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Faz parte da grande família de línguas africanas a que a partir do século passado os europeus
convencionaram chamar Bantu (bantu significa «pessoas», e é plural de muntu. Em Kimbundu
mutu designa «pessoa», com o plural em atu).
Estes apontamentos foram elaborados com o intuito de ajudar todos aqueles que manifestam
preocupação em conhecer os entrelaçamentos da língua portuguesa com as línguas africanas.
Neste caso, o kimbundu foi uma das línguas de África que mais conviveu com o português,
pelo menos desde o século dezasseis até à actualidade.
Penso ser a primeira vez que na Internet aparecem apontamentos de uma língua africana
falada num PALOP.
Para a elaboração destes elementos gramaticais rudimentares não foi usada qualquer obra de
referência. Utilizei somente os meus conhecimentos pessoais.
1 - Regra geral
As palavras concordam entre si pelo prefixo, o que confere à língua grande musicalidade e
ritmo.
Muxima uami (O meu coração. Note-se a concordância mu — u, a regra seria mu - mu, mas
não a musicalidade)
Frase simples:
- A partícula ku aqui não é a desinência dos verbos, mas sim «perto» ou «dentro», mas sem
pormenorizar. Tem menos força que mu (dentro de, com especificação). Mas muitas vezes ku
e mu usam-se consoante a concordância rítmica.
- Por corruptela, o português vulgarizou kubata para designar a casa dos angolanos. Mas ku
bata ou ku dibata significa «em casa».
«Casa» também pode ser inzo (pl. jinzo). Assim: inzo iami (a minha casa), jinzo jietu (as nossas
casas), jinzo jiami (as minhas casas), jinzo jia (as casas deles)
- Mbanji ia (perto de — repare-se na concordância «mb» «i». Não podia ser de outra maneira)
- Dibata die (tua casa — die aqui refere-se a «teu, tua» e por isso o som é mais aberto do que o
diê referido a «seu, sua»
2 - Pronúncia e sons
Em Kimbundu os sons são abertos, com algumas excepções («uê»).
«g» é sempre «g» e nunca «jê» que, em kimbundu é sempre representado por «j»
Não há som «rr», quando muito, em algumas regiões, «r» muito fraco (como em «conversar»).
3 - Classes de nomes
A) MU — A
Só se aplica a pessoas
muhatu (mulher) — ahetu (plural irregular por não poder haver dois sons «a» seguidos)
B) MU — MI
O mesmo prefixo, desde que não se aplique a pessoas, forma plural diferente
C) DI — MA
Note-se que o «m» e o «n» iniciais antes de consoante nunca se lêem. A sua função é nasalar a
consoante.
No singular, a palavra seguinte deve começar por «i»: mpange ietu (o nosso companheiro);
tata ie (o teu pai); mama iami (a minha mãe); nja iami (o meu pénis).
Muitas vezes utiliza-se o singular como plural, mas a palavra seguinte vai para o plural:
mpange jietu (os nossos companheiros), ngulo jiami (os meus porcos)
F) KA — TU
G) Plurais irregulares
DI — ME
4) Verbos
A) Geral
Kuala (ser), Kuala ni (ter), Kubonga (apanhar), Kuia (ir), Kuiza (vir), Kudia (comer), Kukalakala
(trabalhar), Kusanga (encontrar), Kuloa (odiar), Kuzola (amar), Kutunda (sair)
B) Pronomes pessoais
Para se conjugarem os verbos, tal como nas outras línguas, utilizam-se os pronomes pessoais
que, em muitos casos, se sutentendem:
eme
eie
muene
etu
enu
ene
uami (o muxima uami - o meu coração; o dikamba diami - o meu amigo; o muhatu uami - a
minha mulher; o inzo iami - a minha casa)
D) Presente do indicativo
(eie) uala
(muene) uala
(etu) tuala
(enu) nuala
(ene) ala
ngala ni, uala ni, uala ni, tuala ni, nuala ni, ala ni
ngiza
uiza
uiza
tuiza
nuiza
iza
F) Futuro
(eme) ngondo kuiza (virei) — Neste caso o «ku» do verbo não cai. É um imperativo da
musicalidade da linguagem falada
Mas:
G) Passado
- Do verbo kuzeka
- Do verbo kuia
eme ngai (o presente é eme ngia, uia, uia, tuia, nuia, aia), eie uai, muene uai, etu tuai, enu
nuai, ene ai
ngexile ni, uexile ni, uexile ni, tuexile ni, nuexile ni, axile ni
H) Imperativo
Tunda! (sai!)
Diê! (come! — Para dar mais força à ordem, o «a» final do verbo - Kudia (acento no «u») - foi
substituido pelo som longo iê)
Dienu! (comei!)
Zekenu! (dormi!)
Este enu tem a ver com o significado «gentes», «pessoas» ( enu akua zanzala — as pessoas da
sanzala)
I) Negativa
(Meu filho, não saias! Meu filho, dorme! - Esta frase pertence a uma canção muito popular em
Luanda em Fevereiro de 1961. É o lamento de uma mãe que aconselha o filho a não sair de
casa por causa da Pide)
Eme ngeniami (ji)ndandu (Já não tenho parentes há muito tempo; a forma verbal ngeniami
significa «não tenho há muito tempo»)
J) Forma reflexa
(mona+ietu)
L) Pronomes reflexos
ngi, ku, mu, tu, nu, a
Em Kimbundu não há «o», «a» como reflexos, mas sim «lhe», «lhes».
Por isso no Português de Luanda se diz «eu vi-lhe»: Nga-ku-mona (eu vi-te)
Kitadi, mona-a-ngene (o dinheiro é filho alheio). Nota: ngene usa-se muito em kimbundu para
designar as coisas dos outros, alheias ( inzo ia ngene - casa alheia; kitadi-kia-ngene - dinheiro
alheio)
5) Forma de cumprimento
O cumprimento matinal é extremamente importante. Não tem nada a ver com o seco «bom
dia» ou «olá». É um cumprimento em que se estabelece uma relação social.
Depois disto pergunta-se pelos filhos, pela mãe, pela avó, etc.:
6) Sim, não
Kiene (sim)
- Kana! (não!)
7) Expressões de reforço
Nga-ku-zolo kiavulu muene! (Gosto mesmo muito de ti! - É a expressão mais poderosa usada
em kimbundu para manifestar directamente um grande amor)
Tuoloietu! (estmos juntos! - Há aqui duas partículas repetitivas designando a primeira pessoa
do plural: «tu». É um reforço muito comum no kimbundu)
8) Diversos
A)
Em Kimbundu não se diz «nasci» mas «nasceram-me», «nasceram-te», etc.: a-mu-vualela (ele
nasceu; literalmente: nasceram-lhe)
C) Ki (quando)
D) Kioso (todo)
Há regiões em que o «b» é duro e quase aspirado, como se tivesse um «v» à frente: «bvabva»
Hoji-ia-muhatu (leoa)
sanji — dikolombolo
G) Conversar
H) Artigo definido
Em Kimbundu só se usa «o» correspondente aos portugueses «o, a, os as».
I) Tempo
Mungu (amanhã)
Maza (ontem)
9) Alguns números
1-moxi
2-iadi
3-tatu
4-uana
5-tanu
6-samanu
7-sambuadi
10-kuinhi
Note-se a regra geral da língua, que atira os adjectivos para depois dos nomes e faz concordar
todas as palavras pelo prefixo:
Lumoxi, luiadi...
Ngadi ngo lumoxi (só comi uma vez)
10) Interjeições (algumas usam-se em Português de Luanda, que muitas vezes segue o
Kimbundu e não o Português de Portugal)
Haca! (Livra!)
Hela! (Caramba!)
Hum-hum (lamentação)
Tunda! (sai!)
11) Anga - ou
Kufua anga kutolola (Morrer ou vencer - slogan do MPLA nos anos 60)
12) Deus
13) Neologismos
A grande língua de referência do kimbundu é o português, a que ele recorre sempre que o seu
vocabulário (mais incompleto) apresenta lacunas. O kimbundu da cidade, por ter necessidade
de mais vocabulário, interpenetrou-se com o português local, importando variadíssimas
expressões.
* N.E. – Na grafia da língua portuguesa, quimbundo, e, na grafia desta lingua nacional angolan,
kimbundu.