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UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA

PROCESSO SELETIVO 2019/II

ANTEPROJETO DE PESQUISA

RENAN FELIPE SILVA DO AMARAL


CPF 988.095.122-00

A ANÁLISE DE ERIC VOEGELIN DIANTE DO FENÔMENO DAS


IDEOLOGIAS TOTALITÁRIAS

PORTO VELHO
19/07/2019
RENAN FELIPE SILVA DO AMARAL
CPF 988.095.122-00

A ANÁLISE DE ERIC VOEGELIN DIANTE DO FENÔMENO DAS


IDEOLOGIAS TOTALITÁRIAS

Anteprojeto de pesquisa apresentado como


requisito para processo seletivo para o Programa
de Pós-Graduação em Filosofia – Mestrado
Acadêmico na Universidade Federal de
Rondônia.

PORTO VELHO/RO
2019

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SUMÁRIO

RESUMO ....................................................................................................................... 04

PROBLEMÁTICA E DELIMITAÇÃO......................................................................... 04

OBJETIVOS................................................................................................................... 04

Geral ......................................................................................................................... 04

Específicos ............................................................................................................... 04

FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................. 05

INDICAÇÃO DA LINHA DE PESQUISA PRETENDIDA ......................................... 12

CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO .............................................................................. 12

SUMÁRIO DOS CAPÍTULOS E SEÇÕES A SEREM DESENVOLVIDOS NA

DISSERTAÇÃO ............................................................................................................ 13

BIBLIOGRAFIA BÁSICA ............................................................................................ 14

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1. RESUMO

Na primeira metade do séc. XX, a Alemanha viveu sob a sombra da ideologia totalitária do
Nacional-Socialismo. Não obstante, houve, por parte do povo alemão, aprovação e
consentimento, tornando esse período histórico propício a questionamentos dos mais variáveis
níveis. Utilizando-se da investigação filosófica de Eric Voegelin, este trabalho acadêmico
buscará instrumentos teóricos que permitam compreender tal período na História. Além disso,
tendo em vista os acontecimentos de junho de 2013, ocorridos em diversas cidades brasileiras,
o presente trabalho irá traçar uma leitura paralela entre os acontecimentos do séc. passado e os
eventos trazidos pela recente história brasileira. Também será oportuno retratar a figura do
intelectual como a instância individual de resistência, pela qual, a consciência individual busca
imunidade diante da estupidez, isto é, diante da recusa de participação no transcendente. Em
outras palavras, uma forma específica de declínio espiritual.

2. PROBLEMA E DELIMITAÇÃO

Quais são os tópicos trazidos por Eric Voegelin, em sua análise a respeito do espírito totalitarista
presente na ideologia nacional-socialista, realizada em Hitler e os Alemães, que poderiam
contribuir numa abordagem filosófica da atual conjuntura política brasileira?

3. OBJETIVOS
3.1. Geral
Identificar na filosofia de Eric Voegelin, sobretudo em sua obra Hitler e os alemães,
conceitos que identifiquem aspectos do espírito totalitarista.
3.2. Específicos
 Apresentar a filosofia de Eric Voegelin;
 Delimitar a gênese do fenômeno totalitarista europeu, em especial o nacional-
socialismo, tendo em vista a obra Hitler e os alemães;
 Abordar a atual conjuntura política brasileira, utilizando-se de instrumentos
teóricos provenientes da filosofia de Eric Voegelin.

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4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

1. Eric Voegelin (apresentação)


Filho de Otto Stefan (engenheiro civil) e Elisabeth Ruehl Voegelin, Erich Hermann
Wilhelm Voegelin nasceu em Colônia (Alemanha) em 3 de janeiro de 1901. Faleceu em
Stanford (Califórnia), em 19 de janeiro de 1985. Alemão de nascimento, passou a viver na
cidade de Viena, a partir de 1910, onde frequentou a escola e, depois, a Universidade de Viena.
Nesta, tornou-se professor associado de ciência política na Faculdade de Direito. Em 1938, foi
demitido pelos nazistas por causa da sua oposição escrita ao regime, sobretudo em quatro
publicações datadas entre 1933 e 1938. Mesmo estando na Suíça, escapou para os EUA, junto
com sua esposa Luise Betty “Lissy” Onken (1906-1996). Na Universidade Harvard, lecionou,
por um ano, no Departamento de Ciência Política. Em seguida, permaneceu por dois anos e
meio na Universidade do Alabama, a partir do outono de 1939. Em janeiro de 1942, Voegelin
ingressa na Universidade Estadual da Louisiana. Por dezesseis anos, escreveu e publicou obras
que constituíram sua reputação: A nova ciência da política (1952), os três primeiros volumes
de Ordem e História (1956, 1957). Em 58, como cidadão americano, aceitou realizar um curso
de ciência política na Universidade Ludwig-Maximilian (Munique), onde fundou o Instituto de
Ciência Política. Nesse período, escreveu Anamnesis (1966) onde apresentou, explicitamente,
sua filosofia da consciência. Dez anos depois, retornou aos EUA onde ocupou, por cinco anos,
a cátedra Henry Salvatori como “Distinguished Scholar”. Nesse período, ditou suas Reflexões
autobiográficas. Em seguida, saiu o vol. 4 de Ordem e História, a Era Ecumênica (1974). Após
sua aposentadoria, continuou residindo em Stanford, onde está sepultado, juntamente com sua
esposa. Os dois não tiveram filhos.
Em relação à recepção brasileira, Marcelo Cleto1 apresenta Lima Vaz e Guerreiro Ramos2
como precursores do advento do pensamento e obra de Eric Voegelin. Lima Vaz, por sua vez,
a respeito da filosofia de Voegelin, diz o seguinte:

A obra de Voegelin, pela extraordinária erudição histórica, pela novidade


conceptual e terminológica, pelo teor especulativo do seu desenho
fundamental e, finalmente, pela crítica a alguns dos mais sólidos estereótipos
mentais da inteligência moderna, impôs-se como uma das mais brilhantes
realizações intelectuais do século XX, embora em nenhum momento tenha
ocupado a ribalta da cena filosófica (2007, p. 21).

1
cf. artigo de Marcelo de Souza Cleto, Recepção Brasileira de Eric Voegelin (Revista de Filosofia Síntese).
2
Alberto Guerreiro Ramos (1915-1982). Sociólogo e político brasileiro, figurou entre os maiores colaboradores
da evolução da sociologia na segunda metade do séc. XX.

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Em sua obra Raízes da modernidade, Lima Vaz mostra a contribuição de Voegelin na
busca por uma reconstituição genética da modernidade (o novo diante do velho), indo em
direção a uma leitura axiológica da modernidade, por meio do conceito de gnose. Segundo Lima
Vaz, Voegelin enxerga uma inversão na modernidade, que contraria a direção para a
Transcendência, típica para o espírito humano.

2. Eric Voegelin: Hitler e os alemães


Para uma maior apreciação do valor da obra de Voegelin, em especial Hitler e os
alemães, é preciso ter presente o espírito que norteava a intelectualidade europeia no período
em que foi publicado, sobretudo a alemã. Na fase imediata ao fim da II Guerra Mundial, fazia-
se uma distinção entre o nacional-socialismo e o hitlerismo, parecida com o que costuma-se
fazer diante do comunismo/stalinismo. Essa “comédia de enganos” (expressão cunhada por
Voegelin) realizava uma diminuição da responsabilidade individual, juntamente com as forças
combinadas da conversão moral e liberdade espiritual, tão necessárias para uma resistência
efetiva às ideias presentes da época. Além disso, havia uma tendência para compreender as
causas da ascensão de Hitler em uma combinação de manobras políticas e econômicas que,
aliadas à fatores externos, seriam suficientes para explicar o surgimento de tal representação
política. Tudo isso, somado com visões estruturalistas dos eventos. Assim sendo, Eric Voegelin
foi convidado a dar uma contribuição à Universidade de Munique a respeito do papel da
sociedade alemã nos eventos das décadas que antecediam aquele período. Tais contribuições
foram objeto de exposição do que viria a ser publicado sob o título Hitler e os alemães.
Eric Voegelin realizou suas preleções de tal maneira que tornou-se possível dividir em duas
partes: a primeira versou sobre a necessidade de se compreender o fato de Hitler e seus asseclas
subirem ao poder (Como foi possível? De que maneira isso gera significado para a história?).
Ao redor do “princípio antropológico”, Voegelin mostra que o problema da representatividade
política reverbera no nível da formação do indivíduo social que legitima a figura política.
Voegelin argumenta no sentido de que, somente, uma profunda crise espiritual, intelectual e
moral pode ter sido capaz de tornar tal realidade possível. Dessa maneira, rejeitou-se quaisquer
explicações que diminuíssem a figura do indivíduo frente ao Estado e/ou cultura dominante.
Pois, “as origens do totalitarismo, as situações e as mudanças exigem, mas não determinam,
uma resposta” (VOEGELIN, 2008, p.13).
Em sua segunda parte, Voegelin busca sinalizar uma “solução”, no que se pode denominar
restauração de ordem. Interpretando a obra de Miguel de Cervantes, Dom Quixote, o autor
busca definir o significado de primeira e de segunda realidade (ideologia). A tensão entre as

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duas geraria confusão, pois “a perda de realidade se expressa na perda de contato das palavras.
As palavras adquirem sua própria existência, a linguagem torna-se uma realidade independente
em si mesma.” (VOEGELIN, 2008, p. 327). Somado a essa distinção, Voegelin identifica o
período que se seguiu ao do romantismo alemão como opaco. Pois, diante da perda do brilho
de figuras notáveis, emergiu na história do pensamento ocidental figuras como Marx,
Nietzsche, Freud e Weber. Trazendo uma linguagem sui generis, cada um, ao seu modo,
trouxeram descrédito ao gênero humano, alimentando uma visão antropológica que via a
humanidade sob a ótica do poder, do conflito e do instinto, pois buscavam “descobrir valores
como máscaras de interesses, conflito e instinto” (VOEGELIN, 2008, p. 336). Produzia-se,
então, linguagens separadas, incapazes de comunicarem-se reciprocamente. Antevendo
características do pensamento filosófico do sec. XX, Voegelin, diante disso, exorta a uma
redescoberta duma linguagem pública do filosofar, capaz de apropriar-se das filosofias
particulares e produzir sério diagnóstico da situação filosófica da sua época. Por fim, Voegelin
aponta para uma maior investigação a respeito do abismo que se dá entre o idealismo alemão
(séc. XVII-XIX) e o período que se seguiu (1830 por diante) como ponto de partida para maior
compreensão das razões para o surgimento do fenômeno do nacional-socialismo.

Concluindo, devemos de novo referir-nos a este ponto a fim de evitar uma


possível incompreensão, pois a quebra estilística não deve ser compreendida
como uma quebra na continuidade do espírito e de sua história. Naquele
período brilhante, significativamente inteligível, do idealismo alemão, dos
clássicos e românticos, foi preparada essa época opaca e difícil de caracterizar
que o seguia. De tal modo que a época do brilho talvez não tenha sido tão
brilhante como pareceu aos cidadãos nos períodos posteriores, e mesmo hoje
(VOEGELIN, p. 338).

3. O Nacional-Socialismo e sua ideologia


O fenômeno da Alemanha Nazista é um objeto de estudo que traz, aos dias de hoje,
excelentes referências morais e/ou intelectuais. Na verdade, as diversas experiências humanas
vivenciadas e, melhor ainda, registradas para consulta hoje são matéria-prima para profundas
indagações filosóficas. Nesse sentido, a obra de Voegelin, Hitler e os alemães (juntamente com
outras), oferece um pano de fundo propício para tal empreitada. Sua investigação filosófica
buscou traduzir em conceito teóricos aquilo que se popularizou como “culpa alemã” diante da
ascensão do Terceiro Reich. Porém, seu trabalho esteve longe de culpar toda uma sociedade.
Pois soube verificar a ausência de uma autêntica formação humana-espiritual nas décadas
precedentes aos eventos da II Guerra. Voegelin, logo abaixo, pincela um retrato da figura de
Adolf Hitler que, ao mesmo tempo, ilustra um alemão típico dos anos 30:

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... a combinação de uma personalidade forte e de uma inteligência enérgica
com uma deficiência de estatura moral e espiritual; de consciência messiânica
com o nível cultural de um cidadão da era de Haeckel; de mediocridade
intelectual unida à autoestima de um soba provinciano; e do fascínio que uma
tal personalidade poderia exercer num momento crítico sobre pessoas de
espírito provinciano e com mentalidade de súditos (VOEGELIN apud
MENDES, 2008, p. 14).

Não só o alemão típico dos anos 30 possuía alguma responsabilidade pelo surgimento
de Hitler, mas a mesma sociedade que, no período do pós-guerra, buscou reconstruir a nação
alemã, também sofria da mesma condição degenerada. Nesse sentido, Mendes orienta: “que um
homem assim [Hitler] se tenha tornado o representante do povo alemão só mostra que o declínio
e a ascensão espirituais são caminhos sempre em aberto na História” (2008, p. 15).
Richard Evans, no prefácio de “Terceiro Reich: Na história e na memória. Crítica.”,
faz um resumo do que as últimas décadas proporcionaram às interpretações do que significou
o Nacional-Socialismo. Para Evans, o

Terceiro Reich é agora, também e cada vez mais, entendido em um contexto


internacional, até mesmo global, como parte da era do imperialismo, seu
ímpeto por dominação alicerçado numa tradição mais ampla da busca
germânica pela construção de um império (EVANS, 2018, paginação
irregular).

Além disso, no que se refere aos horrores do nazismo, Evans aponta na mesma direção
que Voegelin, ao mostrar personalidades ilustres do mundo empresarial/industrial que
mantinham-se camufladas em meio ao clima pós-guerra, mas que detinham uma biografia
profundamente mesclada com as atrocidades nazistas. Diz Evans:

Agora é quase impossível escrever sobre o Terceiro Reich no período de sua


existência, os anos de 1933 a 1945, sem pensar também em como a sua
memória sobreviveu, amiúde de maneiras complexas e surpreendentes, nos
anos do pós-guerra. Os ensaios [...] examinam o modo como prósperos
homens de negócios e destacadas empresas industriais que se envolveram nos
crimes do nazismo tentaram, após a guerra, abafar a memória de sua
participação – e por vezes tratava-se de um envolvimento até o pescoço (2018,
paginação irregular).

Na investigação em torno do espírito totalitarista presente na ideologia nazista, não se


exclui as demais ideologias totalitárias presentes no século XX. Pois, segundo Evans, logo
abaixo, a mesma desumanidade praticada pelo nazismo verificou-se em outras regiões do
planeta:

Cada vez mais, historiadores passaram a ver o extermínio de judeus


empreendido pelos nazistas não como um evento histórico ímpar, único ou
singular, mas como um genocídio com paralelos e similaridades em outros

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países e em outros momentos históricos. Aqui, mais uma vez uma mudança
de perspectiva trouxe à baila dividendos (EVANS, 2018, paginação irregular)
(destaques nossos).

Urge estar atento à expressão “mudança de perspectiva”, pois espera-se encontrar fontes
bibliográficas de diferentes matizes e, necessariamente, diferentes tradições, a respeito do
mesmo objeto de estudo. Assim como Voegelin necessitou extrair a gênese das ideias, este
trabalho atentará às diversas correntes de interpretação a respeito do significado que há no
surgimento das ideologias totalitárias na história da humanidade. Ora, tal acontecimento não
está meramente registrado nos livros de História, mas faz parte de um movimento de
consciência que abarca diversas correntes de pensamento e que, certamente, atinge a atual
geração. Pois assim diz Evans:

“O nazismo, por exemplo, aparece em obras recentes como uma ideologia que
bebeu nas fontes mais variadas, de países tão díspares quanto a Rússia e a
França, a Itália e a Turquia, em vez de ser a culminação de tradições
intelectuais exclusivamente alemãs como se costumava julgar” (EVANS,
2018, paginação irregular).

Por fim, a busca por uma fundamentação histórica, neste trabalho, estará em busca de
explicitar o papel do indivíduo alemão, diante da emergência totalitária. Não se quer perder de
vista o princípio antropológico, proposto por Voegelin, ao demonstrar suas razões em explicar
a consolidação do nazismo alemão. A sociedade é um ser humano em maior escala. Portanto, a
maneira como a sociedade alemã atuou, durante aqueles anos, é material de estudo. Ademais,
também interessa a esse trabalho, investigar o procedimento pelo qual o nazismo obteve
aceitação perante a nação alemã. Trata-se de um trabalho sutil e astuto, pois obteve aceitação
da sociedade na implantação de uma ditadura. Nesse sentido, é oportuno o resumo deste
paradoxo feito por Evans:

Ao longo da última década e meia, para um número cada vez maior de


historiadores a Alemanha nazista acabou assumindo o feitio de um sistema
político cujos alicerces eram não o terror policial e a coerção, mas sim a
aprovação e o consentimento populares. [...] chegou a hora de lembrar que a
Alemanha nazista, a bem da verdade, foi uma ditadura em que os direitos civis
eram sufocados e não se toleravam os oponentes do regime. A repressão era
levada a cabo não apenas contra forasteiros sociais, mas também contra largas
fatias e amplos setores das classes operárias e seus representantes políticos
(EVANS, 2018, paginação irregular).

4. Brasil e os eventos de junho de 2013


As manifestações ocorridas em junho de 2013 trouxeram inúmeras interrogações sobre o
curso da história brasileira. No entanto, devido à magnitude dos eventos, não existe consenso

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sobre o valor de tais acontecimentos. O presente trabalho buscará coletar uma série de
perspectivas que ilustrarão essa diversidade. No entanto, adotará um filtro cético perante tudo
isso, pois tamanha variedade de perspectivas mostra certa incompreensão a respeito do que foi
as manifestações de junho de 2013. Nesse sentido, as questões levantadas por Morgenstern são
oportunas:

O que deu errado? Por que milhões de pessoas que juravam estar mudando o
Brasil passaram a olhar manifestações políticas parando ruas com o mesmo
desprezo de sempre? Por que tantos ânimos exaltados com uma causa
repentina uniram um país, mas não se repetiram com outras tentativas de
manifestações, que voltam a parar cidades quase semanalmente? (2015,
paginação irregular).

Num primeiro momento, ocorreu a propagação duma narrativa oficial. Esta


caracterizou-se por um tom messiânico e profundamente alheio ao mecanismo da natureza dos
movimentos de massa. Um exemplo dessa abordagem se dá nas palavras de Amanda Alves, em
seu prefácio ao conjunto de artigos publicado sob o nome de Não é por centavos: um retrato
das manifestações no Brasil, ela diz:

Manifestações surgiram do nada. Não, as manifestações surgem do tudo. [...].


Não se sabe quando o pavio será acesso, quando o ser humano decide que não
aguenta mais. Mas, quando decide, sai de seu suposto conforto e aparece nas
ruas. [...] Todos estavam dispostos a ir para as ruas: crianças, famílias,
professores, idosos, cada um segurando sua bandeira. Não, não bandeira
política, mas de seus ideias (2014, paginação irregular).

A amostra do clima intelectual desses anos se dá no fim de sua apresentação. Mesmo


tendo inúmeras perspectivas diferenciadas, Amanda Alves não mostra sinais de uma
consciência madura, tendo em vista os acontecimentos sangrentos provocados pelos
movimentos de massa do início do século passado, a respeito do que significou os eventos de
junho de 2013. Diz Amanda:

É no meio desse debate, dessa troca de ideias e ideais que esta obra surge. [...].
Apenas uma exposição das diferentes visões, onde cada um expõe seu olhar
sobre o mesmo tema [...]. Uma obra rica, com grandes nomes e pensadores,
em que [...] revelam o que pensam sobre esta onda de vozes que ganharam as
ruas do nosso país e nos despertam para a nossa realidade atual (2014,
paginação irregular) (destaque nosso).

O destaque para a palavra “despertam” não se dá por acaso. Na verdade, há uma rica
tradição filosófica para o significado de despertar. Porém, não existe consenso sobre o
significado do que seja dormir e o que seria vigília. Nesse sentido, é, no mínimo, curioso

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perceber o uso desta palavra ao descrever o efeito dela sobre a consciência política atual. No
que se está dormindo? Para aonde deve-se manter o estado de alerta?
A escolha no uso dos termos revelam o sentido das ideias presentes na consciência
individual. Nesse sentido, há de se atentar para o vocabulário presente nas abordagens
realizadas pelos, autoproclamados, intelectuais públicos. Pois, como diz Morgenstern:

O nazismo não surge pedindo câmaras de gás para judeus, e sim “espaço vital
para o povo alemão”; Lenin não faz a Revolução Russa em nome do Gulag e
dos paredões, mas pedindo ‘pão e terra’ para o ‘proletariado’. Fazer
manifestações políticas calcadas em slogans, sem nenhuma substância
concreta além de berrar ‘chega!’ contra a ordem atual, é o maior perigo que a
humanidade já enfrentou (2015, paginação irregular).

5. Defesas diante das ideologias


Voegelin interpreta a questão da “culpa alemã” como uma fachada para encobrir a falta de
responsabilidade de indivíduos, sobretudo a camada pensante/falante, perante o surgimento do
nacional-socialismo. Trata-se de uma questão ética perante o aparecimento de um mal que
destruiu a beleza de gerações. Nesse sentido, a pesquisa envolverá conceitos oriundos da
filosofia moral, psicologia, caracterologia, dentre outros... Sem a preocupação de obter um
discurso sistemático, será elaborado um compêndio que ajude a conceber o surgimento de
características presentes na figura do intelectual, capazes de reconhecer os sinais de perigo,
presentes nas ideologias.
A orientação pela qual “a dependência da formação do caráter em relação à situação
histórico-econômica na qual ela tem lugar” (REICH, 1995, p. 6) mostra ser oportuna na
produção deste trabalho, pois segue perto da intuição presente em Hitler e os alemães. Para
Wilhelm Reich, caráter consiste numa “mudança crônica do ego que se poderia descrever como
um enrijecimento” (1995, p. 151). A função do caráter é “proteger o ego dos perigos internos e
externos” (ibidem). Num outro ponto, Reich pontifica que “o grau de flexibilidade do caráter,
a capacidade de se abrir ou de se fechar ao mundo exterior, dependendo da situação, constitui
a diferença entre uma estrutura orientada para a realidade e uma estrutura de caráter
neurótico” (ibidem). Nota-se a pertinência de Reich no que se refere à abertura para a realidade
e seu oposto.
A figura do intelectual (sobretudo do filósofo) está, estritamente, vinculada à abertura ao
real. Desse modo, a experiência vivida pelos alemães dos anos 20-30 (séc. XX) e o caldo
sociocultural presente na atual conjuntura brasileira, servirá de estímulo a uma busca por um
norte na formação intelectual necessária para uma autêntica autoeducação. Esta, por sua vez,

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deverá ser guia diante do caos e da desordem presentes no mundo, pois será a medida de
aferição do nível de brio de quem se denomina intelectual.

5. INDICAÇÃO DA LINHA DE PESQUISA PRETENDIDA

Este trabalho seguirá na linha de pesquisa “Ética e Filosofia Política Contemporânea”.


Para atender os interesses deste trabalho, é oportuno reconhecer o método analítico como o
mais apropriado. Se não for assim, o trabalho correrá de colocar palavras na boca do autor,
neste caso, Eric Voegelin. Caberá, aqui, buscar o que o autor realmente disse. Deixá-lo “falar”
é indispensável. Contudo, a análise do texto pode descambar no pontilhismo, isto é, a falta de
respeito com o todo do texto, analisando meticulosamente trechos sem levar em questão o
contexto com a intenção do autor na realização da própria obra. O delinear do trabalho irá
atentar-se a isto.
A maneira que o artigo for sendo delineado será necessária uma fiel abordagem da fonte,
que, a princípio, será bibliográfica. Pois uma explicação do texto nada mais é do que enunciar
o que há num texto dado, é desdobrar, mostrar o que está exposto, pressuposto, implicado,
subentendido ou calado por um autor preciso, num lugar bem circunscrito (FOLSCHEID,
WUNENBURGER, 32, 2006).

6. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO

Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun

Tema, Problema

Bibliografia

Documentação

Elaborar projeto

Pesquisa
bibliográfica
Escrita/produção
da dissertação

Revisão

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7. SUMÁRIO DOS CAPÍTULOS E SEÇÕES A SEREM DESENVOLVIDOS NA
DISSERTAÇÃO

CAPÍTULO 1: A FILOSOFIA DE ERIC VOEGELIN DIANTE DA IDEOLOGIA

TOTALITÁRIA .......................................................................................................................00

Apresentação biográfica/filosófica ........................................................................00

Nacional-Socialismo e Eric Voegelin ...................................................................00

CAPÍTULO 2: BRASIL EM JUNHO DE 2013 ......................................................................00

Nova República (Período Pós-Ditadura) .............................................................. 00

Manifestações de 2013 (aurora ou entardecer?) ....................................................00

CAPÍTULO 3: DEFESAS DIANTE DAS IDEOLOGIAS TOTALITÁRIAS .......................00

A antropologia de Eric Voegelin ..........................................................................00

A formação do caráter humano e sua implicação no surgimento da figura do

intelectual como oposição ao efeitos da ideologia ................................................00

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BIBLIOGRAFIA BÁSICA

CLETO, MARCELO DE SOUZA. RECEPÇÃO BRASILEIRA DE ERIC VOEGELIN. SÍNTESE, BELO


HORIZONTE, V. 43, N. 136, P. 319-335, MAI/AGO, 2016.

EVANS, RICHARD J.. TERCEIRO REICH NA HISTÓRIA E NA HISTÓRIA E NA MEMÓRIA: NOVAS


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