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O Servidor Público no
Mundo do Trabalho do
Século Xxi
The Public Servant In The Labor World
Of The 21St Century

El Empleado Público En El Mundo


Del Trabajo Del Siglo Xxi

Carla Vaz dos


Santos Ribeiro
Universidade Federal
do Maranhão

Deise Mancebo
Universidade do Estado
do Rio de Janeiro
Artigo

PSICOLOGIA: CIÊNCIA E PROFISSÃO, 2013, 33 (1), 192-207


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PSICOLOGIA:
CIÊNCIA E PROFISSÃO,
Carla Vaz dos Santos Ribeiro & Deise Mancebo
2013, 33 (1), 192-207

Resumo: O texto aborda as repercussões do discurso depreciativo da sociedade dirigido ao servidor público
– em muito intensificado pelas mutações no mundo do trabalho na virada do século XX para o XXI – na
subjetividade dessa categoria e investiga como esses trabalhadores convivem com a utilização corrente
de estereótipos negativos que desqualificam e desvalorizam a sua atividade laboral. O texto discute ainda
como a falta de reconhecimento e de valorização interfere no sentido atribuído pelos servidores públicos
à sua vida profissional. O texto analisa também as transformações ocorridas no setor público nas últimas
décadas, em especial, as mudanças provocadas a partir da implementação da Reforma do Estado, de
1995, no Brasil, constata que a crise do Estado-providência influencia de maneira decisiva as políticas, as
estruturas e a cultura das organizações estatais e identifica um novo cenário que gera significativos impactos
na produção da subjetividade da categoria; por fim, questiona se ainda há espaço para o servidor público
no mundo do trabalho contemporâneo.
Palavras-chave: Administração pública. Trabalho. Desvalorização. Subjetividade.

Abstract: The present work discusses the repercution of the increasing depreciative speech towards the civil
servant – greatly influenced by changes in the labor world at the turning of the century – in the subjectivity in
this category. It also discusses how these workers deal with the frequently negative stereotypes that diminish
and deppreciate their labor and explains how the lack of recognition and appreciation interferes in the sense
given by civil servants to their professional life. An analysis of the changes in the public sector management
over the last decade is also provided, with special emphasis on the consequences of the implementation of
the 1995 Brazilian State Reform. The work concludes that the current global Welfare State crisis, translated
as the pressure for a lean government body affects significantly the environment of Brazilian politics and the
organization and ethos of its public institutions. The work identifies a new scenario that generates significant
impacts on the production of subjectivity in the category. Finally, it questions whether there is place for the
public servant in the world of contemporary work.
Keywords: Public administration. Work. Devaluation. Subjectivity.

Resumen: El texto aborda las repercusiones del discurso despectivo de la sociedad dirigido al empleado
público – en mucho intensificado por las mutaciones en el mundo del trabajo en el cambio del siglo XX para
el XXI – en la subjetividad de esa categoría e investiga como esos trabajadores conviven con la utilización
corriente de estereotipos negativos que descalifican y desvalorizan su actividad laboral. El texto discute
también como la falta de reconocimiento y de valorización interfiere en el sentido atribuido por los servidores
públicos a su vida profesional. El texto analiza también las transformaciones ocurridas en el sector público
en las últimas décadas, en especial, los cambios provocados desde la implementación de la Reforma del
Estado, de 1995, en Brasil, constata que la crisis del Estado-providencia influencia de manera decisiva las
políticas, las estructuras y la cultura de las organizaciones estatales e identifica un nuevo escenario que
genera significativos impactos en la producción de la subjetividad de la categoría; por fin, cuestiona si aún
hay espacio para el servidor público en el mundo del trabajo contemporáneo.
Palabras clave: Administración pública. Trabajo. Desvalorización. Subjetividad.

Situando a reflexão
O presente ensaio teórico discute os impactos Cabe esclarecer que o sentido dado ao
do discurso depreciativo da sociedade termo servidor público está restrito aos
e dirigido aos servidores públicos na servidores ocupantes de cargo público. Essa
constituição da subjetividade dessa categoria, diferenciação se torna necessária, pois o
conceito de servidor público compreende,
busca analisar as transformações ocorridas
segundo Di Pietro (2010), três grupos distintos:
no serviço público nas últimas décadas,
o primeiro, dos servidores estatutários,
em especial, as mudanças provocadas
titulares de cargos públicos, submetidos em lei
a partir da implementação da Reforma
a regulamentos estabelecidos pelas unidades
do Estado de 1995 no Brasil e, por fim, da Federação; o segundo, dos empregados
levanta questionamentos sobre o espaço, públicos subordinados às normas da CLT e
porventura existente, de reconhecimento e ocupantes de emprego público, e o último
de valorização do servidor público no mundo grupo, dos servidores temporários contratados
do trabalho do século XXI. para exercer funções por prazo determinado.

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Faz-se essa distinção por serem consideráveis se novas formas de organização industrial e de
as diferenças existentes entre essas três relacionamento entre o capital e o trabalho.
categorias no que se refere aos aspectos de Exige-se um novo perfil de trabalhador:
estabilidade, processo seletivo, previdência diferente, mais qualificado, participativo e
social, remuneração e oportunidades de polivalente. As organizações precisam analisar
carreira. os seus processos, adaptar e reformular todo
o seu planejamento e o modo de conduzir
A discussão está pautada nas seguintes os trabalhos, objetivando reduzir custos e
premissas: acumulação flexível, mudancas aumentar a competitividade. É nesse contexto
no mundo do trabalho e subjetividade do que se consolida o modelo de produção
servidor público. japonês, também conhecido como toyotismo,
que possibilita uma produção vinculada à
Considerações sobre demanda, mais individualizada, diversificada,
as repercussões das suficientemente flexível para atender às novas
necessidades mercadológicas e acompanhar
transformações no mundo do
as constantes mudanças vivenciadas no
trabalho no serviço público mundo capitalista.

Nas últimas décadas, a classe-que-vive-do-


trabalho tem vivenciado um quadro crítico de Harvey comenta que essa reestruturação
grande complexidade frente à crise estrutural radical se caracteriza por uma passagem para
do capital, marcada por um contínuo um regime de acumulação inteiramente novo
depressivo. Conforme Antunes, dentro do capitalismo, com significativas
inovações nos setores de produção, no
No meio do furacão da crise que agora fornecimento dos serviços, no comércio e nas
atinge o coração do sistema capitalista, tecnologias utilizadas. “Acumulação flexível”
vemos a erosão do trabalho relativamente
contratado e regulamentado herdeiro é a expressão que o autor emprega para
da era taylorista e fordista, ... que está designar “o confronto direto com a rigidez
sendo substituído pelas diversas formas do fordismo (pois esse modelo de produção)
de ‘empreendedorismo’, ‘cooperativismo’,
se apóia na flexibilidade dos processos de
‘trabalho voluntário’, ‘trabalho atípico’,
formas que oscilam entre a superexploração trabalho, dos mercados de trabalho, dos
e a própria auto-exploração do trabalho, produtos e padrões de consumo” (Harvey,
sempre caminhando em direção a uma 1993, p.140).
precarização estrutural da força de
trabalho em escala global (2009, p.13)
Muitas empresas realizam um verdadeiro
desmonte em sua organização, dividindo-
Essa crise (ou conjunto de crises) tem gerado,
se em pequenos grupos por diferentes
entre tantas consequências, profundas
partes do mundo. Elas são conhecidas
mudanças no interior do mundo do trabalho.
como transnacionais, e caracterizam-se
Ocorrem “mutações intensas, econômicas,
pela utilização de vários tipos de contrato
sociais, políticas, ideológicas, com fortes
de trabalho e pela dispersão dos processos
repercussões no ideário, na subjetividade e
de produção em várias nações. Um certo
nos valores constitutivos da classe-que-vive-
produto pode, dentro desse sistema, ter
do-trabalho” (Antunes, 1999, p.35).
seus componentes produzidos em diversas
regiões do mundo e ser montado em
Na tentativa de superá-la, mas mantendo alguma outra localidade específica. Essas
intocado o modo de produção, experimentam- empresas diferem das multinacionais por

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não seguirem um modelo de administração precarização da classe trabalhadora, níveis


de uma matriz. Em cada local em que relativamente altos de desemprego estrutural
ingressam, vão modelando-se, buscando e enfraquecimento do sindicalismo de classe.
usufruir o máximo das vantagens existentes.
Em algumas circunstâncias, terceirizam, em Todo esse receituário das mudanças no
outras subcontratam; por vezes, limitam-se mundo do trabalho, acompanhado de perto
a um acordo com fornecedores. Na escolha por um discurso que advoga a necessidade
do local de instalação de uma organização, de enxugamento também das funções
novos fatores são determinantes, tais como: até então atribuídas aos Estados, atingem,
menor politização dos trabalhadores, mão de profundamente, o serviço público. Na
obra mais barata, isenção de impostos, menos realidade, ocorrem, em muitas situações e
imposições em relação à preservação do meio países, uma desmontagem do setor produtivo
ambiente, enfim, vários aspectos relacionados estatal, ondas de privatização que retiram
à diminuição de custos e ao consequente setores, antes considerados estratégicos, da
aumento dos lucros. mão dos Estados nacionais.

As organizações encontram-se mais enxutas, O poder das corporações transnacionais


flexíveis e descentralizadas. Em oposição à ultrapassa as fronteiras das nações e coloca
fábrica gorda do modelo taylorista/fordista, em xeque com frequência a soberania dos
nasce a fábrica magra, caracterizada por Estados. É flagrante a “perda da capacidade
uma estrutura flexível e transparente capaz dos Estados nacionais em regularem a
de absorver, com um número reduzido economia, frente ao poderio inusitado do
de pessoal, as flutuações quantitativas e sistema financeiro internacional e do grande
qualitativas da demanda. capital produtivo oligopolista globalizados,
bem como pela ascensão da ideologia
neoliberal, em detrimento do keynesianismo
Nas entrelinhas se desenha aqui aquilo
que seríamos tentados a designar como
”(Mancebo, 2007, pp.74-75).
a ‘fábrica mínima’, a fábrica reduzida às
suas funções, equipamentos e efetivos
estritamente necessários para satisfazer O serviço público é considerado ineficiente
a demanda diária ou semanal. Observe- e muito oneroso, e, em função disso, precisa
se também que, no espírito de Ohno, a enfrentar todo um processo de reestruturação.
fábrica mínima é primeiramente e antes de
A lógica da fábrica magra se estende aos
tudo a fábrica do pessoal mínimo (Coriat,
órgãos públicos, influenciando de maneira
1994, p.33)
decisiva as políticas, as estruturas e a cultura
das organizações estatais.
Assim, a lógica do mercado de trabalho
atual se caracteriza por “reduzir o número
A crise do Estado-providência, onde ele
de trabalhadores ‘centrais’ e empregar cada
ocorreu, dá lugar a um movimento reformista
vez mais uma força de trabalho que entra
que tem como proposta básica a substituição
facilmente e é demitida sem custos quando
do modelo de gestão burocrático pelo
as coisas ficam ruins” (Harvey, 1993, p.144).
gerencial. O Estado passa a conviver com
a gradativa incorporação da lógica e dos
Essas mutações no processo produtivo
mecanismos que regem o mundo das
promovem, portanto, uma série de impactos
empresas privadas com o objetivo de propiciar
decisivos, como: desregulamentação
agilidade, eficiência e qualidade aos serviços.
dos direitos do trabalho, terceirização e

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O movimento em questão, conhecido como A reforma em questão, também conhecida


gerencialismo, disseminou-se em vários países como nova administração pública, objetivava
do mundo e guarda uma estreita relação nas efetivar a transição do modelo burocrático
suas ações e valores com a reestruturação para o gerencial. Segundo Bresser-Pereira
produtiva do pós-fordismo (Paula, 2005a). e Spink (2006), algumas características
definem esse novo modelo: descentralização
administrativa, pressuposto de confiança
Segundo Chanlat (2002), o gerencialismo
limitada nos gestores públicos e não de
descreve, explica e interpreta o mundo
desconfiança total, incentivo à criatividade
a partir das categorias da gestão privada,
e à inovação, orientação para resultados
lançando mão de noções e de princípios
com controle a posteriori, em vez de
administrativos tais como: eficácia,
controle rígido e burocrático dos processos
produtividade, performance, competência,
administrativos, orientação para servir ao
empreendedorismo, qualidade total, cliente,
público, considerando o indivíduo em termos
produto, marketing, desempenho, excelência
econômicos, como consumidor (ou usuário)
e reengenharia.
e, em termos políticos, como cidadão.

Essas noções e princípios do gerencialismo


O uso das O princípio básico era tornar a administração
palavras gestão, “estão cada vez mais entrelaçados no tecido
pública brasileira mais flexível, eficiente,
management, social, pois não é mais possível ignorar que
gerir e manager com serviços de melhor qualidade e custos
as organizações empresariais exercem uma
é tão comum reduzidos, em contraposição à administração
que chegamos
grande influência na sociedade” (Paula,
burocrática, caracterizada como rígida,
ao ponto de as 2005a, p.57), de modo que a cultura do
hierarquizada, autocentrada, onerosa, pesada,
pessoas não management invade os mais diversos tipos
expressarem ineficiente e prestadora de maus serviços. Para
de organizações, tais como escolas, hospitais,
mais suas tal, foi proposta a subdivisão do aparelho do
emoções, e sim, universidades, administrações públicas,
Estado em quatro setores, delimitando uma
gerenciá-las organizações sem fins lucrativos e até
(Chanlat, 2002). nova área de atuação do Governo:
igrejas. A presença crescente do pensamento
gerencial transformou a figura do gerente
em uma das figuras centrais da sociedade a) núcleo estratégico do Estado – constituído
contemporânea. O uso das palavras gestão, pelo Legislativo, Judiciário, Presidência e
management, gerir e manager é tão comum cúpula dos Ministérios. Também integram essa
que chegamos ao ponto de as pessoas não categoria os Governadores, seus secretários e
expressarem mais suas emoções, e sim, a alta administração pública estadual;
gerenciá-las (Chanlat, 2002).

b) atividades exclusivas do Estado –


No Brasil, esse movimento ganhou força no englobam as atividades que garantem o
serviço público nos anos 90 do século XX, cumprimento das leis e das políticas públicas,
mais especificamente com a indicação de e compreendem as Forças Armadas, a polícia,
Bresser-Pereira para assumir o Ministério da as agências de fiscalização, de financiamento,
Administração e Reforma do Estado (MARE), de regulamentação, de controle social e de
no governo de Fernando Henrique Cardoso. seguridade social;
Em janeiro de 1995, o ex-ministro apresentou
o Plano Diretor da Reforma do Estado,
c) serviços não exclusivos do Estado –
dando início ao processo de implantação da
abrangem os serviços de educação, saúde,
administração pública gerencial.
cultura e pesquisa científica. Esses serviços

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podem ficar sob o controle do Estado, privado (famílias), b) a propriedade público-


podem ser privatizados ou serem subsidiados estatal e c) a propriedade pública não estatal”
pelo Estado, mas são controlados pela (p.261). Buscando melhor delimitação dos
sociedade, isto é, passam a ser convertidos tipos de propriedades, o autor aponta o
em organizações públicas não estatais; espaço público como algo mais amplo que
o estatal. Afirma que público é o que se
dedica ao interesse geral e não visa ao lucro,
d) setor de produção de bens e serviços para
e estatal é o que faz parte do aparelho do
o mercado – constituído pelas empresas
Estado e explica que o sentido de público está
estatais (Bresser-Pereira & Spink, 2006).
presente tanto nas instituições público-estatais
como também nas instituições de direito
As instituições prestadoras de serviços não privado voltadas para o interesse público,
exclusivos do Estado, segundo Bresser-Pereira que se encaixam na condição de públicas não
e Spink, deveriam ser transformadas “em um estatais, permitindo assim um controle misto
tipo especial de entidade não-estatal – as tanto do mercado quanto do Governo.
organizações sociais..., ou seja, em entidades
que celebrem um contrato de gestão com o
Identifica-se, por conseguinte, nesse período,
Poder Executivo e contem com autorização
o lançamento das bases para a implementação
do Parlamento para participar do orçamento
do gerencialismo no serviço público brasileiro,
próprio” (2006, p.263). Essas entidades
com vistas ao alcance de um Estado mínimo
assumiriam a forma de fundações públicas
e enxuto. Contudo, a substituição do modelo
de direito privado criadas por pessoas físicas,
de administração burocrática pelo gerencial
possibilitando, desse modo, maior autonomia
como solução para os problemas de eficiência
administrativa e financeira. Os servidores
e eficácia das organizações públicas é
provenientes das instituições público-estatais
discutida por diversos teóricos que apontam
constituiriam, assim, uma categoria em
incompatibilidades entre a lógica gerencialista
extinção, e os novos empregados seriam
e o interesse público (Azevedo & Loureiro,
contratados pelo regime da Consolidação
2003; Chanlat, 2002; Paula, 2005a, 2005b;
das Leis do Trabalho (CLT).
Siqueira & Mendes, 2009).

Nesse sentido, o Estado precisaria atuar como


um regulador e transferidor de recursos, e Chanlat alerta que as práticas de gestão
não como um executor. Defendia-se, assim, oriundas do setor empresarial, calcadas
a concepção de que a forma de constituição na lógica dos negócios e em bases cada
dominante do moderno Estado do século vez mais mercantis, tendem a colocar
XXI deveria ser de organizações públicas não em risco a imparcialidade, o tratamento
estatais, portanto, somente as organizações igualitário e a ética do interesse geral,
compreendidas no núcleo estratégico e nas princípios esses fundamentais em uma ação
atividades exclusivas permaneceriam como de utilidade pública. O autor afirma ainda
estatais. que “historicamente, não há desenvolvimento
equilibrado sem uma burocracia competente,
íntegra, independente e dedicada à causa do
De acordo com Bresser-Pereira e Spink,
bem comum” (2002, p.7).
no capitalismo contemporâneo, existem
três formas de propriedade relevantes:
“a) a propriedade privada, voltada para a Nessa mesma direção, Azevedo e Loureiro
realização do lucro (empresa) ou de consumo complementam a ideia de que substituir

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o modelo burocrático – visto como demandas da coletividade, destinando seus


excessivamente formalista, autocentrado e objetivos e ações ao cliente-cidadão.
ineficiente – pelo modelo gerencial como No que se refere à autonomia, identificam-se
solução para os problemas da administração também percalços na transposição das práticas
pública é parcialmente verdadeira. Para advindas do setor privado. A aplicabilidade
os autores, o modelo burocrático é o mais do gerencialismo em organizações privadas
compatível com uma ordem republicana é bem distinta da sua aplicabilidade em
e democrática, por conter os princípios organizações públicas estatais. Enquanto
fundamentais do Estado de Direito, o gestor de uma empresa privada pode
tais como: legalidade, impessoalidade, redefinir metas, intervir na estrutura e alterar
regras formais e universais; entretanto, o seu quadro de pessoal, o gestor público
ressaltam a necessidade de flexibilização precisa desenvolver habilidades para atuar
e de aperfeiçoamento dos mecanismos de frente a estruturas organizacionais limitadas
controle, somadas à adoção de formas mais por toda uma legislação que rege os órgãos
adequadas, ágeis e criativas para realizar os públicos, mantidas com recursos incertos
princípios da administração do Estado, como e engessados em rubricas, compostas por
condição para sua manutenção nos governos um quadro de funcionários controlado pelo
democráticos contemporâneos. Governo, além da constante pressão política.
Ele só pode fazer o que a lei prescreve, além
Siqueira e Mendes alertam sobre os riscos de não poder intervir diretamente na missão,
da importação de tecnologias gerenciais do na vocação e nos valores da sua organização.
setor privado sem a devida adequação à
filosofia de trabalho e à cultura organizacional Outras análises se fazem necessárias para
do serviço público. Os autores sinalizam, uma crítica mais aprofundada no que diz
ainda, a necessidade de se “conhecer um respeito ao alcance e às limitações do modelo
pouco mais do que há escamoteado nos gerencial. Todavia, pode-se deduzir que a
modelos importados do setor privado, e eficiência do gerencialismo está cercada
principalmente as dimensões do controle, de limites, em especial, quando se trata do
especialmente do nível ideológico” (2009, setor público. Sabe-se que as organizações
p. 245). públicas são atravessadas por modelos mistos,
por conflitos e desencontros de modelos
A incompatibilidade da lógica de funciona- teoricamente distintos, mas intensamente
mento gerencial com o interesse público imbricados na prática. O cotidiano das
também é abordada por Paula (2005b), instituições é, ao mesmo tempo, constituído
quando questiona a viabilidade da por elementos característicos de uma cultura
transferência do conhecimento gerado no patrimonialista, ainda tão presentes nos
setor privado para o setor público. A autora dias atuais, por princípios tradicionais da
argumenta que o gerencialismo tende administração pública burocrática, e por
a ficar restrito aos aspectos técnicos da valores inovadores da administração pública
administração, sem conseguir integrar esses gerencial; portanto, é discutível a existência
elementos à complexidade e os desafios de modelos puros de gestão.
da dinâmica política que é inerente à
gestão pública, diferentemente da empresa Muito se fala, atualmente, em modelos de
privada, que atende a interesses particulares organização mais abertos, flexíveis, que
e individualizados, a organização pública estimulem a participação. Aparentemente, as
tem por finalidade atender às mais variadas organizações de produção buscam substituir

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a relação de confronto entre capital e trabalho insuficientes, peso da estrutura burocrática,


por meio da criação de espaços de discussão impossibilidade de ascensão profissional
e de colaboração. É comum referir-se, tanto (mudança de cargo), baixo poder aquisitivo
ao taylorismo/fordismo como à administração do servidor, somadas a uma atitude hostil
burocrática, como algo do passado, obsoleto, da sociedade dirigida a tudo o que tem
não mais utilizado. Heloani afirma que não origem no Estado, que prega a valorização
há uma completa ruptura com os princípios do privado em detrimento do público.
de modelos anteriores, e alerta para o fato de Fala-se dos serviços ruins das escolas, dos
que “a hierarquia, a fiscalização e o controle hospitais, dos museus, dos órgãos públicos
do trabalho – tão caros a esses sistemas –, de maneira geral, em uma tentativa constante
estão se travestindo, adornando-se com uma de desqualificação dos mesmos. Verifica-
nova roupagem, mais adequada aos tempos
se, na prática, uma verdadeira campanha
do ‘politicamente correto’” (2003, p.126).
caracterizada por atitudes de desprezo,
Corroborando a tese da inexistência de
discriminação, descrédito e desvalorização
modelos puros, Paula argumenta que o
direcionada a esse setor. Por público,
modelo de administração pública gerencial
considera-se tudo o que é ineficiente,
é “participativo no nível do discurso, mas
associado ao desperdício, à corrupção, à
centralizador no que se refere ao processo
falta de controle e coordenação, e o privado
decisório, à organização das instituições
é apontado como o lugar de eficiência e
políticas e à construção de canais de
participação popular” (2005b, p.41), e de excelentes resultados. O serviço público
ressalta que, embora esse modelo de gestão carrega consigo características depreciativas
“afirme inspirar-se em uma abordagem atribuídas tanto aos órgãos em si quanto aos
participativa, há novos mecanismos de servidores que neles trabalham.
controle dos funcionários e a participação é
bastante ‘administrada’ ” (2005b, p.43). Vale lembrar que não é de hoje que essa
categoria de servidores é representada por
Nessa mesma perspectiva, Merlo, Zanini, uma imagem pejorativa. No início da década
Furstenau e Pacini mostram que as inovações de 50, Armando Cavalcanti e Klecios Caldas
na administração pública geraram um compuseram Maria Candelária, marchinha
modelo de gestão híbrida, que compreende carnavalesca que fez muito sucesso na
elementos do fordismo, do taylorismo e época, e transformaram o nome da música
do toyotismo. Entretanto, “esse ‘frankstein’ em um dos mais conhecidos estereótipos
gerencial não oferece contrapartida alguma, do funcionário público. A letra fala, de
de nenhum dos modelos, nem o salário forma irônica, de uma funcionária pública
fordista, nem a possibilidade taylorista de padrão, que faz tudo, menos trabalhar. Há,
crescer na carreira, tampouco a valorização também, uma conhecida e antiga piada
e a autonomia toyotistas” (2004, p.374). que conta a história de um leão que fugiu
do zoológico e come vários funcionários
Constata-se, dessa forma, que, apesar públicos sem chamar a atenção de ninguém;
do recorrente discurso gerencialista, as somente quando o animal comete um erro,
organizações públicas estão inseridas em um comendo o moço que serve o cafezinho,
contexto cercado de limitações que reúne ele é encontrado e capturado. Uma imagem
restrições orçamentárias, inexistência de estereotipada bastante usada é a do paletó
condições adequadas para o desenvolvimento esquecido sobre a cadeira, que só é resgatado
do trabalho, recursos materiais e humanos no final do expediente, quando o servidor

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malandro, avesso ao trabalho, retorna para Nesse novo (velho) mundo do trabalho no
assinar o ponto. qual o servidor público está inserido, procura-
se trabalhadores generalistas, flexíveis,
Realmente, fala-se mal do servidor público há atualizados, criativos, abertos a mudanças,
muito tempo, entretanto, a partir de 1995, de fácil adaptabilidade, prontos a assumir as
com a reforma do Estado implementada mais diferentes tarefas (do tipo pau-pra-toda-
pelo governo FHC, os ataques e as críticas obra), preparados para abandonar as próprias
se intensificaram. Estes passaram a ser inclinações e abraçar novas prioridades.
responsabilizados por todas as mazelas A preferência entre os empregadores está
associadas ao governo. nos trabalhadores flutuantes, sem vínculos,
compromissos ou ligações emocionais
anteriores, disponíveis para atenderem a
Cabe ressaltar que não se ignora a
todo chamado de emergência, assumirem
corresponsabilidade de parte dos servidores
atribuições extras ou serem realocados a
públicos no agravamento da imagem
negativa dessa categoria. Infelizmente, qualquer momento. Busca-se pessoas avessas
existem servidores desengajados e a perspectivas de longo prazo, às trajetórias de
descompromissados que em muito carreira gravadas na pedra e a qualquer tipo
contribuem para a intensificação da própria de estabilidade (Bauman, 2008).
discriminação. Não há dúvida de que os
maus trabalhadores terminam por funcionar Partindo desse padrão desejável de trabalhador,
Busca-se pessoas como excelentes trunfos para os defensores tão em voga nos dias de hoje, cabe analisar se
avessas a
perspectivas de
da diminuição do número de servidores as organizações públicas propiciam condições
longo prazo, às públicos, favorecendo, desse modo, a para o servidor desenvolver o perfil ideal
trajetórias de propagação da ideia de que a única saída de trabalhador traçado pela maioria dos
carreira gravadas é o enxugamento da máquina estatal.
na pedra e a
empregadores. Em que medida os servidores
qualquer tipo
Privatização e terceirização surgem, então, públicos conseguem ser reconhecidos e
de estabilidade como alternativas indiscutíveis para a solução valorizados frente às exigências de um
(Bauman, 2008). da ineficiência do setor público. mundo do trabalho embebido na lógica do
trabalhador autônomo e empreendedor?
Faz-se imenso, portanto, o esforço para Ainda há espaço no mundo trabalho do século
lutar contra o estereótipo pejorativo do XXI para essa categoria?
funcionário acomodado, sem ambição
intelectual, despreocupado com resultados, e Para tal análise, destacamos alguns elementos
especialmente, privilegiado por ganhar muito que configuram o cotidiano do servidor
e trabalhar pouco. Identifica-se, assim, um público, buscando fazer um confronto entre
novo cenário que gera significativos impactos as diferentes características do trabalho nas
na produção de subjetividade da categoria organizações públicas e nas empresas privadas,
em questão e que impõe grandes desafios dando ênfase aos binômios: estabilidade/
para o enfrentamento das adversidades instabilidade; rotina burocrática / flexibilidade
presentes no cotidiano do servidor público. e carreira linear/ vínculos frouxos.

O servidor público frente a) Estabilidade X instabilidade


às exigências do mundo do
trabalho
Em um mundo do trabalho imerso em
constantes transformações, a instabilidade, a

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transitoriedade e a descontinuidade assumem aos Concursos) afirma que o número saltou de


ares de lugar comum. Já “a percepção 20 para mais de 100 nos últimos cinco anos
fordista do tempo”, bem representada (Do Rio, 2010).
pelo planejamento a longo prazo e pelos
vínculos duradouros, adquire feições de algo Crescem, também, de modo surpreendente,
ultrapassado, obsoleto, não mais adequado à os cursinhos preparatórios, antes pequenos
lógica da acumulação flexível que atravessa empreendimentos, hoje excelente ramo para
as novas relações de trabalho. Nos tempos investimento. A Gran Cursos, localizada na
áureos do fordismo, a mudança constante de Capital Federal, evidencia bem a expansão
empresa desqualificava o trabalhador; hoje desse ramo. Intitulando-se uma escola para
a permanência por um longo período em concursos públicos, conta hoje com mais
um mesmo ambiente laboral é interpretada de 20 mil alunos, que pagam mensalidade
como acomodação. “A palavra de ordem é média de mil reais. Seu faturamento anual é
antes seguir em frente que estabelecer-se” superior a 200 milhões (Aquino, Nicácio, &
(Sennett, 2006, p. 12). Guedes, 2010).

Todavia, apesar de todo um discurso em prol Um vínculo empregatício estável constitui


da flexibilidade e da versatilidade, o trabalho um dos maiores atrativos para o ingresso e a
no setor público continua atraente, mesmo permanência no serviço público. A figura de
que em condições menos favoráveis geradas um trabalhador que abre mão de projetos
pela perda de alguns direitos e benefícios. profissionais associados à vocação e aos
Identifica-se, ainda, um significativo número sonhos em troca de um porto seguro, mesmo
de trabalhadores empenhados em vencer a que seja fora da sua área de formação e
disputada corrida por um emprego seguro interesse, é cada vez mais frequente.
no serviço público.
Sabe-se que as vagas na iniciativa privada
Segundo reportagem publicada na revista não atendem à demanda crescente da classe
Isto É, em fevereiro de 2010, sob o título trabalhadora. Além de serem em número
Concurso: o sonho da estabilidade, uma reduzido, apresentam um alto grau de
vaga no serviço público transformou-se em exigência, geralmente desproporcional aos
objeto de cobiça dos melhores cérebros benefícios oferecidos pelo contratante. Um
do País. A estimativa é que mais de dez grande número de trabalhadores, diante
milhões de brasileiros estejam preparando- dos constantes impedimentos, incertezas
se para prestar concurso, visando a ocupar e turbulências de um mundo do trabalho
uma das 80 mil vagas que foram abertas nas globalizado, almeja uma atividade laboral
repartições federais, estaduais e municipais. estável, segura, que garanta uma renda certa
no final de cada mês, donde a procura por
um emprego público.
A esperança de um emprego estável alimenta
uma cadeia milionária de negócios. Livros e
Nenhuma empresa, de qualquer porte
apostilas direcionados para a preparação de
ou setor, promete mais aos empregados
concursos já representam o segmento que mantê-los por toda a vida produtiva, como
mais cresce no mercado editorial. Outra nas gerações passadas. E, claro, nas grandes
confirmação da expansão do mercado empresas, as vagas são ultradisputadas. Não
há lugar para todos. A frustração que resulta
é o aumento do número de empresas e dessa aritmética ajuda a levar ao sonho do
fundações que aplicam as provas. A ANPAC emprego público (Neves, 2007, p.75)
(Associação Nacional de Proteção e Apoio

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Surge, nesse cenário de instabilidade Uma outra pesquisa realizada por Silva
das relações de trabalho, a categoria dos (2004) – que teve como objetivo analisar o
concurseiros, que pode ser dividida em significado do trabalho para jovens portadores
dois grupos: o primeiro, dos candidatos a de diploma de graduação em um momento
concurso público que precisam continuar em que se vivencia uma intensa precarização
trabalhando para o seu sustento, mas que e altos índices de desemprego – constatou
dedicam parte relevante do seu tempo que a expectativa de ingresso no serviço
à preparação para os concursos, e o segundo público não era uma opção, e sim, uma saída
grupo, o dos concurseiros profissionais, que para enfrentar as dificuldades geradas pela
se dedicam exclusivamente aos estudos, instabilidade no mercado de trabalho.
não possuem atividade remunerada e se
mantêm com a ajuda familiar ou com algumas Vale investigar, contudo, como se sente
reservas econômicas obtidas em empregos o servidor público depois de ganhar uma
anteriores. Tanto o candidato que estuda e corrida que teve como principal objetivo um
trabalha como o concurseiro profissional, emprego estável, sobretudo se o prêmio que
para o alcance das suas metas, não raramente ele conquistou não é de um alto cargo com
abdicam de momentos de lazer e de descanso excelentes salários e benefícios, geralmente
como também do convívio familiar. Ambos restritos a poucas oportunidades no setor
enfrentam uma rotina extremamente cansativa Judiciário e Legislativo, como ele lida com um
e penosa, isso sem considerar que boa parte prêmio que garante a segurança financeira,
se debruça sobre conteúdos programáticos porém que vem acompanhado de um olhar
distantes dos seus interesses, vocações e preconceituoso de parte da sociedade, na
formação profissional, o que torna mais difícil qual os gurus da administração vendem a ideia
de que o trabalhador ideal é o empreendedor,
essa empreitada.
alguém avesso a vínculos estáveis, que não se
acomoda, ou mais exatamente, não se fixa
Albrecht, a partir de um estudo intitulado por muito tempo em um mesmo lugar.
Sentido do trabalho para concurseiros: a busca
do emprego estável como estratégia de inserção
b) Rotina burocrática X flexibilidade
no mundo do trabalho contemporâneo,
sinaliza que a opção por concursos públicos
é proveniente da frustração com a inserção A flexibilidade tornou-se um imperativo
profissional no setor privado, e que “os organizacional frente ao mercado altamente
concurseiros exprimem a situação econômica, competitivo de um mundo globalizado.
social e educacional vigente e os obstáculos no A sobrevivência das empresas depende
mundo do trabalho; vêem no serviço público da elasticidade institucional. Celeridade,
adaptação e leveza são valorizadas
garantia de um emprego estável” (2010, p.
socialmente, em contraposição à rotina
10). Na busca incessante por segurança e na
burocrática das hierarquias piramidais
tentativa de maximizar seus investimentos
weberianas, símbolo dos tempos áureos do
nos estudos preparatórios, rompem com a
fordismo, que precisa ser banida dos setores
profissão que escolheram ou com o trabalho
dinâmicos da economia.
que desenvolviam. Candidatam-se ora para
cargos de nível médio, ora para cargos de nível
superior, para funções compatíveis ou não com Empresas perfeitamente viáveis são
estripadas ou abandonadas, empregados
a sua área de formação – a garantia de inserção capazes ficam a deriva, em vez de serem
no mundo do trabalho é que prepondera. recompensados, simplesmente porque a

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organização deve provar ao mercado que autonomia? Como equilibrar administração


pode mudar (Sennett, 1999, p.59) flexível e manutenção dos princípios básicos
do Estado de Direito como: legalidade,
A conformação dura, pesada e estável
impessoalidade, regras formais e universais sem
associou-se a um padrão obsoleto e
o contrapeso das normas e dos regulamentos?
antiquado, e comparece como sinal de
Os órgãos públicos e seus servidores estariam
fraqueza, indicando ao mercado que a
condenados à extinção frente a essa lógica
empresa não é capaz de inovar, de gerir
mercadológica que impõe como condição
processos de mudanças e de atender às
para a sobrevivência a mudança constante?
exigências voláteis da sociedade (Sennett,
2006).
c) Carreira linear X vínculos frouxos
A força de trabalho central das empresas
é reduzida, e parte das atribuições é A regularidade de uma carreira linear construída
transferida para os terceirizados, temporários em uma única empresa, a especialização em
e subcontratados. Volume e tamanho uma atividade determinada, a possibilidade de
deixam de ser recursos para se tornar riscos. planejamento a longo prazo e a segurança em
A administração de uma equipe grande relação ao futuro – características presentes
torna-se onerosa. No capitalismo, leves principalmente nos países mais avançados
engajamentos e vínculos empregatícios onde o Estado de bem-estar social revelou
duradouros não são recomendados. Na uma estrutura sólida – são diretamente
obsessão pela dieta de emagrecimento, afetadas pelo processo de reestruturação
os empresários elegem como principal produtiva.
estratagema da arte de administrar a redução
de excessos, de gorduras, o que propicia
No capitalismo flexível, a estrada reta da
leveza para o capital, permitindo que ele
carreira tradicional é bloqueada; surgem
se mova mais rapidamente e que torne a
no percurso desvios, múltiplas direções. A
amplitude de sua viagem cada vez mais
carreira “que avança passo a passo pelos
global (Bauman, 2001).
corredores de uma ou duas instituições, está
fenecendo, e também a utilização de um
Atacam-se as formas rígidas de burocracia... único conjunto de qualificações no decorrer
Pede-se aos trabalhadores que sejam ágeis,
de uma vida de trabalho” (Sennett, 1999,
estejam abertos a mudanças a curto
prazo, assumam riscos continuadamente, pp. 20-21). A concepção da constituição
dependam cada vez menos de leis e de carreiras lineares associada a degraus/
procedimentos formais (Sennett, 1999, subida/verticalidade dá lugar a mobilidades
p. 9)
horizontais ou transversais, a pulverização
de experiências. O trabalhador precisa ser
E quanto ao servidor público, como maleável e reconverter-se permanentemente,
avaliar o seu dia a dia nesse contexto? enfrentar acontecimentos inesperados, ser
As organizações estatais constituídas por capaz de reinventar continuamente a sua
modelos predominantemente burocráticos atividade laboral, buscando sempre novas
propiciariam espaços para práticas laborais especialidades. Para manutenção da sua
flexíveis? Quais são as possibilidades de empregabilidade, torna-se estratégico, de
criação e de inovação de um trabalhador tempos em tempos, mudar de empresa, como
em um órgão público diante das amarras da meio de adquirir novas competências.
legislação que não raramente subtrai-lhe a

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Contratantes e contratados mantêm laços adequada, futuro profissional relativamente


frouxos: “a organização incha e se contrai, planejado e previsível e formação apropriada
empregados são atraídos ou descartados e ética no trabalho. Para ele, reunir, na
à medida que a empresa transita de uma atualidade, todos esses elementos é cada vez
tarefa a outra” (Sennett, 2006, p. 50). O mais difícil.
setor de trabalho temporário está em franca
expansão; hoje o maior empregador dos
Surge, dessa forma, um novo perfil de
Estados Unidos já não se chama General
trabalhador, não mais um executor
Motors ou IBM – é a empresa Manpower,
disciplinado de tarefas prescritas, mas um
fornecedora de mão de obra temporária.
“trabalhador competente, versátil, que deve
Essa empresa disponibiliza para o mercado
vivenciar a flexibilidade e a insegurança das
americano um gigantesco exército de reserva
condições de trabalho como um desafio
nas mais diversas especialidades, que pode
inevitável na sua vida profissional” (Lopes,
trabalhar por vezes em dois ou três lugares
2009, p.98).
no mesmo dia.

Busca-se pessoas abertas ao sacrifício e à


Essas transformações implicam, na verdade,
renúncia, que almejem incessantemente o
significativas mudanças na morfologia da
sucesso profissional, que consigam equilibrar
atividade laboral, sinalizadoras de um processo
sentimentos de pertencimento e de devoção
de metamorfose, e não de desaparição e de
incondicional a uma empresa com uma
perecimento da mesma, como defendem
postura de indiferença e de naturalidade
algumas correntes eurocêntricas. A classe-
frente às situações de ruptura de vínculos
que-vive-do-trabalho (Antunes, 1999) hoje
empregatícios.
em dia apresenta uma conformação mais
complexa, heterogênea e fragmentada,
diversa da que predominou nos anos de Valoriza-se o trabalhador desprendido do
apogeu do taylorismo/fordismo. Essa classe passado e voltado para o futuro, que subverte
revela um caráter polissêmico e multifacetado, as hierarquias instituídas, revela gosto pelo
composta, de um lado, por uma minoria de risco, pela autonomia e vê vantagens em um
trabalhadores qualificados, polivalentes e ambiente incerto e turbulento, um sujeito que
multifuncionais, com maior possibilidade não se assusta com o provisório e nem cultiva
de exercitar a sua dimensão “intelectual” e vínculos duradouros com a empresa, alguém
experimentar “maior realização no espaço que faça de si mesmo seu melhor patrimônio
de trabalho”; de outro lado, compõe-se de e empreendimento, que seja seu próprio
um enorme incremento do subproletariado empresário, assumindo assim a obrigação de
constituído por trabalhadores terceirizados, gerir a sua vida profissional.
subcontratados, temporários, entre tantas
outras formas assemelhadas de informalidade Imerso em uma cultura de rotatividade
e de precarização do trabalho disseminadas caracterizada por laços frouxos e relações
em todas as partes do mundo (Antunes, superficiais e fluidas, o trabalhador deve
2005). investir no desenvolvimento de competências
transferíveis para o exercício de diferentes
Nesse cenário, Chanlat (1996) alerta que atividades profissionais em novos ambientes
pensar em carreira tornou-se paradoxal, laborais, mantendo - se, dessa forma,
porque a ideia de gestão de carreira supõe competitivo e empregável diante das
estabilidade no emprego, remuneração turbulências de um mercado globalizado.

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Identifica-se, portanto, a implementação duração para, ao sabor das instabilidades


de novos modelos de gestão organizacional do mercado, contrair-se e expandir-se
voltados para o trabalhador autônomo/ rapidamente, dispensando ou contratando
empreendedor, alguém cooptado pela pessoal (Sennett, 2006).
ideologia da excelência, dedicado, com
uma sede de desenvolvimento insaciável,
Nessa perspectiva, o servidor público pode
trabalhadores receptivos à mudança, à
ser identificado como um trabalhador
descontinuidade, ao inusitado, e, certamente,
deslocado do contexto, como se estivesse
enfadados com a rotina, a previsibilidade e
na contramão das demandas dos modelos
a estabilidade, perfil perfeito para os donos
inovadores de produção, e é discriminado
do capital – protótipo do trabalhador-padrão
por destoar do ritmo acelerado e frenético das
do século XXI, feito sobre encomenda para
organizações de trabalho calcadas no padrão
atender à estrutura flexível das empresas
de acumulação flexível; é, provavelmente,
contemporâneas.
uma categoria em extinção, sem lugar na
sociedade contemporânea.
Nesse contexto, cabe analisar as possibilidades
de um servidor público ampliar e diversificar
A falta de um espaço de reconhecimento
as suas atribuições, adquirindo, assim, novas
e de valorização interfere no sentido
competências. Quais as chances de esse
atribuído pelos servidores públicos à sua vida
trabalhador se tornar um empresário de si
profissional. Torna-se motivo de preocupação
mesmo? E, especialmente, vale a pena para
o fato, cada vez mais comum, de o trabalho
o servidor público transformar-se em um
para essa categoria assumir apenas o sentido
trabalhador autônomo/ empreendedor? Por fim,
de porto seguro para o atendimento de suas
resta investigar a quem serve esse padrão ideal
necessidades financeiras frente à instabilidade
de trabalhador, aos ditames do mercado ou às
do mercado.
necessidades da classe-que-vive-do-trabalho?

Considerações finais Não se pode ignorar que trabalhar é mais


do que vender sua força em troca de um
Diante do exposto, pode-se inferir que, no salário garantido. Há uma remuneração
mundo do trabalho atual, o servidor público social embutida nesse processo. A
tem um espaço cada vez mais reduzido. É atividade laboral pode ser uma significativa
senso comum que essa categoria é constituída oportunidade de desenvolvimento das
potencialidades humanas, atuando como
por trabalhadores ineficientes e obsoletos. A
fonte de autorrealização, de autoestima,
mídia incansavelmente vende a ideia de um
de experiências psicossociais e de sentido
funcionário público privilegiado por trabalhar
de vida. A recompensa do trabalho não
pouco e ganhar muito, e, acima de tudo,
é só a estabilidade financeira; o trabalho
por desfrutar do direito à estabilidade no
comparece também como uma importante
emprego em tempos de trabalho provisório.
fonte de prazer quando existe espaço para
o reconhecimento social da contribuição
Não é lucrativa para o capitalismo flexível
pessoal. A ausência de um julgamento
a perpetuação de categorias profissionais
favorável do trabalho limita o estabelecimento
como a dos servidores públicos – detentora
de uma dinâmica de reconhecimento e
de direitos trabalhistas, ainda que poucos.
afeta, assim, o processo de ressignificação do
As organizações de trabalho precisam de sofrimento e da transformação das vivências
leveza, de agilidade, de contratos de curta de desprazer em prazer.

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Essas críticas depreciativas recorrentes deter condições financeiras para o seu sustento e
atingem diretamente o servidor, pois o o de sua família, encontrando-se, de certo modo,
reconhecimento está no âmago do prazer e preservado das incertezas do setor privado.
do sofrimento na atividade laboral. Dejours
adverte que, entre os trabalhadores, Por fim, torna-se necessário levantar
questionamento quanto à falta de um
Há os indolentes e desonestos, mas, lugar no mundo do trabalho atual ser um
em sua maioria, os que trabalham se
problema exclusivo do servidor público.
esforçam por fazer o melhor, pondo nisso
muita energia, paixão e investimento Constata-se que essa dificuldade se estende
pessoal. É justo que essa contribuição também ao setor privado, pois sabe-se que,
seja reconhecida. Quando ela não é, apesar do discurso corrente que alardeia
quando passa despercebida em meio à
indiferença geral ou é negada pelos outros,
os benefícios desse setor, tais como maior
isso acarreta um sofrimento que é muito margem de autonomia, de participação
perigoso para a saúde mental (1999, p.34) e de realização profissional, na prática, o
trabalhador do setor privado está inserido em
Chanlat assinala que, “no decorrer dos últimos ambientes bastante competitivos e áridos, e
vinte anos, os empregados do setor público e experimenta sentimentos de desproteção e
notadamente os funcionários sofreram mais de vulnerabilidade.
ou menos fortemente o discurso sobre sua
suposta ineficiência, sua fraca produtividade, Enriquez expõe essa vivência de forma muito
até sua verdadeira utilidade” (2002, p.5). clara quando afirma que, perante a lógica do
Segundo o autor, é comum, na maioria trabalhador autônomo,
dos países industrializados, ocultarem sua
condição de funcionários públicos para não
os indivíduos estão sempre em situação
serem ridicularizados nos encontros sociais.
de prova, em estado de estresse, sentem
Nessa mesma direção, Coutinho, Diogo e queimaduras internas, tomam excitantes
Joaquim, ao apresentarem resultados de uma ou tranquilizantes para dar conta da
pesquisa realizada com servidores técnico- situação, para ter bom desempenho, para
mostrar sua ‘excelência’ (entramos numa
administrativos de uma instituição federal de
civilização de dopping), e, quando esses
ensino superior, ilustram bem o desconforto indivíduos não são mais úteis, eles são
vivenciado por alguns servidores na fala de um descartados apesar de todos os esforços
entrevistado: “‘(...com) o pessoal que paga, despendidos (2006, p.6)
em determinados casos, eu tenho vergonha
de dizer que sou servidor público. Porque o A apologia ao trabalhador autônomo/
pessoal que paga, com razão, tem que exigir, empreendedor, portanto, revela rachaduras,
né...’ Há uma discriminação social causada deixando à mostra que atende em primeiro
pela má conduta de alguns” (2008, p.4). lugar aos ditames do mercado e não às
necessidades da classe-que-vive-do-trabalho.
Frente a um olhar preconceituoso da Tanto o servidor público como o empregado
sociedade, o servidor experimenta do setor privado são afetados pelas frequentes
sentimentos ambíguos: por um lado, mutações do mundo do trabalho. Ambos
constrangimento pelo não reconhecimento vivenciam um intenso movimento de
social do seu trabalho, por outro, orgulho desestabilização e de perda de território nos
por ser um felizardo, alguém perseverante seus ambientes laborais, o que facilmente
e capaz que conseguiu conquistar uma vaga pode se converter em um perigoso e
no tão disputado e desejado serviço público; preocupante processo de alienação e de
saboreia um sentimento de vitória e alívio por sofrimento no trabalho.

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Carla Vaz dos Santos Ribeiro


Doutora em Psicologia Social pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro e professora adjunta da Universidade
Federal do Maranhão, São Luís – MA – Brasil.
E-mail: carlavazribeiro@uol.com.br

Deise Mancebo
Doutora em História da Educação pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e professora titular da
Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro – RJ – Brasil.
E-mail: deise.mancebo@gmail.com

Endereço para envio de correspondência:


Rua Rio Pimenta, 14, Olho d’Água. CEP: 65.067-570. São Luís, MA

Recebido 23/01/2012, Aprovado 29/11/2012.

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