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Saúde Coletiva
NESC • UFRJ
Catalogação na fonte – Biblioteca do CCS / UFRJ
Trimestral
ISSN 1414-462X
RESUMO
A Saúde do Trabalhador, em consonância com as emblemáticas lutas do setor saúde
e do Sistema Único de Saúde (SUS) nas últimas décadas, demanda ações que
ultrapassam os limites de uma concepção stricto sensu da saúde, em particular questões
sobre a intersetorialidade. A atenção ao trabalhador, no entanto, está organizada em
competências distintas em diferentes aparelhos estatais, como os Ministérios da Saúde,
da Previdência e Assistência Social, do Trabalho e do Emprego e do Meio Ambiente,
cada qual com seus mecanismos operacionais e reguladores. Os objetivos deste estudo
são discutir a visão interministerial sobre a saúde do trabalhador e analisar a estratégia
da Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) para a
viabilidade de uma política de saúde do trabalhador interdisciplinar. Neste texto, são
apresentados: a descrição dos aparelhos estatais configurados nos ministérios no que
concerne às ações em saúde do trabalhador, uma discussão sobre a necessidade de
articulação mais consistente da saúde do trabalhador com a saúde ambiental; e o
delineamento da RENAST como uma nova proposta de política em processo de
implementação em cenário nacional.
PALAVRAS-CHAVE
Saúde do trabalhador, política de saúde do trabalhador, atenção à saúde do trabalhador
ABSTRACT
Workers´ health, on the basis of the Brazilian Unified Health System (Sistema Único
de Saúde – SUS) claims from last decades, demands actions that conquer a stricto
sensu concept of health, particularly concerning questions on intersectoring. Attention
to workers, however, is organized by distinct competencies from distinct areas, such
as the Ministries of Health, Work and Job, Environment and Social Development.
1
Mestrando em Saúde Coletiva. Programa de Saúde do Trabalhador/Secretaria de Estado de
Saúde do Rio de Janeiro – e-mails: pstrab@saude.rj.gov.br – raphaelscoletiva@gmail.com
2
Especialista em Enfermagem do Trabalho. Programa de Saúde do Trabalhador/Secretaria de Estado
de Saúde do Rio de Janeiro.
3
Doutora em Saúde Coletiva. Programa de Saúde do Trabalhador/Secretaria de Estado de Saúde do
Rio de Janeiro.
4
Mestre em Saúde Coletiva. Programa de Saúde do Trabalhador/Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.
5
Mestre em Saúde Coletiva. Programa de Saúde do Trabalhador/Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.
6
Mestre em Vigilância Sanitária. Programa de Saúde do Trabalhador/Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro.
The objectives of this study are to discuss inter-ministerial views of workers´ health,
and to analyze the National Network for Comprehensive Workers’ Health Care (Rede
Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador - RENAST) as a possible
workers´ health policy with an inter-disciplinary view. This paper includes a brief
description of state structures concerning workers´ health, a discussion on the need for
a more consistent articulation between occupational and environmental health; and
designing RENAST as a new policy proposal in process of implementation on the
national scene.
KEY WORDS
Occupational health, occupational health policy, occupational health services
1. INTRODUÇÃO
A Saúde do Trabalhador é, por natureza, um campo interdisciplinar e
multiprofissional. As análises dos processos de trabalho, pela sua complexidade,
tornam a interdisciplinaridade uma exigência intrínseca que necessita “ao mesmo
tempo, preservar a autonomia e a profundidade da pesquisa em cada área envolvida e de articular
os fragmentos de conhecimento, ultrapassando e ampliando a compreensão pluridimensional dos
objetos” (Minayo, 1991, p. 71). Enquanto questão vinculada às políticas mais
gerais, de caráter econômico e social, a saúde do trabalhador implica em desafios
das mais diversas ordens.
nas áreas: trabalho, saúde, previdência social e meio ambiente. Nesse sentido, ela
propõe uma harmonia das normas e a articulação das ações de promoção e
recuperação da saúde do trabalhador, o que seria possível com a criação de um
plano nacional de segurança e saúde, pactuado entre os diversos órgãos do
governo e da sociedade afetados.
A PNSST, além de estar diretamente relacionada com as políticas dos setores
Trabalho, Previdência Social, Meio Ambiente e Saúde, apresenta interfaces com as
políticas econômicas, de Indústria e Comércio, Agricultura, Ciência e Tecnologia,
Educação e Justiça, em uma perspectiva intersetorial e de transversalidade.
Do ponto de vista técnico, a PNSST consagra a atuação multiprofissional e
multidisciplinar, capaz de contemplar a complexidade das relações de produção
-consumo-ambiente e saúde.
Face a isto, os objetivos deste estudo são discutir a visão interministerial sobre
a saúde do trabalhador e analisar a estratégia da Rede Nacional de Atenção
Integral à Saúde do Trabalhador (RENAST) para a viabilidade de uma política
de saúde do trabalhador interdisciplinar
Para contemplar o objetivo traçado, parte-se da premissa de Foucault acerca
da construção histórica. Foucault cita que toda sociedade, como construção
histórica, tem seu suporte em práticas discursivas que a atravessam, criando assim
as possibilidades para que surja através de uma formação discursiva própria,
porém inter-relacionada com o macrocontexto (Foucault, 1996).
“Artigo 200 – Ao Sistema Único de Saúde compete, além de outras atribuições, nos
termos da lei: (...) II - executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como
as de saúde do trabalhador; (...)”. (Brasil, 2001)
475
Adaptado de Brasil (2004a e 2004b).
RAPHAEL GUIMARÃES, FABÍOLA PENNA, KAMILE SIQUEIRA,
RENATA BAPTISTA, SERGIO SANTOS, LISE BARROS
Quadro 2
Recomendações para a construção de uma política na área de saúde ambiental.
• trabalhar com o espaço criado pelo Conselho Nacional de Meio Ambiente-CONAMA, Conselho
Nacional de Saúde-CNS e suas comissões: Comissão Intersetorial de Saúde, Saneamento e
Ambiente- CISAMA, a Comissão Intersetorial de Saúde do Trabalhador-CIST e a Comissão de
Segurança Química-COPASQ;
• pensar a aproximação da política ao nível de Estado e município, com a participação dos
Conselhos de Saúde Estaduais e Municipais. Um exemplo disto é a inclusão da avaliação de
impacto na saúde nos processos de licenciamento ambiental;
• desenvolver instrumentos de comunicação dentro de uma Política de Informação;
• desenvolver uma estratégia de capacitação e estímulo à produção de conhecimento;
• aproximar a Secretaria de Desenvolvimento Urbano, que está desenvolvendo um sistema de
informação em saneamento, até o momento desintegrado e não articulado com os setores de
saúde e de ambiente;
• debater o tema saúde e ambiente em todos os setores de governo, considerando ser ele
um transversal;
• criar um Conselho Consultivo, junto à Comissão de Saúde Ambiental do Ministério da Saúde,
que possa agregar a Organização Panamericana de Saúde-OPAS, Associação Brasileira de Pós-
Graduação em Saúde Coletiva-ABRASCO, Conselho Nacional de Saúde-CNS, Conselho Nacional
dos Secretários de Estado de Saúde, Conselho Nacional dos Secretários Municipais de Saúde,
Conselho Nacional de Meio Ambiente-CONAMA, Fundação Oswaldo Cruz-FIOCRUZ,
Universidades e outros órgãos relacionados ao SUS;
• realizar um evento, no final de 2002, que integre os diversos níveis de governo e a sociedade na
discussão da saúde em sua relação com o ambiente.
ações, o que pode ser garantido por boas estratégias em gestão de problemas
ambientais. Neste aspecto, a vigilância ambiental em saúde procura dar conta de
certos fenômenos. Dado isto, pensa-se que a articulação da Vigilância Ambiental
e a Saúde do Trabalhador dar-se-á através de métodos e elementos próprios,
como a Epidemiologia Ambiental, a Avaliação e Gerenciamento de Risco, os
Indicadores de Saúde e Ambiente, o Sistemas de Informação de Vigilância
Ambiental em Saúde (SINVAS), e a mobilização pela Justiça Ambiental pelo
Controle Social.
DISCUSSÃO
O presente trabalho foi realizado segundo uma perspectiva qualitativa, e valeu-se
de uma discussão a luz da construção histórica segundo Foucault. Sendo assim, partiu
da prermissa de que as atuais políticas de saúde do trabalhador são reflexo de
uma intensa transformação do campo do trabalho nas últimas décadas. Entretanto,
cada esfera de responsabilidade passou por um processo diferente e acompanhou
a intensa discussão sobre a saúde do trabalhador sob perspectivas bastante variadas.
No caso particular do Brasil, tradicionalmente o atendimento da saúde dos
trabalhadores e de seus dependentes é feito pelo Ministério do Trabalho e pelo
Ministério da Previdência Social, sem qualquer participação do Ministério da
Saúde; este, por sua vez, atende a rede geral de saúde sem qualquer preocupação
especial com a saúde dos trabalhadores e de seus dependentes.
No Sistema de Saúde, a organização das ações e serviços voltados para a
atenção da saúde dos trabalhadores, no início dos anos 80, estava baseada numa
estratégia de incorporá-la na rede de serviços de Saúde Pública, isto é, os Centros
de Saúde e Ambulatórios de Especialidade, como parte da atribuição do médico
clínico geral (Freitas et al., 1985), porque objetivamente era o que acontecia – e o
que ainda acontece: ainda que não se configurem, juridicamente, como acidentes
ou doenças ocupacionais, é na rede de saúde onde estes problemas são absorvidos.
A implementação de Centros Regionais de Saúde do Trabalhador e os Centros
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