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No dia 03 de janeiro de 2020 ainda antes da resposta iraniana ao ato terrorista autorizado pelo
presidente do Império Donald Trump, o célebre articulista e ex-editor do New York Times,
Thomas Friedman, produziu um artigo de opinião que correu o mundo ocidentalizado. O título
em inglês é “Trump kills Iran’s most overrated warrior”. E a linha de apoio afirma. “Soleimani
pushed his country to build na empire, but drove it into the ground instead”. (neste link:
https://www.nytimes.com/2020/01/03/opinion/iran-general-soleimani.html)
A "burrice" seria não seguir o boom de sua própria economia com mediana complexidade e se
"aventurar" a ampliar a atuação na política regional no Oriente Médio. Para Thomas Friedman,
ser "inteligente" é ficar "bem comportado", de maneira quieta, acatando a hegemonia fática
de Arábia Saudita e Israel, e não participando de conflitos onde operam seus principais aliados.
Enfim, a "esperteza" seria entregar o xiismo ampliado à própria sorte, incluindo a relação com
o Hezbolá na defesa da soberania nacional libanesa. “Inteligência” poderia ser ajudar a
entregar a Palestina às traições da Autoridade "Nacional", o cerco à Gaza e a ocupação da
maior parte da Cisjordânia, incluindo o roubo de terras e valiosos recursos hídricos. "Sagaz",
para Friedman, seria portar-se como Egito após a traição de Camp David ou quiçá como os
hachemitas do Reino da Jordânia, inventado pelos ingleses.
Poucas vezes li algo tão cínico, menosprezando tanto as capacidades do Estado persa como
superestimando os países "ocidentais", dentre os quais Israel se inclui sem sê-lo. De maneira
alguma estou "defendendo" o Irã dos aiatolás de forma incondicional. Sou crítico - muito
crítico por sinal - de sua política doméstica assim como me oponho à relação com a maioria
sunita na Síria. A defesa da democracia política, das liberdades religiosas, da equidade de
gênero, do federalismo étnico-cultural e de uma economia com base cooperativa rumando a
um modelo socialista adequado ao Oriente Médio não encontra eco no cinismo de Thomas
Friedman.
Eu insisto se fosse uma crítica humanista com honestidade intelectual, deveria separar os
níveis de análise. A defesa da democracia social no Irã não nos impede de entender alguns
acertos de sua política externa. Queria ver um Irã de plenos direitos para homens e mulheres,
sunitas e xiitas, persas, árabes, azeris, balochis e curdos. Só não quero ver um Irã destruído
pelos gringos e nem com um governo fantoche da Casa Branca.
O articulista do New York Times compara o Irã com uma força imperial na região. Em patre
sim, Teerã exerce projeção de poder, mas essa é a norma das relações internacionais e não a
exceção. Em termos gerais, o autor do livro “De Beirute a Jerusalém” (editado em 1989,
facilmente encontrado em português) critica a única das quatro potências regionais (Israel,
Arábia Saudita, Turquia e Irã) que enfrenta diretamente os cruzados ocidentais e não adere de
forma completa aos russo-bizantinos.
Logo, a "burrice" dita por Thomas Friedman é a vontade soberana de exercer relações
exteriores por parte de um país independente com assento na Assembleia Geral da ONU. Ou o
ex-editor do jornal mais prestigiado dos EUA também considera que países independentes e
com vontade própria sejam "burros", devendo os povos do mundo se resignar a condições
subalternas de capitalismo periférico?! Inteligente é a adesão ao imperialismo dos Estados
Unidos ou quem sabe, à projeção de poder imperial de China é Rússia?! Foi "burrice" a
independência da Argélia através de sua guerra de libertação? É uma "estupidez" lutar pelos
direitos inalienáveis de cerca de sete milhões de palestinos vivendo sob o cerco, ocupação
militar e apartheid impostos pelo Estado de Israel sendo estes últimos também financiados por
Washington? Foi a “ameaçadora” presença do Irã no Líbano e na Síria que “forçou” Israel a
influenciar o governo do Império e mudar sua política na região? O argumento absurdo
contido no texto é esse.
Será que Thomas Friedman considera uma "burrice" do Reino do Qatar a afirmação de sua
política externa independente, coordenando esforços comerciais e produtivos tanto com o Irã
como com a Turquia? Seria pelo "raciocínio" do colunista um "despropósito" a existência de
um conglomerado de comunicação de altíssima qualidade como a Al Jazeera?
Thomas Friedman não quer analisar nada, é pura guerra de propaganda, disputa pelo controle
da narrativa e a apresentação de "estórias" embaladas por preconceitos supostamente
sofisticados de quem o lê. A grande “burrice” de Thomas Friedman é superestimar suas
próprias versões, as quais se forem verdadeiras, são simplesmente “vazamentos” combinados
de relatórios de inteligência. Melhore seu desempenho senhor colunista do Império, porque
essa desinformação forçosa não emplacou.