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.Airá era um Orixá no fundamento de Xangô, Airá era considerado um de seus servos
de confiança e segundo uma de suas lendas, Airá, tentou instaurar um atrito entre Oxalá
e Xangô, graças a isso Airá deve ser tratado de forma diferente de Xangô e seu
assentamento deve ficar na casa de Oxalá. Por essa rivalidade com Xangô, não se deve
coloca-los juntos jamais na mesma casa nem podendo Airá ser posto em cima do pilão
de duas bocas, pois provoca a ira de Xangô. Sua cor é o branco e seus ornamentos são
prateados.
Airá é um Orixá relacionado a família do raio mas é relacionado ao vento, seu nome
pode ser traduzido como redemoinho. Redemoinho é o fenômeno que mais se
assemelha a um furacão em território Africano. Airá então pode ser louvado como a
divindade que rege o encontro dos ventos.
Em território africano, não existe registro ou relatos de pessoas regidas ou iniciadas para
ele, onde ele é cultuado, o culto predominante é o de Nanã e de Obaluaiê, já que Savé é
uma região que fica em território Jeje.
Pouco se sabe sobre o nascimento ou surgimento de Airá e por esta razão muitos
atribuem sua filiação à Iemanjá e a Oraniã, assim como Xangô e Aganjú.
No Brasil, Airá é visto, erroneamente, como uma qualidade de Xangô. Airá é visto
como uma face mais amena e pacífica de Xangô. Hoje, com a falta de conhecimento,
muitos zeladores preferem iniciar uma pessoas de Airá do que de Xangô, na realidade
está cada vez mais difícil encontrarmos filhos de Xangô, em sua grande maioria, os
filhos de Xangô estão sendo iniciados em outros Orixás.
Ao contrário de Xangô, Airá não é um Orixá rei nem possui o carácter, punitivo e
colérico. Este caráter mais ameno, pode ser evidenciado em uma de suas cantigas que
diz:
"A chuva de Airá apenas limpa e faz barulho como um tambor".
Airá zela pela paz e pela justiça de forma incondicional, ao contrário de Oxalá que
representa a paz, Airá a estabelece e possui uma ação muito mais direta em sua
imposição, Airá pode ser qualificado como um sentinela de Oxalá, ou melhor, de
Oxalufã e seria ele, Airá, quem estabelece sua vontade.
Apesar de Ayra ser considerado por muitos como uma qualidade ou caminho de Sango,
não é. Ayra era, como contam alguns itans, um dos súditos de Sango, talvez um de seus
escravos, que a pedido do rei, acompanhou Obatala até sua casa após uma visita às
terras de Sango. Obatala, apreciando muito a companhia de Ayra, requisitou que ficasse
para sempre com ele. Ayra passa a viver com Obatala se adaptando aos gostos do Pai.
Diferentemente de Sango, Ayra não come azeite de dende e veste-se totalmente de
branco. Três caminhos de Ayra são conhecidos, Igbona, Intile e Adja Osi, sendo o
primeiro mais ligado a Sango e tem como símbolo as fogueiras.
Ayra é o verdadeiro Oba Koso, tendo ganhado este posto em certa ocasião, quando
Sango o pede para buscar a coroa que estava guardada na casa dos mortos por Oya, que
temia por seu amado em ocupar o trono de Koso. Para entrar na casa dos mortos, Ayra
se utiliza do Agere, que consistia em uma vasilha contendo bolas de algodão embebidas
com dendê em chamas que Ayra tirava uma a uma e as colocava na boca, com isso ele
conseguia enxergar e localizar Ade Baiyani, que era o nome desta coroa, ela só podia
ser carregada sobre a cabeça, e ela escolhia em que cabeça queria ficar, Ayra após levar
Ade Baiyani até Sango, este não consegue suporta-la sobre sua cabeça, e a devolve a
Ayra, neste momento o povo de Koso ovaciona Ayra como o novo rei. Cantando:
Oba Koso Ayra e
Ayra inan
Oba Koso Ayra e
Ayra inan
Títulos de Airá
Intilè - veste branco e é ligado a Yemanja Sobà e Osun Karé. Foi ele quem carregou
Oxàlúfan nos ombros e tentou coloca-lo contra Xàngó , dizendo que ele teria passado os
sete anos na prisão por culpa de seu filho, Xàngó. Por isto existe uma kizila entre Ayrà e
Xàngó , não podendo Ayrà ser posto em cima do pilão , pois provoca a ira de Oxàlúfan.
Come com Exù. É o filho rebelde de Obatalá. Ayrá Intilé foi um filho muito difícil,
causando dissabores a Obatalá.
Um dia, Obatalá juntou-se a Oduduwa e ambos decidiram pregar uma reprimenda em
Intilé. Estava Intilé na casa de uma de suas amantes, quando os dois velhos passaram à
porta e levaram seu cavalo branco. Ayrá Intilé percebeu o roubo e sabedor que dois
velhos o haviam levado seu cavalo predileto, saiu no encalço. Na perseguição gritava e
esbravejava quando encontrou Obatalá. O velho não se fez de rogado, gritou com Intilé,
exigindo que se prostrasse diante dele e pedisse sua benção. Pela primeira vez Airá
Intilé havia se submetido a alguém. Airá tinha sempre ao pescoço colares de contas
vermelhas. Foi então que Obatalá desfez os colares de Airá Intilé e alternou as contas
encarnadas com as contas brancas de seus próprios colares.
Obatalá entregou a Intilé seu novo colar, vermelho e branco. Daquele dia em diante,
toda terra saberia que ele era seu filho. E para terminar o mito, Obatalá fez com que
Airá Intilé o levasse de volta a seu palácio pelo rio, carregando-o em suas costas. Neste
caminho apresenta características que dá a seus filhos um ar altivo e de sabedoria,
prepotente, equilibrado, intelectual, severo, moralista, decidido.
Igbóna - É um título de Airá que significa floresta de fogo, faz referência ao ato da
fogueira em que Airà a acendia em reverência a Xangô. É considerado o pai do fogo,
tanto que na maioria dos terreiros, no mês de junho de cada ano, acontece a fogueira de
Airá, rito em que Ibonã dança acompanhado de Iansã, pisando as brasas incandescentes.
Conta o mito que Ibonã foi criado por Dadá, que o mimava em tudo o que podia. Não
havia um só desejo de Ibonã que Dadá não realizasse. Um dia Dadá surpreendeu Ibonã
brincando com as brasas do fogão, que não lhe causavam nenhum dano. Desde então,
em todas as festas do povoado, lá estava Airá Ibonã, sempre acompanhado de Iansã,
dançando e cantando sobre as brasas escaldantes das fogueiras. Neste caminho
apresenta características onde seus filhos têm espírito jovem, perigoso, violento,
intolerante, mas são brincalhões, alegres, gostam de dançar e cantar.
Módè, Mófè ou Álàmódè - É um título de Ayrá. É considerado o pai das águas quentes,
pouco difundido nos terreiros, este Aiyra vem acompanhado de Osun Iyponda. Conta o
mito que Modé vestiu-se de Osun para ser confundido durante uma busca para prende-
lo, sendo assim, geralmente ele é cultuado sendo "Iyagba", seus animais são fêmeas e
seus filhos geralmente mais delicados, ardilosos que choram com facilidade para
chegarem ao seu alcance.
Ele era muito brigão. Só vivia em atrito com os outros. Ele é que era o valente. Quem
resolvia tudo era ele.
Xangô Baru era muito destemido, mas, quando ele comia quiabo, que ele gostava muito,
lhe dava muita sonolência. Dormia o tempo todo! E pôr isso perdeu muitas contendas,
pois quando ele acordava, já tudo tinha acabado.
- Então, fique por sua conta. Não me incomode mais! Será que a gula vai vencê- lo? -
perguntou o oluô. Xangô baru foi para casa e pensou :
- Eu não vou me deixar vencer pela boca. Vou voltar lá e perguntar a ele o que faço,
pois o quiabo é meu prato predileto.
E saiu no caminho da casa do oluô, que já sabia que ele voltaria. Lá chegando, disse:
- Aqui neste mocó tem o que você tem que comer. São estas folhas. Você temperando
como quiabo, mata sua fome – lhe mostrou o oluô.
- Sim – respondeu o oluô – Tem duas qualidades, uma se chama oyó e a outra, sanã. São
tão boas e gostosas quanto o quiabo.
Xangô Baru foi para casa e preparou o refogado, e fez um angu de farinha e comeu.
Gostou tanto, e se sentiu tão bem e tão fortalecido, e não teve mais aquele sono
profundo. Aliás, ele se sentiu bem mais jovem e com mais força. E não ficou com a
sonolência que o quiabo lhe dava. Aí ele disse:
OLORUM .
.Há um lugar definido, fora desta terra, para onde os falecidos vão. O nome utilizado
para este lugar é Òrun que, num sentido geral, significa Céu, o lugar onde Olódùmarè,
os Òrísàs e os espíritos diversos habitam. A denominação de todos esses habitantes do
Òrun é "araòrun", cuja principal diferença entre eles e os "araàiyé", habitantes da terra, é
a de que aqueles não necessitam do "èmí", a respiração, para sobreviver, no dizer de J. E
dos Santos “o òrun é todo espaço abstrato paralelo ao àiyé; outros alegam que o òrun é
muito longe, sendo pôr isso que o recém – morto tem que adquirir energia, consumido a
comida e a bebida oferecidas durante as cerimônias fúnebres, antes da ida para a longa
viagem. Para uma conclusão lógica da localização do òrun, devemos nos fixar no
seguinte: se Olódùmarè é a origem desta alma que continua a viver depois da morte, ela
forçosamente irá regressar à sua origem. O òrun é dividido em outros tantos espaços
para acomodar todos os tipos de espíritos. São em número de nove, segundo as
tradições, embora tenhamos conseguido relacionar apenas oito, com denominações
diversas e condizentes com suas finalidades: "Òrun Rere", o bom lugar, para aqueles
que foram bons durante a vida: "Òrun Àlàáfíà", o local de paz e tranquilidade; "Òrun
funfun", òrun do branco e da pureza; "Òrun Bàbá Eni", o òrun do pai das pessoas;
"Òrun Aféfé", o espaço da aragem, local de correção, onde os espíritos permanecem e
tudo é corrigido, e lá ficarão até serem reencarnados; "Òrun Ìsàlú ou Àsàlú", local onde
são realizados os julgamentos; "Òrun Àpàádi" o òrun dos “cacos”, do lixo celestial, das
coisas quebradas, impossíveis de reparar e de serem restituídas à vida terrestre através
da reencarnação; "Òrun Burúkú", o mau espaço, quente como pimenta e destinado às
pessoas más. Alguns dos òrun relacionados se equivalem pela finalidade que possuem,
os mortos são encaminhados a um desses espaços após o fator decisivo do julgamento
divino, pois, na realidade, o julgamento ocorre durante todo o tempo de vida da pessoa
na terra. As divindades contrárias ao mal acompanham as pessoas em sua vida diária e
dão a sua punição; o juízo final fica a cargo de Olòdùmarè, decidindo quais são os bons
e quais são os maus, e os encaminham para os respectivos òrun. O julgamento é baseado
nos atos praticados na terra e devidamente registrados no orí inú, que retorna para
Olódùmarè. A maneira como é feito julgamento pode ser entendida através do seguinte
provérbio:
"Todas as coisas que fazemos na terra
Damos conta, de joelhos no céu".
Somente quando se é absolvido pôr Olódùmarè é que se tem a oportunidade de reunir –
se com seus ancestrais, podendo – se reencarnar e renascer dentro da mesma família. Se
alguém porém é condenado vai para o Òrun Àpáàdi, onde irá sofrer com maus. Quando
finalmente for libertado, não terá oportunidade de viver uma vida normal e será
condenado a errar, pôr lugares solitários, comendo alimentos intragáveis. Isto é
lembrado em trechos de palavras de despedida a uma pessoa que morreu:
"Não coma centopéias
Não coma vermes
Coma as coisas boas que ele come no céu
Coma com ele"
OXALUFAN X CRIAÇÃO .
Olodumaré entregou a Oxalá o saco da criação para que ele criasse o mundo. Essa
missão, porém, não lhe dava o direito de deixar de cumprir algumas obrigações para
outros Orixás e Exu, aos quais ele deveria fazer alguns sacrifícios e oferendas.
Era o vinho de palma também conhecido como ("emu" e "oguro") o qual Oxalá bebeu
intensamente. Bêbado, não sabia onde estava e caiu adormecido. Apareceu então Olófin
Odùduà, que vendo o grande Orixá adormecido roubou-lhe o saco da criação e, em
seguida, foi à procura de Olodumaré para mostrar o que achara e contar em que estado
Oxalá se encontrava.
Olodumaré disse então que “se ele está neste estado vá você a Odùduà, vá você criar o
mundo”. Odùduà foi então em busca da criação e encontrou um universo de água, e aí
deixou cair do saco o que estava dentro. Era terra. Formou-se então um montinho que
ultrapassou a superfície das águas.
Então ele colocou a galinha cujos pés tinham cinco garras. Ela começou a arranhar e a
espalhar a terra sobre a superfície da água; onde ciscava, cobria a água, e a terra foi
alargando cada vez mais, o que em yoruba se diz Ile`nfê, expressão que deu origem ao
nome da cidade Ilê-Ifê.
Odùduà ali se estabeleceu, seguido pelos outros Orixás, e tornou-se, assim, rei da terra.
Quando Oxalá acordou, não encontrou mais o saco da criação. Despeitado, procurou
Olodumaré, que por sua vez proibiu-o, como castigo a Oxalá e toda sua família, de
beber vinho de palma e de usar azeite de dendê. Mas como consolo lhe deu a tarefa de
modelar no barro o corpo dos seres humanos nos quais ele, Olodumaré insuflaria a vida.
.Filho de Yemonja e Oxalá é o deus da caça e vive nas florestas, onde moram os
espíritos dos antepassados. Tem a virtude de dominar os espíritos da floresta.
Na África era a principal divindade de Ilobu, onde era conhecido pelo nome de Irinlé ou
Inlé, um valente caçador de elefantes. Conduziu seu povo de Ilobu a guerra e os ensinou
a arte de guerrear, permanecendo até hoje nesta cidade.
Ocupa um lugar de destaque nos Candomblés em Salvador, isto porque é o patrono de
todos os terreiros tradicionais.
Oxóssi é o único Òrixá que entra na mata da morte, joga sobre si uns pós-sagrados,
avermelhados, chamados Arolé, que passou a ser um de seus dotes. Este pó o torna
imune à morte e aos Eguns.
Sendo ele um rei, carrega o iruquere (espanta moscas) que só era usado pelos reis
africanos, pendurado no saiote.
QUALIDADES
ÍBUÀLÁMÒ –
ÍNLÈ –
DANA DANA –
AKUERAN –
OTIN –
KÒIFÉ -
KÀRÉ –
AJÉNÌPAPÒ-
Odé Orélúéré-
Poderemos encontrar ainda: Odé Etetú; Odé Edjá, Odé Isanbò, Odé Ominòn, Odé
Oberun’Já.
OTOKÁN SÓSÓ – Embora muitas vezes seja citado como uma qualidade, não é
qualidade, é um oríkì que significa o caçador que só tem uma flecha . Ele não precisa de
mais nenhuma flecha porque jamais erra o alvo.
Título que Oxóssi recebeu ao matar o pássaro de Ìyámi Eléye. Não fazendo parte do rol
dos caçadores que possuíam várias flechas, Oxóssi era aquele que só tinha uma flecha.
Os demais erraram o alvo tantas vezes quantas flechas possuíam, mas, Oxóssi com
apenas uma flecha foi o único que acertou o pássaro de Ìyámi, ferindo-o com um tiro
certeiro no peito.
Por essa razão é que ele não recebe mel, pois o mel é um dos elementos fabricado pelas
abelhas, que são tidas como animais pertencentes a Oxum, mas, também às Ìyámi
Eléye.
Então, é èèwò (proibição) para Oxóssi. Por essa razão também, é que se dá para Oxóssi
o peito inteiro das aves, como reminiscência desse ìtàn.
Òosalufon,com seu Cajado ou Opaxoro, separou a Terra e o céu, que, no início dos
tempos, estavam no mesmo nível de existência. Os três pratos, que fazem parte do
cajado, simbolizam a sua supremacia sobre os mundos dos seres humanos, dos Eguns
(paralelo) e dos Orixás.
O pássaro, que está pousado na ponta do Opaxoro, é um mensageiro que faz a ligação
entre esses mundos. Com esses pratos, Oxalá carrega e distribui o alimento sagrado para
todos os seres humanos e encantados. Os PINGETES, que estão presos a eles,
simbolizam os presentes que lhe eram ofertados nos diferentes lugares por onde passou
em suas caminhadas pelo mundo.Esse orixá,Assim como Nanan,é bem-vindo em todos
os reinados.
.• 1º Obi é um fruto sagrado e insubstituível, sem o qual não faz nenhuma obrigação,
nenhuma confirmação de que os Orixás aceitaram as oferendas. A resposta de afirmação
do Obi é fundamental para que os ritos possam continuar.
O obi de quatro gomos, o único que deve ser ofertado aos Orixás, chama- se obi abatá.
Cada fruto é composto de dois casais, e quando um fruto tiver mais de dois casais,
sepOaram- se os gomos excedentes e dividem- se em comunhão com todos os presentes
ou oferecem a Exu. Os gomos são delineados pela natureza, portanto não pode haver
nenhum tipo de intervenção, sobretudo de faca, para dividir o obi. Apenas nos rituais de
Xangô o obi deve ser substituído pelo orobô.
O obi deve ser jogado sobre água, em pratos brancos ou diretamente no chão. Seus
gomos devem ser jogados de uma só vez, ou seja, simultaneamente. Não se pode
manipular os gomos, nem jogar os que cairam fechados sozinhos.
Se a caída não for favorável, deve- se lançar todos os gomos novamente. Só uma caída
autoriza de imediato a continuidade dos ritos ou confirma a aceitação. Quando todos os
gomos do obi caem abertos, isto é, com sua parte interna para cima, é o sínal de que
Orixá abençoaram e/ ou aceitaram o rito.
Obi O!
• 2º Obi, obi d’água ou simplesmente obi. Todos estes nomes referem-se à mesma
obrigação, voltada exclusivamente a confortar uma pessoa em um caso de doença,
desemprego, distúrbios nervosos, ou até mesmo para um iniciado dentro dos preceitos
do axé orixá, quando por um motivo ou outro, o mesmo não pode passar por um bori.
Esta obrigação tem seu nome em referência a uma fruta africana, o obi, sem a qual nada
podemos realizar para os orixás, no tangente a sacrifícios, uma vez que é com ela que
conversamos com nossos antepassados para sabermos se aquele santo está satisfeito
com a obrigação, etc.
Esta obrigação é a mais simples realizada dentro do axé, no tangente a dar de comer a
uma cabeça. Muito embora algumas pessoas achem que ela não tem maiores
fundamentos junto com o orixá, mas já presenciamos muitos casos que foram resolvidos
com esta. Trata-se neste ato, de confortar o anjo da guarda da pessoa, seja consulente ou
filho de santo, ocasião onde alimentamos Oxalá, no intuito de pedir a misericórdia para
aquele filho que se encontra em tal sofrimento.
Claro que esta obrigação não cria uma obrigatoriedade do cliente com o santo, ela
apenas serve como um modo de resolver de imediato uma questão. Existem aqueles que
após o obi, sentem-se tão felizes que optam por penetrar de forma mais profunda dentro
de nossa religião.
Nesta obrigação são utilizados: ebô (canjica de Oxalá), ebô yá (a mesma canjica, porém
preparada para Yemanjá e de forma diferente), o obi (que é uma fruta de origem
africana), frutas variadas, vela e uma quartinha com água além da comida do santo da
pessoa. Em alguns casos é utilizado um pombo branco.
Antigamente quando uma pessoa desejava entrar para os preceitos de uma casa, ou seja,
ser filho ou filha de santo naquele templo, ou mesmo quando seu orixá exigia feitura, os
zeladores tinham por hábito realizar esta como uma primeira obrigação, para daí então
estudar a pessoa, ver se ela realmente tinha amor e dedicação para com os orixás, e até
mesmo para se certificarem de que era realmente sua casa e sua mão que aquele santo
desejava, e não apenas uma empolgação material ou espiritual. Agiam assim, pois que,
nesta época não existia o fato de uma pessoa fazer santo com um e tomar obrigações
com outro, provocando um rodízio ridículo nas roças de santo como as que se vê hoje
em dia.
Para uma pessoa se iniciar, existia todo um processo de identificação dele com a casa e
vice-versa. Era uma época em que a fidelidade de um iniciado era realmente levada a
sério, assim como a do sacerdote com relação a seus iniciados. E o obi, era justamente a
obrigação que funcionava como uma espécie de flerte, vulgarmente comparando,
evitando constrangimentos futuros.
Hoje em dia, parece que esta fidelidade simplesmente evaporou-se com a fumaça dos
defumadores, pois que uma pessoa se inicia em uma casa e quando desencarna, traz uma
longa passagem de terreiro em terreiro. Claro que ainda existem aqueles que prezam a
fidelidade, mas são bem poucos nos tempos atuais.
Ser um iniciado é antes de tudo sermos fiéis a mão que alimenta nosso orixá, nosso anjo
da guarda, assim como ele é fiel a nosso zelador. Pertencermos ao axé orixá é antes de
tudo sermos humildes, desprovidos de arrogância e soberba, é seguirmos nosso destino
na certeza de que um ser tão puro e iluminado se dedica a zelar por nós e nossa vida
OYA - IANSÃ
Conta umas das lendas de Iansã, a primeira esposa de SÀNGÓ, teria ido, a seu mandato,
a um reino vizinho buscar 3 cabaças que estava com Obalúayé. Foi dito a ela que não
abrisse estas cabaças, as quais ela deveria trazer de volta a SÀNGÓ. Iansã foi e lá
Obalúayè recomendou mais uma vez que não deixasse as cabaças caírem e quebrarem e,
se isto acontecesse, que ela não olhasse e fosse embora. Iansã ia muito apressada e não
aguentava mais segurar o segredo. Um pouco mais à frente quebrou a primeira cabaça,
desrespeitando a vontade de Obalúayé. Saíram de dentro da cabaça os ventos que a
levou para o céus. Quando terminaram os ventos, Iansã voltou e quebrou a segunda
cabaça. Da segunda cabaça saíram os Eguns. Ela se assustou e gritou: Reiiii! Na vez da
terceira cabaça SÀNGÓ chegou e pegou para si, que era a cabaça do fogo, dos raios.
Ela tinha um temperamento ardente e impetuoso. Foi a única entre as mulheres de
SÀNGÓ que , no fim do seu reinado, o seguiu em sua fuga para Tapá. Quando ele
recolheu-se para baixo da terra em Cosso, ela fez o mesmo em Yiá.
Ogum foi caçar na floresta, como fazia todos os dias. De repente, um búfalo veio em
sua direção rápido como um relâmpago; notando algo de diferente no animal, ogum
tratou de segui-lo. O búfalo parou em cima de um formigueiro, baixou a cabeça e despiu
sua pele, transformando-se numa linda mulher. Era yansan, coberta por belos panos
coloridos e braceletes de cobre. Yansan fez da pele uma trouxa, colocou os chifres
dentro e escondeu-a no formigueiro, partindo em direção ao mercado, sem perceber que
ogum tinha visto tudo. Assim que ela se foi, ogum se apoderou da trouxa, guardando-a
em seu celeiro.
Depois foi a cidade, e passou a seguir a mulher até que criou coragem e começou a
cortejá-la. Mas como toda mulher bonita, ela recusou a corte. Quando anoiteceu ela
voltou à floresta e, para sua surpresa, não encontrou a trouxa. Tornou à cidade e
encontrou ogum, que lhe disse estar com ele o que procurava. Em troca de seu segredo (
pois ele sabia que ela não era uma mulher e sim animal ), yansan foi obrigada a se casar
com ele; apesar disso, conseguiu estabelecer certas regras de conduta, dentre as quais
proibi-lo de comentar o assunto com qualquer pessoa.
Chegando em casa, ogum explicou suas outras esposas que yansan iria morar com ele e
que em hipótese alguma deveriam insultá-la. Tudo corria bem; enquanto ogum saía para
trabalhar, yansan passava o dia procurando sua
trouxa.
Desse casamento nasceram nove filhos, o que despertou ciúmes das outras esposas, que
eram estéreis. Uma delas, para vingar-se, conseguiu embriagar ogum e ele acabou
relatando o mistério que envolvia yansan. Logo que o marido se ausentou, elas
começaram a cantar: "Você pode beber, comer e exibir sua beleza, mas a sua pele está
no depósito, você é um animal." Iansã compreendeu a alusão. Depois que yansan
encontrou então sua pele e seus chifres. Assumiu a forma de búfalo e partiu para cima
de todos, poupando apenas seus filhos.
Decidiu voltar para a floresta, mas não permitiu que os filhos a acompanhassem, porque
era um lugar perigoso. Deixou com eles seus chifres e orientou-os para, em caso de
perigo deveriam bater os chifres um contra o outros; com esse
sinal ela iria socorrê-los imediatamente. E por esse motivo que os chifres estão
presentes nos assentamentos de yansan/oya.
Então, fez sua Dança dos Ventos, que já havia seduzido vários reis. Contudo, sem
emocionar ou sequer atrair a atenção de Obaluaê. Incapaz de seduzí-lo, Iansã procurou
apenas aprender, fosse o que fosse. Assim dirigiu-se ao homem da palha:
-"Aprendi muito com os outros Reis, mas só me falta aprender algo contigo."
- "Quer mesmo aprender, Oya? Vou te ensinar a tratar dos Mortos".
Venceu seu medo com sua ânsia de aprender e com ele descobriu como conviver com
os Eguns e a controlá-los. Partiu então para o Reino de Sangô, pois lá acreditava que
teria o mais vaidoso dos reis e aprenderia a viver ricamente. Mas ao chegar ao reino do
Rei do Trovão, Iansã aprendeu mais do que isso, aprendeu a amar verdadeiramente e
com uma paixão violenta, pois Sangô dividiu com ela os poderes do raio e deu à ela seu
coração. O fogo das paixões, o fogo da alegria e o que queima. Ela é o Orisá do Fogo.
... o sopro
Osogyian estava em guerra, mas a guerra não acabava nunca, tão poucas eram as armas
para guerrear. Ògún fazia as armas, mas fazia lentamente. Osogyian pediu a seu amigo
Ògún urgência, mas o ferreiro já fazia o possível. O ferro era muito demorado para se
forjar e cada ferramenta nova tardava como o tempo. Tanto reclamou Osaguiã que Oyá,
esposa do ferreiro, resolveu ajudar Ògún a apressar a fabricação.
Oyá se pôs a soprar o fogo da forja de Ògún e seu sopro avivava intensamente o fogo e
o fogo aumentado de calor derretia o ferro mais rapidamente. Logo Ògún pode fazer
muitas armas e com as armas Osogyian venceu a guerra. Osogyian veio então agradecer
Ògún. E na casa de Ògún enamorou-se de Oyá. Um dia fugiram Osogyian e Oyá,
deixando Ògún enfurecido e sua forja fria. Quando mais tarde Osogyian voltou à guerra
e quando precisou de armas muito urgentemente, Oyá teve que voltar a avivar a forja. E
lá da casa de Osogyian, onde vivia, Oyá soprava em direção à forja de Ògún. E seu
sopro atravessava toda a terra que separava a cidade de Osogyian da de Ògún. E seu
sopro cruzava os ares e arrastava consigo pó, folhas e tudo o mais pelo caminho, até
chegar às chamas com furor atiçava. E o povo se acostumou com o sopro de Oyá
cruzando os ares e logo o chamou de vento. E quanto mais a guerra era terrível e mais
urgia a fabricação das armas, mais forte soprava Oyá a forja de Ògún. Tão forte que às
vezes destruía tudo no caminho, levando casas, arrancando árvores, arrasando cidades e
aldeias.
O povo reconhecia o sopro destrutivo de Oyá e o povo chamava a isso tempestade.
... respeito
Oiá desejava ter filhos, mas não podia conceber Oiá foi consultar um babalaô e ele
mandou que ela fizesse um ebó. Ela deveria oferecer um carneiro, um agutã, muitos
búzios e muitas roupas coloridas. Oiá fez o sacrifício e teve nove filhos. Quando ela
passava, indo em direção ao mercado, o povo dizia:
"Lá vai Iansã".
Lá ia Iansã, que quer dizer mãe nove vezes.E lá ia ela toda orgulhosa ao mercado vender
azeite-de-dendê. Oiá não podia ter filhos, mas teve nove, depois de sacrificar um
carneiro, e em sinal de respeito por seu pedido atendido Iansã, a mãe de nove filhos,
nunca mais comeu carneiro.
Certa vez houve uma festa com todas as divindades presentes. Omulu-Obaluaê chegou
vestindo seu capucho de palha. Ninguém o podia reconhecer sob o disfarce e nenhuma
mulher quis dançar com ele. Só Oiá, corajosa, atirou-se na dança com o Senhor da
Terra. Tanto girava Oiá na sua dança que provocava vento.E o vento de Oiá levantou as
palhas e descobriu o corpo de Obaluaê. Para surpresa geral, era um belo homem. O
povo o aclamou por sua beleza.
Obaluaê ficou mais do que contente com a festa, ficou grato e em recompensa, dividiu
com ela o seu reino. Fez de Oiá a rainha dos espíritos dos mortos. Rainha que é Oiá
Igbalé, a condutora dos eguns.
Oiá então dançou e dançou de alegria para mostrar a todos seu poder sobre os mortos,
quando ela dançava , agitava no ar o iruquerê, o espanta-mosca com que afasta os eguns
para o outro mundo.
Rainha Oiá Igbalé, a condutora dos espíritos
INICIAÇÃO NO CANDOMBLÉ .
.INICIAÇÃO KETÚ
Para saber se uma pessoa precisa ser iniciada ou não, no Candomblé, o Babalorixá ou
Iyalorixá consulta o jogo de búzios no merindilogun, onde terá as respostas. Essa é uma
das formas de saber. A outra é quando uma pessoa vai assistir uma festa de candomblé e
entra em transe profundo. Esse transe é chamado de "Bolar no Santo" é a declaração em
público do Orixá que quer a iniciação de seu filho, nesse caso o babalorixá vai consultar
o jogo de búzios para saber qual é o Orixá e suas condições, se pode esperar ou se caso
de urgência. Normalmente são feitos acordos com os Orixás para que aguardem até o
filho ter condições financeiras e de férias para poder se recolher.
Barco de Iaô
A iniciação pode ser de apenas um Iaô ou pode ser de muitos. Nesse caso recebe o nome
de "Barco de Iaô". Quando entra para fazer o santo sozinho será chamado de Dofono
(homem) ou Dofona (mulher), por ser o primeiro e único.
Já houve barcos com quinze Iaôs, mas isso é muito raro, pois implica muito trabalho e
dedicação de muitas pessoas para cuidar dos Iaôs. A maioria das casas recolhe no
máximo três ou quatro. Existem Orixás que não podem ser iniciados junto com outros;
nesse caso será recolhido sozinho.
Iniciação
Nos 3 primeiros dias a pessoa ficará descansando e fazendo os ebós de limpeza, que
serão apurados no jogo de búzios e tomando banhos com folhas sagradas e abô. Ficará
recolhida no roncó (quarto específico de recolhimento) próximo ao peji e será feita a
primeira obrigação, que é o bori. No final dos três dias é suspenso o bori e passa para as
fases seguintes.
Saída de Iaô
No final tem a festa que é chamada de "saída de iaô", essa festa é dividida em 4 partes:
A primeira saída no barracão é interna sem a presença do público, somente os membros
da casa estarão presentes. Pode ter variação de uma casa para outra ou de nação para
nação, uns fazem três saídas públicas outros fazem quatro.
Na primeira saída pública o Iaô sai do roncó (nome dado ao quarto onde ficam
recolhidos) para o barracão todo vestido de branco, essa saída é em homenagem a
Oxalá, trás na testa uma pena vermelha chamada Ekodidé e na parte superior da cabeça
o adoxu e pintado com efun, ele vem acompanhado de sua mãe pequena, da Iyalorixá e
todos que ajudaram na feitura. Nessa saída o Iaô deverá saudar a porta, os atabaques o
Axé do centro do barracão onde estar o fundamento da casa e a Iyalorixá. Em seguida é
recolhido para mudar de roupa.
A quarta e última saída o Orixá vem todo paramentado com roupas e ferramentas
características de cada Orixá, para dançar e ser homenageado por todos os presentes. No
final canta-se para Oxalá e a festa é encerrada.
XANGÔ AGANJÚ .
Olubajé
Diz uma lenda que Xangô, um Rei muito vaidoso, deu uma grande festa em seu palácio
e convidou todos os Orixás, menos Obaluaiyê, pois as suas características de pobre e de
doente assustavam o rei do trovão. No meio do grande cerimonial todos os outros
Orixás começaram a notar a falta do Orixá Rei da Terra e começaram a indagar o
porquê da sua ausência, até que um deles descobriu de que ele não havia sido
convidado.
Todos se revoltaram e abandonaram a festa indo a casa de Obaluaiyê pedir desculpas,
Obaluaiyê recusava-se a perdoar aquela ofensa até que chegou a um acordo; daria uma
vez por ano uma festa em que todos os Orixás seriam reverenciados e este ofereceria
comida a todos desde que Xangô comesse aos seus pés e ele aos pés de Xangô.
Nascia assim a cerimónia do Olubajé. Porém, existem diversas outras lendas que narram
outros motivos sobre o porquê de Xangô e Ogum não se manifestarem no Olubajé.
Em seguida, três dos iniciados mais antigos servem as comidas, colocando um pouco de
cada uma das comidas existentes no banquete sobre uma folha de mamona que serve de
prato. Todos os presentes na cerimónia devem comer um pouco de cada uma das
comidas, utilizando apenas as mãos para comer, e é também obrigatório que todos
dancem ao som das músicas e cantigas que vão sendo entoadas em louvor do Orixá.
Todos batem palmas pausadamente – paó – saudando Obaluayê. Com voz forte e cheia
de entusiasmo, esta frase melodiosa ecoa:
• 2º - A PALAVRA OLUBAJÉ
Tive o privilégio de nascer e me criar dentro de terreiros de candomblés não
convencionais escutando os dialetos tribais que eram ágrafos, tonais e expressados em
muito por elisão. O yoruba não é um idioma e sim um dialeto com muitas variações,
dependendo da região que o mesmo é falado, sendo assim, o muito que já foi escrito
deve-se aos colonizadores do continente africano e sempre levando em conta à
gramática dos colonizadores. Fico pasmo quando algumas pessoas intituladas de
zeladores de orixá dizem sobre o significado da palavra olubajé. Para eles olubajé quer
dizer podridão. Agora peço que pensem nisso e respondam a vocês mesmos: acreditam
que os escravos e seus descendentes iriam durante cem anos fazerem peregrinações,
esmolarem, enfim todo tipo de sacrifício para reverenciar os seus deuses com um
banquete de alimento podre ou de componentes para despachos e limpeza de corpo?
Pensem nisso!
Ademola Adesoji, em seu livro “Ifá-A Testemunha do Destino e o Antigo Oráculo da
Terra de Yorubá”, escreve: bàjé = estragar.
Dr. Eduardo Fonseca Junior, grande mestre africanista e historiador em seu “Dicionário-
Yorubá (Nagô) Português”, escreve: bàjé = corromper, estragar (agora como corruptela
afro-brasileira); bájé = menstruação e bajé = comer com alguém. Assim como outros
escritores fidedignos, nenhum coloca olubajé como elemento de despacho como alguns
acreditam e fazem questão de passar para os incautos.
Então, vejamos:
Bajé = convite para comer.
Olu = senhor, mestre, dono.
OLUBAJÉ = CONVITE PARA COMER COM O MESTRE.
Termo original: OLU BA NI JÉ = O MESTRE NOS CONVIDA PARA COMER.
Com a elisão o I é derrubado, ficando apenas OLUBANJÉ = COMENDO COM O
MESTRE.
Portanto, é um absurdo o que alguns “babaloríxás, yálorixás” que por total ignorância
praticam e o que é pior estimulam seus seguidores a transformarem as oferendas dos
orixás, alimentos sagrados em elementos de despachos como infelizmente assistimos
nos dias de hoje, vemos alguns “zeladores”, ekedes, ogans, yawos, etc. no ritual de
Obaluayê, de Omolu receberem este mesmo alimento sagrado envolvido na folha de
mamona e em vez de comerem um pouco que seja passarem no corpo como se
estivessem se descarregando, ou ainda olharem para seus “zeladores” com ar de
deboche e depositarem as mesmas no cesto das sobras. Meu Deus! Essas pessoas não
têm respeito nem a si próprio nem a casa que está visitando, não tem respeito ao culto
que dizem praticar e muito menos aos orixás! Ou são totalmente ignorantes, ou então se
fazem este ritual em seu barracão as comidas são tão malfeitas, tão mal temperadas,
com total falta de higiene, que se torna impossível de ser degustada, servindo apenas de
elemento de limpeza de corpo, como vemos por aí.
Este era e é um momento mágico, que todos esperam, o qual tem início logo pós as
louvações com cânticos e danças de todos os outros orixás. Neste instante começa o
ritual do OLUBAJÉ. Quando então, ao som dos atabaques, vão saindo do quarto de
santo onde as oferendas estão arriadas e imantadas pela energia dos orixás e pelos orins
e àduras (cânticos e rezas). Em primeiro lugar vem a yalorixá ou babalorixá com seu
adjá puxando o cortejo; em segundo uma yabá carregando uma ou duas esteiras, em
terceiro um filho (a) de santo carregando o balaio contendo as folhas de mamona, e em
seguidas, filhos e filhas, ekedes, ogans, etc. trazendo sobre suas cabeças as panelas,
oberós ou bacias contendo os alimentos, os quais devem ser depositados sobre as
esteiras estendidas no centro do barracão, para serem distribuídas a todos iniciados ou
não. Após comerem o que desejarem junta as pontas da folha que pode estar totalmente
vazia ou não e rodam em torno da cabeça três vezes, para só então depositarem dentro
de outro balaio que já está a disposição para este fim, pois tudo faz parte das oferendas e
logo no amanhecer do dia seguinte irá ser entregue às águas ou as matas.
Outra fato importante, é que o cântico, tanto da saída do quarto com os alimentos sobre
a cabeça, como enquanto se alimentam até o final da distribuição dos mesmos quando
se dá por encerrado este ritual deve ser este:
E ajeun bó
Olubajé ajeun bó
OMOLÚ = EPIDEMIA .
.Nanan, esposa de Orixalá, gerou e deu à luz a um filho. Sua criação não foi perfeita,
nascendo uma criança doente, com muitas chagas recobrindo seu pequeno corpo. Ela
não conseguia imaginar que maldição era aquela, que trouxe de suas entranhas uma
criatura tão infeliz!
Sentindo-se impossibilitada de cuidar daquela criança, pois mal conseguia olhar para
ela, resolveu deixá-la perto do mar. Se a morte a levasse seria melhor para todos.
Yemonjá, que estava saindo do mar, viu aquele pequeno ser deitado nas areias da praia.
Ficou olhando por algum tempo, para ver se havia alguém tomando conta dele, mas
ninguém aparecia. Então, a grande divindade das água foi ver o que estava acontecendo.
Quando chegou mais perto, pôde compreender que aquela criança tinha sido
abandonada por estar gravemente enferma. Sentindo uma imensa compaixão por aquela
pobre criatura, não pensou em mais nada, a não ser em adotá-lo como a um filho.
Com seu grande instinto maternal, Yemonjá dispensou a ele todo o carinho e os
cuidados necessários para livrá-lo da doença. Ela envolveu todo o corpo do menino com
palhas, para que sua pele pudesse respirar e, assim, fechar as chagas.
Obaluayê cresceu e continuou usando aquele tipo de roupa, e ninguém, a não ser sua
querida mãe, tinha visto seu rosto. Era um ser austero e misterioso, provocando olhares
curiosos e assustados de todos. Ninguém conseguia imaginar o que se escondia sob
aquelas palhas.
Oyá, certa vez, o encarou, pedindo que descobrisse seu rosto, pois queria desvendar, de
uma vez por todas, aquele mistério. Obaluayê, sem lhe dar a menor atenção, negou-se a
fazê-lo. Ela, que nunca se deu por vencida, resolveu enfrentá-lo. Usando toda sua força,
evocou o vento, fazendo voar as palhas que o protegiam.
Quando a poeira assentou, Oyá pode ver um ser de uma beleza tão radiante, que só
poderia ser comparado ao sol. Nem mesmo ela, como orixá, conseguia erguer os olhos
para ele. Assim, todos entenderam que aquele mistério deveria continuar escondido.
Uma outra lenda nos mostra que esse poderoso orixá, em suas andanças pelo mundo,
pode presenciar o desenrolar de muitas guerras. Os povos que Olorun criou e deu vida
brigavam por um pedaço de terra. Muitas pessoas morriam, para que seus líderes
pudessem conquistar extensões maiores para seu reinado. Os limites, para esses
guerreiros, eram insuperáveis, e as guerras não tinham mais fim. Obaluayê não entendia
o motivo destas guerras, já que Olorun havia criado a terra para todos.
As lutas traziam muita dor e destruição, e ninguém mais sabia dar o devido valor à vida
humana. Os homens só pensavam em seus interesses materiais.
Obaluayê, indignado com essa situação, resolveu mostrar a eles que a vida é o maior
tesouro que alguém pode ter.
O poderoso orixá traçou, então, com seu cajado, um grande círculo no chão, no centro
dos conflitos. Colocou dentro dele todo tipo de doença existente. Todo guerreiro, que
por ali passasse, iria contrair algum tipo de doença.
De fato, foi o que aconteceu. Muitas pessoas adoeceram, inclusive os líderes dos
exércitos. Só isso conseguiu por fim às guerras.
As doenças se transformaram em epidemias, deixando populações inteiras à beira da
morte.
Um babalawô revelou o mau presságio, pedindo a todos que refletissem sobre o que
estava acontecendo, por culpa deles próprios. Obaluayê havia mandado essas mazelas
para a terra, a fim de mostrar que, enquanto temos saúde e uma vida plena, não devemos
nos preocupar excessivamente com coisas materiais. Desta vida nada se leva, a não ser o
conhecimento e a experiência que acumulamos.
Assim, os que aceitaram esses desígnios e fizeram oferendas, conforme explicou o
babalawô, conseguiram livrar-se de suas enfermidades e restabelecer sua dignidade.
Mas, infelizmente, nem todos agiram assim.
Talvez, por isso, existam tantos povos africanos vivendo do mesmo jeito há milhares de
anos, tentando não se desligar da natureza.
Sendo emanações diretas de Olorun, os Orixás Funfun são portanto, os seres mais
elevados da escala da existência, encontrando-se no mesmo nível dos Arcanjos do
cristianismo. Estas Divindades Criadoras são encabeçadas por Obatalá, O Senhor das
Vestes Brancas, também conhecido como Orixánlá ou Oxalá. Oxalá é o Sopro Divino, a
primeira manifestação individualizada de Olorun que é a vida una, eterna, invisível, mas
onipresente; sem princípio e sem fim; inconsciente, mas Consciência Absoluta;
incompreensível, mas realidade existente por si mesma. Oxalá o Sopro-Divino, provoca
o movimento que fecunda e energisa o Eterno em repouso no Oceano-do-não-ser, onde
tudo existe sem forma e, ocasionando o surgimento da diferenciação, desperta o Plano
Divino, onde jaz oculta a elaboração de todos os seres e coisas futuras.
* Òrìsà funfun - divindades que tem como rito comum o uso de elementos e oferendas
de cor branca ou derivada, e tabus alimentares ou outros, por vezes também
semelhantes. Quando não, são também assim chamados por fazerem parte do processo
da criação - que são os casos, principalmente de Odùduwà e Òrúnmìlà.
* O rito e o culto dos Òrìsà funfun, são tão semelhantes ou quase idênticos, que em
vários casos é difícil distinguir se se trata de divindades distintas ou são qualidades de
Òbàtálá, ou ainda, somente nomes diferentes do mesmo Òbàtálá. Pode, por estes ou
outros inúmeros fatores, que o levaram a ser o mais conhecido Òrìsà do panteão,
obviamente, sem se esquecer da sua real importância na gênesis yoruba.