Bernard Arnault, que comanda o maior império mundial de grifes de
luxo, diz que o negócio consiste em dar aos artistas e designers liberdade total para inventar sem limites
Por Suzy Wetlaufer
Quem gostaria de dirigir uma empresa que fabrica e vende produtos
EXAME Edição(753 ) dos quais ninguém precisa? Só um tolo, certo? A menos, é claro, que se trate da LVMH Mo't Hennesy Louis Vuitton, o maior e mais bem- sucedido fornecedor de bens de luxo do mundo. Todos os anos, a LVMH vende bilhões de dólares - - 10 bilhões em 2000, para ser exato -- em itens que pouca utilidade têm na vida dos compradores, exceto realizar seus sonhos, que não são nada baratos: uma garrafa de champanhe Don Pérignon Ros, de 1985, custa 925 dólares. Um vestido Givenchy, 15 mil dólares. Um sofisticado relógio TAG Heuer não sai por menos de 58 mil dólares. Naturalmente, ninguém precisa dessas coisas -- mas milhões de pessoas as desejam. O executivo responsável pela inspiração desses desejos é Bernard Arnault, de 52 anos, presidente da LVMH, um homem de negócios perspicaz como poucos. Apelidado de "o papa da moda" pela imprensa mundial, Arnault passou os últimos 15 anos construindo a LVMH. De uma pequena fabricante de roupas praticamente falida, ele ergueu um conglomerado que abriga aproximadamente 50 das marcas mundiais mais famosas. Segundo o grupo de pesquisas francês Jacques Chahine, as receitas combinadas da LVMH deverão chegar a 11 bilhões de dólares neste ano, com uma capitalização de me rcado de cerca de 27 bilhões. Sem dúvida, nem tudo foram acertos na trajetória de Arnault -- parte de seus investimentos pessoais na internet não decolou como esperado --, mas é preciso reconhecer sua extrema perícia em lidar com a criatividade com foco no lucro e no crescimento. Todos os anos, os novos produtos respondem por aproximadamente 15% das vendas da LVMH - - alguns chegam a ter margens operacionais acima de 47%. O que torna essas estatísticas ainda mais notáveis é o fato de que muitos desses produtos, à primeira vista, parecem totalmente fora de propósito: uma bolsa de mão com a forma de um rim coberta de pinos de segurança, por exemplo, ou um estojo de sombra para os olhos batizado de "gangrena". Porém, de algum modo, e bem depressa, o modus operandi da LVMH torna esses itens obrigatórios para alguns dos consumidores mais exigentes do mundo. Como? Prepare- se para respostas surpreendentes. Tudo começa com uma inovação radical -- uma atividade imprevisível, confusa e altamente emotiva endossada completamente pela empresa. Na verdade, diferentemente de muitos executivos que supervisionam o trabalho de gente criativa -- quer sejam engenheiros, escritores ou designers - -, Arnault não acredita na imposição de limites pela administração. Os artistas têm de trabalhar totalmente livres de preocupações financeiras e comerciais, insiste Arnault, para que dêem o melhor de si. Ninguém pode "controlar" John Galliano, o cérebro iconoclasta da Casa de Dior, assim como ninguém poderia "controlar" Leonardo da Vinci ou Frank Lloyd Wright. É por esse motivo que, há dois anos, Arnault não se abalou quando Galliano colocou modelos nas passarelas da alta-costura vestidas de jornal. Se tivesse impedido a iniciativa -- sob o argumento, por exemplo, de que é uma estupidez fazer vestidos de jornal - - , acabaria destruindo a criatividade do designer. Pouco depois, a Dior fez os vestidos de tecido, com estampas de jornal, e vendeu tudo rapidamente. "Portanto, usando certas técnicas, todos saem ganhando", observa Arnault. "A empresa, o designer e o cliente." Em uma série de entrevistas recentes em Paris e Nova York, Arnault falou detalhadamente sobre outras técnicas por ele utilizadas para incentivar a criatividade que dá lucro. A empresa ouve atentamente os grupos de foco e só contrata gerentes que respeitem de tal modo o processo criativo a ponto de suportar o caos dele decorrente. No entanto, quando chega o momento de pôr a criatividade nas prateleiras, não há mais caos. A empresa conduz com uma disciplina rígida seu processo de fabricação, planejando meticulosamente, por exemplo, todas as 10 mil tarefas envolvidas na produção de uma bolsa. O processo da LVMH tem um único objetivo: trabalhar com marcas de prestígio. De acordo com Arnault, uma marca só adquire prestígio quando a empresa consegue imprimir nela um caráter de "perenidade" que nunca deixa de ser, ao mesmo tempo, intensamente moderno. Produtos assim são vendidos rápida e vorazmente, acumulando lucros. "Dominar o paradoxo das marcas de prestígio é algo difícil e raro", diz rispidamente Arnault. "Felizmente." Qual foi sua reação quando o senhor viu pela primeira vez os vestidos de jornal de John Galliano? Fiquei chocado, o que é bom, é claro. O produto criativo e importante é aquele que choca na primeira vez que o vemos. E depois de passado o choque, o seu gerente interno não soou o alarme? Não tenho alarmes em relação à criatividade. Se pensarmos e agirmos de acordo com os princípios tradicionais de gestão quando lidamos com pessoas criativas - - impondo regras, políticas e opiniões sobre as preferências dos clientes -- , seu talento definhará rapidamente. Nosso negócio consiste em dar aos artistas e designers que trabalham conosco liberdade total para inventar sem limites. Na verdade, nossa filosofia é de fato muito simples. Se insistirmos em fiscalizar a criatividade das pessoas, seu trabalho perderá muito em qualidade. Não é o que aconteceria conosco se um gerente qualquer ficasse nos rodeando com uma calculadora na mão? É por isso que a LVMH, como empresa, é tão descentralizada. Cada marca é responsável por si mesma, em conformidade com a orientação do seu diretor artístico. A sede da empresa em Paris é bem pequena, especialmente em se tratando de uma companhia com 54 mil empregados e 1,3 mil lojas no mundo todo. Como nós, só existem outros 250, e eu garanto que ninguém fica à espreita pelas esquinas questionando as decisões criativas que são tomadas. Isso quer dizer então que ninguém na empresa perguntou a Galliano se haveria alguma mulherno mundo disposta a usar um vestido feito de jornais? Exatamente. E nem era preciso. As pessoas mais criativas -- e Galliano certamente é uma delas - - querem ver suas criações nas ruas. Elas não inventam só por inventar. É verdade que não lhes faltam idéias extraordinárias, muitas delas até chocantes: a princípio, parecem loucura. Contudo, os verdadeiros artistas que fazem da LVMH um sucesso não pensam em encerrar o processo por aí. Eles querem que as pessoas usem as roupas que criaram, o perfume que desenvolveram ou a mala que projetaram. A responsabilidade do gerente de uma empresa que depende da inovação consiste, em grande medida, em saber escolher as pessoas criativas com quem pretende trabalhar, ou seja, aquelas que querem ver seus designs ganhar as ruas. O líder de uma empresa assim precisa de muita sensibilidade para perceber isso. Afinal, poucos artistas saem por aí proclamando que desejam ser um sucesso comercial. Ao contrário, eles sentem repulsa por esse tipo de atitude. Se alguém lhes perguntasse se é isso o que desejam, diria m que pouco importa se alguém compra ou não o seu produto. A verdade, porém, é que eles se importam. Está no DNA deles, e, como gerente, você tem de aprender a detectar esse sentimento. Sei que você vai perguntar: "Como posso penetrar no DNA de uma pessoa e descobrir se estou diante de um artista com instintos comerciais?" É preciso experiência. Anos de prática -- de tentativas e erros -- até aprender. Também é importante permitir que a criatividade aconteça. É preciso que a empresa esteja repleta de gerentes que tenham um certo amor por artistas e designers. Quando passamos a apreciar e a amar o trabalho e o modo de pensar das pessoas criativas, o que normalmente se dá de modo imprevisível e irracional, só então começamos a entendê- las. Nesse momento, é possível perscrutar suas mentes e penetrar seu DNA. Suponhamos que o mercado esteja exigindo um determinado tipo de produto. Esse fator deve ser levado em conta no processo criativo? Existe essa mentalidade, mas ela não é condizente com a verdadeira criatividade. Algumas empresas se deixam influenciar exageradamente pelo mercado; seguem o consumidor e são bem- sucedidas nessa estratégia. Elas vão às ruas, testam o que as pessoas estão querendo, e depois passam a produzi- lo. Esse enfoque, porém, nada tem a ver com inovação, que é, em última instância, o que realmente impulsiona o crescimento e a lucratividade. Não se pode dar às pessoas só aquilo que elas esperam. Além disso, você jamais terá produtos de sucesso se seguir esse raciocínio -- refiro- me aos produt os que provocam fila de clientes na porta da loja, ansiosos por adquiri- los. Então o senhor acha que não há necessidade de testar os produtos no mercado, em grupos de foco, por exemplo, antes de lançá-los? É uma boa prática, mas isso não nos permitirá prever se um determinado produto fará sucesso ou não. Os resultados dos testes são limitados. Eles nos permitem saber se o nome dado ao produto apresenta algum problema em potencial. É possível que o nome seja ótimo em inglês mas tenha um significado muito diferente em japonês. Ou, talvez, ao testar um perfume, você descubra que em algumas partes do mundo há elementos em sua fórmula que trazem uma conotação ruim na qual você não havia pensado. Esses testes, contudo, jamais lhe dirão se o produto fará sucesso no mundo todo. Veja o caso do J'Adore, a fragrância que lançamos em 1999. Quando a testamos, não houve uma indicação sequer de que faria sucesso. As pessoas dos grupos de foco disseram que ela era muito boa, só isso. Mas veja o que aconteceu: de acordo com nossos levantamentos, o J'Adore ficou entre os três perfumes mais vendidos do mundo no ano passado. É claro que não lançaríamos um produto se os testes demonstrassem claramente que seria um fracasso, mas também não o mudaríamos só por causa disso. Ouvi dizer que muitos estúdios de cinema, hoje em dia, exibem para um público selecionado vários finais possíveis de um filme, e depois o modificam de acordo com a reação da platéia. Assim, os filmes acabam se tornando um sonho do mercado, e não do artista. Nossa estratégia consiste em confiar na criatividade dos nossos artistas. É preciso dar- lhes liberdade. Quando uma equipe criativa acredita em um determinado produto, temos de confiar no instinto básico do grupo. É o caso de um perfume que lançamos este ano, o Flower, da Kenzo. Nós o lançamos não por causa dos testes feitos, mas porque a equipe acreditou nele. Trata-se de uma criação muito especial. Nos testes, as pessoas não sabiam o que fazer com ele -- o formato do frasco é diferente, a flor por ele representada é a papoula, que não tem aroma algum. Ele é diferente de tudo o que há por aí. É um produto fantástico, e tem granjeado um sucesso inacreditável para a empresa. As vendas do Grupo de Fragrâncias Kenzo cresceram 75% nos primeiros seis meses deste ano, graças quase que exclusivamente ao sucesso do Flower. Por isso eu acho que os grupos de foco devem ser ouvidos com uma certa cautela. No momento em que se dá às pessoas criativas tanta liberdade e autocontrole, como no caso da LVMH, não é de espe rar que os fracassos aconteçam? Bem, não gostamos de fracassos. Tentamos evitá-los. É por isso que, dado o grande número de produtos que fabricamos, procuramos fazê-los em número limitado. Não colocamos a empresa toda em risco com a introdução de novidades constantes. Em um ano específico, na verdade, apenas 15% de todo o nosso negócio vem de novos produtos; o resto vem de artigos tradicionais, já testados -- os considerados clássicos. A Vuitton é um exemplo perfeito disso. Este ano, Marc Jacobs teve a idéia do design com grafites, o que foi um grande desvio da linha tradicional. Você viu? É uma coisa linda, meio maluca, não é mesmo? À primeira vista, não parece Vuitton. Quem imaginaria um design desses para malas de viagem? Foram poucos os itens em que o aplicamos, mas a fila de espera por eles no mundo todo é enorme. Os demais produtos compunham- se de itens da Vuitton que poderiam ter sido comprados no ano passado, ou daqui a cinco ou dez anos. São peças clássicas. Usaremos o mesmo enfoque com a nova bolsa da Dior. É um item formidável, e muito caro. Você a verá em propagandas, e sem dúvida vai querer comprá- la. Garanto que ficaremos sem estoque em pouco tempo. O preço, entretanto, é bem alto: 1,8 mil dólares. A produção será limitada a alguns milhares. O restante da linha refletirá algumas das idéias embutidas no novo modelo de bolsa - - terá o mesmo formato - -, mas será menos radical no tocante aos tecidos empregados e ao design. Produziremos um número maior desses itens e os venderemos por menos. Assim, preservamos a criatividade e minimizamos também o risco. É claro que, em alguns negócios, não dá para evitar o risco. Às vezes, fracassamos. É assim que se aprende. Já com outros negócios não se pode dizer que sejam fracassos completos ou experiências de aprendizagem. A única coisa que se pode dizer é que seu sucesso está demorando um pouco. É o caso da Christian Lacroix. A LVMH lançou a casa Lacroix há dez anos e, embora muitos a considerem uma das mais criativas de todo o seu portfólio, ainda não deu lucro. Por que não fechar a loja? Porque aprendemos muito com ela. É como se fosse um laboratório para nós, onde aprendemos como começar uma marca do zero. No início, pensávamos: "Muito bem, temos um gênio aqui na Christian Lacroix", mas entendemos que genialidade, só, não basta para ter sucesso. Falando francamente, foi um choque descobrir que até mesmo os grandes talentos não podem lançar uma marca a partir do zero. A marca tem de ser herdada: não existem atalhos. O fato é que as marcas de prestígio levam tempo para crescer. Veja, por exemplo, o caso de pequenas empresas de cosméticos que compramos recentemente, como a Bliss e a Urban Decay. Quando as compramos, eram modestas start-ups dirigidas por seus fundadores -- negócios muito simples, mas com produtos bastante originais. Sabemos agora que é preciso cultivá- las, dar-lhes uma história. Mesmo que sejam necessários 10 ou 15 anos para que se tornem famosas, o investimento não deixa de ser compensador, você não acha? Quer dizer então que a herança é a principal característica de uma marca de prestígio? Eu diria que são quatro: perpetuidade, modernidade, crescimento acelerado e alta lucratividade. É possível que uma marca seja as quatro coisas ao mesmo tempo? É difícil acontecer. Na minha opinião, há menos de dez marcas de prestígio no mundo do alto luxo. É complicado harmonizar as quatro características de uma só vez -- afinal de contas, crescimento acelerado nem sempre combina com alta lucratividade - -, mas é isso que faz delas marcas de prestígio. Quem tem uma marca nobre pode ter certeza de que dominou um paradoxo. Vamos detalhar um pouco mais cada uma dessas características. O que o senhor quer dizer com perpetuidade? Quero dizer que a marca é construída, por assim dizer, para durar para sempre. Significa que existe há muito tempo. Don Pérignon é um bom exemplo disso. Tenho certeza de que as pessoas continuarão a bebê- lo no próximo século. A marca foi criada há 250 anos e continuará importante e desejada por mais um século, mais do que isso até. Ela foi feita para durar gerações sem fim -- assim como certas malas que você compra e usa a vida toda. Perpetuidade não é algo que você encontra apenas nas marcas da LVMH. Eu diria que a marca Cartier também possui essa perpetuidade, assim como a Hermès, o Rolls-Royce e até mesmo a IBM. São todas marcas de prestígio. O problema é que a qualidade do perpétuo leva anos para se desenvolver, às vezes, décadas. Não é o tipo de coisa que se decreta. A marca tem de dizer a que veio - - é preciso que signifique algo perante os olhos do mundo. Como gerente, você pode apressar o processo -- isto é, criar a impressão de perpetuidade o mais rápido possível sem comprometer a qualidade. Muitas empresas falam em qualidade, mas se você quiser que sua marca dure para sempre, tem de cultuá- la com fanatismo. Antes de lançarmos a mala Louis Vuitton, por exemplo, nós a submetemos a um processo mecânico torturante, no qual ela é aberta e fechada cinco vezes por minuto durante três semanas. E não é só isso: ela é jogada no chão, sacudida e pisada. Você riria se visse o que fazemos, mas é assim que se constrói algo que dure para sempre. A propósito, se você submeter certos produtos da concorrência a esse mesmo processo, verá que no fim só restará uma pasta disforme. A qualidade também é fruto da contratação de gente dedicada, que fica na empresa por muito tempo. Tentamos conservar as pessoas que trabalham nos produtos -- sobretudo artesãos, costureiras e outras pessoas que os fazem -- porque eles têm a marca entranhada no sangue, conhecem sua história e sabem seu significado. Também nas lojas a maior parte dos vendedores tem a grife entranhada no sangue. A maioria das empresas, quando adquire uma marca nova, manda embora os antigos empregados. Nós, não, porque descobrimos que a qualidade fica terrivelmente comprometida quando isso acontece. Se você despede toda aquela gente, manda embora pessoas que respeitam mais do que ninguém a marca e que muito fizeram para que ela tivesse longevidade, perpetuidade e autenticidade. Ao mesmo tempo, o senho r sempre pede às pessoas que reinventem a marca, certo? Sim, caso contrário, perdemos a atualidade. Uma marca de prestígio tem de ser atual -- senão, melhor dizer que está simplesmente na moda. Ela tem de ser vibrante, ter sex appeal e modernidade. De certa forma, realiza uma fantasia. Ela é tão nova e singular que você sente vontade de comprá-la. Ela se torna irresistível, é impossível não possuí-la; senão, perde- se o momento. Fica-se para trás. É claro que a moda provém da inovação, da criatividade dos designers. Às vezes, isso é algo ainda mais difícil de garantir do que a qualidade - - que pode ser incorporada a um produto -- , mas é tão importante quanto ela. A verdade pura e simples é que o velho e o novo têm de conviver juntos. Em uma marca de prestígio, honra- se o passado e inventa- se o futuro a um só tempo. O equilíbrio é sutil. E, enquanto isso, há crescimento? Sem crescimento não há marca de prestígio, é assim que eu vejo. Em 2000, Louis Vuitton, que é de longe a maior e a mais luxuosa do mundo, teve um crescimento de 40% nas vendas, o que a torna uma superstar. O crescimento mostra aos acionistas que você conseguiu estabilizar o que é duradouro e o que é moda, e por isso mesmo pode agora cobrar um alto preço pela harmonia alcançada. O crescimento, entretanto, não resulta apenas do alto preço. É possível crescer também quando se muda para novos mercados, como os de países em desenvolvimento. Contudo, o crescimento está, principalmente, condicionado a um grande desejo. É preciso que os clientes desejem o produto. Parece simples, sei disso, mas conseguir o tom certo na propaganda é algo complexo. É difícil conseguir que a propaganda represente de fato uma marca. Muitas empresas acham que basta apresentar a imagem do produto. Não é suficiente. É preciso projetar a imagem da própria marca. É verdade que a linha de frente de uma marca de prestígio -- a inovação, o apoio ao processo criativo, a publicidade e assim por diante - -, é algo tremendamente caro. A alta lucratividade só aparece no fim do processo, e nos bastidores. Tudo começa na fábrica. Nossos produtos são de uma qualidade incrivelmente alta, e têm de ser. Sua produção, entretanto, é organizada de tal maneira que a produtividade também é inacreditavelmente alta. O ateliê é lugar de uma disciplina e de um rigor assombrosos. Todo movimento, por menor que seja, todo passo do processo, é cuidadosamente planejado com base nos mais modernos e aperfeiçoados processos tecnológicos de engenharia. Não é muito diferente do processo de fabricação de carros na maior parte das montadoras modernas. Estudamos a maneira como cada parte do produto será feita, onde comprar os componentes, onde achar o melhor couro pelo menor preço, que tipo de tratamento aplicar. Uma simples bolsa pode exigir mais de mil tarefas para sua fabricação, e nós planejamos cada uma delas. Assim, o processo de produção da LVMH é exatamente o oposto do processo criativo, tão livre e caótico. Se você for à fábrica da LVMH, verá poucas máquinas. Praticamente tudo é feito à mão. De modo geral, o trabalho por empreitada é o sistema operacional mais ineficiente do mundo. No nosso caso, porém, é diferente, porque damos aos artesãos um treinamento fora do comum, por meses a fio, antes de começarem a trabalhar nos produtos. Cada uma das tarefas que realizam tem de ser estudada e refinada durante anos, o que nos permitirá saber como organizar o ateliê. Não há nenhum desperdício de tempo ou de movimento. Isso nos permite oferecer um produto de alta qualidade a um custo que torna nosso negócio altamente lucrativo. O único problema é que um sistema desses precisa de tempo para amadurecer. Não se pode apressar o treinamento dos artesãos nem o planejamento do ateliê se o objetivo é a fabricação de um produto com a máxima eficiência. Quando, por exemplo, desenvolvemos uma nova bolsa, gastamos meses no planejamento do processo de produção, para que seja rentável. Por isso, às vezes, os clientes são obrigados a esperar, A produção é limitada.