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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Presidência da República
Secretaria-Geral da Presidência
Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Jair Messias Bolsonaro


Presidente da República

Jorge Antonio de Oliveira Francisco


Ministro de Estado Chefe da
Secretaria-Geral da Presidência da República

Maynard Marques de Santa Rosa


Secretário Especial de Assuntos Estratégicos

Lauro Luís Pires da Silva


Secretário Especial Adjunto

Ilídio Gaspar Filho


Secretário de Ações Estratégicas

Wilson Roberto Trezza


Secretário de Planejamento Estratégico

Paulo Érico Santos de Oliveira


Diretor de Assuntos
Internacionais Estratégicos

Luis Antônio Ferreira Marques Ramos


Diretor de Assuntos de
Defesa e Segurança

Luiz Henrique Frazão Caminha


Diretor de Integração Produtiva
e Desenvolvimento Econômico

Maurício Estellita Lins Costa


Diretor de Projetos Especiais

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 6

NAVEGAÇÃO DE CABOTAGEM NO BRASIL


A PRODUTIVIDADE COMO VISÃO
ESTRATÉGICA PARA O SETOR

Equipe técnica responsável:

Carlos Roberto Pio da Costa Filho

Lua Selene da Silva Almeida

Rodrigo Bomfim de Andrade

Revisão:

Renata Carvalho Fonseca

Diagramação:

Idealle Editora e Publicidade Ltda

Dezembro de 20181

1 Atualizado em junho de 2019.

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

SUMÁRIO EXECUTIVO
A navegação de cabotagem, entendida tagnação secular da produtividade, o cres-
como transporte aquaviário envolvendo tre- cimento deveria se tornar o norte das polí-
cho marítimo dentro do território nacional, ticas no setor.
movimentou 11% do total de cargas inter-
nas do Brasil em 2015. O modal representa Visão geral
um significativo potencial para o aumento
da competividade logística brasileira, devi- Este estudo faz um raio-X do setor de ca-
do ao seu baixo custo em relação a modais botagem no Brasil, com o objetivo de dis-
concorrentes, à extensão do litoral do País, seminar um entendimento comum de sua
e à distribuição geográfica da economia, estrutura e funcionamento. Para tanto,
ainda concentrada na costa. Mesmo assim, apresenta-se o arcabouço institucional vi-
as projeções da Empresa de Planejamen- gente, as principais estatísticas que des-
to e Logística (EPL) apontam que em 2025 crevem a estrutura do mercado, e os prin-
a cabotagem pode vir a responder por não cipais entraves à produtividade apontados
mais que 14% do transporte de cargas ge- por profissionais que atuam na cabotagem.
rais. A ideia é que essa exposição seja um pri-
meiro passo na construção de um debate
Historicamente, prevaleceu no setor de ca- bem informado sobre reformas do setor, no
botagem o paradigma da proteção do mer- sentido de liberalizar o mercado e corrigir
cado contra a operação de embarcações e distorções econômicas.
empresas de navegação estrangeiras, mo-
tivado pela visão do setor como estratégico Os principais apontamentos são sumariza-
para o país. As justificativas apontadas pe- dos a seguir:
los defensores desse modelo nacionalista
são variadas, mas duas merecem desta- • A navegação de cabotagem responde
que. A primeira diz respeito à possibilida- por 11% do transporte nacional de car-
de de um súbito desfalque do transporte gas, percentual semelhante ao de ou-
de cabotagem provocar efeitos disruptivos tros países continentais com litoral ex-
sobre as cadeias de suprimento nacionais, tenso e ampla disponibilidade de vias
por exemplo, em situação de conflito ar- navegáveis, como os EUA (11,4%).
mado. A segunda é baseada no papel atri- No entanto, 52% da movimentação de
buído à demanda por fretes de cabotagem carga por cabotagem corresponde ao
como instrumento de fomento à indústria transporte de petróleo e derivados, via
de construção naval. granel líquido e gasoso. Por sua vez,
69% da cabotagem via granel líquido
Contudo, a experiência mostra que as dis- e gasoso se refere ao transporte de ou
torções impostas pela proteção contra a para terminais de uso privado da Petro-
concorrência externa e pela regulação ex- bras. Isso significa que a Estatal sozi-
cessiva desta atividade econômica com- nha é responsável por, no mínimo, 37%
prometem a contribuição da navegação de toda a cabotagem do país, mais do
de cabotagem para a eficiência econômi- que o dobro da movimentação de con-
ca e para a competitividade logística do têineres.
país. Tais distorções derivam do viés es-
tatista que marca a regulação do setor, o • O transporte de carga conteineriza-
qual sobrevaloriza aspectos de segurança da possui particular relevância para a
nacional e seu papel como vetor de políti- conectividade marítima devido à regu-
ca industrial. No contexto em que o Brasil laridade das linhas e à padronização
se insere, marcado pela crise econômica, do serviço. Em dois estudos de caso
isolamento econômico internacional e es- apresentados neste relatório, os re-

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sultados reforçam o entendimento de ção a embarcações sendo construídas


que, para distâncias superiores a 1.500 em estaleiro brasileiro, ou ainda, (iii)
km, o transporte de cabotagem é van- interesse público devidamente justifi-
tajoso em relação ao modal rodoviá- cado, os afretamentos devem ser rea-
rio. Ademais, a despeito da viabilidade lizados por embarcações brasileiras.
econômica, a tímida participação do Tal restrição visa proteger a indústria
transporte via contêineres no setor de naval da concorrência externa e, as-
cabotagem (16%) pode ser um indicati- sim, assegurar a rentabilidade dos es-
vo de que este possui grande potencial taleiros brasileiros. Apesar disso, 60%
não desenvolvido. da capacidade de carga das empresas
de navegação (excluindo Petrobras) foi
• O transporte aquaviário, em geral,
construída em estaleiros estrangeiros.
apresenta vantagens ambientais e
econômicas quando comparado aos • As empresas de navegação de cabo-
demais modais. O menor custo do fre- tagem devem ser constituídas sob as
te e a menor emissão de poluentes da leis brasileiras e autorizadas pela An-
cabotagem derivam de sua grande ca- taq para poderem operar, mas podem
pacidade operacional, que possibilita ser controladas por capital estrangeiro.
ganhos de escala. Por exemplo, para De fato, empresas líderes do mercado
transportar a mesma quantidade de brasileiro são subsidiárias de grandes
carga de uma embarcação de 6.000 to- grupos internacionais, como a dinamar-
neladas são necessárias 172 carretas quesa A.P. Moller-Maersk, o grupo es-
de 35 toneladas ou 86 vagões de 70 to- panhol Elcano e o grupo francês CMA-
neladas. Da mesma forma, o transporte -CGM.
de cabotagem representa a emissão de
• O mercado brasileiro de cabotagem é
até 20 vezes menos CO2 por tonelada-
fortemente concentrado. Das 37 empre-
-quilômetro útil quando comparado ao
sas autorizadas a operarem serviços
modal rodoviário.
de cabotagem, apenas 4 detêm 70% do

Figura: Comparativo modal de capacidades de carga

• O mercado brasileiro de fretes por ca- total da capacidade de carga, desconsi-


botagem, via de regra, restringe a par- derando as embarcações do grupo Pe-
ticipação de embarcações estrangeiras trobras. Além disso, as empresas têm
na prestação do serviço. Ressalvadas atuação especializada, de modo que os
as hipóteses de (i) indisponibilidade de segmentos do mercado são ainda mais
embarcação de bandeira brasileira de concentrados. Por exemplo, Elcano e
tipo e porte equivalentes, (ii) substitui- Norsul detêm somente navios grane-

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leiros de grande porte, em sua maioria quais a SAE conversou, incluem:


voltados para o transporte de granéis
líquidos e produtos químicos, enquanto
Mercosul Line, Aliança e Log-in domi-  Baixa qualidade da infraestrutu-
nam o transporte de contêineres e car- ra portuária (acessos terrestres
ga geral. e aquáticos, derrocamento e
dragagem de canais), especial-
mente no que diz respeito ao
atendimento das necessidades
específicas da cabotagem;

 Burocracia excessiva em rela-


ção aos procedimentos e docu-
mentos necessários ao despa-
cho de carga;

 Alta carga tributária incidente


sobre os fretes, incluindo encar-
gos setoriais, como o AFRMM,
e sobre o combustível, com dis-
paridades de isenção de tribu-
tos em relação à navegação de
longo curso;

• O principal elemento de política in-  Dificuldade de aquisição de em-


dustrial no setor de cabotagem é a barcações em estaleiros nacio-
atuação do Fundo de Marinha Mer- nais no padrão de qualidade e
cante (FMM), que disponibiliza re- no prazo requerido para a com-
cursos subsidiados para empresas petitividade operacional das
de navegação contratarem a cons- empresas de cabotagem, bem
trução de embarcações em estalei- como a dificuldade no acesso
ros brasileiros. A capitalização do aos recursos do FMM (com ex-
FMM, que totalizou R$ 3,3 bilhões ceção do setor de óleo e gás);
em 2017, se dá, principalmente,
pela arrecadação de um encargo  Alto custo dos serviços de prati-
setorial, o AFRMM2, que incide so- cagem nos portos, associado a
bre todos os fretes aquaviários con- uma estrutura monopolizada na
tratados no Brasil, com alíquotas provisão desses serviços.
variando de 10 a 40% a depender
do tipo de frete. A despeito da po- Recomendações
lítica de subsídio, 60% da capaci-
dade de carga para cabotagem das Em função do diagnóstico levantado acer-
empresas (excluindo Petrobras) foi ca do mercado de transportes por cabo-
construída em estaleiros estrangei- tagem no Brasil, o relatório apresenta re-
ros. comendações no sentido de promover a
concorrência e a eficiência do setor, a fim
• Os principais entraves à eficiência de motivar um debate subsequente no âm-
da navegação de cabotagem, apon- bito do governo federal. As recomendações
tados por atores do setor com os são sumarizadas a seguir:
2 Adicional de frete para renovação da
marinha mercante – AFRMM.

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Equalizar a navegação de cabotagem à navegação interior. Para fins práticos, as duas


categorias devem receber o mesmo tratamento em termos da incidência de alíquotas de
encargos, incentivos governamentais e aplicabilidade de restrições.

Revisitar os elementos de protecionismo econômico do arcabouço regulatório da cabota-


gem, como a exigência de nacionalidade das embarcações para autorizações de opera-
ção e de afretamento.

Autorizar fretes de cabotagem em aproveitamento de carga para navios estrangeiros de


passagem em portos brasileiros. As embarcações de longo curso com capacidade ociosa
podem oferecer o frete a custos marginas aos clientes, estimulando a utilização do modal
e a eficiência do setor.

Extinguir gradualmente o Adicional de Frete para Renovação da Marinha Mercante (AFR-


MM), cuja função de fomentar a indústria nacional possui justificativa e eficácia questio-
náveis. A eliminação do AFRMM primeiro para operações de cabotagem poderia ser um
primeiro passo rumo à extinção do instrumento.

Promover o acesso de embarcações de cabotagem à infraestrutura portuária, averiguan-


do-se as razões pelas quais as embarcações de cabotagem têm relativa dificuldade de
acesso a terminais portuários, em comparação com embarcações que operam no longo
curso.

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

INTRODUÇÃO
A navegação de cabotagem é entendida navegação interior, tem importância funda-
como um modal de transporte aquaviário mental para a eficiência econômica e para
de cargas interno ao território nacional que a competitividade logística do país. Entre-
envolve a atracação da embarcação em al- tanto, o mercado de fretes de cabotagem
gum porto marítimo. A cabotagem tem ex- é caracterizado por uma miríade de distor-
pressiva relevância para a matriz logística ções impostas pela proteção contra a con-
brasileira, respondendo por 11% da carga corrência externa e pela regulação excessi-
interna movimentada em 2015. Ademais, o va da atividade econômica. Tais distorções
modal tem significativo potencial de expan- derivam do viés estatista/ nacionalista que
são para aumento da competividade logís- ainda marca a regulação do setor, no senti-
tica brasileira, devido à extensão do litoral do anteriormente apontado, que sobrevalo-
do País e ao seu baixo custo em relação riza aspectos de segurança nacional como
a modais concorrentes, como o rodoviário. vetor de política industrial. Em contraste,
Segundo projeções da Empresa de Plane- o argumento sustentado aqui é que o es-
jamento e Logística (EPL), estatal respon- tímulo ao crescimento da produtividade de
sável por estudos na área de infraestrutura todos os setores da economia deve ser a
de transporte, a cabotagem pode vir a res- mola mestra da intervenção do Governo,
ponder por cerca de 14% do transporte de inclusive nos setores ditos “estratégicos”.
cargas gerais em 2025, caso sejam finali- No contexto em que o Brasil se insere, mar-
zados os empreendimentos de infraestru- cado pela crise econômica, bem como pelo
tura levantados naquele estudo. isolamento econômico internacional e es-
tagnação secular da produtividade do país,
Historicamente, a navegação de cabota- o crescimento deveria se tornar o norte das
gem sempre foi apontada como setor estra- políticas no setor.
tégico para o País. Em função disso, e da
prevalência de uma mentalidade estatista Neste trabalho, a Secretaria Especial de
entre os formuladores das chamadas polí- Assuntos Estratégicos da Presidência da
ticas de desenvolvimento, tende a ser um República (SAE) faz um diagnóstico da na-
setor marcado por forte proteção contra a vegação de cabotagem no Brasil visando
operação de embarcações e empresas de a disseminar um entendimento comum do
navegação estrangeiras. As justificativas funcionamento e da estrutura deste impor-
apontadas pelos defensores desse mo- tante setor a fim de entender seu arcabou-
delo nacionalista são variadas, mas duas ço institucional e regulatório atualmente
merecem destaque. A primeira diz respeito vigente e os principais entraves à produti-
à possibilidade de um súbito desfalque do vidade. Ademais, o estudo traz estimativas
transporte de cabotagem provocar efeitos independentes de custos do frete de cabo-
disruptivos sobre as cadeias de suprimen- tagem com o objetivo de ilustrar a atrativi-
to nacionais, por exemplo, em situação de dade deste modal em comparação com o
conflito armado. A segunda é baseada no transporte rodoviário, em dois estudos de
papel atribuído à demanda por fretes de caso.3 Com base nas informações levanta-
cabotagem como instrumento de fomento das, o trabalho reitera o potencial estratégi-
à indústria de construção naval. co da cabotagem para a competividade lo-
gística do Brasil e propõe recomendações
Este estudo fundamenta uma motivação no sentido da liberalização e correção de
alternativa para considerar a navegação distorções no setor.
de cabotagem um setor estratégico. Es-
pecificamente, o transporte aquaviário do- 3 Transporte de contêineres nos trechos
méstico, que compreende a cabotagem e a Santos- Recife e Santos-Florianópolis, ida e
volta.

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Este Relatório de Conjuntura pretende ser


um primeiro passo na discussão sobre re-
formas do mercado de cabotagem. Seus
principais objetivos são nivelar as informa-
ções sobre as complexas particularidades
do setor e sensibilizar agentes públicos e
privados acerca da relevância do tema.

Este estudo está organizado da seguinte


forma. Na Seção 2, apresenta-se a defini-
ção de cabotagem, os principais benefícios
associados ao modal e sua participação
relativa na matriz de transportes nacional.
A seguir, a Seção 3 aborda o marco re-
gulatório da navegação de cabotagem no
Brasil, em contraste com outros países, in-
cluindo os elementos de política industrial
presentes no setor. A Seção 4 descreve a
estrutura de mercado do setor e discute os
principais entraves à eficiência levantados
pela SAE. Por fim, a Seção 5 resume os
achados e fornece recomendações para
aprimoramento da navegação de cabota-
gem no Brasil.

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

CABOTAGEM
DEFINIÇÃO E PERFIL
O termo “cabotagem” é utilizado para de- A distinção entre o transporte de cabota-
signar, de maneira geral, o transporte en- gem e o transporte interior de percurso na-
tre dois portos localizados no mesmo país. cional no Brasil se estende para além das
Sua acepção estrita varia de país a país e, definições. O regime regulatório inclui reso-
no Brasil, a cabotagem é definida por lei4 luções distintas para disciplinar casos se-
como a navegação “realizada entre portos melhantes para os dois setores.6 Do ponto
ou pontos do território brasileiro, utilizando de vista prático, no entanto, não há diferen-
a via marítima ou esta e as vias navegáveis ça econômica significativa entre as duas
interiores”. A definição não inclui, portanto, modalidades de serviço de frete, não obs-
a navegação realizada exclusivamente em tante haja diferenciação no perfil de cargas
vias navegáveis interiores, como rios e usualmente transportadas. O tratamento
lagoas. Em alguns países, essa definição é diferenciado, que inclui taxação distinta,
mais ampla, abrangendo toda a navegação gera distorções de mercado que podem
doméstica.5 inclusive incentivar a inclusão de trechos

Figura 1 – Matrizes de transporte de carga de países selecionados.


*Transporte de carga hidroviário que não se encaixa na definição de cabotagem.

Fonte: diversos; análise e elaboração SAE.

marítimos em rotas de navegação interior.

4 A definição de cabotagem se encontra no Em vista do amplo potencial de hidrovias


inciso IX do art. 2º da Lei nº 9.432, de 8 de janeiro navegáveis no Brasil, a navegação interior
de 1997
também é importante para a competitivi-
5 Nos EUA, as leis de cabotagem prote-
gem todo serviço de carga entre dois pontos do
dade do transporte aquaviário como pilar
país (incluindo seus territórios e possessões) da eficiência logística e se beneficiaria do
tanto diretamente, quanto via porto estrangeiro. mesmo tratamento regulatório em relação
Inclui-se também o trecho doméstico de uma à cabotagem marítima.
viagem internacional. Na União Europeia, uti-
liza-se o conceito de short sea shipping, que 6 Pode-se citar como exemplo as reso-
inclui o transporte marítimo doméstico e in- luções da Antaq nº 1864 de 4 de novembro
ternacional ao longo da costa e de/para ilhas, de 2010 e nº1 de 13 de fevereiro de 2015 que
rios e lagos. O conceito também se estende ao estabelecem normas para afretamento de
transporte marítimo entre os Estados Membros, embarcações estrangeiras para navegação
Noruega, Islândia e demais Estados do Mar interior de percurso nacional e de cabotagem,
Báltico, Mar Negro e Mediterrâneo. respectivamente.

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Figura 2 – Perfil da carga de cabotagem em 2018.

Fonte: (ANTAQ s.d.); análise e elaboração SAE.

Em 2015, a cabotagem foi responsável por contêineres no mesmo ano.9 A Figura 2


11% da carga movimentada7 no Brasil. ilustra esses dados com o perfil da carga
de cabotagem do Brasil no ano de 2018.
A dependência logística em relação ao
transporte rodoviário traduziu-se em 67,9% O transporte de carga conteinerizada pos-
da participação modal. A Figura 1 ilustra as sui particular relevância para a conectivi-
matrizes de transporte do Brasil, Estados dade marítima devido à regularidade das
Unidos e União Europeia. linhas e à possibilidade de padronização
do serviço. Estimativa de custo realizada
É importante salientar que o valor de 11% pela SAE, apresentada em anexo, buscou
pode não refletir a realidade do mercado de comparar a cabotagem com o modal rodo-
cabotagem, uma vez que essa fração re- viário no transporte de contêiner em dois
presenta, em grande parte, o transporte de estudos de caso. Os resultados encontra-
carga de uma única empresa Estatal. Em dos reforçam entendimento comum de que
2018, 52% da movimentação de carga por rotas de distâncias superiores a 1.500 km10
cabotagem correspondia à movimentação são competitivas economicamente com o
de combustíveis minerais8 via granel líqui- modal rodoviário. A despeito da viabilidade
do e gasoso. Por sua vez, 69% da cabota- econômica, a tímida participação do trans-
gem via granel líquido e gasoso se referia porte via contêineres na matriz de transpor-
ao transporte de ou para terminais de uso te geral do país pode ser um indicativo de
privado da Petrobras. Isso significa que a que o setor ainda possui grande potencial
Estatal sozinha é responsável por, no mí- não desenvolvido.
nimo, 37% de toda a cabotagem do país,
mais do que o dobro da movimentação de
9 Todos os dados analisados se encon-
7 A comparação foi realizada em tonelada tram na unidade tonelada × quilômetro.
× quilômetro e se considerou 4 modais: marítimo 10 http://www.scmconcept.com.br/site/
(onde insere-se a cabotagem), rodoviário, ferro- en/empresas-revelam-intencao-de-ampliar-
viário e aéreo. a-utilizacao-de-cabotagem/ acesso em 15 de
8 Combustíveis minerais, óleos minerais junho de 2018 e http://www.guiadotrc.com.br/
e produtos da sua destilação; matérias betumi- noticias/not.asp?ID=21443 acesso em 17 de
nosas; ceras minerais outubro de 2018.

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

A Conferência das Nações Unidas sobre Segundo a organização, a conectividade


Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD) marítima é um fator determinante dos cus-
utiliza dados sobre a frota e as linhas re- tos de comércio de um país. Do ponto de
gulares de porta-contêineres dos países na vista da eficiência da cadeia de suprimen-
composição de seu Índice de Conectividade tos, a cabotagem pode ser particularmente
Marítima de Linhas Regulares (LSCI – Li- interessante para serviços do tipo porta-a-
ner Shipping Connectivity Index). Segundo -porta, uma vez que pode aumentar a efi-
a organização, o acesso dos países aos ciência na cadeia logística ao promover o
mercados mundiais depende em grande transporte de grandes volumes de carga a
parte de sua conectividade de transpor- custos mais baixos e ao garantir a continui-
te, especialmente no que diz respeito aos dade do serviço.
serviços regulares de navegação, para a
importação e exportação de produtos ma- Vantagens Comparativas
nufaturados. O LSCI visa capturar o nível
de integração de um país em redes globais O transporte aquaviário é comumente as-
de transporte marítimo. A Figura 3 ilustra a sociado a benefícios ambientais e eco-
média do índice nos últimos 3 anos11 dos nômicos quando comparado aos demais
países selecionados. modais. Diversas variáveis afetam o custo
do frete e a emissão de poluentes no trans-
O Brasil se encontra atrás da maioria dos porte de carga. Porém, de maneira geral,
demais países em desenvolvimento do a grande capacidade operacional da cabo-
G20. tagem possibilita ganhos de escala que re-
sultam em vantagens comparativas.

Figura 3 – Índice de Conectividade Marítima de Linhas Regulares médio


dos últimos 3 anos dos países do G20 em desenvolvimento

O índice é composto pela média das notas atribuídas a cinco componentes e é


elaborado com base no maior valor - dentre todos os países - atingido em 2004, ao
qual atribui-se o valor 100. Dessa maneira, quando o país apresenta um índice 40,
a média dos componentes do índice atingiu 40% daquela obtida em 2004 pelo país
com maior nota total também em 2004.
Fonte: (UNCTAD 2018); elaboração SAE.

11 2016, 2017 e 2018.

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Para transportar a mesma quantidade de Nota-se uma diferença significativa entre


carga de uma embarcação de 6000 tonela- os modais, com ampla desvantagem do
das, por exemplo, são necessárias 172 car- rodoviário, justamente o predominante na
retas de 35 toneladas ou 86 vagões de 70 matriz brasileira. Segundo a EPL, em 2015,
toneladas. Dessa maneira, o alto custo fixo o transporte rodoviário foi responsável, so-
do transporte aquaviário e o grande volume zinho, por 86% de toda a emissão de CO2
de diesel marítimo consumido são diluídos do Setor de Transporte de Cargas. Dessa
na tonelagem por quilômetro útil. maneira, pequenas alterações na matriz
podem trazer resultados expressivos de
Dentre as vantagens comparativas usual- eficiência energética e redução de emis-
mente atribuídas à cabotagem, o estudo sões.
destaca a eficiência ambiental, o custo de
transporte e o índice de sinistro. ii. Custo do transporte

i. Eficiência ambiental O modal aquaviário de cabotagem apresen-


ta também menor custo médio de transpor-
Segundo o Plano Setorial de Transporte te quando comparado aos demais modais.
e de Mobilidade Urbana para Mitigação e Segundo o simulador de custos desenvolvi-
Adaptação à Mudança do Clima (PSTM), o do pela EPL12, o valor médio de custo para
transporte rodoviário pode ser responsável o transporte de carga geral por cabotagem
pela emissão de até 20 vezes mais massa por uma distância de 1000 km corresponde
de CO2 por tonelada-quilômetro útil quando a cerca de 20% do custo análogo por rodo-
comparado à cabotagem. As emissões es- via. Os cálculos do simulador consideram
pecíficas de CO2 por modal de transporte três aspectos principais: os custos fixos, os
de carga utilizadas no PSTM são apresen- custos variáveis e a remuneração do capi-
tadas na Figura 4. tal relativo ao transporte, mas não incluem
os custos das escalas que, no caso da ca-

Figura 4 – Fatores de emissão para cada modo de


transporte em gCO2/tku em 2010

Fonte: (Ministério dos Transportes e Ministério das Cidades 2013); elaboração SAE.

12 Disponível em: https://www.epl.gov.


br/plano-nacional-de-logistica-pnl - acesso em
25/06/2019.

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

botagem, são muito expressivos. Em cada dos da Superintendência de Seguros Pri-


escala portuária, são realizados serviços vados (SUSEP), o montante dos sinistros14
de praticagem e de reboque, manipulação ocorridos no país, de janeiro a dezembro
das cargas, dentre outros, além do próprio de 2018, referentes ao transporte aquaviá-
transporte entre o porto e a cidade destino rio, correspondeu a 0,4% daquele do trans-
da mercadoria – as chamadas pontas ro- porte rodoviário15. O índice de sinistrali-
doviárias. dade16 relativo ao Seguro Obrigatório de
Responsabilidade Civil do Transportador
Nos dois estudos de caso realizados pela Rodoviário de Carga, para o mesmo perío-
SAE, apresentados em anexo, as pontas do, foi 0,47, do Transportador Aquaviário,
rodoviárias ocupam grande parcela da 0,16. Vale observar que esses dados não
composição de custo. Na rota mais curta, incluem os sinistros relativos ao roubo de
o transporte entre os portos e as capitais carga. Segundo pesquisa da Associação
mais próximas é responsável por 66% do Nacional do Transporte de Cargas e Logís-
custo total. Na rota mais longa, essa fração tica (NTC), em 2018, foi registrado um total
é de 57%. Como esperado, quanto maior de 22183 ocorrências de roubos de carga
a distância entre as escalas, mais o custo rodoviária. Ainda segundo a pesquisa, os
rodoviário é diluído no custo total. prejuízos foram computados em R$1,47 bi-
lhão17.
Ainda segundo a estimativa SAE, compa-
rando-se o frete por cabotagem e pontas
rodoviárias (transporte intermodal), para
a rota Recife/São Paulo, com 4.220 km, o
custo total é cerca de 60% mais barato que
o custo do transporte puramente rodoviário
entre as duas capitais. Já na rota São Pau-
lo/ Florianópolis, de 1400 km, o custo total
é cerca de 5% mais caro.

As componentes de custo relacionadas à


etapa marítima – sem o custo das escalas
- correspondem a 12% e 5% nas estima-
tivas realizadas. Esse resultado aponta a
necessidade de se abordar os problemas
da cabotagem de maneira integrada com
os demais setores de transporte. A despei-
to da especificidade dos estudos de caso
apresentados, é de se esperar uma interfa- 14 Em reais.
ce logística complexa entre a cabotagem e 15 Os dados utilizados foram os referen-
tes ao RCTR-C (Seguro Obrigatório de Res-
a rodovia, de maneira análoga ao problema
ponsabilidade Civil do Transportador Rodoviá-
da última milha.13 rio de Carga) e RCA-C (Seguro Obrigatório de
Responsabilidade Civil do Transportador Aqua-
iii. Baixo índice de sinistro viário) e não incluem os sinistros relativos ao
roubo de carga.
O transporte aquaviário é conhecidamente 16 É o coeficiente que indica a razão en-
mais seguro que o transporte rodoviário no tre o custo dos sinistros ocorridos num conjunto
que diz respeito a acidentes, roubos de car- de riscos ou carteira de apólices e o volume glo-
ga e demais sinistralidades. Segundo da- bal dos prêmios advindos de tais operações no
mesmo período.
13 O problema da última milha se refere à 17 https://www.portalntc.org.br/publica-
perda de eficiência na logística da última milha coes/blog/noticias/outros/ntc-logistica-divulga-
de entrega de mercadorias. Normalmente, é es- -numeros-da-pesquisa-de-roubo-de-cargas-
tudado no contexto de comércio eletrônico. -em-2018 - acesso em 14/06/2019.

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RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

A CABOTAGEM COMO
SETOR ESTRATÉGICO
A cabotagem é comumente descrita como configurem competição imperfeita ou infra-
setor estratégico para os países. Origi- ção de ordem econômica.
nalmente, esse entendimento advinha da
preocupação com desabastecimentos do Em linhas gerais, atualmente as empresas
país em caso de conflito, por exemplo, de navegação devem ser brasileiras18, au-
quando uma frota predominantemente es- torizadas pela Antaq, e só poderão afretar
trangeira se tornasse inacessível. Tal en- embarcações estrangeiras quando: (i) ve-
tendimento estava atrelado a restrições na rificada a indisponibilidade de embarcação
nacionalidade dos operadores do setor. de bandeira brasileira de tipo e porte equi-
valentes, (ii) for de interesse público, devi-
Não há dúvidas sobre o importante papel damente justificado ou, ainda, (iii) em subs-
da cabotagem para a integração do país tituição a embarcações sendo construídas
e sua conectividade marítima, com con- em estaleiro brasileiro.
sequências, inclusive, para o comércio in-
ternacional. Porém, nos dias atuais, sua Uma das consequências do regime regulató-
regulação ainda se mantém baseada no rio da cabotagem é que navios estrangeiros
entendimento de setor estratégico, muito em percurso internacional não podem reali-
embora a motivação esteja mais inclinada zar o transporte de carga entre portos bra-
ao fomento da indústria naval brasileira do sileiros por aproveitamento. O embarque de
que a questões de segurança nacional. carga de cabotagem na perna doméstica de
uma embarcação internacional com capaci-
dade não utilizada poderia reduzir custos de-
Regulação no Brasil vido a economias de escala e otimização de
carga. As cargas de comércio exterior seriam
Segundo o texto original da Constituição poupadas de transferências desnecessárias
Federal de 1988 (art. 178), o mercado de entre navios nacionais menores e navios in-
cabotagem no Brasil seria restrito não só ternacionais e as cargas domésticas pode-
a empresas brasileiras de navegação, riam ser transportadas a um preço próximo
como a embarcações construídas no país. do custo marginal, uma vez que ocupariam o
Entretanto, a Emenda Constitucional nº7, de espaço ocioso realizando a viagem.
1995, flexibilizou o instituto, abrindo a possi-
bilidade de a Lei nº 9.432, de 1997, estabe- Em geral, o relaxamento do regime regu-
lecer as condições em que o afretamento de latório no que diz respeito à operação de
embarcação estrangeira pudesse ocorrer. prestadores de serviços estrangeiros em
mercados internos de cabotagem poderia
A lei 10.233, de junho de 2001, por sua trazer ganhos de eficiência para o setor,
vez, criou a Agência Nacional de Trans- além de facilitar as conexões aos portos e
portes Aquaviários (Antaq), que adquiriu o acesso a centros de transbordo.
as funções de regulação e supervisão das
atividades de prestação de serviços e de Experiência internacional
exploração da infraestrutura de transpor-
tes aquaviários exercidas por terceiros. A O setor da cabotagem em muitos países é
lei, em seu artigo 20, é clara em estabe- normalmente restrito a embarcações de ban-
lecer como objetivos da Antaq a garantia deira nacional ou a empresas de navegação
de padrões de eficiência, regularidade e
18 A legislação deixa claro que a empresa
modicidade nos fretes e tarifas, bem como
deve ser constituída segundo as leis brasileiras,
a harmonização dos diversos interesses mas não determina restrições quanto à origem
privados, de modo a impedir situações que do capital.

18
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

nacionais. O exemplo de regulação mais res- cativa redução no frete e aumento do volu-
tritiva é o Jones Act, dos Estados Unidos, em me de carga transportada.21
vigor desde 1920. Todo transporte de carga
entre dois portos do país deve ser realizado
por embarcações de bandeiras nacionais Política Industrial e subsídio aos
construídas no país e que tenham como tri- armadores22 e estaleiros
pulação e proprietário cidadãos estaduniden-
ses. Até mesmo a quantidade de aço utiliza- As empresas que operam na navegação e
da em reparos estrangeiros a embarcações os estaleiros nacionais recebem recursos
de cabotagem estadunidenses é limitada a públicos para seus investimentos por meio
10% do peso total do navio. de um sistema de encargos setoriais cons-
tituído pelo Adicional de Frete para Reno-
Por sua vez, os países da União Europeia vação da Marinha Mercante (AFRMM) e
(UE) e a Nova Zelândia optaram por tornar pelo Fundo de Marinha Mercante (FMM).23
os regimes de cabotagem menos restritos
a partir dos anos 1990. De maneira geral, Toda carga aquaviária24 desembarcada em
armadores de um estado-membro da UE porto brasileiro sofre a incidência do AFR-
são livres para operar o transporte de ca- MM, cuja alíquota varia de 10% a 40% do
botagem entre portos de quaisquer outros valor do frete.25 Muito embora os armado-
estados-membros.19 A liberalização da res sejam os responsáveis pelo recolhi-
cabotagem na Nova Zelândia, em 1994,
21 Segundo levantamento realizado pela
permitiu que embarcações estrangeiras
UNCTAD em sua publicação Rethinking Ma-
de passagem no país pudessem distribuir/ ritime Cabotage for Improved Connectivity de
recolher as cargas de importação e expor- 2017.
tação nos portos costeiros do país em si- 22 Armador brasileiro: pessoa física resi-
tuações específicas e predeterminadas.20 dente e domiciliada no Brasil que, em seu nome
ou sob sua responsabilidade, apresta a em-
Após as medidas liberalizantes, houve barcação para sua exploração comercial, nos
aumento na competitividade do setor e termos do art. 2º da Resolução 1.274/2009 da
Antaq.
modernização da frota de cabotagem em
23 Para isso as empresas devem operar
ambos os casos. Na Nova Zelândia, esse com embarcação própria ou afretada de registro
aumento foi ainda acompanhado de signifi- brasileiro.
24 Com exceção das mercadorias (i) subme-
tidas à pena de perdimento; (ii) transportadas por
meio fluvial e lacustre, exceto quando se tratar de
19 Council Regulation (EEC) nº 3577/92 granéis líquidos transportados no âmbito das Re-
garante que companhias de navegação nacio- giões Norte e Nordeste; (iii) cuja origem ou cujo des-
nais ou de outros países da UE têm o direito de tino final seja porto localizado na Região Norte ou
oferecer serviços de cabotagem em um deter- Nordeste do País nas navegações realizadas em
minado país da UE, desde que cumpram todas embarcações de casco com fundo duplo, destina-
as condições para a realização da cabotagem das a transporte de combustíveis, quando o descar-
nesse país. Companhias de navegação de paí- regamento tiver início até 8 de janeiro de 2022; e (iv)
ses fora da UE, mas controladas por cidadãos cuja origem ou cujo destino final seja porto localiza-
da UE, também podem oferecer tais serviços. do na Região Norte ou Nordeste do País, nas nave-
20 Os navios estrangeiros podem realizar gações de cabotagem, quando o descarregamento
o transporte entre portos costeiros na Nova Ze- tiver início até 8 de janeiro de 2017.
lândia nas seguintes situações: (i) quando afre- 25 O AFRMM será calculado sobre a re-
tados a casco nu, com frota sujeita ao regime muneração do transporte aquaviário, aplican-
laboral neozelandês; (ii) quando realizam escala do-se as seguintes alíquotas: (i) vinte e cinco
para carregamento/descarregamento de carga por cento na navegação de longo curso; (ii) dez
internacional em porto neozelandês vindo de um por cento na navegação de cabotagem; e (iii)
porto estrangeiro com destino a porto estrangei- quarenta por cento nas navegações fluvial e
ro ou (iii) quando a carga costeira é acessória lacustre, quando do transporte de granéis líqui-
em relação à carga internacional transportada. dos nas Regiões Norte e Nordeste.

19
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Figura 5 – Distribuição do AFRMM.

Fonte: (MTPA 2018).


mento do AFRMM, seu valor é repassado indústria de construção e reparação naval
aos usuários do serviço que acabam arcan- brasileiras (estaleiros). É administrado pelo
do com o aumento dos fretes. Em 2017, o Ministério dos Transportes, por intermédio
valor arrecado totalizou R$ 3,3 bilhões. E, do Conselho Diretor do Fundo da Marinha
somente no primeiro trimestre de 2018, R$ Mercante (CDFMM), e tem como agentes
897 milhões. (MTPA 2018) financeiros o Banco Nacional de Desenvol-
vimento Econômico e Social (BNDES) e os
A destinação do referido encargo varia de demais bancos oficiais brasileiros.
acordo com o tipo de navegação e a na-
cionalidade da embarcação que originou o Enquanto o FMM financia a construção e
frete. A Figura 5 apresenta um fluxograma reparação de embarcações em estaleiros
da distribuição do AFRMM. locais, os recursos27 das contas vinculada e
especial podem ser utilizados28 diretamente
Os recursos do AFRMM gerados pelas em- pelas empresas, inclusive para pagamento
presas brasileiras de navegação (EBNs) de parcelas do próprio financiamento junto
podem ser destinados à conta vinculada, ao fundo. Dessa maneira, a EBN que finan-
à conta especial ou ao Fundo da Marinha
Mercante (FMM). O adicional do frete de 27 Diferentemente dos recursos do FMM,
longo curso é a principal fonte de recursos que são destinados a empréstimos, eles são
do FMM26. Já no caso do adicional da ca- repassados às empresas a fundo perdido. É
botagem, 100% do valor recolhido é depo- um subsídio integral à ampliação, renovação e
manutenção da frota mercante das empresas
sitado em contas vinculadas das empresas
beneficiárias.
de navegação. 28 Os recursos das contas vinculada e
especial podem ser utilizados para construção
O fundo tem natureza contábil e é destina- de embarcação para uso próprio em estaleiro
do a prover recursos para projetos de novas brasileiro; reparação, docagem, jumborização,
embarcações da Marinha Mercante e da conversão e modernização de embarcação pró-
pria em estaleiro brasileiro; aquisição e insta-
26 Segundo dados do DMM, nos últimos lação de equipamentos em estaleiro brasileiro;
10 anos, 98,9% de toda a arrecadação do AFR- e pagamento de financiamento concedido com
MM foi proveniente do adicional do frete de lon- recursos do FMM, agente financeiro, Agência
go curso, 1% do frete de cabotagem e 0,01% de Especial de Financiamento Industrial (FINAME)
navegação de interior. e Programa Amazônia Integrada (PAI).

20
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

cia a construção de embarcação própria


em estaleiro nacional pelo FMM consegue
uma redução de seu custo de capital de-
vido às receitas geradas pelo adicional de
frete. Na prática, é o usuário do serviço de
transporte quem se torna responsável por
um frete mais alto durante toda a vida útil
do navio.

21
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

ESTRUTURA DE MERCADO

Segundo dados da Antaq, existem 42 em- Dentre as líderes do mercado, encontram-


presas autorizadas a operarem o serviço -se empresas brasileiras pertencentes a
de cabotagem. Entretanto, existe grande grandes grupos internacionais. A Aliança,
diferença de capacidade de carga entre as por exemplo, faz parte do grupo A.P. Moller
empresas líderes do mercado e as demais. - Maersk, a Elcano, do grupo espanhol de
Desconsiderando as embarcações per- mesmo nome, e a Mercosul Line, do gru-
tencentes ao grupo Petrobras29, apenas 4 po francês CMA-CGM. A legislação deixa
grandes empresas juntas possuem 70% da claro que a empresa deve ser constituída
capacidade de carga própria do país, en- segundo as leis brasileiras, mas não deter-
quanto 30 pequenas empresas compõem mina restrições quanto à origem do capital.

Figura 6 - Estrutura de oferta de Figura 7 - Estrutura de oferta de mercado


mercado da Cabotagem em 2018 em da Cabotagem em 2018 em TPB de embar-
TPB de embarcações próprias. cações próprias ou afretadas a casco nu.

* Excluindo-se as embarcações do Grupo Petrobras.

Fonte: (ANTAQ s.d.); análise e elaboração SAE

16%. A Figura 6 apresenta a estrutura do Um aspecto importante da estrutura de


mercado de cabotagem no Brasil em 2018, mercado é a especialização da atuação
em função da tonelagem de porte bruto dessas empresas. Enquanto Elcano e
(TPB) das embarcações próprias das em- Norsul detêm somente navios graneleiros
presas. Ao se contabilizar também as em- de grande porte, em sua maioria voltados
barcações afretadas a casco nu30, a distri- para o transporte de granéis líquidos e
buição do mercado melhora ligeiramente, produtos químicos; Mercosul Line, Alian-
conforme observado na Figura 7. ça e Log-in dominam o transporte de ca-
botagem de carga geral conteinerizada e
não-conteinerizada,31 sendo as três últimas
29 A Transpetro, subsidiária da Petrobras, as únicas empresas a possuírem navios
possui aproximadamente de 60% da capacida-
porta-contêineres e, portanto, a oferecerem
de de carga total do país.
30 Modalidade de contrato de afreamento
linhas regulares para o serviço.
em virtude do qual o afretador tem a posse, o 31 Informação da Mercosul Line no ato
uso e o controle da embarcação, por tempo de- de concentração nº08700.004700/201744,
terminado, incluindo o direito de designar o co- consultada na Nota Técnica nº 9/2018/DEE/
mandante e a tripulação. CADE.

22
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Parece seguro afirmar que as restrições Os principais entraves, apontados com


regulatórias e as políticas industriais cita- maior frequência nos estudos, estão elen-
das anteriormente restringem a entrada no cados e descritos nos tópicos a seguir.
mercado e prejudicam a competitividade
do setor.32 Como efeito colateral, tais políti-
cas introduzem distorções que prejudicam a) Infraestrutura Portuária
a competitividade em favor das empresas
brasileiras. As referidas políticas industriais A deficiência no acesso terrestre aos por-
possuem também eficácia questionável tos e a ausência de manutenção dos ca-
para atingir seus objetivos de promoção da nais de acesso e dos berços de atracação
indústria naval nacional, a qual apresenta (dragagem, derrocamento, balizamento e
desempenho insatisfatório e excessiva- sinalização) foram elencados como entra-
mente volátil. Ao considerarmos as seis ves à operação de cabotagem tanto pelas
empresas citadas acima, temos que 63% empresas brasileiras de navegação, quan-
de suas frotas, em TPB, foram construídas to pelas empresas clientes do serviço.
em estaleiros estrangeiros.
A esses fatores físicos, alia-se a inexistên-
Principais Entraves Apontados cia de infraestrutura específica para a ca-
botagem, que não compete de igual para
A SAE procurou mapear os principais gar- igual com a navegação de longo curso.
galos do modal apontados pelos interessa- Como as cargas internacionais costumam
dos no setor, sejam eles as empresas brasi- ter maior valor agregado, as cargas domés-
leiras de navegação, as empresas clientes ticas seriam preteridas em alguns terminais
da cabotagem ou os entes públicos envol- portuários, agravando a dificuldade de atra-
vidos. Para isso, buscou-se, inicialmente, cação.
estudos e documentos acerca do tema e,
em seguida, informações diretas junto a re- No caso da cabotagem, esses efei-
presentantes desses grupos. tos incidem sobre o serviço múltiplas
vezes por viagem, já que o navio realiza
O levantamento teve como referência prin- diversas escalas em portos brasileiros.
cipal os trabalhos realizados por (Lacerda Como consequência, as empresas de
2004), (Zepeda 2010-2011), (Confedera- navegação apresentam grandes perdas de
ção Nacional dos Transportes 2013), (Se- produtividade que se traduzem em maiores
cretaria de Portos da Presidência da Repú- custos e atrasos para os clientes.
blica 2015), e (Silveira Jr. 2016), bem como
conversas realizadas com representantes No ranking de qualidade de infraestrutura
das principais associações comerciais liga- portuária de 2017 do Fórum Econômico
das ao setor (Sindicato Nacional das Em- Mundial, o Brasil alcançou o 106° lugar,
presas de Navegação Marítima – Syndar- atrás de todos os países em desenvolvi-
ma, Associação Brasileira de Armadores mento do G20. A pontuação de cada país
de Cabotagem - ABAC, Conselho Nacional é derivada de um questionário respondido
de Praticagem - CONAPRA) e com parte por empresários do setor avaliado e foi utili-
dos órgãos setoriais envolvidos (Antaq e zado na elaboração do índice de competiti-
Secretaria Nacional de Portos do Ministério vidade global de 2017. A Figura 8 apresenta
dos Transportes). a pontuação de qualidade de infraestrutura
portuária dos 137 países avaliados, com
32 Para obter autorização para operar
como EBN na navegação de cabotagem, a destaque para os países em desenvolvi-
empresa deve comprovar ser proprietária de mento do G20.
embarcação brasileira ou ter encomendado a
construção ou reforma de embarcação em es- Mesmo se tratando de um índice de per-
taleiro brasileiro (Resolução Normativa Antaq cepção, com grande teor de subjetividade,
nº 5, de 23 de fevereiro de 2016).

23
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Figura 8 – Índice de qualidade de infraestrutura portuária do World


Economic Forum (WEF) de 137 países.

Fonte: (WEF 2017); elaboração SAE.

é claro o descontentamento dos empresá- A Diretoria de Portos e Costas (DPC) da


rios do setor com a infraestrutura portuária Marinha alterou, por meio da Portaria n°
nacional. 135 de 2016, as Normas da Autoridade
Marítima para Tráfego e Permanência de
Critério mais objetivo para análise é a espera Embarcações em Águas Jurisdicionais Bra-
para atracação nos portos. A UNCTAD utilizou sileiras – NORMAM-08. A alteração instituiu
dados de chamada de embarcações de car- o “Despacho por Período”, permitindo que
ga geral em 12 países para calcular o tempo o procedimento nos despachos dos navios
médio de espera. Em 2015, o número de dias possa ser realizado a cada 90 dias. Até en-
para os portos brasileiros foi de 5,17, bem aci- tão, o despacho deveria ser realizado sem-
ma dos 1,81 e 2,28 dias dos portos da China e pre quando da chegada da embarcação a
da Índia, respectivamente. A entidade utilizou um porto diferente. Isso significa que em um
a média das taxas anuais de fretamento para ciclo típico de cabotagem de porta-contêiner
embarcações de diversos tamanhos para es- brasileiro, a embarcação passaria pelo pro-
timar o custo do tempo de espera. Segundo cedimento de despacho por dez vezes se-
a UNCTAD, a ineficiência portuária do Brasil guidas em um período de menos de 30 dias.
teria custado 73 milhões de dólares em 2015.
Similarmente, a Resolução da Diretoria Co-
legiada 125 da Agência Nacional de Vigi-
b) Burocracia lância Sanitária, também em 2016, alterou
a validade do Certificado de Livre Prática33
Muito embora já existam algumas iniciati- para embarcações de bandeira brasileira
vas isoladas, a navegação de cabotagem que realizam navegação interior e de cabo-
ainda é, em geral, equiparada à navegação tagem.34 Porém, para as embarcações de
de longo curso no que se refere aos pro- bandeiras estrangeiras, o prazo de valida-
cedimentos e aos documentos necessários de ainda corresponde ao período de per-
para o despacho de carga. Segundo o le- manência no porto.
vantamento da CNT, em 2013, eram neces-
sários, no mínimo, 44 documentos distintos 33 Permissão emitida pela Anvisa para
para operação de cabotagem no país. Ou- uma embarcação operar embarque e desem-
tros nove certificados poderiam ainda ser barque de viajantes, cargas ou suprimentos.
34 Não obstante a dispensa do Certificado,
demandados conforme a característica da
as embarcações estão sujeitas à inspeção
carga movimentada. sanitária a qualquer tempo.

24
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

c) Carga tributária dústria naval local, cerca de 60% da capaci-


dade de carga para cabotagem das EBNs37
– excluindo-se Petrobras e Transpetro – foi
i. Sobre o combustível construída em estaleiros estrangeiros.
Uma questão recorrente levantada pelos ar-
madores é a diferença entre o preço do com- Segundo as empresas de navegação, exis-
bustível cobrado às embarcações de cabo- tem diversos fatores que contribuem para
tagem e de longo curso. Existe na Lei 9.432 essa realidade, dentre eles:
de 1997 a previsão de equiparação entre
esses valores. Porém, os incentivos obser- • O grande entrave burocrático para
vados pelos dois serviços são diferentes, já utilização dos recursos do AFRMM
que só o de longo curso possui isenção de quando liberados;
PIS, COFINS e ICMS no combustível. • A dificuldade de cumprir as exigên-
cias para concessão de garantia
junto aos bancos repassadores do
ii. Sobre o frete fundo;
• A falta de segurança jurídica e de
Além dos tributos diretos que incidem so- garantias mais efetivas de recebi-
bre o transporte de carga em geral, inde- mento das embarcações.
pendentemente do tipo de modal, a cabo-
tagem está sujeita ainda ao Adicional de Segundo a diretora do conselho diretor do
Frete para Renovação da Marinha Mercan- FMM, muitos projetos não são contratados
te (AFRMM) e à Taxa sobre a Utilização do porque os postulantes ao crédito têm difi-
Sistema Mercante (TUM).35 culdades de cumprir as atuais exigências
junto aos bancos repassadores. Na cabo-
O AFRMM é uma contribuição de interven- tagem, por exemplo, hoje existem oito em-
ção no domínio econômico (CIDE) e foi ins- barcações aprovadas e não contratadas
tituído para custear a intervenção da União que totalizam em torno de R$ 5 bilhões em
no apoio ao desenvolvimento da marinha potenciais investimentos.38
mercante e da indústria de construção na-
val brasileiras. Seu pagamento é realizado O alto investimento e os longos prazos de
via Sistema Mercante e, por isso, deve ser construção e operação são característicos
acrescido da TUM, que pode ter o valor da indústria naval. Por isso, as EBNs acre-
máximo36 de R$50 por unidade emitida. ditam haver a necessidade de melhor pla-
nejamento de longo prazo das instituições
O valor recolhido é depositado diretamente financeiras e maior confiabilidade nas con-
em contas vinculadas às empresas de na- trapartidas do governo.
vegação e somente pode ser utilizado no
pagamento de reparos e de construção de Mesmo quando esses entraves são ven-
embarcações em estaleiros nacionais. cidos, as empresas se deparam com uma
capacidade instalada de construção naval
insuficiente. Por se tratar de uma indústria
d) Encomenda de navios em
ainda muito dependente do setor de óleo e
estaleiros nacionais
gás, a oferta dos estaleiros nacionais varia
de acordo com a demanda da Petrobras.
Levantamento realizado pela SAE aponta
que, apesar dos subsídios de fomento à in- 37 Considerando-se a capacidade de car-
ga (em TPB) das embarcações próprias das
35 Sistema desenvolvido para registro das empresas.
operações de transporte aquaviário de carga 38 https://www.portosenavios.com.br/noti-
em portos brasileiros. cias/ind-naval-e-offshore/setor-discute-reestru-
36 Segundo o artigo 37, § 1º, da lei nº turacao-de-garantias-para-financiamentos-do-
10.893/2004. -fmm acessado em 10/09/2018.

25
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

As empresas de cabotagem sozinhas não de praticagem estabelecidas. Para tanto,


são suficientes para manter os estaleiros atribui à Autoridade Marítima (Marinha do
ativos. Isso significa que, em períodos de Brasil) a possibilidade de estabelecer o
alta demanda da estatal, a cabotagem é número de práticos necessários em cada
preterida e, nos períodos de baixa, é de- zona de praticagem, de fixar o preço e de
sassistida devido às demissões em massa requisitar o serviço de práticos.
nos estaleiros.
Segundo o decreto nº 2.596, de 1998, que
Como reflexo dessa dependência, em regulamenta a referida lei, o preço do servi-
2017, 53% dos recursos liberados pelo ço deve ser livremente negociado entre as
FMM foram para a Petrobras e 42%, para partes interessadas. A autoridade marítima
projetos de apoio offshore, ou seja, para determinará a fixação do preço somente
empresas que prestam serviço à estatal. nos casos excepcionais em que não haja
Nos últimos 11 anos39, 76% de toda a libe- acordo, de forma a garantir obrigatoriedade
ração do FMM, o equivalente a R$ 25,19 da prestação do serviço.
bilhões, foi para o setor de óleo e gás.40
Atualmente, a oferta do serviço obedece
a um mecanismo de rodízio entre os pro-
e) Praticagem fissionais habilitados. A existência de uma
escala visa a (i) garantir a disponibilidade
Os armadores frequentemente se manifes- ininterrupta do serviço, (ii) evitar a fadiga do
tam sobre o custo do serviço de pratica- prático na execução das fainas de pratica-
gem. O entendimento reinante entre as em- gem e (iii) garantir que o profissional reali-
presas de navegação é que o Estado deve ze manobras na frequência mínima exigida
determinar os preços máximos do serviço. para sua habilitação. Para manutenção do
rodízio, a oferta de práticos é controlada
A praticagem consiste no conjunto de ati- via concurso público. Quando a autoridade
vidades profissionais de assessoria aos marítima julga necessário, abre-se edital
comandantes das embarcações na área com número de vagas fixado.
situada entre o canal de acesso e o cais
de cada porto. O objetivo do serviço é ga- Parece seguro afirmar que o sistema atual
rantir a livre e segura movimentação da gera uma monopolização da oferta de ser-
embarcação em cada zona de praticagem viço pelos práticos de determinada zona de
(ZP). O prático é o profissional capacitado praticagem. A demanda, por sua vez, tam-
para essa função, que possui experiência bém é altamente concentrada em poucas
e conhecimentos técnicos de condução e empresas de navegação, conforme discu-
de manobra de navios aplicados às parti- tido anteriormente. O cenário se aproxima
cularidades locais: correntes e variações de um caso de dupla margem, com dois
de marés, ventos reinantes, limitações dos monopólios não integrados.41 Mais uma
pontos de acostagem e perigos submer- vez, quem é afetado diretamente por essa
sos. A profissão é de natureza privada e possível distorção de mercado é o usuário
seu exercício depende de prévia habilita- do serviço, que deve arcar com preços mui-
ção por parte do poder público. to acima do custo marginal.

A lei nº 9.537, de 1997, entende que o ser-


viço é uma atividade essencial e deve es- 41 Se dois elos subsequentes de uma ca-
tar permanentemente disponível nas zonas deia produtiva têm poder de monopólio e não
estão integrados, ambos vão explorar esse po-
39 Os dados analisados pela SAE foram der originando uma dupla margem de resulta-
do ano de 2007 até abril de 2018. dos extraordinários. O preço final será superior
40 MTPA – Departamento de Marinha Mer- e a quantidade transacionada inferior à que
cante. Fundo da Marinha Mercante e a Constru- existiria no caso de integração das duas em-
ção Naval no Brasil (2018) presas.

26
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

CONCLUSÃO

Este estudo analisou os principais elemen- a competitividade logística do Brasil. Para


tos da navegação de cabotagem no Brasil, concluir, são apresentadas as seguintes
incluindo o marco regulatório, as caracte- recomendações no sentido de promover a
rísticas do mercado de transporte aqua- concorrência e a eficiência do setor:
viário de cargas e os principais entraves à
produtividade no setor. Ademais, o trabalho • Equalizar a navegação de cabota-
contribuiu com uma estimativa indepen- gem à navegação interior, de modo
dente de custos do frete de cabotagem, em a reduzir a desnecessária complexida-
dois estudos de caso. Apesar do escopo de das normas. Para fins práticos, as
limitado daquele exercício, os resultados duas categorias devem receber o mes-
evidenciam potencial estratégico da na- mo tratamento em termos da incidên-
vegação de cabotagem em impulsionar a cia de alíquotas de encargos, incenti-
competitividade logística de um país predo- vos governamentais e aplicabilidade
minantemente rodoviário. de restrições.

O tema central deste estudo envolveu a • Revisitar os elementos de prote-


discussão sobre a liberalização do setor de cionismo econômico do arcabouço
cabotagem. Os argumentos historicamente regulatório da cabotagem, como a
empenhados em favor do protecionismo, exigência de nacionalidade das em-
quais sejam, a questão de segurança nacio- barcações para autorizações de ope-
nal de transportes e o fomento à indústria ração e de afretamento. Em relação à
naval, vêm se tornando obsoletos. O Brasil política industrial, a restrição do mer-
continua com baixo grau de integração dos cado de fretes a um leque limitado de
mercados internos, com baixa inserção no opções não parece favorecer o desen-
comércio internacional e com produtividade volvimento da indústria naval. Na reali-
estagnada há décadas. Muitas das empre- dade, além de impor custos adicionais
sas brasileiras de navegação são efetivas ao cliente final, obstrui o desenvolvi-
subsidiárias de multinacionais de afreta- mento de modelos de negócio inova-
mento; os estaleiros locais não conseguem dores no transporte aquaviário.42 Do
suprir a demanda por novas embarcações ponto de vista prático, as empresas de
e a participação da cabotagem no transpor- navegação já operam sujeitas a con-
te de cargas gerais permanece pouco ex- siderável grau de controle estrangeiro
pressivo, a despeito da extensão do litoral e com significativa proporção da frota
brasileiro. Dessa forma, não só as barreiras também estrangeira - as exceções pre-
à participação estrangeira no mercado são vistas nas normas acabam funcionan-
apenas nominais, como o direcionamento do como regras.
da demanda por embarcações brasileiras
tem falhado em estimular uma indústria de • Possibilitar que navios estrangeiros
construção naval internacionalmente com- de passagem em portos brasileiros
petitiva. possam realizar fretes de cabota-
gem em aproveitamento de carga.
A navegação de cabotagem deve ser en- As embarcações de longo curso com
tendida como setor estratégico, porém, capacidade ociosa podem oferecer o
sob o prisma da produtividade. Espera-se frete a custos marginas aos clientes,
que medidas de liberalização contribuam 42 Por exemplo, o modelo de hubs e fee-
significativamente para a integração dos ders, em que a cabotagem exerce papel funda-
mercados regionais e para a melhoria da mental na distribuição descentralizada de car-
conectividade marítima, que contribui para gas que chegam em grande volume pela via de
longo curso.

27
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

estimulando a utilização do modal e a terminais portuários, em compara-


a eficiência do setor. Reforma similar ção com embarcações que operam no
na Nova Zelândia43 reduziu em até longo curso. No caso de barreiras re-
50% os custos de frete (Cavana 2004). gulatórias ou burocráticas, sugere-se
Pela estimativa aqui apresentada, as atenuá-las. Porém, se a dificuldade de
maiores parcelas do custo do frete são acesso for em função do custo de opor-
aquelas relativas às escalas (THC44 e tunidade do terminal, o aumento da efi-
pontas rodoviárias), e não ao custo do ciência da cabotagem tende a torná-la
transporte marítimo em si. Isso signifi- mais competitiva nesse quesito.
ca que a redução no custo do transpor-
te pode não apresentar resultados tão
significativos sobre o frete. Entretan-
to, o estímulo à competição pode tra-
zer outras vantagens ao consumidor,
como maior eficiência, por exemplo.

• Extinguir gradualmente o Adicional


de Frete para Renovação da Mari-
nha Mercante. O objetivo da cobrança
do adicional, de fomentar a indústria
nacional, possui justificativa e eficácia
questionáveis. A redução do custo de
capital das empresas atuantes no se-
tor não só onera o cliente – que paga
o frete até 40% mais caro – como tam-
bém restringe a entrada de novas em-
presas no mercado. Além disso, a frota
das empresas de navegação45 é, em
grande parte, construída em estaleiros
estrangeiros a despeito da intervenção
econômica estatal. A eliminação do
AFRMM para operações de cabota-
gem, conforme sugerido pela ANTAQ,
em 2009, poderia ser um primeiro pas-
so rumo à extinção do instrumento, que
não tem gerado os efeitos esperados.

• Promover o acesso de embarcações


de cabotagem à infraestrutura por-
tuária. Sugere-se averiguar as razões
pelas quais embarcações de cabota-
gem têm relativa dificuldade de acesso

43 Lá existe um limite de 28 dias de per-


manência do navio estrangeiro no país.
44 O THC (Terminal Handling Charge) é a
taxa cobrada pelos armadores aos usuários a
título de ressarcimento das despesas assumi-
das com a movimentação das cargas pagas ao
operador portuário, ou seja, a Cesta de Servi-
ços (Box Rate), nos termos do art. 3º da Reso-
lução 2.389/2012 da Antaq.
45 Excluindo-se a Transpetro.

28
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

ANEXO
METODOLOGIA PARA
ESTIMAÇÃO DO CUSTO DE FRETE

É difícil levantar com precisão o valor Em que:


comercial do frete marítimo uma vez que
essa é uma informação sensível para os ar- Tmar = tempo de mar da viagem, em dias;
madores. As associações consultadas, por
Cmar= custo diário do navio navegando;
exemplo, não forneceram qualquer estima-
tiva de custo. Tporto= tempo de porto da viagem, em
dias,
O trabalho da SEP/IDOM apresenta uma Cporto= custo diário do navio no porto;
interessante estimativa de frete de cabo-
tagem com navios do tipo roll-on/roll-off46. Cescalas= somatório dos custos das esca-
Entretanto, trata-se de uma proposta para las nos portos;
o uso desses navios, ainda não presentes Crodoviário= somatório dos custos das
na frota brasileira de cabotagem. Já na pontas rodoviárias do transporte.
pesquisa CNT, alguns valores percentuais
de composição de custo são mencionados.
Porém, esses valores são médias da per- Para fins didáticos, o custo resultante da
cepção dos entrevistados de como seria a estimativa será apresentado com a seguin-
composição do custo. te composição: (i) combustível, custo total
de combustível para uma viagem redon-
Para trazer luz à questão, a SAE realizou da; (ii) amortização do custo de capital da
uma estimativa de custo do frete de uma embarcação; (iii) custos operacionais, que
embarcação brasileira porta-contêiner47 incluem gastos com tripulação, suprimen-
em duas rotas distintas: Recife-São Paulo tos, dentre outros.; (iv) praticagem/reboca-
e São Paulo-Florianópolis. Cabe observar dores, custo das manobras de praticagem,
que o custo de frete é dependente de diver- serviço de rebocadores e de amarração;
sas variáveis. Esta estimativa não deve ser (v) infraestrutura portuária, tanto marítima
utilizada como uma referência genérica de quanto terrestre; (vi) THC, representando
custos para a cabotagem. o custo de movimentação dos contêineres
no terminal e, finalmente, (vii) pontas rodo-
viárias, o custo do transporte rodoviário do
O custo total de uma viagem redonda,
contêiner entre o porto e a capital mais pró-
CTRV, foi calculado segundo a seguinte
xima do destino/origem.
equação:48
A composição do custo de transporte nas
CTRV=(Tmar.Cmar)+(Tporto.Cporto)+Cescalas+Crodoviário
duas rotas estudadas (em reais por TEU49)
é apresentada a seguir.
46 Os navios roll-on/roll-off, conhecidos
como ro-ro, transportam carga sobre rodas. A Nos dois estudos de caso realizados pela
carga e descarga se dá por meio de rampa, não SAE, as pontas rodoviárias ocupam gran-
havendo necessidade de equipamentos espe-
de parcela da composição de custo. Na
cíficos para manipular a carga.
47 Transportando contêineres de 20 pés 49 Unidade equivalente a 20 Pés (em in-
de carga seca. glês: Twenty-foot Equivalent Unit) é uma medi-
48 Adaptado da Nota Técnica 26/2-16/ da-padrão utilizada para calcular o volume de
GRM/SRG da Antaq. um container de 20 pés.

29
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Recife – São Paulo São Paulo – Florianópolis


Praticagem/Rebocadores R$ 79,90 R$ 61,30
Custos operacionais R$ 130,40 R$ 67,80
Amortização R$ 129,20 R$ 67,20
Infraestrutura Portuária R$ 269,60 R$ 288,70
Combustível R$ 400,70 R$ 121,50
THC R$ 1.545,00 R$ 1.330,00
Pontas rodoviárias R$ 3.459,40 R$ 3.796,60
AFRMM R$ 60,70

rota mais curta (São Paulo-Florianópolis), transporte marítimo propriamente dito cor-
o transporte entre os portos e as capitais respondem a 12% e 5% nas estimativas
mais próximas é responsável por 66% do realizadas. Esse resultado exemplifica a
custo total. Na rota mais longa, 57%. Como necessidade de se abordar os problemas
esperado, quanto maior a distância entre da cabotagem de maneira integrada com
as escalas, mais o custo rodoviário é diluí- os demais modais de transporte.
do no custo total.
É comum se ouvir no setor da cabotagem
O item responsável pela segunda maior par- que rotas de distâncias superiores a
cela do custo responde por até 27% do valor 1.500 km são competitivas com o modal
total e é pago pelos clientes como ressarci- rodoviário. Esta estimativa de custo reforça
mento aos armadores. Trata-se do THC, que, esse entendimento. Para a rota de Recife
muito embora não seja um custo direto, repre- para São Paulo, com 4.220 km, o custo do
senta o custo de movimentação dos contêine- transporte intermodal (cabotagem e rodo-
res nesta estimativa. Por se tratar de um custo viário) é cerca de 60% mais barato que o
fixo em relação à distância percorrida (custo custo do transporte puramente rodoviário
de escala), também é esperada uma diluição para a mesma distância. Já a rota de São
no custo total para distâncias maiores. Porém, Paulo para Florianópolis, de 1400 km, é
seu valor varia de porto a porto. Nas rotas es- cerca de 5% mais cara quando realizada
tudadas, o maior valor é o do porto de Suape, com os dois modais.
em Recife. Isso explica o maior custo relativo
de THC na rota Recife-São Paulo. Os cálculos aqui apresentados se referem
à estimativa de custo de frete de um contêi-
As componentes de custo relacionadas ao ner de 20 pés de carga seca.

30
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Adotou-se como referência de capacidade, - Consumo de combustível no porto53: 10


dimensões, valor de construção e consumo ton/d
de combustível, dentre outras variáveis, o - Velocidade média da embarcação54: 12,8
porta-contêiner brasileiro Log-in Jacaran- nós
dá. Essa escolha se deu devido à disponi- - Tempo de porto55: 1 dia
bilidade de informações apresentadas pela
empresa Log-in50 a seus investidores. - Distância dos portos SSZ (Santos) e SUA
(Suape): 1259 mn56.
- Distância dos portos SSZ e ITJ (Itajaí):
Custo operacional 226 mn.
- Código NCM do combustível: 2710.19.22
Segundo documento da empresa Log-in,
- Alíquota PIS: 2,10%
o running cost na matriz de custos inclui:
tripulação, suprimentos, seguros e supervi- - Alíquota COFINS: 9,65%
são de frota. Como os dados obtidos eram - Alíquotas IPI e II: 0
referentes a novembro de 2011, foi feita
- Alíquota ICMS: 17%
uma atualização monetária para outubro de
2018 com base no índice IPCA.
Custo de amortização
Running cost
(R$/dia) 23/11/2011 01/05/2019 Para o cálculo da amortização do navio,
Tripulação 10.975,00 16.983,27 utilizou-se o prazo de 20 anos, comumen-
te tido como vida útil de embarcações de
Suprimentos 1.831,00 2.833,38
grande porte. Dessa maneira, tem-se uma
Manutenção 402,00 622,08
taxa de depreciação de 5% ao ano. Consi-
Seguros 2.500,00 3.868,63 derando-se o valor de R$ 155 milhões para
Supervisão Frota 1.151,00 1.781,12 a construção do navio57, a amortização por
Total por dia 16.859,00 26.088,46 dia de operação58 fica em R$ 25.833,33.

Custo de combustível
53 Informado pela Log-in: Modelo de Ava-
liação – Navegação Contêiner - Embarcações
Para o cálculo do custo com combustível, de 2.800 TEUS em www.loginlogistica.com.br,
foram utilizados os seguintes dados: acesso em 16 de junho de 2018.
54 Obtida no portal Marine Traffic: https://
- Custo do combustível51 em 13/06/2019: www.marinetraffic.com/cn/ais/details/ships/shi-
$523/ton pid:775031/mmsi:710006930/vessel:LOG%20
- Dólar em 13/06/2019: R$3,84 IN%20JACARANDA , acesso em 16 de junho de
2018.
- Consumo de combustível navegando52: 55 O tempo de porto foi estimado como
45 ton/d a diferença do ETS (hora estimada de saída,
em inglês: estimated time of shipping) e o ETA
(hora estimada de chegada, em inglês: estima-
50 A Log-In Logística Intermodal S.A. é ted time of arrival) em cada porto na progra-
uma sociedade anônima de capital aberto e mação da empresa obtida no site https://www.
está registrada na Comissão de Valores Mo- loginlogistica.com.br/programacao-de-navios/
biliários (CVM) e na bolsa de valores de São atlantico-sul em 16 de junho de 2018.
Paulo (BM&FBOVESPA). 56 mn: milhas náuticas.
51 Realizou-se a média aritmética do pre- 57 Informado pela Log-in: Modelo de Ava-
ço dos combustíveis IFO380, IFO180 e MGO. liação – Navegação Contêiner - Embarcações
52 Informado pela Log-in: Modelo de Ava- de 2.800 TEUS em www.loginlogistica.com.br,
liação – Navegação Contêiner - Embarcações acesso em 16 de junho de 2018.
de 2.800 TEUS em www.loginlogistica.com.br, 58 Considerou-se que em um ano, o navio
acesso em 16 de junho de 2018. esteja em operação por 300 dias

31
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

valor (R$) 155.000.000,00 ii. Suape62


prazo amortização (anos) 20 Utilização da infraestrutura marítima pela
amortização anual 7.750.000,00 movimentação de contêiner (por contêiner
amortização por dia 25.833,33 com carga): R$ 29,40

Ocupação das instalações de atracação no


Custos Portuários cais de múltiplos usos (por metro linear de
instalação ocupada por embarcação, por
Para cálculo dos custos portuários, foram hora ou fração): R$ 0,46
utilizados os seguintes dados:
Utilização de infraestrutura terrestre colo-
a) Em relação ao número de unida- cada à disposição para a transferência de
des transportadas mercadorias das embarcações até as ins-
talações de armazenagem (por contêiner
Capacidade nominal da embarcação com carga): R$ 4,27
(TEU): 2 800
Valor mínimo de utilização de infraestrutura
Capacidade efetiva59 (TEU): 2 000
terrestre (por contêiner): R$ 70,32
Taxa de ocupação SB60 (southbound): 0,5
iii. Itajaí63

b) Em relação à utilização de Utilização da infraestrutura de proteção


infraestrutura portuária (marítima/ e acesso aquaviário (por contêiner): R$
terrestre) 73,57 (cheio) e R$ 32,70 (vazio)

Utilização das instalações de acostagem


i. Santos61 em operação de cabotagem (por metro li-
near do comprimento total da embarcação
Utilização da infraestrutura portuária em atracada por período de 12 horas ou fra-
função do movimento realizado pela em- ção): R$ 2,97
barcação (por contêiner com carga): R$
71,56 Utilização da infraestrutura terrestre pelo
trânsito de mercadorias a partir da em-
Utilização da infraestrutura portuária no barcação até as instalações portuárias ou
Terminal de Contêineres (por metro linear limite do porto (por contêiner): R$ 51,47
de cais ocupado por embarcação atraca- (cheio) e R$ 48,44 (vazio)
da e por período de 6 horas ou fração): R$
11,14
c) THC/capatazia
Utilização de infraestrutura terrestre para
movimentação em contêiner na navegação O THC é cobrado pela empresa de nave-
de Cabotagem (por período de 6 horas ou gação diretamente do consignatário a título
fração por embarcação): R$ 3.533,90 de ressarcimento das despesas assumidas
com a movimentação das cargas pagas ao
59 Capacidade efetiva é a capacidade no- operador portuário, ou seja, a Cesta de Ser-
minal descontada das restrições de calado e
peso das cargas.
60 Taxa de ocupação da embarcação em 62 Tarifa do Porto de Suape – Complexo
viagens com direção ao Sul (normalmente as ta- Industrial Portuário Governador Eraldo Gueiros
xas de ocupação em direção ao sul e ao norte - Homologada pela RESOLUÇÃO Nº 5.944, de
são diferentes). 23 de fevereiro de 2018.
61 Tarifa do Porto de Santos – COMPA- 63 Tarifa Portuária do Porto de Itajaí – Por-
NHIA DOCAS DO ESTADO DE SÃO PAULO – to de Itajaí (vigente a partir de 1º de novembro
CODESP (vigente em 12/06/2018). de 2015).

32
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

viços (Box Rate)64, nos termos do art. 3º da PECEM SUAPE SANTOS ITAJAI

Resolução 2.389/2012 da Antaq. Os valores Valor CNAP R$12.166,06 R$10.493,08 R$7.418,66 R$9.964,38

utilizados foram obtidos em informativo65 da Valor acordado R$30.798,00 - - -


empresa Mercosul Line. Para uso nos cál- Fator de
culos foram atualizados com base no índice proporcionalidade 1 0,86 0,61 0,82

IPCA e são apresentados na tabela abaixo: Valor estimado - R$26.562,90 R$18.780,11 R$25.224,52

Valor estimado
-
atualizado R$28.889,59 R$20.425,09 R$27.433,97

THC SUAPE SANTOS ITAJAI


(por contêiner) R$895,00 R$650,00 R$680,00
e) Rebocadores e amarração/
desatracação
d) Praticagem
Para a estimativa de custo de rebocadores e
Em 2012, a Comissão Nacional para Assun- amarração foi realizado cálculo equivalente
tos de Praticagem propôs uma metodologia ao apresentado no item anterior.
de regulação de preços do serviço de Pra-
ticagem. Para isso, realizou extenso levan- Valor de referência: preço dos serviços de
tamento de custos operacionais para cada rebocadores e de amarração vigente em
Zona de Praticagem e apresentou planilhas 2018 no porto de Chibatão67 em Manaus.
com preços máximos a serem adotados
Fator de proporcionalidade: a razão dos pre-
por região, por faixa de capacidade da
ços do serviço de praticagem das planilhas
embarcação. As tabelas não se encontram
CNAP dos portos estudados e o dos portos
em vigor e o preço da praticagem é acorda-
de Manaus.
do livremente entre as partes.

Na ausência de dados do valor de pratica-


gem acordado nas ZPs estudadas, estimou-
-se os custos multiplicando-se um valor de
referência por um fator de proporcionalida-
de.

Valor de referência: preço acordado entre o


Sindicato dos Práticos do Estado do Ceará
(SINDIPRÁTICOS) e o Sindicato das Agên-
cias de Navegação Marítima e dos Operado-
res Portuários do Estado do Ceará (SINDA-
CE) para o serviço de praticagem no porto
de Pecém66 em 24 de fevereiro de 2017.

Fator de proporcionalidade: a razão dos pre-


ços das planilhas CNAP dos portos estuda-
dos e do porto de Pecém.

Os valores estimados foram também atuali-


zados de fevereiro de 2017 a maio de 2019
com base no índice IPCA.

64 Preço cobrado pelo serviço de movimen-


tação das cargas entre o portão do terminal por-
tuário e o porão da embarcação, incluída a guarda
transitória das cargas até o momento do embar- 67 Disponível em http://www.grupochiba-
que/desembarque. tao.com.br/wp-content/uploads/2016/11/PRE%-
65 http://www.mercosul-line.com.br/area- C3%87OS-DOS-SERVI%C3%87OS-PORTU%-
cliente_tarifas acesso em 13/06/2019. C3%81RIOS-2018-rev-03.pdf, acesso em 15 de
66 Para embarcação de 2800 TEU. junho de 2018.

33
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Os valores estimados foram também atuali-


zados de dezembro de 2018 a maio de 2019
com base no índice IPCA.
MANAUS SUAPE SANTOS ITAJAI
Serviço de praticagem
R$44.169,76 R$10.493,08 R$7.418,66 R$9.964,38
(CNAP)
Fator de
1 0,24 0,17 0,23
proporcionalidade
Serviço de
R$26.928,24 - - -
rebocadores
Serviço de amarração R$6.499,92 - - -
Serviço de
- R$6.397,14 R$4.522,81 R$6.074,82
rebocadores estimado
Serviço de amarração
- R$1.544,14 R$1.091,71 R$1.466,34
estimado
Serviço de
rebocadores estimado R$27.587,08 R$6.553,66 R$4.633,47 R$6.223,45
atualizado
Serviço de amarração
R$6.658,95 R$1.581,92 R$1.118,42 R$1.502,21
estimado atualizado

Custos Rodoviários Distâncias utilizadas

Os custos rodoviários levantados foram - Recife a Porto de Suape (ida e volta, em


baseados na planilha referencial de custos km): 100
da Associação Nacional das Empresas de
- Porto de Santos a São Paulo (ida e volta,
Transporte Rodoviário de Cargas (NTC)68
em km): 180
para contêineres. As mesmas premissas
quanto às características dos contêineres - Recife a São Paulo (ida e volta, em km):
foram utilizadas (contêiner de carga seca, 4220
de 20 pés e 20 toneladas). - Porto de Itajaí a Florianópolis (ida e volta,
Segundo a NTC, a planilha é calculada em km): 200
pelo DECOPE/NTC & LOGÍSTICA - São Paulo a Florianópolis (ida e volta, em
(Departamento de Custos Operacionais e km): 1400
Pesquisas Econômicas) sob supervisão da
CTL (Câmara Técnica de Lotações), com a) Custos do transporte de contêiner
base em consagrado método de apuração até 25 toneladas (por faixa de
de custos. Os resultados refletem a estrutura percurso)
de custos de uma empresa operando em
regime de eficiência.
- 101 a 110km (ida e volta): R$1.594,54
- 171 a 180km (ida e volta): R$1.864,90
- 191 a 200km (ida e volta): R$1.931,73
68 Referência: março de 2018. https://
www.sindetransrp.com/media/upload/ckedi- - 4001 a 4500km (ida e volta): R$16.301,94
tor/2018/04/17/planilha-referencial-de-custos-
- 1301 a 1400km (ida e volta): R$5.942,02
-do-transporte-de-conteiner-marco-de-2018.pdf
acesso em 15 de outubro de 2018.

34
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

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35
RELATÓRIO DE CONJUNTURA Nº 06

Presidência da República
Secretaria-Geral da Presidência
Secretaria Especial de Assuntos Estratégicos

36

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