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ELEMENTOS DE TEORIA ESPECTRAL NOS ESPAÇOS

DE H ILBERT
E APLICAÇÕES

Daniele Corradetti
26 Fevereiro 2016

Conteúdo
1 Espaços de Hilbert 1
1.1 Espaços de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Espaços de Hilbert Separáveis . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.3 Projectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
1.4 Teorema de Riesz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11

2 Operadores lineares em espaços de Hilbert 12


2.1 Definições fundamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12
2.2 Operadores Autoadjuntos e Operadores Simétricos . . . . . . . . . . . . 13
2.3 Espectro de um operador . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14

3 Oscilador Harmónico 17

1 Espaços de Hilbert
Um espaço de Hilbert é um espaço unitário completo pelo produto interno. Nesta secção
apresentaremos esses espaços, no enquanto na segunda focaremos sobre os espaços de
Hilbert separáveis, i.e. que contêm um sub-conjunto numerável e denso. A particula-
ridade dos espaços de Hilbert separáveis reside no facto que nestes espaços é sempre
possível encontrar uma base ortonormal e portanto escrever o elementos dos espaços
no respeito desta base. Ademais os coeficientes dos elementos no respeito dessa base
-chamados coeficientes de Fourier- constituem uma sucessão em `2 e de facto iremos ver
que cada espaço de Hilbert de dimensão infinita é isometricamente isomorfo a o espaço
das sucessões convergentes pela norma euclidiana, i.e. `2 . Na terceira e na quarta sec-
ção consideraremos as projecções ortogonais sobre um sub-espaço fechado. No final
apresentaremos o Teorema de representação de Riesz que descreve o espaço dual de um
espaço de Hilbert separável e que será utilizado efectivamente na segunda secção.

1.1 Espaços de Hilbert


Seja V um espaço vectorial unitário e seja uma sucessão {vn } no espaço vectorial V.
Então a sucessão diz-se convergente a v0 e indica-se com vn −→ v0 se o limite da dis-
tância dos elementos da sucessão tende a zero, i.e.lim d(vn , v0 ) = 0. Reciprocamente a
n→∞

1
sucessão diz-se uma sucessão de Cauchy se o limite da distância entre os elementos da
sucessão tende a zero, i.e. lim d(vm , vn ) = 0. Um espaço vectorial onde as duas noções
n→∞
são equivalentes, diz-se completo.
Definição 1. Um espaço unitário chama-se espaço de Hilbert se é um espaço completo,
i.e. se cada sucessão de Cauchy é também uma sucessão convergente.
Observação 2. A partir deste momento indicaremos o espaço de Hilbert com a letra H ,
o produto interno será indicado h·, ·i e os elementos como ψ,ϕ, etc.
Exemplo 3. ( ESPAÇO L2 ([ a, b]) ) Um exemplo de espaço de Hilbert é o espaço das fun-
ções cujo quadrado é integrável no intervalo [ a, b], i.e.
ˆ b
| f ( x )|2 dx < ∞, (1)
a

com o produto interno canónico


ˆ b
h f ( x ) , g ( x )i = f ( x ) g ( x ) dx. (2)
a

Uma consequência directa das características do produto interno é a desigualdade


de Schwartz que atesta o seguinte:

p 4. ( DESIGUALDADE DE CAUCHY- SCHWARZ ) Seja H um espaço de Hilbert e seja


Teorema
k·k = h·, ·i a norma induzida sobre H . Então para cada ψ, ϕ ∈ H é valida a desigualdade

|hψ, ϕi|2 ≤ kψk k ϕk . (3)

1.2 Espaços de Hilbert Separáveis


Cada espaço de Hilbert separável possui um conjunto numerável que permite encon-
trar uma base ortonormal, i.e. uma sucessão ortonormal completa. Os coeficientes
dos vectores no respeito dessa sucessão ortonormal chamam-se coeficientes de Fourier
generalizados. Nesta subsecção apresentaremos toda as ferramentas necessárias para
demonstrar que cada espaço de Hilbert separável contem uma sucessão ortonormal
completa e as suas imediatas implicações.
Definição 5. (SEPARÁVEL) Um espaço de Hilbert diz-se separável se contem um sub-
conjunto numerável que é denso em H .
Exemplo 6. (ESPAÇO `2 ) Indicamos com o termo `2 o espaço de Hilbert das sucessões
complexas a = { ai }i∈N somáveis i.e.
v !
u ∞
||a||2 = t ∑| ai |2 < ∞,
u
(4)
i =1

onde o produto interno que induz a norma é constituído por



ha, bi =∑ ai bi . (5)
i =1

Este espaço é um espaço de Hilbert separável dado que o subconjunto E formado das
sucessões racionais é denso em `2 .

2
1.2.1 Sucessões ortogonais e ortonormais
Definição 7. (ELEMENTOS ORTOGONAIS) Sejam f , g ∈ H espaço de Hilbert. Então
dizem-se ortogonais e indicam-se f ⊥ g se h f , gi = 0.

Uma sucessão formada da elementos mutuamente ortogonais é chamada sucessão


ortogonal, mas ademais se a norma destes elementos é unitária então a sucessão diz-se
ortonormal, i.e.

Definição 8. (SUCESSÃO
ORTONORMAL ) Uma sucessão { ϕi }i∈N diz-se ortonormal se
para cada i, j ∈ N então ϕi , ϕ j = δij .

A partir da uma sucessão de elementos num espaço de Hilbert é sempre possível


encontrar com o processo de ortogonalização de Gram-Schmidt uma sucessão ortogo-
nal e ademais uma sucessão ortonormal.

Exemplo 9. (ORTOGONALIZAÇÃO DE G RAM -S CHMIDT E POLINÓMIOS DE L EGENDRE)


Consideramos como o espaço de Hilbert das funções cujo quadrado é integrável entre
-1 e 1, i.e. L2 ([−1, 1]) com o produto interno usual definido por
ˆ 1
h f , gi = f ( x ) g ( x ) dx, (6)
−1

e consideramos a sucessão das funções polinomiais


n o
{ψn } = 1, x , x2 , ..., x n , ... . (7)

A sucessão {ψn } não é uma sucessão ortogonal. Se por exemplo considerarmos o pro-
duto interno do primeiro elemento com o terceiro elemento podemos notar que não
são ortogonais, i.e.
ˆ 1 1
x3

2 2
hψ0 , ψ2 i = x dx = = . (8)
−1 3 −1 3
Todavia a partir dà sucessão {ψn } podemos proceder com o processo de ortogonali-
zação de Gram-Schmidt para encontrar uma sucessão ortogonal. O primeiro elemento
da sucessão obtida com o processo de ortogonalização é

ϕ0 ( x ) = ψ0 ( x ) = 1, (9)

no entanto o termo geral da sucessão é definido para cada k ≥ 2 dà formula


k −1
h ϕi , ψk i
ϕk = ψk − ∑ ϕ.
h ϕi , ϕi i i
(10)
i =0

Portanto se quisermos encontrar o segundo termo no processo de ortogonalização,


considerando que h ϕ0 , ψ1 i = 0, substituindo obtemos

ϕ1 = ψ1 = x. (11)

Consequentemente no caso do terceiro termo, i.e. ϕ2 precisamos notar que

h ϕ1 , ψ2 i = 0, (12)

3
2
e dado que h ϕ0 , ψ2 i = 3 e h ϕ0 , ϕ0 i = 2, então substituindo obtemos o seguinte ele-
mento
h ϕ0 , ψ2 i 1
ϕ2 = ψ2 − ϕ0 = x 2 − . (13)
h ϕ0 , ϕ0 i 3
Prosseguindo obtemos os termos sucessivos da sucessão. O quadrado da norma do
primeiro elemento é igual a 2, i.e. h ϕ0 , ϕ0 i = 2, portanto a sucessão não é ortonormal.
Todavia é possível normalizar a sucessão definindo para cada k
ϕk
φk = , (14)
k ϕk k
onde a norma é definida a partir do produto interno, i.e.
ˆ 1
!1/2
k ϕk k = ϕk ( x ) ϕk ( x ) dx . (15)
−1

Consideramos portanto as normas dos elementos da sucessão encontrada, i.e.


´ 1/2 √
1
k ϕ0 k = −1 dx = 2,
´ 1/2 r
2
1
k ϕ1 k = −1 x2 dx = , (16)
3
´ 1/2 r
2 2
1
k ϕ2 k = −1 x3 dx = ,
3 5
.. ..
. .

e assim sendo obtemos que sucessão ortonormal das {φi } é constituída por

r
1
φ0 = ,
r2
3
φ1 = x,
r2
5 3x2 − 1

φ2 = , (17)
2 2
.. ..
. .r
2n + 1
φn = Pn ( x ).
2
Os polinómios Pn ( x ) assim encontrados são chamados polinómios de Legendre e
definidos pela formula de Rodrigues, i.e.
1 dn  2 n
Pn ( x ) = x − 1 , n ≥ 1. (18)
2n n! dx n

1.2.2 Coeficientes de Fourier


Definição 10. (COEFICIENTES DE FOURIER) Seja f ∈ H onde H é um espaço de Hil-
bert e seja { ϕi }i∈N uma sucessão ortonormal. Então os coeficientes complexosh ϕi , f i
onde i ∈ N são chamados coeficientes de Fourier generalizados no respeito da sucessão
ortonormal { ϕi }i∈N .

4
Exemplo 11. (COEFICIENTES DE FOURIER NA BASE DAS FUNÇÕES DE HERMITE) Os co-
eficientes de Fourier generalizados de uma função dependem claramente dà sucessão
escolhida, por exemplo consideramos o espaço de Hilbert L2 (R) com o produto ca-
nónico definido no exemplo 6. Neste espaço podemos definir duas sucessões ortonor-
mais, i.e. as funções de Hermite Eherm = {ψn } definidas por
√  − 1 x2
ψn ( x ) = 2n n! π 2 e− 2 Hn ( x ) , (19)

onde os polinómios Hn ( x ) são os polinómios de Hermite definidos a seguir; e as fun-


ções trigonométricas, i.e. Etrig = { ϕn } definidas pela exponencial complexa

ϕn ( x ) = eiπnx . (20)

Se quisermos calcular os coeficientes de Fourier generalizados de uma função, e.g. a


função
x2
f ( x ) = e− 2 , (21)
que pertence a L2 (R), precisamos calcular os coeficientes hφn , f i no respeito da su-
cessões por qual quisermos os coeficientes. Portanto, chamando hn os coeficientes da
função f no respeito dos elementos da sucessão Eherm , podemos encontrar os coefici-
entes para cada n ∈ N calculando o produto interno
ˆ
1 x2
hn = hψn , f i = p √ f ( x ) e− 2 Hn ( x ) dx. (22)
2n n! π R
x2
Considerando que f ( x ) = e− 2 então
ˆ
1 2
hn = p √ e− x Hn ( x ) dx, (23)
2n n! π R

onde os Hn são os polinómios de Hermite, i.e.

H0 ( x ) = 1,
H1 ( x ) = 2x,
H2 ( x ) = 4x2 − 2, (24)
.. ..
. .
Hn+1 ( x ) = 2xHn ( x ) − 2nHn−1 ( x ) ,
.. ..
. .

Se quisermos calcular portanto os primeiros coeficientes de Fourier generalizados no


respeito de Eherm podemos substituir e obter as seguintes resultados:

h0 = 1,
h1 = 0,
h2 = 0, (25)
h3 = 0,
.. ..
. .

É claro que sendo a função analisada a mesma primeira função de Hermite, então todos
os coeficientes de Fourier diferentes dão primeiro são nulos.

5
Se pelo contrario quisermos encontrar os coeficientes da mesma função na sucessão
Etrig podemos proceder como antes e considerar os coeficientes de Fourier
ˆ
cn = h ϕn , f i = f ( x ) e−iπnx dx. (26)
R

x2
Considerando que f ( x ) = e− 2 então
ˆ √
x2 n2 π 2
cn = e− 2 e−iπnx dx = 2πe− 2 , (27)
R

que portanto leva às seguintes coeficientes



c0 = 2π,
√ π2
c1 = 2πe− 2 ,
√ 2
c2 = 2πe−2π , (28)
√ 9π 2
c3 = 2πe− 2 ,
.. ..
. .

Agora irmos demonstrar que dada uma sucessão ortonormal { ϕi }, a série dos coe-
ficientes de Fourier é convergente no espaço de Hilbert e nas sussequentemente iremos
demonstrar que cada elemento do espaço de Hilbert pode ser escrito como somatoria

no respeito de uma sucessão ortonormal i.e. f ( x ) = ∑ h ϕi , f i ϕi .
i =1

Proposição 12. A sucessão dos coeficientes de Fourier pertence a `2 , i.e. {h ϕi , f i}i∈N ∈ `2


n n
Demonstração. Se considerarmos as sumas finitas ∑ h ϕi , f i ϕi podemos notar que f − ∑
i =1 i =1
h ϕi , f i ϕi é um elemento do espaço de Hilbert e portanto pela positividade do produto
interno * +
n n
f− ∑ h ϕi , f i ϕi , f − ∑ h ϕi , f i ϕi ≥ 0. (29)
i =1 i =1


Todavia pela linearidade do produto interno e considerando que ϕi , ϕ j = δij , então
n n
k f k2 − 2 ∑ |h ϕi , f i|2 + ∑ h ϕi , f i h f , ϕi i h ϕi , ϕi i =
i =1 i =1
n
k f k2 − ∑ |h ϕi , f i|2 ≥ 0. (30)
i =1

Mas dado que a norma de f é finita então para cada n a suma parcial dos coeficientes
de Fourier é limitada pela norma de f , i.e.
n
k f k2 ≥∑ |h ϕi , f i|2 , (31)
i =1

e portanto sendo limitada e monótona crescente a série é convergente, i.e. {h ϕi , f i}i∈N ∈


`2 .

6
Observação 13. As vezes a desigualdade representada na última passagem
n
k f k2 ≥∑ |h ϕi , f i|2 . (32)
i =1

é chamada desigualdade de Bessel.



Corolário 14. A série ∑ h ϕi , f i ϕi converge a um elemento de H .
i =1

1.2.3 Sucessões Completas e Bases Ortonormais


Definição 15. (SUCESSÃO COMPLETA) Seja uma sucessão ortonormal { ϕi }i∈N em H
. Então diz-se completa se não existe um f ∈ H ortogonal a todos os elementos da
sucessão i.e. tal que h ϕi , f i = 0 para cada i ∈ N.

Uma sucessão completa é uma base pelo espaço de Hilbert dado que é valido o
teorema seguinte:

Teorema 16. Seja uma sucessão ortonormal { ϕi }i∈N em H , então as seguintes afirmações
são equivalentes:

1. A sucessão { ϕi }i∈N é completa;



2. A o conjunto { ϕi }i∈N forma uma base ortonormal, i.e. f = ∑ h ϕi , f i ϕi ∀f ∈ H ;
i =1


3. É valida a identidade de Parseval, i.e. h f , gi = ∑ h f , ϕi i h ϕi , gi ∀f, g ∈ H ;
i =1


4. A norma do elemento f é o quadrado das somas dos coeficientes de Fourier, i.e. k f k2 = ∑
i =1

|h ϕi , f i|2 ∀f ∈ H .

Demonstração. Iremos demonstrar que a 1) =⇒ 2) =⇒ 3) =⇒ 4) =⇒ 1) e portanto


que as afirmações são equivalentes.
Para demonstrar que a primeira afirmação implica a segunda, dado que a conver-

gência de ∑ h ϕi , f i ϕi já foi demonstrada, só é preciso provar que se { ϕi }i∈N é com-
i =1
pleta então o elemento cujo a série converge é f . De facto

f− ∑ h ϕi , f i ϕi = 0, (33)
i =1

porque se considerarmos o produto interno com cada elemento da base podemos notar
que para cada j ∈ N o produto interno
* +

ϕj, f − ∑ h ϕi , f i ϕi = 0, (34)
i =1

e portanto é ortogonal a todos os elementos de uma sucessão completa e portanto é o


elemento nulo.

7
Podemos demonstrar que a segunda afirmação implica a terceira
pela linearidade
e continuidade do produto interno. De facto considerando que ϕi , ϕ j = 0 e escre-
vendo os elementos f e g nas series correspondentes obtemos exactamente a primeira
identidade de Parseval, i.e.
* +
∞ ∞

h f , g i = ∑ h ϕi , f i ϕi , ∑ ϕ j , g ϕ j = ∑ f , ϕ j ϕ j , g .


(35)
i =1 j =1 j =1

Para obter a quarta afirmação que as vezes é chamada segunda identidade de Parseval,
só é preciso considerar que k f k2 = h f , f i e aplicar a identidade precedente.
Enfim para demonstrar que a quarta afirmação implica a primeira podemos consi-
derar que se

k f k2 =∑ |h ϕi , f i|2 (36)
i =1

então quando f é ortogonal a cada { ϕi }i∈N , dado que h ϕi , f i = 0 para cada i ∈ N,



obtemos que k f k2 = ∑ |h ϕi , f i|2 = 0 e portanto f é o elemento nulo.
i =1

Teorema 17. Um espaço de Hilbert H é separável se e somente se possui uma sucessão


{ ϕi }i∈N ortonormal e completa.
Demonstração. Se o espaço de Hilbert é separável então possui um sub-conjunto denso
{ψi }i∈N então utilizando o processo de Gram-Schmidt podemos construir uma suces-
são ortonormal definindo
ψ1
ϕ1 = , (37)
kψ1 k
e paralelamente para cada k ≥ 2
ϕ̃k
ϕk = , (38)
k ϕ̃k k
onde
k −1
hψ , ϕ̃ i
ϕ̃k = ψk − ∑ k i ϕ̃i . (39)
i =0 h i
ϕ̃ , ϕ̃i i
Agora podemos constatar que essa sucessão é completa dado que se f é ortogonal a
cada elemento da sucessão ortonormal { ϕi }i∈N então f é ortogonal a cada elemento da
sucessão original {ψi }i∈N , dado que os ψi são sumas finitas de elementos de { ϕi }i∈N .
Mas os elementos da sucessão original {ψi }i∈N são densos em H e portanto para
cada e > 0 existe um elemento ψ tal que a distância entre a função f e o elemento da
sucessão e menor de e, i.e.kψ − f k < e. Todavia pela definição de norma, sendo
kψ − f k2 = hψ − f , ψ − f i = kψk2 − hψ, f i − h f , ψi + k f k2 , (40)
e pela ortogonalidade de hψ, f i = 0, o teorema de Pitágoras está valido, i.e.
kψ − f k2 = kψk2 + k f k2 ≤ e. (41)
Em particular isto quer dizer que para cada e > 0 a norma do elemento f é limitada
por e, i.e.
k f k2 ≤ e, (42)
e portanto pela continuidade da norma então k f k = 0 o que implica que f = 0 o que
demonstra a completeça da sucessão ortonormal.
O converso pelo contrário é imediato dado que se H possui uma sucessão orto-
normal completa {ψi }i∈N então as combinações lineares a coeficientes racionais cons-
tituem um sub-conjunto denso em H .

8
1.2.4 Teorema de Isomorfismo dos espaços de Hilbert separáveis
Teorema 18. Seja H um espaço de Hilbert separável de dimensão infinita. Então H é isome-
tricamente isomorfo a `2 .

Demonstração. Consideramos a aplicação U que associa a cada função no espaço de


Hilbert separável H os coeficiente de Fourier no respeito de uma sua base ortonormal
{ ϕi }i∈N . Já vimos que {h ϕi , f i}i∈N é convergente e portanto a aplicação U : H −→ `2
que associa a cada elemento do espaço a sucessão dos seus coeficientes de Fourier é
bem definite:

f −→ {h ϕi , f i}i∈N . (43)
Pelo contrario podemos definir também a aplicação U −1 : `2 −→ H que associa às
sucessões de `2 os elementos do espaço de Hilbert que possuem essa sucessão como
coeficientes de Fourier, i.e.
n o ∞
a i
−→∑ ai ϕi . (44)
i ∈N i =1

Pelo teorema 20 temos que U −1 ◦ U = id dado que para cada f no espaço temos que

U −1
(U ( f )) =∑ h ϕi , f i ϕi = f . (45)
i =1

Também vê-se facilmente que o inverso é valido, i.e. U U −1 ( f ) = f . Para demons-




trar que H é isometricamente isomorfo só é preciso mostrar que para cada f ∈ H a


norma permanece inalterada sob a acção de U, i.e.

kU f k `2 = k f k H . (46)

De facto se considerarmos a continuidade da norma e o facto que a base é ortonormal,


i.e. k ϕi kH = 1, podemos provar que
2 2
∞ n
k f k2H = ∑ h ϕi , f i ϕi = lim ∑ h ϕi , f i ϕi =

i =1 n → ∞ i =1
H H

n n
= lim ∑ kh ϕi , f i ϕi k2H = lim ∑ |h ϕi , f i|2 k ϕi k2H =
n→∞ n→∞
i =1 i =1

=∑ |h ϕi , f i|2 = kU f k . (47)
i =1

Observação 19. Se chamamos isomorfismo unitário um isomorfismo que preserva o pro-


duto interno, i.e. hU ( f ) , U ( g)i = h f , gi, então podemos notar que um isomorfismo
isométrico num espaço de Hilbert também implica um isomorfismo unitário dado que
num espaço de Hilbert são validas as formulas de polarização. De facto se kU f k = k f k
para cada f ∈ H então o produto interno é preservado dà aplicação i.e.:

hU ( f ) , U ( g)i = h f , gi . (48)

9
1.3 Projectores
Definição 20. (COMPLEMENTO ORTOGONAL DE UM SUBESPAÇO) Seja M ⊂ H um su-
bespaço de H então diz-se complemento ortogonal M⊥ de M em H o subespaço
constituído por todos os elementos ortogonais a todos os elementos do subespaço M,
i.e.
M⊥ = {ψ ∈ H | hψ, ϕi = 0, ∀ ϕ ∈ M } . (49)

Teorema 21. Seja M ⊂ H um subespaço de H espaço de Hilbert. Então M⊥ é um subespaço


linear e fechado.

Demonstração. A linearidade do subespaço é uma consequência da linearidade do pro-


duto interno na segunda variável portanto só precisamos demonstrar que M⊥ é fe-
chado. Mas pela continuidade da aplicação

hψ, ·i : H −→ C, (50)

considerando que o conjunto A = Cr {0} é um aberto de C, a pre-imagem deste


conjunto em H , i.e.

preimhψ,·i ( A) = { ϕ ∈ H | hψ, ϕi ∈ A} , (51)


n o
é também um aberto em H e portanto o complementar M⊥ = H r preimhψ,·i ( A) é
fechado.
Observação 22. Dado que cada sub-conjunto fechado de um espaço completo é com-
pleto, então para cada subespaço linear M ⊂ H o subconjunto M⊥ é de Hilbert.

Teorema 23. ( DA PROJECÇÃO ) Seja M ⊂ H um subespaço linear de H espaço de Hilbert


separável. Então cada elemento ψ ∈ H pode ser decomposto em suma direita de elementos de
M e do seu complemento ortogonal, i.e. ψ = ψk + ψ⊥ onde ψk ∈ M e ψ⊥ ∈ M⊥ .

Definição 24. (PROJECÇÃO ORTOGONAL) Seja M ⊂ H um subespaço linear fechado,


diz-se projecção ortogonal uma aplicação

PM : H 3 ψ −→ ψk ∈ M. (52)

Observação 25. Uma projecção ortogonal PM tem as seguintes propriedades:

PM ◦ PM = PM (53)
h PM (ψ) , ϕi = hψ, PM ( ϕ)i . (54)

Ademais a projecção do complemento ortogonal do espaço M leva os elementos ψ nos


complementos ortogonais ψ⊥ , i.e.

PM⊥ : H 3 ψ −→ ψ⊥ ∈ M⊥ (55)

10
1.4 Teorema de Riesz
Se considerarmos a aplicação que hψ, ·i : H −→ C que para cada elemento ϕ ∈ H
associa o produto interno com um único elemento fixo ψ ∈ H , i.e.
ϕ −→ hψ, ϕi , (56)
então essa é uma aplicação linear, limitada. O teorema de representação de Riesz atesta
que cada funcional linear limitado pode ser representado univocamente através pro-
duto interno com um único vector em H .
Teorema 26. ( REPRESENTAÇÃO DE R IESZ ) Para cada funcional linear limitado η : H −→
C existe um único ψ ∈ H tal que η ( ϕ) = hψ, ϕi , para cada ϕ ∈ H .
Demonstração. Seja η diferente do funcional identicamente nulo, então consideramos o
núcleo do funcional, i.e. ker (η ). O núcleo é um subespaço linear fechado de H e por-
tanto o espaço H pode ser decomposto na suma direita do ker (η ) e do complemento
ortogonal, i.e.
H = ker (η ) ⊕ (ker (η ))⊥ . (57)
Dado que o funcional não era identicamente nulo, então o complemento ortogonal
não é constituído simplesmente pelo vector nulo, i.e. (ker (η ))⊥ 6= {0} e portanto,
sendo um subespaço linear, podemos escolher um elemento desse subespaço, i.e. ξ ∈
(ker (η ))⊥ tal que a norma seja unitária, i.e. kξ k = 1. Definimos portanto

ψ = η (ξ )ξ. (58)
Agora podemos mostrar que o funcional que encontramos é o funcional que torna
verdadeira a identidade hψ, ·i ≡ η (·). De facto iremos mostrar que para cada ϕ ∈ H
a diferencia entre as duas funções é nula, i.e.

hψ, ϕi − η ( ϕ) = 0 (59)
De facto se substituímos as definições na equação, obtemos que

D E
hψ, ϕi − η ( ϕ) = η (ξ )ξ, ϕ − η ( ϕ) hξ, ξ i =
hξ, η (ξ ) ϕi − hξ, η ( ϕ) ξ i = hξ, η (ξ ) ϕ − η ( ϕ) ξ i . (60)
Mas sendo que o vector ξ pertence ao complemento ortogonal do núcleo de η, i.e.
ξ ∈ (ker (η ))⊥ , e sendo que η (ξ ) ϕ − η ( ϕ) ξ pelo contrario pertence ao núcleo, i.e.
η (ξ ) ϕ − η ( ϕ) ξ ∈ ker (η ), dado que

η (η (ξ ) ϕ − η ( ϕ) ξ ) = 0, (61)
então o produto interno dos dois vectores é nulo, i.e.

hξ, η (ξ ) ϕ − η ( ϕ) ξ i = 0. (62)
Portanto sendo a diferencia entre as duas funções identicamente nulas finalmente
obtemos a identidade do Teorema i.e.

hψ, ·i ≡ η (·) . (63)


A unicidade é directa consequência da precedente demonstração dado que dois funci-
onais limitados cuja diferência é identicamente nula são identicos.

11
2 Operadores lineares em espaços de Hilbert
Nesta secção trataremos os operadores lineares e em particular os operadores autoad-
juntos. Na primeira parte dessa secção apresentaremos as definições fundamentais, i.e.
os operadores limitados e não limitados assim como a noção de operador adjunto. Sucessi-
vamente apresentaremos algumas propriedades que os operadores podem possuir e
portanto as características destes operadores. No final da secção apresentaremos al-
guns resultados fundamentais relativos ao espectro dos operadores, em particular a
propriedade de um operador de tiver esperto real se e somente se é autoadjunto.

2.1 Definições fundamentais


2.1.1 Operadores Limitados e não Limitados
Definição 27. (OPERADOR) Um operador A = ( A, D A ) da o espaço de Hilbert H em si
mesmo é uma aplicação linear definida sobre o subespaço linear D A ⊆ H , i.e.

A : D A −→ H . (64)

Definição 28. ( DENSAMENTE DEFINIDO ) Seja A = ( A, D A ) um operador do espaço de


Hilbert H em si mesmo . Se o domínio de definição é denso, i.e. D A = H ,o operador
chama-se densamente definido.

Definição 29. (OPERADORES LIMITADOS E ILIMITADOS ) Seja A = ( A, D A ) um opera-


dor do espaço de Hilbert H em H . Se existe uma constante K ∈ R tal que a imagem
do operador é limitada por essa constante, i.e. ∀ψ ∈ H

k AψkH ≤ K kψkH ,

então o operador diz-se limitado e K chama-se norma de A, pelo contrario se não existe
o operador diz-se ilimitado.

Definição 30. (ADJUNTO) Seja A = ( A, D A ) um operador densamente definido, diz-se


o operador adjunto A∗ = ( A∗ , D A∗ ) o operador definido por

D A∗ = {ψ ∈ H | ∃η ∈ H : hη, ϕi = hψ, Aϕi , ∀ ϕ ∈ DA } , (65)


e A∗ ψ = η. (66)

Observação 31. Dada a definição de operador adjunto, temos que para cada ψ, ϕ ∈ D A
é valida
h A∗ ψ, ϕi = hψ, Aϕi .
No caso dos operadores limitados definidos sobre H há o seguente teorema relaci-
onado à existência do operador adjunto.

Teorema 32. Seja A = ( A, H ) um operador limitado, então existe um único operador li-
mitado que seja o adjunto de A e definido sobre todo o espaço H e com a mesma norma do
operador A, i.e. A∗ = ( A∗ , H ) com k Ak = k A∗ k.

Demonstração. A existência e a unicidade do operador é dada da o teorema represen-


tação de Riesz. Para demonstrar que o operador é limitado utilizamos a desigualdade
seguinte
|h A∗ ψ, ϕi| = |hψ, Aϕi| ≤ kψk k Ak k ϕk ∀ψ, ϕ ∈ H , (67)

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que, sendo valida por qualquer ψ, ϕ ∈ H , em particular fica válida por ϕ = A∗ ψ e
portanto substituindo leva à

|h A∗ ψ, A∗ ψi| = k A∗ ψk2 ≤ kψk k Ak k A∗ ψk ∀ψ, ϕ ∈ H , (68)

que implica que o operador é limitado pelo escalar k Ak, i.e.

k A∗ ψk ≤ kψk k Ak . (69)

Então temos que k Ak ≤ k A∗ k, mas pelo contrario desenvolvendo o mesmo discurso


com poucas variações obtemos que k Ak ≥ k A∗ k e portanto a norma do operator ad-
junto é na verdade a mesma norma do operador, i.e. k Ak = k A∗ k.

2.1.2 Extensões
Definição 33. (EXTENSÃO) Um operador A0 = ( A0 , D A0 ) diz-se uma extensão do opera-
dor A = ( A, D A ) e indica-se A0 ⊇ A se domínio de definição de A0 include o domínio
de definição de A e se o operador A0 restringido ao domínio de definição de A coin-
cide, i.e.

(i ) D A0 ⊇ D A , (70)
(ii ) A0|D A = A. (71)

Teorema 34. ( DA EXTENSÃO


  ) Seja A = ( A, D A ) um operador limitado então existe uma
única extensão Ae = A,
e D e tal que
A

D A = D Ae , (72)

k Ak = A . (73)
e

2.2 Operadores Autoadjuntos e Operadores Simétricos


Nesta secção apresentaremos os operadores simétricos e os operadores autoadjuntos.

2.2.1 Operadores Simétricos


Definição 35. (OPERADOR SIMÉTRICO) Seja A = ( A, D A ) um operador densamente
definido e seja A∗ = ( A∗ , D A∗ ) o seu operador adjunto. Então A diz-se simétrico se o
operador adjunto A∗ é uma extensão de A, i.e.

D A∗ ⊇ D A , (74)
A∗ ψ = Aψ ∀ψ ∈ D A . (75)

Teorema 36. Seja A = ( A, D A ) um operador densamente definido simétrico. Então o opera-


dor adjunto é uma extensão do operador A e do biadjunto do operador, i.e.

A∗ ⊇ (A∗ )∗ ⊇ A. (76)

Demonstração. Que A∗ seja uma extensão de A i.e. A∗ ⊇ A é uma derivação direita da


definição de operador simétrico.

13
Pelo contrario se quisermos provar que o operador adjunto A∗ também é uma ex-
tensão do operador biadjunto (A∗ )∗ podemos constatar que pela definição de operador
adjunto os domínios de definição D A∗∗ e D A∗ são os seguintes

D A∗∗ = {ψ ∈ H | ∃η ∈ H : hη, ϕi = hψ, A∗ ϕi , ∀ ϕ ∈ D A∗ } , (77)


D A∗ = {ψ ∈ H | ∃η ∈ H : hη, ϕi = hψ, Aϕi , ∀ ϕ ∈ D A } , (78)

portanto se ψ ∈ D A , então ψ ∈ D A∗ porque o operador é simétrico, mas tambémψ ∈


D A∗∗ . De facto sendo simétrico se ϕ ∈ D A então também ϕ ∈ D A∗ sendo o operador
autoadjunto uma extensão do operador, e sendo D A ⊆ D A∗ , mas consequentemente as
condições do conjunto D A∗∗ são mais fortes das condições do conjunto D A∗ e portanto
D A∗∗ ⊆ D A∗ .

2.2.2 Operadores Autoadjuntos


Definição 37. (OPERADOR AUTOADJUNTO) Seja A = ( A, D A ) um operador densa-
mente definido e seja A∗ = ( A∗ , D A∗ ) o operador adjunto. Então A diz-se autoadjunto
se A = A∗ , i.e.

D A∗ = D A , (79)
A∗ ψ = Aψ ∀ψ ∈ D A . (80)

Teorema 38. Seja A = ( A, D A ) um operador autoadjunto. Então A não possui extensões


autoadjuntas não triviais.

Demonstração. Seja B = ( B, DB ) uma extensão autoadjunta de A = ( A, D A ), então


para provar o teorema só é preciso considerarmos os operadores adjuntos de A e de
B e notando que os operadores adjuntos são extensões de A e de B , mas sendo A e B
autoadjuntos então A = B , i.e.A ⊆ B = B ∗ ⊆ A∗ = A.

2.3 Espectro de um operador


2.3.1 Aplicação resolvente
Definição 39. (CONJUNTO RESOLVENTE) Seja A = ( A, D A ) um operador densamente
definido.
n Então, indicando comoB ( H ) são os operadores limitados, o conjunto ρ ( A) =
z ∈ C | ( A − z1)−1 ∈ B (H ) diz-se conjunto resolvente.

Teorema 40. Se A = ( A, D A ) é autoadjunto então a aplicação ( A − z1) é bijectiva para cada


elemento que pertence ao conjunto resolvente, i.e. para cada z ∈ ρ ( A).

Definição 41. (RESOLVENTE) Seja A = ( A, D A ) um operador densamente definido


então diz-se resolvente a aplicação R A entre o conjunto resolvente de A, i.e. ρ ( A), e o
espaço dos operadores limitados B (H ) dada por

R A (z) = ( A − z1)−1 . (81)

14
2.3.2 Espectro, espectro pontual e espectro continuo
Definição 42. (ESPECTRO) Seja A = ( A, D A ) um operador densamente definido então
diz-se espectro do operador o conjunto complementar ao conjunto resolvente, i.e.

σ ( A) = C r ρ ( A) . (82)

O espectro é um subconjunto formado de duas partes topológicamente distintas,


i.e. uma parte discreta e uma parte continua.
Definição 43. (ESPECTRO PONTUAL E CONTINUO) Seja A = ( A, D A ) um operador
densamente definido então diz-se espectro pontual do operador o conjunto dos valores
z ∈ C tais que a imagem de ( A − z1) não é densa em H , i.e.
n o
σpont ( A) = z ∈ C | Range ( A − z1) 6= H , (83)

no enquanto diz-se espectro continuo do operador o conjunto das z ∈ C tais que a ima-
gem de ( A − z1) é densa em H , i.e.
n o
σcont ( A) = z ∈ C | Range ( A − z1) = H . (84)

2.3.3 Espectro de um Operador Autoadjunto


Definição 44. (VALORES PRÓPRIOS) Seja A = ( A, D A ) um operador densamente de-
finido, então dizem-se valores próprios do operador os valores λ tais que existe um
vector ψ ∈ D A com ψ 6= 0 tal que
Aψ = λψ. (85)
Teorema 45. Seja A = ( A, D A ) um operador simétrico, então todos os valores próprios λ de
A são reais.
Demonstração. Seja A um operador simétrico, então se considerarmos um vector pró-
prio ψ com valor próprio λ, podemos notar que

λ hψ, ψi = hψ, λψi = hψ, Aψi , (86)

porque λ é um valor próprio de A, todavia sendo também A∗ = A então

hψ, Aψi = h Aψ, ψi = hλψ, ψi = λ hψ, ψi , (87)


e portanto o valor λé real, i.e. λ = λ ∈ R.
Teorema 46. O espectro pontual de um operador autoadjunto A consiste nos valores próprios
de A.
Demonstração. Se λ é um valor próprio de A então é preciso provar que o fecho da
imagem de ( A − λ1) não é todo o espaço H , i.e.

Range ( A − λ1) 6= H . (88)

Dado que o valor próprio não pertence ao conjunto resolvente, i.e. λ ∈ / ρ ( A), então
pelo teorema 40 a aplicação ( A − λ1) não é injectiva, i.e. ker ( A − λ1) 6= {0} . Mas
dado que o operador é autoadjunto então
 ∗ 
ker ( A − λ1) = ker ( A∗ − λ1) = ker A − λ1 , (89)

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todavia o núcleo do operador adjunto é o conjunto ortogonal da imagem e portanto
dado que λ é real, sendo valor próprio de um operador autoadjunto, então
 ∗  ⊥
ker A − λ1 = Range A − λ1 = Range ( A − λ1)⊥ . (90)

Enfim se considerarmos o fecho do conjunto, dado que o fecho pode ser escrita como
conjunto ortogonal do ortogonal do conjunto mesmo, obtemos que o fecho da imagem
de ( A − λ1) é diferente da {0}⊥ = H , i.e.

 ⊥
Range ( A − λ1) = Range ( A − λ1)⊥ = (91)

= ker ( A − λ1)⊥ 6= {0}⊥ . (92)

Agora precisamos provar que se λ não for um valor próprio de A então não per-
tence ao espectro pontual de A. Mas se λ pertence ao conjunto resolvente então a
aplicação ( A − λ1) é injectiva e portanto desenvolvendo o mesmo discurso preceden-
temente mencionado obtemos que


 ∗ 
{0} = ker ( A − λ1) = ker ( A − λ1) = ker A − λ1 = (93)
⊥
= Range A − λ1 = Range ( A − λ1)⊥ , (94)

e portanto que o fecho da imagem de ( A − λ1) é efectivamente o espaço de Hilbert H


, sendo
 ⊥
Range ( A − λ1) = Range ( A − λ1)⊥ = ker ( A − λ1)⊥ = {0}⊥ = H . (95)

Observação 47. Os teoremas que provamos só envolvem o espectro pontual. Em geral é


verdadeiro o teorema seguinte:

Teorema 48. Se A = ( A, D A ) é um operador simétrico, então é autoadjunto se e somente se o


espectro é conteúdo em R i.e. σ ( A) ⊆ R.

Demonstração. Dados os teoremas precedentes e dado que o operador é simétrico, en-


tão precisamos demonstrar que se o espectro é real, i.e. σ ( A) ⊆ R, então o domínio
de definição do operador adjunto é conteúdo no domínio do operador, i.e. D A∗ ⊆ D A .
Seja z um valor complexo não real, i.e. z ∈ C r R. Então dado que o espectro é real,
i.e. σ ( A) ⊆ R, os operadores ( A − z1) e ( A − z1) são invertíveis. Em particular a ima-
gem o operador inverso ( A − z1)−1 leva valores complexos no domínio de definição
do operador adjunto, i.e.

C r R 3 z −→ ψ = ( A − z1)−1 ∈ D A . (96)

Então se considerarmos um vector ϕ do domínio do adjunto, i.e. ϕ ∈ D A∗ , este per-


tence também ao domínio do operador. De facto a imagem ( A∗ − z1) ϕ é um valor
complexo não real e portanto, se considerarmos o vector ψ ∈ D A obtido por

ψ = ( A − z1)−1 ( A∗ − z1) ϕ, (97)

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podemos notar que, sendo o operador simétrico, podemos escrever ( A∗ − z1) ϕ =
( A − z1) ϕ e portanto
( A − z1) ψ = ( A − z1) ϕ, (98)
o que significa que

( A − z1) ( ϕ − ψ) = ( A − z1) ϕ − ( A − z1) ψ = 0. (99)

Mas dado que z não era real, então não pertencia ao espectro e portanto a aplicação
( A − z1) era injectiva, i.e. ker ( A − z1) = {0}. Consequentemente se o núcleo da
aplicação é constituído simplesmente pelo vector nulo então ( ϕ − ψ) = 0, ou seja ϕ =
ψ e portanto ψ ∈ D A .

3 Oscilador Harmónico
Como um exemplo estudamos o operador Hamiltoniano de um oscilador harmónico
quântico no espaço de Hilbert H = L2 (R, dq) dado por

h̄ d2 mω 2 q2
H=− + . (100)
2m dq2 2

Temporariamente pomos m = 1 e introduzimos os operadores


   
1 d ∗ 1 d
a= √ ωq + h̄ , a = √ ωq − h̄ , (101)
2ωh̄ dq 2ωh̄ dq

cujas relações de comutação são


[ a, a∗ ] = 1. (102)
Desta forma o Hamiltoniano (100) é
 
1 ∗
H = ωh̄ aa − . (103)
2

Definimos o operador
N = a∗ a (104)
e por isso  
1
H = ωh̄ N + . (105)
2
As relações de comutação de operadores a, a∗ e N são

[ N, a] = − a, [ N, a∗ ] = a∗ , [ a, a∗ ] = 1. (106)

Assim, a álgebra gerada pelos operadores { a, a∗ , N, 1} é uma álgebra de Lie solúvel,


que é uma extensão unidimensional a direita da álgebra de Heisenberg. Consequente-
mente, N é um operador positivo em H. Caso ψ seja um vector próprio de N corres-
pondente ao valor próprio ν, isto é

Nψ = νψ,

então:

1. necessariamente tem-se ν > 0;

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2. se ν = 0 então aψ = 0, caso contrário aψ é um vector não nulo cujo quadrado da
norma é νhψ|ψi;

3. a∗ ψ é um vector não nulo cujo quadrado da norma é (ν + 1)hψ|ψi.

Portanto para construir a decomposição espectral do Hamiltoniano (105) é necessário


encontrar o vector ψ0 tal que

aψ0 = 0 e Nψ0 = 0. (107)

Neste caso os restantes vectores próprios do Hamiltoniano (105) ão dados por

( a∗ )n
ψn = √ ψ0 , n = 0, 1, 2, . . . , (108)
n!
e tais que  
1
Hψn = en ψn , com en = h̄ω n + . (109)
2
Assim, todo o problema é reduzido a uma equação diferencial ordinária homogénea
de primeira ordem  
d
h̄ + ωq ψ0 = 0. (110)
dq
Evidentemente, a função ψ0 (q) é dada por
r
ω − ω q2
ψ0 (q) = 4 e 2h̄ , (111)
πh̄
mais ainda ˆ +∞
r
ω ω 2
2
kψ0 k = e− h̄ q dq = 1. (112)
πh̄ −∞
Desta forma demonstramos que o Hamiltoniano do oscilador harmónico quântico uni-
dimensional (100) tem espectro discreto dado em (109) onde os respectivos vectores
próprios são dado por
r r 
4 mω 1 mω
ω 2
√ − q
ψn (q) = e 2h̄ Hn q , (113)
πh̄ 2n n! h̄

onde Hn (q) são polinómios de Hermite.

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