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Localização dinâmica para

pertubações de operadores de
Schrödinger discretos com campo
elétrico

Estudante: Leonardo Takashi Teramatsu

Orientador: Rodrigo Bissacot


ii
Sumário

1 Preliminares 3
1.1 O operador de Schrödinger discreto . . . . . . . . . . . . . . . 3
1.2 Espaço de Hilbert . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Espaço em que estamos trabalhando e a Transformada de Fourier 5
1.4 Função de Bessel e suas propriedades . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4.1 A função Gamma . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4.2 Equação de Bessel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.4.3 Função de Bessel e suas propriedades . . . . . . . . . . 7
1.5 Teoria Espectral e os Tipos de espectros . . . . . . . . . . . . 8
1.6 Uma base para L2 ([0, 1]) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.7 Resultados principais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24

2 O conceito de Localização 27
2.1 Limites inferiores para os Momentos de Auto-funções . . . . . 29
2.2 Localização Dinâmica Exponencial . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.2.1 Localização dinâmica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 33
2.2.2 Localização dinâmica exponencial . . . . . . . . . . . . 35

3 Demonstrações dos Resultados Principais 53

iii
iv SUMÁRIO
Introdução

Nesse projeto, que tem como foco o estudo de propriedades espectrais


do operador de Schrödinger discreto H0 (1.2), provaremos que ele possui
localização dinâmica. Além disso, mostramos que os auto-valores de H0 são
números inteiros. O resultado foi obtido originalmente para caso do campo
elétrico ser E = 1, como feito no artigo [1], a prova da localização dinâmica
será feita para o mesmo campo elétrico. Agora vamos analisar se os auto-
valores continuam sendo os números inteiros, desta vez, para campo elétrico
E > 0 quaisquer.

1
2 SUMÁRIO
Capítulo 1

Preliminares

1.1 O operador de Schrödinger discreto


O operador de Schrödinger discreto é definido conforme abaixo, veja [1]:

HV,E : D(HV,E ) → `2 (Z),


(HV,E ψ)(n) = (∆ψ)(n) + Enψ(n) + V (n)ψ(n), ∀ψ ∈ D(HV,E ),
onde
D(HV,E ) = {ψ ∈ `2 (Z) : |n|2 |ψ(n)|2 < ∞},
X

n∈Z

é o domínio denso em ` (Z) do operador HV,E e temos que o conjunto


2

`2 (Z) = {ψ : Z → C : |ψ(n)|2 < ∞}


X

n∈Z

é um espaço de Hilbert separável 1.2.2 munido com o seguinte produto interno


hψ, ϕi = ψ(n)ϕ(n), ∀ψ, ϕ ∈ `2 (Z)
X

n∈Z

Além disso, as outras funções que compõe o operador HV,E são:


• V : Z → R é um potencial limitado que nessa definição cumpre o papel
de ser um perturbador.
• E 6= 0 é um campo elétrico uniforme.
• ∆ é o Laplaciano discreto originado do Laplaciano discreto definido em
`2 (Zd ) como seguinte
f (m), n ∈ Zd , f ∈ `2 (Zd ), (1.1)
X

|m−n|=1

donde o leitor pode consultar em [4] no capítulo 2.

3
4 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

O nosso foco está em entender as propriedades espectrais e dinâmicas de


H0 = HV ≡0,E . No caso, teremos

(H0 ψ)(n) = (∆ψ)(n) + Enψ(n), ψ ∈ D(HV,E ). (1.2)

1.2 Espaço de Hilbert


Colocaremos algumas definições básicas para uma pequena revisão sobre
o espaço de Hilbert.
Definição 1.2.1. (Espaço de Hilbert)
Seja H um espaço pré-Hilbert (um espaço vetorial munido de um produto
interno). Se H é munido de uma norma proveniente do produto interno é
um espaço completo, dizemos que H é um espaço de Hilbert.
Definição 1.2.2. Seja H um espaço de Hilbert. O espaço é dito ser separável
se existe E ⊂ H um conjunto enumerável tal que E = H.
Obs 1. Em particular, um espaço de Hilbert ser separável é equivalente de
ter uma base enumerável.
Definição 1.2.3. Seja H um espaço de pré-Hilbert.
(a) Seja x ∈ H. Dizemos que x é ortogonal à um elemento y ∈ H, se
hx, yi = 0. Notação: x ⊥ y.

(b) Sejam M ⊂ H e x ∈ H. Dizemos que x é ortogonal à M , se

hx, yi = 0, ∀y ∈ M

Representar

M ⊥ = {x ∈ H : hx, yi = 0, ∀y ∈ M } (1.3)

M ⊥ é denominado complemento ortogonal de M .


Definição 1.2.4. Seja H um espaço pré-Hilbert e seja S ⊂ H. Dizemos que
S é conjunto ortonormal, se ∀x, y ∈ S

0, se x 6= y
hx, yi =
1, c.c

Um conjunto ortonormal tal que S ⊥ = {0} é chamado de Sistema Orto-


normal Completo.
1.3. ESPAÇO EM QUE ESTAMOS TRABALHANDO E A TRANSFORMADA DE FOURIER5

Teorema 1. Seja S = {xi ; i ∈ I} um conjunto ortonormal em um espaço de


Hilbert H. As seguintes condições são equivalentes:
(a) Para cada x ∈ H
x= (1.4)
X
hx, xi i xi
i∈I

(b) S é um sistema ortonormal completo.

(c) [S] = H.

(d) Para cada x ∈ H

kxk2 = | hx, xi i |2 (Relação de Parseval) (1.5)


X

i∈I

(e) ∀x, y ∈ H
hx, yi =
X
hx, xi i hy, xi i
i∈I

1.3 Espaço em que estamos trabalhando e a


Transformada de Fourier
Uma das ferramentas importantes que vamos precisar nesse texto é trans-
formada de Fourier discreta. Listamos abaixo algumas definições e proprie-
dades. O espaço em que estamos trabalhando é em `2 (Z), como consta no
primeiro capítulo.
Definição 1.3.1. (Transformada de Fourier Discreta em `2 (Z))
Para cada f ∈ `2 (Z) a sua transformada de Fourier será

fb(ε) = f (n)e−2πinε , ∀ε ∈ [0, 1) (1.6)


X

n∈Z

onde fb ∈ L2 (T) ⊂ L2 ([0, 1]) e denotamos T = [0, 1).


Teorema 2. (Inversa da Transformada de Fourier)
Para cada f ∈ `2 (Z) a inversa da transformada de Fourier será
Z 1
f (n) = e2πinε fb(ε)dε, ∀n ∈ Z (1.7)
0

Proposição 3. Seja f ∈ D(HV,E ), então temos

i ∂(fb(ε))
[nf
\ (n)](ε) = (1.8)
2π ∂ε
6 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

Teorema 4. (Teorema de Plancherel e Parseval)


D E
hϕ, ψi`2 (Z) = ϕ,
b ψb , ∀ϕ, ψ ∈ `2 (Z) (1.9)
L2 (T)
Em particular
kϕk`2 (Z) = kϕk
b L2 (T) , ∀ϕ ∈ `2 (Z) (1.10)

1.4 Função de Bessel e suas propriedades


A função de Bessel, será uma ferramenta crucial para a prova de que
H0 possui localização dinâmica. Tal ferramenta, com a sua estimativa muito
eficiente, será usado na proposição 31 para conseguirmos obter uma condição
necessária para que H0 tenha localização dinâmica.

1.4.1 A função Gamma


Definição 1.4.1. (Função Gamma)
Seja z ∈ C tal que Re(z) > 0. A função Gamma, denotado por Γ, é
definido da seguinte maneira
Z ∞
Γ(z) = e−t tz−1 dt (1.11)
0
Obs 2. Integrando por partes obtemos a seguinte relação de recorrência
Γ(z + 1) = zΓ(z)
A função Gamma é uma generalização do fatorial para números comple-
xos. De fato, para cada n ∈ N temos
Γ(n + 1) = n!

1.4.2 Equação de Bessel


A função de Bessel é a solução da seguinte equação diferencial chamada
Equação de Bessel 1.4.2.
Definição 1.4.2. (Equação de Bessel)
Seja ν ∈ C. A seguinte equação diferencial
d2 w dw
z22
+z + (z 2 − ν 2 )w = 0 (1.12)
dz dz
é conhecido como Equação e Bessel de ordem ν.
Para determinar a solução dessa equação diferencial é preciso aplicar o
método de Frobenius, veja [13].
1.4. FUNÇÃO DE BESSEL E SUAS PROPRIEDADES 7

1.4.3 Função de Bessel e suas propriedades


Agora, visto o que é a equação de Bessel, podemos definir o que é a função
de Bessel.
O comum de qualquer curso de Física-Matemática quando se vê a função
de Bessel pela primeira vez seria o seu primeiro tipo.

Definição 1.4.3. Seja ν um número complexo tal que 2ν não é um inteiro


não negativo. Então
 ν+2r
∞ (−1)r z
2
Jν (z) = (1.13)
X

r=0 r!Γ(ν + r + 1)

é chamado de Função de Bessel de primeiro tipo de ordem ν e argumento


z ∈ C.

O mesmo processo pode ser aplicado para α = −ν. Neste caso, obtemos
 −ν+2r
∞ (−1)r z
2
J−ν (z) =
X

r=0 r!Γ(−ν + r + 1)

Entretanto, o nosso interesse está no caso em que ν é algum inteiro, donde


temos a expressão
 n+2r
∞ (−1)r z
2
Jn (z) = (1.14)
X
, ∀n ∈ Z+
r=0 r!Γ(n + r + 1)

que é conhecido como função de Bessel de ordem inteira.


No caso, para −n ∈ Z− , temos
 −n+2r
∞ (−1)r z
2
J−n (z) =
X

r=0 r!Γ(−n + r + 1)
 −n+2(s+n)
r−n=s
∞ (−1)s+n z
2
=
X

s=0 (s + n)!Γ(−n + s + n + 1)
 n+2s
∞ (−1)s z
2
= (−1)n
X

s=0 s!Γ(n + s + 1)
= (−1)n Jn (z)

Além disso, essa função de Bessel satisfaz a seguinte desigualdade


8 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

Proposição 5.
!|n|
1 |z|
e( 2 )
|z| 2
∀z ∈ C, ∀n ∈ N, |Jn (z)| 6 (1.15)
|n|! 2
Demonstração. Basta analisar para n ∈ Z+ , pois para o caso em que n = −m,
com m ∈ Z+ , usamos a propriedade acima provado. Logo, para dado n ∈ Z+
temos
 n+2r
X (−1)r z


2
|Jn (z)| =

r=0 r!Γ(n + r + 1)


 n+2r
∞ (−1) r z


X 2
6

r!(n + r)!

r=0
 n+2r
∞ |z|
2
=
X

r=0 r!(n + r)!


!n ∞ !2r
|z| 1 |z|
=
X
2 r=0 r!(n + r)! 2
!n ∞ !2r
|z| X 1 |z|
6
2 r=0 r!n! 2
!n
1 |z|
e( 2 )
|z| 2
=
n! 2

Além disso, a mesma fórmula de função de Bessel de ordem inteira pode


ser expressa como uma integral, como consta no seguinte teorema.
Teorema 6. (Fórmula de Integral de Bessel)
Sejam z ∈ C e n ∈ Z, então
1 Z 2π
Jn (z) = cos (z sin (θ) − nθ)dθ (1.16)
2π 0
Omitiremos a demonstração desse teorema. Ao leitor interessado reco-
mendamos a leitura do [14] e [12].

1.5 Teoria Espectral e os Tipos de espectros


Muitas vezes quando se estuda suas propriedades espectrais sobre os ope-
radores lineares definidos em espaços de Hilberts, são densamente definidos.
1.5. TEORIA ESPECTRAL E OS TIPOS DE ESPECTROS 9

A importância do domínio D(H) ser denso dentro de H seria pelo fato de


podermos definir unicamente o seu adjunto. Além disso, muitas outras pro-
priedades relacionadas à extensão dentro de espaços complexos, caso neces-
sário, são unicamente definidos, facilitando assim tanto na manipulação do
operador quando no estudo das suas propriedades.

Definição 1.5.1. (Conjunto resolvente)


Seja H : D(H) ⊂ H → H um operador linear no espaço de Hilbert
H 6= {0} sobre os complexos. O conjunto resolvente, denotado por ρ(H), é
o conjunto de λ ∈ C para qual o operador resolvente de H em λ,

R(λ, H) : H → D(H) tal que R(λ, H) = (H − λI)−1

existe e é limitado, isto é, R(λ, H) ∈ L(H, H).

Obs 3. Na definição acima, a notaçõ I é o operador identidade.


Obs 4. Claro que podemos generalizar mais ainda a definição acima em es-
paços de Banach, mas como o foco está sobre os operadores de Schrödinger
sobre os espaços de Hilbert, então a definição acima é suficiente.

Definição 1.5.2. (Espectro)


O espectro de H é o conjunto Σ(H) = C \ ρ(H).

Obs 5. Em outras palavras, podemos dizer que o espectro de um operador


H, no caso (H − λI) : D(H) ⊂ H → H, é quanto não possui um inverso
(H − λI)−1 : H → D(H) que é um operador limitado e definido sobre todo
H. Isso pode apenas ocorrer em casos seguintes:

• H − λI não é injetor:
Neste caso, ker(H − λI) 6= {0}, e qualquer vetor não nulo, x, do
núcleo tem a propriedade H(x) = λx. O vetor x se chama um vetor
próprio (ou um autovetor) que corresponde ao valor próprio (autovalor)
λ. O conjunto de todos os vetores próprios que correspondem a λ, mais
zero, forma um subespaço linear de H, chamado espaço próprio de λ,
denotado Hλ . O conjunto de todos os valores próprios se chama o
espectro puramente pontual.

• H − λI é injetor e não sobrejetor, e tem a imagem denso em H. Os va-


lores λ neste caso formam os espectros contínuo de H que será definido
mais pela frente.

• H − λI é injetor mas não tem a imagem denso em H. Os valores λ


neste caso formam o espectro residual de H.
10 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

Obs 6. Todos os autovalores de um operador linear é um espectro, mas nem


todos os espectros são autovalores. Um exemplo disso seria, considere o
espaço de Hilbert `2 (N) e um operador

S : `2 (N) → `2 (N) tal que S(a1 , a2 , a3 , ...) = (0, a1 , a2 , ...).

Note que, S é injetora, assim 0 não é um autovalor de S. Mas S não é


invertível, pois ela não é sobrejetora. Assim, 0 é um elemento do espectro de
S, mas não é um autovalor.
Acontece que, em dimensão finita, ocorre duas coisas: Como o domínio e
o codomínio são dimensões iguais, um operador é injetivo se, e somente se, é
sobrejetora. Além disso, todos os operadores lineares são contínuos. Assim,
considerando T o operador que se encaixa dentro desse contexto, se T − λI
não é invertível, isto significa que não é bijetora, então se não é injetora,
assim tem que o seu kernel não apenas o zero, isto é, existem x 6= 0 com
T (x) = λx. Portanto, em dimensão finita os espectros consiste apenas de
autovalores.

Operador Multiplicação:
Seja µ uma medida positiva de Borel sobre um espaço métrico X obede-
cendo µ(E) < ∞ para todos os conjuntos limitados de Borel E ⊂ X. Fixa
um conjunto de Borel E e seja ϕ : E → C uma função mensurável. Defina o
operador multiplicação pelo ϕ como o operador linear

Mϕ : domMϕ ⊂ L2µ (E) → L2µ (E)

tal que domMϕ = {ψ ∈ L2µ (E) : (ϕψ) ∈ L2µ (E)} e (Mϕ ψ)(t) = ϕ(t)ψ(t), ∀ψ ∈
domMϕ .
Um exemplo muito importante de um operador multiplicação é a energia
potencial MV , com V : E → C, E ⊂ Rn , na qual geralmente é denotado
pela notação simplificada V . Assim, temos como a energia mecânica total
H = H0 + V , com H0 = −∆ denotando a energia cinética quântica, depois
de um domínio conveniente fornecido. Este H é comumente referido como
operador de Schrödinger padrão.
Proposição 7. domMϕ é denso em L2µ (E) e M∗ϕ = Mϕ .
Corolário 7.1. Mϕ é auto-adjunto se, e somente se, ϕ é uma função real.
Definição 1.5.3. O (µ−) a imagem essencial de ϕ : E → C é o conjunto de
todos y ∈ C assim que µ({x ∈ E : |ϕ(x) − y| < ε}), ∀ε > 0.
Proposição 8. Valem as seguintes propriedades:
1.5. TEORIA ESPECTRAL E OS TIPOS DE ESPECTROS 11

(a) O espectro σ(Mϕ ) é a imagem essencial de ϕ.

(b) λ é um autovalor de Mϕ se, e somente se, µ({ϕ−1 (λ)}) > 0.

Exemplo 1. (Operador posição em R)


Seja
q : R → R tal que q(x) = x. (1.17)
Assim, temos Mq agindo em L2 (R). Então, Mq é auto-adjunto e repre-
senta o operador posição quântico. Além disso, Mq não tem autovalores e
os seus espectros é R.

Resolução de Identidade
Denota A a σ−álgebra de Borel em R e para conjuntos dois a dois disjun-
tos Λj o símbolo Σj Λj indica a sua união. Finalmente, XA denota a função
característica do conjunto A.
Escrevemos P roj(H) para indicar o conjunto de operadores de projeções
ortogonais no espaço de Hilbert H, ou seja, P0 ∈ P roj(H) se, e somente se,
P0 : H → H é linear, limitado, auto-adjunto e P02 = P0 , onde P0 (H) é um
subespaço fechado em H.

Definição 1.5.4. (Resolução da Identidade)


Uma resolução da identidade em H é uma aplicação

P : A → P roj(H)

tal que

(i) P (R) = I, e

(ii) Se Λ = j∈N Λj , com Λj ∈ A e dois a dois disjuntos para todo j ∈ N,


S

então vale ∞
P (Λ) = P (Λj )
X

j=1

Obs 7. Uma resolução da identidade é também chamado de família espectral,


decomposição espectral, resolução espectral e medida com valor de projeção.

Definição 1.5.5. (Medidas Espectrais)


Dada uma resolução de identidade P , para cada ψ ∈ H associamos uma
medida positiva e finita de Borel µψ em R por

A 3 Λ 7→ µψ (Λ) := hψ, P (Λ)ψi ;


12 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

note que µψ (Λ) = hψ, P (Λ)P (Λ)ψi = kP (Λ)ψk2 e µψ (R) = kψk2 . Para cada
par ψ, ϕ ∈ H associa-se a medida de Borel complexo

µψ,ϕ (Λ) := hψ, P (Λ)ϕi ,

e pela polarização
1
µψ,ϕ (Λ) = (µψ+ϕ (Λ) − µψ−ϕ (Λ) + i(µψ−iϕ (Λ) − µψ+iϕ (Λ))).
4
Claramente, temos que µψ = µψ,ψ e |µψ,ϕ (Λ)| 6 kψkkϕk.
No caso, os µψ e µψ,ϕ são chamados de medidas espectrais da resolução
de identidade P associado com ψ e o par ψ, ϕ ∈ H, respectivamente.
Obs 8. É importante ressaltar que todas as medidas espectrais são regulares,
ou seja,

µψ (Λ) = inf{µψ (U ) : U ⊂ R é aberto, Λ ⊂ U }, ∀Λ ∈ A

e
µψ (Λ) = sup{µψ K : K é comacto, K ⊂ Λ}, ∀Λ ∈ A.
Com tais medidas espectrais em mãos, pode-se integrar funções e assim
definir a integral com respeito à P ; diferentes notações será usada para indicar
essa integral. Para uma função simples f = nj=1 aj XΛj define-se
P

Z Z n
P (f ) = f (t)dP (t) = f dP := aj P (Λj ).
X
R j=1

Note que, P (XΛ ) = P (Λ), que dá motivos para manter a mesma notação
P para a resolução de identidade e subsequente integral. Esta aplicação
f 7→ P (f ) é linear e satisfaz
Z
hψ, P (f )ψi := f (t)dµψ (t),
R

e como
Z !
kP (f )ψk =
2
|f (t)| dµψ (t) =
2
kf k2L2µ (R) 6 sup |f (t)| 2
kψk2 ,
R ψ t∈R

segue que a aplicação linear P : {funções simples} → B(H) é contínua


(a função simples com a norma do supremo e B(H) = {T : H → H :
T é linear e limitado}).
Seja B ∞ (R) o espaço vetorial de funções Borel limitados em R com a
norma kf k∞ := supt∈R |f (t)|.
1.5. TEORIA ESPECTRAL E OS TIPOS DE ESPECTROS 13

Obs 9. Temos que (R, A) Borel em R, então uma função mensurável f :


(R, A) → C também é chamada de função Borel.
Como as funções simples constitui um conjunto denso em B ∞ (R), existe
uma única extensão de P para um operador linear limitado (e usando a
mesma notação) P : B ∞ (R) → B(H), assim que, para todo f ∈ B ∞ (R),
Z
hψ, P (f )ϕi = f (t)dµψ,ϕ (t)
R

e Z !
kP (f )ψk2 = |f (t)|2 dµψ (t) 6 sup |f (t)|2 kψk2 ,
R t∈R

com a convergência na norma (conhecido como convergência forte) no lado


esquerdo e a convergência uniforme de funções no lado direito.
O próximo passo é estender a aplicação P para funções de Borel ilimitado,
f : R → C. Defina
 Z 
domf := {ψ ∈ H : f ∈ L2µψ (R)} = ψ ∈ H : |f |2 dµψ < ∞ ,

na qual é um espaço vetorial, visto que µaψ (Λ) = |a|2 µψ (Λ) e usando a
desigualdade triangular

µψ+ϕ (Λ) 6 2(µψ (Λ) + µϕ (Λ)),

pois

0 6 h(ψ − ϕ), P (Λ)(ψ − ϕ)i ⇐⇒ hψ, P (Λ)ϕi+hϕ, P (Λ)ψi 6 kP (Λ)ψk2 +kP (Λ)ϕk2

µψ+ϕ (Λ) = h(ψ + ϕ), P (Λ)(ψ + ϕ)i


= kP (Λ)ψk2 + hψ, P (Λ)ϕi + hϕ, P (Λ)ψi + kP (Λ)ϕk2
6 2(kP (Λ)ψk2 + kP (Λ)ϕk2 )
= 2(µψ (Λ) + µϕ (Λ)).

Definimos o seguinte conjunto

Λn = Λn (f ) := {t ∈ R : |f (t)| 6 n} e fn := f XΛn ,

e para ψ ∈ domf temos que

(fn )n∈N ⊂ L2µψ (R) e ∀t ∈ R, fn (t) → f (t).


14 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

Além disso, temos que |fn | 6 |f | onde f ∈ L2µψ (R). Portanto, vale o teo-
rema da convergência dominada, no caso esta sequência de funções converge
para f em L2µψ (R) pelo teorema da convergência dominada.
Consequentemente (fn ) é uma sequência de Cauchy em L2µψ (R). Como
fn ∈ B ∞ (R) e Z
kP (fn )ψk2 = |fn |2 dµψ = kfn k2L2µ (R) ,
ψ

segue que (P (fn )ψ)n∈N é uma sequência de Cauchy em H, assim que converge
para um vetor P (f )ψ, na qual define a extensão desejada com domP (f ) =
dom(f ). Note que, a tal extensão f 7→ P (f ) é linear, contínua e com a
notação P (f ) := f dP , por tomar n → ∞ na igualdade acima
R

Z
kP (f )ψk2 = |f |2 dµψ = kf k2L2µ .
ψ

Dado uma família espectral P e ψ ∈ H, denote


n o
Hψ := P (f )ψ : f ∈ L2µψ (R) .

Obs 10. Hψ é um subespaço fechado.


Definição 1.5.6. Hψ é chamado de subespaço cíclico expandido por ψ para
P , e se Hψ = H, então ψ é chamado de vetor cíclico para P .
Lema 9. Seja P uma resolução de identidade f, g : R → C funções Borel e
a, b números complexos. Então
(a) aP (f ) + bP (g) ⊂ P (af + bg), com dom(aP (f ) + bP (g)) = domP (f ) ∩
domP (g).
(b) P (f )P (g) ⊂ P (f g), com dom(P (f )P (g)) = domP (g) ∩ domP (f g).
Note que, se domP (g) ⊃ domP (f g), então P (f )P (g) = P (f g) =
P (gf ) = P (g)P (f ) com domínio domP (f g).
Dado ψ ∈ H e P , considere o operador

Uψ : Hψ → L2ψ (R) tal que Uψ (P (f )ψ) := f.

Como Z
kUψ (P (f )ψ)k2L2 = |f |2 dµψ = kP (f )ψk2 ,
µψ (R)

Uψ é uma isometria sobre L2µψ (R), assim um operador unitário entre tais
espaços. Além disso, para ϕ ∈ Hψ , existe g ∈ L2µψ (R) com ϕ = P (g)ψ,
consequentemente

(Uψ P (f )Uψ−1 )g = Uψ P (f )P (g)ψ = Uψ P (f g)ψ = f g = Mf g,


1.5. TEORIA ESPECTRAL E OS TIPOS DE ESPECTROS 15

ou seja,
Uψ P (f )Uψ−1 = Mf ,
com domMf = Uψ dom(P (f ) ∩ Hψ ) = {f ∈ L2µψ (R) : f g ∈ L2µψ (R)}, e
P (f ) é unitariamente equivalente ao operador multiplicador Mf agindo em
L2µψ (R). Escreve 1 para a função constante 1(t) = 1, ∀t ∈ R, assim que
Uψ ψ = Uψ P (1)ψ = 1, na qual é cíclico em L2µψ (R) no sentido que {Mf 1 =
f : f ∈ dom(1) = L2µψ (R)} = L2µψ (R). Resumindo:

Teorema 10. Se a resolução da identidade P tem um vetor cíclico ψ ∈ H,


então existe é um operador unitário Uψ : H → L2µψ (R) assim que Uψ P (f )Uψ−1 =
Mf . Portanto, Uψ ψ = 1 é um vetor cíclico para P em L2µψ (R).

Definição 1.5.7. Uma família maximal de vetores ortogonais {ψj }j ⊂ H


com Hψj ⊥ Hψk , se j 6= k, é chamado uma base espectral de P . P tem um
espectro simples se tem um vetor cíclico.

Teorema 11. Para cada resolução de identidade P , no espaço de Hilbert


separável H, existe uma base espectral enumerável (ψj )N
j=1 , com N ∈ N∪{∞}
e kψj k = 2j , assim que H = j=1 Hψj e um operador unitário
1 LN

N N
U := Uψj : H → L2µψ (R),
M M
j
j=1 j=1

satisfaz
U P (f )U −1 = M̃f ,
com M̃f = N
LN
j=1 Mf um operador multiplicação agindo em L2µψ , para
L
j=1 ψ
todo função Borel f : R → C.

Seja P uma resolução da identidade sobre H. Entre os operadores auto-


adjuntos definidos via P (f ), uma regra especial é jogado pelo
Z
T := tdP (t),
R

ou seja, é uma expressão de T = P (h), onde h(t) = t. Uma das formas o


teorema espectral é mostrar que a tal relação é bijetora.

Teorema 12. (Teorema Espectral para Operadores Auto-Adjuntos)


Para cada operador H densamente definido sobre o espaço de Hilbert H
corresponde uma única resolução da identidade P H em H, assim que H =
tdP H (t).
R
16 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

A demonstração desse teorema pode ser encontrada em [9]. Para o propó-


sito que queremos é suficiente deixarmos claro ao leitor que esse teorema se
relaciona ao teorema espectral visto em operadores auto-adjuntos (ou hermi-
tianos) em dimensões finitas. Isso nos permite na demonstração do teorema
19 usarmos a técnica da solução estacionária para determinarmos o espectro
do operador.

Definição 1.5.8. (Redução de operadores)


Seja T : D(T ) ⊂ H → H um operador linear. Seja E um subespaço
fechado de H e PE a projeção ortogonal sobre E; portanto

H = E ⊕ E ⊥ e I = P E + PE ⊥ .

Então
D(T ) = PE (D(T )) + PE ⊥ (D(T )).
Se PE (D(T )) ⊂ D(T ), então PE ⊥ (D(T )) = (I − PE )(D(T )) ⊂ D(T ) e
assim
T (D(T )) = T PE (D(T )) + T PE ⊥ (D(T )),
ou seja, T (ψ) = T PE (ψ) + T PE ⊥ (ψ), ∀ψ ∈ D(T ).
Dizemos que o subespaço fechado E é um subespaço redutor do operador
T , ou E reduz T , se

PE (D(T )) ⊂ D(T ), T PE (D(T )) ⊂ E e T PE ⊥ (D(T )) ⊂ E ⊥ .

Neste caso, a restrição dos operadores TE := T |E = T PE e TE ⊥ := T |E ⊥ =


T PE ⊥ estão bem definidos.

Definição 1.5.9. (Tipos de Espectros)


Seja H um operador auto-adjunto.

• Espectro Essencial:
O espectro essencial de H é o conjunto Σess (H) de pontos de acumu-
lação de Σ(H) junto com autovalores de H de multiplicidade infinita.

• Espectro Discreto:
O espectro discreto de H é o conjunto Σd (H) := Σ(H) \ Σess (H), ou
seja, o conjunto de autovalores isolados de H, cada uma delas tem
multiplicidade finita.

• Espectro Puramente Discreto:


Se Σess (H) = ∅, então H é dito ter espectro puramente discreto.
1.5. TEORIA ESPECTRAL E OS TIPOS DE ESPECTROS 17

• Espectro Puramente Essencial:


Se Σd (H) = ∅, então H é dito ter espectro puramente essencial.
Proposição 13. Seja H um operador auto-adjunto, H : D(H) ⊂ H → H,
definido num domínio denso sobre um espaço de Hilbert separável, H. Seja
E um subespaço fechado de H que reduz H. Então

Σ(H) = Σ(HE ) ⊂ Σ(HE ⊥ ),

onde H = HE ⊕ HE ⊥ .
Definição 1.5.10. Seja X uma σ−álgebra, λ e µ medidas em X. Dizemos
que λ é uma medida absolutamente contínuo para a medida µ se E ∈ X e
µ(E) = 0 implica que λ(E) = 0.
Definição 1.5.11. Seja X uma σ−álgebra e λ,µ duas medidas em X. Dize-
mos que λ e µ são mutualmente singular se existem dois conjuntos disjuntos
A e B em X tais que X = A ∪ B e λ(A) = µ(B) = 0.
Teorema 14. (Decomposição de Lebesgue)
Sejam λ e µ medidas σ−finitas em uma σ−álgebra X. Então existe uma
medida λ1 , na qual é singular com respeito à µ, e uma medida λ2 , na qual é
absolutamente contínua com respeito à medida µ, tal que λ = λ1 + λ2 . Além
do mais, as medidas λ1 e λ2 são únicos.
Dados duas medidas finitas µ e ν, a notação padrão

µ ⊥ ν e µ << ν,

respectivamente, indica que µ é ν são mutualmente singular e µ é absoluta-


mente contínuo com respeito à ν. No caso µ << ν o respectivo derivada de
Radon-Nikodym, que é denotado por dµ dν
, como usual.
Considere ` denota a medida de Lebesgue sobre o conjunto Borel A de R.
Recorde que, pela decomposição de Lebesgue, a medida de Borel µ sobre R
pode ser (unicamente) decomposto como µ = µp + µc , com µc e µp denotando
a sua parte contínua (ou seja, µc ({t}) = 0, ∀t ∈ R) e a parte pontual (ou seja,
existe um conjunto enumerável Ω assim que µp (R \ Ω) = 0), respectivamente.
Note que, µp ⊥ `, ou seja, eles são medidas mutualmente singulares. Pela
decomposição de Lebesgue tem-se (unicamente) µc = µac +µsc , com µac << `
e µsc ⊥ `, assim que
µ = µp + µac + µsc .
No caso, µac é chamado de componente absolutamente contínuo de µ
(com o complemento "com respeito à medida de Lebesgue"sendo entendido),
18 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

enquanto que µsc é uma componente singular e contínuo de µ. Tais de-


composições serão usados para realizar as correspondentes decomposições de
operadores auto-adjuntos, via às suas respectivas medidas espectrais, desde
que os seus espectros são não vazios e real.

Definição 1.5.12. Seja H um operador auto-adjunto, H : D(H) ⊂ H → H,


definido num domínio denso sobre um espaço de Hilbert separável, H. O
subespaço pontual de H é Hp = Hp (H) ⊂ H dado pelo fecho do subespaço
linear expandido pelos autovetores de H. Seu complemento ortogonal Hc =
Hc (H) := Hp (H)⊥ é o subespaço contínua de H. Será denotado por PpH e
PcH , respectivamente, operadores de projeção ortogonal.

Teorema 15. Seja H um operador auto-adjunto, H : D(H) ⊂ H → H,


definido num domínio denso sobre um espaço de Hilbert separável, H.

1. Existe um conjunto enumerável Λ ⊂ R assim que

Hp (H) = {ψ ∈ H : µψ (R \ Λ) = 0}.

Λ pode ser tomado como os conjuntos de autovalores de H.

2. Hc (H) = {ψ ∈ H : µψ ({t}) = 0, ∀t ∈ R}, ou seja, a função t 7→


kX(−∞,t] (H)ψk é contínua.

3. H = Hp (T ) ⊕ Hc (H) e ambos Hp (H) e Hc (H) reduz H.

Definição 1.5.13. Seja H um operador auto-adjunto definido num domínio


denso sobre um espaço de Hilbert separável, H.

• Espectro Pontual:
O espectro pontual de H é Σp (H) := Σ(Hp ).

• Espectro Contínuo:
O espectro contínuo de H é Σc (H) := Σ(Hc ).

Obs 11. Hc não tem autovalores e, pela proposição 13,

Σ(H) = Σp (H) ∪ Σc (H).

Esses conjuntos não são necessariamente disjuntos, [3] na página 315,


exemplo 12.1.14.
Obs 12. Σd (H) ⊂ Σp (H) e Σess (H) = Σc (H) ∪ {Σp (H) \ Σd (H)}.
1.5. TEORIA ESPECTRAL E OS TIPOS DE ESPECTROS 19

Definição 1.5.14. Seja H um operador auto-adjunto definido num domínio


denso sobre um espaço de Hilbert separável, H.

• Subespaço Singular de H é:

Hs (H) := {ψ ∈ H : µψ ⊥ `}.

Assim, Hp (H) ⊂ Hs (H).

• O subespaço absolutamente contínuo de H é:

Hac (H) := {ψ ∈ H : µψ << `}.

Assim, Hac (H) ⊂ Hc (H).

• O subespaço contínua e singular de H, denotado por Hsc (H), é o con-


junto ψ ∈ H assim que µψ (R \ Ω) = 0 para algum conjunto de Borel
Ω ⊂ R com `(Ω) = 0 e µψ (Λ = 0 para todos os conjuntos enumerá-
veis Λ ⊂ R. Consequentemente, µψ é uma medida singular e contínua.
Assim, Hsc (H) ⊂ Hc ⊂ Hs (H).

Obs 13. Hp (H) ⊂ Hs (H), Hac (H) ⊂ Hc (H) e Hsc (H) ⊂ Hc (H) ∩ Hs (H).

Lema 16. Hs (H), Hac (H) e Hsc (H) são subespaços vetoriais fechados de H.
A respectiva projeções ortogonais será denotado por PsH , Pac
H
e PscH .

Teorema 17. Seja H um operador auto-adjunto definido num domínio denso


sobre um espaço de Hilbert separável, H.

1. Hs (H) = Hp (H) ⊕ Hsc (H).

2. Hc (H) = Hac ⊕ Hsc (H).

3. H = Hp (H) ⊕ Hac (H) ⊕ Hsc (H).

4. Cada um desses subespaços, Hk (H) com k ∈ {s, c, p, ac, sc}, reduz o


operador H. Denote as correspondentes projeções ortogonais PkH e de-
fina as restrições auto-adjuntas Hk := HPkH .

Obs 14. Por esse teorema, verificar que o operador H tem a decomposição

H = Hp ⊕ Hac ⊕ Hsc .

Definição 1.5.15. Seja H um operador auto-adjunto definido num domínio


denso sobre um espaço de Hilbert separável, H.
20 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

• O espectro absolutamente contínuo de H é Σac (H) := Σ(Hac ).

• O espectro singular e contínuo de H é Σsc (H) := Σ(Hsc ).

• O operador H tem um espectro puramente pontual se Σac (H) = ∅ =


Σsc (H).

• O operador H tem espectro puramente e absolutamente contínuo se


Σp (H) = ∅ = Σsc (H).

• O operador H tem espectro pura, singular e absolutamente contínuo se


Σp (H) = ∅ = Σsc (T ).

• O operador H tem espectros puro e singularmente contínuo se Σsc (H) =


∅ = Σp (H).

O espectro que nos interessa está na definição abaixo.

Definição 1.5.16. (Espectro Puramente Discreto e Simples)


Seja H um operador auto-adjunto. Dizemos que H possui espectro pu-
ramente discreto e simples, se Σess (H) = ∅ e todos os espectros discretos
possuem multiplicidade 1.

1.6 Uma base para L2([0, 1])


Proposição 18. Para todo D > 0, o conjunto

S = {ψn : n ∈ Z}, ψn (t) = e2iD sin (2πt) e−2πint , ∀t ∈ [0, 1]

é uma base ortonormal do espaço L2 ([0, 1]). Adotaremos a notação

k · kL2 ([0,1]) = k · k

por questões de praticidade.

Demonstração. Faremos essa demonstração de forma um pouco mais algé-


brica. No caso, por convenção temos

{ψn : n ∈ Z} = {ψm : m ∈ Z},

onde ψn (ε) = e2iD sin (2πε) e−2πinε e ψm (ε) = e2iD sin (2πε) e2πimε , ∀n, m ∈ Z.
Além disso, esse conjunto é ortonormal, pois basta verificarmos
Z 1 Z 1
hψn , ψm i = e2iD sin (2πε) e2πinε e2iD sin (2πε) e2πimε dε = e2πi(n−m)ε dε,
0 0
1.6. UMA BASE PARA L2 ([0, 1]) 21

onde 
Z 1 0, se n 6= m
e2πi(n−m)ε dε = ,
0 1, se n = m
com n, m ∈ Z.
Podemos, também, realizar a seguinte observação ψm = hϕm , ∀m ∈ Z,
onde h(ε) = e2iD sin (2πε) e ϕm (ε) = e2πimε para todo ε ∈ [0, 1], onde o conjunto
{ϕm : m ∈ Z} é ortonormal.
Assim, notamos que vale a seguinte igualdade

[ψm : m ∈ Z] = h[ϕm : m ∈ Z]

e isso é imediato, pois dados N ∈ N e λi ∈ C, i ∈ {−N, ..., −2, −1, 0, 1, 2, ..., N }


constantes, então temos a combinação linear
N N N
λi ψi = λi hϕi = h
X X X
λi ϕi ,
i=−N i=−N i=−N

pois bastaria analisar para cada ε ∈ [0, 1] a igualdade


 
N N
λi h(ε)ϕm (ε) = h(ε)  λi ϕm (ε)
X X

i=−N i=−N

Disso, concluímos a igualdade de

[ψm : m ∈ Z] = h[ϕm : m ∈ Z]

Mas o que queremos mesmo seria a seguinte igualdade

[ψm : m ∈ Z] = h[ϕm : m ∈ Z],

onde
h[ϕm : m ∈ Z] = {hg : g ∈ [ϕm : m ∈ Z]},
pois este será o ponto crucial que resolverá o nosso problema.
Assim, analisemos cada implicação:
(⊆) : Seja f ∈ [ψm : m ∈ Z], então temos que
∞ ∞
f= λm ψ m = λm (hϕm )
X X

m=−∞ m=−∞

Assim, definimos a seguinte função



g=
X
λm ϕ m ,
m=−∞
22 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

onde, de imediato, temos que essa função está bem definida, pois

g ∈ L2 ([0, 1]) = [ϕm : m ∈ Z]

No caso, temos que hg ∈ h[ϕm : m ∈ Z], pois dado N ∈ N temos que


2
N N N
* +
X X X
hg − h λ ϕ
m m
= hg − h λm ϕm , hg − h λm ϕm

m=−N m=−N m=−N
*  N
 
N
+
X X
= h g − λm ϕm  , h g − λm ϕm 
m=−N m=−N
  
Z 1 N
X N
X
= g(ε) − λm ϕm (ε) g(ε) − λm ϕm (ε)dε
0 m=−N m=−N
2

N
X

= g − λ m m ,
ϕ

m=−N

pois, como h(ε) = e2iD sin (2πε) , temos


   
Z 1 N N
λm ϕm (ε) h(ε)g(ε) − λm ϕm (ε)dε
X X
h(ε) g(ε) −
0 m=−N m=−N

  
Z 1 N N
= λm ϕm (ε) g(ε) − λm ϕm (ε)dε,
X X
g(ε) −
0 m=−N m=−N

então tomando N → ∞, como g − m=−N λm ϕm → 0, concluímos
PN


N
→0
X
hg
−h λm ϕm
m=−N

Assim, para dado N ∈ N temos a seguinte desigualdade



N N
λm (hϕm ) + hg − λm (hϕm )
X X
kf − hgk 6 f

m=−N m=−N

N N
= λm ψm + hg − h
X X
f
− λm ϕm ,
m=−N m=−N

então basta tomar N → ∞ e, pelo teorema do confronto, concluímos


kf − hgk = 0, ou seja, f = hg ∈ h[ϕm : m ∈ Z].
1.6. UMA BASE PARA L2 ([0, 1]) 23

(⊇) : Seja hg ∈ h[ϕm : m ∈ Z], g = λm ϕm . Então queremos mostrar


P∞
m=−∞
que hg ∈ [ψm : m ∈ Z].
Assim, defino a seguinte função

f= λm (hϕm )
X

m=−∞

Note que, essa série converge na norma, pois para cada N ∈ N temos
2
N N
X
λm (hϕm ) = |λm |2 6 kgk2 < ∞,
X


m=−N m=−N

então basta tomar N → ∞ e concluímos


2
∞ ∞

X
kf k2 = λm (hϕm ) = |λm |2 = kgk2 < ∞
X


m=−∞ m=−∞

e assim λm (hϕm ) → f em norma.


PN
m=−N

Agora, quero verificar se vale a igualdade f = hg. Logo, para dado


N ∈ N temos

N N
λm (hϕm ) + hg
X X
kf − hgk 6 f
− −h λm ϕm ,
m=−N m=−N

tomando N → ∞ concluímos, junto com o teorema do confronto, a


igualdade kf − hgk = 0, então f = hg, onde f ∈ [ψm : m ∈ Z].

Portanto, temos [ψm : m ∈ Z] = h[ϕm : m ∈ Z].


Assim, como [ϕm : m ∈ Z] = L2 ([0, 1]), então temos a seguinte igualdade

[ψm : m ∈ Z] = h[ϕm : m ∈ Z] = hL2 ([0, 1])

Assim, notamos que hL2 ([0, 1]) = L2 ([0, 1]). De fato:

• A contenção hL2 ([0, 1]) ⊂ L2 ([0, 1]) é imediata, pois para hf ∈ hL2 ([0, 1])
temos Z 1 Z 1
|h(ε)f (ε)|2 dε = |f (ε)|2 dε < ∞,
0 0

pois h(ε) = e2iD sin (2πε) e f ∈ L2 ([0, 1]).


24 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

• Seja f ∈ L2 ([0, 1]). Assim, notamos que a função h(ε) := e2i sin (2πε) é
contínua em todo [0, 1] e ela não se anula em nenhum ponto devido à
propriedade da função exponencial. Assim, podemos fazer a seguinte
observação
f = (hh−1 )f = h(f h−1 ),
onde f h−1 ∈ L2 ([0, 1]), pois h−1 (ε) = e−2iD sin (2πε) e f ∈ L2 ([0, 1]).
Com isso concluímos que f ∈ hL2 ([0, 1]), pois bastaria tomarmos esse
elemento f h−1 ∈ L2 ([0, 1]).
Portanto, concluímos que hL2 ([0, 1]) = L2 ([0, 1]) e assim temos

[ψm : m ∈ Z] = L2 ([0, 1]).

Ou seja, o conjunto {ψm : m ∈ Z} é uma base ortonormal de L2 ([0, 1]).

Obs 15. Note que, na demonstração acima, pode-se generalizar para D ∈ R.


Vale o seguinte teorema:
Teorema 19. H0 tem espectro puramente discreto e simples dado pelos nú-
meros inteiros.
No caso, no teorema acima as auto-funções encontradas tem a seguinte
feição
Z 1
ϕn (m) = e2πimε ϕ
d m (ε)dε, ϕ
d m (ε) = e
2i sin (2πε) −2πimε
e , ε ∈ [0, 1].
0

No caso, é importante deixar claro que essas auto-funções foram encon-


trada para (H0 ψ)(n) = (∆ψ)(n) + Enψ(n), ψ ∈ D(HE,V ) para E = 1.

1.7 Resultados principais


A ideia da localização dinâmica tem como foco, como o próprio nome já
disse, em analisar se é possível localizar uma partícula em uma dada região
depois de um certo tempo decorrido.
Existem, para isso, motivações para estudos de localização do ponto de
vista histórico, para essa discussão recomendamos a leitura do artigo [8].
Agora, discutiremos um pouco sobre o teorema RAGE. Referência para
o tópico são [3] e [9].
Teorema 20. (Teorema RAGE)
Seja H um operador auto-adjunto no espaço de Hilbert H. Então:
1.7. RESULTADOS PRINCIPAIS 25

1. ξ ∈ Hc (H) se, e somente se, para todo operador compacto K : H → H,

1Z t
lim kKe−iHs ξk2 ds = 0.
t→∞ t 0

2. Se ξ ∈ Hac (H), então para todos os operadores compactos K : H → H,


K
lim e−itH ξ = 0
t→∞

Obs 16. O termo RAGE vem dos iniciais de D. Ruelle, W.O. Amrein, V.
Georgescu e V. Enss. O teorema tem aplicação para localização em grades,
Zd , d ∈ N∗ .
Entretanto, como consta no artigo [11] onde foi mostrado inúmeros mo-
delos, incluindo o modelo de Anderson que é um tipo de modelo hamiltoni-
ano muito estudado em física-matemática, que não apresenta ULE (Uniform
Localized Eigenfunction), mas mesmo assim apresentava comportamentos
dinâmicos. Isso fez com que o Del Rio em seu artigo [6] introduzisse pela
primeira vez o conceito de SULE (Semi Uniform Localized Eigenfunction),
onde mais tarde no artigo [5] é abordado sobre técnicas para verificar se os
espectros possuem ou não localização dinâmica, onde foi também abordado
mais sobre o SULE como na definição 2.2.4, onde esta definição afirma que se
ocorre a desigualdade 2.33 , então garantimos que ϕn (m), uma autofunção,
está decaindo rapidamente em n para todo m e, por fim, concluímos que o
operador possui localização dinâmica. Note que, isso tem suas similaridades
com localização dinâmica exponencial que seria um outro método específico e
de muita importância para analisar se um dado operador auto-adjunto possui
a localização dinâmica onde é expresso pela formula ψ ∈ H, ψ(t) = e−iHt ψ
e, isso é muito utilizado para analisar as localizações dinâmicas dos opera-
dores de Schrödinger no geral quando se trata de evolução temporal. No
caso, isso nos afirma que se H tem SULE, então automaticamente H tem
localização dinâmica e cujo o resultado foi estudado também pelo artigo [5],
mas a recíproca só vale se os espectros desse operador H são simples.
Agora, uma pergunta natural é o papel do teorema RAGE 20 nesse con-
texto ? No caso, o teorema RAGE é uma ferramenta para garantirmos que
um operador H auto-adjunto possui localização dinâmica, então apenas se
possui espectro pontual puro. Isso garante que se H tem localização dinâ-
mica e os autovalores são simples esse fato equivale em H satisfazer SULE.
Essa equivalência nos permite facilitar muitas contas, pois se tentarmos ana-
lisar se H possui localização dinâmica diretamente o argumento é bastante
elaborado.
26 CAPÍTULO 1. PRELIMINARES

Obs 17. Vale ressaltar que existem sistemas com espectro pontual puro que
não apresentam localização dinâmica, como consta no artigo [10].
Para esse texto, o objetivo que temos é demonstrar os teoremas e propo-
sições abaixo, considerando a definição 2.2.2 de localização dinâmica.

Proposição 21. Para todo m, n ∈ Z,


e
|ϕn (m)| 6
|n − m|!

Teorema 22. H0 tem localização dinâmica.

Teorema 23. H0 tem espectro puramente discreto e simples dado pelos nú-
meros inteiros na forma {En : n ∈ Z}.

Obs 18. O enunciado do teorema 23 é o mesmo do resultado que foi abordado.


Porém, o que difere é que iremos provar tais propriedades para E > 0 qual-
quer, pois até agora só foi provado as propriedades de espectros e localização
dinâmica para caso E = 1.
Capítulo 2

O conceito de Localização

Esse capítulo é baseado no artigo [5].


Seja H um operador auto-adjunto no espaço de Hilbert H = `2 (Zd ) com
espectro pontual e puro em algum intervalo I ⊂ R. Considere o subespaço
H(I) de H, onde H(I) = PI (H)H, onde PI (H) é o projetor espectral de H
sobre I. É natural dizer que o operador H tem localização dinâmica em I se
para qualquer p > 0 e bem localizado ψ ∈ H,
D E
sup rp (t) = sup e−tiH Pi (H)ψ, |X|p e−itH PI (H)ψ < +∞, (2.1)
t t
onde X é o operador posição usual.
O problema de localização dinâmica foi intensamente estudado durante
os últimos anos, especialmente operadores de Schrödinger em variáveis dis-
cretas e contínuas (em particular, o modelo de Anderson). O objetivo em
questão é estudar o artigo [5], onde se encontra as ferramentas necessárias
para conseguirmos conferir os resultados obtidos pelo artigo [1]. No caso, o
artigo [5] apresenta métodos matemáticos gerais que na qual pode ser usado
para provar a localização dinâmica 2.1 para qualquer operador auto-adjunto
H, onde, como o autor desse texto está no processo de especialização em
localização dinâmica, o artigo se apresentou como uma via muito eficiente
para conseguir aprender as técnicas eficientes para o assunto.
Obs 19. Ao longo da abordagem desse capítulo, consideramos a notação I
sempre como o intervalo da reta real que contém os espectros pontuais puros.
No caso, para o operador H0 em questão, o intervalo que estamos conside-
rando é toda a reta.
Seja {ek } qualquer conjunto ortonormal de auto-funções de H e que seja
completo em H(I), onde para qualquer Hek = λk ek com λk ∈ I. Seja ψ = δm
para algum m ∈ Zd . Então
ψI (t, n) = (e−itH PI (H)ψ)(n) = e−itλk ek (n)ek (m)
X

27
28 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

e
sup |ψI (t, n)| 6 W (n, m), sup rp (t) 6 |n|p W 2 (n, m), (2.2)
X
t t
n∈Zd

onde
W (n, m) = |ek (n)ek (m)|.
X

Para provar a localização dinâmica 2.1 para qualquer ψ = δm , é suficiente


mostrar que a função W (n, m) está decaindo rapidamente quando |n| → ∞
para todo m ∈ Zd .
O que geralmente se prova para o operador de Schrödinger "concreto"é
assim chamado localização exponencial no intervalo I. Nominalmente, para
algum α > 0 e qualquer auto-função ek ∈ H(I),

|ek (n)| 6 C(k)e−α|n| , (2.3)

onde C(k) < +∞. Se a soma é finita, é evidente que W (n, m) está expo-
nencialmente decaindo em n para qualquer m e 2.1 se mantém. Entretanto,
tipicamente a soma tem infinitamente muitos termos. Neste caso o limite
2.3 não fornece nada sobre o comportamento da soma W (n, m). É claro
que para provar a localização dinâmica, deve-se controlar o decaimento de
|ek (n)ek (m)| ambos em n e em k. Ou, equivalentemente, deve-se controlar as
constantes C(k) em 2.3. Duas abordagens foram desenvolvidos para resolver
esse problema. A primeira é para estimar diretamente a taxa |ek (n)ek (m)|
e provar que a soma W (n, m) está decaindo rapidamente quando |n| → ∞.
Por exemplo, mostra-se que

|ek (n)ek (m)| 6 C(m)ak e−α|n−m| , (2.4)

onde ak = D < +∞. Claramente, o 2.4 produz


P
k

W (n, m) 6 C(m)De−α|n−m|

e 2.1 se mantém.
Outra possibilidade é ter algum controle da constante C(k) em 2.3. No-
minalmente, a seguinte condição chamado SULE foi introduzido em [6]. Con-
siderando a definição 2.2.4, temos nela uma constante finita C(δ) que é uni-
forme em k e n. Assim, mostra-se que se vale a desigualdade 2.33, então
ek (m) estão decaindo rapidamente em k para todo m. Assim, fica fácil veri-
ficar que a função W (n, m) está decaindo exponencialmente em n para todo
m e 2.1 se mantém, na qual será a ferramenta que iremos querer abordar
para o uso no operador H0 .
2.1. LIMITES INFERIORES PARA OS MOMENTOS DE AUTO-FUNÇÕES29

2.1 Limites inferiores para os Momentos de


Auto-funções
Seja (akn ) uma dupla sequência de números não negativos rotulado pelo
k ∈ N, n ∈ Zd . Devemos supor que existem duas constantes positivas A e B
tais que

∀n ∈ Zd , akn 6 A < +∞, (2.5)
X

k=1

akn > B > 0. (2.6)


X
∀k ∈ N,
n∈Zd

Para p > 0 definimos os números

dk (p) = akn (|n| + 1)p


X

n∈Zd

ciente da possibilidade que dk (p) possa ser igual +∞. Pode-se também ob-
servar que dk (p) > B para quaisquer k, p.

Lema 24. Seja Zd e d ∈ N, d > 1. Assim, existe D(d) > 0 uma constante
positiva que depende somente da dimensão tal que para cada N > 0 temos
Card({n ∈ Zd : |n| 6 N }) 6 D(d)(N + 1)d .

Demonstração. A norma que estamos considerando aqui | · | é a norma da


soma, ou seja, para cada n ∈ Zd , onde n = (n1 , ..., nd ), teremos
d
|n| =
X
|ni |.
i=0

Logo, como sabemos que as normas da soma e do máximo são equivalentes


então vamos considerar a norma do máximo, ou seja, k · k∞ , onde para cada
n ∈ Zd temos que

knk∞ = max{|ni | : i ∈ {1, ..., d}}.

Disso, temos que, com essa norma do máximo, a bola que consideramos
no Zd se torna uma caixa. Daí, temos que para dado N > 0, então temos
que bN c 6 N , onde bN c indica a parte inteira por baixo de N > 0. Logo,
para cada n ∈ Zd tal que knk∞ 6 N implica em knk∞ 6 bN c e a quantidade
desses será (2bN c + 1)d , por ser um cubo em Zd . Portanto, temos que

Card({n ∈ Zd : knk∞ 6 N }) = (2bN c + 1)d .


30 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

Disso, podemos concluir o seguinte

(2bN c + 1)d 6 (2bN c + 2)d = 2d (bN c + 1)d 6 2d (N + 1)d .

Portanto, precisamos tomar apenas 2d para o caso da norma do máximo.


Assim, sabemos da seguinte relação entre a norma do máximo e da soma

knk∞ 6 |n|, ∀n ∈ Zd .

Daí, note que, para dado N > 0 vale a seguinte contenção

{n ∈ Zd : |n| 6 N } ⊂ {n ∈ Zd : knk∞ 6 N }.

De fato, seja n ∈ Zd , com |n| 6 N , então, como knk∞ 6 |n|, temos que
knk∞ 6 |n| 6 N .
Portanto, temos

Card({n ∈ Zd : |n| 6 N }) 6 Card({n ∈ Zd : knk∞ 6 N }) 6 2d (N + 1)d .

Portanto, a constante positiva que depende somente da dimensão será


D(d) = 2d .

Lema 25. Seja p > 0. Existe uma constante positiva D(A, B, p, d) tal que
para qualquer {ank } satisfazendo 2.5 e 2.6, pode-se reordenar dk (p) assim que
p
dk (p) > Dk d . (2.7)
Demonstração. Consideramos o seguinte. Fixado p > 0 arbitrário temos

{dk (p) : k ∈ N} = {dkm (p) : m ∈ N}, (2.8)

onde (dkm (p))m∈N está ordenado, ou seja, dkm (p) 6 dkm+1 (p), ∀m ∈ N.
Dado N > 0, considere o seguinte conjunto em N
 
 B
J(N ) = m ∈ N : (2.9)
X
ak m n 6 
n:|n|>N
2

e a soma
S(N ) = (2.10)
X X
akm n .
m∈J(N ) |n|<N

Assim, segue de 2.6 que para qualquer m ∈ J(N ) temos


B B
akm n = = . (2.11)
X X X
akm n − akm n > B −
|n|<N n∈Zd |n|>N
2 2
2.1. LIMITES INFERIORES PARA OS MOMENTOS DE AUTO-FUNÇÕES31

Portanto,
B B
S(N ) > = Card(J(N )). (2.12)
X

m∈J(N )
2 2
Por outro lado, com 2.5 podemos estimar
∞ X
S(N ) 6 1 6 D(d)A(N + 1)d . (2.13)
X X
ak m n 6 A
m=1 |n|6N |n|6N

Daí,
B
Card(J(N )) 6 D(d)A(N + 1)d , (2.14)
2
ou seja,
A
Card(J(N )) 6 2C(d) (N + 1)d , (2.15)
B
onde denotamos C(d) = 2D(d), então
A
Card(J(N )) 6 C(d) (N + 1)d , (2.16)
B
com alguma constante C(d) que depende somente da dimensão d.
Assim, para qualquer p > 0 considere o seguinte conjunto em N
B
 
I(N, p) = m ∈ N : dkm (p) 6 (N + 1)p . (2.17)
2
Como

dkm (p) = akm n (|n| + 1)p


X

n∈Zd

= akm n (|n| + 1)p + akm n (|n| + 1)p


X X

|n|<N |n|>N

akm n (|n| + 1) p
X
>
|n|>N

> (N + 1)p
X
akm n ,
|n|>N

então, para qualquer m ∈ I(N, p) temos


B
akm n 6 (N + 1)−p dkm (p) 6 (2.18)
X
.
N 6|n|
2

Isso significa que I(N, p) ⊂ J(N ), então


A
Card(I(N, p)) 6 Card(J(N )) 6 C(d) (N + 1)d . (2.19)
B
32 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

Seja L > B. Pode-se encontrar N > 0 tal que L = B


2
(N + 1)p , pois basta

 p1  p1
B 2L 2L 2L
 
L>B> =⇒ > 1 =⇒ > 1 =⇒ − 1 > 0, (2.20)
2 B B B
 1
onde N = 2L
B
p
− 1 > 0. Assim, segue que
 dp
A 2L

Card({m ∈ N : dkm (p) 6 L}) 6 C(d) , (2.21)
B B
onde
 pd  dp
2B 2L
 
d
(N + 1) = ((N + 1) ) =
d
(N + 1)p
p p = , (2.22)
B 2 B
então
 dp
A 2L

Card({m ∈ N : dkm (p) 6 L}) 6 C(d) , ∀L > 0. (2.23)
B B
Daí, note que, tomando L = dkl (p) para l ∈ N temos
!d
A 2dkl (p) p
Card({m ∈ N : dkm (p) 6 dkl (p)}) = l =⇒ l 6 C(d)
B B
!d
2dkl (p)
!
p C(d)A p
=⇒ l 6
d
B B
!p
B B d p
=⇒ dkl (p) > ld,
2 C(d)A
 p
onde tomamos D(A, B, p, d) = B
2
B
C(d)A
d
> 0, então
p
dkl (p) > D(A, B, p, d)l d , ∀l ∈ N. (2.24)

Como uma aplicação direta desse do lema 24, obtemos o seguinte resul-
tado importante.
Teorema 26. Seja {ek }, k ∈ N qualquer sistema ortonormal em `2 (Zd ) (não
necessariamente completa). Para qualquer p > 0 defina os momentos

dk (p) = |ek (n)|2 (|n| + 1)p . (2.25)


X

n∈Zd
2.2. LOCALIZAÇÃO DINÂMICA EXPONENCIAL 33

Pode-se reordenar dk (p) assim que


p
dk (p) > D(p, d)k d , (2.26)
onde as constantes positivas D são o mesmo para qualquer sistema {ek }.
Demonstração. Seja akn = |ek (n)|2 . Como o sistema é ortonormal, então
temos ∞
∀n ∈ Zd , akn 6 1, (2.27)
X

k=1

akn = 1. (2.28)
X
∀k ∈ N,
n∈Zd
O resultado segue diretamente do lema 24, onde A = B = 1.

2.2 Localização Dinâmica Exponencial


2.2.1 Localização dinâmica
Seja H um operador auto-adjunto em H = `2 (Zd ), ψ ∈ H, kψk = 1, ψ(t) =
e−itH ψ. Para qualquer p > 0, t ∈ R, defina os momentos do operador posição

|X|pψ (t) = |ψ(t, n)|2 (|n| + 1)p . (2.29)


X

n∈Zd

Preferimos tomar (|n| + 1)p do que |n|p para evitar alguns problemas
técnicos na prova.
Definição 2.2.1. Tem-se localização dinâmica para ψ e o momento de ordem
p, se
sup |X|pψ (t) < +∞. (2.30)
t

Devemos denotar como DL(ψ, p) = {X : supt |X|pψ (t) < +∞}.


No caso, para o artigo [1], que é o foco do estudo em questão, a cara do
momento que é considerado é
D E
rψt (t) := e−itHV,E ψ, |X|p e−itHV,E ψ = |ψ(t, n)|2 |n|p 6 |ψ(t, n)|2 (|n|+1)p .
X X

n∈Z n∈Z

de ordem p > 0, onde X denota o operador posição (Xψ)(n) := nψ(n) e


(|X|p ψ)(n) = |n|p ψ(n).
Como kψk = 1, então é suficiente analisarmos para (en ) a base canônica
usual de `2 (Z), ou seja, en (m) = δnm e assim Xen = nen . Por isso, para a
versão do momento em que foi considerado no artigo [1], podemos considerar
a definição seguinte
34 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

Definição 2.2.2. Dizemos que HV,E tem localização dinâmica se para todas
as condições iniciais en , cada momento é uniformemente limitado no tempo,
isto é, para cada p > 0 e cada ψ = en , vale
sup rψp (t) < ∞. (2.31)
t

Definição 2.2.3. Tem-se localização dinâmica para ψ se DL(ψ, p) se man-


tém para qualquer p > 0. Devemos escrever nesse caso DL(ψ).
Seja Hc o subespaço de um espectro contínuo de H e seja Pc a sua projeção
ortogonal. É bem conhecido que se Pc ψ 6= 0, então |X|pψ (t) → +∞ quando
t → ∞ para qualquer p > 0. Assim, a localização dinâmica é possível apenas
se ψ ∈ Hpp - subespaço dos espectros pontuais puros de H, como confirma
o teorema RAGE. Devemos denotar pelo λ os autovalores de H e pelo Hλ o
correspondente auto-espaço:
Hλ = {ϕ : Hϕ = λϕ}.
Claramente, os subespaços Hλ e Hµ são mutualmente ortogonais para
λ 6= µ e Hpp = λ Hλ . Devemos denotar por Pλ a projeção ortogonal em
L

Hλ . Para qualquer ψ ∈ Hpp considere o conjunto (na máximo enumerável)


I(ψ) = {λ : ψλ ≡ Pλ ψ 6= 0}.
Então ψ pode ser escrito como

ψ= ψk , ψk 6= 0, ψ ∈ Hλk , λk ∈ I(ψ),
X

k=1

onde λk 6= λs para k 6= s. (É possível que a soma seja finita e nesse caso a


condição da existência da localização dinâmica para ψ se torna trivial) Para
qualquer k defina
ψk
ek = .
kψk k
Como Hλk e Hλs são mutualmente ortogonais para k 6= s, o sistema
M(ψ) = {ek } (2.32)
é ortonormal em Hpp . Finalmente, qualquer ψ ∈ Hpp pode ser escrito como
ψ=
X
γk ek ,
k

onde γk = hψ, ek i , Hek = λk ek e M(ψ) = {ek } é algum sistema ortonormal


de auto-funções de H que dependem de ψ. Além disso, temos
ψ(t) = e−itλk γk ek .
X

k
2.2. LOCALIZAÇÃO DINÂMICA EXPONENCIAL 35

2.2.2 Localização dinâmica exponencial


A localização dinâmica exponencial é um caso especial e importante dos
tipos de localizações dinâmicas. Considere ψ ∈ H, ψ(t) = e−itH ψ. Devemos
dizer que ψ tem localização dinâmica exponencial se existe γ > 0 e C > 0
tais que
sup |ψ(t, n)| 6 Ce−γ|n| .
t

Obs 20. Note que, claramente, EDL(ψ) implica em DL(ψ) e, consequente-


mente, na forma de localização dinâmica que queremos mostrar da definição
2.2.2.
Para estabelecer a condição necessária e suficiente para EDL(ψ) devemos
precisar da seguinte versão do teorema 26 adaptada ao caso exponencial.
Além disso, para o operador que está sendo estudado em questão, H0 , vamos
precisar da definição chamado SULE.
Definição 2.2.4. O operador T auto-adjunto tem SULE se:
• T tem um conjunto completo e ortonormal de autofunções {ϕk }k em
`2 (Zd ), d ∈ N∗ , isto é, T (ϕk ) = λk ϕk .
• Existem α > 0 e, para cada autofunção ϕk , um nk ∈ Z de forma que,
para qualquer δ > 0 existe C(δ) > 0 de modo que
|ϕk (n)| 6 C(δ)eδ|nk |−α|n−nk | , ∀n ∈ Zd (2.33)

Na qual, esse formato da definição é abordado no teorema 30 e será o


ponto chave para conseguirmos concluir que H0 possui localização dinâmica.
Teorema 27. Seja {ek } um sistema ortonormal qualquer em H e γ > 0.
Para qualquer k defina os números
ηk (γ) = sup(|ek (n)|2 eγ|n| ). (2.34)
n

Pode-se reordenar ηk (γ) assim que


1
ηk (γ) > Deβk d (2.35)
com alguma constante positiva universal D(γ, d), β(γ, d).
Demonstração. Seguindo a prova do lema 25, tomando akn = |ek (n)|2 e A =
B = 1. Seja N > 0, então para o conjunto
 
 1
J(N ) = k ∈ N : |ek (n)|2 6  =⇒ Card(J(N )) 6 K(d)(N + 1)d ,
X

|n|>N
2
36 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

para alguma constante K(d).


Agora, para k ∈ J(N ), temos
1 1
|ek (n)|2 = |ek (n)|2 − |ek (n)|2 > 1 − = .
X X X

|n|6N n∈Zd |n|>N


2 2

Temos, também,
1 1
S(N ) = |ek (n)|2 > = Card(J(N ))
X X X

k∈J(N ) |n|6N k∈J(N )


2 2

e ∞ X
S(N ) 6 |ek (n)|2 6 1 6 D(d)(N + 1)d .
X X

k=1 |n|6N |n|6N

Daí, chegamos em
1
Card(J(N )) 6 D(d)(N + 1)d =⇒ Card(J(N )) 6 2D(d)(N + 1)d ,
2
onde tome K(d) = 2D(d) > 0. Essa demonstração foi só para justificar o
K(d).
Agora, seja L > 0, e considere

I(L) = {k ∈ N : ηk (γ) 6 L}. (2.36)

Logo, para k ∈ I(L)

|ek (n)|2 6 Le−γ|n| , ∀n ∈ Zd . (2.37)

Agora, queremos mostrar o seguinte. Dado L > 0, se k ∈ I(L), então


para todo v > 0, existe C(ν, d) > 0 tal que

|ek (n)|2 6 C(ν, d)Le−(γ−ν)N .


X

|n|>N

Um detalhe de extrema importância aqui é a não dependência da cons-


tante C(ν, d) > 0 da constante N > 0 e L > 0.
De fato, analisando cada caso:

• Se ν 6 γ:
Nesse caso, temos que

ν 6 γ ⇐⇒ −(γ − ν) 6 0. (2.38)
2.2. LOCALIZAÇÃO DINÂMICA EXPONENCIAL 37

Daí, com |n| > N

e−γ|n| = e−(γ−ν)|n| e−ν|n| e − (γ − ν)|n| 6 −(γ − ν)N.

Assim, temos que

|ek (n)|2 6 L e−(γ−ν)|n| e−ν|n|


X X

|n|>N |n|>N

6 Le−(γ−ν)N e−ν|n|
X

|n|>N
−(γ−ν)N
e−ν|n| < ∞.
X
6 Le
n∈Zd

Bastaria tomar C(ν, d) = e−ν|n| > 0.


P
n∈Zd

• Se γ < ν:
Então, considere m = m(ν) ∈ N tal que ν
m(ν)
< γ. Assim, podemos
realizar o seguinte argumento

e−γ|n| = e−(γ− m )|n| e− m |n| ,


ν ν

N < 0, então e−(γ− m )N < e−(γ−ν)N .


ν
 
onde − γ − ν
m
Daí, teremos que

e−(γ− m )|n| e− m |n|


ν ν
|ek (n)|2 6 L
X X

|n|>N |n|>N

6 Le−(γ− m )N
ν ν
e− m |n|
X

|n|>N
ν
−(γ−ν)N
e− m |n|
X
6 Le
|n|>N
ν
−(γ−ν)N
e− m |n|
X
6 Le
n∈Zd

ν
onde bastaria tomar C(ν, d) = e− m |n| > 0.
P
n∈Zd

Agora, para dado L > e, queremos mostrar que existe um N > 0 tal que
valha C(ν, d)Le−(γ−ν)N = 12 . Logo, para qualquer 0 < ν < γ com a constante
C(ν, d) = n∈Zd e−ν|n| > 1 > 0, bataria tomar o seguinte
P

log (2C(ν, d)L)


N= > 0.
γ−ν
38 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

Portanto, a demonstração acima vai significar que para cada L > e temos
que I(L) ⊂ J(N ) para algum N > 0, ou seja,

Card(I(L)) 6 Card(J(N )) 6 K(d)(N + 1)d .

Agora, note que, para L > e, temos que


d
(N + 1)d = Nj
X

j=0
!j
d
log (2C(ν, d)L)
!
d
=
X

j=0
j (γ − ν)
 
d
1 j
!
d
=  (log (2C(ν, d)))j−i (log (L))i 
X X

j=0
j (γ − ν)j i=0
 
d
1 j
!
d
log (L) j
(log (2C(ν, d)))j−i 
X X
6
j=0
j (γ − ν)j i=0
  
d
1 j
!
X d  (log (2C(ν, d)))j−i  (log (L))d ,
X
6 
j=0
j (γ − ν)j i=0

denotando
  
d
1 j
!
d
C(ν, d, γ) = K(d)   (log (2C(ν, d)))j−i  > 0.
X X

j=0
j (γ − ν)j i=0

Isso significa que vamos ter

Card(I(L)) 6 Card(J(N )) 6 K(d)(N + 1)d 6 C(γ, ν, d)(log (L))d

para L > e arbitrário. Além disso, note que, essa constante C(γ, ν, d) > 0
não vai mudar para qualquer L > 0. Logo, para diminuir o número de
dependência, tomamos ν = γ2 e repetimos o argumento.
Portanto, temos que

Card(I(L)) 6 C(γ, d)(log (L))d , ∀L > e.

Assim, visto que

{ηk (γ) : k ∈ N} = {ηkm (γ) : m ∈ N},

onde ηkm (γ) 6 ηkm+1 (γ), ∀m ∈ N, então podemos analisar o mínimo desse
conjunto da seguinte maneira:
2.2. LOCALIZAÇÃO DINÂMICA EXPONENCIAL 39

• Se ηk1 (γ) > e, então para qualquer l ∈ N basta tomar L = ηkl (γ).

• Se ηk1 (γ) < e, basta tomar uma constante W (γ, d) > 1 tal que

ηk1 (γ)W (γ, d) > e.

Assim, para dado l ∈ N bastaria tomar L = ηkl (γ)W (γ, d) > 0 e


teremos que Card(I(ηkl )) ⊂ Card(I(L)), onde l = Card(I(ηkl (γ))), e
bastaria prosseguir com o argumento.

Com este resultado podemos obter uma condição necessária para EDL(ψ)
em termos de projeções ψk e em termos de coeficientes da medida espectral de
ψ. Seja M(ψ) o sistema ortonormal de autofunções de H definido em 2.32
e Rψ,M(ψ) (n) = supk |γk ek (n)|, onde γk = hψ, ek i , Hek = λk ek . A medida
espectral de ψ pode ser escrito como

µψ = (2.39)
X
ak δk .
k

Teorema 28. Suponha que

sup |ψ(t, n)| 6 Ce−α|n| (2.40)


t

para algum α > 0. Então

sup(|γk |2 ηk (2α)) < +∞, (2.41)


k

ou, equivalentemente,
Rψ,M(ψ) (n) 6 Ce−α|n| . (2.42)
Pode-se reordenar ak assim que
1
ak 6 Ce−βk d (2.43)

com algumas constantes positivas C, β.


Demonstração. Considere a expressão que é provado no artigo [6].

ψ(t, n) = e−itλs γs es (n). (2.44)


X

Assim, temos que


1ZT T →+∞
ψ(t, n)eitλk dt −→ γk ek (n). (2.45)
T 0
40 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

Isso devido à convergência uniforme de ψ(t, n) o que possibilita em co-


mutar a integral com a série e dentro dessa série teremos uma integral do
tipo 
Z T 0 se s 6= k
γs es (n) eit(λk −λs ) dt =
0 T γs es (n) se s = k.
Daí, como supt |ψ(t, n)| 6 Ce−α|n| , temos
1 T 1ZT 1ZT
Z

ψ(t, n)e itλk
dt 6 |ψ(t, n)|dt 6 Ce−α|n| dt = Ce−α|n|


T 0 T 0 T 0
então
|γk ek (n)| 6 Ce−α|n| =⇒ |γk |2 |ek (n)|2 6 C 2 e−2α|n|
=⇒ |γk |2 |ek (n)|2 e2α|n| 6 C 2 , ∀n ∈ Zd .
Daí, teremos
|γk |2 ηk (2α) 6 C 2 , ∀k ∈ N =⇒ sup |γk |2 ηk (2α) < +∞.
k

Outra alternativa equivalente seria


|γk ek (n)| 6 Ce−α|n| , ∀k ∈ N =⇒ Rψ,M(ψ) (n) = sup |γk ek (n)| 6 Ce−α|n| .
k

Além disso, pelo 2.41 e o teorema 27 teremos


1
ak = |γk |2 6 C(ηk (2α))−1 6 Ce−βk d .
No caso, existe D > 0 e β > 0 tais que
1 1
Deβk d 6 ηk (2α) ⇐⇒ D(ηk (2α))−1 6 e−βk d , (2.46)
então
C 2 −βk d1
|γk |2 6 C 2 (ηk (2α))−1 6 e ,
D
C2
tomando K = D
, então
1
ak 6 Ke−βk d . (2.47)

O resultado do teorema 28 pode ser usado para dar condições suficientes


para a localização dinâmica exponencial no intervalo de energias I. Considere
o conjunto de funções decaindo exponencialmente em H:
C = {ψ : (∃r > 0 : |ψ(n)| 6 Ce−r|n| )}.
2.2. LOCALIZAÇÃO DINÂMICA EXPONENCIAL 41

Definição 2.2.5. O operador auto-adjunto H tem localização dinâmica ex-


ponencial em I, se para qualquer ψ ∈ C, temos EDL(PI (H)ψ).
Seja M = {ek } qualquer sistema ortonormal de auto-funções de H e HM
o subespaço de Hpp expandido pelo M. Para qualquer ψ ∈ HM , temos a
identidade
ψ= γk ek , γk = hψ, ek i . (2.48)
X

Devemos denotar λk o autovalor de ek (n). A partir de agora devemos


considerar qualquer sistema M de auto-funções de H, não necessariamente
M(ψ), assim que é possível ocorrer λk = λm para k 6= m se o espectro de H
não for simples. A decomposição

ψ=
X
ψk
k

que foi comentado antes é um caso especial de 2.48, quando M = M(ψ).


Para δ > 0 definimos
|γk ek (n)|
Rψ,M (n, δ) = sup , (2.49)
k ηk (δ)

supondo que ηk (δ) < +∞ para qualquer k (é sempre verdade para δ = 0,


pois ηk (0) = 1).
Teorema 29. Seja ψ ∈ HM . As seguintes declarações se mantém com as
constantes universais C:
1. Se
Rψ,M (n, 0) 6 Ce−α|n| (2.50)
para algum α > 0, então

sup |ψ(t, n)| 6 C(α, d)(|n|d + 1)e−α|n| . (2.51)


t

2. Suponha que ηk (δ) < +∞ para algum δ > 0 para qualquer k e

Rψ,M (n, δ) 6 Ce−α|n| , (2.52)

onde α > δ. Então para qualquer ν > 0 tal que 0 < ν < α − δ,

sup |ψ(t, n)| 6 C(ν, α, d)e−ν|n| . (2.53)


t

Em particular, em ambos os casos EDL(ψ) se mantém.


42 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

Demonstração. Analisando cada item:

1. Como
Rψ,M (n, 0) = sup |γk ek (n)| 6 Ce−α|n| , ∀n ∈ Zd ,
k
ou seja,
sup |γk |2 ηk (2α) < +∞.
k

Pelo teorema 27, existem D > 0 e β > 0 tais que


1
Deβk d 6 ηk (2α), ∀k ∈ N,

supondo que {ηk (2α) : k ∈ N} já está ordenado, então

|γk |2 ηk (2α) 6 L, ∀k ∈ N,

para algum L > 0, então


1
L −βk d1
Deβk d |γk |2 6 |γk |2 ηk (2α) 6 L =⇒ |γk |2 6 e
sD
1
L −βk d1 2

=⇒ |γk | 6 e
D
s
L − β k d1
=⇒ |γk | 66 e 2 ,
D
q
onde tomo E = L
D
>0eγ= β
2
> 0, então temos
1
|γk | 6 Ee−γk d , ∀k ∈ N.

Agora, para ψ(t, n) = e−itλk γk ek (n), dados n ∈ Zd e B > 0, então


P
k

|γk ek (n)|
X
|ψ(t, n)| 6
k
= |γk ek (n)| + |γk ek (n)|
X X

k6B|n|d B|n|d <k

Ce−α|n| + |γk ek (n)|


X X
6
k6B|n|d B|n|d <k
|ek (n)|61
Ce−α|n| +
X X
6 |γk |
k6B|n|d B|n|d <k

Ce−α|n| B|n|d +
X
6 |γk |.
B|n|d <k
2.2. LOCALIZAÇÃO DINÂMICA EXPONENCIAL 43

No caso, temos a desigualdade


|ψ(t, n)| 6 Ce−α|n| B|n|d + (2.54)
X
|γk |.
B|n|d <k

Note que, temos o seguinte


1 1
B|n|d < k ⇐⇒ B d |n| < k d
1 1
⇐⇒ γB d |n| < γk d
1 1
⇐⇒ −γk d < −γB d |n|
1 1 1
d) d
⇐⇒ e−γk d < e−γB d |n| = e−γ(B|n| .

Com isso, temos que


1
Ee−γk d
X X
|γk | 6
B|n|d <k B|n|d <k
1
= E e−γk d
X

B|n|d <k
1 γ 1 γ 1
d) d d) d
= E e−γk d e 2 (B|n| e− 2 (B|n|
X

B|n|d <k
1
 
1 (B|n|d ) d
γ 1
d) d
−γ kd− 2
= Ee− 2 (B|n|
X
e ,
B|n|d <k

1
 
1 (B|n|d ) d
−γ k d − 1
2 1 (B|n|d ) d
onde < +∞ pois k d − > 0. Assim,
P
B|n|d <k e 2
1
 
1 (B|n|d ) d
−γ kd− 2
tomando K = E > 0 e juntando com 2.54
P
B|n|d <k e
teremos
γ 1
d) d
|ψ(t, n)| 6 CB|n|d e−α|n| + Ke− 2 (B|n| , ∀B > 0. (2.55)
 d 1
Assim, tomando B = 2α
γ
> 0, ou seja, γ2 B d = α teremos o seguinte
 !d 
1
− γ2 (B|n|d ) d 2α
|ψ(t, n)| 6 CB|n|d e−α|n| + Ke = e−α|n| C |n|d + K  ,
γ
  d 
onde denotamos C(α, d) = max K, C 2α
γ
> 0, então teremos
 
|ψ(t, n)| 6 e−α|n| C(α, d)|n|d + C(α, d) = e−α|n| C(α, d)(|n|d + 1).
44 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

2. Como foi definido ηk (α) temos que

|ek (n)|2 6 ηk (α)e−α|n| , ∀k ∈ N, ∀n ∈ Zd .

Além disso, temos que |ek (n)|2 6 1. Portanto, temos que

|ek (n)|2 6 min{1, ηk (α)e−α|n| } (2.56)

e
∀z > 0 e 0 < s < 1 =⇒ min{1, z} 6 z s . (2.57)

Assim, usando 2.56 e 2.57 com s = αν , onde ν 6 α, temos


ν
|ek (n)|2 6 ηk (α)s e−αs|n| = (ηk (α)) α e−ν|n| ,

então
ν ν
|ek (n)|2 eν|n| 6 (ηk (n)) α , ∀k ∈ N, ∀n ∈ Zd =⇒ sup |ek (n)|2 eν|n| 6 (ηk (α)) α
n
ν
⇐⇒ ηk (ν) 6 (ηk (α)) α .

Portanto, para ν 6 α teremos


ν
ηk (ν) 6 (ηk (α)) α . (2.58)

Daí, sabemos que

|γk ek (n)|
sup 6 Ce−α|n| , ∀n ∈ Zd ,
k ηk (δ)

então temos

|γk ek (n)| 6 Cηk (δ)e−α|n| , ∀k ∈ N, ∀n ∈ Zd .

Agora, temos que ηk (2α) = supn |ek (n)|2 e2α|n| , então

C 2 ηk (δ)2
|γk |2 |ek (n)|2 e2α|n| 6 C 2 ηk (δ)2 =⇒ |ek (n)|2 e2α|n| 6 < +∞, ∀n ∈ Zd
|γk |2
C 2 ηk (δ)2
=⇒ sup |ek (n)|2 e2α|n| 6
n |γk |2
q
=⇒ |γk | ηk (2α) 6 Cηk (δ).
2.2. LOCALIZAÇÃO DINÂMICA EXPONENCIAL 45

Como |ψ(t, n)| 6 |γk ek (n)|, então dado n ∈ Zd temos


P
k

sup |ψ(t, n)| 6 |γk ek (n)|,


X
t k

multiplicando eν|n| em ambos os lados, teremos

eν|n| sup |ψ(t, n)| 6 eν|n| |γk ||ek (n)|


X
t k
 1
= |γk |ek (n)|2 e2ν|n|
X 2

k
q
|γk | ηk (2ν), ∀n ∈ Zd ,
X
6
k

então
q
sup(eν|n| sup |ψ(t, n)|) 6 |γk | ηk (2ν)
X
n t k
q ηk (δ)
C ηk (2ν) q
X
6
k ηk (2α)
v
X u ηk (2ν)
u
= C t η k (δ).
k ηk (2α)

Daí, para δ < α < 2α temos


v
ν
X u ηk (2ν) (ηk (2α)) 2α
u
δ
k (δ) (ηk (2α)) 2α
X
C t η 6 C
k ηk (2α) k (ηk (2α))
1
2

(ν+δ−α)
= C (ηk (2α))
X
2 ,
k

pois bastaria usar o mesmo argumento usado em 2.58.


Agora, note que, para 0 < ν < α − δ, temos ν+δ−α

< 0. Disso, obtemos
ν+δ−alpha
sup(eν|n| sup |ψ(t, n)) 6 C (ηk (2α))
X

n t k
1
ν+δ−α
(Deβk d )
X
6 C 2α

k
ν+δ−α β(ν+δ−α) 1
= C kd
X
D 2α e 2α

k
ν+δ−α β(ν+δ−α) 1
= CD kd
< +∞.
X
2α e 2α

k
46 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

β(ν+δ−α) 1
ν+δ−α
Assim, denotamos C(ν, α, d) = CD 2α kd
< +∞ > 0 e,
P
ke 2α

então
eν|n| sup |ψ(t, n)| 6 C(ν, α, d), ∀n ∈ Zd ,
t
ou seja,

sup |ψ(t, n)| 6 C(ν, α, d)e−ν|n| , ∀n ∈ Zd , ∀0 < ν < α − δ.


t

Usando o resultado do teorema 29, pode-se dar as condições suficientes


para EDL, no intervalo I. Por uma questão de simplicidade, restringimos
para a primeira declaração do teorema. Poderia-se, entretanto se necessário,
dar também uma condição suficiente mais geral baseado na segunda decla-
ração do teorema 29.
Assim, como foi comentado antes M = {ek } é algum sistema ortonormal
de auto-funções de H completo em H(I) e considere

L = {g ∈ H : Hg = λg, λ ∈ I, kgk = 1}.

Assim, definimos

F0 (n, m) = sup |ek (n)ek (m)|,


k

G0 (n, m) = sup |g(n)g(m)|,


g∈L

F0 (n, m) 6 G0 (n, m).


Teorema 30. Seja N uma das duas funções F0 , G0 . Seja ψ ∈ C assim que

|ψ(m)| 6 Ce−r|m| (2.59)

para algum r > 0. Como usual, seja ϕ = PI (H)ψ, ϕ(t) = e−itH ϕ. As


seguintes declarações se mantém:
1. Suponha que existem α > 0 e β > 0 tais que

N (n, m) 6 Ce−α|n|+β|m| . (2.60)

Então
sup |ϕ(t, n)| 6 C(γ)e−γ|n| , (2.61)
t
n o
onde 0 < γ < min α, αr

.
2.2. LOCALIZAÇÃO DINÂMICA EXPONENCIAL 47

2. Suponha que existem α > 0 e β > 0 tais que

N (n, m) 6 Ce−α|n−m|+β|m| . (2.62)

Então
sup |ϕ(t, n)| 6 Ce−γ|n| , (2.63)
t
n o
onde 0 < γ < min α, α+β
αr
.

Em particular, em ambos os casos EDL se mantém em I.

Demonstração. Analisando cada item:

1. Como ϕ = PI (H)ψ e o sistema M é completo em H(I), então

ϕ= γk ek , γk = hϕ, ek i = hψ, ek i .
X

Portanto,
γk = ψ(m)ek (m)
X

m
e
|γk ek (n)| X |ek (n)ek (m)|
6 |ψ(m)| , ∀k,
ηk (0) m ηk (0)
então disso implica que

sup |γk ek (n)| 6 sup |ek (n)ek (m)||ψ(m)|,


X
k m k

ou seja,
Rϕ,M (n, 0) 6 N (n, m)|ψ(m)|.
X

Logo, teremos, como feito no argumento para o item 2.,

Rϕ,M (n, 0) 6 C s+1 e−sα|n|−(r−sβ)|m| = C s+1 e−sα|n| e−(r−sβ)|m| , ∀s ∈ [0, 1].


X X

m m

Daí,

• Se r > β, tomamos s = 1 e 0 < γ < α.


• Se r 6 β, então pegamos s = r

< 1.
48 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

Em qualquer uma das possibilidades acima conseguiremos encontrar


umanconstante
o C(γ) > 0 que queremos. Dessa forma, para 0 < γ <
min α, 2β vale
αr

Rϕ,M (n, 0) 6 C(γ)e−γ|n| , ∀n ∈ Zd .

Assim, repetimos o mesmo argumento feito no item 2. para chegarmos


no resultado do interesse.

2. Da maneira como foi visto acima, temos

Rϕ,M (n, 0) 6 N (m, n)|ψ(m)|.


X

Como N (n, m) 6 1 para qualquer n, m,

N (n, m) 6 N s (n, m) 6 C s e−sα|n−m|+sβ|m| , ∀s ∈ [0, 1].

Portanto

Rϕ,M (n, 0) 6 N (n, m)|ψ(m)|


X

m
C s e−sα|n−m|+sβ|m| Ce−r|m|
X
6
m
= C s+1
e−sα|n−m|−(r−sβ)|m| .
X

Se r > α + β, tomamos s = 1, e para r < α + β, tomamos s = r


α+β
. De
fato,

• Se r > α + β, temos, para s = 1, o seguinte

Rϕ,M (n, 0) 6 C 2 e−α|n−m|−(r−β)|m| ,


X

então para 0 < γ < αr


α+β
teremos
αr
r >α+β =⇒ >α>γ
α+β
αr
=⇒ >γ
α+β
αr
=⇒ − < −α < −γ
α+β
e
−(r − β) 6 −α < −γ.
2.2. LOCALIZAÇÃO DINÂMICA EXPONENCIAL 49

Daí, usando as propriedades da desigualdade triangular, teremos

C2 e−α|n−m|−(r−β)|m| 6 C 2 e−γ|n−m|−α|m|
X X

m m
= C 2
e−γ|n|+γ|m|−α|m|
X

m
−γ|n|
C2 e(γ−α)|m|
X
6 e
m
= e −γ|n| 2
e−(α−γ)|m| ,
X
C
m

onde basta tomar C(γ) = C 2 e−(α−γ)|m| .


P
m

• Se r < α + β, então tomamos s = r


α+β
, ou seja, temos
!
βr α
r − sβ = r − =r .
α+β α+β

Assim, para 0 < γ < αr


α+β
, teremos
X − αr |n−m|− αr |m| X −γ|n−m|− αr |m|
C s+1 e
α+β α+β 6 C s+1 e
α+β

m m

e(γ− α+β )|m| ,


αr
6 C s+1 e−γ|n|
X

e(γ− α+β )|m| > 0.


r αr
onde tomamos C(γ) = C α+β +1
P
m
n o
No caso, para 0 < γ < min α, α+β
αr
, teremos

Rϕ,M (n, 0) 6 C(γ)e−γ|n| , ∀n ∈ Zd .


n o
Agora, fixamos um 0 < γ < min α, α+β
αr
arbitrário. Note que, po-
demos tomarn um ε o= ε(γ) > 0 bem pequeno de forma que 0 < γ <
γ + ε < min α, α+β e teremos
αr

Rϕ,M (n, 0) 6 C (γ + ε) e−(γ+ε)|n| , ∀n ∈ Zd .

Aplicamos o teorema 29, então vamos ter

sup |ϕ(t, n)| 6 C(γ, d)(|n|d + 1)e−γ|n| , ∀n ∈ Zd


t

e
sup |ϕ(t, n)| 6 C ((γ + ε), d) (|n|d + 1)e−(γ+ε)|n| , ∀n ∈ Zd .
t
50 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO

Disso, temos

C(γ, d)C ((γ + ε), d)(|n|d + 1)e−(γ+ 2 )|n| , ∀n ∈ Zd .


q ε
sup |ϕ(t, n)| 6
t

Agora, note que, vale o seguinte limite


|n|d + 1
lim ε = 0.
n→∞ e 2 |n|

De fato, bastaria, usando L’Hospital, mostrar que


xd + 1
lim ε = 0.
x→+∞ ex 2

Assim, significa que para 1 > 0 existe Λ ⊂ Zd , |Λ| < ∞, tal que
ε
/ Λ.
(|n|d + 1) 6 e 2 |n| , ∀n ∈

Disso, significa que podemos tomar o máximo da seguinte forma


q q 
− 2ε |n0 |
D(γ) = max C ((γ + ε), d) C(γ, d), C ((γ + ε), d) C(γ, d)(|n0 | + 1)e
d
,

onde |n0 | = max{|n|; n ∈ Λ}. Então, disso, teremos

C(γ, d)C ((γ + ε), d)(|n|d + 1)e−(γ+ 2 )|n| 6 D(γ)e−γ|n| , ∀n ∈ Zd .


q ε

De fato, dado n ∈ Zd , então temos que

• Se n ∈ Λ, então

C(γ, d), C ((γ + ε), d)(|n|d + 1)e−(γ+ 2 )|n|


q ε

q ε
= C(γ, d), C ((γ + ε), d)(|n|d + 1)e− 2 |n| e−γ|n|
q ε
6 C(γ, d), C ((γ + ε), d)(|n0 |d + 1)e− 2 |n0 | e−γ|n| 6 D(γ)e−γ|n| .
• Se n ∈
/ Λ, então

C(γ, d), C ((γ + ε), d)(|n|d + 1)e−(γ+ 2 )|n|


q ε

q ε
= C(γ, d), C ((γ + ε), d)(|n|d + 1)e− 2 |n| e−γ|n|
q
6 C(γ, d), C ((γ + ε), d)e−γ|n| 6 D(γ)e−γ|n| .
2.2. LOCALIZAÇÃO DINÂMICA EXPONENCIAL 51

Portanto, temos que

sup |ϕ(t, n)| 6 D(γ)e−γ|n| , ∀n ∈ Zd ,


t
n o
para 0 < γ < min α, α+β
αr
arbitrário.
n o
Portanto, para qualquer 0 < γ < min α, α+β
αr
vale que existe um
D(γ) > 0 tal que

sup |ϕ(t, n)| 6 D(γ)e−γ|n| , ∀n ∈ Zd .


t

Corolário 30.1. Suponha que exista um sistema ortonormal M = {ek } de


autofunções de H completo em H(I) tal que para algum nk ∈ Zd para qualquer
δ > 0,
|ek (n)| 6 C(δ)eδ|nk |−α|n−nk | , (2.64)
onde α > 0 e as constantes C(δ) são uniformes em k, n. Disso, podemos
concluir que

sup |ek (n)ek (m)| 6 C 2 (δ)e2δ|m|−(α−2δ)|n−m| . (2.65)


k

Demonstração. Logo, usando as propriedades da desigualdade triangular,


basta realizar a seguinte análise:

|ek (n)ek (m)| 6 C 2 (δ)e2δ|k| e−α(|n−nk |+|m−nk |)


6 C 2 (δ)e2δ|m|+2δ|m−nk |−α(|n−nk |+|m−nk |)
6 C 2 (δ)e2δ|m|+2δ(|m−nk |+|n−nk |)−α(|n−nk |+|m−nk |)
0<4δ<α
6 C 2 (δ)e2δ|m|−(α−2δ)(|m−nk |+|n−nk |)
6 C 2 (δ)e2δ|m|−(α−2δ)|m−n| .

Então, teremos

|ek (n)ek (m)| 6 C 2 (δ)e2δ|m|−(α−2δ)|n−m| , ∀k ∈ Zd .

Portanto
sup |ek (n)ek (m)| 6 C 2 (δ)e2δ|m|−(α−2δ)|n−m| .
k
52 CAPÍTULO 2. O CONCEITO DE LOCALIZAÇÃO
Capítulo 3

Demonstrações dos Resultados


Principais

Proposição 31. Para todo m, n ∈ Z,


e
|ϕn (m)| 6
|n − m|!
Demonstração. Para a demonstração dessa proposição basta provarmos para
ϕ0 (n). No caso que ocorra
e
|ϕ0 (n)| 6
|n|!
Logo, note que,
Z 1
ϕ0 (n) = e2πinε e2i sin (2πε) dε
0
Z 1
= (cos (2πnε) + i sin (2πnε))(cos (2 sin (2πε)) + i sin (2 sin (2πε)))dε
0

Assim, note que,

(cos (2πnε) + i sin (2πnε))(cos (2 sin (2πε)) + i sin (2 sin (2πε)))

= cos (2πnε + 2 sin (2πε)) + i sin (2πnε + 2 sin (2πε))


Ou seja,
Z 1 Z 1
ϕ0 (n) = cos (2πnε + 2 sin (2πε))dε + i sin (2πnε + 2 sin (2πε))dε
0 0

Assim, note que:

53
54CAPÍTULO 3. DEMONSTRAÇÕES DOS RESULTADOS PRINCIPAIS

• Para 01 sin (2πnε + 2 sin (2πε))dε tomamos y = 2πε − π, onde y ∈


R

[−π, π] e ε ∈ [0, 1], então


Z 1 Z π
dy
sin (2πnε + 2 sin (2πε))dε = sin (n(y + π) + 2 sin (y + π))
0 −π 2π
1 Zπ
= sin (n(y + π) + 2 sin (y + π))dy
2π −π
onde para a integral
Z π
sin (n(y + π) + 2 sin (y + π))dy
−π

temos
Z π Z 0
= sin (n(y + π) + 2 sin (y + π))dy+ sin (n(y + π) + 2 sin (y + π))dy
0 −π

Z π Z −π
= sin (n(y + π) + 2 sin (y + π))dy− sin (n(y + π) + 2 sin (y + π))dy
0 0

tomando x = −y e dx = −dy temos


Z π Z π
sin (n(y + π) + 2 sin (y + π))dy+ sin (n(π − x) + 2 sin (π − x))dx
0 0

Donde temos

sin (n(y + π) + 2 sin (y + π)) + sin (n(π − y) + 2 sin (π − y))

= cos (2 sin (y))(sin (n(y + π)) + sin (n(π − y))) = 0,


basta usar a fórmula do Prostaféreze.
Portanto, temos
Z 1
sin (2πnε + 2 sin (2πε))dε = 0
0

• Temos Z 1
J−n (2) = cos (2πnε + 2 sin (2πε))dε
0

pois basta tomar y = πε, com y ∈ [0, π] e ε ∈ [0, 1], onde dy = πdε.
Daí, temos
1Zπ 1 Z 2π
J−n (2) = cos (2 sin (2y) + 2ny)dy = cos (2 sin (θ) + nθ)dθ
π 0 2π 0
55

Portanto, concluímos que

1 2
 |n|
e
e( 2 ) =
2 2
|ϕ0 (n)| = |J−n (2)| 6
|n|! 2 |n|!

Teorema 32. H0 tem localização dinâmica.


Demonstração. Já foi visto que as auto-funções {ϕn }n∈Z de H0 formam uma
base ortonormal em `2 (Z). Portanto, é suficiente mostrarmos que H0 tem
SULE.
Logo, temos que ψ = em ∈ `2 (Z) alguma base canônica, em (n) = δnm .
Daí, temos que

ψ(t, n) = e−itEk hψ, ϕk i ϕk (n) = e−itEk ϕk (m)ϕk (n).


X X

k k

Além disso, temos que, tomando alguma constante C > 1, onde essa será
a constante universal para à base canônica {em } de `2 (Z), vale o seguinte
• Se m = 0, basta tomar r = 1, e assim temos

|e0 (n)| 6 Ce−|n| , ∀n ∈ Z.

log ( C )
 1

• Se m 6= 0, então bastaria tomar algum r ∈ 0, − |m|
e disso teremos

|em (n)| 6 Ce−r|n| , ∀n ∈ Z.

Disso, conseguimos concluir a primeira hipótese do teorema 30.


Agora, falta verificarmos se satisfaz a segunda sentença do teorema 30.
Assim, sabemos da proposição 31 temos que
e
|ϕm (n)| 6 .
|n − m|!
Tomando nm = m, precisamos mostrar que existe α > 0 e para δ > 0
existe C(δ) > 0 tal que
e
6 C(δ)eδ|m|−α|n−m| , ∀n, m ∈ Z
|n − m|!
Como, para todo r > 0

er|n|+1
lim =0
n→∞ |n|!
56CAPÍTULO 3. DEMONSTRAÇÕES DOS RESULTADOS PRINCIPAIS

De fato, para cada a > 1, bastaria analisar


an
lim = 0.
n→+∞ n!

Uma pequena dica seria usar a propriedade arquimediana para encontrar


algum n1 ∈ N tal que vale log (a) < log (n), ∀n > n1 e, junto com isso,
teremos a expressão

an e(n1 −1) log (a) 1


= Pn1 −1 . Pn (log (k)−log (a)) ,
n! e k=2 log (k) e k=n1
onde limn→+∞ nk=n1 (log (k) − log (a)) = +∞.
P

Assim, concluímos que para dado α > 0, para cada C > 0, existe no ∈ N
tal que vale
e
6 Ce−α|n| , ∀n > no .
|n|!
n 2α αno
o
então, para {1, ..., no }, basta escolhermos C(δ) = max C, eα , e2! , ..., eno ! e,
disso concluímos que
e
6 C(δ)e−α|n−m| < C(δ)eδ|m|−α|n−m| , ∀δ > 0
|n − m|!

Isso, significa que teremos o seguinte

|ϕk (n)ϕk (m)| 6 C 2 (δ)e2δ|k|−α(|n−k|+|m−k|) , (3.1)

onde, pelo corolário 30.1, teremos

sup |ϕk (n)ϕk (m)| 6 C 2 (δ)e2δ|m|−(δ−2α)|m−n| , 0 < 2δ < α.


k

Note que, a condição acima cai na condição do teorema 30. Portanto,


existe γ tal que
sup |ψ(t, n)| 6 C(γ)e−γ|n| , ∀n ∈ Z.
t

Isso nos conduz o seguinte

sup rψp (t) 6 |n|p (sup |ψ(t, n)|)2 6 |n|p C 2 (γ)e−2γ|n| < ∞.
X X
t n∈Z t n∈Z

Portanto, H0 tem localização dinâmica.

Teorema 33. H0 tem espectro puramente discreto e simples dado pelos nú-
meros inteiros na forma {En : n ∈ Z}.
57

Demonstração. Logo, dado E > 0 consideramos a seguinte equação

H0 ψλ = λψλ , λ ∈ C e ψ ∈ D(HE,V ), (3.2)

onde (H0 ψλ )(n) = (∆ψλ )(n) + Enψλ (n), ∀n ∈ Z. Queremos mostrar que
0
os λ s que satisfazem a condição estacionária acima são somente números
inteiros. No caso, isso nos fornecerá de imediato que o operador H0 possui
espectro puramente discreto e simples, no caso, Σ(H0 ) = Z. Assim, conside-
ramos a transformada de Fourier
c (ε) = ψλ (n)e−2πinε .
X
ψ λ
n∈Z

Assim, para

ψλ (n + 1) + ψλ (n − 1) + Enψλ (n) = λψλ (n)

denotando ϕλ (n) = ψλ (n + 1), ξλ (n) = ψλ (n − 1) e aplicando a transformada


de Fourier, teremos

cλ (ε) + ξc
ϕ λ (ε) + [Enψλ (n)] = λψλ (ε),
\ c

onde temos

cλ (ε) = ψλ (n + 1)e−2πinε
X
ϕ
n∈Z
m=n+1
= ψλ (m)e−2πi(m−1)ε
X

m∈Z

= ψλ (m)e−2πimε e2πiε
X

m∈Z

ξcλ (ε) = ψλ (n − 1)e−2πinε


X

n∈Z
m=n−1
= ψλ (m)e−2πi(m+1)ε
X

m∈Z

= ψλ (m)e−2πimε e−2πiε
X

m∈Z

então, na soma de ϕ cλ (ε) + ξc


λ (ε) e, como e
−2πiε
= cos (2πε) − i sin (2πε) e
e2πiε
= cos (2πε) + i sin (2πε), teremos

λ (ε) + ξλ (ε) = 2 cos (2πε) ψλ (m)e−2πimε = 2 cos (2πε)ψ


c (ε).
X
ϕ[ c
λ
m∈Z
58CAPÍTULO 3. DEMONSTRAÇÕES DOS RESULTADOS PRINCIPAIS

Agora, falta analisar [Enψ


\ λ (n)], onde denotando ηλ (n) = Eψλ (n), temos
que, usando a proposição 3

i ∂(ηcλ (ε))
[nη
\ λ (n)](ε) = ,
2π ∂ε
onde

ηcλ (ε) = ηλ (n)e−2πinε = Eψλ (n)e−2πinε = E ψλ (n)e−2πinε .
X X X

n∈Z n∈Z n∈Z

∗: Seria pelo fato de ocorrer uma convergência dessa série usando a desi-
gualdade de Hölder da seguinte forma

X
(n)e−2πinε
|ψλ (n)|
X

ψ λ 6
n∈Z n∈Z
1
= |nψλ (n)|
X

n∈Z |n|
 1  1
1 
2 2

|nψλ (n)|2
X X
6  
n∈Z |n|
2
n∈Z
 1
2
π
= |nψλ (n)|2
X
 √ < ∞.
n∈Z 3

Portanto, temos que


ηcλ (ε) = E ψ
c (ε).
λ

Daí, pela propriedade da derivada, teremos

k (ε))
i ∂(η[ c (ε))
i ∂(E ψ c (ε))
Ei ∂(ψ
λ λ
[Enψ
\ λ (n)] = [nη
\ λ (n)] = = = .
2π ∂ε 2π ∂ε 2π ∂ε
Portanto, teremos
c (ε))
Ei ∂(ψλ
(2 cos (2πε))ψ
c (ε) +
λ = λψ
c (ε)
λ
2π ∂ε
No caso, chegamos em uma equação diferencial ordinária de primeira
ordem. Assim, seguindo os passos clássicos de resolução temos que

1 c (ε))
∂(ψλ 2πi
= (2 cos (2πε) − λ),
ψλ (ε)
c ∂ε E
59

então
Z ε
1 c (ε)) 1
Z ε Z ε
∂(ψ

λ
c (ε)
dε = 4πi cos(2πε)dε − 2πiλdε ,
0 ψλ ∂ε E 0 0

então
c (ε) 1
!
ψλ
ln c (0)
= (2i sin (2πε) − 2πiλε),
ψλ E
ou seja,
2i sin (2πε) 2πiλε
c (ε) = ψ
ψ c (0)e E e− E ,
λ λ

na verdade, poderíamos supor para algum a ∈ R no lugar de 0 ∈ R e teríamos


c (a), mas como, no final, iremos normalizar, então não precisamos nos pre-
ψ λ
ocupar com o intervalo de integração. Assim, temos que ψc (0) = P
λ n∈Z ψλ (0),
onde podemos supor ψλ (0) 6= 0, pois se não significaria que os autovetores
c
são nulos da solução estacionária, contradizendo assim a existência de espec-
tro para o operador auto-adjunto H0 . Além disso, note que, ψ c ∈ L2 (T) o
λ
que significa que para cada ε ∈ R temos que
2i sin (2π(ε+1)) 2πiλ(ε+1) 2i sin (2πε) 2πiλε
c (ε + 1) = ψ
ψ c (ε) ⇐⇒ ψ
c (0)e E e− E =ψ
c (0)e E e− E ,
λ λ λ λ

onde sin (2π(ε + 1)) = sin (2πε), então temos


2πiλ(ε+1) 2πiλε
e− E = e− E ,

então, teremos
2πiλ
e E = 1,
onde para que essa equação seja satisfeita temos que
2πλ
= 2πm
E
para algum m ∈ Z, ou seja, λ = Em ∈ EZ e isso para λ ∈ C arbitrário. Isso
significa que todos os espectros que compõe a solução estacionária precisam
ser números inteiros.
Assim, temos que ψ c =ψ
λ
d , com m ∈ Z. O que significa que
m

2i sin (2πε)
d (ε) = ψ
ψ d (0)e E e−2πimε
m m

onde normalizando esse vetor para cada m ∈ Z temos que


d (ε)
ψ 2i sin (2πε)
m
ϕ m (ε) = = e E e−2πimε
ψm (0)
d
d
60CAPÍTULO 3. DEMONSTRAÇÕES DOS RESULTADOS PRINCIPAIS

e, notamos que o conjunto S = {ϕ


d m ; m ∈ Z} ⊂ L ([0, 1]) é ortonormal. De
2

fato, dados m, n ∈ Z temos


Z 1 Z 1
2i sin (2πε) 2i sin (2πε)

d cn i =
m, ϕ e E e−2πimε e E e−2πinε dε = e2πi(n−m)ε dε,
0 0

onde sabemos que vale



Z 1 0, se m 6= n
e2πi(n−m)ε dε =
0 1, c.c

Além disso, o conjunto S é um sistema de conjunto ortonormal completa


de L2 ([0, 1]) como foi visto na proposição 18. Assim, temos como a inversa
da transformada de Fourier
Z 1
ϕm (n) = e2πinε ϕ
dm (ε)dε,
0

onde será a solução de 3.2 com m ∈ Z sendo autovalores.


Além disso, temos que o conjunto {ϕm : m ∈ Z} é um sistema ortonormal
completo de `2 (Z). De fato, dado f ∈ {ϕm : m ∈ Z}⊥ , então temos, pelo
teorema 4 D E
0 = hf, ϕm i = fb, ϕ
d m , ∀m ∈ Z e f ≡ 0,
b

pois S é um sistema ortonormal completo de L2 ([0, 1]), então como kf k`2 (Z) =
kfbkL2 ([0,1]) = 0, temos f ≡ 0. Disso, concluímos que {ϕm : m ∈ Z} é um
sistema ortonormal completo de `2 (Z), onde isso garante a unicidade dos
autovetores para autovalor m ∈ Z, ou seja, garante que cada espectro é
simples.
Portanto, com isso concluímos que H0 tem espectro puramente discreto
e simples dado pelo números inteiros.

Proposição 34. Para todo m, n ∈ Z,


1
e E2
|ϕn (m)| 6 .
(|n − m|!)(E)|n−m|

Demonstração. Note que, dados m, n ∈ Z, temos

ψn (m) = ψ0 (m − n).

No caso, bastaria analisar para ψ0 (n), n ∈ Z o seu decaimento.


61

Realizemos a mesma análise na expectativa de usar a propriedade da


função de Bessel.
Z 1
2i sin (2πε)
ψ0 (m) = e2πimε e E dε
0
sin (2πε) sin (2πε)
Z 1 Z 1 ! !
= cos 2πmε + 2 dε + i sin 2πmε + 2 dε.
0 E 0 E
Daí,
 
• sin 2πmε + 2 sin (2πε) dε = 0:
R1
0 E

sin (2πε) y=2πε−π 1 sin (y + π)


Z 1 ! Z π !
sin 2πmε + 2 dε = sin m(y + π) + 2 dy,
0 E 2π −π E
onde
sin (y + π) sin (y + π)
Z π Z −π ! !
sin m(y + π) + 2 dy− sin m(y + π) + 2 dy
0 E 0 E
sin (y + π) sin (π − z)
Z π Z π ! !
= sin m(y + π) + 2 dy+ sin m(π − z) + 2 dz
0 E 0 E
sin (y + π) sin (π − y)
Z π ! !!
= sin m(y + π) + 2 + sin m(π − y) + 2 dy.
0 E E
Daí,
sin (y + π) sin (π − y)
! !
sin m(y + π) + 2 + sin m(π − y) + 2
E E
sin (y)
!
= cos 2 (sin (m(y + π)) + sin (m(π − y))) = 0.
E
Disso, resulta no que foi afirmado no início.
 
• cos 2πmε + 2 sin (2πε)
R1
0 E
dε:
Tome θ = 2πε, então temos
sin (2πε) 1 Z 2π sin (θ) 2
Z 1 ! !  
cos 2πmε + 2 dε = cos mθ + 2 dθ = J−m .
0 E 2π 0 E E

Aplicando a propriedade da função de Bessel, teremos


1
2 1 2
|m|
e E2
e( ) =
   2
2
|ψ0 (m)| =

J−m 6 2E ,

E |m|! 2E (|m|!)(E)|m|
onde para |m| → ∞ a convergência o ψ0 (m) decai para zero.
62CAPÍTULO 3. DEMONSTRAÇÕES DOS RESULTADOS PRINCIPAIS

Portanto, concluímos a afirmação que queremos.


Teorema 35. (Para E > 0 qualquer)
H0 tem localização dinâmica.
Demonstração. Já foi visto que as auto-funções {ϕn }n∈Z de H0 foram uma
base ortonormal em `2 (Z). Portanto, é suficiente mostrarmos que H0 tem
SULE. Assim, sabemos que
1
e E2
|ϕm (n)| 6 , ∀n, m ∈ Z.
(|n − m|!)(E)|n−m|
Tomando nm = m, precisamos mostrar que existe α > 0 e para δ > 0
existe C(δ) > 0 tal que
1
e E2
6 C(δ)eδ|m|−α|n−m| , ∀m, n ∈ Z.
(|n − m|!)(E)|n−m|
Assim, analisando cada caso
 |n|
n→∞
• Se E ∈ (0, 1), então teremos 1
E
−→ ∞.
Daí, sabemos que
 |n|
1
er|n| E
lim = 0.
|n|→+∞ |n|!
Disso, concluímos que para dado α > 0, para cada C > 0, existe n0 ∈ N
tal que vale
1
6 Ce−α|n| , ∀n ∈ Z, |n| > n0 .
(|n|!)(E)|n|
n 2α αm
o
Logo, para {1, ..., n0 }, basta escolhermos C(δ) = max C, eα , e2! , ..., en0 !0
e, disso concluímos que
1
e E2
6 C(δ)e−α|n−m| < C(δ)eδ|m|−α|n−m| , ∀δ > 0.
(|n − m|!)(E)|n−m|
n→∞
• Se E ∈ (1, +∞), então teremos E |n| −→ ∞.
Daí, temos que
e|n|
lim = 0.
|n|→+∞ (|n|!)(E)|n|

A demonstração segue de forma análoga.


63

Isso significa que teremos o seguinte

|ϕk (n)ϕk (m)| 6 C 2 (δ)e2δ|k|−α(|n−k|+|m−k|) ,

onde, pelo corolário 30.1, teremos

sup |ϕk (n)ϕk (m)| 6 C 2 (δ)e2δ|m|−(δ−2α)|m−n| , 0 < 2δ < α.


k

Note que, a condição acima cai na condição do teorema 30. No caso,


existe γ tal que
sup |ψ(t, n)| 6 C(γ)e−γ|n| , ∀n ∈ Z.
t

Isso nos conduz o seguinte

sup rψp (t) 6 |n|p (sup |ψ(t, n)|)2 6 |n|p C 2 (γ)e−2γ|n| < ∞.
X X
t n∈Z t n∈Z

Portanto, H0 tem localização dinâmica.


64CAPÍTULO 3. DEMONSTRAÇÕES DOS RESULTADOS PRINCIPAIS
Referências Bibliográficas

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pertubations of discrete 1D Schrödinger operators with uniform electric
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[2] César R. de Oliveira, Mariane Pigossi. Point Spectrum and SULE for
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Electric Fields. Journal of Statistical Physics, 173(1), October 2018.

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mics. PMP v. 54 (Basel: Birkhäuser, 2009)

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rators. Birkhäuser Boston, 1990.

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66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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