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FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA (UNIR)

NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS


DEPARTAMENTO DE FILOSOFIA

ELISANDRO DEMAREST DE SOUZA

A EVOLUÇÃO DA TEORIA CRÍTICA EM AXEL HONNETH:


Reconhecimento, Justiça e Autonomia.

Porto Velho, RO
2019
Elisandro Desmarest de Souza

A EVOLUÇAO DA TEORIA CRÍTICA EM AXEL HONNETH:


Reconhecimento, Justiça e Autonomia

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado ao Departamento de Filosofia da
Fundação Universidade Federal de Rondônia
(UNIR) como requisito parcial para obtenção do
título de licenciado em Filosofia.

Orientador(a): Fernando Danner

Porto Velho, RO
2019
Elisandro Desmarest de Souza

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC)


apresentado ao Departamento de Filosofia da
Fundação Universidade Federal de Rondônia
(UNIR) como requisito parcial para obtenção do
título de licenciado em Filosofia.

A EVOLUÇÃO NA TEORIA CRÍTICA EM AXEL HONNETHH:


Reconhecimento, Justiça e Autonomia

BANCA EXAMINADORA

Prof. Dr. Fernando Danner (Orientador)


Assinatura
___________________________________________________________

Prof. Dr. Leno Danner


Assinatura
___________________________________________________________

Prof. Marcio de Lima Pacheco


Assinatura
___________________________________________________________

Data: Porto Velho – RO, 12 de Julho de 2019.


Resultado:
__________________________________________________________
Epígrafe (opcional);

Dedicatória (opcional);

Agradecimentos (opcional);
RESUMO

Desde Luta por Reconhecimento até Direito da Liberdade, passando Sofrimento por
indeterminação, Axel Honneth delineia como sua problemática principal as lutas das
classes sociais pelo reconhecimento. Por sua vez, ele irá mostrar que a luta, para
além das conquista da distribuição igualitária de rendas, está assentada nas
conquistas da ideia de respeito ao indivíduo e a dignidade da pessoa humana. Em
suas análises da sociedade de nossa época, Axel Honneth busca refletir sobre os
fenômenos culturais e econômicos próprios de nossa época, e defende a tese que,
para alcançarmos uma sociedade justa, precisamos que seus indivíduos sejam
capazes de se reconhecer em si mesmo no outro em suas necessidades, pois todos
têm seus conceitos e valores individuais de liberdade, justiça, cidadania e dos
diretos humanos.

Palavras-Chave: Autonomia; Liberdade; Luta; Reconhecimento e Sociedade


ABSTRACT

From Struggle for Recognition to the Right of Freedom, passing Suffering for
Indeterminacy, Axel Honneth delineates as its main problematic the struggles of
social classes for recognition. In turn, it will show that the struggle, in addition to
achieving the egalitarian distribution of incomes, is based on the achievements of the
idea of respect for the individual and the dignity of the human person. In his analyzes
of the society of our time, Axel Honneth seeks to reflect on the cultural and economic
phenomena proper to our time, and defends the thesis that, in order to achieve a just
society, we need that its individuals are capable of recognizing themselves in the
other in their needs, since all have their individual concepts and values of freedom,
justice, citizenship and human rights.

Keywords: Autonomy; Freedom; Fight, Recognition and Society.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................8

2 A EVOLUÇÃO DA LUTA POR RECONHECIMENTO NO CONTEXTO


SOCIAL DA TEORIA CRÍTICA DE AXEL HONNETH...............................................14

3 CAPÍTULO II AS QUESTÕES DAS PATOLOGIAS DA SOCIEDADE EM


HONNETH...................................................................................................................27
3.1 SUBTÍTULO 2........................................................................................27
3.1.1 Subtítulo 3......................................................................................27

4 TÍTULO DA SESSÃO OU DO CAPÍTULO III...............................................28


4.1 SUBTÍTULO 2........................................................................................28
4.1.1 Subtítulo 3......................................................................................28

5 CONCLUSÃO................................................................................................29

REFERÊNCIAS................................................................................................30
1 INTRODUÇÃO

O fio condutor desta monografia tem como objetivo expor o desenvolvimento


da teoria crítica do filosofo alemão Axel Honneth (1949), atual diretor do Instituto de
Pesquisa Social – também conhecida como Escola de Frankfurt – da Universidade
Johann Wolfgang Goethe de Frankfurt. Axel Honneth é tido como o representante da
terceira geração da mesma.

Com efeito, neste trabalho, pela leitura das obras Luta por Reconhecimento,
Sofrimento de Indeterminação, O Direito da Liberdade e Patologias de la Libertad,
busco, em um primeiro momento, analisar o desenvolvimento da Teoria Critica da
sociedade desenvolvida por Axel Honneth, especialmente a grande influência
exercida pela teoria social de Georg W. F. Hegel (1770-1831) em suas intuições e
teses essenciais, e, em um segundo momento, mostrar quais foram as principais
reatualizações da teoria empreendidos pelo filósofo frankfurtiano. Neste sentido,
ainda com base nestas obras, o meu objetivo principal é mostrar a evolução da luta
por reconhecimento no contexto social, uma vez que as práticas de valores ideais
levam a formação da identidade do sujeito, tal como a construção de uma sociedade
solidária, que, por sua vez, forma um sujeito autônomo em busca do bem estar da
comunidade, tanto quanto buscam o bem comum isto é, à vida boa.

Para Axel Honneth, a teoria crítica vem evoluindo, e não está apenas se
preocupando em eliminar a desigualdades sociais, mas está visando, além disso, a
dignidade do indivíduo e respeito pela pessoa humana. Deste modo, em termos de
justiça social, é inegável que o sujeito participante dessa sociedade tenha como
objetivo normativo o “reconhecimento”, e não somente a redistribuição de renda. A
categoria do reconhecimento tem como propósito esclarecer o indivíduo o seu papel
na sociedade tornando o autônomo e, ao mesmo tempo, estabelecer o pano de
fundo de uma sociedade mais humana, na qual o indivíduo possa ter a possibilidade
de conquistar uma vida digna, ou seja, a “vida boa”. Conforme Axel Honneth,

Qualquer seja o tema por objetos nos escritos de Axel Honneth, a


apresentação está sempre obrigada a orbitar em torno daquilo que é distintivo de
sua proposta no campo da teoria crítica: a preeminência e primazia da ‘gramática
da moral do reconhecimento’. Isso só é possível, entretanto, forem preenchidos dois
8

requisitos, sem os quais as ‘luta por reconhecimento’ não emergem: uma


reconstrução do ponto de vista do social. Essa dupla tomada de partida - pela
“reconstrução” e pelo ‘social’  serve a Honneth de guia não apenas dar sua própria
versão do desenvolvimento e da história da teoria crítica, como para vincular a
‘reconstrução’ com a “presentificação” que pretende emprestar às teorias que lança
mão. (MELO, 2013, p. 11).

A tese de Axel Honneth é que por meio de uma luta por autoconsciência,
autodeterminação e autorrealização – as quais constituem a tríade das esferas do
reconhecimento, visto que é através dessa tríade que podemos conquistar não
apenas o reconhecimento intersubjetivo, e também promover uma sociedade mais
justa e solidária. Desse modo, Axel Honneth procura mostrar que o indivíduo almeja
ter sua dignidade e o seu respeito reconhecido em todas as esferas sociais.

Em Luta por Reconhecimento, Axel Honneth apresenta uma defesa do


desenvolvimento do reconhecimento intersubjetivo como característica essencial do
sujeito. Em contraste com a teoria social do pensador moderno Nicolau Maquiavel,
que em O Príncipe defende a tese da imutabilidade da natureza humana, uma
natureza completamente má e que, por isso mesmo, um príncipe deve ser enérgico
em suas decisões, pois, se mostrasse fraco, ele sucumbiria em seu governo, de
modo que seus inimigos poderiam derrubá-lo do poder, posto que para Axel
Honneth, o que estava em jogo em Nicolau Maquiavel era a manutenção do poder e
a estabilidade do principado, ou seja, a “autoconservação” se apresentava como
mais importante do que o bem estar do indivíduo; Axel Honneth irá também se
contrapor outro pensador moderno Thomas Hobbes (1469-1527), que no Leviatã
apresentava uma “luta de todos contra todos”, de modo que o reconhecimento se
daria pelo medo da morte violenta que os indivíduos tinham no estado de natureza;
pelo pacto social, os indivíduos, por meio de um ato voluntário, entrariam em comum
acordo, constituindo a soberania, abrindo mão de parte de sua liberdade para obter
a segurança, a manutenção de sua propriedade e a paz.
Nesta obra, Axel Honneth apresenta três esferas de reconhecimento próprios
das sociedades contemporâneas.
A primeira esfera do reconhecimento é o amor. Esta esfera é representada
pela carência do indivíduo, assumida no exemplo da relação simbiótica da mãe e do
9

filho. Na relação mãe e filho, há uma dependência total do filho para com sua mãe e,
da mesma maneira, desta para com àquele. Para nosso autor, nesse
relacionamento, quando ocorre uma “quebra”, o filho, por instinto, se sente
desprezado e começa a agir de forma agressiva para com a mãe; com o passar do
tempo, tanto filho como a mãe vão reconhecendo que cada um tem sua necessidade
individual. Para Axel Honneth, nesta primeira esfera de reconhecimento se
estabelece uma relação de autoconfiança, isto é, o indivíduo torna-se capaz de
confiar em si mesmo, deixando de ser dependente.
A segunda esfera de reconhecimento é o direito. Esta esfera está
fundamentada na autonomia formal da pessoa em uma relação positiva de direito. É
nesta esfera que se motiva a autorrealização da pessoa, dado que para isso a
pessoa tem de reconhecer que a relação de direito para com o Estado, e vice-versa,
permite que ela tenha uma segurança normativa que seu papel como cidadão seja
respeitado em sua própria particularidade, ou seja, independentemente de suas
condições sociais. Aqui, o indivíduo passa a se reconhecer e ser reconhecido como
pessoa que têm direitos e deveres com sua sociedade.
A terceira e última esfera de reconhecimento é a solidariedade. Nesta esfera,
a solidariedade ajuda o indivíduo a alcançar sua autodeterminação; em outras
palavras, é quando o indivíduo, mesmo fazendo parte de uma sociedade, tem a
capacidade e a autonomia necessária para decidir seus atos para consigo mesmo.
Neste momento, ele coloca em prática a liberdade e a autonomia em sua
comunidade; além disso, acaba por reconhecer que cada indivíduo da sua
sociedade tem os seus próprios interesses primários (o respeito e a dignidade), que
devem ser respeitados sob pena de surgirem patologias sociais gravíssimas, como a
pobreza, a discriminação, a miséria, a desigualdade social etc.
Dessa forma, as três esferas o reconhecimento giram em torno da ideia de
intersubjetividade, isto é, o indivíduo começa a ter a propensão de refletir e de agir
através de sua consciência absoluta, reconhecendo em si mesmo as necessidades
do outro em sua totalidade.
Na obra Sofrimento de Indeterminação, Axel Honneth pretende reatualizar1 a
teoria da ação comunicativa de Jürgen Habermas. Para Jürgen Habermas, a ação
1
Tomar por tema e objeto a “reconstrução” em Honneth não significa, portanto, ignorar nem a
primazia do “reconhecimento” nem necessário ponto de vista “do social”, único a partir do qual tal
primazia se torna primeiramente visível e teorizável. Trata-se, ao contrário, de pressupor sempre que
a “reconstrução” em Honneth pertence a constelação da qual o “reconhecimento” e o “social” não
podem ser arbitrariamente isolados (MELO, 2013, p.13)
10

comunicativa tinha como proeminência o “entendimento” e serviria de instrumento


para a emancipação do indivíduo, criando assim um “sistema” histórico no qual o
indivíduo, através da ação comunicativa, acabava conhecendo o “mundo da vida”,
pois é neste mundo que o indivíduo compreende seu contexto sócio-político-cultural.
Portanto, é por intermédio da ação comunicativa que o indivíduo torna-se capaz de
gerar um sistema onde a racionalidade coordena de forma eficaz as atividades no
mundo da vida, ou seja, é a partir deste mundo que há a interação comunicativa
entre os indivíduos e, assim, produz um processo em que o indivíduo se emancipa
e, em consequência, torna-se um ser autônomo. Ora, é com base nesse conceito de
comunicação que Axel Honneth se manifestará, pois, segundo ele, ao invés de
solucionar as patologias sistemáticas - que Jürgen Habermas irá chamar de
patologia da “colonização” – a ação comunicativa acaba conduzindo a um processo
no qual o sujeito acaba perdendo sua identidade social. Para Axel Honneth, a teoria
crítica deveria trabalhar não apenas na comunicação instrumental; ela deveria incluir
também a comunicação intersubjetiva, de maneira que o reconhecimento moral
servirá de base para uma reconstrução da própria identidade do sujeito, integrando-
o na sociedade, mostrando, assim, que não é somente na linguagem que se
desenvolve a comunicação, mas também é em conformidade com as relações de
reconhecimento que se forma a identidade de uma sociedade normativa.

Assim, a compreensão do reconhecimento intersubjetivo leva Axel Honneth,


na obra Direito da Liberdade, a desenvolver uma concepção de justiça e liberdade
contrária à concepção de justiça2 e liberdade ideal de John Rawls, defendendo uma
relação dialógica entre os sujeitos que procuram valores coletivos. Para John Rawls,
o indivíduo liberal não delibera com a comunidade, e sim tão somente consigo
mesmo para poder, através de sua racionalidade e de uma reflexão intrapessoal, ter
uma concepção própria do que é justiça. Já para autores comunitaristas como
Michael Walzer, David Miller e Alasdair MacIntyre, as noções de justiça e liberdade
só podem ser tidas como legítimas quando podem ser avaliadas as condições em
que vivem os indivíduos em sociedade e, da mesma forma, a reflexão que o
2
“A justiça é a primeira virtude das instituições sociais, como a verdade o é dos sistemas de
pensamento. Embora elegante e econômica, uma teoria deve ser rejeitada ou revisada se não é
verdadeira; da mesma forma leis e instituições, por mais eficientes e bem organizadas que sejam,
devem ser reformadas ou abolidas como injustas. Cada pessoa possui uma inviolabilidade fundada
na justiça que nem mesmo o bem-estar da sociedade como um todo pode ignorar. Por essa razão, a
justiça nega que a perda da liberdade de alguns se justifique por um bem maior compartilhado por
outros” (RAWLS, 1997, § 2, p.3-4).
11

indivíduo faz para reconhecer que o outro também tem os mesmos direitos que ele
em uma forma recíproca ou reconhecimento intersubjetivo, de modo que, em última
instância, os valores sociais predominarão sobre a ideia de uma sociedade atomista,
como a liberal. Dessa forma, o sujeito se autodeterminará por meio da sua
racionalidade moral, chegando aos conceitos de direitos e liberdade individual; além
disso, poderá ser criado um ordenamento legítimo para essa sociedade, e ela,
através da soma das autoconsciências de seus indivíduos, por si mesma se
autodeterminará.
Em Direito da Liberdade, Axel Honneth apresenta três conceitos de liberdade,
a saber: 1) liberdade negativa, isto é, “a ideia de liberdade do indivíduo consiste na
busca de seus próprios interesses sem que haja impedimentos ‘de fora’ repousa
numa arraigada intuição do individualismo moderno” (HONNETH, 2015, p.46), visto
que a liberdade se encontra diretamente ligada à autonomia do indivíduo, não
encontrando nenhuma força externa que o coaja, uma vez que ele é dono de sua
“vontade”; 2) liberdade reflexiva, isto é, “[...], na verdade a ideia de liberdade
reflexiva se estabelece, antes de tudo, somente pela relação do sujeito consigo
mesmo; segundo a ideia, é livre o indivíduo que consegue se relacionar consigo
mesmo de modo que em seu agir ele se deixe conduzir apenas por suas próprias
intenções” (HONNETH, 2015, p.58-59), que se apresenta quando a pessoa faz uso
de sua racionalidade para decidir o que é melhor para sua afirmação; neste conceito
de liberdade, a pessoa só pode ser considerada livre quando ela é capaz de
reconhecer em si próprio suas vontades, e; 3) liberdade social, isto é, [...] nessa
nova concepção da teoria do discurso da liberdade, “social” é a circunstância
segundo a qual determinada instituição de realidade social já não é considerada
mero aditivo, mas condição e meio para o exercício da liberdade” (HONNETH, 2015,
p. 81); esta concepção de liberdade se estabelece quando o sujeito faz uso do
exercício tanto de sua liberdade reflexiva como de sua liberdade negativa no âmbito
social, nas relações institucionalizadas, tais como nas relações de mercado, nas
relações familiares e nas relação com o Estado.
Conforme demonstrei até agora, desde Luta por Reconhecimento, Axel
Honneth mostrou como o indivíduo se emancipa em sociedade, tornando-se um
sujeito autônomo, que reconhece no outro e suas próprias necessidades. Na obra
Sofrimento de Indeterminação, Axel Honneth procurou reformular a teoria crítica de
Habermas, assumindo como ponto de partida a comunicação instrumental em
12

conjunto com a comunicação intersubjetiva, de modo que fosse possível criar um


princípio normativo que serviria como remédio para as patologias sociais mais
importantes de nossa época, como, por exemplo, a violência, a miséria, o
preconceito e etc. Em Patologias de la Libertad, Axel Honneth afirma que a liberdade
do indivíduo, quando não estabelecida normativamente, bem como quando as
relações intersubjetivas não são devidamente reconhecidas, acabam por resultar em
conflitos sociais e, por conseguinte, doenças ou patologias da sociedade moderna,
onde o sujeito não alcança sua autorrealização de forma plena, pois sua liberdade
não pode ser exercida devido a intervenções externa que a sociedade promove.
Para que a sociedade seja justa, a liberdade individual deve ser igual para todos e,
além disso, deve haver um sistema de direito justo capaz de contemplar todos os
seus cidadãos, para que esses possam, nas palavras do próprio Axel Honneth,
exercer sua “vontade livre”.
2 A EVOLUÇÃO DA LUTA POR RECONHECIMENTO NO CONTEXTO
SOCIAL DA TEORIA CRÍTICA DE AXEL HONNETH

O Filosofo frankfurtiano trabalha em suas obras a questão do reconhecimento


intersubjetivo, o qual procura demonstrar em primeiro momento a análise da
sociedade contemporânea e fazer um contraponto com a sociedade moderna dos
pensadores Nicolau Maquiavel e Thomas Hobbes. Axel Honneth busca refletir as
problemáticas das lutas sociais pelo reconhecimento desde Sofrimento por
indeterminação, até Direito da Liberdade, passando por Luta por Reconhecimento e
Patologias de la Libertad. Por sua vez, ele irá mostrar que a luta, está para além das
conquista da distribuição igualitária de rendas, está assentada nas conquistas da
ideia de respeito ao indivíduo e a dignidade da pessoa humana.
Em suas análises da sociedade de nossa época, Axel Honneth busca refletir
sobre os fenômenos culturais e econômicos próprios de nossa época, e defende a
tese que, para alcançarmos uma sociedade justa, precisamos que seus indivíduos
sejam capazes de se reconhecer em si mesmo no outro em suas necessidades, pois
todos têm seus conceitos e valores individuais de liberdade, justiça, cidadania e dos
diretos humanos.

2.1 Da autoconservação do principado, passando pela luta de Todos Contra


Todos na sociedade moderna, cegando a Luta por reconhecimento na sociedade
contemporânea.
Na obra Luta por reconhecimento, Axel Honneth trabalha bem a questão do
reconhecimento tendo o pano de fundo dessa discussão às instituições sociais da
sociedade contemporânea.
Para Axel Honneth, a teoria crítica vem evoluindo, e não está apenas se
preocupando em eliminar a desigualdades sociais, mas está visando, além disso, a
dignidade do indivíduo e respeito pela pessoa humana. Deste modo, em termos de
justiça social, é inegável que o sujeito participante dessa sociedade tenha como
objetivo normativo o “reconhecimento”, e não somente a redistribuição de renda. A
categoria do reconhecimento procura através da reconstrução social o propósito de
esclarecer o indivíduo em seu contexto histórico-social, assim, tornando-o autônomo
e, ao mesmo tempo, estabelece o pano de fundo de uma sociedade mais humana,
14

na qual o indivíduo possa ter a possibilidade de conquistar uma vida digna, ou seja,
a “vida boa”. Conforme Marcos Nobre:

Qualquer que seja o tema por objetos nos escritos de Axel Honneth,
a apresentação está sempre obrigada a orbitar em torno daquilo que
é distintivo de sua proposta no campo da teoria crítica: a
preeminência e primazia da ‘gramática da moral do reconhecimento’.
Isso só é possível, entretanto, forem preenchidos dois requisitos,
sem os quais as ‘luta por reconhecimento’ não emergem: uma
reconstrução do ponto de vista do social. Essa dupla tomada de
partida - pela “reconstrução” e pelo ‘social’  serve a Honneth de
guia não apenas dar sua própria versão do desenvolvimento e da
história da teoria crítica, como para vincular a ‘reconstrução’ com a
“presentificação” que pretende emprestar às teorias que lança mão.
(MELO, 2013, p. 11).

A tese do neocontratualista é que por meio de uma luta por autoconsciência,


autodeterminação e autorrealização – as quais constituem a tríade das esferas do
reconhecimento – visto que é através dessa tríade que podemos conquistar não
apenas o reconhecimento intersubjetivo, e também promover uma sociedade mais
justa e solidária. Desse modo, Axel Honneth procura mostrar que todo indivíduo
almeja ter sua dignidade e o seu respeito reconhecido em todas as esferas sociais.
Em Luta por Reconhecimento, Axel Honneth apresenta uma defesa do
desenvolvimento do reconhecimento intersubjetivo como característica essencial do
sujeito. Em contraste com a teoria social do pensador moderno Nicolau Maquiavel,
que em O Príncipe defende a tese da imutabilidade da natureza humana, uma
natureza completamente má, sendo o indivíduo egocêntrico e preocupado somente
com seus interesses e que, por isso mesmo, um príncipe deve ser enérgico em suas
decisões, pois, se mostrasse fraco, ele sucumbiria em seu governo, de modo que
seus inimigos poderiam derrubá-lo do poder, posto que para Axel Honneth, o que
estava em jogo em Nicolau Maquiavel era a manutenção do poder e a estabilidade
do principado, ou seja, a “autoconservação” se apresentava como mais importante
do que o bem estar do indivíduo.
A filosofia social moderna pisa a arena num momento da história das
ideias em que a vida social é definida em seu conceito fundamental
como relação da luta por autoconservação; os escritos políticos de
Maquiavel preparam a concepção segundo a qual os sujeitos
individuais se contrapõem numa concorrência permanente de
interesses, não diferentemente de coletividades políticas; na obra de
Thomas Hobbes, ela se torna enfim a base de uma teoria do contrato
que fundamenta a soberania do Estado. Ela só pudera chegar a esse
novo modelo conceitual de uma “luta por autoconservação” depois
15

que os componentes centrais da doutrina política da Antiguidade, em


vigor até a Idade Média, perderam sua imensa força de convicção.
(HONNETH, 2009, p. 31)

Na teoria social de Maquiavel um bom governante deve ser inteligente,


competente e firme para poder bem governar, sem essas características ele perderá
o respeito do povo e conseqüentemente o poder. Para ele a máxima “melhor ser
temido, do que ser amado” serve de exemplo para o Príncipe, pois ele deve ter
cuidado com a natureza maldosa do homem que é traiçoeira, oportunistas, ingratas
e movidas pelo lucro, e pensa somente no bem próprio. É melhor, que seus
governados o tema, pois temendo, eles irão respeitá-lo acima de tudo. Segundo o
filosofo frankfurtiano:
[...]. Mas as categorias centrais de suas análises comparativas estão
talhadas para essa luta sempiterna por autoconservação, para essa
rede de ilimitadas de interações estratégicas, em que naturalmente
Maquiavel enxerga o estado bruto de toda vida social, porque elas
não designam nada mais que o nada mais que os pressupostos
estruturais da ação bem-sucedida por poder; mesmo ali onde ele se
serve dos conceitos metafísicos fundamentais da historiografia
romana e fala por exemplo da virtu ou fortuna, ele se refere somente
às condições marginais históricas que, da perspectiva dos agentes
políticos, se revelam recursos praticamente indisponíveis em seus
cálculos estratégicos de poder. (HONNETH, 2009, p. 33)

Axel Honneth irá também se contrapor outro pensador moderno Thomas


Hobbes (1469-1527), que no Leviatã apresentava uma “luta de todos contra todos”,
de modo que o reconhecimento se daria pelo medo da morte violenta que os
indivíduos tinham no estado de natureza; pelo pacto social, os indivíduos, por meio
de um ato voluntário, entrariam em comum acordo, constituindo a soberania, abrindo
mão de parte de sua liberdade para obter a segurança, a manutenção de sua
propriedade e a paz. Ao abordar a condição natural em que todos os indivíduos
nascem, Thomas Hobbes explica que a natureza fez os homens tão iguais, ou seja,
para o autor de Leviatã embora exista homens mais fortes fisicamente que outros,
isso não significa ele irá se manter a salvo de um possível ataque do considerado
mais fraco fisicamente. Por sua vez, Thomas Hobbes aponta que em espírito (razão)
nós somos mais iguais por maior semelhança, visto que está associado a suas
experiências vida. Por conseguinte, é preciso entender a ideia de estado de
natureza, isto é, o estado de natureza é uma luta de todos contra todos, pois
ninguém pode dizer o que é certo ou errado, justo ou injusto porque não existe um
16

árbitro para conter as paixões dos homens. Para Axel Honneth o filosofo o filosofo
inglês a sua teoria social seria explicada da seguinte forma:
[...]. Por fim, na terceira parte de seu empreendimento, Hobbes utiliza a
construção teórica desse estado no sentido de uma fundamentação filosófica da
própria construção da soberania do Estado: as conseqüências negativas manifestas
da situação douradoura de uma luta entre os homens, o temor permanente e a
desconfiança recíproca, devem mostrar que só a submissão, regulada por contrato,
de todos os sujeitos a um poder soberano pode ser o resultado de uma ponderação
de interesses, racional com respeito a fins, por parte de cada um. Na teoria de
Hobbes, o contrato social só encontra sua justificação decisiva no fato de
unicamente ele ser capaz de dar um fim à guerra ininterrupta de todos contra todos,
que os sujeitos conduzem pela autoconservação individual. (HONNETH, 2009, p.
35)

De acordo com Axel Honneth, Thomas Hobbes afirma que o homem na


condição natural tende a sua própria autoconservação, isto é, o outro sempre será
um inimigo em potencial contra a sua vida, como alude em sua obra Leviatã, quando
dois homens desejam a mesma coisa ao mesmo tempo, é impossível que as tenham
ao mesmo tempo, e, portanto, entrarão em guerra para tê-la, porém mesmo assim
não garante que outro chegue e a deseje também. Na natureza existem três causas
de discórdia que fazem os homens ser inimigos uns dos outros quando não se tem
um poder coercitivo capaz de controlá-los, a saber: a competição, a desconfiança e
a glória. Em suma, Axel Honneth, diz que Hobbes pretende demonstrar como é o
homem em seu estado de natureza, e sua constante inclinação a guerra para a
busca de sua autoconservação, neste estado não há propriedade, não há
sociedade. O que faz os homens buscarem a paz é o medo da morte e a esperança
de uma vida boa.
E por causa desta desconfiança de uns em relação aos outros nenhuma
maneira de se garantir e tão razoável como a antecipação isto é. Pela força ou pela
astúcia subjugar as pessoas de todos os homens que puder, durante o tempo
necessário para chegar ao momento em que não veja nenhum outro poder
suficientemente grande o ameaçar. E isto não é mais do que sua própria
conservação exige e geralmente se aceita. E porque alguns se comprazem em
contemplar o próprio poder em atos de conquista levados muito além do que a sua
17

segurança exige, outros que, em circunstâncias distintas, se contentariam em se


manter tranquilamente dentro de modestos limites, caso não aumentassem o seu
poder por meio de invasões, não seriam capazes de subsistir durante muito tempo,
se apenas se pusessem em atitude de defesa. Consequentemente, deve-se
concede a todos esse aumento do domínio sobre os homens pois é necessário para
a conservação de cada um. (Hobbes, 2003, pág. 108)

As lutas sociais da Idade Moderna dado ao seu cenário histórico-social, eram


mais lutas por poder político, por interesses individuais e egoísmo. Axel Honneth
assim como Hegel, procura analisar esse modelo de sociedade e o seu conceito de
luta social, e assim fazer uma reconstrução desse modelo procurando ter a
presentificação na sociedade contemporânea na qual o reconhecimento
intersubjetivo é o elemento fundamental dos conflitos sociais.
Axel Honneth aponta em Luta por Reconhecimento que Hegel discorre sobre
atitude “áetica”, atitude essa que são disposições egocêntricas ou modelo de política
singular, este sujeito isolado e dono de suas vontades 3 para viver em uma
“comunidade de homens” tem que reprimir essas vontades para assim aprender a
conviver com “outros estranhos”, Hegel fala que para isso esse indivíduo tem que
tomar atitudes éticas:
[...]. Em princípio não se procedem diferentemente os enfoques da tradição do
direito natural que Hegel designa como “formal”, visto que eles tomam seu ponto de
partida, no lugar das definições acerca da natureza humana, num conceito
transcendental de razão prática; em tais teorias, representadas sobre tudo por Kant
e Fichte, as premissas atomísticas dão-se a conhecer no fato de as ações éticas em
geral só poderem ser pensadas na qualidade de resultado de operações racionais,
purificadas de todas as inclinações humanas; também aqui a natureza do homem é
representada como uma coleção de disposições egocêntricas ou, como diz Hegel,
“aéticas”, que o sujeito primeiro tem que reprimir em si antes de poder tomar atitudes
éticas, isto é, atitudes que fomentam a comunidade. [...]. Para Hegel, resulta daí a
consequência de que no direto natural moderno, uma “comunidade de homens” só
3
Segundo Hegel uma das fases do desenvolvimento da ideia da vontade livre
em si e para si, a vontade é: Imediata. O seu conceito é portanto abstrato: a
personalidade; e a sua existência empírica é uma coisa exterior imediata, é o
domínio do direito abstrato ou formal; (Hegel, 1997, p. 35, § 33)
18

pode ser pensada segundo um modelo abstrato dos “muitos associados”, isto é, uma
concentração de sujeitos individuais isolados, mas não segundo o modelo de uma
unidade ética de todos. (HONNETH, 2009, p. 39- 40)

De acordo com o nosso autor, Hegel tem um conceito de sociedade


normativa, uma sociedade ética a qual em seu primeiro momento seus indivíduos
poderiam exercer uma “liberdade universal e individual”, ou seja, pode se realizar em
sua liberdade na esfera particular do indivíduo, mesmo se não tendo a liberdade na
vida pública. Em seu segundo momento Hegel afirma que os indivíduos no interior
de sua sociedade através da comunicação e seus costumes conseguem na
coletividade e nas instituições exercer sua liberdade mais ampliada, mostrando
assim que o indivíduo isolado não consegue exercer sua liberdade. Para Hegel o
reconhecimento intersubjetivo seria uma ação recíproca entre indivíduos, o qual
seria algo fundamental para a socialização humana.
A seguir discorrerei sobre o reconhecimento intersubjetivo em suas esferas,
as quais se desenvolvem nas instituições tais como: família, Estado e sociedade.

2.2 As Três Esferas do Reconhecimento


Em Luta por Reconhecimento Axel Honneth apresenta três esferas de
reconhecimento próprios das sociedades contemporâneas. Aqui se desenvolve as
relações do indivíduo, o qual exercita suas “vontades”, e aqui ele é capaz de
aprender a desenvolver sua “consciência de agir” no campo familiar, sexual, do
trabalho e do social. Nestas esferas do reconhecimento intersubjetivo, a evolução do
individuo começa na sua capacidade de ser autoconfiante aprendendo a reconhecer
a necessidade o outro em si mesmo; se autorrealizar se sentindo capaz de se
satisfazer com sua própria potencialidade e se autodeterminar tendo a capacidade
de decidir por si mesmo a escolha do próprio destino.
Então podemos ver na obra Luta por Reconhecimento que Axel Honneth faz
uma leitura apurada da sociedade contemporânea, mostrando que através das
esferas do reconhecimento intersubjetivo o indivíduo por meio de sua capacidade
cognitiva consegue construir uma consciência normativa, em que ele se reconhece
não só si mesmo, mas também o outro em sua totalidade (Cf. Honneth, 2009, p. 63),
com isso há de ocorrer os conflitos ou luta por reconhecimento, esses conflitos
perduram até cada individuo possa reconhecer que assim como ele, o outro também
4
possui em sua singularidade desejos e vontades, assim como ele.
De acordo com Axel Honneth, Hegel tem como interpretação de luta por
reconhecimento, uma “luta de vida e morte”, porém não em um sentido literal, mas
sim, em um sentido figurado, pois o não reconhecimento faz com que fira a
liberdade individual, e ou até mesmo uma ameaça a direitos. Como podemos
conferir:
Uma primeira interpretação dessa espécie decorre da tese desenvolvida por
Andréas Wildt, segundo a qual Hegel não fala aqui da “luta de vida e morte” num
sentido literal, mas somente figurado; a metáfora drástica refere-se àqueles
momentos de uma “ameaça” existencial, nos quais um sujeito tem de constatar que
uma vida plena de sentido só lhe é possível no “contexto do reconhecimento de
direitos e deveres”. (Honneht, 2009, p. 93)

Para Axel Honneth é nas esferas do reconhecimento intersubjetivo, bem como


na luta por reconhecimento, que o sujeito social se desenvolve sua autoconsciência,
e que ele só começa reconhecer a vontade do outro, quando ele passa a ter a
capacidade de refletir e de agir de forma consciente, reconhecendo em si mesmo a
necessidade do outro em sua totalidade. É nesse ato de intersubjetividade que o
filosofo alemão defende sua ideia de luta por reconhecimento, que é motivada por
situações de desrespeito mútuo de algumas pretensões individuais que, por sua vez,
gera um conflito e/ou uma reconciliação entre as partes.

2.2.1 O amor e a relação de interdependência do individuo.


A primeira esfera do reconhecimento é o amor. Nesta esfera está
representada pela carência do indivíduo tanto na esfera familiar, quanto na amizade,
mas a principio ire exemplificar a relação simbiótica de mãe e filho, pois segundo
Axel Honneth para Hegel  o filho seria o ápice do amor entre um homem e uma
mulher  assim seria o retrato de uma família burguesa, formada pelo pai, mãe e
filho: “ Hegel, neste ponto totalmente teórico clássico da família burguesa, considera
o filho a corporificação máxima do amor entre o homem e a mulher: ‘Nele, eles
4
Tópico este aproveitado do meu relatório PIBIC 2017/18 sob o titulo
“Liberdade e Justiça na obra ‘O Direito da Liberdade’ de Axel Honneth”.
20

intuem o amor; (ele é) sua unidade consciente de si enquanto consciente de si’”


(Honneth, 2009, p. 81); e posteriormente irei abordar as relações tais como:
amizade, casamento, sexualidade e etc.
Existem diversas relações de reconhecimento na esfera do amor e amizade,
mas a relação mãe e filho é uma que para Axel Honneth seria o ponto de partida do
reconhecimento intersubjetivo, pois essa relação mostra há dependência total do
filho para com sua mãe e, da mesma maneira, desta para com àquele, sendo assim
uma relação simbiótica, relação de interdependência desses indivíduos ou
“dependência absoluta”, e o não reconhecimento faz com que haja um conflito de
interesses entre os dois causando dificuldades no relacionamento de ambos. Para
nosso autor, nesse relacionamento, quando ocorre uma “quebra”, o filho, por instinto,
se sente desprezado e começa a agir de forma agressiva para com a mãe; com o
passar do tempo, tanto filho como a mãe vão reconhecendo que cada um tem sua
necessidade individual, ou seja, passa de uma “dependência absoluta”, para uma
“dependência relativa”.
[...]. Para Hegel, o amor representa a primeira etapa de reconhecimento
recíproco, porque em sua efetivação os sujeitos se confirmam mutuamente na
natureza concreta de suas carências, reconhecendo-se assim como seres carentes:
na experiência recíproca da dedicação amorosa, dois sujeitos se sabem unidos de
fato de serem dependentes, em seu estado carencial, do respectivo outro. Além
disso, visto que a carência e afetos só podem de certo modo receber, “confirmação”
porque são diretamente satisfeitos ou correspondidos, o próprio reconhecimento
deve possuir aqui o caráter de assentimento e encorajamento afetivo; nesse sentido,
essa relação de reconhecimento está também ligada de maneira necessária à
existência corporal dos outros concretos, os quais demosntram entre si sentimentos
de estima especial. [...](Honneht, 2009, p. 160)

Para Axel Honneth, nesta primeira esfera de reconhecimento se estabelece


uma relação de autoconfiança, isto é, o indivíduo torna-se capaz de confiar em si
mesmo, deixando de ser dependente, nela faz com que o indivíduo tenha sua
primeira experiência de reconhecimento recíproco, pois é através da carência que
ele pode se reconhecer no outro, através da afetividade e da relação interpessoal,
podendo satisfazer suas necessidades e a do outro.
21

O filosofo frankfurtiano afirma também que o conceito de amor não está


somente assentado na concepção romântica, intima e ou sexual entre dois parceiros
ou mesmo de pais e filhos, mas sim, todas as relações primárias de ligações
emotivas entre poucas pessoas (Cf.Honneth, 2009, p. 159), assim ampliando a ideia
de amor para Hegel, não sendo somente aquelas relações entre homem e mulher, e
ou pais/fllhos, mas também a relação de amizade, a qual pode também trazer uma
carência de um amigo para com o outro em uma ligação afetiva.

2.2.2 A esfera do direito e a autorrealização da pessoa.


A segunda esfera de reconhecimento é o direito. Esta esfera está
fundamentada na autonomia formal da pessoa em uma relação positiva de direito. É
nesta esfera que se motiva a autorrealização da pessoa, dado que, para isso a
pessoa tem de reconhecer a relação de direito com a sociedade civil, e vice-versa,
permite que ela tenha uma segurança normativa de seu papel como cidadão seja
respeitado em sua própria particularidade, ou seja, independentemente de suas
condições sociais.
Na sociedade civil que o indivíduo passa a se reconhecer e ser reconhecido
como pessoa que têm direitos e deveres, assim podendo melhor reconhecer-se-no-
outro.
Segundo o nosso autor conduz que a esfera do direito está pautada na
autorrealização na pessoa de direito, a qual procura sua formação de sua
identidade, ou seja, o seu “Eu”. Axel Honneth procura mostrar que o sujeito
individual começa a se desenvolver e assim, começa a interagir socialmente de
forma mais reativa e espontânea, e este sujeito social se desperta e se ver não
apenas como individuo, mas como também, uma pessoal a qual têm direitos e
deveres dentro de sua comunidade, ele é um autor ativo daquele meio.
[...]. A experiência de ser reconhecido pelos membros da coletividade como
pessoa de direito significa para o sujeito individual pode adotar em relação a si
mesmo uma atitude positiva; pois, inversamente, aqueles lhe conferem, pelo fato de
saberem-se obrigados a respeitar seus direitos, as propriedades de um ator
moralmente imputável. Porém, uma vez que o sujeito partilha necessariamente as
capacidades vinculadas a isso como todos os seus cidadãos, ele não pode se referir
positivamente ainda, como pessoa de direito, àquelas propriedades suas em que ele
se distingue justamente de seus parceiros de interação; para tanto se precisaria de
22

uma forma de reconhecimento mútuo que propiciasse confirmação a cada um não


apenas como membro de uma coletividade, mas também como sujeito
biograficamente individuado. Mead coincide com Hegel também na constatação de
que a relação jurídica de reconhecimento é ainda incompleta se não puder
expressar positivamente as diferenças individuais entre os cidadãos de uma
coletividade. (Honneth, 2009, p. 139)

A interação social do individuo faz com que ele desenvolva o seu “Eu”,
fazendo com que comece a reconhecer a particularidade do outro, bem como a sua
mesma.
Esse desenvolvimento faz com que o “Eu” esteja mais ligado à singularidade
do individuo e suas vontades, entre em conflito quando esse mesmo indivíduo
começa a viver em comunidade e sua globalização de vontades, então ele tem que
começa a interagir e compreende que o seu “Eu” e a penas mais um, e isso faz
entender e assim progrida seu “Eu” para o “Me” mais preocupado com o
desenvolvimento social.
Essa passagem do “Eu” singular para o “Me” particular, faz com que o
indivíduo não pense apenas em si mesmo, e consequentemente, passe a ter outros
interesses e procure novas formas de reconhecimento, por exemplo, nossa
sociedade a inda tem uma ideia de que a família é um retrato da família burguesa
tradicional, mas na atualidade temos famílias formadas e comandadas apenas pela
mãe e os filhos, outra forma de família é a formada por casais homossexuais as
quais adotam seus filhos e etc. Axel Honneth chama esse tipo de família de “colcha
de retalho”, termo esse que irei abordar melhor no Capítulo 3 dessa monografia, pois
está contido na obra O Direito da Liberdade, essas famílias devem ser reconhecidas
apesar de termos um “ideal” de família, o que ligam elas são primeiramente o amor;
e como não podemos esquecer que essas famílias devem ser respeitadas como tal
e sua dignidade assegurada não só pelo Estado, mas também pela Sociedade civil.
Isso não seria um reconhecimento de direto? Isso não seria reconhecer-se-no-outro?
O Conceito ético de “outro generalizado”, ao qual Mead teria chegado se
tivesse considerado as antecipações idealizadoras do sujeito da autorrealização que
se sabe sem reconhecimento, partilha com a concepção de eticidade de Hegel as
mesmas tarefas: nomear uma relação uma relação de reconhecimento recíproco na
23

qual todo sujeito pode saber-se confirmando como pessoa que se distingue de todas
as outras por propriedades ou capacidades particulares. (Honneth, 2009, p. 149)

Talvez essa seja a teoria normativa que tanto Axel Honneth e outros
comunitaristas propõem como forma de reconhecimento intersubjetivo, se ver no
outro, aprender que nossa individualidade seja respeitada, mas que também
possamos aprender a respeitar os indivíduos em suas singularidades e em suas
particularidades.

2.2.3 A solidariedade e a autodeterminação do sujeito.


Completado as esferas do reconhecimento intersubjetivo, temos a terceira e
última esfera de reconhecimento que é a solidariedade. Nesta esfera, a
solidariedade ajuda o indivíduo a alcançar sua autodeterminação; em outras
palavras, é quando o indivíduo, mesmo fazendo parte de uma sociedade, tem a
capacidade e a autonomia necessária para decidir seus atos para consigo mesmo.
Como visto nos subtítulos anteriores o indivíduo coloca em prática a ideia de
relações solidárias que envolvem o amor e o direito na práxi social; além disso,
acaba por reconhecer que cada indivíduo da sua sociedade tem os seus próprios
interesses primários (o respeito e a dignidade), que devem ser respeitados sob pena
de surgirem patologias sociais gravíssimas, como a pobreza, a discriminação, a
miséria, a desigualdade social etc. A noção de solidariedade de Hegel segundo Axel
Honneth:
Certamente, “Solidariedade” não é apenas um título possível para relação
intersubjetiva que Hegel tentou designar como conceito de “intuição recíproca”; por
si mesma, ela se apresenta como uma síntese dos dois modos precedentes de
reconhecimento, porque partilha com o “direito” o ponto de vista cognitivo do
tratamento igual universal, mas com o “amor”, o aspecto do vinculo de assistência.
Hegel entende por “eticidade”, na medida em que não se rendeu ainda a uma versão
substancialista do conceito, o gênero de relação social que surgue quando o amor,
sob pressão cognitiva do direito, se purifica, constituindo-se em uma solidariedade
universal entre os membros de uma coletividade; visto que nessa atitude todo sujeito
pode respeitar o outro em sua particularidade individual, efetua-se nela a forma mais
exigente de reconhecimento recíproco. (Honneth, 2009, p. 153-154)
24

Axel Honneth conduz que o reconhecimento recíproco apesar do indivíduo ter


conquistado sua autorrealização, ele por si só reconhece que precisa se
autodeterminar no processo da vida social. Esse indivíduo não está mais somente
se reconhecendo nas relações primárias, mais sim, em relações mais complexas
tais como relações jurídicas, ou seja, deixa de ser apenas um indivíduo e é
reconhecido como sujeito social, um ser social e livre.
O reconhecimento da solidariedade faz com que o sujeito social apesar de ser
um indivíduo singular e pessoa em sua particularidade, ele é também universal, pois
é através dessa universalidade que esse sujeito reconhece de forma reflexiva que os
outros também possuem suas vontades singulares, que numa sociedade normativa
todos temos múltiplos deveres e direitos dentro dessa estrutura social (Cf. Honneth,
2009, p. 183 - 185).
A ideia normativa de solidariedade não se dá somente de que o cidadão de
uma comunidade tem direitos e deveres iguais, mas também, que ele é um membro
de igual valor no processo político, sem discriminação de gênero, etnia, poder
econômico e etc., podendo assim haver privilégios e exceções.
Dessa forma, as três esferas o reconhecimento giram em torno da ideia de
intersubjetividade, isto é, o indivíduo começa a ter a propensão de refletir e de agir
através de sua consciência absoluta, reconhecendo em si mesmo as necessidades
do outro em sua totalidade. É nesse ato de intersubjetividade que Axel Honneth
defende sua ideia de luta por reconhecimento, que é motivada por situações de
desrespeito mútuo de algumas pretensões individuais que, por sua vez, gera um
conflito e/ou uma reconciliação entre as partes.
2.3 o desrespeito da dignidade da pessoa humana
Vimos no subtítulo anterior, a formação do indivíduo desde sua libertação da
carência como indivíduo singular, passando pelo reconhecimento jurídico de pessoa
em sua particularidade até sua autodeterminação como sujeito social. Claro que só
podemos ter essa sociedade normativa se ela for justa e ética, caso contrários esse
reconhecimento intersubjetivo não ocorrerá, causando danos não somente ao
indivíduo, mas também a sociedade em geral. Nela ocorrerão patologias sócias tais
como violência, fome, pobreza, violações de direitos e etc.
Não sei se será adequado trazer a filosofia de Axel Honnteh para o contexto
social brasileiro em sua contemporaneidade, mas vou tentar como diz o autor, usar
da práxi social. O filosofo alemão mostra no capitulo 6 “identidade pessoal e
25

desrespeito: violação, privação de direitos, degradação”; nele ele mostra como uma
sociedade injusta trata seus indivíduos, na qual as “ofensas” e o “rebaixamentos”
são características peculiares, ou seja, impera o “desrespeito”, ou melhor o não
reconhecimento.
Ora, é visível que tudo o que é designado na língua corrente como
“desrespeito” ou “ofensa” pode abranger diversos de profundidade na
lesão psíquica de um sujeito: por exemplo, entre o rebaixamento
palpável ligado à denegação de direitos básicos elementares e a
humilhação sutil que acompanha a alusão pública ao insucesso de
uma pessoa, existe uma diferença categorial que ameaça perde-se
de vista no emprego de uma das expressões. Em contrapartida, a
circunstância de que pudermos efetuar graduações sistemáticas
também no conceito complementário de “reconhecimento” já aponta
para as diferenças internas existentes entre algumas formas de
desrespeito. [...] (Honneth, 2009, p.214)

Portanto esse desrespeito faz com que haja a luta por reconhecimento, claro
que o autor diz que o reconhecimento é algo natural do ser humano, pois ele
desenvolve isso desde seu nascimento e mediante a uma socialização do individuo
através de suas experiências.
Na sociedade civil brasileira está ainda escancarado que ela é ainda uma
sociedade injusta, individualista e heterônoma. O individuo parece ainda não ter sua
identidade própria, não se reconhece a si mesmo quanto mais reconhecer o outro.
Temos diversos casos no qual a mulher é vista somente como objeto para seu
companheiro, para ele, ela não possui vontade e tem que se totalmente submissa à
vontade do parceiro, e isso e uma das causa da violência contra as mulheres.
Outros grupos que lutam por seu reconhecimento diuturnamente, são os grupos
GLBT’s e os kilombolas, os quais apesar da sociedade retrógoda, vêm conquistando
seus espaços e diretos paulatinamente.
A luta pela integração a sociedade desses grupos é grande, são pessoas que
tem suas identidades, e querem preservá-las, querem ser reconhecidas em seus
direitos e liberdade, querem a garantia da “dignidade” e “respeito” as suas
individualidades. São seres singulares, que como os demais têm direito de realizar
suas vontades.
Axel Honneth contempla uma sociedade normativa, na qual esses indivíduos
citados acima, bem como os demais, terão seus direitos e deveres resguardados em
sua plenitude, e a luta pelo reconhecimento é que tornará a sociedade mais justa e
solidária.
26

3 AS QUESTÕES DAS PATOLOGIAS DA SOCIEDADE EM HONNETH

CAPÍTULO III: DA DEPENDÊNCIA DO INDIVÍDUO A AUTODETERMINAÇÃO


DO SUJEITO.

3.1 SUBTÍTULO 2
Xxx ...

3.1.1 Subtítulo 3
Xxx ...
4 TÍTULO DA SESSÃO OU DO CAPÍTULO III

Xxx ...

4.1 SUBTÍTULO 2
Xxx ...

4.1.1 Subtítulo 3
Xxx ...
5 CONCLUSÃO

Xxx ...
REFERÊNCIAS

HEGEL, Georg W. F. Princípios da filosofia do direito / G.W.F. Hegel.


Tradução de Orlando Vitorino. São Paulo: Martins Fontes, 1997. (Clássicos).

HOBBES, Thomas. Leviatã; organizado por Richard Tuck. Tradução de João


Paulo Monteiro, Maria Beatriz Nizza da Silva, Claudia Berliner; revisão da tradução
Eunice Ostrensky. São Paulo: Martins Fontes, 2003. – (Clássicos Cambridge de
filosofia política).

HONNETH, Axel. O Sofrimento de Indeterminação: uma reatualização da


Filosofia do direito de Hegel. São Paulo: Editora Singular, Esfera Pública, 2007.

_____. Luta por Reconhecimento: A Gramática moral dos conflitos


sociais. Tradução de Luiz Repa; apresentação de Marcos Nobre. 2ª ed. São Paulo:
Editora 34, 2009.

_____. O Direito da Liberdade; tradução Saulo Krierger. São Paulo: Martins


Fontes. 2015.

_____. Patologias de La Libertad; editado por Jesús Hernàndez; Benno


Herzog. 1ª ed. Ciudade Autónoma de Buenos Aires: Las Cuarenta, 2016.

MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. Tradução Maria Júlia Goldwasser; revisão


da tradução Zélia de Almeida Cardoso. 3ª Ed. São Paulo: Martins Fontes, 2004. -
(Coleção Obras Maquiavel).

MELO, Rúrion. (coord.) A Teoria Crítica de Axel Honneth: Reconhecimento,


liberdade e justiça. 1ª ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

RAWLS. John. Uma Teoria da Justiça; tradução Almiro Pissetta e Lenita M.


R. Esteves. São Paulo: Martins Fontes, 1997. (Ensino Superior).
30

ROUSSEAU. Jean-Jacques. O Contrato Social; tradução Antonio de Pádua


Danesi. 3ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1996. (Clássicos).

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