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Roberto Simão1 Escola de Educação Física e Desportos – Universidade Federal do Rio de Janeiro
robertosimao@ig.com.br (EEFD/UFRJ)
Rhodes Serra1 2
rhodess@terra.com.br SMS/CENPES/PETROBRAS
Marcos A. Albuquerque 1
malbuq@uol.com.br
Paulo Rebelo2
paulo_rebelo@gmail.com
Alexandre M. Mello1
a.m_mello@ig.com.br
Simão R, Serra R, Albuquerque MA, Rebelo P, Mello AM. Efeito de um programa de treinamento físico desenvolvido no Espaço Bem
Estar do CENPES/PETROBRAS na pressão arterial em hipertensos não-medicados. Fit Perf J. 2007;6(4):213-7.
RESUMO: A modificação no estilo de vida tem sido recomendada para a prevenção, tratamento e controle da pressão arterial
(PA). O objetivo do presente experimento foi verificar o comportamento da PA após 4 meses de treinamento no Espaço Bem Estar
(EBE) CENPES/PETROBRAS, em indivíduos hipertensos não-medicados. Concluíram o experimento 57 indivíduos, sedentários há
pelo menos um ano, divididos em 2 grupos: grupo treinamento (GT) e grupo controle (GC). Todos os sujeitos passaram por uma
avaliação física e o GT realizou 3 sessões semanais em dias alternados, totalizando 48 sessões com duração média de 60 minutos.
Inicialmente, era realizado o treinamento aeróbico, que consistia de 25 minutos entre 50 e 70% da freqüência cardíaca de reserva.
O treinamento de força foi realizado em 2 séries, variando entre 8 e 12 repetições. O treinamento da flexibilidade foi realizado pelo
método de alongamento estático. A PA foi aferida em repouso, por meio auscultatório pré e pós-treinamento, e os dados foram
tratados pela ANOVA two-way com a utilização do post hoc de Scheffé, quando necessário (p<0,05), para comparação intra e
intergrupos. O resultado intragrupo para GT demonstrou uma redução de 11,4% na PA sistólica (PAS) (p<0,05) e de 5,3% na PA
diastólica (p>0,05). O GC não apresentou modificações na PA (p>0,05). Ao compararmos GC e GT, houve diferença significativa
na PAS em situação de pós-treinamento, não ocorrendo o mesmo nas outras medidas. Em conclusão, o programa EBE realizado
durante 4 meses promoveu redução da PA após um programa de exercícios em hipertensos não-medicados.
Effect of a physical training program developed in the Espaço Bem Efecto de un programa de entrenamiento físico desarrollado en el
Estar of CENPES/PETROBRAS/PETROBRÁS in the blood pressure in espacio bien estar del CENPES/ PETROBRAS, en la PRESIÓN ARTERIAL
no-medicated hypertense en hipertensos no-medicados
The lifestyle modification has been recommended for the prevention, treatment La modificación en el estilo de vida está siendo recomendada para la prevención,
and control of the blood pressure (BP). The objective of the present experiment tratamiento y control de la presión arterial (PA). El objetivo del presente experi-
was to verify the behavior of the BP after four months of training in the Espaço mento fue a verificar el comportamiento de PA tras 4 meses de entrenamiento
Bem Estar (EBE) of CENPES/PETROBRÁS, in no-medicated hypertense individuals. en el Espacio Bien Estar (EBE) CENPES/PETROBRAS, en individuos hipertensos
Concluded the experiment 57 individuals, sedentary for at least one year, divided no-medicados. Concluyeron el experimento 57 individuos, sedentarios hay al
in 2 groups: training group (TG) and control group (GC). All the subjects passed menos un año, divididos en 2 grupos: grupo entrenamiento (GT) y grupo con-
by a physical evaluation and TG accomplished 3 weekly sessions in alternate days, trol (GC). Todos los sujetos pasaron por una evaluación física y el GT realizó
totaling 48 sessions with medium duration of 60 minutes. Initially, the aerobic 3 sesiones semanales en días alternos, totalizando 48 sesiones con duración
training was accomplished, that consisted of 25 minutes among 50 and 70% of media de 60 minutos. Inicialmente, era realizado el entrenamiento aeróbico, que
reservation’s heart frequency. The strength training was accomplished in 2 series, consistía de 25 minutos entre 50 y 70% de la frecuencia cardiaca de reserva.
varying between 8 and 12 repetitions. The flexibility training was accomplished by El entrenamiento de fuerza fue realizado en 2 series, variando entre 8 y 12
the method of static prolongation. The BP was checked in rest, by auscultatory way repeticiones. El entrenamiento de la flexibilidad fue realizado por el método de
before and post training, and the data were treated by the ANOVA two-way with estiramiento estático. La PA fue contrastada en reposo, por medio auscultatorio
the use of the Scheffé post hoc when necessary (p<0,05), for intra and intergroups pre y tras-entrenamiento, y los datos habían sido tratados por la ANOVA two-
comparison. The intragroup result for TG demonstrated a reduction of 11,4% way con la utilización del post hoc de Scheffé cuando necesario (p<0,05), para
in the systolic BP (SBP) (p<0,05) and of 5,3% in the diastolic BP (p>0,05). CG comparación intra e intergrupos. El resultado intragrupo para GT demostró una
didn’t present modifications in the BP (p>0,05). When compared CG and TG, reducción de 11,4% en PA sistólica (PAS) (p<0,05) y de 5,3% en PA diastólica
there was significant difference in the SBP in post-training situation, not happen- (p>0,05). El GC no presentó modificaciones en PA (p>0,05). Al comparemos GC
ing the same in other measures. In conclusion, the program EBE accomplished y GT, hubo diferencia significativa en la PAS en situación de tras-entrenamiento,
for four months promoted reduction of the BP after a program of exercises in no ocurriendo lo mismo en las otras medidas. En conclusión, el programa EBE
no-medicated hipertenses. realizado durante 4 meses promovió reducción de PA tras un programa de
ejercicios en hipertensos no-medicados.
Keywords: hypertension, blood pressure, strength training, resisted exercises, Palabras clave: hipertensión, presión arterial, entrenamiento de fuerza, ejer-
hypotension. cicios resistidos, hipotensión.
INTRODUÇÃO
O processo de industrialização e urbanização verificado nos sendo o exercício físico um componente essencial na aborda-
últimos 50 anos fez com que a modernidade também exibisse gem não-farmacológica5-7. Estudos mostram que apenas uma
a sua face sombria. Atualmente, a população moderna tem única sessão de exercício físico provoca redução da PA em
adotado um estilo de vida basicamente caracterizado por falta relação aos valores pré-exercício5,8,9. Além disso, parece que a
de atividade física, má alimentação, sedentarismo e estresse. A resposta crônica da hipotensão pós-exercício (HPE), resultante
inatividade física está diretamente associada à ocorrência de da exposição freqüente e regular a sessões de exercício, tem
uma série de distúrbios orgânicos, o que comumente têm-se demonstrado ser mais duradoura e com maior magnitude do
denominado doenças hipocinéticas1,2. Essas doenças são enfer- que uma sessão isolada de exercício4,7,10. Portanto, para que
midades apresentadas por homens e mulheres contemporâneos, o efeito da HPE tenha importância clínica, é interessante que a
que podem se agravar muito devido ao estilo de vida sedentário, mesma permaneça abaixo dos valores normais pelo maior tempo
caracterizado pelo mínimo esforço físico nas atividades diárias. possível subseqüente ao esforço. Segundo Martins et al.6, estudos
As principais doenças que podemos destacar, são: obesidade, relataram redução da PA em pacientes hipertensos por períodos
hipertensão, diabetes, dislipidemia, osteoporose e doenças de 12,7 horas, 16 horas e 22 horas no pós-exercício. Contudo,
cardiovasculares2,3. ainda são relativamente escassos os estudos que investigaram
de forma longitudinal a HPE após um programa de exercícios
A hipertensão arterial é classificada como a principal doença em hipertensos não-medicados.
cardiovascular nas nações industrializadas. Sua exposição crônica
está associada à lesão de órgãos-alvo, sendo considerada um O programa Espaço e Bem Estar (EBE) de atividades físicas,
dos principais fatores de risco para doença arterial coronariana, desenvolvido no CENPES/PETROBRAS, é composto por pro-
acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca, doença gramas de exercícios que contêm atividades de características
arterial periférica e insuficiência renal crônica1,4. No Brasil, em aeróbica, de força e de flexibilidade, organizadas metodolo-
1998, a prevalência de hipertensão arterial na população de gicamente no mesmo padrão de treinamento, tendo como
adultos encontrava-se entre 15 e 20%4. principal amostra indivíduos hipertensos. Assim, o objetivo
do presente estudo foi verificar o comportamento da PA após
A modificação no estilo de vida tem sido recomendada para 4 meses de treinamento no EBE em indivíduos hipertensos não-
a prevenção, tratamento e controle da pressão arterial (PA), medicados.
Na tabela 3 são demonstrados os valores obtidos nas duas Em relação ao comportamento da PA após o exercício físico,
medidas (pré e pós-treinamento) do VO2máx, da composição a maioria dos estudos investigaram o efeito hipotensor após
corporal, da massa corporal, das circunferências corporais e das o trabalho aeróbico3,4,10. Em relação a este tipo de atividade,
dobras cutâneas do GT. parece que a HPE poderia ser influenciada pela massa mus-
cular envolvida, mas não haveria influência da intensidade ou
do volume de trabalho9. Já em relação ao exercício de força,
Tabela 3 – Medidas do GT poucos estudos foram direcionados à investigação da HPE5,11.
pré- pós- Nesse sentido, têm-se informações conflitantes em relação ao
treinamento treinamento comportamento da PA pós-esforço, como redução, aumento ou
nenhuma alteração significativa6. Quando são combinadas as 3
massa corporal (kg) 89,8 ± 16,3 87,1 ± 16,9@
atividades (aeróbica, força e flexibilidade), os dados disponíveis
% de gordura 23,4 ± 7,3 21,5 ± 6,5@ na literatura ainda são escassos.
RC/Q 0,93 ± 0,07 0,92 ± 0,07
Em um experimento realizado por Martins et al.6, que acompanha-
-1
VO2máx (ml.kg .min ) -1
33,7 ± 9,5 37 ± 8,9α@
ram durante 12 horas a PA em pessoas hipertensas, medicadas
IMC (kg.m-2) 29 ± 4,7 28,2 ± 3,8 e submetidas a uma sessão de exercícios de força, aeróbico e
α - Diferença significativa em relação à situação de pré-treinamento de flexibilidade, verificou-se que ao término da 8ª semana de
@ - Diferença significativa em relação à situação de pós-treinamento no GC treinamento não foram identificadas diferenças significativas
em relação aos valores de repouso de ambos os grupos. Entre-
tanto, o comportamento da PA no GT assumiu uma tendência
A comparação intergrupos demonstrou diferença significativa da à redução, enquanto o GC exibiu um caráter oscilatório ao
massa corporal, % de gordura e VO2, na fase de pós-treinamento. longo da monitorização. Todos os sujeitos foram avaliados por
O mesmo não ocorreu na situação de pós-treinamento nas outras monitorização ambulatorial da PA durante 12 horas em ciclos
medidas verificadas. Em situação de pré-treinamento nenhuma de 2 horas. Dessa maneira, a conclusão dos autores foi que um
diferença significativa foi observada em nenhuma das medidas programa de exercícios parece provocar HPE, mesmo em sujeitos
avaliadas (tabela 3). hipertensos medicados.
dados reportam uma redução ainda mais prolongada, como 16 2. Simão R. Fisiologia e prescrição de exercícios para grupos especiais. São Paulo:
Phorte; 2004.
horas16 e 22 horas13,14.
3. Pescatello LS, Franklin BA, Fagar R, Farquhar WB, Kelley GA, Ray CA. American Col-
lege of Sports Medicine position stand: exercise and hypertension. Med Sci Sports Exerc.
Os nossos achados, no presente experimento, mostraram que 2004;36:533-53.
ocorreu uma redução da PA em repouso. A nossa medida, 48 4. III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial. Rev Bras Clin Ter. 1998;24:231-72.
horas após a última sessão, foi realizada dessa maneira para 5. Simão R, Fleck S, Polito MD, Monteiro WD, Farinatti PTV. Effects of resistance training
evitarmos o efeito agudo hipotensivo pós-esforço. Os sujeitos intensity, volume, and session format on the postexercise hypotensive response. J Strength
Cond Res. 2005;19:853-8.
exibiram reduções clinicamente importantes da PA por um período
6. Martins ACS, Nogueira BRML, Couto FVP, Nicolau MSB, Pontes FL, Simão R, et al. Com-
de 48 horas após a última sessão. portamento da pressão arterial 12 horas após uma sessão de exercícios em hipertensos
treinados. Rev Bras Fisiol Exerc. 2004;3:199-207.
Em uma publicação de Simão et al.5, abordou-se que, embora 7. Gobbi S, Zago AS, Barbosa GO, Costa JLR, Zanesco A, Ferreira L, et al. Influência da
o efeito hipotensivo na PA pós-esforço tem sido atribuído prin- prática regular de atividade física sobre o percentual de gordura corporal e pressão
arterial sistólica em idosos. Rev Bras Fisiol Exerc. 2004;3:182-90.
cipalmente a uma diminuição da resistência vascular, as causas
fundamentais dessas diminuições ainda não foram elucidadas. 8. Maior AS, Alves CL, Ferraz FM, Menezes M, Carvalheira S, Simão R. Efeito hipotensivo
dos exercícios resistidos realizados em diferentes intervalos de recuperação. Rev SOCERJ.
É improvável que o efeito hipotensivo pós-esforço seja resultado 2007;20:53-9.
da termorregulação ou trocas no volume sangüíneo. Embora 9. Forjaz CLM, Santaella DF, Rezende LO, Barretto ACP, Negrão CE. Exercise duration
alguns dados sugiram diminuições na atividade do nervo eferente determines the magnitude and duration of post-exercise hypotension. Arq bras cardiol.
1998;70:99-104.
após o esforço, resultados contraditórios são encontrados em
10. Pescatello LS, Fargo AE, Leach CN, Scherzer HH. Short-term effect of dynamic exercise
humanos e em ratos de laboratórios. Talvez os principais fatos on arterial blood pressure. Circulation. 1991;83:1557-61.
relacionados a essa questão da atividade do nervo eferente sejam 11. Santos EMR, Simão R. Comportamento da pressão arterial após uma sessão de
os barorreceptores e hormônios específicos, mas investigações exercícios resistidos. Fit Perf J. 2005;4:227-31.
futuras ainda são necessárias. 12. Wallace JP, Bogle PG, King BA, Krasnoff JB, Jastremski CA. The magnitude and dura-
tion of ambulatory blood pressure reduction following acute exercise. J Hum Hypertens.
1999;13;361-6.
Significantes evidências em estudos realizados com roedores
13. Brandão Rondon MU, Alves MJ, Braga AM, Teixeira OT, Barreto AC, Krieger EM, et al.
sugerem que níveis de serotonina centrais podem influenciar Post exercise blood pressure reduction in elderly hypertensive patients. J Am Coll Cardiol.
no efeito hipotensivo. Porém, recentes estudos em humanos 2002;39:676-82.
não suportam essas evidências em modelos animais. Outros 14. Wiley RL, Dunn CL, Cox RH, Hueppchen NA, Scott MS. Isometric exercise training
lowers resting blood pressure. Med Sci Sports Exerc. 1992;24:749-54.
fatores locais parecem mediar o efeito hipotensivo, dentre os
quais os hormônios circulantes. A mensuração de hormônios 15. Cléroux J, Kouame NG, Nadeau A, Coulombe D, Lacourciere Y. Baroreflex regulation
of forearm vascular resistance after exercise in hypertensive and normotensive humans.
com potenciais vasodilatadores, como a adrenalina, adenosina, Am J Physiol. 1992;263:H1523-31.
potássio e atrial natriuréico peptídeo, foram reportados como 16. Thompson PD, Crouse SF, Goodpaster B, Kelley D, Pescatello L. The acute versus the
aumentando ou se mantendo inalterados durante o efeito chronic response to exercise. Med Sci Sports Exerc. 2001;33:438-45.