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Donde Vem o Nome "Angola"

Os N'Golas

O nome "Angola" tem raíz no termo "Ngola" que era título de um dos potentados Ambundos que
existia no Antigo Reino do Ndongo, entre o Anzele, Ambaca e Pungo Andongo (nas actuais
províncias do Bengo, Kwanza Norte, Kwanza Sul e Malange) no tempo do início da expansão da
influência dos portugueses sobre o Antigo Reino de Ndongo, na segunda metade do Século XVI.

Ngola A Kiluanje (1515-56) foi o lider do potentado mais destacado do Antigo Reino do
Ndongo, sendo conhecido por Ngola A Kiluanje Inene (o Grande Ngola). Ngola A Kiluanje Inene
fundou uma dinastia do que mais tarde se havia de vir a conhecer como o Reino de Angola, que
entao compreendia, entre outros, os distritos da Ilamba, do Lumbo, do Hari, da Quissama, do
Haku e do Musseke. Inicialmente o Ndongo era um chefado vassalo do Antigo Reino do Congo
ate Ngola A Kiluange Inene se declarar independente. Outros reis do Antigo Reino do Ndongo
independente foram o Rei Ndambi A Ngola (1556–c.1562), o Rei Ngola Kiluanje kia Ndambi (c.
1562-c. 1575), o Rei NjingaNgola Kilombo kia Kasenda (c. 1575–1592), o Rei Mbandi Ngola
Kiluanje (1592-1617), o Rei Ngola Nzinga Mbandi (1617-1624), e a Rainha Nzinga Mbande (Ana
de Sousa) que reinou de 1624 a 1626. Em 1626 os Portugueses conquistaram o Reino de
Angola, passando este a ser vassalo de Portugal. Durante este periodo foram reis do Ndongo
Dom Hari A Kiluanje que governou em 1626, e o Rei Ngola Hari, que governou de 1627 a 1657.

O termo "Ngola" tem por sua vez raíz no termo "Ngolo", o que em quimbundo (língua do povo
Ambundo) significa "força", de acordo com o "Ensaio de Diccionário Kinbundu-Portuguez",
preparado por Joaquim Dias Cordeiro da Matta, impresso na Typographia e Stereotypia
Moderna da Casa Editora António Maria Pereira, e publicado em Lisboa no ano de 1893. O
mesmo termo em quicongo (lingua do povo Bakongo) significa "rigor, força, fortaleza, ou
robustez". Os Portugueses depreenderam assim que o Ngola era aquele que tinha força, aquele
que era poderoso.

Apesar de inicialmente o nome e título de Ngola se aplicar sómente aos potentados e região ao
longo do curso superior dos rios Lucala e Cuanza, o uso do termo passou a aplicar-se a outras
regiões e chefes vizinhos que viriam formar eventualmente o núcleo do domínio português
na região. Aos chefes Ngola os Portugueses chamavam-nos "Ngola" e à região chamavam as
"Terras do Ngola".

Desde então, as terras vizinhas ao longo dos rios Lucala e Cuanza, sob a tutela dos Ngola e mais
tarde conquistadas pelos Portugueses, passaram a ser chamadas e reconhecidas nos mapas e
documentos oficiais da época como "Terras do Ngola", depois como "Terras d'Angola", e desde
então a colónia portuguesa passou a chamar-se simplesmente "Angola".

Da mesma forma, e conforme Ferreira Diniz (Populações Indígenas de Angola, Imprensa da


Universidade, Coimbra, 1918), o nome Ngola acabou por aplicar-se também a alguns grupos do
povo Ambundo que ocupavam o mesmo território, incluindo os Ambaquistas, Golungos, Cabires
e Dondos, que habitavam a região entre os rios Cuanza, Lifune e Zenza, e que se estendia até aos
rios Cuiji (afluente do Cuango) e Gola Luige (afluente do Lucala).

2. Paulo Dias de Novais e o Reyno de Angola

Paulo Dias de Novais passou cinco anos de cativeiro na corte do legendário Rei de


Ndongo Ngola A Kiluanji Inene, entre 1560 e 1565, após os quais foi libertado com o auxílio "de
uma princesa filha daquele rei" sob a promessa de ir a Portugal arranjar socorro militar contra
a campanha iniciada por Kiloango-Kiacongo, um poderoso rival de Ngola A Kiluanji Inene. Paulo
Dias de Novais saíu de Lisboa em 23 de Outubro de 1574 e chegou à Ilha das Cabras (Ilha de
Luanda) a 20 de Fevereiro de 1575, onde existiam cerca de sete povoados e onde encontrou
sete barcos e cerca de 40 portugueses ricos do negócio negreiro, que se haviam refugiado
dos Jagas e se encontravam lá vivendo; Os Portugueses já deviam de habitar na Ilha das Cabras
já há alguns anos, pois nesta também encontrou uma igreja e um cura.

Paulo Dias de Novais manteve-se na Ilha de Luanda, onde recebeu uma embaixada do Rei Ngola
Kiluanji Kiassamba a 29 de Junho de 1576, quando recebeu permissão deste para se mudar
para terra firme, mais exactamente para o morro que chamou de São Paulo, onde fundou a
povoação de São Paulo de Loanda, como porto negreiro e baluarte militar português próximo
da foz do Rio Cuanza.

Era nas areias das praias da Ilha das Cabras, berço do povo Muxiluanda, que os oficiais
do Manicongo (o Rei do Congo) recolhiam os Zimbos (nzimbos - conchas de búzios pequenos),
que serviam de moeda corrente para transacções comerciais nas feiras muito activas nas feiras
no interior das províncias do Antigo Reino do Congo.

Durante séculos, Luanda foi o porto negreiro mais importante da costa atlântica de África. Os
escravos eram guardados em áreas cercadas (currais) situadas na área actual das Ingombotas,
durante a espera de embarque para o Novo Mundo. O primeiro cemitério para os escravos foi
situado na área imediatamente a montante (acima) das Ingombotas, onde as campas razas
eram assinaladas com cruzes. Os corpos dos escravos que morriam nos currais durante
esta espera de embarque para a Passagem do Meio, que podia demorar muitos meses, eram
levados para a área do Maculusso (área das cruzes - de "cruces"/ ""klusses"), imediatamente
a montante das Ingombotas, onde eram sepultados ou, em muitos casos, simplesmente
deixados como alimento às hienas, leões e outros animais selvagens que por aí rondavam em
procura de alimento.
No seu regresso às terras de Ngola A Kiluanji Inene, Paulo Dias de Novais vinha munido de
uma Carta de Donataria conferida em 1571 por El-Rei D. Sebastião de Portugal, em que era
reconhecido como "Governador e Capitão-Mor, conquistador e povoador do Reyno de Sebaste
na Conquista da Etiópia ou Guiné Inferior.", sendo até essa data a região conhecida como
"Terras do Sebaste", em honra de El-Rei D. Sebastião. A carta de doação era baseada no modelo
das cartas de doação das capitanias brasileiras, que tinham sido usadas sem grande sucesso
na colonização do Brasil, algumas décadas antes. A carta de donataria requeria a expansão do
território para norte até às margens do Rio Dande (Bengo) e para sul e para o interior ao longo
do curso do Rio Cuanza.

Este foi o primeiro documento oficial em que os Portugueses fazem referência e designam
a região por Reyno de Angola, quando de facto tal termo se referisse mais a um conjunto
de potentados locais e regionais e não a um só potentado em particular, relativamente
independentes uns dos outros, mas todos sujeitos a certa forma de vassalagem para com
os Portugueses. Só mais tarde é que Paulo Dias de Novais é oficialmente reconhecido pela
primeira vez como Capitão-General e Governador do Reyno de Angola.

Em breve Paulo Dias de Novais rumou com destino às terras do Ndongo, em procura das
legendárias minas de prata de Cambambe, ao longo do vale do Rio Quanza até à confluência
do Rio Lucala, no lugar da Vila de Nossa Senhora da Vitória de Massangano, que viria a fundar
em 1583. Paulo Dias de Novais faleceu a 9 de Maio de 1589 em Massangano, depois de ter
vivido os últimos 14 anos da sua vida nas insalúbres terras de Angola, e foi sepultado em frente
à Igreja de Nossa Senhora da Vitória, em Massangano, em túmulo de pedra, e as suas cinzas
foram mais tarde transladadas para a Igreja dos Jesuítas em Luanda, pelo Governador Bento
Banha Cardoso em 1609.

3. A Povoação de S. Paulo de Loanda

A escolha do local para a povoação de S.Paulo foi influenciada sobremaneira pela existência


de um porto natural magnífico situado dentro de uma baía protegida por uma ilha, ideal para
a navegação, de uma fonte de água potável (as águas do Poço da Maianga na (então) Lagoa
dos Elefantes), e do morro de São Paulo (o morro onde mais tarde se passou a designar como
Morro de S. Miguel, onde se construiu a Fortaleza de S. Miguel) com meios excelentes de defesa
militar, junto ao mar e ligado ao plateau que se expandia para o interior. Foi no morro de São
Paulo onde a primeira sede do governo e instalações militares portuguesas foram construídas,
já que o morro oferecia meios de defesa superiores aos do local da foz do Cuanza, situado
a cerca de dez léguas mais a Sul. A povoação de São Paulo de Loanda expandiu-se depois
para a "Cidade Alta", onde se construiram as instalações para a administração civil e religiosa,
como a camara municipal, a junta de fazenda, o tribunal, várias igrejas e conventos, e o Colégio
dos Jesuítas. Os soldados e mercadores de escravos viviam na "Cidade Baixa", na área actual
dos Coqueiros. O foral de cidade foi concedido em 1605, quando se constituiu a primeira
vereação municipal.

O nome da povoação original era de Vila de S. Paulo, fundada por Paulo Dias de Novais em
1576. O nome de S. Paulo deriva do nome do seu fundador, o Governador e Capitão General
Paulo Dias de Novais, e também do nome do soba Paulo Manicabunga, nesse tempo "a quem de
direito pertencia todas estas terras que confinam com Angola". Contrariamente à tese de alguns
estudiosos, o nome de S. Paulo não está relacionado com o dia de S. Paulo, que é 19 de Janeiro,
já que nenhum acontecimento especial teve lugar nesse dia durante os primórdios da vida da
Vila de S. Paulo.

4. O Termo "Loanda"

Cedo o nome Loanda foi adicionado à vila, passando então a conhecer-se por S. Paulo de


Loanda. Duarte Lopez, que esteve em Luanda entre 1578 e 1579, e relatado na sua obra por
Fillipo Pigafetta "Relação do Reino do Congo e das Terras Circunvizinhas" (página 33) é quem
primeiro nos revela o significado do termo "Loanda", em relação à Ilha de Luanda, cordão
sedimentar de cerca de léguas, a norte da foz do Rio Cuanza, e formada por este, inicialmente
conhecida como Ilha das Cabras, que "quer dizer naquela língua, terra baixa, sem montes e baixa,
que ela pouco se levanta sobre o Oceano e é feita de areia e vaza do mar e do Rio Cuanza".

Porém, o termo "Loanda" serve também para designar tributo, o que levou o Dr. José Pereira do
Nascimento nos princípios do Século XX a afirmar que "o nome Loanda (cidade) significa tributo
que os antigos moradores pagavam ao Rei do Congo com búzio, zimbo apanhado na ila do
mesmo nome."

De acordo com Carlos Alberto Lopes Cardoso na sua obra "Os Axiluanda", publicado em
Luanda pela Editorial Culturang, sem data certa (1971 ou 1972), "Os Luanda (tributários),
como parece terem sido conhecidos os primitivos naturais da Ilha de Luanda, além da recolha
do njimbu praticavam a pesca com redes rudimentares e daí lhes provém o nome Axiluanda
(lançadores de rede), senão vejamos: «com o decorrer dos tempos, e pela lei de analogia,
que a filosofia admite no estudo de qualquer língua, o nome Luanda estendeu-se às redes de
pesca, e depois a toda a espécie de redes, tal como aconteceu com o termo mundele que,
significando primitivamente homem branco, passou mais tarde a designar também, sobretudo
fora de Luanda, todo e qualquer indivíduo, sem distinção de cor ou raça, que pelos seus usos e
costumes se assemelha aos europeus» (Lourenço Marques da Conceição - "Porque se escreve
Luanda com "U", Tipografia da Missão Católica de Luanda, Luanda, 1943, página 45."

Com a reconquista de de Angola e a expulsão dos Holandeses de Angola em 1648 pela


esquadra luso-brasileira sob o comando de Salvador Correia de Sá e Benevides, o nome da
cidade foi mudado para "S. Paulo da Assumpção de Loanda", porque o antigo nome de Loanda
tinha muita parecença com "Holanda", e em memória de Nossa Senhora da Assunção, em cujo
dia (15 de Agosto de 1648) se restaurou o domínio Português sobre a colónia de Angola, e hoje
feriado municipal.

Ainda de acordo com Carlos Alberto Lopes Cardoso, só em Abril de 1927 é que "Loanda"
passou a "Luanda", e graças ao esforço do Padre Ruela Pombo, grande estudioso da História de
Angola, quando o Governo Geral assim o determinou como uso oficial e obrigatório, o que vinha
sendo advogado pela elite intelectual angolense desde os princípios do Século.

5. Loanda Escrita com "O"

Pelo seu interesse, passo a transcrever aqui as notas de Manuel da Costa Lobo, na sua obra
"Subsídios para a História de Luanda", edição do autor, Lisboa, 1967, páginas 207 e 208:

"Durante centenas de anos Luanda, limitada, por assim dizer, a meia dúzia de ruas, não tinha, por
isso, necessidade de lhes dar designação oficial, sendo os seus vários pontos mais conhecidos
pelos nomes dos bairros em que se situavam.

Assim, pelas relações antigas que se referem ao assunto, verifica-se que de Norte para Sul a
esses bairros eram dadas as seguintes designações:

Quipacas - Onde está situada a estação da cidade baixa


Nazaré - Onde está a Igreja de Nª. Sª. da Nazaré
Bungo - Desde a Nazaré até à Caponta
Katomba - Onde foi o Largo António de Oliveira Cadornea
Mutamba - Actual Largo do Almirante Baptista de Andrade
Mazuika - Ficava nas traseiras da Igreja do Carmo
Kafaco - Onde hoje, a meio da Rua Luis de Camões, vem desembocar a rua que passava em
frente ao Colégio das Irmãs de S. José de Cluny.
Maculusso - Situado no bairro deste nome. Maculusso é um termo do quimbundo que significa
cruzes. Era o lugar onde noutros tempos se enterravam os indígenas e se punham as cruzes
sepulcrais.
Ingombotas - Localizado no bairro deste nome.
Sangandombe - Onde hoje é o bairro "Ferreiras", por detrás do edifício das Obras Públicas e
onde, antigamente, viviam os indígenas oleiros que fabricavam bilhas debarro preto.
Quibando - Local onde estão edificadas as instalações do Nacional Cine Teatro.
Katari - Onde actualmente é o Largo do Pelourinho. Katari em quimbundo quer dizer lugar de
suplício.
Remédios - Nas imediações da actual Sé Episcopal.
Quitanda - Lugar em que se situava a «Quitanda-Grande» defronte do actual Largo Luís Lopes de
Sequeira.
Coqueiros - Localizado no bairro deste nome.
Terreiro - Onde fica hoje o Largo Infante D. Henrique.
S. Miguel - Nas proximidades da Fortaleza de S. Miguel.
Misericórdia - Nas imediações da actual Igreja de Nª. Sª. da Conceição.
Maianga - Localizado no bairro deste nome, atrás do Hospital."

6. O Reyno do Congo e a Ligação Terrestre Para o Preste João

É importante notar aqui que desde a sua chegada ao Congo em 1481 até à criação da colónia
de Angola em 1575, os Portugueses estavam de facto mais preocupados em encontrar uma
ligação directa e rápida entre a costa atlântica e as terras do Reino do Preste João (rei Cristão
da Etiópia), de forma a encurtar a viagem de navegação à volta de África, que tanto risco e perda
de vida causava aos Portugueses no seu comércio com a Índia. Assim, a incursão de Diogo Cão
através do Rio Poderoso (Zaire) até às Quedas do Ielala, perto de Matadi, obedecia de facto
a instruções secretas de procurar uma ligação pelo interior de África (através do Rio Zaire)
até às famosas terras do Preste João. De facto, a toda esta região de África, os Portugueses
chamaram inicialmente "Etiópia Inferior".

Em 1521 o Rei D. Manuel de Portugal conferiu ao explorador Gregório de Quadra o comando de


uma expedição que tinha por objectivo a travessia para a outra costa, através do Rio Zaire até
ao Grande Lago Central de África, de onde era fácil atingir as Terras do Preste João. Contudo,
por razões de vária ordem, tal expedição nunca deixou o Zaire.

Em 1575, quase oitenta anos depois, o objectivo de ligar o Congo à Etiópia, ainda se
manifestava oficialmente através do título oficial dado a Paulo Dias de Novais, como
Governador e Capitão-Mor, conquistador e povoador do Reyno de Sebaste, na Conquista da
Etiópia ou Guiné Inferior.

Ainda em 1591, Duarte Lopez, através da pena de Filippo Pigafetta, dizia na sua "Relação do
Reino do Congo e das Terras Circunvizinhas" quando descrevia o Reino dos Anzicos: "O dito
lado, portanto, fecha, [apartando-o] para a banda do Ponente, mais para o Oriente 150 milhas,
corre o Nilo, encerrando uma região que abunda das cousas sobreditas, possuídas de vários
Senhores, uns obedientes ao Preste João, [nosso sublinhado] e outros ao mui grande Rei
Moenhemuge; em que afirmava não haver outra cousa mais que notar senão: do Nilo para
Ocidente os povos comerciarem no Reino do Congo e nas ribeiras do seu mar; e os da banda
de além, no Oriente, irem pelos reinos de Moenhumuge até ao pélago de Mombaça e de
Moçambique.", em confirmação da tese do possível acesso directo às terras do Preste João a
partir da foz do Zaire. (*Ver nota no fim deste post)

7. Manuel Cerveira Pereira e o Reyno de Benguella

A região de Benguela, antes da chegada dos Portugueses, era habitada por povos bantos
criadores de gado, que tudo indica serem de ascendência Herero, vindos do Sul. De facto, a baía
de Benguela foi durante muito tempo conhecida como Baía das Vacas, por lá os Portugueses
terem avistado (e roubado) muito gado aos povovos da região. A região era ainda habitada por
grupos nómadas de Khoisan, que há muito se tinham adaptado à secura da região.

O primeiro contacto dos Portugueses com a baía de Benguela teve lugar na segunda viagem
de Diogo Cão, em 1493, que aí ancorou a 5 de Agosto e à qual deu o nome de Angra de Santa
Maria. Ao Rio Catumbela, Diogo Cão deu o nome de Rio do Paúl.

De acordo com Gastão Sousa Dias na sua obra "Os Portugueses em Angola", edição da Agência
Geral do Ultramar, Lisboa, 1959, p.p. 99 e 100, lembra-nos que em 1615 o Rei Filipe II de
Portugal (e III de Espanha) separou o Reino de Benguela do governo de Angola "De meu poder
real e absoluto, me praz e hei por bem, por esta presente provisão, a capitania, conquista e
governo das províncias do dito Reino de Benguela [...] e por ela as erijo e ao dito reino em novo
governo, para que de hoje em diante tenham separada a jurisdição e governador", nomeando
como Governador, Conquistador e Povoador de Benguela ao mesmo tempo governador de
Angola Manuel Cerveira Pereira.

O objectivo principal da criação da nova colónia era a procura e eventual exploração das minas
de cobre do Sumbe Ambela, a norte da foz do Rio Cuvo (ou Queve), e a sul de Benguela-Velha,
a primeira povoação portuguesa na região, mais tarde extinta, perto da actual cidade de Porto
Amboím.

Manuel Cerveira Pereira deixou Luanda a 11 de Abril de 1617 à frente de uma expedição de 130
homens e rumou Sul sempre ao longo da costa até que chegou à Baía das Vacas a 17 de Maio.
Aí Manuel Cerveira Pereira fundou a povoação de S. Filipe de Benguela, que havia de ser a capital
do novo domínio português a sul de Angola.
8. Adopção da Nomenclatura Dinástica e Nobiliárquica Portuguesa

Desde cedo os Portugueses chamaram "reis" aos chefes africanos, e desde cedo as
nomenclaturas dinástica e nobiliárquica portuguesas foram adoptadas pelos potentados
africanos, tornando-se comum o título de rei e de certos títulos nobiliárquicos como duque,
marquês, conde e barão. A exemplo de Portugal, em que o Rei D. Manuel era "Rei de Portugal e
dos Algarves, Senhor d'Aquém e d'Além Mar em África, etc. ...", o Rei D. Afonso I do Antigo Reino
do Congo, intitulava-se "Por graça de Deus, Rey do Congo, e Ibundo, Cacongo e Ngoio, daquém
e de além Zaire, Senhor dos Ambundos e de Angola, d'Aquissama e Musuaru, de Matamba e de
Muílo, do Mussuco e dos Anzicos, da conquista de Pango Alumbo, etc..."

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9. Extracto do Artigo "N'Gola" da Autoria do Dr. José Redinha

Numa tentativa de encontrar a raíz e o percurso histórico do termo "Ngola", o Dr. José
Redinha investigou a origem do termo e concluiu que o termo teria origem além Cuango. Pelo
seu interesse, a seguir transcrevo vários trechos do seu artigo "Ngola", inserido no Boletim
Cultural da Câmara Municipal de Luanda, Nº 23, Abril - Junho, 1969, páginas 25-31:

"Ngola é um nome, foi um título, e alastrou à designação de uma etnia: os Ngolas ou Angolas.
Mais ainda, este nome expandiu às dimensões da Província, pois o seu nome Angola dele deriva.

No entanto, deste nome famoso não se sabe muito quanto ao esquema histórico. Sabe-se
muito pouco quanto às suas origens que, com certeza, transbordam para além dos limites do
território português.

Deste aspecto estamos certos, porque nós próprios pesquisámos e percorremos longos
trechos dum caminho designado de Ngola, neste caso Ngola Tchiloanje tcha Samba, que
penetrava na Província pela fronteira do Cassai. Por essa via marchou, com aguerrido bando, em
épocas que parecem situar-se no Século XVI, aquele famoso chefe gentílico, saído da região de
Samba, na Catanga Ocidental, com rumo à região e Malange. Até ao Cuango, pesquisámos-lhe
o rasto, e um regime de tradição bastante coerente. Do Cuango para lá, para Oeste, não
conseguimos nem obtivemos informes suficientemente explícitos, tudo se limitando à versão
de que este chefe migrante se fixara a sul do actual Duque de Bragança (Calandula), numa área
chamada Quinzama.

Temos assim algumas razões averiguadas em abono da afrimativa de que os Ngolas procedem
de além fronteiras. É particularmente na região que decorre entre Pungo-Andongo e o Duque,
que o complexo histórico dos Ngolas toma proporção, quer pelas suas relações com os sobas
do Cuanza, quer pelas alianças com a Jinga.

Certo é que, Ngolas aureloados de prestígio e reputação guerreira desceram para o litoral,
particularmente para o Cuanza, facto que levou os cronistas à repetida expressão de que «o
Cuanza é o rio dos Muene Ngolas».
A guerra, a técnica e a política social seriam os grandes predicados destes Ngolas, entre os
quais, pelo menos um deles terá atingido a posição de herói civilizador, em especial pelo seu
conhecimento e divulgação das artes siderúrgicas, na zona litoral.

...

O nome Ngola encontra-se confusamente envolvido com o dos Jagas, chefes guerreiros,
que assolaram Angola com temíveis hostes, a partir do Século XVI, apavorando com as suas
correrias grande parte das populações da Província. Certo é que alguns antigos Ngolas usaram
o título de Jaga, embora não esteja esclarecido em que medida o título correspondia a alguma
entidade étnica ou grupal, ou constituía designação honorífica, e algumas vezes com solenidade,
como aconteceu com Tchinguri em 1606 ou 1609, no Palácio dos Governadores, em Luanda.

Entre os Africanos, o nome de Ngola assumiu uma popularidade lendária e folclórica


verdadeiramente notável. Desde dos arredores de Luanda a Matamba (Duque de Bragança)
a terra está assinalada por contos, anedotas, peripécias e aventuras relativas ao Ngola, e em
Pungo-Andongo, o nome de alguns grandes monólitos evocam o remoto chefe gentílico, como
por exemplo «Ngola Nganzo», que nos traduziram por «espelho do Ngola».

Este renome de Ngola, tanto se encontra na tradição oral, como nas páginas históricas:
ao Ngola Inene, reinante em 1557, apontou Felner (**) como «o mais importante Soba dos
Ambundos», acrescentando que a sorte o favoreceu tornando-o dia-a-dia mais poderoso.

Nas muitas lendas que envolvem o nome de Ngola, uma delas refere-se a uma espécie de caixa
forte ou reduto, excepcionalmente resistente, e de tal sorte, que nunca ninguém o consegiu
demolir. Conta-se também a lenda que o facto do mar ser salgado é a consequência de uma
vingança do Ngola, pois, tendo sido preso pelos Portugueses em Pungo-Andongo, para os
acompanhar a Luanda, amarrou na ponta de um manto um punhado de sal gema das minas do
Cuango, lançando-o à água logo que se aproximou da beira-mar.

...

Conforme ficou dito anteriormente, o nome de Ngola difunde-se aos povos que constituíram os
mais lídimos grupos da sua jurisdição. Seriam grupos de povos litorânios e do próximo interior,
entre eles, e talvez os mais numerosos, os Ambundos, que se alistaram no grupo de Ngola e
se submeteram ao seu poder, passando a usar a designação de Ngolas, significado gente do
Ngola. Trata-se de certo modo de uma designação aristocrática, distinguindo-se por ela dos
restantes grupos avulsos de chefia fraca ou mesmo difusa.

Por outro lado, é de admtir que ao Ngola muito conviesse esta reorganização dos Ambundos
em sua volta, e para engrossamento das suas hostes, contra os reis Congueses, com os quais
se havia de bater fortemente na linha do Dande em 1556. Neles encontraria também bons
aliados, ressentidos da sua expulsão do Congo, onde seriam ainda numerosos nos finais do
Século XV.

...

A história de Ngola, nome de homen e título de chefe que usamos em síntese dos diversos
Ngolas, é uma história cheia de interesse. É de crer que na figura de Ngola Inene, que em 1557
enviara embaixadores a D. João III de Portugal, se possa resumir o clã dos Ngolas.

Neste ou em outro a averiguar, deveríamos sintetizar o soberano do velho reino de Angola,


e perpetuá-lo num monumento, talvez a par com Novais, recordando os seus encontros, a
sua amizade, as suas alianças, até os seus desentendimentos. Além de tudo, e acima das
circunstâncias variadas que caracterizaram as suas relações, são duas figuras interessantes de
fundadores, na base da História de Angola.

A Câmara Municipal de Luanda, nos seus programas de obras de arte, bem podia incluir, para
momento oportuno, a estátua do afamado rei dos Ngolas."

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