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elaborada por
Jéssica Franciéli Fritzen
COMISSÃO EXAMINADORA
AGRADECIMENTOS
"No coro, o importante não é a cena em si, mas a cena que está dentro de cada
cantor" (Marcos Leite)
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RESUMO
ABSTRACT
This document presents the results of a research conducted within the Grupo
Vocal CE Canta - UFSM regarding voice tuning problems influenced by
psychological factors. The research's main goal was to investigate the relationship
between self-efficacy beliefs (Bandura, 1986) to sing in tune and the activities in choir
practice. The specific goals were: a) to observe the changes in the choir member's in
their self-efficacy to sing in tune during the choir rehearsals; b) to understand how the
self-efficacy beliefs are developed in choir practice; c) to find out which choir activities
contribute to better self-efficacy beliefs to sing in tune; and d) to identify which
moment the choir member feels more confident to sing in tune. The methodology
was a case study (Gil, 2009). The data was collected through semi-structured
interviews (Manzini, 2004) and their analysis was performed using the Discursive
Textual Analysis method (Moraes, 2003). The theoretical framework regarding vocal
tuning was based on the studies by Sívlia Sobreira (2003). As main results, we can
point out that promoting good experiences in choir practice, commenting positively
about the singer's progress, presenting good vocal models and managing a stress-
free and, mainly, respect-driven space make the singer feel more confident regarding
their abilities to sing in tune.
Keywords: music; choir practice; self-efficacy, vocal tuning.
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELA
LISTA DE ANEXOS
Carta de Cessão........................................................................................................71
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................. 13
3. METODOLOGIA .............................................................................. 33
3.1 Grupo Vocal CE Canta – UFSM ..................................................................... 33
3.2 Participantes................................................................................................... 35
6. REFERÊNCIAS ................................................................................ 67
12
7. ANEXOS .......................................................................................... 70
13
1. INTRODUÇÃO
O canto coral constitui-se como um espaço de educação musical e de
integração social. As pessoas buscam este tipo de espaço por várias razões, sejam
elas sociais, emocionais, religiosas, de lazer ou de aprendizagem vocal e musical.
Cada indivíduo que procura um coral traz consigo suas experiências de vida, suas
vivências musicais, suas ânsias, seus medos e sua vontade de aprender. O regente
que conduz um coral precisa ser muito mais que uma pessoa que conduz a música
com suas mãos: precisa ser acima de tudo, um educador musical, um ser humano
sensível, pois este lida com um instrumento musical bastante delicado: a voz. Os
ensaios de canto coral são, portanto, “permeados por emoções, significados e
vivências que compõem a relação estabelecida entre professor e aluno.” (BRAGA,
2009, p. 14).
É importante a preocupação do regente com seus coralistas para com a
motivação em cantar, para que eles acreditem ser capazes de cantar afinado e não
tenham medo de mostrar sua voz ou de errar. Mathias, ao falar sobre os aspectos
sociais e as relações humanas referentes à atividade coral, acredita que as “pessoas
que se reúnem em um grupo, têm as mais variadas motivações. Portanto, é
importante refletir sobre os comportamentos, motivos e necessidades do ser
humano” (MATHIAS, 1986, p. 22). Para que se tenha um bom desempenho artístico
que envolva pessoas com as mais variadas diferenças, é necessária a criação de
atividades que motivem seus coralistas, o estabelecimento de critérios e objetivos e
uma relação saudável entre aluno e educador/regente. Além disso, as atividades
estabelecidas no canto coral contribuem para a formação musical, apreciação
artística e para a motivação pessoal dos coralistas, independentemente da sua
classe social, religião, faixa etária e cultura.
Para entender o motivo do meu interesse nas crenças de autoeficácia e nas
atividades do canto coral, acredito ser importante relatar um pouco sobre minha
trajetória musical. Desde os 10 anos, fui coralista e cantora de música popular.
Atualmente, estudo canto lírico e Licenciatura Plena em música e atuo como
educadora musical e regente em programas de música da UFSM.
Meu interesse pelo canto foi sempre muito grande desde pequena. Sempre
sonhei em ser cantora. Esse sonho persistiu, mas com muitos medos de errar a
letra, a melodia, de desafinar, de alguém rir de mim e não ser uma boa cantora.
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representava através dos gestos (para cima ou para baixo). O outro colega tinha que
emitir a nota que o colega anterior lhe deu e cantar um semitom ou tom para o
próximo colega.
Sobreira (2003) cita que as possíveis causas para desafinação vocal podem
estar relacionadas às influências dos fatores psicológicos; às dificuldades com
modelos a serem imitados; ao acompanhamento instrumental; ao texto e ritmo; aos
fatores culturais e à percepção melódica e harmônica. Pouco conhecimento sobre
técnica vocal, o feedback negativo de ser chamado de ‘desafinado’ e a pouca
vivência musical também estão atrelados à desafinação vocal. Sobreira também cita
que a
exporem suas vozes. A inexperiência musical também faz com que uma pessoa
procure um coral para poder estar em um ambiente coletivo. Da mesma forma,
existem coralistas que buscam o coral, como forma de lazer. Há uma grande
necessidade do regente em estimular estes coralistas a acreditarem no seu
potencial de cantar. Segundo um levantamento feito no estudo sobre desafinação
vocal de Sobreira (2003),
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Os adultos que buscam pelo coral amador procuram este espaço por
diversos motivos entre os quais para aprender a cantar. Muitos destes adultos
possivelmente não tiveram a oportunidade de ter aulas de música e aprender sobre
música. O coral amador acaba sendo um espaço que proporciona a formação
musical dos coralistas. De acordo com Figueiredo,
Assim sendo, o regente estabelece uma relação com seus coralistas que vai
muito além dos seus gestos para indicar as entradas da música. O regente acaba
atuando também como um educador musical. Mathias (1986) aponta um conjunto de
saberes que o regente deve dispor sobre seu desempenho perante o coro, entre
eles: saber musical, habilidade de ensaiar repertório, técnica em aprimorar a
emissão e a afinação da voz, habilidade específica para perceber o canto coletivo,
espírito de liderança para conduzir o grupo e acolhimento diante da diversidade dos
coristas. Pode-se perceber também que dentre estes saberes, encontram-se alguns
20
que não são necessariamente musicais. Dias complementa também que o regente
deve considerar para o processo de ensino e aprendizagem não somente a técnica
vocal e o repertório, mas também que o regente “tenha em conta as condições
emocionais, sociais e culturais dos seus cantores ou educandos, no sentido de
ajudá-los a encontrar o melhor resultado possível” (DIAS, 2011, p. 106)
coralistas. Uma das abordagens que vem sendo empregada na prática coral é a que
utiliza o corpo, a voz e o movimento. Zanatta considera
1
Participei da Oficina Barbatuques- Módulo I. Barbatuques é um núcleo artístico e pedagógico que há
cerca de 15 anos pesquisa e desenvolve uma linguagem pioneira de percussão corporal: a expressão
musical através dos inúmeros sons que podem ser produzidos pelo corpo humano.
http://www.barbatuques.com.br/br/
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Definir o que é afinação e desafinação não é tarefa fácil, pois pode-se defini-
las sob vários pontos de vista, como por exemplo, o acústico e o cultural. A afinação
de uma pessoa está diretamente relacionada à integração que esta tem com a
música de sua cultura e ao sistema de temperamento a que está inserida.
Metaforicamente, afinar designa harmonia, acordo, ajuste e adequação a um
sistema. Sobreira, em seu estudo sobre desafinação vocal relata que
por não ter tido a oportunidade de cantar na infância; neste caso, essas
pessoas nem chegariam a sofrer o trauma da classificação equivocada,
porém sua falta de experiência na infância seria o gerador da desafinação.
(SOBREIRA, 2003, p. 118)
Teoria social cognitiva foi denominada assim por Albert Bandura desde 1977
para explicar o comportamento humano e como os modelos sociais desempenham
no funcionamento humano. Essa teoria promove uma visão do funcionamento
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Comportamento humano
De acordo com a Teoria social cognitiva, "os indivíduos formam suas crenças
de autoeficácia interpretando informações de quatro fontes principais" (PAJARES;
OLAZ, 2008, p. 104):
experiências de êxito: é a interpretação do resultado de um comportamento
anterior do indivíduo. As experiências de sucesso em uma tarefa aumentam
as estimativas de autoeficácia e as de fracasso tendem a diminuí-la.
experiências vicariantes: é a observação e a comparação de competências de
uma tarefa realizada por outras pessoas.
persuasão verbal: são os julgamentos verbais feito por outras pessoas sobre
o indivíduo. É a percepção que as pessoas têm sobre as capacidades do
indivíduo. Também está atrelado ao encorajamento verbal que uma pessoa
faz para o ser humano.
estados fisiológicos: os estados fisiológicos como a ansiedade, a fadiga, a
depressão, a calma e o entusiasmo afetam diretamente para diminuir ou
aumentar a percepção da autoeficácia ao realizar alguma tarefa, pois estes
estados estabelecem uma relação íntima com o indivíduo.
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Logo, ao determinar se a tarefa foi realizada com êxito ou não, o indivíduo irá
fazer comparações com os resultados obtidos em outras tarefas semelhantes. A
partir dessa avaliação do resultado obtido, o indivíduo poderá sentir emoções e
expectativas que o impulsionam para a realização de novas tarefas ou impedi-lo de
realizar novas ações semelhantes a estas atividades.
A motivação desse indivíduo poderá ser interna ou externa. A motivação
interna, chamada de intrínseca “refere-se à escolha e realização de determinada
atividade por sua própria causa, por esta ser interessante, atraente ou, de alguma
forma, geradora de satisfação” (GUIMARÃES, 2004, p. 37). Já a motivação externa,
chamada de motivação extrínseca “é aquela que vem de fora do indivíduo, está fora
do seu controle e pode ser representada por prêmios e elogios dos pais, pares e
professores”. (SCHNEIDER, 2011, p.29)
Segundo a teoria de atribuição de causalidade, o fracasso ou o sucesso
podem ser atribuídos ao lócus da causalidade, controlabilidade e da estabilidade. É
através destas dimensões que “é possível avaliar o quanto o indivíduo está imerso
em seu próprio processo de aprendizado e o quanto se sente agente dele ou alheio
a ele” (SCHNEIDER, 2011, p. 29). A primeira dimensão que se refere à localização
da causa pode ser interna ou externa. Podemos citar a capacidade e o esforço como
causas internas e a sorte como causa externa. A segunda dimensão diz respeito ao
controle que o indivíduo tem ou não sobre a causa, como por exemplo, o esforço
31
que o indivíduo precisa fazer para realizar uma tarefa em pouco ou muito tempo
(interno) e a sorte, que não se pode controlar (externo). Schneider lembra ainda que
“as dimensões do lócus e da controlabilidade não são interdependentes, ou seja,
uma causa pode ser interna e incontrolável, assim como pode ser externa e
controlável” (SCNHEIDER, 2011, p. 29). A terceira dimensão é entendida como uma
causa estável ou instável, que se refere ao tempo de uma causa, como por exemplo,
aprender a cantar ou tocar um instrumento.
As crenças de autoeficácia influenciam as atribuições causais, pois as
crenças de autoeficácia podem aumentar ou diminuir conforme as atribuições de
causa, como por exemplo: “estudantes com alta eficácia têm tendência a atribuir o
falhanço a apoio insuficiente, no entanto, os estudantes com menor autoeficácia
atribuem as suas falhas à sua incapacidade.” (NEVES, 2012, p. 41)
Segundo Bzuneck, se os indivíduos atribuírem sucessos anteriores a
capacidade, “ter-se-ão incrementado suas crenças de autoeficácia mais do que no
caso de atribuição a esforço. Pelo contrário, a atribuição de fracassos a falta de
capacidade faz rebaixar as crenças de autoeficácia” (BZUNECK, 2009, p. 122). Para
a teoria social cognitiva, “um sucesso conquistado com grande esforço pode
contribuir menos para autoeficácia pelo fato de o aluno concluir que precisou de
muito esforço porque não possuiria as habilidades desejadas” (BZUNECK, J. A.
2009, p. 122). Já um sucesso com tarefas consideradas fáceis, são menos aptas a
promoverem crenças de autoeficácia do que tarefas que exigiram um esforço
sustentado, dado o seu grau de dificuldade.
Outro fator que é relevante para nossa investigação diz respeito a uma teoria
que abordasse a importância das relações entre os membros do grupo vocal, em
particular no que concerne ao respeito mútuo e união entre os coralistas. Para isso,
buscamos outra teoria relacionada à motivação para que se possa explicar porque a
união do grupo é uma fonte motivadora. A Teoria da Autodeterminação desenvolvida
por Edward Deci e Richard Ryan nos anos de 1970 tem como base a "concepção do
ser humano como organismo ativo, dirigido para o crescimento, desenvolvimento
integrado do sentido do self e para integração com as estruturas sociais"
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3. METODOLOGIA
programa tem como objetivo a formação musical dos integrantes das oficinas e a
formação pedagógico-musical dos alunos-bolsistas do curso de música/UFSM.
Criado em 2000 como uma oficina de educação musical da Pedagogia, a
oficina do Grupo Vocal CE Canta vem se estruturando desde então como uma
oficina de canto coral aberta aos estudantes da UFSM assim como a toda
comunidade santamariense. Atualmente, integram o grupo doze indivíduos com
idade entre 16 e 50 anos, os quais são alunos dos cursos de Arquitetura, Artes
Cênicas, Técnico em Alimentos, Letras e Sociologia; professores e mestrandos
(UFSM), assim como componentes da comunidade do município de Santa Maria
(professores e alunos da rede pública) que buscam o conhecimento musical e vocal.
Este grupo se caracteriza como um coral amador, pois não tem seleção de vozes e
é aberto a todos aqueles que querem cantar e participar de um grupo vocal.
A minha participação do Grupo Vocal CE Canta como bolsista iniciou no ano
de 2012 juntamente com o pianista Charles Tones. Desde então os ensaios do coral
ocorreram no Laboratório de Educação Musical (LEM) do Centro de Educação (CE)
da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e tinham como duração 1 hora e
45 minutos. Durante estes anos foram realizados retiros corais, onde passávamos
um dia inteiro ensaiando as músicas do coral. Os retiros possibilitaram o
entrosamento entre os coralistas, pois através deles, os coralistas passavam o dia
juntos e realizavam pirqueniques.
A prática coral deste grupo era dividida em três grandes momentos: técnica
vocal; atividades musicais de criação, de improvisação a partir do corpo, da voz e do
movimento; e o ensino do repertório. Os ensaios iniciavam com o relaxamento do
corpo através de massagem e alongamento do corpo. Após isso, realizávamos
exercícios de respiração e apoio diafragmático e exercícios de vocalises. Os
exercícios de vocalises eram relativos à conceitos musicais do repertório.
A segunda parte compreendia a abordagem corpo-voz-movimento em que
eram propostas atividades musicais de criação e improvisação musical através do
corpo, da voz e do movimento. A terceira parte era incorporada pelo ensino do
repertório, este estimulado a partir de várias formas: com o acompanhamento do
piano, com somente um modelo vocal e por gestos e movimentos.
Por ser um coral amador que não tem seleção de vozes, muitos participantes
chegavam para cantar no grupo com uma limitada extensão vocal e experiência
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3.2 Participantes
Tempo de Tempo de
Experiência musical experiência experiência no
Coralista Idade Gênero Profissão
anterior musical Grupo Vocal CE
anterior Canta
Coralista 1 26 feminino estudante violão 1 ano 3 anos
experiência musical na
Coralista 2 27 feminino atriz 2 anos 3 anos
escola
experiência musical na
Coralista 3 21 feminino estudante 3 anos 1 ano
escola
Coralista 4 26 masculino estudante violão 3 anos 2 anos
Coralista 5 38 masculino professor coral 9 meses 3 anos
Coralista 6 19 feminino estudante coral 3 anos 1 ano
O roteiro utilizado para as entrevistas deste trabalho (ver anexo) foi dividido
em blocos de questões relacionadas à crença de autoeficácia em cantar afinado
antes e durante o coral e suas atribuições causais, questões relacionadas à crença
de autoeficácia em cantar afinado e às atividades musicais e vocais do coral e
fatores externos ao coral.
Para a realização desta etapa utilizei como método analítico a análise textual
discursiva proposta por Moraes (2003). Busquei por este tipo de método, pois
possibilita novas compreensões com base na auto-organização. Segundo Moraes, a
análise textual discursiva
Portanto, a análise dos dados foi planejada e organizada em três partes, que
consistiram na:
1. Unitarização: nesta fase, as entrevistas foram examinadas
detalhadamente e fragmentadas em unidades de significados referentes
ao tema pesquisado.
2. Categorização: implicou em construir relações entre as unidades de
significados, “combinando-as e classificando-as no sentido de
compreender como esses elementos unitários podem ser reunidos na
formação de conjuntos mais complexos, as categorias.” (MORAES, 2003,
p. 191)
3. Captação do novo emergente: foi realizada a análise desencadeada dos
dois estágios anteriores, possibilitando assim, uma compreensão
renovada do todo.
O texto resultante desse processo representou “um esforço em explicitar a
compreensão que se apresenta como produto de uma nova combinação dos
elementos construídos ao longo dos passos anteriores.” (MORAES, 2003, p. 191)
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Sally está assistindo uma aula sobre como usar um novo programa gráfico.
Ela nunca tinha usado programas gráficos antes, por isso ela está nervosa e
insegura. Depois de poucos minutos de experiência com as mãos, ela se
achou capaz de esboçar algumas figuras facilmente, dessa forma, seu
senso de autoeficácia aumentou. Ela procurou ver se seus colegas estavam
sendo capazes de usar o programa para fazer esboços. Novamente, sua
autoeficácia cresceu por causa das seguintes razões, ela pensou: “Se eles
podem fazer, eu também posso fazer.” O instrutor caminha até o
computador que Sally está e diz “você é capaz de fazer isso”. Este voto de
confiança impulsionou a autoeficácia de Sally. Eventualmente, ela perdeu
40
cantar parece que é sempre uma coisa muito distante, mesmo que as
pessoas sejam cantantes nas suas vidas, ou sei lá... ou não tem confiança
de que “ai, eu posso cantar mesmo, posso cantar num grupo, posso
procurar um grupo vocal”. Parece que é uma coisa muito distante ou muito
de dom ou de... “ai, o iluminado, vai lá e canta!”. Ou as pessoas falam e
não... e essa coisa “ai, a minha voz não é bonita!” Mas não exercita, não
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Muitas vezes, as pessoas criam tensões no momento em que irão cantar para
alguém por medo de serem desaprovadas: "eu só fico um pouco eufórica e com
medo que as pessoas não gostem" (Coralista 3). Entre essas tensões podemos citar
o nervosismo, a ansiedade, a timidez, o sentimento de inferioridade, o medo e o
excesso de agitação. Essas tensões podem ser responsáveis pelo canto desafinado,
além de comprometer a concentração. Podemos ver nos relatos que no momento
em que a pessoa precisa cantar para alguém ou um público, ela fica nervosa,
eufórica e com medo que a pessoas desaprovem o seu canto:
Quando cê tem que se preocupar com o que cê vai mostrar, cê tem uma...
não sei se responsabilidade.... mas cê cria essa tensão de ter uma
responsabilidade pra mostrar o que você tem! Só que você fica inseguro
porque você cria toda uma tensão! “Ai, tem que mostrar o que eu tenho,
mas tem muita gente olhando!” A gente tem isso. O ser humano como um
todo! Tem essa coisa da aprovação, né, de querer... ainda mais quando cê
vai mostrar, cê quer que saia bem, cê quer que as pessoas aprovem aquilo
que cê vai mostrar! Só que essa insegurança, esse nervosismo que gera
antes, às vezes faz com que a gente não consiga se desempenhar tão bem
o que já tem! (Coralista 2)
Todos esses jogos de se soltar, de brincar, tanto que seja com o corpo, com
o som, com o ritmo, com música, com gesto, com máscara facial, com alto e
baixo, brincar... tudo isso! Eu acho que ajuda a gente a se soltar porque a
voz, ela faz parte do nosso corpo todo! Se a gente está travando em algum
lugar vai interferir! Então eu acho que a questão corporal tanto quando você
brinca com o som e o corpo, isso te dá uma confiança de entender sua voz
e de entender onde o som tá no corpo pra se soltar, porque se não, fica
aquele coro duro, que a gente sabe que tem muito coral que o pessoal só
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vai cantar, até consegue uma harmonia, o som tá bonito, mas tá todo
mundo duro! Então o som não vai mesmo! (Coralista 2)
Esse relato pode nos mostrar o quanto esta experiência é importante para o
coralista, pois ele mostra para ele mesmo que ele é capaz de cantar afinado,
aumentando a sua autoeficácia. Atrelado aos objetivos e metas, os coralistas
também relatam sobre os desafios e das facilidades de cantar algumas peças.
Dependendo do nível de dificuldade das peças eles têm suas crenças aumentadas
ou não:
Além do lúdico que tu traz pro grupo, eu acho que elas nos auxiliam com
essa coisa de ritmo, de tempo. (Coralista 1)
Então... é super importante que isso aconteça, até pra gente perceber o
ritmo. Quando a gente vai perceber, pra pegar esse ritmo no corpo, acho
que pra mim é bem melhor! Quando a gente se movimenta pra pegar esse
ritmo, porque eu pegar meio que na intuição ou de uma coisa cerebral é
meio complicado! Não rola! (Coralista 4)
Eu acho que [há] uma série de coisas que vão contribuindo. Melhorar a
escuta, a atenção na música, na melodia, perceber. Aqueles exercícios que
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a gente fazia de: “tá subindo ou tá descendo?”. Por que às vezes cê tava
achando que a nota tava subindo e era mais grave! Onde tá a escadinha?
Onde tá a nota? Então isso ajudou bastante! A percepção do som no corpo,
né. Que aí você consegue tanto de ritmo... acho que a percepção no corpo
ajuda muito pro ritmo, entender a pulsação da canção, como que tá o ritmo.
Mas de melodia também! Porque aquele que a gente faz “então o agudo tá
bem na cabeça – ta na na na” E tá aqui! “Ah, então o som vai vibrar mais
aqui na região do peito, vai vibrar mais baixo, mais grave.” Então esses
exercícios ajudam muito porque a gente vai tendo essa dimensão de quanto
mais é... altura do som, quanto mais... se tá grave ou tá agudo e isso ajuda
o ouvido a perceber se tá afinado ou não na hora de cantar a música.
(Coralista 2)
Eu acho que quando a gente ficou, acho que mais de um mês, né, na parte
do semitom, porque é uma coisa difícil de se entender. E é mais sutil, né,
pro ouvido, assim, quem tá cantando passa batido, né. Agora, cê parar e
perceber "ah, entre essa nota e essa tem uma nota, tem uma diferença que
preenche" e trabalhar essas percepções, nesse período que a gente ficou
trabalhando justamente pra poder ajudar a cantar as músicas. A gente não
ficou só na técnica, porque a gente tava com uma música que exigia essa
demanda... ajudou a gente a colocar na prática "ah, na hora que eu tô
cantando é aquilo que a Jéssica falou, então deixa eu pensar, vou ficar com
a mão aqui pra subir ou descer!". Então isso, eu acho que isso ajudou
porque a gente já tava vivendo, foi de encontro com a música e a técnica. E
aí ajudou a perceber, porque cê fala, " ah, então já tá aqui, isso que tem na
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gestos não são apenas eficazes quando se trata dos desafios associados à
técnica vocal; eles podem ser muito importantes para ajudar os cantores a
sentir e entender a música em um nível mais profundo e primordial. Os
cantores podem vivenciar em seus corpos os elementos estruturais ou as
qualidades expressivas da música: eles podem ver o que suas mãos estão
fazendo à medida que eles pintam a frase, eles podem sentir a tensão e o
relaxamento inerentes à linha melódica, enquanto eles representam estes
tipos de gestos, e eles podem conectar sua consciência cinestésica com o
som e suas mudanças sutis ou dramáticas. (WIS, 1999, p. 26 apud
BÜNDCHEN, 2005, p. 49).
Bem, eu acredito que quando a gente coloca o corpo junto dessa utilização
da voz, eu acho que deixa a coisa mais viva também, né. Porque no
momento que a gente vai cantar e mexe essas partes do corpo, acho que a
gente, de alguma forma, abre a voz também, entende? E se a gente prestar
48
Hum, eu acho que ter entendido as referências de voz, saber onde tá sua
região mais da voz assim. Que daí cê consegue se escutar mais, cê fala
"opa!". E aí quando você começa entender que a música, quando tem esse
conjunto que a gente faz, graves, contraltos, sopranos, tudo, cê começa a
perceber mais quando sobe, desce. Então como eu já tô nesse grupo,
minha região de cantar é mais aqui, se eu tô indo pra cá, é da soprano! Não
é minha vez! Então eu acho que isso ajuda! (Coralista 2)
[Meu momento mais confiante é] quando junta tudo, sabe porque? Porque
eu gosto é... quando a música ganha um espaço extra, que eu acho legal,
característico desse coral do que você tenta buscar trabalhar com a gente.
Porque como a ciranda quando veio junto com a dança, ou a... o tumba
quando a gente vai brincar com as expressões. Porque traz a coisa da
cena, é... pra mim é como se fosse um a mais pra preencher aquela música,
ou pra contar aquela música ou pra instaurar o espaço daquela música pro
público. Então pra mim tá relacionado também com o público ali, eu já
imagino mais o público. Porque eu tenho uma ação a mais pra fazer pra
ajudar a contar a música, então isso me traz pro público já. Então no ensaio
eu to fazendo, mas eu já to imaginando que o público também ta podendo
ver, a gente não tá só cantando! (Coralista 2)
Ali, até os “1 2 3 agudo”. Isso aí eu consigo! Parece que tem uma... quando
é apenas exercício de afinação ou aqueles só com a voz, parece que eu
coloco uma pressão em mim mesma “não posso errar, não posso errar!”. E
quando eu tô fazendo uma outra coisa junto parece que sai essa pressão e
a afinação ou o canto saem mais naturalmente. Não sei se tem alguma
coisa haver, mas eu acho que pode ser isso! (Coralista 6)
Ainda me vem que ainda não tá bem certo, mas como tá todo mundo ali eu
sinto uma segurança... que eu penso "Ah, se eu não tou conseguindo eu sei
50
que tem os outros do meu lado que eu consigo ouvir, né, e que eu consigo
chegar. Daí quando eu tou sozinha é mais difícil de chegar, você tem que
ter uma... Entende? Aí tem alguém que puxe... (Coralista 3)
Sobreira explica que existem pessoas que não conseguem cantar afinadas
sozinhas, mas conseguem seguir o contorno melódico dado por um modelo. Ela
explica também que não se deve acostumar o coralista a sempre imitar o colega,
mas de tentar tornar-se capaz de cantar sozinho também.
Sim, é... é eu acho que é o estar... junto, eu nunca fiz aula de canto sozinha
né, mas, eu acho que essa coisa da gente tentar perceber a voz do outro,
se ouvir. [O Coralista 2], por exemplo, é alguém que eu sempre tenho como
referência né, eu não sei se a nossa voz começou a se aproximar, essa
coisa de harmonia, por né... enfim, essa coisa da... gente ter... me
descoberto contralto, né. E de eu cantar mais com ela. Essa importância pra
afinação de ouvir né. (Coralista 1)
Acho que seria ter mais gente, ter mais homem. Porque é aquele negócio,
se tu tá sozinho, tu não tem referencial, a tua voz é diferente da voz da
professora. Tu não consegue se afinar, é mais difícil se afinar com ela. É
mesma coisa, se tu não tem ouvido da música, tu não consegue... é difícil.
Não adianta apertar nota no teclado, porque pra mim a nota no teclado
pouca coisa diz... porque eu não sei o que significa. O que é o teu normal?
O que é o teu grave, teu agudo? Se tu não tem referencial da voz
masculina, da tua própria voz né, é diferente tu pegar um baixo e um cara
que é tenor ou barítono, é diferente. A gente não tem referencial. Então
quanto mais pessoas tem, facilita tu encontrar teu referencial, do que é tua
voz na escala, e daí tu encaixar e conseguir graduar isso na tua voz na
escala. (Coralista 5)
Quando as pessoas não tem autoeficácia para cantar afinado, elas deixam de
acreditar no seu potencial e acabam se desprezando. Essa falta de autoeficácia faz
com que o indivíduo erre na hora de cantar, diminuindo ainda mais sua autoeficácia
para cantar afinado. O Coralista 6 relata como sentia-se antes de entrar no coral.
Às vezes eu cantava até baixo, às vezes nem saia minha voz pra cantar!
Sério! Eu ficava, sabe, Meu Deus do Céu! Eu erro na frente das pessoas!
Porque eu achava que eu sabia cantar, mas se eu errasse em qualquer
momento, isso tudo ia ser uma desaprovação pra mim mesma! Então se eu
errasse em qualquer coisa, na frente de qualquer pessoa, “Droga!” Não é
isso que eu achava! Ia ser digamos, um descontentamento pra mim e pra
quem estaria me ouvindo! (Coralista 6)
Assim, agora eu aprendi muitas coisas que eu não tinha noção nenhuma!
Eu cantava, até então. Eu cantei no coral de Igreja, só que eu forçava minha
garganta. Eu não sabia essa questão do apoio, né. Então lá, cantar era um
dom. Sabe, não tinha nada de técnica! Tanto é que a minha tia, ela canta
muito bem, ela também não tem técnica nenhuma! Mas ela canta bem! E
ela vai pros agudos com uma facilidade, e eu nunca conseguia cantar direito
a música Noite Feliz. E ela sempre me olhava “ai, tu não vai conseguir essa,
né!”. Daí... mas eu achava que eu conseguia! Daí eu forçava ao máximo
minha garganta!Mas agora, é nossa, facilita muito! (Coralista 6)
Bem... olha só, isso fez me lembrar de uma coisa, mudanças! Isso me fez
lembrar de antes de... acho que uns 5 anos atrás, eu pegava e cantava no
microfone em casa, gravava uns áudios. E eu sempre buscava notar né,
coisas da minha voz! E o que acontece?! Naquele tempo eu detestava
minha voz cantada, né. Eu sentia que tinha uma coisa presa, né. Eu não
conseguia libertar! Fazer com que a coisa crescesse, ganhasse verdade. E
eu percebi que depois que eu comecei a cantar no coral, eu consigo me
ouvir, ouvir essa minha voz aberta. E pra mim é uma coisa assim! “Nossa,
era isso que eu queria!”. Sabe, era isso que eu queria, e agora eu consegui!
Eu sei o caminho! Então nesse sentido pra mim foi fantástico né, de
perceber que a minha voz tinha ganhado aquele corpo maior, que eu de vez
em quando eu até conseguia, mas era uma coisa de lapso, só um
pouquinho! Agora não, agora a coisa é constante mesmo, tá grande! Tô
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Assim, podemos perceber dentro do Grupo Vocal como o fato das pessoas
terem as mesmas dificuldades aumenta a persistência para tentar cantar afinado: "E
também porque lá tem, eu to em contato com pessoas que também estão lá para
aprender, que erram também como eu e isso é uma forma acolhedora sabe"
(Coralista 6).
Ao observar colegas que têm dificuldades similares progredirem, faz com que
o coralista pense: "se ele pode, eu também posso cantar", aumentando as crenças
de autoeficácia para cantar afinado: "A conversa contribuiu, eu fiquei refletindo
vários dias, daí eu cheguei a conclusão... é, que todo mundo pode cantar, então eu
também, eu posso cantar na rua, eu posso cantar em casa, então eu vou cantar"
(Coralista 3).
O Coralista 4 também acredita que ele é fonte de observação dos colegas.
Por ele acreditar que consegue cantar afinado, ele acaba sendo uma inspiração para
os colegas que ainda têm algumas dificuldades.
Acho que é tudo fruto que vem dessa coisa coletiva, de quando a gente tá
junto de outras pessoas, quando as pessoas vêem que a gente tá
desenvolvendo bem, a gente tá conseguindo afinar, acho que de alguma
forma isso contagia os outros! Os outros também :"oh, tô entendendo!" Ah,
ele faz a boca de um jeito, ele respira antes né, As pessoas começam a
estudar a linguagem corporal do outro né, pra entender como reproduzir em
si mesmo! Então... acho que nesse sentido, as outras pessoas também me
contagiaram! Que estavam mais tempo, que conseguiam chegar lá com
precisão, com vigor! Então, nesse sentido eu acho que a confiança, ela
contagia todo mundo né, uma vez que a pessoa vê tu lá, concentrado pra
coisa! Acho que isso ajuda, a criar essa energia boa! (Coralista 4)
Sendo assim, observar como o colega coloca a voz e como ele afina acaba
sendo uma fonte de autoeficácia para cantar afinado, pois o coralista acredita que se
o colega que tem as mesmas dificuldades que ele tem consegue cantar afinado, o
coralista também vai conseguir. Segundo Costa e Boruchovitch, "ver pessoas com
capacidades análogas desempenhando tarefas com sucesso apóia a crença do
aluno de que ele possui condições para aprender e ser bem-sucedido na mesma
atividade" (COSTA; BORUCHOVITCH, 2006, p. 98). Além disso, "o modelo social
deve ser visto pelo aluno como possuindo características cognitivas similares às
55
dele, bem como possuir competências que ele almeje alcançar" (COSTA;
BORUCHOVITCH, 2006, p. 98).
Com certeza pra mim foi mais o coleguismo de todo mundo. Todo mundo é
unido e ninguém julga ninguém, todo mundo é bem... é bem junto, e daí as
pessoas também elas não ficam julgando "Ah, você canta mal". Não fica
de... sabe? É uma coisa só. E isso aí contribui pra mim. (Coralista 3)
Deve-se lembrar que o desafinado é uma pessoa inexperiente que não teve
acesso à música e ao canto quando criança. Portanto, não se pode rotular uma
pessoa como desafinada e impedi-la de cantar, sem ao menos apresentar uma
alternativa para aprender. Podemos ver no exemplo do Coralista 3 que foi
desencorajado de cantar, pois segundo um cantor conhecido seu, a voz deste
coralista era horrível:
Então, eu era bastante travada, e daí você tinha me falado, né, que certas
coisas é pra tirar da nossa cabeça porque não vai levar a gente a nada. E
daí eu fiquei refletindo, né, quando veio um cara e disse pra mim que eu
não poderia cantar porque minha voz era horrível. E eu cantava todos os
dias em casa, e eu gravava e eu mostrava pras minhas amigas e elas
diziam que tava bom. Mas como o cara, ele era cantor, ele achou que não
tava bom...que só quem é realmente da música cantava bem. E daí eu vi
que isso não...que qualquer um pode cantar. (Coralista 3)
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Eu acho que primeiro o fato da gente estar com vocês, contigo na regência
e [o pianista]. Eu acho que pra mim já dá uma confiança maior, né, porque
eu acho que talvez vão saber orientar melhor, porque nessas dificuldades
que a gente, que eu possivelmente poderia ter. (Coralista 4)
O erro dentro do Grupo Vocal é visto como algo normal, já que todo ser
humano erra. Para que haja aprendizagem precisamos primeiro errar para depois
acertar. O erro não é visto como algo pejorativo, pois todos que estão no grupo
estão para aprender e por isso, todos tem respeito um pelo outro. Pode-se perceber
este pensamento com os relatos do Coralista 4 e 5:
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Bem, eu acho que esse medo de errar que eu tinha era o mesmo medo de
estar na presença do outro! E tu falar uma coisa errada na presença do
outro, acho que é a mesma coisa de tu ser mal-educado! É uma coisa que
pairava assim pra mim! Daí, depois de um tempo, quando eu entrei no
teatro né, e eu fui tendo um pouco de canto teatro, que é bem diferente
desse canto que a gente tem no coral. Eu fui liberando essa minha voz, né.
Isso foi me ajudando de alguma forma a entender que não é preciso, que
não há... que o erro não é uma coisa ruim! Na verdade, ele ta aí pra gente
erra mesmo pra coisa ficar viva né! Porque essa coisa errônea, acho que é
da nossa natureza humana, a gente ir pra casa e tal... (Coralista 4)
Outro fato são as relações que se constroem ali dentro, né. Acho isso é
bastante importante pra gente ter confiança né, tipo “ah, tamo em casa!”
sabe, vamo fazer! Tamo em casa! Vamo fazer! Claro com respeito! Mas
tamo em casa, vamos fazer a coisa acontecer, pra ficar bonito e tal. Não
pra... bonito pra gente também! Acho que essa é a ideia! (Coralista 4)
Durante as entrevistas pode-se perceber que uma das práticas do canto coral
que mais modela crenças de autoeficácia para cantar afinado é a união e o respeito
que cada coralista tem pelo outro. Por mais que as perguntas fossem direcionadas a
eficácia pessoal, apresentaram-se muitos relatos de uma eficácia coletiva.
Acreditando que este é um fator relevante faremos um adendo relacionado a isso.
Atrelada aos comentários dos coralistas acima está uma influência muito
grande do respeito entre os colegas, do coleguismo, da união e da cooperatividade.
Este respeito pelo colega é justamente o que lhes dá mais confiança para cantar
afinado. Ao explicar sobre a eficácia coletiva, Bandura diz que
[a]s pessoas não vivem suas vidas com autonomia individual. De fato,
muitos dos resultados que são buscados podem, somente, ser alcançados
com iniciativas interdependentes. Assim, elas devem trabalhar em conjunto
para garantir aquilo que não conseguem realizar sozinhas. A teoria social
cognitiva estende a concepção de agência humana à agência coletiva. As
crenças compartilhadas pelas pessoas em seu poder coletivo de produzir
resultados desejados são um ingrediente fundamental da agência coletiva.
As realizações do grupo não são o produto apenas de habilidades e de
conhecimentos compartilhados, mas de dinâmica interativa, coordenada e
sinérgica de suas transações. (BANDURA, 2008, p. 116)
Sabendo que o colega respeita o outro e não vai ser julgado, o coralista
sente-se mais à vontade e conseqüentemente mais confiante para tentar acertar. O
seu erro, como já vimos, não vai ser um problema, mas sim, parte de um processo
de aprendizagem. Sobreira explica o que o canto coletivo pode proporcionar e traz
algumas questões que já vimos relacionadas às fontes de autoeficácia:
Eu acho que dá uma confiança tanto porque a gente vai trabalhando junto,
né, vai conhecendo a voz de quem tá do lado, vai começando a ouvir a voz
dos outros colegas e tudo, e quando enche, quando a gente se apresenta,
que aí tá cantando num espaço público, consegue se ouvir, fazer o que a
gente fez no ensaio, acho que é muito gostoso! Então, tem essa... dá essa
confiança, assim! (Coralista 2)
E eu acho que estar junto com outras pessoas que cantam de uma forma
diferente, independente se estão afinadas. A forma como... cada um tem um
timbre diferente. Então isso, ao mesmo tempo que confere uma diversidade
pra gente entender como funciona a voz, entender que a voz dos outros é
diferente da nossa. Acho que isso ajuda a gente a entender a coisa coletiva
mesmo. O que é viver com outras pessoas, o dilema disso, os benefícios
disso. Acho que pra formação humana é importantíssima. (Coralista 4)
No outro coral que eu fazia, às vezes eu não tinha essa facilidade de chegar
pro professor e dizer eu não tô conseguindo, ou de ver uma receptividade
do colega, porque como eram pessoas mais velhas, elas já sabiam tudo! Eu
era a nenenzinha que tava enfiada lá! Então se eu errava eu ficava quieta!
Eu não ia perguntar, “dá pra repetir?!” Sabe, eu não tinha essa liberdade, ou
essa ousadia, se eu posso dizer, mas no [Grupo Vocal] eu me sinto muito
mais à vontade! É uma aprendizagem de fato! (Coralsita 6)
Com certeza pra mim foi mais o coleguismo de todo mundo (Coralista 3)
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Acho que é tudo fruto que vem dessa coisa coletiva, de quando a gente tá
junto de outras pessoas, quando as pessoas vêem que a gente tá
desenvolvendo bem, a gente tá conseguindo afinar (Coralista 4)
Outro fato são as relações que se constroem ali dentro, né. (Coralista 4)
grupo, né. Ele me ensinou bastante também, sobre esse contato. (Coralista
4)
Porque na realidade assim, ó, tem muitas pessoas que são boas e saem
cantando uma beleza, mas a maioria não sabe cantar, né. Então a gente tá
aprendendo isso, e o próprio cantar no coral é bem diferente de talvez tu
fazer um canto solo assim...é outra forma de tu impostar a voz. Então nesse
sentido... na realidade o contexto de estar em grupo é o que te dá mais
confiança. É essa confiança que tu pode errar, porque a tua voz é só mais
uma voz , então se tu errar, claro, alguém vai perceber, mas tu pode em
seguida se concertar e se encaixar e aí sumir no grupo. Porque na realidade
a tua voz some no... a ideia é que a tua voz suma no grupo, que seja um
conjunto. Então eu não sinto muito medo disso. (Coralista 5)
Pra mim foi, sei lá, foi mais do que... ahm... como é que eu vou dizer. Mais
do que a questão da possibilidade de cantar, essa coisa de sei lá, de
convivência. O que agrega socialmente, além da possibilidade. E
certamente que eu acho que... acho que eu nunca vou querer sair de algum
coral sabe, é uma coisa que, eu acho, achei incrível o acréscimo assim, o
sentido mesmo de vida, assim, massa! (Coralista 1)
Como podemos ver, a falta de percepção de segurança faz com que a pessoa
sinta-se insegura e com baixo autoconceito não conseguindo realizar suas
atividades com sucesso. Esta percepção de insegurança dentro de um grupo vocal
pode fazer com que o coralista sinta-se desestimulado, pois não consegue obter
bons resultados em função dos seus estados fisiológicos, como o nervosismo e a
insegurança de cantar afinado.
Grupos vocais que estimulam e promovem situações em que os integrantes
possam interagir levando sempre em consideração o respeito pelo outro, o
cooperativismo e a união do grupo, pode favorecer para a motivação do coralista.
Ele sente-se respeitado e pertencente a um grupo que tem propósitos parecidos
com os dele. Segundo Guimarães e Boruchovitch, "os contextos sociais facilitadores
de motivação intrínseca têm em comum interações que consideram as necessidades
de seus membros e são zelosos em supri-las" (GUIMARÃES, BORUCHOVITCH,
2004, p. 145). Logo, participar de um grupo acolhedor e unido proporciona estados
fisiológicos de bem estar e experiências de êxito que melhoram as crenças de
autoeficácia para cantar afinado.
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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Assim, este estudo traz como contribuição uma possível compreensão acerca
da influência de fatores psicológicos na afinação e desafinação vocal. Pudemos ver
neste trabalho que proporcionar ao aluno boas experiências em relação ao seu
canto, persuadir positivamente sobre seu progresso, proporcionar um espaço de
descontrações e de bons exemplos vocais faz com que ele sinta-se mais confiante
em relação às suas capacidades em cantar afinado. Cada coral tem sua prática,
suas atividades diferenciadas, mas percebeu-se que é importante valorizar um
espaço em que todos os colegas tenham respeito pelo outro e não sejam julgados.
Proporcionar um espaço coletivo que haja descontrações e não incentive o
individualismo e a competição podem contribuir para as crenças de autoeficácia para
cantar afinado.
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6. REFERÊNCIAS
PAJARES, F.; OLAZ, F. Teoria social cognitiva e autoeficácia: uma visão geral. In:
BANDURA, A. et al. Teoria Social Cognitiva: conceitos básicos. Tradução: Ronaldo
Cataldo Costa. Porto Alegre: Artmed, 2008. p. 97 – 114.
7. ANEXOS
1- Você acredita que consegue cantar afinado? Se não, por quê? Qual a causa
da sua capacidade/incapacidade de afinar?
a. Como é sua confiança para cantara afinado quando está sozinho, sem
audiência?
b. E quando está sozinho na frente de uma audiência?
c. E cantando com outras pessoas junto (como no coral)?
2- Você achava que podia cantar afinado antes de participar do coral?Se não,
como você se sentia em relação a isso? E qual era a causa da
afinação/desafinação na sua opinião?
a. Como era sua confiança para cantar afinado quando estava sozinho,
sem audiência?
b. Sozinho na frente de uma audiência?
c. Em grupo (como no coral)?
4- Você acredita que a participação no coral possa ter contribuído para sua
confiança em cantar afinado? Por quê/de que forma?
5- Que outros fatores, externos ao coral, podem ter influenciado a sua confiança
em cantar afinado?
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CARTA DE CESSÃO
Eu______________________________________________________,
RG______________________, residente no endereço
_____________________________________________________, cedo os direitos
autorais de minha entrevista, realizada no dia ____________, para fins de pesquisa,
com uso integral ou em partes, sem restrições de prazos ou citações, abdicando de
direitos meus e de meus descendentes.
______________________________________
Assinatura