícil e, portanto, não vale a pena
investir.
d) Enfatiza o mais inato dos estados e processos: intuição, julgamento, sabedoria,
experiência e critério.
e) Divulga que um empreendimento é algo extremamente seguro que não envolve
riscos.
resumo

Precisamos inovar! Empreender! São expressões que têm sido cada dia mais freqüente no am-
biente escolar. Entretanto, mudar o quê? Como? São os grandes questionamentos. Além de que
toda e qualquer transformação se faça em algum ambiente, corre-se o risco de obter sucesso ou
ser fadada ao infortúnio. É preciso conhecimentos teóricos para que possam subsidiar a prática.

Por esta razão é que neste capítulo conhecemos os significados para os termos docência e em-
preendedorismo com o intuito de percebermos que a docência é uma atividade prática alicerçada
na reflexão na e sobre a ação e tem por intuito mediar o conhecimento de geração em geração
e está assentada em princípios científicos.

Com relação ao empreendedorismo, vimos que é uma palavra originada da língua francesa e indica
a implementação de novos negócios ou mudanças em instituições já existentes, mas que envol-
vem riscos e que uma das características do sujeito empreendedor é a criatividade e a inovação.

Refletimos também sobre quais os saberes e competências necessários ao exercício da profissão


docente e ressaltamos que esse entendimento perpassa pelos significados de prática pedagógica
e prática docente. Vimos que a profissão do professor exige a articulação entre as diferentes prá-
ticas e de que os docentes desempenham várias atividades educativas, sobre as quais não tem
poder de negociação e livre arbítrio devido a inúmeros fatores que vão desde as políticas públi-
cas até a implantação do currículo.

Por fim, estudamos sobre as relações da formação docente com o empreendedorismo e ressal-
tamos que ser um professor empreendedor, na atualidade, nem sempre é fácil, haja vista, que o
docente passa por uma crise de identidade, consequência das mudanças sociais e econômicas,
que alteraram os padrões de ensino, da identidade da escola e do professor.
material complementar

Título: Pedagogia Empreendedora: o ensino de empreendedorismo na Educação Básica, voltado


para o desenvolvimento social e sustentável

Autor: Fernando Dolabela

Ano: 2003

Sinopse: a Pedagogia Empreendedora é uma metodo-


logia de ensino de empreendedorismo para a Educação
Básica: educação infantil até o ensino médio. Atinge,
portanto, idades de 4 a 17 anos. Assim, o livro aborda a
apresentação e fundamentos da metodologia de ensino
de empreendedorismo para crianças e jovens. Com es-
tratégia pedagógica que estimula a formação de sonhos
e a busca de sua realização, a ‘aula do sonho’ trabalha
pela formação de capital humano e social como meio
de promover a justa distribuição de renda, poder e co-
nhecimento na sociedade brasileira.

Título: Educação Empreendedora: conceitos, modelos


e práticas

Autor: Rose Mary A. Lopes

Ano: 2010

Sinopse: o livro trata de questões fundamentais


sobre a Educação Empreendedora (EE) no Brasil, não
se restringindo apenas ao plano teórico-conceitual.
Possui diversos exemplos de como a EE pode ser aplica-
da, quer seja no nível de ensino fundamental, quer seja
no nível superior (faculdades e universidades).
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²Em: <http://www.infoescola.com/administracao_/brainstorming/>. Acesso em: 7 fev. 2018.

³Em: <https://fernandodolabela.wordpress.com/servicos-oferecidos/pedagogia-empreendedo-
ra/>. Acesso em: 25 mar. 2017.
resolução de exercícios

1. e) Somente as alternativas II, III e IV.

2. b) Significa acomodar em uma situação para evitar riscos.

3. d) Enfatiza o mais inato dos estados e processos: intuição, julgamento, sabedoria, ex-
periência e critério.

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