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Resumo: Este trabalho se refere a um estudo de caso realizado em uma indústria do setor de
extração de água de coco no estado do Pará. No setor de extração de água de coco foram
detectados alguns problemas relacionados a perdas de produção, gerando algumas ações
que identificassem as principais causas e bloqueassem os problemas. O objetivo deste
trabalho é apresentar os estudos realizados para identificar, analisar, implantar a melhoria e
analisar os resultados. Para realização da identificação do problema, elaboração da
justificativa e análise dos resultados, foram utilizadas ferramentas de Gestão da Manutenção,
tais como Shake-down, Brainstorming, Diagrama de Pareto, Diagrama de Ishikawa, 5W2H e
5 porquês ou “Why-Why” e, como método de solução de problemas, foram utilizados os
métodos de Pareto e o método QCStory, conhecido no Brasil por MASP. Possibilitando a
elaboração da justificativa do investimento baseado em dados e fatos. Como resultado foi
Identificada a causa raiz, implantada a melhoria e o problema principal foi bloqueado,
possibilitando uma redução de custo de mais de R$ 400mil/5 anos, com um investimento de
apenas R$ 15mil para atingir todas as unidades de motores de furação de água de coco do
setor.
Palavras chave— manutenção, industrial, motores, gestão.
1. Introdução
A necessidade das indústrias segundo o mercado moderno em busca da confiabilidade
e disponibilidade, frente à globalização, requer maior responsabilidade do Gerente de
Manutenção e Produção que só podem ser satisfeitas com processos específicos de gestão. A
busca de sistemas e métodos para auxiliar nesse gerenciamento é de extrema importância em
meio a competitividade industrial (LOURIVAL, 1996).
Desde o pós-guerra, as características das atividades econômicas experimentam a
alteração das atividades econômicas que obrigaram o surgimento de diferentes ritmos de
desenvolvimento. A competitividade industrial deixa de ser, então, pelos ganhos em escala e
da produção seriada seguindo o modelo "fordista", passando a ser decidida nos campos da
"qualidade" e "produtividade" (LOURIVAL, 1996).
Controlar processos nas indústrias é promover a qualidade dos produtos mantendo a
indústria dentro do padrão de competitividade necessário no mercado. Nestes processos
existem resultados indesejáveis que são conhecidos como "problemas". Logo controlar
problemas é controlar resultados indesejáveis no processo (CAMPOS, 1996).
Abre-se então uma perspectiva de mudança cultural, ainda existente na Gestão da
Manutenção em diversas indústrias, que o bom gerente é aquele que "não tem problema".
Figura 01: Fluxo de produção de Extração de Água Figura 02 - Planta do Setor de Coleta de Água de Coco
de coco.
O coco adquirido da fazenda é descarregado através dos caminhões em esteiras para o
setor de desfibramento e segue através de esteira para o setor de coleta. A Esteira Principal de
Entrada transporta os cocos desfibrados para a Esteira Alimentadora Principal que irá
distribuir os cocos para as Esteiras Secundárias onde os operadores irão selecionar
manualmente os cocos que serão furados. Após a furação os cocos furados são colocados na
Esteira Coletora com o furo para baixo, onde á água do coco será depositada e através de
tubulações armazenada no Tanque Coletor. Em sequência a água de coco será bombeada para
os Tanques Pulmão onde será armazenada para ser transportada ao Setor de Centrifugação e
Esterilização, ver Figura 02.
Ainda nesse processo há as Esteiras de Resíduos utilizadas para transportar os resíduos
dos cocos no momento que são furados e os cocos que não foram selecionados pelos os
operadores como ideais para furação. Outro processo é a Esteira de Saída que transporta os
cocos já furados e secos para o elevador de saída com destino ao processo de beneficiamento
em outra indústria.
3. Oportunidade de Melhoria
3.1. Identificação do problema
Apesar das diversas tecnologias empregadas no setor em estudo sempre há
oportunidades de melhoria na busca de solução aos problemas. Através de uma dinâmica de
grupo com o método shake-down que é o levantamento sumário dos problemas (FALCONI,
2004). É aplicado com objetivo de coletar opiniões dos técnicos e colaboradores envolvidos
diretamente na manutenção, limpeza e utilização dos motores de furação. Identificaram-se os
principais problemas neste setor, conforme o Gráfico 01 representando o Diagrama de Pareto:
Diagrama de Pareto
Levantamento Sumário de Problemas por Frequência em (%)
1 2 3 4
100% 100% 100%
87% 98%
90% 96% 90%
70% 70%
60% 60%
50% 50%
40% 40%
30% 30%
20% 20%
9%
10% 2% 2% 10%
0% 0%
Motores de furação Esteira de Resíduo Esteira Alimentadora Bomba do Tanque
(Manutenção) Principal Coletor
% Frequência Acumulo
Gráfico 01
O Diagrama de Pareto é uma figura simples que visa dar uma representação gráfica à
estratificação. A estratificação seguida da coleta de dados e a visualização gráfica apresentada
no Diagrama de Pareto permite priorizar quantitativamente os itens mais importantes
(CAMPOS, 1992).
Observa-se que a maior frequência dos problemas está nos Motores de Furação em
89%. São utilizados 72 motores de furação durante a produção e aproximadamente 28
motores reservas na manutenção para trocas que possam ocorrer durante a produção.
Esses motores entram em manutenção em média a cada 22 dias através da manutenção
corretiva programada que são realizadas nos dias de sábado. Neste dia não há produção na
indústria. A manutenção nos motores é realizada de forma subjetiva através do tato, audição
ou visão e defini quais motores entrarão em correção.
3.2. Bloqueio da causa-raiz
Utilizando o método de Análise de Causas 5 Porquês se buscou identificar a causa raiz
dos motores entrarem em manutenção corretiva programada tão rapidamente, onde foi
observado que o MTBF (tempo médio entre falhas) [4] é de 22 dias.
A tabela 01 mostra o formulário utilizado para realização do método do 5 Porquês.
Este método teve origem na Toyota onde o utiliza até os dias atuais tendo como objetivo
identificar a "causa-raiz" de um problema, sendo mais profunda que o Diagrama de Ishikawa.
A análise eficaz é crucial para descobrir e entender as muitas causas potenciais do
problema. A partir da identificação dessas causas potenciais, é necessário limitar o campo e
focar as mais significativas. Grande parte do sucesso da Toyota deriva da habilidade de
analisar inteiramente uma situação e compreender as diversas causas dos problemas, indo
além das mais aparentes. (LIKER; MEIER, 2006)
TABELA I
TA B ELA D E A N ÁLI S E D OS P OR QU ÊS
1º P OR QU E 2 º P OR QU E 3 º P OR QU E
Porque o mot or ent ra em manut enção a cada 22 dias? Porque há ruí do no mot or? Porque os rolament os est ão oxidados e t rancados?
A 4 º P OR QU E 5 º P OR QU E A Ç ÕES C OR R ETI VA S
Porque há ent rada de água indust rial no int erior do Porque a carenagem não prot ege o eixo do mot or no
mot or? moment o higienização dos mot ores?
Porque a carenagem não prot ege o eixo do mot or Porque sua est rut ura não é adequada para
X X
no moment o higienização dos mot ores prot eger t ambém o eixo do mot or cont ra o
O motor ideal seria com Grau de Proteção em IP65, ou seja, 6(totalmente protegido
contra poeira) e 5 (Proteção contra jatos de água vindos de todas as direções).
Foi sugerido que seria melhor fazer um up-grade dos motores com especificação
correta. Em consulta ao mercado local foi realizado um orçamento dos motores atuais, ver
tabela 03.
TABELA III- ORÇAMENTO DE MOTORES DE FURAÇÃO ADEQUADO.
Q Vl.
Descrição Vl. Total
td Unitário
Motores trifásicos assíncrono (velocidade
variável) alto rendimento, potência 1CV com 100 R$ 1.200,00 R$ 120.000,00
1200rpm, com 6 pólos e IP65
TOTAL R$ 120.000,00
O valor é considerado de altíssimo investimento para a direção da indústria que
caracterizou a sugestão da solução como não econômica inviabilizando o up-grade.
Nos motores atuais é possível trocar praticamente 100% dos componentes, porém os
mais trocados usualmente são: Tampas dianteira e traseira, tampa defletora, ventilador,
rolamentos traseiros e dianteiros e retentores que não acompanham de fabrica os motores.
Através do Diagrama de Pareto foram identificados os principais componentes
trocados nos motores de furação durante as manutenções, ver Gráfico 02:
Frequência de Troca de Componetes dos motores (%)
80% 100% 100%
98% 90%
70% 94%
80%
60%
70%
40% 50%
47%
40%
30%
30%
20%
20%
10%
4% 2% 10%
0% 0%
Rolamentos inox Retentores dianteiro Rebobinagem Tampas traseira e
e traseiro dianteira
Gráfico 02
Os principais componentes trocados segundo o setor de manutenção são os rolamentos
e retentores que juntos somam 94% dos componentes trocados. A rebobinagem com menor
frequência em 4% passa a ter importância no processo, pois motivada pelo curto-circuito sua
correção se dá com empresas terceirizadas trazendo a empresa um adicional aos custos da
manutenção e gerenciamento dos motores que irão ao reparo.
Em loco foi observado o que acontece com rolamentos, retentores e bobina.
3.520,00
3500
3000
2500
2000
1.500,00
1500
500
143,88 96,60 -
0
x ão r. a r. ão
ino uç ro
g em iro se
ir og uç
os ag se ra Pr
t pr
od aP in ra /T ão r od
en tiv ob /T ira
P
am te
a re Re
b iro te aN ad
a
l or te an tiv
Ro an C ia n Di rre ra
d
ur ão sD Co Pa
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tra te r e
mp ão a-
an
u to Ta nç or
Ex te
n te /H
ra -M Re an
u to
Ho H. C us
H. - M
H.
H.
Gráfico 03
O custo mensal para manutenção de 40 motores é de R$ 7.5 mil/mês. Cada motor
custa R$ 187,38 para manutenção. O custo anual é de R$ 90 mil. Em uma projeção de 05 anos
que já se passaram utilizando os motores sem a melhoria podemos afirmar que o custo chegou
a R$ 450 mil, ver Gráfico 04.
De acordo com KARDEC e NASCIF (2009, p. 69) "o dinheiro é a linguagem dos
negócios e os custos são a forma de mensurá-lo. Mais manutenção não significa melhor
manutenção".
400000
350000
300000
250000
200000
150000
89.943,36
100000
50000
7.495,28
0
Mensal Anual 5 Anos
Custo Médio
Gráfico 04
Para otimizar os custos é preciso adotar as melhores práticas de manutenção,
utilizando ferramentas de diagnósticos de problemas e promover a solução através de
melhorias. Apesar dos custos terem sua importância na produtividade a prioridade deve ser o
aumento da disponibilidade e da confiabilidade, pois estão ligados ao faturamento, ou seja, o
lucro da organização (KARDEC; NASCIF, 2009).
3.3.5. Projeto mecânico realizado
A confecção da nova carenagem e acoplamento reduz o contato direto da água de coco
ou o jato da água industrial no eixo do motor.
Nova carenagem e
o acoplamento
bloqueiam a
penetração de água.
Figura 12: Nova carenagem, acoplamento e a broca para Figura 13: Novo acoplamento para teste e a broca de
teste no eixo do motor furação.
400
150
120 300
100
200
50
22 22 100 46
0 0
Motor 1 Motor 2
SEM melhoria COM melhoria
SEM MELHORIA COM MELHORIA Qtd Motores
Gráfico 05 Gráfico 06
Sem a melhoria a média de motores que entrariam em manutenção é 498/ano. Com a
melhoria esse numero cairia para 46/ano, ver Gráfico 06.
O custo médio de manutenção também cairia, pois seriam utilizados rolamentos
comuns, ou seja, não aço inox. Manutenção por curto-circuito e troca de tampas traseiras e
dianteiras seria quase zero.
Considerando o quadro sem melhoria e como media de motores que entram em
manutenção em 498 unidades/ano, segundo histórico de manutenção, obtém-se ao custo de R$
93mil/ano e R$ 466mil/5 anos. Com a melhoria a quantidade de motores que entrariam em
manutenção seria de 46un/ano, permitindo obter um valor de custo de manutenção entorno de
R$ 5mil/Ano e R$ 25mil/5 anos. Observa-se que a redução do custo da manutenção é de
expressivos 94,73%, ver gráfico 07.
5. Considerações finais
O estudo comprova que as ferramentas de gestão são de extrema importância na
identificação e solução de problemas na indústria. Contribuindo diretamente com a
disponibilidade e confiabilidade dos equipamentos, aumentando a produtividade. O custo de
investimento é pequeno se comparado em um ano ou cinco anos. Onde logo nos primeiros
3(três) meses de implantação nos 100 motores de furação já seria possível ter o retorno do
capital investido. O valor de redução de custo anual é de quase R$ 90mil/ano, podendo ser
investido em diversos seguimentos da indústria como, por exemplo, Programas de Meio
Ambiente e Responsabilidade Social, Capacitação dos Funcionários e Contratação de
Estagiários, agregando ainda mais valor à indústria e fortalecendo a marca.
Custo de Manutenção em R$
600000
500000 466.325,66
400000
300000
200000
93.265,13
100000
24.559,94
4.911,99
0
1 Ano 5 Anos
6. Referências
LOURIVAL, T. Excelência na Manutenção - Estratégicas, Otimização e Gerenciamento, v. 1, 35 p., Salvador,
1996.
LIKER, K.J.; MEIER D., O Modelo Toyota: Manual de Aplicação, Porto Alegre: Bookman, 2007
CAMPOS, V. F., Controle de Qualidade Total (no estilo japonês), 6. ed. Belo Horizonte, 1992.
CAMPOS, V. F., Gerenciamento da Rotina do Trabalho do Dia-a-dia, 8. ed. Belo Horizonte, 2004.
KARDEC, Alan; NASCIF, Júlio, Manutenção Função Estratégica, Rio de Janeiro – 2010
Catalogo de Motores Trifásicos W21, WEG Equipamentos Elétricos S.A., 2007.
http://ecatalog.weg.net/files/wegnet/WEG-guia-de-especificacao-de-motores-eletricos-50032749-manual-
portugues-br.pdf autores Grupo WEG - Unidade Motores
Jaraguá do Sul - SC – Brasil. Acessado dia 05/04/2013.
EMBRAPA 2005, Água de Coco Verde Refrigerada, Brasília: EMBRAPA INFORMAÇÕES
TECNOLÓGICAS, 2005. 1ª Edição.