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A meditação na escola

joaquim fernandes
Hoje às 00:01
joaquim fernandes
Hoje às 00:01
No quadro negro da escola portuguesa há uma palavra escrita em maiúsculas:
INFELICIDADE. Rezam recentes relatórios que variadas razões concorrem para o
desconforto da geração de infantes, marcados por desvios, débitos e insucessos: do
bullying ao assédio sexual, da violência verbal, e não só, entre géneros, à
desobediência face ao docente, da bulimia à privação do sono e do alimento, dislexias,
défices de atenção e hiperatividade, esta tão generosamente distribuída pelo país
jovem. Nesta síndrome, os números são de estarrecer: 5 milhões de doses diárias de
"ritalina" tomadas pelas crianças portuguesas até aos 15 anos, que vai domando
perturbações comportamentais, deixando no quarto escuro não menos ameaçadores
projetos de "zombies" em larga escala...
E contudo... - retomando o suposto murmúrio de Galileu ante os seus juízes - há
alternativas possíveis, testáveis, ao menos, para prover um apaziguamento deste
torvelinho de relações e atitudes desviantes em ambiente de ensino. Uma prática, ou
exercício, se quisermos - meditação na escola - vem ganhando força e forma em países
europeus e fora do Velho Continente, em comunidades do "primeiro mundo" em
matéria pedagógica.
A meditação na escola vem sendo praticada nos EUA e Canadá e, desde 2012, está
instaurada oficialmente na Bélgica, Países Baixos e Suécia, países na linha da frente
desta terapia. Na Grã-Bretanha e França, em escolas de Aixe-en-Provence e Pas-de-
Calais, ensaiaram-se igualmente os primeiros passos. Os benefícios parecem evidentes
e indiscutíveis, com a sustentação científica das ciências cognitivas e pedagógicas. A
sensibilidade anglo-saxónica e nórdica assume-se mais aberta a estas alternativas
terapêuticas: nos EUA, a meditação é aplicada em centenas de hospitais na gestão do
stress e nos cuidados paliativos do cancro terminal. Este é outro domínio que muito
nos alongaria.
Sem equívocos, a meditação de que se fala é uma estratégia de laicidade, e não uma
caricatura de pseudo-New Age, tal como se exige a um qualquer Estado secular, algo
que não é despiciendo e tem motivado algum debate em França, berço da
racionalidade. Uma questão sensível revê-se na escolha da pauta de recursos, a dirimir
entre as esferas pública e privada. Na pátria de Voltaire, neurocientistas, médicos e
pedagogos concordam nesta tese, acima das opções: a meditação favorece a atenção
da criança e promove o seu bem-estar. A meditação laica - ou plena consciência
(mindfulness), proposto nos anos de 1970 pelo psicólogo Jon Kabat-Zinn, do
prestigiado MIT - poderá ser mais do que uma moda passageira, concorrendo em
paralelo com o desenvolvimento da psicologia positiva e a recuperação do
pensamento simbólico de C. J. Jung.
Desta via nos apercebemos em 2001, quando da presença entre nós de Mathieu
Ricard, biólogo molecular e monge budista, conselheiro do Dalai Lama, e que tivemos a
grata oportunidade de convidar para o programa científico do "Porto, Capital Europeia
da Cultura". Já então o citado investigador tivera ocasião de divulgar alguns dados
científicos sobre os benefícios da meditação, sem sombra de pretensão em matéria de
proselitismo religioso. Um estudo da Universidade de Harvard, de 2005, revelava
alterações do córtex cerebral pré-frontal esquerdo - a região implicada nos processos
cognitivos, emocionais e do bem-estar - nos indivíduos praticantes da meditação
plena.
Sabe-se bem da mundividência do ioga enquanto componente destas práticas, mas
não se requer neste cenário uma linha teórica unívoca. Sobrarão variantes e novas
soluções geridas em função da diversidade dos problemas em sala de aula e dos
sujeitos em causa.
Adquiridos são os efeitos sobre a atenção, a concentração e, por outro lado, nas
relações interpessoais - apaziguamento, diminuição da violência - introduzindo a calma
e diminuindo a tensão. E saber que tudo pode começar a mudar pela respiração,
básico suporte da vida...
HISTORIADOR

Leia mais: A meditação na escola http://www.jn.pt/opiniao/convidados/interior/a-


meditacao-na-escola-5460919.html#ixzz4O6k2fROS
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