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ESQUERDA O PT NA
PETISTA CRISE DOS 40
GOLPE CONTRA
DILMA, PRISÃO DE
LULA, ELEIÇÃO DE
BOLSONARO: FRENTE
A DERROTAS TÃO
PROFUNDAS, O QUE
DEVE MUDAR NO PT?
SINDICAL
EDITORIAL EDUCAÇÃO
PETISTA Lutar sempre, não A educação em
Novo Sindicalismo,
40 anos depois
importa o tempo que tempos de Bolsonaro | Marcos Jakoby p. 54
EXPEDIENTE dure p. 2 | Izabel Costa p. 42
Cartografia das Centrais
ESQUERDA PETISTA é uma publicação da Desmontando
Editora Página 13, sob responsabilidade
Sindicais brasileiras |
INTERNACIONAL a formação dos
da direção nacional da Articulação de Leandro Eliel P. Moraes p. 57
Esquerda, tendência do Partido dos Faltou combinar com educadores brasileiros
Trabalhadores.
os russos | Pepe Escobar | Celi Taffarel p. 45
Direção Nacional da tendência petista p. 4
Articulação de Esquerda: CULTURA
SAÚDE
China: 70 anos de
Responsável: Múcio Magalhaēs (PE); Valter Sobre transe, vertigem
Pomar (SP); Damarci Olivi (MS); Daniela Ma- socialismo | Wladimir O SUS em tempos
e ilusões: o golpe no cinema
tos (DF); Natalia Sena (RN); Jandyra Uehara; Pomar p. 11 sombrios | Aparecida
Patrick (PE); Julio Quadros (RS). | Sônia Fardin p. 89
Linhares Pimenta p. 50
Coreia Popular:
Comissão de ética nacional:
Revolução e socialismo RESENHA
Titulares: Jonatas Moreth (DF); Sophia Mata
ESQUERDA
apoiados nas próprias
(RN) Suplentes: Rosana Ramos (SP); Pere Cartografia da De Costas para o Império,
Petit (PA). forças | José Reinaldo
esquerda no Brasil | de Daniel Araújo Valença |
Carvalho p. 17 Leandro Eliel P. Moraes Ilana Lemos Paiva p. 98
Conselho Editorial da Editora Página 13:
10 claves para p. 63
Elisa Guaraná, Francisco Xarão, Giovane
Zuanazzi, Jandyra Uehara, Luiz Momesso, entender el México de
Marcos Piccin, Pamela Kenne, Paulo Denis- López Obrador (TEXTO EM
ar, Pedro Pomar, Pere Petit, Rodrigo César, 7 o CONGRESSO
ESPANHOL) | Katu Arkonada
Rosana Ramos, Rosângela Alves de Oliveira,
Sonia Fardin, Suelen Aires Gonçalves p. 24 PT 40 anos: mudança ou crise | Valter Pomar p. 71
EDITORA
Walter Barelli, o economista dos
OLJ: fora, no limite trabalhadores | Paulo Fontes p. 107
ou dentro da lei? Lúcio Bellentani: a trajetória de um operário
| Natalia Sena p. 37
militante. Uma visão crítica | Sebastião Neto p. 109
EDITORIAL Resistência
Lutar sempre,
não importa o
tempo que dure
E
sta é a versão digital da revista Esquerda Petista. A ver- taduras militares. Que se desistíssemos da expropriação dos
são impressa sairá depois de 8 de setembro de 2019, capitalistas, estes aceitariam a distribuição de renda e poder.
incorporando uma análise política da eleição que o Que se deixássemos de lado o anti-imperialismo, os EUA e
Partido dos Trabalhadores realizará nesta data. seus amigos aceitariam a integração regional e respeitariam
Não faremos, neste editorial, um resumo dos artigos dis- nossa soberania. Que se a esquerda fosse a campeã do repu-
poníveis nesta edição. Apenas lembraremos que seu conteúdo blicanismo e do ‘estado de direito’, o outro lado abriria mão
é de total responsabilidade de seus autores. Mas o sentido ge- do ‘estado da direita’. (...) A cada derrota, a cada desmentido,
ral do publicado é contribuir para que a esquerda brasileira e os semeadores de ilusões buscam novas. Não conseguem per-
amigos em
seus amigos emtodo
todooomundo
mundoproduzam
produza uma
umaestratégia
estratégia capaz
capaz ceber que na luta de classes vale a máxima: se queres a paz,
de enfrentar a situação aberta pela crise internacional de 2008 prepara-te para a guerra. Lula pode ser libertado, Bolsonaro
e pelo tríplice golpe de 2016-2018. pode ser derrotado, nossos inimigos podem ser divididos, po-
Isso inclui, para começo de conversa, uma maior dispo- demos derrotar a direita nas eleições de 2020 e 2022, podemos
sição de estudar e compreender os fenômenos que estão em voltar a governar o país. Mas para isso, só há um caminho:
curso. Não nos move, é bom dizer, nenhum culto à novidade. lutar, lutar e lutar. E os que vivem no mundo das ilusões, não
Até porque, em vários casos, estamos diante de velhos mons- conseguem lutar adequadamente. E a luta será mais ou me-
tros e antigos problemas, devidamente customizados. nos longa, a depender do que ocorra no mundo, a depender
Incluir,
Inclui, em segundo lugar, estar disposto a enfrentar das divisões na coalizão golpista e, principalmente, a depen-
uma longa maratona com obstáculos, mas sempre alerta der de nossa capacidade de conscientizar, organizar e mobili-
para as “janelas” que a luta de classes abre. A realidade, zar a classe trabalhadora. O 7º Congresso do PT será palco de
ainda bem, é muito mais criativa do que nossas teorias. E, muitas batalhas: da democracia contra a fraude; do debate
mesmo quando tudo parece perdido, oferece oportunidades contra a mera votação; do partido de luta, contra a legenda
para dar a volta por cima, convertendo longas maratonas eleitoral; do partido antissistema, contra a politicagem tradi-
em corridas de cem metros. cional e fisiológica; da oposição radical, contra a frouxidão;
Mas para termos êxito, na maratona ou nas corridas de das reformas estruturais e do socialismo, contra a social-de-
cem metros, é preciso abandonar todas as ilusões. Como está mocracia e o social-liberalismo. Além disso, o congresso do PT
dito na tese Em tempos de guerra, a esperança é vermelha: será uma batalha entre quem cultiva ilusões e quem semeia
“Se quisermos vencer, devemos começar nos libertando de to- esperanças”.
das as ilusões que predominaram, nos últimos anos, no PT.
A ilusão dos que acreditavam que se a esquerda desistisse da Boa leitura. E Lula Livre!!!
revolução e do poder, a direita desistiria dos golpes e das di- Os editores
2 Agosto-Setembro
ESQUERDA PETISTA #10 - Agosto 2019 2019
HOMENAGEM
GUSTAVO
CODAS
Economista pela PUC-SP e mestre em Relações Internacionais
pela Unicamp, Codas estava cursando doutorado em Energia
pela Universidade Federal do ABC. Foi assessor de Relações
Internacionais da CUT, de onde saiu para assumir a direção
geral de Itaipu Binacional como representante do governo do
Paraguai, país onde nasceu. Na Fundação Perseu Abramo, era
coordenador do Grupo de Conjuntura.
Faleceu no último dia 12 de agosto, aos 60 anos.
Deixa três filhos (Iuri, Julia e Matias) com Nalu Faria,
liderança da Marcha Mundial das Mulheres,
com quem foi casado.
Faltou combinar
com os russos
Pepe Escobar*
Evgenia Novozhenina/Reuters
Crucialmente, RC está sincroniza-
do no total apoio de Putin ao BRI, assim
como na corrida para mesclar os projetos
do BRI e da União Econômica da Eurásia
(EAEU). É esta interconexão que poderá
solidificar o objetivo de Moscou em con-
figurar a Rússia como a chave da ponte
entre as regiões Eurásicas.
É apropriado que Putin e Xi, além
de fechar acordos, tenham tido tanto
tempo para discutir em Moscou. E tudo
isto aconteceu ainda antes de Putin e Xi
encontrarem os mais altos executivos de
mais de 50 companhias russas e 60 com-
panhias chinesas presentes ao segundo
Fórum Russo-Chinês de Energia, orga-
nizado por Rosneft e pela Corporação
Nacional de Petróleo da China. E antes
do muito aguardado discurso de Putin Putin recebeu em 9 de junho, no Palácio do Kremlin, o presidente da China, Xi Jinping
sobre o turbulento tabuleiro de xadrez
geopolítico atual, ao lado de Xi, na ses- Putin e Xi firmaram um grande número de
são plenária do Fórum Econômico In-
acordos. Mas um deles se destacou: a corrida
ternacional de São Petersburgo (SPIEF),
o fórum anual de negócios mais impor- para desenvolver a transação bilateral e os
tante da Rússia. pagamentos transfronteiriços usando rublos e
É absolutamente impossível com-
preender as porcas e os parafusos do yuans, contornando o dólar americano. Putin
complexo maquinário da progressiva in- descreveu diplomaticamente como “Rússia
tegração Eurásica, sem atender ou acom-
panhar os debates e discussões do SPIEF.
e China pretendem desenvolver a prática de
O encontro petersburguês deste ano acordos oficiais em moeda nacional”
encenou algumas das plenamente essen-
ciais discussões revolvendo em torno da Robert Dudley e o presidente de projetos • O amplo painel sobre negócios e in-
integração Eurásica. A maior parte desses globais da ExxonMobil, Neil Duffin; vestimentos ao longo da Eurásia, juntan-
problemas são simplesmente ignorados • A discussão na atual mudança pa- do o presidente do conselho de negócios
no Ocidente. Para benefício dos leitores radigmática na ordem econômica global, do EAEU, Viktor Khristenko, o presidente
brasileiros, estes são alguns exemplos com a presença do vice-ministro do De- do conselho de administração do Banco
que merecem ser examinados minucio- senvolvimento Econômico da Rússia, Ti- de Desenvolvimento Eurásico, Andrey
samente. mur Maksimov, do líder de Economia de Belyaninov, o Vice Primeiro-Ministro An-
•Um painel de energia reunindo o Mercado Emergente e Estratégias no Ban- ton Siluanov, e o chefe do conselho analí-
CEO da Rosneft, Igor Sechin, o Minis- co da América Merrill Lynch David Hauner tico do Sberbank Yaroslav Lissovolik;
tro de Finanças da Qatar, Ali Shareef al- e o extremamente articulado Paul Chan, • A evolução dos negócios ao redor da
-Emadi, o Chefe Executivo do grupo BP, Secretário de Finanças de Hong Kong; parceria estratégica entre Rússia e China,
mica de matar ou morrer contra a guerra em um mundo em “transição”; ele tem A interconexão pan-Eurásica gritou
econômica da administração Trump e sua expressado interesse entusiástico em ainda mais alto, imediatamente após
política de bloqueio. comprar Skhoi Su-35 e Mi-35M (helicóp- o ocorrido em Bisqueque; a cúpula da
Modi enfrenta uma rígida escolha teros de ataque). Conferência sobre Integração e Medidas
existencial. Ele está tentado a canalizar Irã é o coração do mapa de rota na de Fortalecimento da Confiança na Ásia
sua visceral posição anti-cinturão-e-ro- integração BRI-OCX-EAEU. Russia e Chi- (CICA), em Duchambé, Tajiquistão.
ta no grito de sereia “Indo-Pacífico” dos na não podem permitir que o Irã seja es- Bisqueque e Duchambé expandiram
EUA - na verdade um mecanismo de blo- trangulado. Irã se vangloria de fabulosas o que já havia sido extensamente discuti-
queio continental contra “China...Chi- reservas de energia, um enorme mercado do no fórum em São Petersburgo. O pró-
na...China...”, conforme a liderança do interno e é o estado na linha de frente prio Putin salientou que todos os vetores
Pentágono admite publicamente. contra complexas redes de ópio, arma- deveriam estar integrados: BRI, EAEU,
Ou então, ele pode cavar mais fundo mento e contrabando jihadiano - todas OCX, CICA e ASEAN.
até uma aliança OCX/RIC (Rússia-Índia- estas preocupações chave para os mem- Entre os vinte e um tratados assina-
-China), focada na integração e multipo- bros da OCX. dos, a OCX também estendeu o mapa da
laridade Eurasiática. Não há dúvida que Rússia e Irã tem rota para o vital Grupo de Contato OCX-
Ciente do alto risco, uma ofensiva interesses em conflito no sudoeste asiá- -Afeganistão, aprofundando o imperati-
sedutora dos principais BRICS e OCX tico, Contudo, o que mais importa para vo da parceria estratégica Rússia-China,
avançou com força. Putin convidou Modi Moscou é prevenir a migração de jihadis de que o drama afegão deveria ser defini-
ao papel de principal convidado do Fó- para o Cáucaso e Ásia Central, para cons- do pelos poderes da Eurásia.
rum Econômico Oriental em Vladivos- pirar ataques contra a Federação Russa; E o que Putin, Xi e Modi discutiram
tok, no princípio de setembro. Xi Jinping manter sua marinha e bases da força aé- minuciosamente, em privado, em Bis-
contou a Modi em um encontro bilateral rea na Síria; manter o óleo e gás em pleno queque era para ser desenvolvido pela
que ele está mirando uma “parceria mais fluxo comercial. Teerã, por sua vez, não sua reunião de mini-BRICS, pelo RIC e a
íntima”, de investimento e capacidade pode de maneira alguma apoiar o gênero vindoura reunião da cúpula do G20 em
industrial, para pegar velocidade no esta- de acordo informal que Moscou estabele- Osaka.
cionado corredor econômico Bangladesh- ceu com Telaviv na Síria - onde ativos de Todos nestas reuniões, não apenas
-China-Índia-Myanmar (BCIM), outro Hezbollah e IRGC são bombardeados por RIC, sabiam que no futuro previsível o
foco maior do BRI. Israel, mas nunca ativos russos. complexo industrial-militar-de-seguran-
Imran Khan, de sua parte, parece Ainda assim, há margem de mano- ça americano continuaria a ser obcecado
bem alerta sobre como o Paquistão pode bra para a diplomacia bilateral, mesmo com a Rússia como um revitalizado ator
lucrar em tornar-se o principal pivot da quando agora parece estreita. O líder maligno (para o Pentágono), acompa-
Eurásia - uma vez que Islamabad ofere- supremo Ayatollah Khamenei emitiu as nhado de uma ameaça pan-abrangente-
ce uma saída privilegiada para o Mar da novas regras iranianas do jogo; reduzir -chinesa.
Arábia, ao lado do observador iraniano do as importações ao mínimo; reduzir a de- A marinha americana é obcecada
OCX. O porto de Gwadar, no Mar da Ará- pendência nas exportações de óleo e gás; com a sabedoria assimétrica dos “nossos
bia, é o eixo chave do Corredor Econômi- aliviar a pressão política doméstica (após rivais russos, chineses e iranianos” nas
co China-Paquistão (CPEC), bem melhor todos acordarem sobre o dever iraniano “vias marítimas tão disputadas” do Mar
posicionado do que o porto de Chabahar de se unir para encarar uma ameaça mor- do Sul Chinês ao Golfo Pérsico.
no Irã, que está sendo desenvolvido como tal); e ater-se à noção que o Irã não esta- Com os conservadores americanos
o eixo chave da mini versão indiana da belece amigos para todos os climas, nem escalando à máxima pressão, tentando
Nova Rota da Seda para o Afeganistão e mesmo Rússia ou China. conspirar contra um elo frágil (Irã) na
Ásia Central. O Irã está submetido à um estado integração da Eurásia, já submetido a
No fronte russo, uma ofensiva so- de cerco. Arregimentação interna deve completa guerra econômica porque den-
bre o Paquistão está pagando dividen- ser prioridade. Porém, isso não impede o tre uma série de problemas, também está
dos, tendo Imran pleno conhecimento da abandono da corrida em direção à inte- contornando o dólar americano, ninguém
aproximação paquistanesa com a Rússia gração da Eurásia. nunca poderia prever como o xadrez esta-
ria colocado quando a OCX e os BRICS se de um longo processo encabeçado por Xi Como sabem muito bem os leitores
reunirem de novo na Rússia em 2020. e Putin para seduzir Modi a integrar-se brasileiros, além da bilateral com Trump,
Mas o que estava claro a todos é que a sério em um mapa triangular da rota Bolsonaro vendeu a riqueza mineral bra-
os encontros Putin-Xi, as discussões em Eurásica, consolidada durante a reunião sileira, alegando que o país agora pode-
São Petersburgo e a cúpula da OCX, em anterior em Bisqueque. ria exportar bugigangas de nióbio. O que
menos de dez dias, articularam cabal- Agora RIC está integralmente de vol- certamente foi menos controverso do que
mente o mapa da rota para a integração ta aos negócios: o próximo encontro está a escória do exército brasileiro detida na
da Eurásia. E, sobretudo, resta o desfecho armado para o Fórum Oriental Econômi- Espanha por carregar quantidades indus-
(econômico) paradigmático: múltiplas co em Vladivostok, em setembro de 2019. triais de cocaína (36 quilos) no avião pre-
nações aprontando-se para contornar o Em suas observações introdutórias, sidencial, definitivamente arruinando a
dólar como a moeda mundial reserva. Putin, Xi e Modi deixaram claro que o duração do happy hour em Osaka.
Todos sabiam que no G20 em Osaka as RIC é sobre configurar, nas palavras de Mais tarde, Trump inquietamente
coisas seriam no mínimo emocionantes, Putin, uma “arquitetura de segurança in- aplaudiu os “gigantescos recursos” brasi-
tendo em vista a sedução de tantos recur- destrutível” para a Eurásia. leiros, agora plenamente e selvagemente
sos extraordinários. Modi - muito numa via Macrônica privatizados para benefício de compa-
- salientou os esforços multilaterais para nhias americanas. O que também pode-
A sedução de tantos “recursos barrar as mudanças climáticas, e recla- ria ter sido aplicado facilmente a Rússia e
extraordinários” mou que a economia global está sendo China - se estas fossem saqueáveis.
governada por uma ordem unilateral, en- Xi, na reunião dos BRICS, denunciou
A última parada deste nosso passeio fatizando a necessidade de uma reforma o protecionismo e clamou novamente por
nos leva à mais importante trilateral no da Organização Mundial do Comércio. uma OMC mais forte. As nações BRICS,
G20 em Osaka, confinada a um ambien- Putin deu um passo à frente, insistin- como ele disse, deveriam “aumentar nos-
te falso, melindroso e indigno da estética do, “os nossos países estão à favor de pre- sa resiliência e capacidade de lidar com
minimalista japonesa. servar o sistema internacional de relações, os riscos externos”.
O Japão extrapola em perfeito pla- cujo núcleo é a carta das Nações Unidas Depois veio Putin. Que para além de
nejamento e execução. Portanto, é difícil e a ordem da lei. Nós defendemos estes denunciar as tendências protecionistas
tomar essa configuração como um “aci- importantes princípios de relações entre das transações globais, clamou mais uma
dente” infortuno. Ao menos, a não oficial estados, em respeito à soberania e a não- vez pelas trocas bilaterais em moeda na-
cúpula Rússia-Índia-China nas laterais -intervenção nos assuntos domésticos.” cional, para contornar o dólar americano
do G20 transcende o destino de um de- Putin evidentemente salientou a in- - espelhando o compromisso RC.
corador de interiores merecendo cometer terconexão geopolítica das Nações Uni- RC, via o ministro de finanças Anton
seppuku. das, dos BRICS, da OCX, do G20, mais o Siluanov, e a cabeça do Banco Popular da
Putin, Xi e Modi se encontraram em “fortalecimento da autoridade da OMC” China, Yi Gang, assinou um acordo de-
sigilo virtual. Os poucos representantes e o FMI, assim como “o modelo de um veras importante de troca bilateral em
da mídia presentes na sala fuleira rapida- mundo moderno e justamente multipo- rublos e yuans, a princípio pela energia
mente foram convidados a se retirar. As lar que nega sanções como ações legíti- e agricultura, mas visando aumentar os
equipes de Putin, Xi e Modi mal tinham mas”. acordos em moeda cruzada em 50% nos
lugar para sentar-se. Não houve vaza- O contraste entre RIC e a adminis- próximos anos.
mentos. Cínicos prefeririam zuar que a tração Trump não poderia ser mais rígido. Haverá um esforço orquestrado para
sala teria sido grampeada de todo modo. O BRICS parece permanecer enterra- progressivamente contornar o SWIFT,
Até porque Xi é livre para chamar Putin e do, ao menos por enquanto. Houve uma usando o Sistema Russo de Transferên-
Modi a Pequim sempre que for necessá- reunião “oficial” dos BRICS meramente cias Financeiras (SPFS) e o Sistema Chi-
rio discutir negócios sérios. pela formalidade, antes da reunião de nês de Pagamentos Interbancários Trans-
Nova Déli e Modi tomaram a inicia- RIC. Porém, não é segredo que Putin e fronteiriços (CIPS).
tiva para a reunião em Osaka? Não foi Xi encaram Bolsonaro apenas como um Cedo ou tarde, Rússia-China conse-
exatamente o caso. Osaka é a culminação mero recurso neocolonial de Trump. guirão seduzir a Índia a participar. Mos-
O BRICS parece permanecer enterrado, ao menos avança com toda força em direção às No-
vas Rotas da Seda/BRI.
por enquanto. Houve uma reunião “oficial” dos
Dizer que Trump é tido com descon-
BRICS meramente pela formalidade, antes da fiança pela Europa é eufemismo. Bru-
reunião de RIC. Porém, não é segredo que Putin xelas sabe que a UE é alvo de outra imi-
nente guerra comercial. Enquanto isso,
e Xi encaram Bolsonaro apenas como um mero com mais de 60 nações compromissadas
recurso neocolonial de Trump. com incontáveis projetos do BRI, e com
a União Econômica da Eurásia (EAEU)
também interligada com a BRI, Pequim
sabe que é apenas uma questão de tempo
antes que toda a UE embarque na rodovia
do BRI. A UE está finalmente começando
a aquecer-se para o mercado chinês e fi-
nalmente assinou um tipo de “Mandato
do Céu” comercial com Pequim.
Adicione-se mais dois fatores essen- Rússia tornou-se o maior exporta- de mísseis de defesa russos S-400; na ver-
ciais. O poder das novas armas hipersôni- dor de petróleo para China, e será o mes- dade todo mundo quer os S-400.
cas russas deixou o complexo industrial mo para gás natural: o massivo Gasodu- A conclusão é inevitável: o todo-
militar americano absolutamente despe- to Oriental abrirá em dezembro, seguido -poderoso maquinário militar america-
daçado. E as sanções dos EUA e UE ulti- pelo Power of Siberia e mais dois enormes no não está mais assustando o mundo
mamente tem levado Putin a lançar pro- sítios de exportação gás natural líquido. como antes.
gramas de investimentos sociais e de in- O plano americano para demonizar e As capacidades industriais do impé-
fraestrutura massivos, que valem 390 bi- isolar a Rússia com sanções, também apli- rio podem estar num lamentável estado,
lhões de dólares e abrangendo 12 projetos cado pela UE, combinado com a redução mas Washington ainda permanece ex-
nacionais, comprometidos em melhorar a ou até talvez uma possível interrupção tremamente perigosa. E até francamente
vida de milhões de russos. das exportações de energia russa para a ensandecida.
Do lado chinês, inspiraram-se no pro- Europa, se tornaria completamente inó- O Pentágono continuará a desenvol-
grama alemão Indústria 4.0 para lançar cuo. Houve severas discussões de conjun- ver “planos de contingência nuclear” e
o Made in China 2025, há apenas quatro tura em Moscou sobre a possibilidade da não vacilará em “empregar armas nucle-
anos. MIC2025 foi cuidadosamente pla- Rússia reconduzir todas as exportações de ares” para “ameaçar e intimidar, respon-
nejado para quebrar o excesso de depen- energia para a Ásia e, neste caso, a UE es- der à crises, assessorar greves e retornar
dência da China à tecnologia estrangeira taria totalmente dependente do extrema- à estabilidade”. O que em pentagonês
e, conclusivamente, estreitar a lacuna com mente volátil Golfo Pérsico. significa que Washington pode soltar os
os poderes ocidentais sob alta tecnologia. E isso nos leva ao coração do proble- cachorros da guerra nuclear quando bem
A medida de sua ambição está em ma das atuais condições da viciosa guerra entender, até salientando que “talvez
aspirar a um Top 10 industrial, onde a econômica americana contra o Irã. exista um requerimento para atingir alvos
China supostamente vire a líder mundial: General Barry McCaffrey, ex-secre- adicionais para garantir a fim da guerra
tecnologia da informação, ferramenta de tário do presidente do conselho do Joint ou outros objetivos estratégicos”. Hiroshi-
controle numérico e robótico, tecnologia Chiefs of Staff (JCS) e Diretor de Planos ma e Nagasaki foram só o começo.
aeroespacial, engenharia de equipamento Estratégicos e Políticas também no JCS, Confrontada com tal ensandecimen-
oceânico, navios de alta tecnologia, equi- contou a uma de minhas fontes, durante to imperialista, o certo é que a Rússia - até
pamentos ferroviários, veículos econômi- um almoço no Harvard Club: “Os Estados mais que a China - não está impressiona-
cos e veículos com energias alternativas, Unidos não tem o poder militar para man- da. O fato é que a RC continuará arando
geradores de energia, novos materiais, ter o Estreito de Ormuz aberto e suas for- a terra geopolítica, ampliando o uso de
medicina e dispositivos medicinais e ma- ças-tarefa devem voar alto, se eles preten- rublos e yuans para trocas comerciais e
quinário agrícola. derem estar fora do alcance dos mísseis transações financeiras, contornando o
Sem dúvida, a ordem americana está russos e chineses alinhados na costa do dólar americano e encorajando o Sul Glo-
absolutamente aterrorizada. Irã, que são os mais avançados no globo”. bal para seguir o exemplo. Perguntem ao
O que já estamos testemunhando é a Então vamos revisar brevemente o presidente Lula; não há como imobilizar o
intensificação da simbiose Rússia-China, cenário de fundo. A administração Trump império sem esvaziar seu bolso de dinhei-
enquanto os EUA e a UE pressionam com ameaçou a Coreia do Norte com guerra ro fiduciário.
sanções. Nada mudou com a nomeação da e depois teve de voltar atrás. Ameaçou o
protégé de Merkel, Ursula Von der Leyen, Irã com guerra e teve de voltar atrás. A
*PEPE ESCOBAR é correspondente
como chefe da Comissão Européia (EC). triarquia Bush-Obama-Trump perdeu a
e editor itinerante do Asia Times (Hong
Washington - especialmente o Deep Sta- guerra no Afeganistão contra o Talibã. A
Kong) e colunista para o Consortium
te - continuará a forçar a UE a manter a casa de Saud, uma satrapia dos EUA, de-
News (Washington) e Strategic Culture
Rússia como um inimigo. Questões sérias sencadeou um desastre humanitário no
(Moscou). Sua mais nova publicação é o
estão sendo levantadas através da Europa Iêmen, mas não venceu guerra alguma.
livro “2030” (Nimble Books, EUA).
- ainda que não nos corredores de Bruxe- Rússia e Irã venceram a guerra por proxy
las - sobre se os EUA estão tentando des- americana lançada ao povo Sírio. Turquia, O original de Pepe Escobar foi traduzido do
truir a UE. membro da OTAN, adquiriu os sistemas inglês para o português por Amanda Pomar
CHINA: 70 anos
de socialismo
Wladimir Pomar* 1949-2019
E
m 1o de outubro de 1949, após as guerras de resistên- ciais e políticas voltadas para suplantar séculos de dominação e
cia contra a invasão japonesa e contra a ditadura de atraso feudal e imperialista e para elevar os padrões de vida de
Chiang Kaishek, a China proclamou sua república de- seus vários povos (vivem na China mais de 50 nacionalidades).
mocrática popular, de orientação socialista. Nos primeiros 29 anos, tendo como órgão supremo a As-
Entre 1937 e 1949, o Partido Comunista da China consegui- sembleia Popular, a República Popular da China enfrentou não
ra forjar duas grandes alianças sociais e políticas de âmbito na- só novas ameaças externas (a exemplo da Guerra da Coréia, nos
cional. Uma, contra o imperialismo japonês, incluindo as forças anos 1950) mas também experimentos econômicos, sociais e po-
que apoiavam Chiang. Outra, abrangendo os operários urbanos, líticos que lhe permitissem superar o atraso e a miséria seculares.
os camponeses, a pequena burguesia urbana e a burguesia na- A reforma agrária, que distribuiu as terras agrícolas entre
cional, em contraposição aos latifundiários feudais e à burguesia centenas de milhões de camponeses, assim como a cooperação
compradora, que dominavam o país desde o fim da monarquia e com a burguesia nacional nas cidades para desenvolver a indús-
da proclamação da república. tria, o comércio e os serviços, são exemplos desses experimentos.
A vitória dessa segunda aliança fez com que, a partir de en- No entanto, enquanto os camponeses, em grande medida au-
tão, a história chinesa passasse por experiências econômicas, so- xiliados pelas novas cooperativas agrícolas, se esforçaram para
elevar a produção agrícola e suprir as Numa primeira fase, entre 1978 e Por outro lado, ao invés de privatizar
necessidades alimentares da população, 1984, as reformas concentraram-se na as empresas estatais, como era intensa-
a burguesia nacional agiu quase exclusi- agricultura, melhorando os preços dos mente divulgado na imprensa ocidental,
vamente no sentido de enriquecer como produtos agrícolas adquiridos pelo Esta- o Estado chinês introduziu a concor-
a antiga burguesia compradora. do, dando livre curso à ação do mercado rência entre elas. Ou seja, criou mais de
Foi essa tendência que, ainda nos nas zonas rurais, transformando as co- uma estatal em cada ramo industrial, de
anos 1950, levou à estatização de diversos operativas agrícolas em centros de difu- modo a intensificar a concorrência, não
setores industriais e comerciais e a vários são das tecnologias agronômicas entre os só entre elas, mas também entre elas e as
esforços frustrados para dar um salto na camponeses e intensificando a fabricação empresas privadas, com a dupla missão
produção industrial e na economia como industrial no próprio campo para suprir de evitar a burocratização e levá-las a in-
um todo. Mas, como o ritmo de desenvol- equipamentos utilizados na vida rural. tensificar o uso de novas tecnologias para
vimento continuou baixo, impedindo a Paralelamente, ainda em seu perí- aumentar a produtividade.
superação dos grandes bolsões de miséria odo inicial, as reformas realizaram, nas Ou seja, embora os anos 1980 te-
presentes, no final dos anos 1960 o Parti- zonas urbanas, o enxugamento da prá- nham se enchido de manchetes e notí-
do Comunista e o governo conclamaram tica de emprego de 3 trabalhadores para cias sobre as “privatizações” das empre-
o conjunto de sua população a uma radi- cada função industrial, que permitia um sas chinesas, isso não passou de fake news
cal revolução cultural. índice relativamente alto de empregos, difundidos pela imprensa ocidental. De
Depois de 10 anos de imensas mo- mas impunha uma baixa produtividade qualquer modo, foi nesse contexto que
bilizações populares e experimentos os à indústria e às obras públicas. Para evi- entrou em execução o programa de pro-
mais variados, incluindo lutas sociais tar o desemprego, esse enxugamento foi moção de investimentos estrangeiros. A
e políticas para intensificar a produção acompanhado da instalação de escritórios China abriu as portas para tais investi-
industrial e agrícola e elevar o padrão de projetos para financiar engenheiros, mentos, desde que em joint ventures com
de vida dos chineses, a revolução cultural técnicos e trabalhadores que quisessem empresas chinesas (estatais e/ou priva-
findou por inanição. Em seu lugar, após sair das empresas estatais para implantar das).
uma intensa avaliação crítica de âmbito novas indústrias, de caráter privado. Eles deveriam promover o desenvol-
nacional, entre 1976 e 1978, foi apresen- Dessa forma, quando as reformas vimento industrial, estar prioritariamente
tado um programa de reformas, numa industriais propriamente ditas tiveram voltados para o atendimento do mercado
perspectiva de 50 anos ou mais, visando início, em 1984, a agricultura apresenta- externo, e transferir novas e altas tecno-
elevar a produção agrícola e industrial, va sólidos indicadores de crescimento e logias para as empresas chinesas das joint
retirar da pobreza a maior parte da popu- de novas demandas para a indústria de ventures. Em articulação com essas direti-
lação, e modernizar a sociedade no espí- máquinas e outros insumos, e já havia in- vas, o governo chinês também intensifi-
rito das revoluções científicas e tecnológi- tensa diversificação produtiva com base cou investimentos em múltiplos centros
cas em curso no mundo. em novas indústrias privadas. de pesquisa e desenvolvimento, visando
disseminar as tecnologias incorporadas estatais concorrendo entre si para desen- Ou seja, sua prática e seus experi-
por aquelas joint ventures e, com base nelas, volver a produtividade. Portanto, diferen- mentos, assim como a prática dos demais
avançar em novas e altas tecnologias. temente dos Tigres, a espinha vertebral países socialistas, comprovavam que o
Em outras palavras, sem realizar da economia chinesa continuou sendo o Estado, para desenvolver as forças pro-
esse be-a-bá inicial, a China não estaria complexo de empresas estatais, evitando dutivas de uma nação que não conhece-
sendo a locomotiva do que alguns estu- tanto sua privatização quanto a ausência ra o pleno desenvolvimento histórico do
diosos chamam de “maior transforma- de concorrência, inclusive nos setores que mercado capitalista, teria que completar
ção econômica dos últimos 250 anos” da o Estado mantém sob seu poder. Essas tal desenvolvimento com a participação
história mundial. Entre 1984 e 2004 (30 estatais também concorrem ativamente de formas capitalistas, mas sob direção
anos) a China apresentou crescimentos com as empresas privadas existentes no socialista. Isto se tornou a condição para
anuais do produto interno bruto superio- mercado, obrigando-se a elevar a produ- realizar o sonho de desenvolver as forças
res a 10% ao ano, embora desde os anos tividade, baixar custos e preços e atender produtivas ao ponto de atender a todas as
1990 tenha realizado esforços frustrados de forma crescente não só ao mercado in- necessidades sociais e tornar desnecessá-
para reduzir tal crescimento ao patamar ternacional como ao mercado doméstico. ria a propriedade privada e a alienação do
de 6% a 7%, só alcançado com a crise eco- São essas características que levaram trabalho.
nômica mundial de 2007-2008. o Partido Comunista e o Estado chineses Foi na busca desse objetivo histórico
Apesar de tudo isso, alguns estudio- a denominar seu sistema econômico, so- que, apesar da crise mundial capitalista
sos consideram que a China apenas co- cial e político como socialismo de mercado. que assola o mundo desde 2007, a China
piou a estratégia industrializante do Ja- Isto é, um sistema que tem em conta que conseguiu reduzir o ritmo de crescimen-
pão e dos Tigres Asiáticos (Coréia do Sul, o Estado sozinho seria incapaz de avan- to de seu Produto Interno Bruto de mais
Taiwan, Hong Kong e Singapura), de çar no desenvolvimento das forças pro- de 10% ao ano para cerca de 6% ao ano.
desenvolvimento baseado na exportação dutivas do país e realizar a transição de Crescimento que, em termos mundiais, é
de bens e serviços, acompanhado de uma um desenvolvimento incompleto do capi- somente inferior às taxas de crescimento
política externa que manteve como eixo talismo para uma formação histórica sem da Índia (7,5% a.a.), mas é quase três ve-
os pontos básicos de “coexistência pacífi- propriedade privada. zes superior ao dos Estados Unidos, duas
ca” da Conferência de Bandung, de 1956.
No entanto, assim como outros
analistas do período inicial das reformas
chinesas, eles desconsideram algumas
características importantes da estratégia
chinesa, que as diferenciam dos Tigres.
A multiplicação e reforçamento das em-
presas estatais, ao invés de sua privatiza-
ção, é provavelmente a mais importante.
Além disso, o Estado chinês manteve o
monopólio ou quase monopólio (embora
com a concorrência de diversas estatais,
para evitar a burocratização e promover o
desenvolvimento científico e tecnológico)
sobre alguns ramos econômicos, a exem-
plo do sistema financeiro, da exploração
petrolífera e da produção e distribuição
de energia. O Estado chinês manteve o monopólio ou quase
Ou seja, ao invés de apenas uma es- monopólio sobre alguns ramos econômicos, a
exemplo do sistema financeiro, da exploração
tatal monopolista em cada um desses ra-
petrolífera e da produção e distribuição de energia
mos, o Estado monopolista tem diversas
“Um Cinturão, uma Rota” (One Belt, entre países das regiões atendidas. Por um salto na estrutura produtiva de sua
One Road), lançado em 2013, e o Plano exemplo, a Índia está preocupada com indústria, tendo por base as altas tecno-
“Made in China 2025”, lançado em 2015. a construção do corredor ferroviário que logias.
Para o desenvolvimento chinês, tais pro- atravessa a região de Caxemira, que dis- Com isso, os setores-chaves da eco-
jetos são estratégicos porque a China puta com o Paquistão. Setores comerciais nomia chinesa passarão a ser os equipa-
necessita manter altas taxas de inves- do Brasil se opõem à construção do cor- mentos eletrônicos, microchips, máqui-
timento, reciclar os dólares que obtém redor bi-oceânico, que visa interligar os nas agrícolas, novos materiais, energias
com seus saldos comerciais e, ao mesmo litorais do Oceano Atlântico e do Oceano renováveis, carros elétricos, ferramentas
tempo, elevar sua competitividade e seu Pacífico no Cone Sul da América do Sul. de controle numérico, robótica, tecnolo-
consumo interno. Portanto, precisa am- Já o plano “Made in China 2025”, gia de informação, tecnologia aeroespa-
pliar sua presença em todo o mundo, ga- lançado em 2015, faz parte do processo de cial, equipamentos ferroviários, equipa-
rantindo acesso aos recursos naturais e a desenvolvimento científico e tecnológico mentos de engenharia oceânica, navios
todos os mercados. chinês, que cada vez mais o torna capaz de de última geração, e dispositivos médicos
Na efetivação do Projeto “Um Cintu- orientar a 4ª Revolução Industrial em todo avançados.
rão, Uma Rota” a China já obteve a ade- o mundo. Ou seja, no curto espaço de 40 Em outras palavras, até 2025 a Chi-
são de 126 países e 29 organizações in- anos a China foi não só capaz de assimilar na pretende reduzir sua dependência de
ternacionais. Ela pretende construir uma as três revoluções industriais comandadas tecnologias estrangeiras e consolidar sua
infraestrutura de alta qualidade, susten- pelos países ocidentais desde o século 19, participação na produção científica e tec-
tável, resistente a riscos, que ajude os di- mas também de assumir a liderança mun- nológica mundial.
versos países participantes a utilizarem dial no processo de desenvolvimento da Nesse sentido, a reação dos Estados
plenamente a riqueza de seus recursos. nova revolução industrial em curso. Unidos ao avanço internacional da Huawei
Ou seja, como afirmou Xi Jinping, que o Além disso, estão certos os analistas não se relaciona somente à concorrência
projeto permita um crescimento de alta que supõem que a China não quer mais mundial de celulares e equipamentos de
qualidade para todos, ecologicamente ser conhecida por seus produtos simples telecomunicações. Tem como núcleo as
sustentável e compartilhado pelo mundo. e baratos e por sua produção em massa, disputas envolvendo a rede móvel 5G, a
É evidente que há restrições ao pro- com base em uma ampla oferta de mão Inteligência Artificial e várias outras tec-
jeto, não só dos Estados Unidos, mas de obra de baixo custo. Com seu plano nologias desenvolvidas pelos centros de
também relacionadas a contradições “Made in China 2025”, ela busca dar pesquisas e pelas empresas chinesas.
A convite da Associação
Coreana de Cientistas Sociais, uma de-
legação de ativistas pela paz e a solida-
riedade entre os povos e acadêmicos de
Relações Internacionais, agrupados pelo
Cebrapaz (Centro Brasileiro de Solidarie-
dade aos Povos e Lula pela Paz), visitou
de 3 a 17 de julho a República Popular
Democrática da Coreia.
Éramos 11 brasileiros sequiosos de
conhecer a experiência de construção do
socialismo no enigmático país asiático
e os atuais desdobramentos do conflito
político e militar na Península Coreana,
onde é saliente a questão nuclear.
O apelo da paz e a questão nuclear
A delegação do Cebrapaz visitou
a histórica localidade de Panmunjong, O soerguimento de
um arsenal nuclear e a
no Paralelo 38, onde foram assinados os
posse de um sistema
acordos de armistício que suspenderam a de mísseis balísticos é
Guerra da Coreia (1950-1953) e cristali- considerada uma “medida
zaram a divisão do país entre a Coreia do autodefensiva orientada
Norte (República Popular Democrática da a defender a soberania do
Coreia, RPDC) e a do Sul (República da país e o direito da nação a
sobreviver e proteger a paz
Coreia, ROK).
da Península Coreana e a
Divisão, aliás, não desejada pelos segurança da região
norte-coreanos, cujo antigo líder Kim Il
Sung, falecido em 1994, propôs em di-
ferenes ocasiões a reunificação da pátria, de passos concretos, que simbolicamente Os EUA não só não deram um passo
sendo esta ainda hoje uma bandeira de começavam pelo esporte, para a retoma- sequer no sentido de suspender as san-
luta estratégica do povo coreano. da de um diálogo com a Coreia do Sul há ções e aliviar o bloqueio, como tampouco
Foi em Panmunong que no ano pas- tempos congelado. atenderam outra exigência norte-corea-
sado os líderes máximos dos dois países Da iniciativa resultaram as trocas de na: a suspensão dos exercícios militares
que compartilham o território da Penín- visitas entre Kim Jong Un e Moon Jae In que habitualmente realizam na Penínsu-
sula Coreana - Kim Jong Un (RPDC) e e os três encontros entre o líder da RPDC la Coreana em conjunto com a ROK, que
Moon Jae In (ROK) - cruzaram a fron- e o presidente dos Estados Unidos, Do- a RPDC considera uma ameaça à sua in-
teira e abriram um novo capítulo nas nald Trump. tegridade territorial e soberania nacional.
relações intercoreanas, fazendo renascer Das reuniões de cúpula entre a Esta foi a razão pela qual fracassou
as esperanças de finalmente estabelecer RPDC e os EUA, a realizada em Singa- a segunda cúpula entre Kim Jong Un e
a paz na região, pondo fim à guerra ini- pura em 12 de junho de 2018 foi a mais Donald Trump, de fevereiro último em
ciada em 1950 pelo imperialismo estadu- produtiva e carregada de significados. Hanói. O presidente americano deixou
nidense. Ali firmou-se uma Declaração conjunta claro que o alívio das sanções só viria de-
Foi também em Panmunjong que, que a RPDC reputa como um “documen- pois que a RPDC destruísse seu arsenal
três dias antes da nossa chegada, Donald to histórico” e em relação ao qual sua li- nuclear. Por seu turno, o líder da RPDC
Trump tornou-se o primeiro presidente derança faz reiterados apelos para que conhece o animus dos presidentes esta-
estadunidense a cruzar a fronteira norte- os EUA cumpram a parte que lhes cabe dunidenses para com o seu país. Trump
-coreana, onde foi gentilmente recebido dos compromissos assumidos. é o 13° com os quais a RPDC tem lidado
pelo sempre sorridente e diplomático Kim A RPDC assumiu responsabilidades desde 1945. O povo coreano e sua lide-
Jong Un, o jovem líder do país socialista. para solucionar a sempre tensa questão rança conhecem-nos bem. Em agosto de
Assim, quando chegamos a Pyon- nuclear. Não houve, contudo, a contra- 2017, o atual chefe da Casa Branca ame-
gyang as expectativas que pairavam na partida estadunidense quanto à suspen- açou tratá-los com “fogo e fúria”. George
Península Coreana eram de pavimentar o são das sanções com que o imperialismo W. Bush, senhor da guerra no início dos
longo, sinuoso e escarpado caminho para pretende estrangular a economia do país anos 2.000, catalogou a RPDC como inte-
a paz. e criar um ambiente instável, propício grante do “eixo do mal” e décadas antes,
Contrariamente ao que se difunde a forçar uma mudança de regime. Es- no alvorecer da construção do socialismo,
no Ocidente, a RPDC aposta no fim do tas sanções configuram um bloqueio de a RPDC passou a figurar oficialmente na
conflito e das tensões. Foi o que moveu grandes proporções, impedindo ao país lista dos possíveis alvos de um ataque nu-
Kim Jong Un a propor na mensagem por o acesso ao comércio internacional e a clear dos EUA. E nunca foi retirada desse
ocasião do Ano Novo em 2018 uma série meios financeiros. índex.
Este foi um dos temas que centrali- Os EUA ainda não deram plenas garantias
zaram os nossos debates com os cientistas
sociais, quadros partidários e de organiza- ao governo da RPDC de que renunciarão aos
ções sociais com os quais tivemos a opor-
tunidade de conversar durante os 15 dias
seus planos de bombardear o país
da nossa viagem pelo território da RPDC.
Explicaram-nos com toda a clareza Os Estados Unidos ainda não deram anômala situação de guerra, desde a assi-
e sem rodeios que a Coreia Popular tem plenas garantias ao governo da RPDC de natura do armistício em 1953.
razões defensivas e dissuasivas que justifi- que renunciarão aos seus planos de bom- Há, assim, perguntas a fazer à diplo-
cam o seu programa nuclear: “Ante a ame- bardear o país com armas nucleares. macia estadunidense, sul-coreana e das
aça nuclear estadunidense, nosso arsenal Os especialistas com os quais a nos- potências ocidentais, ou mesmo à ONU:
nuclear constitui um freio à intenção de sa delegação se avistou afirmaram que “é por que os Estados Unidos e a Coreia do
Washington de varrer a República Popular necessário estabelecer um acordo de paz Sul até agora não aceitaram firmar um
Democrática da Coreia”. entre a República Popular Democrática da pacto de paz com a RPDC?! Até quando o
As agência noticiosas noticiosas oci- Coreia e os Estados Unidos”, acreditando cenário político e militar na Península Co-
dentais reagem com estardalhaço ante as que isto “resolverá o conflito da Penínsu- reana será percebido no mundo com um
provas nucleares e de mísseis balísticos da la Coreana”. Recordam que “a RPDC já olhar unilateral? Por que não são levadas
RPDC, mas nada dizem da corrida arma- propôs a concertação desse acordo, a fim em consideração as razões de defesa na-
mentista tecnológica que os EUA preten- de promover a paz, a estabilidade, aliviar cional que a RPDC invoca? São temas ge-
dem impor ao mundo, um de cujos exem- tensões e eliminar preocupações sobre a opolíticos que requerem não apenas abor-
plares mais notórios é o artefato B61-12 segurança regional e mundial”. dagem acadêmica mas respostas práticas,
com o qual renova as bombas atômicas Por óbvio, o país não renunciará sem porquanto se referem também à paz mun-
instaladas na Europa e em bases militares garantias plenas à sua política de defesa dial e à segurança internacional.
na Ásia. nacional. O soerguimento de um arsenal Essas respostas tampouco podem
É necessário um estudo à parte para nuclear e a posse de um sistema de mís- ser unilaterais e se revestir da forma de
verificar a quantidade e capacidade dos seis balísticos é considerada uma “medi- sanções. A tentativa de estrangular uma
armamentos nucleares em território sul- da autodefensiva orientada a defender a economia nacional como via para reverter
-coreano, assunto sobre o qual há no Oci- soberania do país e o direito da nação a regimes políticos é também uma forma de
dente desinformação e tergiversação. sobreviver e proteger a paz da Península agressão e apresenta ao agredido o desa-
Para além da questão nuclear com as Coreana e a segurança da região”. fio de se defender com os meios que julgar
quais os Estados Unidos ameaçam os po- Na mensagem por ocasião do Ano adequados.
vos em nome dos seus interesses na região Novo em 2016, Kim Jong Un pondera- Os Estados Unidos, que deram início
asiática, essa potência imperialista realiza va que os Estados Unidos deverão acos- à escalada militarista e lideram a aplica-
sistematicamente exercícios de simulação tumar-se à posição da RPDC como país ção de sanções, assumiram formalmente
de guerra contra a RPDC. Em parceria com possuidor de armas nucleares, dotado de em Singapura o compromisso de dar um
a Coreia do Sul, o exército e a marinha de plenas capacidades de represália a ataques passo atrás na execução dos seus planos
guerra dos EUA realizam as manobras mi- nucleares e a quaisquer outras ações que agressivos. Mas até agora, as promessas
litares denominadas Freedom Bolt, Team violem a integridade territorial e a sobera- de Trump ficaram no papel.
Spirit, Key Resolve, Foal Eagle e Ulji Fre- nia nacional do país. É interessante observar que a De-
edom Guardian. Agregue-se a isso que os Ao longo destes três anos, a RPDC claração de Singapura de 12 de junho de
Estados Unidos mantêm um contingente tem reiterado a vigência das propostas 2018, um documento diplomático bilate-
de 20 mil homens na Coreia do Sul. para a cessação das manobras militares ralmente bem urdido, é ainda hoje, mes-
Nesse quadro, a pergunta que não conjuntas EUA-Coreia do Sul, oferecendo mo depois do fracasso da cúpula seguinte,
quer calar é se os EUA irão suspender tais como contrapartida a suspensão dos tes- de fevereiro de 2019 em Hanói, considera-
ensaios guerreiros e desativar seu disposi- tes nucleares. Igualmente, a RPDC insiste do pela RPDC como um documento his-
tivo nuclear na Ásia. em assinar um acordo de paz, pondo fim à tórico. No entanto, já não se veem men-
ções a ele nas posições do Departamento do povo, razão pela qual a RPDC neces- da segurança alimentar: “É necessário
de Estado nem nas considerações de es- sita mais do que nunca de uma situação resolver o mais rápido possível o proble-
pecialistas em geopolítica e relações inter- estável e de um ambiente pacífico”. ma dos alimentos e dos artigos de consu-
nacionais nas academias e nos meios de O documento representou uma mo, de grande importância para melho-
comunicação. viagem política, um realinhamento da rar a vida da população”, diz Kim Jong
As razões invocadas pela República orientação norte-coreana: primazia ao Un. E detalha: “No setor da agricultura é
Popular Democrática da Coreia ligam- desenvolvimento econômico. necessário prestar especial atenção ao as-
-se ao princípio da autodefesa, direito de Foi esse o debate central em que en- seguramento de sementes, água e terras
toda nação soberana, como pressuposto contramos o país imerso durante os 15 cultiváveis, introduzir métodos de cultivo
para construir um país forte, alcançar a dias da visita. Um debate de dimensões científicos, elevar o grau de mecanização
reunificação da pátria e soerguer uma or- estratégicas, de caráter político e ideo- do trabalho agrícola e atingir as metas es-
dem econômica e social consoante a von- lógico sobre a etapa atual da construção tabelecidas para a produção de grãos”.
tade de seu povo e suas peculiaridades socialista. A RPDC deseja auferir os benefícios
nacionais. A discussão tem por referência o da revolução tecnológica e científica em
Por óbvio, a RPDC tem noção do discurso pronunciado por Kim Jong Un curso no mundo. “Devemos modernizar
mundo em que está inserida, da correla- na primeira sessão da 14ª legislatura da a informatizar ativamente a economia
ção de forças real, e não desconhece que é Assembleia Popular Suprema, em 12 de nacional para convertê-la com seguran-
necessário envidar todos os esforços pela abril deste ano. ça na economia do conhecimento”. “É
solução pacífica dos conflitos internacio- “A tarefa principal que se apresenta preciso elaborar estratégias e metas para
nais e por uma solução negociada ao pro- ante nossa República na etapa atual da o desenvolvimento das indústrias mais
blema nuclear na Península Coreana. construção da potência socialista é con- avançadas como a mecânica, a eletrôni-
solidar o fundamento material do socia- ca, a informática, a de nanotecnologia e
Tudo pelo desenvolvimento lismo, concentrando todas as forças do bioengenharia”. (...) Em todos os setores
econômico país na edificação econômica” - esta é a construir fábricas e modelos que inte-
diretriz fundamental do governo. grem as ciências, a técnica e a produção
Durante a visita, constatamos que, Sem abrir mão dos conceitos desen- e tenham um alto nível de automatiza-
sem abrir mão da defesa nacional, a Re- volvidos anteriormente sobre a defesa ção, inteligência e capacidade de produzir
pública Popular Democrática da Coreia nacional, a ênfase atual é a construção sem a intervenção humana, com a fina-
hoje concentra todas as suas energias na de uma “economia independente e pode- lidade de elevar o nível da economia em
construção de sua força econômica, cons- rosa”. A palavra de ordem é enfrentar e seu conjunto ao dos países avançados”.
ciente de que a exacerbação de crises di- invalidar as sanções econômicas e finan- Para isso a estratégia da Coreia Po-
pomáticas, militares ou mesmo a nuclear ceiras. pular é desenvolver a economia local e
na Península não é favorável a esse ob- Começa assim uma grande batalha ativar as relações econômicas com o ex-
jetivo. para adequar a construção da economia terior.
A rigor, analisados friamente os fa- socialista às condições do país, moderni- Consciente de que “os talentos, as ci-
tos, a Coreia Popular não tem qualquer zá-la, informatizá-la e introduzir nela as ências e a tecnologia constituem a princi-
interesse de provocar quem quer que seja. últimas conquistas científicas da huma- pal força motriz para o desenvolvimento
Os Estados Unidos, o Japão e a Coreia do nidade. da economia independente”, o governo da
Sul, esses sim, deveriam desanuviar seu Nesta etapa, torna-se imprescindí- RPDC lançou a palavra de ordem de “in-
comportamento, prisioneiro de uma psi- vel o abastecimento de energia, combus- telectualização de todo o povo”, o que im-
cose de guerra e de posições preconcebi- tíveis e matérias primas, e reativar a in- plica um conjunto de medidas para elevar
das sobre a RPDC. dústria metalúrgica e química. o nível educacional. Hoje a Coreia Popular
Na mensagem de Ano Novo de 2016, No quadro do bloqueio e das tenati- assegura educação pública e gatuita a toda
Kim Jong Un explicitou que a tarefa prio- vas do imperialismo de estrangular a eco- a população em todos os graus. E tornou
ritária do país passava a ser “o desenvol- nomia do país e as condições de vida do obrigatório o ensino desde a escola primá-
vimento econômico e a melhoria da vida povo, entra na ordem do dia a prioridade ria até o pré-universitário.
A
de la justicia”.
sintetiza el gobierno de Andrés Manuel
López Obrador (Amlo) es con la que Andrés Manuel López
inicia este análisis. Obrador, conferencia
mañanera del 17 de abril.
PODER EJECUTIVO
Estos 12 o 7 meses podemos sin- crecimiento negativo del -5%) pues-
tetizarlos en 10 claves, que permiten to como meta. El crecimiento basado
entender un México en proceso de en el aumento de la demanda interna Oficina de la Presidencia
de la República
transformación, aunque no sea tan en el corto plazo mientras se va (re)
Gobernación
profunda, ni tan rápida, como dese- industrializando el país en el medio-
aríamos. -largo plazo es una fórmula que ya ha Relaciones Exteiores
funcionado en otros procesos progre- Hacienda y
1.Es la economía sistas del continente, y aunque la de- Crédito Público
parcial, de la riqueza, vía bonos uni- plo con tu propia praxis, aunque eso
Marina
versales. tenga como eje rector una decisión
Sobre la subida del salario mí- inamovible, y errónea, en opinión de Trabajo y Previdencia
Social
nimo2, es necesario subrayar que la muchos, de no endeudamiento públi- Desarrollo Agrario,
capacidad adquisitiva del pueblo me- co. Además, en la cuarta transforma- Terriotorial y Urbano
xicano ha ido descendiendo. Mien- ción no existe el refrán de más vale Medio Ambiente y
Recursos Naturales
tras que en diciembre de 2006 eran prevenir que curar. Primero se detec-
Procuradoria General
suficientes 134 horas de trabajo de ta la enfermedad/error, y después de de la República
corporarse a la senda del crecimiento y cretaría de Trabajo y Previsión Social Comission Nacional de
Hidrocarburros
terminar el sexenio con el 4% de incre- es de 972% y el aumento en el presu-
mento del PIB3 (el PIB de México es puesto de la Secretaría de Energía (la Entidades no
Sectorizadas
115 billones de dólares, siendo la 15ª otra gran apuesta de López Obrador,
Cultura
economía mundial y durante los últi- la industrialización del país a partir
mos años ha crecido a una media de de la recuperación de la petrolera es-
2% desde la crisis de 2009 que tuvo un tatal Pemex) es del 1002%.
5.Guardia Nacional
Y en la recuperación de la soberanía
Caso Ayotzinapa: protesta por la desaparición de 43 estudiantes normalistas territorial va a jugar un rol determinante
la Guardia Nacional. Ante una policías
3.Lucha contra la pobreza y violencia Que el primer decreto locales o estatales que en muchos casos
están coludidas con las mafias territoria-
A pesar de la tentación de dividirlo firmado por Amlo, el les, una nueva fuerza de seguridad que,
en dos, no podemos separar estos con- desde un enfoque de Derechos Humanos,
ceptos. El modelo neoliberal en México
3 de diciembre, fuese restablezca la soberanía y la seguridad en
sólo pudo ser implementado mediante la para crear la comisión amplías partes del territorio nacional, es
doctrina del shock, mediante la violencia fundamental. Probablemente en cómo se
más salvaje que ha dejado México sem- especial por el caso despliegue y actúe la Guardia Nacional se
brado de fosas comunes. Y los restos que Ayotzinapa5, van más van a jugar una parte del éxito, o no, del
hay en ellas son siempre de pobres de piel gobierno de López Obrador al finalizar el
morena. Los programas sociales no solo allá de lo simbólico sexenio. En cualquier caso, la Guardia
deben permitir respirar a las mayorías Nacional debe servir para hacer cumplir
sociales ahogadas por el neoliberalismo, 4.Economía criminal la ley y nunca para reprimir la protes-
sino deberían servir, en el medio-largo ta social o a las personas migrantes que
plazo, para reducir la implicación de las Pero, además, la doctrina del shock atraviesan México. Está demás subrayar
clases populares en esquemas de violen- es parte de un tablero de juego mucho que ningún ser humano es ilegal. Ilegales
cia promovidos por el narco y otros gru- más amplio, donde la economía crimi- son las mafias que transportan y ejercen
pos criminales. Algunas decisiones de nal, que es mucho más que el narco, ha trata de migrantes.
gobierno, como que el primer decreto fir- jugado un rol determinante. La frase de
mado por Amlo, el 3 de diciembre, fuese Carlos Fazio “No existe la guerra a las 6.Trump
para crear la comisión especial por el caso drogas sino la administración de los ne-
Ayotzinapa5, van más allá de lo simbóli- gocios de la economía criminal” sintetiza El debate sobre la Guardia Nacional
co. La designación de Omar Gómez Trejo6 muy bien un negocio que además de, o se ha intensificado a raíz de la decisión
como titular de la Unidad Especial de In- quizás deberíamos decir gracias a, dejar de enviarla a sentar presencia estatal, y
vestigación y Litigación para el caso Ayot- un saldo de 250.000 muertos y 40.000 por tanto soberanía, en la porosa frontera
zinapa, ratifican que el esclarecimiento personas desaparecidas, supone ya más sur, como parte de la negociación con el
de la desaparición de los 43 normalistas del 10% del PIB mexicano. Y aunque la caprichoso inquilino de la Casa Blanca.
de Ayotzinapa, hecho del que se cumplen economía criminal sea más que el narco, Negociación a la que se entró pudiendo
5 años este 26 de septiembre, es una po- el cómo se va a enfrentar el problema del perder poco, o perder mucho, y se consi-
lítica de Estado. narco es clave en esta ecuación. La am- guió ganar tiempo. Sabemos que, de aquí
NOTAS 4 https://politica.expansion.mx/mexico/2018/12/15/energia-
y-trabajo-las-grandes-ganadoras-en-el-presupuesto-2019
1 El 1 de julio de 2018 la candidatura de López Obrador
(apoyada por Morena, Partido del Trabajo y Partido Encuentro 5 El 26 de septiembre de 2014 en Ayotzinapa, Guerrero, 43
Social, tuvo 30 113 483 votos), frente a los 12 610 120 obteni- estudiantes normalistas fueron secuestrados, desaparecidos, y
dos por Ricardo Anaya (candidato del PAN, PRD y Movimiento
es posible que, quemados sus cadáveres, en un hecho donde
Ciudadano) y los 9 289 853 obtenidos por José Antonio Meade
(candidato del PRI, Partido Verde y Alianza Social). al parecer estuvieron involucradas policías locales, grupos
narco-paramilitares, y quizás el ejército. El sucedo todavía no
En términos históricos, los más de 30 millones de votos ha sido esclarecido. Se calcula que desde 2006 que comenzó
a Amlo son la mayor votación alcanzada nunca por un la “Guerra contra el narcotráfico” con el gobierno de Felipe
candidato a Presidente en la historia electoral de México. Calderón, son alrededor de 250.000 personas asesinadas y
En 1988 el candidato de la izquierda Cuauhtémoc Cárdenas 50.000 personas desaparecidas.
obtenía 5 929 585 votos, en 2006 López Obrador sacaba
14 756 350 votos (frente a los 15 000 284 que obtenía Felipe 6 Gómez Trejo ha colaborado en diversas funciones en
Calderón) y en 2012 Amlo obtuvo 15 848 827 votos. instancias como la Comisión Interamericana de Derechos
López Obrador ganó la elección de 2018 como candidato Humanos y en las oficinas de México, Honduras y
de la coalición Juntos Haremos Historia, conformada Guatemala del Alto Comisionado de las Naciones Unidas
por Morena (Movimiento de Regeneración Nacional, el para los Derechos Humanos https://www.jornada.com.mx/
partido-movimiento que impulsó tras su salida del PRD, ultimas/2019/06/27/omar-gomez-trejo-fiscal-especial-para-
y constituido legalmente en 2014), el Partido del Trabajo ayotzinapa-4330.html
(PT, partido de extracción maoísta y con una clara vocación
latinoamericanista) que ha acompañado a Amlo en todas sus 7 https://www.youtube.com/watch?v=ZBHf5xfZfCc
elecciones presidenciales en 2006, 2012 y 2018 (además de la
elección a Jefe de Gobierno en 2000), y el Partido Encuentro
Social (PES, de origen evangélico, y que ayudó a Amlo a 8 Discurso del subsecretario para América Latina y el Caribe,
centrar su imagen y discurso en campaña y fortalecer el voto Maximiliano Reyes, en la Reunión Ministerial del Grupo
en algunas zonas del norte del país donde Morena no tenía de Lima https://www.gob.mx/sre/prensa/discurso-del-
presencia sólida, pero que no tiene ninguna incidencia en subsecretario-para-america-latina-y-el-caribe-maximiliano-
el gabinete, ni en la política nacional actual, pues perdió el reyes-en-la-reunion-ministerial-del-grupo-de-lima
registro electoral al no alcanzar el 3% de los votos en todo
el país). 9 https://regeneracion.mx/para-venezuela-mecanismo-de-
montevideo/
2 Sobre la canasta básica en México http://elinpc.com.mx/
canasta-basica-mexicana/ 10 Inaugurará Barbosa “Progresivamente” foro internacional en
Puebla https://www.elsoldepuebla.com.mx/local/inaugurara-
3 https://www.inegi.org.mx/temas/pib/ barbosa-progresivamente-foro-internacional-en-puebla-marco-
enriquez-ominami-alberto-fernandez-3894237.html
OS INTELECTUAIS NA HISTÓRIA:
por uma perspectiva materialista
da função do conhecimento
Maria Caramez Carlotto*
F
universitária não imagina que exista vida intelectual fora
do círculo profissional e burocrático dela. É algo de uma
ignorância extraordinária”.
oi com as palavras acima, em um constitui um profundo equívoco da aca- Indo um pouco além, meu ponto era
vídeo gravado para o YouTube desde os demia brasileira: apegar-se a uma defi- que o erro dos intelectuais acadêmicos
Estados Unidos, que Olavo de Carvalho nição excessivamente autocentrada de reside no fato de que eles naturalizam
se negou participar de um debate com a “intelectual”, que classifica tudo o que as condições histórico-sociais de organi-
professora Débora Diniz sobre a questão não corresponde à sua condição profis- zação da atividade intelectual sob o capi-
do aborto. Dias antes, Diniz havia publi- sional, à visão e aos seus critérios como talismo e o Estado modernos. Em certa
cado um texto1 desafiando o guru de Bol- “anti-intelectualismo”. Meu argumento medida, trata-se de uma visão ideológica
sonaro para um debate. Reivindicando-se central era que, para além do deboche e sobre a atividade intelectual: assumindo
uma “intelectual acadêmica”, a professo- do espanto, os intelectuais formados na uma perspectiva idealista, consideram-se
ra alegava pouco saber sobre Carvalho, academia deveriam perceber, nessas vo- como “um grupo autônomo e indepen-
já que não encontrara nada sobre ele no zes que rechaçam, perfis específicos de dente” por causa das características in-
Currículo Lattes, nem em plataformas de intelectuais, portadores da pretensão de trínsecas à condição intelectual, incluin-
artigos científicos. impor critérios novos de avaliação e orga- do, nelas, os valores e normas partilhados
Em um texto recente2 dediquei al- nização do processo de produção e difu- pela “comunidade acadêmica”. Ignoram,
guma atenção ao que, no meu entender, são de conhecimento. portanto, as condições histórico-mate-
à produção escapa cada vez mais do regime Não restam dúvidas de que, hoje, é
público e a propriedade intelectual ganha
espaço. Nesse contexto, não teria porque a importante defender a autonomia
autonomia relativa das instituições e dos
intelectuais continuar sendo tolerada pela universitária e os intelectuais acadêmicos
classe dominante. das investidas da classe dominante
Mas não basta somente reconhecer o
caráter histórico da atividade dos intelec-
tuais acadêmicos e sua transformação. É Ao invés de serem menos livres, tal- quanto a função decisiva dos intelectuais
preciso lembrar, ainda, que apesar de re- vez esses intelectuais orgânicos tenham nas lutas sociais sob o capitalismo. Com
presentarem a forma mais tradicional de até mais liberdade e autonomia na medi- isso, assumiu que os intelectuais acadê-
organização da atividade intelectual sob da em que não assumem uma visão ilusó- micos representavam a única forma de
o capitalismo, os acadêmicos não foram ria, ideológica, parcial sobre o significado intelectualidade possível e delegou a eles,
os únicos intelectuais que subsistiram da sua atividade na atual formação social. em grande medida, a tarefa de disputar
nesse período. Gramsci mesmo nomeia A classe dominante, vale notar, não as visões de mundo da sociedade atual.
um outro tipo de intelectual, igualmen- tem pudor em prestigiar e valorizar seus Não restam dúvidas de que, hoje, é
te importante: o intelectual orgânico. Ao intelectuais orgânicos. Ao contrário, pelo importante defender a autonomia uni-
contrário dos intelectuais tradicionais, menos desde os anos 1950, quando o for- versitária e os intelectuais acadêmicos
segundo Gramsci, o intelectual orgânico talecimento da autonomia universitária – das investidas da classe dominante, que
estabelece, com as classes sociais funda- que hoje ela ataca frontalmente – reduziu quer destruir o sistema de ensino e pes-
mentais da sociedade capitalista uma re- o controle que ela tinha sobre essas insti- quisa centrado na ciência que ela mesma
lação sem mediação institucional, ou seja, tuições, a classe dominante passou a criar construiu para colocar, em seu lugar, um
direta, assumindo como função a tarefa suas próprias instituições: think tanks e sistema obscurantista. Mas isso não bas-
de conferir, a esta classe, “homogeneida- outros centros privados de pesquisa, con- ta, nem de longe, para a tarefa que temos
de e consciência da própria função”. sultorias e organismos internacionais de pela frente: construir uma alternativa real
Considerando que a luta de classes é produção de dados e orientação política, ao capitalismo, destruindo os entraves
constitutiva da sociedade capitalista, os faculdades privadas e corporativas. Hoje para a construção dessa sociedade mais
intelectuais orgânicos não só seguiram esse sistema paralelo cresceu a tal pon- democrática e justa. Precisamos, mais do
subsistindo independentemente da con- to que desafia a própria organização do que nunca, levar o impacto dos intelec-
solidação da figura dos intelectuais aca- sistema público, autônomo, para o qual tuais orgânicos a sério e construir nossa
dêmicos, como continuaram desempe- propõem, hoje, uma completa reorgani- própria estrutura de formação e produção
nhando um papel absolutamente essen- zação: futurem-se, eles dizem, sem qual- e difusão de visões de mundo.
cial na dinâmica política dessa sociedade. quer crise de consciência. Que Olavo de
Por isso, não há nenhuma razão, des- Carvalho leve isso a um extremo não *MARIA CARAMEZ CARLOTTO é
de uma perspectiva materialista, para não muda o fato essencial: ele é um intelec- professora do Bacharelado de Relações
levar os intelectuais orgânicos a sério. Mui- tual orgânico de um setor importante da Internacionais da UFABC e presidenta
to menos para assumir a perspectiva dos classe dominante brasileira e, como tal, da ADUFABC
intelectuais acadêmicos que condenam os está cumprindo o seu papel: espalha pre-
NOTAS
que desempenham a sua atividade intelec- conceitos, inverdades e delírios que mo-
tual a partir de uma perspectiva histórica e bilizam. 1 DINIZ, Débora. “Venha debater comigo, Olavo de Carvalho”.
Revista Época, 17 de março de 2019. Disponível em: https://
política que reconhece tanto as condições Por outro lado, a esquerda, no Bra- epoca.globo.com/venha-debater-comigo-olavo-de-
carvalho-23525662
históricas de desenvolvimento da ativida- sil, mas não só, assumiu uma posição
de intelectual, como as funções políticas e bastante distinta: aderindo à visão idea- 2 Trata-se do ensaio “Guerra em campo aberto: as disputas
pela mudança estrutural do espaço intelectual brasileiro”,
sociais que essa atividade assume na luta lista dos intelectuais acadêmicos, subes- publicado na coletânea intitulada “Educação contra a
barbárie: por escolas democráticas e pela liberdade de
política fundamental dessa sociedade, to- timou tanto o papel das lutas sociais no ensinar”, organizada pelo professor Fernando Cássio e
mando posição clara em relação a elas. desenvolvimento da atividade intelectual lançada este ano de 2019 pela Boitempo.
Os limites da
posição parlamentar
Natalia Bonavides
E
xiste um longo debate histórico
sobre qual o grau de centralida-
de que as diversas formas de luta
política têm e para quais delas a
esquerda deve dedicar mais ener-
gia. O principal é a mobilização
popular ou a luta institucional? Devemos fazer de-
bate de ideias ou mediar nas ideias para conseguir
ocupar governos e implementar políticas públicas
para melhorar a vida do povo? Eleições para o par-
lamento ou prioridade para o Partido, o sindicato,
os movimentos sociais?
Essas e outras polêmicas estão presentes em
nossos debates desde sempre. Muitos dirigentes
históricos da esquerda se debruçaram sobre essas
questões e são inúmeras as posições sobre os limi-
tes, a relevância, e até mesmo sobre se a esquerda
deve ou não disputar o parlamento burguês. Nos
dias de hoje, olhando para a nossa realidade, pode
parecer estranho, ultrapassado ou pouco relevante
fazer essa discussão. Mas não é. Precisamos inclusi-
ve conhecer mais sobre essas polêmicas e aprofun-
darmos a reflexão acerca dos limites da posição par-
lamentar e da disputa institucional de uma forma
geral.
E
É imprescindível ter a clareza de que existe uma decisão
de um setor majoritário no Poder Judiciário, que é de
ser instrumento ativo e potente na operação da classe
dominante de inviabilizar a esquerda no Brasil
messiânica a atuação de agentes públi- ça tarefa no STJ, outra no TRF da 4ª Re- Justiça pelo presidente que só ganhou
cos no exercício de suas funções. gião, e ainda em alguns estados, como as eleições porque o seu principal con-
O fato é que em 2014, quando teve Rio de Janeiro e São Paulo. A coordena- corrente foi impedido de disputar. Não
início a operação, estávamos em pleno ção da operação segue até os dias atuais é preciso dizer mais para que se conclua
governo Dilma e a postura do Ministério na atribuição do procurador Dallagnol, pela existência de, no mínimo, uma sus-
da Justiça, órgão que tem como atribui- que costuma atuar com grande ênfase peição na conduta do ex-juiz.
ção chefiar os trabalhos da Polícia Fede- persecutória seletiva e com um alto nível O papel de Moro na operação é ex-
ral, sempre foi de dar total e absoluto res- de entusiasmo midiático, fato que ficou pressivo, mas é preciso colocar na conta
paldo para as investigações, avalizando mais explícito após recente vazamento que o êxito de um juiz de primeira ins-
os métodos utilizados por ela. Pela letra de conversas dele com o ex-juiz Sérgio tância que utiliza das engrenagens judi-
fria da Constituição Federal, isto poderia Moro e com os demais procuradores que ciais para cumprir a tarefa de perseguição
ser considerado o correto, o normal. No atuam no caso. política contra lideranças e organizações
entanto, o desenrolar dos fatos mostrou No âmbito do Poder Judiciário, a de caráter nacional não acontece a partir
que onde não havia nada de republicano atuação do juiz Sérgio Moro foi funda- de uma atuação isolada, não é uma ex-
ou neutro, não poderia ter prevalecido, mental na operação. Moro era até 2018 ceção, não é um acaso. O apoio do Poder
por parte de um governo de esquerda, a o juiz titular da 13ª Vara Federal de Curi- Judiciário aos métodos empregados pela
ilusão acerca da suposta isenção e im- tiba, responsável por julgar as denúncias operação Lava Jato é estrutural, e o êxito
parcialidade nas instituições do braço decorrentes da Lava Jato, e atualmente é jamais pode ser atribuído a este ou aquele
repressivo do aparato estatal. ministro da justiça do governo Bolsona- juiz ou desembargador, à composição da
Já em abril de 2014, dias após a ope- ro. Sobre ele, existe muita controvérsia, turma no TRF que foi ruim, ao sorteio na
ração ser deflagrada, foi formada uma mas um fato é fundamental: proferiu distribuição de determinado recurso para
“força tarefa” do Ministério Público sentença que condenou Lula, candida- este ou aquele ministro. Os tribunais su-
Federal para atuar no caso, coordenada to à presidente favorito nas eleições de periores referendaram todos os abusos
pelo procurador federal Deltan Dallag- 2018, sem provas; isto fundamentou a que foram cometidos até hoje e não há
nol. Este grupo é o núcleo duro que cum- inviabilização do registro da candidatura perspectiva de que isto mude na atual
pre efetivamente o papel acusatório na de Lula para presidente da república; em correlação de forças.
operação, e possui várias ramificações: seguida, após o resultado eleitoral, Moro Portanto, é imprescindível ter a cla-
um grupo de trabalho na PGR, uma for- foi presenteado com o Ministério da reza de que existe uma decisão de um
setor majoritário no Poder Judiciário, direcionados para desgastar a imagem seja, para garantir que a operação atin-
que é de ser instrumento ativo e poten- do investigado. Mas os abusos da opera- gisse suas finalidades, ficou legalizada
te na operação da classe dominante de ção Lava Jato não se limitam a este fato. a possibilidade de violação da Consti-
inviabilizar a esquerda no Brasil. É nes- O uso indiscriminado das delações pre- tuição e a possibilidade de atuação “no
te sentido que a retórica do combate à miadas como meio principal de prova, limite da lei”. Na prática, isto significou
corrupção, junto com outras, vem sendo bem como a decretação de prisões pre- sinal verde para Moro, que, no caso, se-
habilmente utilizada. A operação na ver- ventivas em excesso e a consolidação da quer argumentou que estaria atuando
dade tem um objetivo principal: conde- possibilidade de prisão sem condenação dentro da lei. Ele não teve pudor algum
nar, prender e inviabilizar politicamente definitiva, dentre outras práticas utiliza- em apenas se escusar e argumentar que
o ex-presidente Lula, o Partido dos Tra- das de forma sistemática, são elementos não teria sido a sua intenção “gerar fato
balhadores e a esquerda de uma forma que compõe o arcabouço autoritário que político-partidário”, uma vez que bus-
geral. Não existem elementos para afir- caracteriza a Lava Jato. cava apenas dar publicidade à condutas
mar sem sombra de dúvida que a opera- Sobre isto, ainda em 2016, Moro foi que sob o seu ponto de vista seriam jurí-
ção já começou com este objetivo bem representado perante a corregedoria da dica e criminalmente relevantes.
definido, mas é possível perceber logo na Justiça Federal do Paraná por ter levan- O desenrolar da história mostrou
sua fase inicial, entre 2015 e 2016, que tado sigilo da interceptação de conversas que, sob um ponto de vista legalista,
este era (e continua sendo) o principal telefônicas entre Lula e Dilma, e o resul- a atuação de Sérgio Moro na operação
objetivo. tado foi revelador da existência de uma Lava Jato não ocorreu nem dentro da
Em março de 2016, foi realizado o visão de exceção, que na prática preva- lei, nem “no limite” da lei, mas sempre
famoso espetáculo midiático que foi a leceu no Judiciário brasileiro acerca dos foi fora da lei. Em junho de 2019, ficou
condução coercitiva de Lula para depor métodos utilizados pela Operação Lava comprovada a politização e a parcialida-
em Curitiba. Sem que tivesse sido inti- Jato. O arquivamento da representação de que dominam esta operação, especial-
mado antes ou apresentado qualquer contra Moro foi fundamentado no fato mente após os vazamentos feitos pelo
resistência em colaborar com a inves- de supostamente a operação Lava Jato site The Intercept Brasil, de conversas
tigação, o ex-presidente foi conduzido ser algo “fora da normalidade”, e em se entre o procurador Deltan Dallagnol e o
coercitivamente para um depoimento tratando de uma situação excepcional, ex-juiz e atual ministro da justiça Sérgio
corriqueiro, o que por si só já seria su- não caberia incidência da regra constitu- Moro, à época titular na 13ª Vara Federal
ficiente para concluir que se tratava de cional que garante o sigilo das comuni- de Curitiba e responsável por julgar as
conduta abusiva e com explícitos fins cações telefônicas (art. 5º, XII, CF). Ou denúncias apresentadas.
O apoio do Poder
Judiciário aos métodos
empregados pela
operação Lava Jato é
estrutural (...) Os tribunais
superiores referendaram
todos os abusos que
foram cometidos até hoje
e não há perspectiva de
que isto mude na atual
correlação de forças
A educação em tempos
de Bolsonaro
Izabel Costa*
O
trincheira de resistência e cada posição arrancada
em vitória serão fundamentais para o avanço do
conjunto dos trabalhadores.
governo Bolsonaro carreira para o magistério com a criação
e os diversos con- do Piso Nacional (Lei 11.738/2008), que
gêneres conservadores eleitos em vários se tornou elemento chave nas lutas dos
estados brasileiros têm claro que o controle professores em escala nacional, e que
sobre a educação é uma política estratégica ainda hoje guia as principais pautas de
para que sua visão de mundo avance e esta- reivindicação.
beleça uma hegemonia sobre a sociedade. A ampliação do FUNDEB abrangeu
Os governos Lula-Dilma optaram por modalidades como a EJA e a educação
um modelo de coalizão partidária – que infantil, e a liberação de verbas federais
expressava a crença no pacto de classes para a criação de vagas em creches e pré-
como caminho estratégico para a mudan- -escolas turbinou a campanha de muitos
ça social – do qual não conseguiram se de- prefeitos golpistas.
senredar para dar um salto superior que No ensino médio e superior, a am-
propiciasse reformas estruturais no Brasil. pliação da rede federal com a construção
Entretanto, é notório que essa experiência de Institutos e Universidades, a consoli-
de 13 anos expandiu a educação pública e dação do sistema de cotas, o Ciências sem
incorporou importantes extratos das clas- Fronteiras e as políticas de permanência
ses populares ao ensino médio e superior modificaram a face elitizada de muitos
na esfera federal. cursos. No campo da gestão democrática
Os avanços não podem ser minimiza- houve uma clara política de valorização
dos, especialmente quando comparados ao dos conselhos e das eleições para reitores
desmonte em curso no governo Bolsonaro. nas instituições de ensino.
A década de governos petistas logrou Apesar dos governos petistas não te-
construir uma política de valorização e de rem, de fato, realizado uma ativa política
em estados como Goiás, necessita de estudantil às portas do Colégio Militar A juventude também
uma política clara dos movimentos so- do Rio, onde se encontrava Bolsonaro
ciais diante de um quadro grave de crise em solenidade, demonstrando o poten- protagonizou diversas
da segurança pública no país. cial da luta jovem na resistência ao re- ações de luta nos
Se no início da gestão o governo trocesso. Essas ações contribuíram para
desferiu uma ofensiva sobre a educação, a adesão das redes públicas e privada em dias 15 e 30 de maio,
Bolsonaro também se deparou com o pri- todos os níveis à greve geral do dia 14 de além do histórico
meiro grande polo de resistência às suas junho, demonstrando a necessidade de
políticas. Os trabalhadores da educação um enfrentamento unitário e do poten- questionamento
apresentam-se como um setor de ponta cial de reação dos trabalhadores da edu- estudantil às portas
na luta contra a reforma da previdên- cação.
cia, saindo na frente, novamente, com a Uma educação crítica e politizada é do Colégio Militar
marcação da greve geral da educação no um empecilho à implantação do Gilead à do Rio, onde se
dia 15 de maio pela CNTE. Antecedendo brasileira de Bolsonaro. Nas batalhas da
essa data, o anúncio do corte de verbas e educação, cada trincheira de resistência encontrava Bolsonaro
o desrespeito aos estudantes, professores e cada posição arrancada em vitória se- em solenidade,
e funcionários das universidades e ins- rão fundamentais para o avanço do con-
titutos federais, amplificaram a “balbúr- junto dos trabalhadores, reconstituindo demonstrando o
dia”, e, pela primeira vez, sensibilizaram nos espaços educativos a motivação para potencial da luta
segmentos mais amplos da sociedade a transformação e para a retomada do
brasileira quanto à necessidade de defe- projeto de uma sociedade justa e igua- jovem na resistência
sa da educação pública. litária e de uma educação libertadora. ao retrocesso
A juventude também protagonizou
diversas ações de luta nos dias 15 e 30 de *IZABEL COSTA é professora de
maio, além do histórico questionamento história e coordenadora geral do SEPE-RJ
Desmontando
a formação dos
educadores
brasileiros
A
presentamos a se- mento adequado às necessidades; falta in-
Celi Taffarel* guir dados que po- fraestrutura escolar; falta de laboratórios;
dem ser constatados falta de informatização nas escolas.
em fontes seguras Os governos de Lula e Dilma reconhe-
e que nos permi- ceram a importância do financiamento,
O desmonte da tem afirmar que o estabelecendo relações entre investimen-
política de formação embate travado na tos e desempenho escolar. Ampliaram a
Educação, juntamente com a Saúde, é um Rede de Universidades Federais, criando
dos profissionais de dos mais violentos de todas as políticas 18 novas universidades e ampliaram os
educação do Brasil públicas em curso. O objetivo é desmontar Institutos Federais de Educação Técnica
o que estava sendo consolidado para de- e Tecnológica, de 160 para 644. Enfrenta-
está em curso e mocratizar, universalizar, elevar o padrão ram o problema da escassez de professores
cultural educacional da classe trabalhado- e relacionaram isto com a remuneração: os
deixará um lastro ra brasileira. Os ataques à Educação, Ciên- salários docentes não são atrativos e cada
de destruição sem cia, Tecnologia, Serviços Públicos, em es- vez menos jovens ingressavam na carreira.
pecial através de Portarias, Projetos de Lei, No início do governo de Luís Inácio
precedentes na Resoluções e Emendas constitucionais, Lula da Silva foi constatado que faltavam
história do Brasil. desmantelam os 28 programas de forma- 350 mil professores. A evasão nos cursos
ção de professores implantados durante os era alta. A Confederação Nacional dos
governos Lula e Dilma. Trabalhadores em Educação vinha denun-
Os governos de Luís Inácio Lula da ciando que o Brasil corria sérios riscos de
Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011- ficar sem professores de Ensino Médio
2016) enfrentaram problemas estruturais na rede pública, na próxima década. Os
graves na Educação Brasileira, como o professores têm baixos salários, excessiva
abandono e repetência escolar que resul- carga horária de trabalho, lidam com pés-
tam de um conjunto de fatores como: fal- simas condições de trabalho e 60% estão
ta acesso à escola; irregularidade e baixa próximos de se aposentar. Luís Inácio Lula
qualidade do transporte escolar; ausência da Silva assinou a Lei N. 11.738 em 16 de
de proposta pedagógica mais motivadora; julho de 2008 que instituiu o piso salarial
carência de professores mais bem pagos profissional para os profissionais do ma-
e melhor preparados; falta de financia- gistério público da Educação Básica.
Criado em 2006, o
Prodocência financia
projetos voltados
para a formação e o
exercício profissional
dos futuros docentes,
além de implementar
ações definidas nas
diretrizes curriculares
da formação de
professores para a
educação básica
21) Rede Nacional de Formação de Pro- dinadas ao regime jurídico de direito pú- ao novo regime de contratação; reestrutu-
fessores; 22) Pró-Licenciatura; 23) Pró- blico. Com isso, uma política de cobrança ração sem precedentes na administração
-Infantil; 24) Observatório da Educação de mensalidades por faixa de renda será das instituições, como a instalação de jun-
Escolar Indígena; 25) Programa de Licen- implantada, e as contratações passarão a tas de governança nomeadas pelo Planal-
ciaturas Internacionais; 26) Programa de ocorrer pelo regime celetista ou de con- to, com o fim de realizar uma transição
Aperfeiçoamento para Professores de Lín- trato temporário. Ocorrerá a instalação rumo a uma gestão de reitores-executivos,
gua Inglesa nos EUA; 27. Programa Ensi- de gestão por meio de OSs, em regime de inclusive não membros do corpo docente
no de Inglês como uma Língua Estrangei- Parceria Público Privada (PPP); estabele- das universidades e a extinção das instân-
ra; 28) Programa Aprofundando a Análise cimento de uma diferença salarial entre cias decisórias colegiadas atuais, em favor
da Docência e Liderando a Aprendizagem. os atuais professores concursados e os de comissões universitárias formadas por
Esta série de Programas, que abran- que seriam contratados em regime CLT, gestores nomeados pelas PPPs; congela-
gem tanto a formação inicial quanto a inclusive por meio do instituto do con- mento salarial dos corpos docente e técni-
formação continuada (ambas presenciais trato temporário; “oferta” de um plano co-administrativo, com introdução de um
e/ou a distância), foram medidas estrutu- de demissão dos concursados e de adesão PDV, associado a adoção da demissão por
rantes e emergenciais, propostas inclusive justa causa de trabalhadores concursados,
pela Comissão Especial que produziu o por critérios subjetivos, conforme projeto
relatório sobre escassez de professores do O embate de projetos de lei já em tramitação no Senado, com
Ensino Médio no Brasil. Todos estes pro- no campo educacional é parecer favorável da CCJ daquela Casa;
gramas sem exceção estão sendo atacadas. plano de fusões e venda de instituições
Este ataque inclui o sensacionalis- mais uma expressão da consideradas menos produtivas, além de
mo midiático; a velha política do “toma-
luta de classes, que se um plano de vendas do patrimônio físico
-lá-da-cá”; as ameaças aos professores das universidades (prédios, fazendas, ter-
se valendo do braço armado do Estado, trava entre os interesses renos etc.); fortalecimento das áreas de
como aconteceu com os reitores da UFSC, inovação tecnológica e empresarial e da
UFMG, UFRGS; as chantagens impostas
e necessidades das
produção direta para o mercado em detri-
a parlamentares dos estados brasileiros, amplas massas e, mento da pesquisa básica, orientada para
aos reitores, dirigentes institucionais e go- equacionar problemas sociais.
vernadores, como foi o caso em relação ao a irracionalidade São medidas que visam a encerrar a
desbloqueio de verbas públicas da educa- capitalista assegurada história secular das universidades públicas
ção em troca de votos a favor da Reforma no Brasil, ameaçando igualmente os IFs e
da Previdência (Projeto de Lei 06/2018). agora pelo comando CEFETs. Caso permaneça e se aprofunde
O embate de projetos no campo edu-
da extrema direita no este brutal ataque à educação, a proble-
cacional é mais uma expressão da luta de mática da formação inicial e continuada
classes, que se trava entre os interesses e governo do Brasil de professores será agravada, complexifi-
necessidades das amplas massas e, a irra- cada, principalmente frente ao seguinte:
cionalidade capitalista assegurada agora a) tendência de disputas territoriais (pro-
pelo comando da extrema direita no go- priedade da terra, solo, subsolo, ar e suas
verno do Brasil. riquezas – biodiversidade; minérios raros
A mais recente e violenta investida e abundantes, água, fontes energéticas,
contra as Universidades, os Institutos Fe- petrolíferas, entre outras); b) aumento de
derais e os CEFETs vem através das me- territórios em conflitos (luta de classes no
didas anunciadas dia 18 de julho de 2019 campo e na cidade); c) aumento da atua-
através do FUTURE-SE, que coloca a ven- ção de milícias, de grupos paramilitares;
da as universidades brasileiras. d) aplicação da política de ajuste fiscal
As universidades públicas deixarão (PEC 95/16); e) desmonte de programas,
de ser autarquias, não estarão mais subor- projetos e ações articuladas institucional-
Urge enfrentar
as contradições e
apresentar propostas
superadoras que
coloquem a educação
em um patamar
qualitativo diferente do
que propõe o governo
de extrema direita
Comissão de Educação da Câmara discute alternativas de financiamento à educação
mente por políticas públicas educacionais; ção, intensificação e terceirização do tra- que se privatizem as universidades, até
f) revogação de todo um aparato legal balho dos profissionais de educação; r) a a perseguição política usando o aparato
construído nos últimos anos para firmar intervenção criminosa de conselhos, cuja jurídico (lawfare) para prender oposito-
avanços e conquistas; g) aprovação de função social é exercer controle ideológico res, como é o caso da prisão do ex-presi-
entulhos autoritários que representam re- e econômico dos profissionais da educa- dente Luís Inácio Lula da Silva.
trocessos enormes no campo da educação ção e, ainda, da ação criminosa de Organi- Segundo Benigno Nunes Novo,
como por exemplo a BNCC do Governo, zações Não Governamentais (ONGs), que “trata-se do uso da lei (law) como ins-
Lei 13.415/17, aprovada em 06 de abril de se dizem de caráter “ filantrópico”, que se trumento de guerra e destruição do ou-
2017, resultante de um processo aligeira- valem de mecanismos da parceria públi- tro (warfare), onde não se respeita os
do, antidemocrático, capitaneado por um co-privado, da desoneração fiscal, e visam procedimentos legais e os direitos do
grupo de empresários, conduzindo o siste- a transferência de verbas públicas para se- indivíduo que se pretende eliminar. Tal
ma de ensino para a precarização, privati- tor privado . prática é planejada de forma a ter toda
zação e mercadorização; h) a tendência à Urge enfrentar todas estas contradi- uma aparência de legalidade, com a aju-
privatização da Educação; i) o fechamen- ções e apresentar propostas superadoras da da mídia, além dos agentes perpetra-
to de escolas; j) o ensino à distância; k) a que coloquem a educação em um pata- dores”.
fragmentação da formação; l) o rebaixa- mar qualitativo diferente do que propõe O golpe de 2016 no Brasil contra a
mento teórico; m) a militarização das es- o governo de extrema direita do ex-capi- presidenta legitimamente eleita com 54
colas; n) o ensino domiciliar; o) a perda tão expulso do exército, Jair Bolsonaro, milhões de votos é uma demonstração
do caráter laico da educação; p) o contro- para a educação da classe trabalhadora disto. A cronologia do golpe, a partir da
le ideológico da direita e extrema-direita brasileira. descoberta do pre-sal, deixa evidente
conservadora e obscurantista, capitalista, Análises críticas sobre as lutas po- que a ambição desenfreada do imperia-
imperialista, interferindo na gestão das pulares na América Latina e os governos lismo e seus vassalos entreguistas, entre
escolas, nas relações com a comunidade, progressistas demonstram a interven- os quais contam-se setores militares,
no material didático, nas avaliações, nos ção de países imperialistas, em especial empresariais, do judiciário, do legisla-
processos de formação continuada de pro- os Estados Unidos, para infringir golpes, tivo e executivo brasileiro, somado a
fessores, desvalorizando o magistério, com em especial em governos e governan- grande mídia privada, é apoderar-se dos
o rebaixamento salarial, desestruturação tes que avançam nas frágeis conquistas bens públicos, das fontes energéticas e
das carreiras dos profissionais da educa- democráticas na América Latina. Estes da biodiversidade e transformar o que
ção e, destruição de seus organismos de ataques vão desde orientações do Banco deveria ser direito e serviços públicos em
luta social, como o sindicato; q) precariza- Mundial, com seus “Ajustes Justos” para mercadorias e setores privados.
C
Aparecida Linhares Pimenta* om o Golpe que derru- Em 2018, durante a campanha elei-
bou a Presidenta Dilma toral Bolsonaro se manifestou várias ve-
em 2016, os cargos de zes de maneira agressiva em relação aos
O SUS vive uma das direção do Ministério médicos cubanos, questionando a digni-
da Saúde passaram a dade e profissionalismos dos mesmos, e
maiores crises de ser ocupados por indica- afirmou, com sua linguagem chula, que
sua história, e para ções partidárias de pessoas sem a mínima com “uma canetada devolveria os médi-
qualificação técnico-política para dirigir o cos para a ditadura cubana”. O governo
alguns especialistas, a Sistema Único de Saúde, e o Ministério cubano se antecipou e no final de 2018
própria sobrevivência perdeu capacidade de formular, induzir começou a retirar os médicos do Brasil,
e monitorar as políticas nacionais que vi- e o Governo Bolsonaro já eleito não fez
do Sistema estaria em nham sendo implementadas nos 30 anos nenhum esforço para manter os cubanos
jogo na conjuntura de história do SUS. nos municípios brasileiros.
Políticas nacionais como a Saúde Com isso terminou uma experiência
atual. Mental, com forte componente de reco- bem sucedida que mudou a realidade da
nhecimento dos direitos das pessoas com Atenção Básica em milhares de municí-
transtornos mentais a serem assistidas pios, e chegou a contar com mais de 11mil
numa rede de serviços comunitários, em médicos cubanos no Programa Mais Mé-
substituição aos manicômios, sofreu um dicos/PMM, criado pela Presidente Dilma
duro golpe no Governo Temer. A “nova” em 2013, através da Lei 12.871, que teve
Portaria da Saúde Mental aumenta recur- como objetivo reduzir desigualdades re-
sos para os manicômios, para as comuni- gionais no atendimento das necessidades
dades terapêuticas, para serviços ambu- de saúde da população, disponibilizando
latoriais, e congela recursos de custeio de médicos cubanos e brasileiros nas regiões
CAPS, e para Serviços Residenciais Tera- mais vulneráveis do país.
pêuticos/SRT para “moradores” de mani- Um dos fatos mais relevante na crise
cômios. E hoje existem centenas de CAPS atual é o agravamento do subfinancia-
e SRT funcionando há mais de um ano mento federal do SUS, com a aprovação
sem repasse federal. da Emenda Constitucional 95/2016, que
Outra política que foi destruída no congela os gastos com saúde e educação
final de 2018 foi o “Programa Mais Mé- por 20 anos, e que vem provocando di-
dicos” com interrupção do intercâmbio minuição real do gasto federal em saúde,
com Cuba, o retorno de milhares de mé- com a respectiva diminuição do percen-
dicos cubanos, o que provocou a desassis- tual de gasto em relação às Receitas Cor-
tência de milhões de brasileiros nos mu- rentes Líquidas da União.
nicípios mais vulneráveis, na periferia das A manutenção da EC 95 pode invia-
grandes cidades e regiões metropolitanas, bilizar o SUS e comprometer a garantia da
e nas populações indígenas. universalidade e integralidade do Sistema,
considerando que os municípios já gastam conformidade com as normas do SUS, que Essa interrupção poderá causar desabas-
em torno de 25% do Orçamento próprio estabelecem a obrigatoriedade do cofinan- tecimento desses insumos para os usuá-
em saúde, o que representa quase o dobro ciamento federal para esses serviços, e os rios do SUS, e torna o Brasil ainda mais
do mínimo estabelecido por Lei, e não tem recursos não são repassados. exposto às variações e interesses do mer-
condições de aumentar esse gasto. Há ainda o aprofundamento da com- cado internacional na área da indústria
Como o aumento da expectativa de pra do voto dos deputados federais e sena- farmacêutica, uma das mais poderosas
vida e envelhecimento da população e dores, através de emendas parlamentares do mundo.
crescimento das doenças crônicas, um impositivas, com recursos orçamentários O ministério da saúde do Governo
sistema universal como o SUS exige atua do SUS, o que também diminui os repas- Bolsonaro não está abastecendo estados
lização permanente dos recursos orça- ses regulamentares do Ministério para es- e municípios com insumos fundamentais
mentários e financeiros da União, o que é tados e municípios. para a saúde da população brasileira; fal-
inviabilizado pelo congelamento de gastos Outra área importante para a popu- ta soro antirrábico, faltam vacinas; falta
federais com a saúde. lação brasileira que vem sofrendo com o inseticida para o combate ao aedes. E há
O atual Ministro da Saúde defende a desfinanciamento federal é a Política Na- desresponsabilização do Governo Federal
EC 95, e tem usado um expediente extre- cional de Assistência Farmacêutica, com para o enfrentamento das arboviroses,
mamente perverso de subfinanciamento, falta de medicamentos em áreas cruciais, tais como dengue, zika, febre amarela.
através da morosidade de credenciamen- como medicamentos para transplanta- Esse mês foi publicado na Revista
to de serviços e do repasse de recursos de dos, para hepatite, para diabetes, entre Lancet artigo sobre a saúde no Brasil de-
custeio para equipamentos de saúde já em outros. Em meados de julho de 2019 nos monstrando que nos 30 anos de história
funcionamento, implantados e custeados deparamos com a notícia de suspensão do SUS, houve redução na desigualdade
pelos municípios. São centenas de Equi- de 19 contratos de Parcerias para o De- do acesso aos serviços de saúde e melho-
pes de Unidades Básicas de Saúde, Cen- senvolvimento Produtivo/PDP, celebrados ria de indicadores de saúde importantes.
tros de Atenção Psicossocial/CAPS, Re- por laboratórios públicos brasileiros para O artigo coloca ainda que as políticas
sidências Terapêuticas, Centros Especia- incorporação tecnológica para produção fiscais adotadas a partir de 2016 e sub-
lizados de Reabilitação para deficientes, de medicamentos como insulina, medi- financiamento do Sistema colocam em
Serviços de oncologia, leitos hospitalares, camentos para tratamentos de câncer, risco os avanços do Sistema na conjun-
que foram criados pelos municípios, em vacinas e outros insumos estratégicos. tura atual.
Novo Sindicalismo,
40 anos depois
Marcos Jakoby*
O movimento emergido
E
m 2018 completaram- em 1978 colocaria
-se quarenta anos do
que se convencionou
em cena uma nova
chamar, tanto no movi- classe trabalhadora,
mento sindical quanto
em meios acadêmicos, configurada no
de Novo Sindicalismo. contexto da ditadura
Ressurgia, em 1978, no cenário nacional,
um amplo movimento sindical que se ca- militar e ainda pouco
racterizaria como uma novidade no cam- experimentada na luta
po sindical e político, tanto em razão da
adoção de práticas distintas, quanto por política e na luta
marcar um novo ciclo na história da clas-
se trabalhadora e do país.
de massas
O movimento emergido em 1978 co-
locaria em cena uma nova classe traba- Para aqueles que se alinhavam à com- A caracterização do sindicalismo po-
lhadora, configurada no contexto da di- preensão de que surgia um novo sindicalis- pulista acentuava que a derrota da clas-
tadura militar e ainda pouca experimen- mo, estabeleceu-se o entendimento de que se trabalhadora e da esquerda diante do
tada na luta política e na luta de massas. se tratava de algo diferente em termos de golpe civil-militar de 1964 derivava do
Em 1979, Lula, a principal liderança sur- organização, luta e padrão de atuação do caráter passivo dos trabalhadores perante
gida do ciclo que se abria, fazia a seguinte movimento sindical. Dizia-se mais: trata- o patronato e do atrelamento de suas orga-
constatação: “o que está existindo lá no va-se uma ruptura com o velho sindicalismo, nizações ao Estado. Assim, salientava-se a
ABC, principalmente em São Bernardo, é muitas vezes denominado de populista. Era fragilidade do sindicalismo no pré-1964,
uma massa jovem de trabalhadores, pessoas um recorte, sobretudo, com o sindicalismo o qual estaria preso a uma espécie de
que não aceitam esse tipo de exploração, constituído no período entre 1945 e 1964. “camisa de força”. De um lado, a ação
que querem participar da vida política do Era, ademais, um modo de se contrapor dos trabalhadores estaria submetida a
país, que não viveram o populismo de Getúlio às correntes sindicais que tiveram grande uma estrutura sindical corporativista que
Vargas” (SILVA, 1981:179). O movimento influência sindical no pré-1964, especial- inviabilizava uma atuação autônoma; e,
operário e sindical, que ascende a partir mente às ligadas aos trabalhistas e comu- por outro lado, o populismo político que,
de 1978, é o principal fato político e social nistas, que ainda estavam presentes no utilizando da demagogia e da manipulação,
do final daquela década, contribuindo, de movimento sindical no final da década de teria orientado os trabalhadores e suas
forma determinante, para a derrota da di- 1970 disputando com o novo sindicalismo a organizações para uma política de colabo-
tadura militar. hegemonia no movimento sindical. ração de classes.
salarial e trabalhista que aumentava o grau em 1978, que não ocorreu somente no ABC
de exploração sobre a classe trabalhadora assa- paulista, ou tampouco no eixo Rio-São Paulo,
lariada, estabelecia o fim da estabilidade mas em todo país, representava um enfren-
no emprego, permitindo assim aumentar tamento à ditadura e aos capitalistas; e, tal
a margem dos lucros por meio da incor- situação, revelou a existência de contra-
poração de novos trabalhadores com sa- dições, posturas e táticas diferentes fren-
lários menores. O fim da estabilidade no te à conjuntura no movimento sindical.
setor privado teve também o objetivo de É possível identificar, no movimento
minar a organização sindical, uma vez sindical do final da década de 1970, dois
que muitos de seus dirigentes e represen- grandes blocos, “de um lado, os chama-
tantes tinham na estabilidade uma pro- dos sindicalistas autênticos reunidos em
teção contra ameaças e demissões. Todas torno dos sindicalistas metalúrgicos do
essas condições favoreceram o cresci- ABC, agregando sindicalistas de diver-
mento econômico entre 1968 a 1974, que sas categorias e partes do País, os quais,
atingiu índices de crescimento entre 9% com os grupos integrantes das chamadas
a 10%. Oposições Sindicais compunham o autode-
É dentro deste contexto que se dese- nominado bloco combativo”, de outro lado
nhará uma nova configuração da classe tra- “a Unidade Sindical que agrupava lideran-
balhadora: “A intensificação da introdução ças tradicionais no interior do movimen-
de plantas industriais modernas e sua con- to sindical, muitos deles vinculados aos
centração geográfica (processo que se inicia setores denominados pelegos, e os mili-
em fins dos anos 1950) vão possibilitar o tantes de setores da esquerda, tais como
surgimento do que se convencionou cha- o Partido Comunista Brasileiro (PCB), o
mar de “nova classe operária”. Ainda que Partido Comunista do Brasil (PC do B) e o
não exclusivamente, serão estes os atores Movimento Revolucionário 8 de Outubro
que despontarão mais tarde, auxiliando na (MR8). Estes dois blocos seriam as bases
Essa caracterização, contudo, atu- crise final da ditadura militar.” (SANTANA, de sustentação dos organismos intersin-
almente é relativizada e contestada em 2014: 172). dicais de cúpula.” (SANTANA, 1998:21).
muitos aspectos pela historiografia. Ao Entre 1978 e 1979 a classe trabalha- O primeiro bloco, sintonizado com o
olharmos e analisarmos a experiência da dora voltaria, depois de muitos anos e que seria chamado de novo sindicalismo, o
classe trabalhadora daquele período, in- diante do arrocho salarial, a mobilizar-se qual desembocaria na formação da CUT
clusive em âmbito sindical, perceberemos de forma mais aberta e combativa, ini- e que se constituiu como importante ver-
que a caracterização acima se mostra pro- ciando um intenso processo de mobiliza- tente do Partido dos Trabalhadores (PT),
blemática e insuficiente. Ao mesmo tem- ção que contribuiu na luta pela transição defendia a mobilização, a organização autôno-
po, muitas lideranças e setores cutistas democrática. “O ponto inicial desse ciclo ma dos trabalhadores e o enfrentamento por
reconhecem hoje no “velho sindicalismo” de lutas é a greve na fábrica Saab Scania meio da greve, quando necessário. Já o segun-
uma herança importante de lutas e tra- do Brasil, deflagrada no dia 12 de maio do bloco “apesar de reconhecer a legiti-
jetórias, que não podem ser ignoradas, de 1978. É nesse contexto que o “novo midade das demandas dos trabalhadores,
identificando entre o velho e o novo sin- sindicalismo” emerge na cena política achavam que o momento político vivido
dicalismo rupturas, mas também conti- do país chamando a atenção de amplos pelo país era muito delicado e a prioridade
nuidades. setores da sociedade, por meio do Sindi- da agenda da nação era a garantia da aber-
No período subsequente, a partir do cato dos Metalúrgicos De São Bernardo tura democrática e, portanto, o momento não
golpe militar de 1964, desenvolveu-se, do Campo”.(MELLI, COSTA e VISCOVI- era de confronto, o que não significou, por
por meio do Estado, uma nova política NI, 2013: 07). A disseminação das greves sua vez, que não dessem apoio as lutas
A CUT, fundada em
1983, na esteira no
do novo sindicalismo,
surgiu com o
compromisso de
lutar pela mudança
da estrutura sindical
visando conquistar a
liberdade e autonomia
sindicais
Congresso de fundação da CUT em São Bernardo do Campo. Agosto 1983
operárias” (MELLI, COSTA e VISCOVI- cil do que se previa - e, por outro lado, há BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
NI, 2013: 08). Hoje, ao fazermos um ba- lideranças e setores dentro e fora da CUT
FORTES, Alexandre [et al]. Na luta por direitos: leitu-
lanço das implicações destas diferentes que rebaixaram os objetivos e o perfil do ras recentes em história social do trabalho. Campi-
orientações, é razoável afirmarmos que a Novo Sindicalismo surgido no final da dé- nas, SP: Editora da Unicamp, 1999
postura de mobilização aberta e de con- cada de 1970. JAKOBY, Marcos André. A organização sindical dos
testação política, que preponderou, foi um Por fim, cabe ressaltar que hoje, trabalhadores metalúrgicos de Porto Alegre no perí-
ponto de apoio fundamental para a derrota o sindicalismo combativo e surgido do odo de 1960 a 1964. Dissertação de Mestrado, UFF.
da ditadura militar e a transição democráti- Novo Sindicalismo tem um desafio tão 2008.
ca. Acumulou forças para organização e grande quanto àquele do final da déca- MELLI, Ana Paula; COSTA, Hélio da; VISCONVINI, Le-
consciência da classe trabalhadora, bem da de 1970: ajudar derrotar o golpismo nir. O Novo Sindicalismo e a Fundação da CUT. Carti-
lha da CUT, São Paulo. 2013.
como para assegurar importantes direitos e toda a coalizão que levou o bolsona-
sociais e trabalhistas na Constituição Fe- rismo ao governo, cujas medidas se MUKANATA, k. O lugar do movimento operário. Anais
deral de 1988. caracterizam por uma sucessão de ata- do Encontro Regional da ANPUH/SP. Araraquara,
ANPUH/UNESP, 1980.
A CUT, fundada em 1983, na esteira ques aos direitos e conquistas da classe
no do novo sindicalismo, surgiu com o trabalhadora, inclusive a sua possibili- SADER, Eder. Quando novos personagens entram em
compromisso de lutar pela mudança da dade de se organizar e de lutar. Neste cena. Rio de Janeiro, Paz e Terra. 1980.
estrutura sindical visando conquistar a sentido, as lutas sindicais e operárias SANTANA, Marco Aurélio. O ‘Novo’ e o ‘Velho’ sindi-
liberdade e autonomia sindicais, de pau- daquele período nos legaram uma li- calismo: Análise de um debate. In: Revista de Socio-
tar um sindicalismo classista e comba- ção: será necessário muita organização, logia e Política, Curitiba, 1998.
tivo, que primasse pela organização nos mobilização de massas e uma orientação de SANTANA, Marcos Aurélio. Trabalhadores, sindica-
locais de trabalho, mantendo a autono- confronto político com as classes dominantes tos e regime militar no Brasil. In.: PINHEIRO, Milton
mia e a independência frente ao Estado e com vistas a criar as condições que tor- (org.) Ditadura: o que resta da transição. São Paulo:
Boitempo, 2014.
ao patronato. Hoje, passados mais de 40 ne possível às forças populares e demo-
SILVA, L. I. da. (1981). Lida: entrevistas e discursos.
anos da emergência do Novo Sindicalismo, cráticas saírem da defensiva e abrirem São Paulo, O Repórter / Núcleo Ampliado de Profes-
pode-se dizer que muitas conquistas fo- caminho para um ciclo de profundas sores PT/SP.
ram obtidas e que importantes avanços transformações em nosso país. WEFFORT, Francisco. Origens do sindicalismo popu-
na organização da classe foram constru- lista no Brasil. Estudos Cebrap, n. 4, 1973.
ídos. Contudo, a superação completa da *MARCOS JAKOBY é professor da
estrutura sindical corporativista ainda rede municipal de Sapucaia do Sul /RS
está por ser feita - e se mostra mais difí- e militante petista.
C
que erros de om o fim do traba- Jornal foi fundado
informação e lho escravo, com a na cidade do Rio
de Janeiro, em
exploração da força
resumos polêmicos 1908, como parte
de trabalho assa- das atividades
sejam informados lariada, com a len- promovidas pela
Confederação
para correções ta industrialização
Operária Brasileira
brasileira no final do
e registros de
século XIX, a classe operária organiza-se. deputado Hermes da Fonseca. Os setores
divergências na Em 1858, com os gráficos no Rio de Ja- combativos do movimento operário, im-
próxima edição neiro, temos registro da primeira greve pedidos de tomar o congresso como pla-
no país. Com a vinda de imigrantes para nejado, reagiram e reorganizaram a COB,
desta revista. o Brasil, principalmente de trabalhado- em 1913. Até a década de 1920, os sin-
res italianos, as primeiras organizações dicalistas revolucionários foram a princi-
socialistas, anarquistas, sindicalistas re- pal organização dirigente do movimento
volucionárias serão impulsionadas. Em operário, conduzindo a Greve Geral de
1906, sob hegemonia dos sindicalistas 1917, a tentativa de insurreição de 1919
revolucionários (uma das tendências, a e a reorganização da COB, em 1920, além
dos anarquistas), a Confederação Operá- de inúmeras experiências, compartilha-
ria Brasileira (COB) é fundada. Além da das com outros setores, de imprensa ope-
brutal repressão exercida pelo Estado, na rária, de bibliotecas populares, de intensa
defesa dos interesses empresariais, hou- atividade cultural e educacional próprias.
ve uma tentativa de organização sindi- Com os impactos da Revolução
cal “oficial” ou, para usarmos um termo Russa pelo mundo afora, no Brasil in-
mais atual, “pelega”, “amarela”, com a clusive, parcela dos anarquistas e das
convocação do denominado Congres- primeiras organizações comunistas
so Amarelo, em 1912, que elegeu como fundam o Partido Comunista do Brasil
presidente da fundada Confederação (PCB), em 1922, e atuam na reorgani-
Brasileira dos Trabalhadores (CBT), o zação do movimento operário, fundan-
2019: No Vale do Anhangabaú em São Paulo (SP), pela primeira vez, todas as centrais sindicais realizaram um ato unificado do 1º e Maio
do, em 1929, a Confederação Geral dos experiências do Movimento Unificador mou corpo e foi convocada, em 1981, a
Trabalhadores do Brasil (CGTB). A Lei dos Trabalhadores (MUT), do Pacto de 1ª Conferência da Classe Trabalhadora
de Sindicalização de 1934 provoca uma Unidade e Intersindical (PUI), do Pacto (CONCLAT). As divergências políticas e
crise no movimento sindical combati- de Unidade e Ação (PUA) constituído a proposta de construção de uma Central
vo, pois atrelou a organização sindical na greve de 1953, a Confederação Geral Sindical unificada dividiram as organi-
brasileira ao Estado. Com exceção das dos Trabalhadores é fundada em 1962. zações sindicais em dois blocos: os seto-
organizações anarquistas, as demais Com o Golpe Militar, em 1964, o res combativos - o “novo sindicalismo”,
organizações aceitaram a disputa “por movimento operário foi reprimido de majoritariamente petistas, defendiam a
dentro”. Isso explica, em parte, o enfra- forma ainda mais intensa. Além disso, construção de uma Central Única dos
quecimento dos anarquistas e o início em função da crise que se abateu sobre Trabalhadores, eram críticos da estrutu-
da hegemonia comunista no movimen- os motivos daquela derrota, os comunis- ra sindical vigente e defendiam um pro-
to operário, que perdurou até o Golpe tas, que perderam hegemonia sobre o jeto socialista, enquanto que os setores
Militar de 1964. Não é intenção deste movimento sindical que se fragmentou, moderados, com presença dos pelegos
texto analisar esse período, ficando ape- foram substituídos por direções sindi- – o “velho sindicalismo”, do MR8, do
nas registrado que a nova dinâmica de cais pelegas e oficiais. PCB e do PCdoB, defendiam a estrutu-
industrialização e urbanização, a partir ra sindical oficial e uma postura política
da década de 1930, criou uma classe A reorganização do movimento de não enfrentamento (o pacto social)
trabalhadora assalariada mais numero- operário e a CONCLAT diante da redemocratização. Diante do
sa e que os comunistas, principalmente, impasse, em 1983, a CUT é fundada pe-
foram a vanguarda da classe operária, A partir das grandes manifestações los setores mais combativos e, em 1986,
atuando sob clandestinidade na quase operárias reiniciadas em 1977, o deba- a Confederação Geral dos Trabalhadores
totalidade desse período. A partir das te sobre a reorganização sindical to- é fundada pelos setores moderados.
aderem à CUT. Atualmente é dirigida por setores conservadores cal. Foram até o congresso de fundação e, diante da maioria de
e pelo PPL, mantendo a defesa da estrutura sindical getulista. A delegados/as da Conlutas e das divergências sobre a composição,
CGTB está em processo de fusão com a CTB. recuaram e abandonaram o Congresso. Em 2014, a INTERSIN-
DICAL Central da Classe Trabalhadora é fundada “questionan-
Central dos Trabalhadores e do a estrutura sindical e defendendo a liberdade e autonomia”.
Trabalhadoras do Brasil (CTB) (www.intersindical.inf.br). A intersindical é impulsionada majo-
ritariamente pelos setores moderados do PSOL, fortalecidos re-
A CTB foi fundada em 2007, fruto do rom centemente com o ingresso do campo que rachou com o PSTU/
pimento com a CUT, defende uma perspectiva Conlutas.
classista, de solidariedade internacional, a unicidade sindical
(contra o pluralismo sindical) e uma perspectiva socialista. Organizações
“Nasceu para resistir a esta ofensiva reacionária, disfarçada de operárias anarquistas
“pós-moderna” e “pós-industrial”; para defender os direi tos
sociais e a democracia, em aliança com todas as forças progres Os anarquistas foram os primeiros diri-
sistas da nossa sociedade;para levantar a bandeira da valorização gentes e hegemonizaram o movimento
do trabalho e do socialismo do século XXI. Nasceu como uma operário brasileiro nas duas primeiras décadas do século XX,
central sindical classista, unitária, democrática, plural, de luta e perdendo força no momento seguinte. Atualmente, existem
de massas”. O PCdoB e o PSB são as principais organizações que diversas organizações operárias anarquistas, como a Coordena-
atuam na CTB (www.portalctb.org.br), além da CGTB que está ção Anarquista Brasileira (CAB), que “é um espaço organizati-
em processo de incorporação. vo fundado em 2012 que articula nacionalmente organizações
e grupos anarquistas que trabalham com base nos princípios e
Central Sindical e Popular na estratégia do anarquismo de matriz especifista. A CAB surge
(CSP/Conlutas) como resultado dos dez anos do processo de organização, ini-
ciado em 2002, do Fórum do Anarquismo Organizado (FAO).
A CSP/Conlutas, fundada em 2010, (http://anarquismo.noblogs.org/). Além dessa, existe a União
propõe-se a construir uma central não apenas sindical, mas Popular Anarquista (UNIPA), que mantém o site http://uniao-
também popular, aglutinando a classe operária e movimentos anarquista.wordpress.com, tendo “como o objetivo de divulgar
populares da cidade e do campo. “A CSP-Conlutas pauta a sua a teoria e a ideologia bakuninista e intervir na luta de classes,
atuação pela defesa das reivindicações imediatas e interesses a União Popular Anarquista (UNIPA) está fomentando a cons-
históricos da classe trabalhadora, tendo como meta o fim de toda trução de Comitês de Propaganda por todo o país.”
forma de exploração e opressão. Nossa luta tem a perspectiva
de alcançar as condições e construir uma sociedade socialista,
governada pelos próprios trabalhadores e trabalhadoras. ” Após *LEANDRO ELIEL P. MORAES é professor de
uma tentativa frustrada de fusão com a Intersindical, a CSP/ história, militante petista e coordenador dos cursos
Conlutas é impulsionada majoritariamente pelo PSTU, pelo de formação no Centro Cultural Esperança Vermelha.
MTST e por algumas correntes do PSOL. Com a dissidência do
MAIS, a Conlutas perdeu parte importante de sua base sindical.
REFERENCIAIS BIBLIOGRÁFICOS
(www.cspconlutas.org.br).
CUT. Caderno de Texto Base para o 11º CONCUT. 2012.
Intersindical – Central da Classe GIANNOTTI, V. e NETO, S. L. CUT ontem e hoje.
Trabalhadora São Paulo, SP: Vozes, 1991.
MARQUES. G. O novo sindicalismo:
a estrutura sindical e a voz dos
Em 2010, após o racha interno sobre a construção trabalhadores. Rio de Janeiro:
de nova central sindical, os setores ligados ao PSOL, Adia, 2005.
com a contrariedade da ASS, iniciaram um processo de debate
com a Conlutas sobre a construção de uma nova central sindi-
Cartografia da
ESQUERDA no Brasil
Leandro Eliel*
PARTIDO DOS
TRABALHADORES (PT)
www.pt.org.br
disciplinar a existência de tendências no ção de Esquerda. Em quarto lugar, lideran- do sem filiação partidária (é o caso, por
interior do Partido ocorreu no 5º Encontro ças e tendências situadas à esquerda e à di- exemplo, de Hélio Bicudo, Cristovam Bu-
Nacional do PT, em 1987. A segunda ten- reita da Articulação, invertem seus papéis arque e de Chico Whitaker). Em terceiro
tativa ocorreu no Primeiro Congresso do (é o caso de Plínio de Arruda Sampaio, líder lugar, a crise de 2005 e o processo de elei-
PT, em 1991. moderado nos anos 1980 e líder radical nos ção das novas direções partidárias altera a
Uma compreensão do papel jogado anos 1990; é o caso, também, de José Ge- força do antigo “Campo majoritário”, que
pelas tendências no interior do PT deve le- noíno, que faz o percurso inverso). deixa de ter a maioria absoluta no Diretó-
var em conta pelo menos duas variáveis: De 1995 até o final de 2003, o quadro rio Nacional do PT e passa a denominar-se
as posições políticas defendidas por estes interno se estabiliza da seguinte forma. Construindo um Novo Brasil (CNB).
grupos e a atitude geral que adotavam Um grupo majoritário denominado, talvez Depois do excelente resultado obti-
frente ao Partido. para que não restasse dúvida, de “Campo do no PED de 2005, a esquerda partidária
De 1983 a 1993, por exemplo, existia majoritário”, composto basicamente pela passa por um processo de divisão e redu-
uma tendência hegemônica e majoritária Articulação Unidade na Luta e pela Demo- ção de sua influência, que se expressa nos
em âmbito nacional: a Articulação, cujas cracia Radical (esta por sua vez, oriunda resultados das eleições internas ocorridas
posições se refletiam nas resoluções par- da aliança do ex-PRC com outros setores). posteriormente. Em 2007 a correlação de
tidárias. Uma esquerda, com quatro expressões forças se mantém quase inalterada, com
Competindo com a Articulação, ha- mais conhecidas, a saber: a Democracia So- a diferença de que dois representantes
via algumas lideranças e agrupamentos cialista, a Articulação de Esquerda, a Força moderados disputam o segundo turno:
informais com posições mais moderadas Socialista e O Trabalho. E um centro, cuja Ricardo Berzoini (CNB) contra Jilmar
(exemplo disso são os parlamentares que expressão principal viria a formar o chama- Tatto (PTLM), com a vitória de Berzoini.
defenderam votar em Tancredo Neves no do “Movimento PT”, agrupamento de lide- Em 2009, a CNB compõe uma chapa com
Colégio Eleitoral). E havia, também, lide- ranças parlamentares e grupos regionais. o PTLM e NR elegendo a maioria absolu-
ranças e agrupamentos com posições mais No final de 2003, a expulsão de Helo- ta dos membros no Diretório Nacional e,
radicalizadas. ísa Helena e de três deputados federais é o no primeiro turno, conquistam também
A maioria destes agrupamentos ti- marco inicial de um novo processo de alte- a presidência do PT com José Eduardo
vera origem anterior ou exterior ao PT. É ração no quadro interno. Em primeiro lu- Dutra, que logo depois, por problemas de
o caso da Democracia Socialista (Organi- gar, o Movimento de Esquerda Socialista saúde, se afasta da presidência. O Diretó-
zação Revolucionária Marxista/Democra- e a Corrente Socialista dos Trabalhadores rio Nacional elege Rui Falcão para ocupar
cia Socialista), do Partido Revolucionário (duas tendências oriundas da antiga Con- a presidência. Em 2013, num processo
Comunista (PRC), do Partido Comunista vergência Socialista), acompanhadas de eleitoral bastante criticado, setores par-
Brasileiro Revolucionário, da Organização um número significativo de lideranças de tidários que estavam no centro ou na es-
Socialista Internacionalista (O Trabalho), esquerda independentes, saem do PT ain- querda petista aderem à candidatura de
da Ala Vermelha, da Convergência Socia- da em dezembro de 2003 e criam o PSOL. Rui Falcão, lançado pelo grupo majoritário
lista, entre outros. Outro grupo expressivo de petistas filia-se para a presidência do PT.
Entre 1991 e 1995, em um ambiente ao PSOL entre os meses de setembro e ou- Em 2016 é aprovado o impeachment
político marcado pela ofensiva neoliberal e tubro de 2005. É o caso da Ação Popular da Presidenta Dilma, dando início ao gol-
pela crise do socialismo, ocorrem profun- Socialista (tendência resultante da fusão pe que se estenderia por meio da conde-
das alterações na vida interna do PT. Em da antiga Força Socialista com outros gru- nação, prisão e cassação de Lula. Em 2017,
primeiro lugar, todas as tendências passam pos), de Plínio de Arruda Sampaio, de vá- Gleisi Hoffman, da CNB e com apoio da
a se considerar como “tendências internas” rios deputados federais e de certo número EPS, Novo Rumo, Movimento PT e O Tra-
de um “partido estratégico”. Em segundo de militantes oriundos de várias tendên- balho, é eleita presidenta do PT, derro-
lugar, a Convergência Socialista e outros cias da esquerda petista ou independen- tando a candidatura de Lindbergh Farias.
grupos saem do PT, criando o PSTU. Em tes. Em segundo lugar, lideranças até en- Fernando Haddad é o candidato do PT nas
terceiro lugar, a tendência majoritária passa tão vinculadas ao “Campo majoritário” ou eleições de 2018, sendo derrotado por Jair
por um processo de cisão, dando origem à independentes de expressão desligam-se Bolsonaro (PSL). Em 2019, em novembro,
Articulação Unidade na Luta e à Articula- do PT, indo para outros partidos ou fican- ocorrerá o 7º Congresso do PT.
AS PRINCIPAIS TENDÊNCIAS DO PT
CONSTRUINDO UM NOVO BRASIL (CNB) ças importantes da NR ingressaram na re- a Democracia Socialista (DS). A Mensagem
www.contruindoumnovobrasil.com.br cém-criada Resistência Socialista. Outros ao Partido lançou candidatura própria no
setores da EPS discutem a fusão com o NR. PED de 2007, 2009 e 2013. Antes disso, a
Também conhecida pela sigla CNB: oriunda
DS já havia lançado candidatura própria
da Articulação dos 113, passando pela Arti-
MOVIMENTO PT (MPT) no PED 2001 e 2005. Em 2017, a DS apoia
culação Unidade na Luta e pelo Campo Ma-
www.movimentopt.com.br a candidatura de Lindbergh Farias. Hoje a
joritário. Reivindica de forma desidratada o
Mensagem ao Partido não existe mais. Par-
programa democrático e popular, concen- Reúne oriundos de diferentes setores do te dos seus antigos integrantes está empe-
trando esforço cada vez maior na luta insti- Partido. Busca situar-se no centro, fazendo nhada na construção de uma nova tendên-
tucional como caminho para as mudanças. críticas ao campo majoritário e à esquerda cia, intitulada Resistência Socialista.
No PED 2013 apoiou Rui Falcão, da tendên- petista. No PED 2013 apoiou Rui Falcão
cia Novo Rumo, à presidência nacional do à presidência nacional do PT e, em 2017, MILITÂNCIA SOCIALISTA (MS)
PT. Em 2015, a tendência PTLM, incorpo- apoiou Gleisi Hoffman (CNB). www.militanciasocialista.org
ra-se à CNB. Em 2017, Gleisi Hoffman, da
CNB é eleita presidenta nacional do PT. ARTICULAÇÃO DE ESQUERDA (AE) Fusão de diversas tendências regionais. De-
www.pagina13.org.br fende a articulação da luta social com a luta
NOVO RUMO (NR) institucional, na defesa de reformas estru-
www.?????????? Cisão da Articulação dos 113, surgida em turais mais amplas. Compõe a esquerda pe-
1993 com o lançamento do manifesto tista. No PED 2009 apoiou a candidatura da
Originalmente uma cisão paulista da Arti- “Hora da Verdade”. A AE defende uma es- Articulação de Esquerda à presidência na-
culação de Esquerda. Possui uma orienta- tratégia e um programa democrático-popu- cional do PT. No PED 2013 lançou candida-
ção política similar à da CNB, privilegiando lar e socialista. Lançou chapa e candidatura tura própria. Em 2017, a MS apoiou a can-
uma estratégia institucional. Em 2013, em própria em todos os PED, desde 2001 até didatura de Lindbergh Farias. Atualmente,
aliança com a CNB, Rui Falcão (NR) é eleito 2013. Em 2017, apoiou a candidatura de participam da construção da tendência Re-
presidente nacional do PT. Em 2017 apoiou Lindbergh Farias. Edita o jornal Página 13. sistência Socialista.
Gleisi Hoffman (CNB). Atualmente, a Novo
Rumo mantém um “campo” (intitulado DEMOCRACIA SOCIALISTA
Optei) com a EPS. O TRABALHO (OT)
www.democraciasocialista.org.br www.otrabalho.org.br
ESQUERDA POPULAR E SOCIALISTA (EPS) Tendência com existência anterior ao PT.
Oriunda da Organização Socialista Inter-
www.esquerdapopularsocialista.com.br Entre 2003 e 2005, lideranças importantes
nacionalista, a tendência trotskista O Tra-
da DS participam da fundação do PSOL. Ao
Resulta da fusão entre a Tendência Mar- balho passou por uma importante cisão em
mesmo tempo, o grupo majoritário na DS
xista e um grupo que em 2011 saiu da AE. meados dos anos 1980, quando parte im-
rompe seus vínculos com o Secretariado
Define-se como marxista, defende a arti- portante de sua militância adere a Articula-
Unificado da Quarta Internacional e reo-
culação das lutas sociais e institucionais rienta-se internamente no PT, passando a ção dos 113. Outra cisão ocorreu por volta
na construção de uma sociedade socialista. defender uma estratégia conhecida como de 2007, dando origem a um agrupamento
No PED 2013 apoiou Rui Falcão à presidên- “revolução democrática”. Com base nesta denominado Esquerda Marxista. Reivin-
cia nacional do PT e participou da chapa orientação, depois de 2005 a DS impulsio- dica a Quarta Internacional. Edita o jornal
do Movimento PT. Em 2017, apoiou Gleisi nou o agrupamento Mensagem ao Partido, O Trabalho. Lançou chapa e candidatura
Hoffman (CNB). Atualmente, mantém um integrado por diversas personalidades, gru- própria em todos os PED, desde 2001. Em
campo com NR intitulado OPTEI. Lideran- pos regionais e por uma tendência nacional, 2017, OT apoiou Gleisi Hoffman (CNB).
PARTIDO DEMOCRÁTICO a candidatura Dilma Rousseff. Em 2013, à presidência, ficando em quarto lugar.
TRABALHISTA (PDT) sem conseguir organizar a própria legen- Em 2017, em seu 6º Congresso Nacional,
www.pdt.org.br da, Marina Silva filia-se ao PSB e soma Juliano Medeiros (APS-CC) é eleito pre-
esforços com os socialistas para viabilizar sidente nacional do PSOL.
O PDT, criado em 1979, é fruto da reor- a oposição ao Governo Dilma. Em 2014, A relativa hegemonia do campo
ganização do trabalhismo histórico que com a morte de Eduardo Campos, Ma- moderado foi consolidada após a renún-
atuava no PTB até extinção dos partidos rina Silva foi candidata à presidência e cia de Heloisa Helena, que foi presidente
políticos pela ditadura militar. Impedido ficou em terceiro lugar, apoiando, no se- do partido entre 2004 e 2010, e que teve
pelos militares de controlar a legenda do gundo turno, Aécio Neves (PSDB). Em sua filiação ao PSOL questionada pela
PTB, Leonel Brizola, junto com outras 2018, o PSB não apoiou formalmente ne- colaboração com a construção da Rede
lideranças, funda o PDT. Defende que a nhum candidato. Sustentabilidade de Marina Silva. Afrâ-
propriedade privada deve ser preservada nio Bopré (APS), naquele momento, as-
e submetida ao bem estar social e a um PARTIDO SOCIALISMO E sumiu a presidência do PSOL, ficando
Estado normativo. Em 1989, nas eleições LIBERDADE (PSOL) até 2011, quando Ivan Valente (APS)
presidenciais, Leonel Brizola quase foi www.psol50.org.br foi eleito para o cargo num mandato de
para o segundo turno, momento em que dois anos. Em 2013, o setor moderado, a
apoiou a candidatura de Lula contra a de Em 2003, após a expulsão de três Unidade Socialista, obteve 52% dos vo-
Collor. Em 1994, candidata-se novamen- parlamentares do PT, em função da re- tos dos/as delegados/as, indicando Luiz
te e obtém uma votação muito baixa. Em forma da previdência, o PSOL é organi- Araújo (APS) como presidente do PSOL,
1998, é candidato a vice-presidente na zado e regularizado em 2005. enquanto o Bloco de Esquerda conquis-
chapa de Lula, quando são derrotados Em 2006, o PSOL lança a candi- tou 45% e o PSOL Necessário 3% dos vo-
por Fernando Henrique Cardoso. Nas datura de Heloisa Helena para a Presi- tos.
eleições de 2002, o PDT apoia a candida- dência da República, numa coligação No 6º Congresso, em dezembro de
tura de Ciro Gomes (PPS). Em 2006, lan- que contava com o PSTU e o PCB. Tendo 2017, dois campos continuaram a dis-
ça Cristovam Buarque. Em 2010 e 2014 como vice César Benjamin, até então um puta pelo controle do partido: um setor
apoia a candidatura de Dilma Rousseff dos teóricos da chamada Consulta Po- moderado e majoritário (Unidade Socia-
(PT). Em 2018 lançou a candidatura de pular, Heloisa Helena obtém 6,85% dos lista), capitaneado atualmente pela AP-
Ciro Gomes. O PDT edita o jornal O Tra- votos, ficando em terceiro lugar na cor- S-CC, junto com o Coletivo Rosa Zum-
balhador. rida presidencial. Nas eleições de 2010, bi, Mandato do Glauber e por diversos
Heloisa Helena não aceita a candidatura grupos regionais lançou a candidatura
PARTIDO SOCIALISTA a Presidência, preferindo a candidatura de Juliano Medeiros (207 votos); e um
BRASILEIRO (PSB) ao Senado pelo estado de Alagoas. Ape- setor radicalizado (Bloco de Esquerda),
www.psb40.org.br sar da eleição dada como certa, não ob- composto por MES, APS, CST, LSR, Car-
teve sucesso, ficando em terceiro lugar. los Gianazzi, entre outras organizações
O PSB, fundado em 1947 pela Esquer- Em seguida, a ex-senadora renuncia a e lideranças lançou a candidatura de
da Democrática, reorganiza-se em 1985, seu mandato na presidência do PSOL. Marcelo Freixo (148). A Insurgência e
mantendo o programa e estatuto de ori- Nesse ano, Plínio de Arruda Sampaio é independentes do Rio de Janeiro lan-
gem. Defende um programa socialista o candidato do PSOL à presidência da çaram chapa própria (25 votos). Nes-
gradual e legal, que preserve a proprieda- República, sem conseguir fazer aliança se atual momento, está em curso uma
de privada. Nas eleições presidenciais de com PSTU e PCB, que lançam suas pró- nova configuração interna no PSOL, um
1989, 1994 e 1998, o PSB apoiou a can- prias candidaturas presidenciais. Plínio setor moderado – Aliança - constituído
didatura de Lula. Em 2002, lançou can- recebe apenas 0,87% dos votos, ficando pela Primavera Socialista, militantes do
didatura própria, a de Antony Garotinho, em quarto lugar. Em 2014, o senador MTST (Boulos), Insurgência, Resistên-
apoiando Lula no segundo turno. No pri- Randolfe Rodrigues é escolhido como cia, LSR e Subverta; de outro lado, num
meiro turno de 2006 não apoiou formal- candidato do PSOL à Presidência da Re- campo à esquerda, - Bloco de Esquerda
mente nenhuma candidatura, apoiando pública. Com a desistência de Randolfe - formado pelo MES, CST, Comuna, AP-
Lula no segundo turno. Em 2010 apoiou Rodrigues, Luciana Genro foi candidata S-Nova Era.
As principais tendências do PSOL: promovidas pelo PSOL no último perío- PT, está organizada no PSOL.
do. No último congresso compôs o Bloco
Primavera Socialista - oriunda da For- de Esquerda. Comuna: surge em 2017, a partir do
ça Socialista, antiga tendência interna do rompimento com a Insurgência, fundada
PT, a APS adere ao PSOL em 2005, tor- Movimento Esquerda Socialista em 2013, e reivindica a IV Internacional.
nando-se a principal corrente partidária, (MES, www.lucianagenro.com.br/mes/): Segundo seu manifesto de fundação: “A
denominada APS – Corrente Comunista, oriunda da antiga Convergência Socialis- Comuna é uma organização ecossocialis-
mesmo com o racha de 2012/2013. No ta, o MES entra no PSOL e torna-se a se- ta, feminista, antirracista, antilgbtfóbica,
último congresso elegeu o presidente do gunda maior tendência interna, atuando antiproibicionista e revolucionária fun-
Partido, compondo o campo moderado. inicialmente próximo à Senadora Heloisa dada em 2017 no Brasil. Nos referencia-
Além dela, a Resistência Socialista - CE, Helena e ao MTL. Defendia posições mais mos numa tradição renovada do Marxis-
grupos regionais, Somos Psol integram moderadas, inclusive a aliança com o PV, mo, construímos a IV Internacional (CI)
essa tendência. O Coletivo Rosa Zumbi que ocorreu nas eleições de 2008, em Por- e atuamos como tendência interna do
está em processo de entrada. to Alegre. Desde o II Congresso disputa Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).”
com a APS o controle do partido. Compõe (https://www.comunapsol.org/about).
Insurgência (www.insurgência.org): o Bloco de Esquerda. Luciana Genro, do Compôs o Bloco de Esquerda.
surge em 2013, fruto da fusão entre o MES, destacou-se no último período por
CSOL, racha do PSTU; o ENLACE e o Co- sua defesa da Operação Lava-Jato. Subverta: rompimento da Insurgência,
letivo Luta Vermelha, filiado ao Secreta- surge em 2017, e, segundo seu manifes-
riado Unificado da Quarta Internacional. Coletivo Rosa Zumbi (http://coletivo- to de fundação “Somos um coletivo an-
Publica a revista À Esquerda, critica o rosazumbi.wordpress.com/): tendência ticapitalista, socialista, internacionalista,
processo de moderação do PSOL, a ins- oriunda do racha da APS, é crítica tan- revolucionário, ecossocialista, feminista,
titucionalização e as alianças promovidas to do setor moderado, por sua excessiva anti-racista, anti-LGBTfóbico, antipuniti-
nas últimas eleições. institucionalização, quanto dos setores à vista, antiproibicionista e em defesa das
esquerda, pelo seu sectarismo. Defende a liberdades. Apostamos na independência
Corrente Socialista dos Trabalhado- validade e atualização do Programa De- de classe dos setores subalternizados.”
res (CST, www.cstpsol.org): oriunda mocrático e Popular. No último congresso (https://subverta.org/). Compôs o Bloco
da antiga Convergência Socialista, atuava compôs com o setor moderado (US). de Esquerda.
no PT. É filiada à UIT-QI. Possui o perió-
dico mensal Combate Socialista. A CST, Liberdade, Socialismo e Revolução Resistência: tendência oriunda da fu-
que compõe o Bloco de Esquerda, acusa a (LSR, http://www.lsr-cit.org/): fusão das são entre a NOS (Nova Organização So-
Unidade Socialista de igualar o PSOL aos tendências SR e CSL, filiada ao CIT, trot- cialista) e o Mais (Movimento por uma
partidos do sistema. skista, publica o jornal Ofensiva Socialista. Alternativa Independente e Socialista),
Crítica dos rumos adotados pela maioria, que rompeu com o PSTU. Segundo seu
Ação Popular Socialista/Nova Era compondo também o Bloco de Esquerda. manifesto de fundação “Avaliamos que
(APS/NE encurtador.com.br/ivKT3): en- o PSOL não é o bastante para a classe,
tre 2012 e 2013 a corrente majoritária Trabalhadores na Luta Socialista também porque seu horizonte ainda é
APS sofre uma cisão. Surgem daí três (TLS, http://trabalhadoresnalutasocialis- estritamente eleitoral e seu programa
agrupamentos: a APS/CC, o coletivo Rosa ta.blogspot.com.br/): agrupamento com continua atrelado à estratégia democrá-
Zumbi e a APS/Nova Era ou APS de Es- maior expressão em São Paulo, crítico do tico-popular, desenhada pelo PT nos anos
querda, que reuniu, majoritariamente, setor majoritário e compôs o Bloco de Es- 1980 e ainda não superada pela esquerda
setores sindicais e de juventude críticos querda no último congresso. brasileira.” (https://esquerdaonline.com.
às alianças realizadas pela APS em Ma- br/2018/04/30/leia-o-manifesto-de-fun-
capá e Belém. No último congresso com- Esquerda Marxista (EM, www.marxis- dacao-da-resistencia/).
pôs o Bloco de Esquerda. mo.org.br): cisão de O Trabalho, filiada
à CMI, luta pela reconstrução da Quar- Luta Socialista (LS, http://lutasocialis-
Coletivo Primeiro de Maio (http://pri- ta Internacional. Sua estratégia política ta.com.br/index/): tendência interna do
meirodemaio.org/): tendência oriunda é orientada pelo Programa de Transição PSOL, simpatizante da Unidade Interna-
do Coletivo Rosa do Povo, é crítica ao se- de Trotski. Edita o jornal Esquerda Mar- cional dos Trabalhadores – UTI-QI, edita
tor majoritário e a ampliação de alianças xista. Desde 2015, quando rompeu com o o jornal Luta Socialista.
PARTIDO DA CAUSA munista, participando da Conferência com críticas ao PT por sua conciliação
OPERÁRIA (PCO) Internacional de Partidos e Organizações de classes e com o capital internacional.
www.pco.org.br Marxistas-Leninistas (CIPOML). Nas últi- Critica o PT e a esquerda petista por duas
mas eleições presidenciais, apoiou a can- questões principais: a ilusão que nutre
O PCO originou-se de uma cisão da OSI, didatura de Guilherme Boulos (PSOL). sobre as possibilidades de administração
organização trotskista existente anterior- do Estado e ao rebaixamento da
mente ao PT. Ingressa no PT como ten- LIGA BOLCHEVIQUE luta sindical. Defende um programa
dência interna, desde 1980. Conhecida INTERNACIONALISTA (LBI) transitório para o socialismo expresso
como Causa Operária, denominação do www.lbiqi.org no Programa Único, na construção da
seu jornal, publicado até hoje, durante o dualidade de poderes como preparação da
processo eleitoral de 1989 questiona as A LBI é uma cisão à esquerda da Causa construção do socialismo.
alianças do PT com o PSB, iniciando um Operária, motivada pela avalição de que
processo de rompimento com o partido. esta organização se adaptou à burocracia PARTIDO OPERÁRIO
A partir de 1991, o PCO inicia seu pro- lulista. Defende a reconstrução trotskista REVOLUCIONÁRIO (POR)
cesso de legalização, obtendo o registro da Quarta Internacional. É contrária a for- www.pormassas.org
provisório em 1995. Em 1997, consegue o mação de Frentes de Esquerda, sendo que
registro definitivo. Nas eleições de 1994, em 1998 defendeu o voto nulo nas elei- O POR, fundado em 1989, trotskista, é
apoia criticamente a candidatura de Lula. ções presidenciais. Defende a greve geral uma cisão à esquerda da Causa Operária,
Em 2002, 2006 (candidatura indeferida revolucionária para a derrubada imediata motivada pela avaliação de que esta teria
pelo TSE), 2010 e 2014 lançou candidato do Estado. Edita o jornal Luta Operária e a abandonado a perspectiva da ditadura
à Presidência, o jornalista Rui Costa Pi- revista Marxismo Revolucionário. do proletariado. Em 1990 defende o voto
menta. Em 2018, informalmente, o PCO nulo nas eleições. Define-se como um em-
apoiou a candidatura de Lula, antes de MOVIMENTO brião do partido revolucionário. Edita o
sua interdição. REVOLUCIONÁRIO DE jornal Massas.
Defende uma estratégia socialista TRABALHADORES - MRT
revolucionária, baseada na aliança ope- www.facebook.com/MovRevTrab/ CONSULTA POPULAR
rário-camponesa, liderada pela classe www.consultapopular.
operária. Defende a construção de um Em 2015, “o MRT surgiu a partir do Con- org.br
partido revolucionário para cumprir esse gresso da Liga Estratégia Revolucionária
papel, sem tendências internas. – Quarta Internacional, que votou em ses- Fundada em 1997, em torno de um pro-
são extraordinária do seu V Congresso a grama nacionalista de esquerda (o Projeto
mudança de seu nome.” A LER-QI foi fun- Popular para o Brasil) e da crítica do que
UNIDADE POPULAR -UP dada em 1999, com duras críticas ao PSTU denomina de esquerda eleitoral. Defende
www.unidadepopular.org.br e ao morenismo, criticadas por serem “va- que [...] o formato de cada organização é
riantes deformadoras do trotskismo”. De- determinado pelas condições apontadas
A Unidade Popular, surgida recentemente, fende o programa de transição de Trotski pela luta de classes. A organização é uma
é oriunda do PCR, formado inicialmente e um programa revolucionário de tomada ferramenta e não existem ferramentas
por militantes que romperam com o PC- do poder, desferindo duras críticas às pos- universais, senão aquelas que são mais
doB em 1966. Organizado principalmente sibilidades institucionais. Recentemente, adequadas à tarefa que se pretende rea-
no nordeste brasileiro, o PCR quase desa- teve seu pedido de entrada recusado pelo lizar. A organização está sempre a serviço
parece durante a ditadura, fundindo-se PSOL. Edita o jornal Esquerda Diário. de uma determinada linha política. Por-
com o MR-8 em 1981. Em 1995, por conta tanto, a Consulta Popular é um meio, não
das divergências com a linha nacionalista MOVIMENTO NEGAÇÃO DA um fim. O motivo de sua existência não é
do MR-8, o núcleo original do PCR rom- NEGAÇÃO (MNN) criar mais uma estrutura de poder, voltada
pe com a organização e refunda o partido. www.movimentonn.org para alimentar uma nova burocracia. Em
A UP edita o jornal A Verdade e defende outras palavras, somos uma ferramenta
a reconstrução de uma Internacional Co- O MNN, trotskista, foi criado em 2005 que somente faz sentido enquanto serve
para a luta revolucionária.” Durante os go- sentantes de 17 estados, após a morte de EMANCIPAÇÃO
vernos Lula e Dilma, a Consulta Popular Prestes, e decide por dar continuidade à SOCIALISTA
(e seu braço juvenil, o Levante Popular da organização, criando instâncias e desen- www.emancipacaosocialista.org
Juventude) mudou de linha política, o que volvendo a política elaborada na década
se traduziu por exemplo na aproximação anterior.” (http://www.cclcp.org/). Organização originada da fusão do grupo
entre a Consulta Popular, o PT e o PCdoB. Espaço Socialista, formado em 2000 por
MOVIMENTO ex-militantes do PSTU na região do ABC
PARTIDO COMUNISTA REVOLUCIONÁRIO paulista, com o Movimento de Organiza-
LENINISTA MARXISTA SOCIALISTA (MRS) ção Socialista. (http://www.emancipacao-
(PCML) www.mrsocialista.org socialista.org/2019/manifesto/).
O PCML, prestista, foi organizado a par- Grupo formado por militantes expulsos COORDENAÇÃO
tir do órgão INVERTA, que “foi um jor- do PSTU em 2007, fundado em 2013, ANARQUISTA BRASILEIRA
nal criado pelas organizações populares, que reivindica o trotskismo morenista. (CAB)
associação de moradores, movimentos Edita o jornal Correio dos Trabalhadores.
de trabalhadores rurais, sindicalistas Foi organizado “a partir da fusão e unifi- www.anarquismo.noblogs.org
e intelectuais que formam o Centro de cação de 4 grupos revolucionários brasi-
A CAB, fundada em 2012, espaço de or-
Educação Popular e Pesquisas Econômi- leiros e de inúmeros ativistas e lutadores
ganização nacional de grupos, organiza-
cas e Sociais, e que, a partir dele, cons- socialistas que vieram somar-se à esta
ções e federações anarquistas de matriz
truíram o INVERTA. Esta é sua origem, nova organização. O MRS surge da uni-
especifista, surgiu a partir das articulações
como um jornal vinculado ao movimen- dade entre a Alternativa Revolucionária
promovidas com o Fórum do Anarquismo
to OPPL e ao CEPPES e, justamente, a Socialista (ARS), da Corrente de Esquer-
Organizado (FAO). “A fundação da CAB
partir dele, se desenvolveu um processo da Revolucionária de Luta e Socialista
marca a passagem de um fórum para uma
de debate que levou à formação do Con- (CERLUS), do Movimento Revolucioná-
coordenação nacional, evidenciando um
gresso de Refundação do Partido sob o rio (MR) e da Práxis Revolucionária So-
aumento de organicidade e fundamen-
princípio marxista-leninista, sendo re- cialista (PRS).”
tando as bases para o avanço rumo a uma
conhecido no próprio congresso como
organização anarquista brasileira.”
seu órgão central”, segundo seu secre- FRENTE COMUNISTA DOS
tário Geral Aluísio Beviláqua. (https:// TRABALHADORES / LIGA
UNIÃO POPULAR ANARQUISTA (UNIPA,
inverta.org/pcml). COMUNISTA (LC)
http://uniaoanarquista.wordpress.com)
www.lcligacomunista.blogspot.com.br
A UNIPA, que realizou seu primeiro con-
POLO COMUNISTA LUIZ
gresso em 2003, defende a necessidade de
CARLOS PRESTES (PCLCP) A FCT/LC é uma ruptura da LBI. É cons-
uma organização política anarquista base-
trutora do Comitê de Ligação pela IV In-
ada nos ideais bakuninistas. Edita o jornal
O PCLCP é oriundo da Corrente Comu- ternacional (CLQI) com o Socialist Fight
Causa do Povo.
nista Luiz Carlos Prestes (CCLCP), cujos da Grã Bretanha e com a Tendência Mi-
militantes “romperam com o PCB em litante Bolchevique, da Argentina. Edita
defesa da estratégia socialista. Comunis- o jornal Folha do Trabalhador e a revista *LEANDRO ELIEL P. MORAES é
tas estes que durante toda a década de teórica “O Bolchevique”. professor de história, militante petista e
80 militaram junto com Prestes, mesmo coordenador dos cursos de formação no
com muitas dificuldades organizativas, já Centro Cultural Esperança Vermelha.
que não podiam mais contar com o PCB
como esse instrumento, que havia enve-
redado pelo caminho do oportunismo. A
Corrente tem seu primeiro Encontro Na-
cional em 1990, com a presença de repre-
PT 40 anos:
mudança ou crise
Valter Pomar*
E
política. Se esta mudança não ocorrer, novas derrotas
virão. E o Partido corre sérios riscos de não sobreviver a
sua “crise dos 40”.
Caso o atual grupo dirigente - a ten- No terceiro cenário, o golpe se apro- como elogiam inúmeros outros acordos,
dência conhecida pelo nome de Cons- funda (lembrando o que ocorreu depois feitos em eleições estaduais e municipais.
truindo um Novo Brasil (CNB) -- seja do AI-5). Por motivos óbvios, evitam falar do acordo
majoritário no Sétimo Congresso nacio- No quarto cenário, o golpe é derrota- que entregou a vice para Michael Temer,
nal do PT, certamente haverá muita po- do por uma retomada vigorosa das lutas da ala mais tucana do PMDB; assim como
lêmica sobre se esta maioria resultou do populares. preferem não tirar as devidas conclusões
legítimo debate político, de um processo Por definição, o primeiro cenário da relação entre certas coligações, as limi-
eleitoral em que o peso dos filiados su- (persistência da situação atual) não dura- tações programáticas de nossos governos
planta o dos militantes, de fraudes estrito ria indefinidamente. Portanto, mais cedo e o decréscimo de nossa bancada federal
senso ou de tudo isto junto e misturado. ou mais tarde a situação evoluirá para a partir de 2006. Nem gostam de falar do
Polêmicas à parte, se o atual grupo uma das seguintes alternativas: uma saí- que ocorrerá, a partir de 2023, em alguns
dirigente sair política e eleitoralmente da pela esquerda, pelo centro-direita ou estados atualmente governados pelo PT.
vitorioso do Sétimo Congresso, quais se- pela extrema-direita. Seja como for, o principal argumento
riam as consequências? Descrente na possibilidade de uma do grupo dirigente em favor de um acor-
No fundamental, a resposta depende ruptura popular e obviamente contrário do com a centro-direita parece ser a au-
da luta de classes no Brasil e da incidên- ao aprofundamento do golpe, o atual sência de alternativa melhor: acreditam
cia, em nosso pais, da crise do capitalis- grupo dirigente acredita ser possível um que a crise vai se aprofundar, duvidam
mo e do conflito entre os Estados. acordo com a centro-direita (por pudor, de uma ruptura popular, logo concluem
A situação no Brasil segue muito alguns falam em “forças para além do que ou fazemos um acordo com a cen-
tensa. Há conflitos na coalizão golpista. centro”). Se vencer o Sétimo Congresso, tro-direita (em defesa da democracia, do
Prossegue a resistência popular. Seto- esta será a estrela-guia da CNB. Estado de Direito etc.) ou o golpe se apro-
res importantes da classe trabalhadora, Na história recente, ao menos por fundará.
ainda paralisados, mais cedo ou mais duas vezes acordos deste tipo foram ex- Quais seriam os efeitos táticos e es-
tarde vão se colocar em movimento. E plicitamente recusados pelo Partido dos tratégicos desta almejada aliança com a
o ambiente internacional contribui para Trabalhadores. centro-direita? Evidentemente, não há
aumentar a tensão. Destas e de outras Não é possível saber o que teria ocor- como ter certeza. Mas o mais provável é
variáveis decorrem múltiplas possibilida- rido com o Partido, se tivéssemos apoiado que um acordo deste tipo empurre o PT
des, mas podemos trabalhar com quatro a eleição de Tancredo Neves no Colégio para uma situação de desonra & guerra.
grandes cenários políticos. Eleitoral ou se tivéssemos participado da A expressão foi usada por Winston
No primeiro deles, persiste a situa- composição do governo Itamar. O que sa- Churchill, em setembro de 1938, quando
ção atual (lembrando o período 1964-68: bemos é que, recusando aqueles acordos analisou as concessões feitas por Cham-
não estava claro se o golpe seria aprofun- com a centro-direita, o PT de início amar- berlain aos nazistas: “Entre a desonra e
dado ou revertido). gou um certo isolamento, mas depois a guerra, escolheste a desonra e terás a
No segundo cenário, o país “vira a cresceu vigorosamente. guerra”. Churchill, que preferia fazer a
página do golpe” através de uma aliança O atual grupo dirigente do PT prefere guerra contra os nazistas, acabou assu-
entre setores da centro-direita e da es- citar, em favor das vantagens de sua tese, mindo o governo inglês, época em que
querda (lembrando aspectos do que ocor- o acordo que entregou ao Partido Libe- fez o famoso discurso acerca de sangue,
reu depois do suicídio de Vargas). ral de José Alencar a vice de Lula, assim suor e lágrimas.
A busca de uma aliança com a cen- Frente Ampla entre Lacerda e Jango não Outra consequência da estratégia
tro-direita golpista é, de um certo ponto impediu a radicalização da ditadura mi- proposta pelo atual grupo dirigente seria o
de vista, a desonra, Afinal, foi a centro- litar. aprofundamento dos problemas organiza-
-direita (e não a extrema-direita) quem Do ponto de vista tático, uma alian- tivos vividos atualmente pelo PT, ou seja,
protagonizou o impeachment e deu sus- ça com a centro-direita não vai contribuir a subordinação do Partido aos mandatos e
tentação para a condenação e prisão de para ampliar a luta social ou fortalecer a governos, muitos filiados mas pouca mili-
Lula. Resta saber se a desonra (aliança luta por Lula Livre. Pelo contrário, estar tância organizada, sem instâncias funcio-
com a centro-direita) evitará a guerra (o junto da centro-direita nos comprome- nando, uma formação política e uma co-
avanço da extrema-direita). Tudo indica teria, em maior ou menor medida, com municação aquém das necessidades, sem
que não. posições antipopulares como a reforma capacidade de auto-sustentação financei-
Do ponto de vista estratégico, a dinâ- da previdência. Aliás, a turma liderada ra, mais focado em organizar eleições do
mica que gerou o impeachment, a conde- por Rodrigo Maia já deu várias demons- que em participar das lutas sociais.
nação e prisão de Lula, a eleição de Bol- trações de quais são seus limites: man- Imaginemos por um momento que
sonaro, a ascensão dos cavernícolas e as ter o programa ultraliberal e manter Lula esta política proposta pelo atual grupo di-
reformas ultra-liberais não é um acidente preso (em Curitiba, mas preso). rigente tenha êxito. Neste caso, o “Estado
casual. Trata-se de uma resposta estraté- Este tipo de aliança tampouco contri- de direito” e a “democracia” seriam man-
gica da classe dominante, aos impasses buiria para produzir um resultado melhor tidos às custas de nossa conversão em só-
do capitalismo brasileiro e internacional. para o PT e para o conjunto da esquerda, cios de uma nova “transição conservado-
Esta opção estratégica não será alterada nas próximas eleições. Pelo contrário, as ra”; noutros termos, o deslocamento do
por acordos políticos como os que preten- concessões à centro-direita tendem a en- Partido muitos graus a mais em direção à
de o atual grupo dirigente do PT. O que fraquecer o desempenho do Partido nas centro esquerda, à social-democracia e ao
ajuda a entender por quais motivos a ex- municipais de 2020, o que terá efeitos co- social-liberalismo. Ou seja, o que o atual
trema-direita não reduz a pressão contra laterais em 2022. Sem falar que a aliança grupo dirigente do Partido está propon-
o PT. Isso independe da linha que adote- com a centro-direita implica em seguir do é um caminho que já foi percorrido
mos, das alianças e acenos que façamos. tolerando a manutenção de duas táticas pelo PSDB, pelo velho MDB e pelo PCB
Para quem gosta de analogias (claro, na relação com o governo Bolsonaro: a da da “Declaração de Março” de 1958. Na
sempre defeituosas), vale lembrar que a bancada e a dos governadores. melhor das hipóteses, nos transformaría-
O
Rui Falcão* Brasil vive um
novo ciclo político
desde a ruptura
continuada da
ordem constitu-
Buscamos reunir cional promovida
pela classe do-
as condições para minante. Com o impeachment da presi-
denta Dilma, seguido pela condenação,
passarmos à ofensiva.
prisão e interdição do presidente Lula, a
Nesse sentido, burguesia busca tornar mais funcional a
acumulação capitalista, dificultada pela
nossa perspectiva crise e pela ampliação de direitos con-
tática deveria ser a quistados sob nossos governos.
O capitalismo brasileiro, assentado
palavra de ordem sobre múltiplos mecanismos de super-
“Nem Bolsonaro -exploração do trabalho e preservação de
estruturas arcaicas, é hostil a reformas
nem Mourão! Lula capazes de alterar, mesmo que timida- das relações trabalhistas; repressão aos
mente, essas condições sócio-econômi- movimentos sociais, culturais e por direi-
Livre! Diretas Já!”. tos civis; revogação das leis de proteção
cas.
Devemos repelir como O golpe foi o caminho trilhado pelas ambiental e social.
classes dominantes para que o capitalis- O governo Bolsonaro não nega a que
legítima e democrática mo, na busca de sua expansão ilimitada, veio: age para primeiro destruir a fim de
consolidar o novo regime. Com Moro,
qualquer saída que pudesse remover quaisquer barreiras ao
exercício de seu poder. Guedes e o “partido lavatista-militar”,
não passe pelo Com Bolsonaro, o regime liberal-de- que empreendem a escalada do retroces-
so, associados ao clã familiar ideológico-
voto popular mocrático, instituído em 1988, cede lugar
-olavista, o sistema neoliberal busca se
à nova ordem neoliberal em que o anti-
go é recriado como novo: forte retrocesso consolidar, tentando erigir o mercado em
nos direitos sociais; medidas de extrema razão de ser do governo.
restrição à liberdade de organização e Na prática, o conjunto de medidas
expressão; redução brutal à participação editadas pelo governo relega a sobera-
popular nas instituições; aprofundamen- nia popular, solapa direitos e garantias
to da desigualdade social; precarização fundamentais, viola a Constituição, a tal
ponto que não se pode mais considerar
o Estado brasileiro como democrático, programa econômico e à subordinação do Por uma revolução partidária
embora continuem funcionando o Con- Brasil ao capitalismo estado-unidense, as
gresso e o Judiciário. A democracia libe- distintas frações da burguesia e as diferen- Diante deste cenário, o Partido dos
ral, tal como a conhecíamos, está sendo tes alas do governo estão atravessadas por Trabalhadores precisa realizar uma ver-
esvaziada de sua substância sem que seja contradições sobre qual o caminho políti- dadeira revolução em suas práticas. É
extinta formalmente: está sendo gestado, co para implementar sua agenda. urgente traçarmos uma nova estratégia
no interior do Estado Democrático de Di- O desemprego crescente, o aprofun- a fim de enfrentar as lutas do presente
reito, um novo Estado em que a “exceção damento da desigualdade, o empobreci- período.
virou regra”. mento, a miséria, a insegurança, o deses- Mais que nunca, impõe-se atuali-
Sustentado por um conjunto de clas- pero, a desconfiança nos políticos , o ódio, zar nossa tática de acúmulo de forças,
ses, frações e setores das classes domi- a intolerância e o aumento da violência — que requer mobilizações, enfrentamen-
nantes, oligarquias burocráticas, grupos tudo isso amplia as incertezas. O choque to, afrontamento, nitidez programática
financeiros, empresas multinacionais, or- entre os poderes da República; a retomada – sem ignorar a correlação de forças em
ganismos inter e supranacionais, o presi- das ruas pelos movimentos; as denúncias presença e os riscos de isolamento da po-
dente mostra-se decidido a construir um de corrupção envolvendo o presidente e pulação.
outro sistema político, um regime autori- seus familiares; a escancarada parcialida- É fundamental rever nossas formas
tário, policialesco e de longa duração, em de do sistema de justiça; a queda contínua de direção e atuação, cujas referências
nome da “nova política”. da popularidade concorrem para que o go- principais encontram-se nas resoluções
Seus objetivos são aniquilar o PT, verno se mostre incapaz de vencer a crise. do 6o Congresso, a serem aprofundadas
derrotar estrategicamente as forças de Uma crise da qual ele é parte e indutor, nos debates preparatórios ao 7o Congres-
esquerda e os movimentos populares, responsável que é pelas políticas de arro- so.
reunificar os partidos da burguesia forta- cho e corte de direitos. Nós temos, também, a tarefa de
lecendo o Poder Executivo e implantar ra- No momento atual, a sensação é de implantar medidas que fortaleçam o PT
dicalmente as reformas econômicas exigi- caos reinante. Isso incute na população o como partido socialista e de massas, ado-
das pelo capital financeiro, com prioridade descrédito na democracia, nas instituições tando um funcionamento que vá além
para a malsinada reforma da Previdência existentes, nos partidos e na própria polí- das disputas eleitorais como ocorrem
e a entrega generalizada do patrimônio tica, encorajando uma recidiva ultra-auto- hoje, que faça a disputa de idéias na so-
nacional. ritária, capitaneada por Bolsonaro e seus ciedade, que chegue aos governos para
Embora unificadas em relação ao acólitos da extrema-direita. ser poder.
É fundamental rever dos diretórios devem ter alguma tare- É nesse sentido que cabe analisar as
fa dirigente, integrando algum coletivo condições políticas, sociais, econômicas e
nossas formas de responsável por atividades setoriais ou culturais nas quais opera o bloco no po-
der, bem como das iniciativas do campo
direção e atuação, regionais: nossos diretórios não podem
mais funcionar como “parlamentos” nos popular para voltar ao governo, recons-
cujas referências quais as tendências discutem suas teses, truir o regime democrático sobre novas
mas sem que os dirigentes e detentores bases e viabilizar um programa de refor-
principais encontram- de mandatos eletivos tenham de assumir mas estruturais.
se nas resoluções do tarefas na construção partidária. Esse caminho pressupõe a forma-
ção de uma aliança com claros contornos
6o Congresso, a serem Resistir e retomar a ofensiva programáticos, de natureza democrática,
aprofundadas nos antiimperialista, antimonopolista e an-
A experiência devastadora do golpe, tilatifundiária, que aponte ao país um
debates preparatórios da interrupção dramática de um projeto novo rumo político, econômico e social.
alternativo de nação, longe de nos pros- Tal aliança deveria ter, portanto, as carac-
ao 7o Congresso.
trar em lástimas e autoflagelação, devem terísticas de uma frente popular, agru-
nos obrigar a traçar novas coordenadas, pando o PT e os partidos de esquerda e
Isso implica uma profunda reorgani- outras leituras da realidade, formas ino- centro-esquerda, além dos movimentos
zação de núcleos por locais de trabalho, vadoras de ação política a fim de alcançar populares, ao redor de um programa de
estudo e moradia, de diretórios munici- nossos objetivos estratégicos. desenvolvimento e democratização cujo
pais e estaduais com vida dinâmica, de Sem superestimar nossas forças ou paradigma não seria o retorno à Nova
uma direção nacional que opere como menosprezar as dificuldades, atraves- República, mas uma nova ordem consti-
um verdadeiro coletivo dirigente, de uma samos hoje uma fase de resistência, de tucional.
politica agressiva de formação política e retomada da iniciativa política, de re- Acordos, movimentos e frentes pon-
comunicação. nascimento da esperança e confiança no tuais poderiam ser realizados com frações
Outra mudança inadiável é a busca futuro. burguesas que colidam com o bolsonaris-
de um consenso para que, garantida a de-
mocrática diversidade de opiniões, cesse
o atual monopólio das tendências sobre a
vida partidária, que praticamente obriga
militantes petistas a integrarem alguma
corrente caso queiram fazer parte das di-
reções em qualquer nível.
É imprescindível que possamos ins-
tituir um novo método de direção, mais
coletivo, inclusive, transparente, eficien-
te, participativo, conectado com as ba-
ses. A cada reunião do Diretório Nacio-
nal, por exemplo, a Comissão Executiva
deveria divulgar, com antecedência, um
projeto de resolução ou informe político,
que possa ser debatido, de forma virtual
ou presencial, por todos os diretórios mu-
nicipais e estaduais, cujas contribuições
devem enriquecer a decisão nacional
de forma consultiva. Todos os membros
Defender a democracia e
construir um projeto de esquerda
Paulo Pimenta*
N
anos e realizar seu 7º Congresso é necessário reafirmarmos
compromissos com a sociedade brasileira, e em especial com
a classe trabalhadora e os setores historicamente excluídos
O PT vive no último período sob o im- O golpe que tirou Dilma do Planalto tem características próprias
pacto de uma das maiores derrotas estra-
tégicas imposta à esquerda e à classe tra- cas sociais promovidas por Estados orien- de mídia, amplos setores parlamentares
balhadora brasileira. O Golpe de 2016, em tados por valores de justiça social e inclu- e parte significativa do sistema de justiça
que pese estar inserido em um processo são, tem características próprias. representados pela Operação Lava Jato,a-
global de reposicionamento do capitalis- O Golpe no Brasil foi fruto de uma valizado pelos tribunais superiores e o pelo
mo internacional, que tem como marcas forte aliança entre as representações do próprio STF, somados a setores sociais
os ataques às democracias, às soberanias capital financeiro nacional e internacio- reacionários, representados pelas igrejas
nacionais, e fundamentalmente às políti- nal, as elites nacionais, setores da gran- neopentecostais e pela direita do País.
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Bolsonaro, o bolsonarismo eé um
novo sujeito social no Brasil
muita precisão para atingir seus objeti- A condenação levou Lula à uma pri-
vos. A deposição de Dilma Rousseff da são ilegal e injusta. Um pedido final de A vitória de Jair Bolsonaro, ancorada
Presidência da República, eleita com habeas corpus, possibilitaria Lula dispu- em uma base ideológica de extrema direi-
mais de 54 milhões de votos, sem ter tar a eleição, mas às vésperas de ser julga- ta e com amplo apoio do centro e centro
praticado crime de responsabilidade,
praticadocrime responsabilidade, era
era do pela Suprema Corte, o alto comando direita associados às elites, mais do que
só o primeiro
primeiro passo.
passo.OOmomento
momento de de ouro
ouro militar se manifestou dizendo que aten- derrotar o PT, sinalizou o rompimento do
perseguido pelos artífices da Operação der a tal recurso ameaçaria a estabilidade pacto nacional firmado na Constituição
Lava Jato e seus aliados golpistas era a do País. Assim, os juízes da corte se sen- de 1988, bem como a derrota de um pro-
retirada do Ex-Presidente Lula da dispu- tiram à vontade para derrubar o princípio jeto de país soberano, democrático e jus-
ta eleitoral de 2018. constitucional e barrar a candidatura de to, que volta a ser subordinado aos inte-
Lula significava um empecilho aos Lula, que neste momento figurava na li- resses dos EUA e do capital internacional.
interesses econômicos estratégicos dos derança de todas as pesquisas eleitorais. O Presidente
Presidentecapitão
capitãonunca
nuncaescondeu
escon-
EUA, em especial no petróleo do pré-sal, Lula é definitivamente um preso po- seu ódioódio
deu seu à democracia, mas
à democracia, masnono
decorrer
decor-
que passaram a se somar a um conjun- lítico, exilado dentro do Brasil. Isolado destes mais200
rer destes de dias
200 dias de governo
de governo ficouficou
ex-
to de interesses das elites nacionais, por do seu povo, de sua família, dos amigos, explícito
plícito o oseu
seudesprezo
desprezopelas
pelas instituições.
isso era imperioso desencadear um pro- companheiros de luta e até há pouco Além das iniciativas de desmonte das
cesso de criminalização de sua figura tempo, da imprensa. Mas isso não im- políticas sociais como a educação, a saú-
pública, bem como a desumanização do pediu que sua mensagem de um Brasil de, e a seguridade social, promoveu uma
cidadão Luiz Inácio Lula da Silva. desenvolvido, democrático, justo, sobera- ocupação com critérios pessoais e ideoló-
O Juiz Sergio Moro, o Procurador no e solidário influenciasse de forma sig- gicos dos espaços estatais, garantido seus
Deltan Dallagnoll e seus aliados, a serviço nificativa a eleição de 2018. Ao apoiar a familiares, amigos e aliados próximos em
destes interesses, e de interesses pessoais, candidatura de Fernando Haddad à Pre- posições de destaque. A última façanha é
passaram por cima da Constituição e sidência da República ao lado de Manue- a indicação do filho Eduardo Bolsonaro
romperam com o Estado Democrático de la D’ Ávila, contribuiu para que a chapa para a Embaixada do Brasil nos EUA.
Direito, ao estabelecer um vale tudo para alcançasse 47 milhões de votos, repercu- Este é um governo que tenta se es-
condenar Lula. Isso foi agora confirmado tindo na eleição de 4 governadores e na conder da relação íntima com milícias
a partir das revelações apresentadas pelas manutenção da maior Bancada da Câma- e esquemas
esquemas de decorrupção, alimentando
corrupção,alimentando
matérias do The Intercept Brasil. ra Federal. uma crise, ou polêmica após a outra. No
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Cartaz do
Grito dos
Excluídos
2018
paralelo, a agenda ultraliberal de seu go- O PT, bem como o Semear a esperança e devolver o
verno, operada por Paulo Guedes passa a Brasil para os brasileiros
ter viabilidade após uma grande pressão
conjunto da esquerda,
no Congresso
sobre Nacional
o Congresso e no
Nacional e o Supremo,
Supremo, deve se desafiar a Frente a este cenário, precisamos
sustentada pela mobilização de milícias construir um projeto consolidar o reposicionamento do PT
digitais e sociais, recorrendo a métodos pela esquerda, conforme iniciado no 6°
fascistas para garantir suas posições. de país em profundo Congresso, estabelecendo um novo pacto
Este processo fez ressurgir o velho diálogo com o melhor com a classe trabalhadora brasileira em
Centrão, que tenta se apresentar à socie- sua diversidade, além de definirmos uma
que a sociedade
dade como alternativa aos desmandos do nova estratégia política, adequada aos
atual governante, mas segue sustentan- brasileira produziu desafios do período, que reafirme a defe-
do a agenda vencedora do pleito eleitoral, até aqui, não medindo sa da democracia e aponte para a cons-
buscando consolidar um conjunto de re- trução de uma estratégia socialista.
trocessos marcado pela retirada de con-
esforços para a
Devemos aprofundar a oposição ao
quistas históricas da classe trabalhadora. constituição de uma Governo Bolsonaro e ao projeto que ele
Símbolo disso é a aprovação em primeiro frente que parta do representa, de forma articulada com os
turno da Reforma da Previdência, que re- movimentos sociais e populares, com as
presenta o fim do sistema de seguridade
campo da esquerda, mas Frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo,
social e da previdência pública, um lega- capaz de agregar amplos com os setores democráticos e os partidos
do de várias gerações. setores democráticos de esquerda e centro esquerda que não se
Mas não tenhamos dúvida, o maior submetem aos processos antidemocrá-
legado que este governo prepara não está ticos e fascistas desencadeados por este
na quebra da soberania, nem na destrui- valores intolerantes e autoritários, e na governo.
ção do Estado, ou mesmo na retirada dos emergência de um novo sujeito político e Não podemos abdicar de fazer a dis-
direitos do povo, ele reside na corrosão social – o militante de extrema direita e puta ideológica, de projeto e de valores na
da nossa democracia, na afirmação de neofascista. sociedade, sem perdermos, no entanto, a
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iniciativa de apresentarmos alternativas Nesse contexto, a luta pela liberdade diano, promovendo uma presença organi-
que enfrentem os desafios colocados pela de Lula e a anulação de sua condenação zada nos territórios, contribuindo com a
crise econômica no País, como a proposta é fundamental, como símbolo da luta por organização popular e suas lutas e com a
de um plano de emergência com priori- justiça e democracia no País. Lula é um construção de agendas concretas em cada
dade para a geração de emprego e renda. perseguido e um preso político, por tudo setor ou comunidade. Nossos núcleos de
O Brasil não produziu historicamen- que ele fez e representa para o povo bra- base devem traduzir estes objetivos.
te uma burguesia ou uma elite capaz de sileiro. Sua prisão simboliza o encarcera- Não teremos êxito nesta disputa que
apresentar um projeto de desenvolvi- mento do povo pobre e do conjunto de estamos vivendo de Guerra
guerra híbrida
Híbrida e tec-
mento nacional inclusivo, justo e autôno- excluídos. Sua liberdade representa um nológica utilizando velhas ferramentas.
mo. Sempre preferiu nos momentos de sopro de esperança da retomado do País Precisamos pensar a comunicação de
crise buscar o caminho mais fácil, o do pelo seu povo forma estratégica, elaborando um proje-
alinhamento e o da submissão aos inte- to de reposicionamento da nossa sigla/
resses estrangeiros. Uma organização à altura dos marca, capaz de traduzir para setores da
Nesse sentido, o PT deve se desa- nossos desafios sociedade que compõe a base social que
fiar, bem como o conjunto da esquerda a queremos
queremos disputar,
disputar uma sinalização sobre
construir este projeto em profundo diálo- Devemos renovar e reorganizar o PT nossos compromissos no presente e para
go com o melhor que a sociedade brasi- promovendo uma “Revolução Cultural”, o futuro do Brasil.
leira produziu até aqui, não medindo es- que se expresse em nossa vida interna Para isso devemos investir em pes-
forços para a constituição de uma frente alterando os espaços, práticas e métodos, quisas e em uma ação técnica de comu-
ampla que parta do campo da esquerda, exercitando valores de justiça e solidarie- nicação, orientada politicamente que se
mas capaz de agregar setores democráti- dade em nosso meio. utilize de novos recursos comunicacionais
cos, personalidades e intelectuais com- Nesse contexto, a formação política é por meio
meio das
das redes
redessociais
sociaiscomo
comoTwitter,
whatz
prometidos com a defesa da soberania estratégica para que possamos forjar uma WhatsApp, Faceboock,
App, Twitter, faceboock, Instagram e fun-
fun-
nacional e com os direitos sociais, tendo nova geração de militantes, dirigentes e damentalmente em iniciativas de massa
como uma primeira tarefa preparar uma lideranças com maior capacidade para en- pelo You Tube com a criação de um canal
agenda comum para as eleições de 2020 frentar o debate político, ideológico e de próprio de TV, bem como de um programa
que não se restrinja às pautas locais. Esta valores. Um partido de massas que forma de rádio na internet.
construção deve ser concebida de forma quadros a serem ofertados para as tarefas Por fim, mas não menos importante,
intrínseca com aa pauta da retomada
retomada e do
e o aprofun- em sociedade. devemos encarar as finanças partidárias
aprofundamento
damento da democracia
da democracia no País. no País. Devemos ter a capacidade de consti- como uma ação pedagógica e militante,
O PT deve intensificar o diálogo com tuir núcleos dirigentes no PT, capazes de estimulando que cada filiado contribua
os partidos progressistas e da esquerda compartilhar efetivamente o poder e que garantindo nosso autofinanciamento, que
mundial, com atenção especial aos da expressem a pluralidade das sensibilida- se estabeleça um processo participativo
América Latina, contribuindo para a uni- des internas, bem como a diversidade ge- no planejamento das finanças partidárias
dade frente aos ataques às democracias, racional, de gênero e racial existente em e a transparência nos processos de gestão
às soberanias nacionais e frente a onda nosso meio. e de prestação de contas.
de extrema direita com marcas fascistas Um partido que queira representar
que tem crescido nos diferentes conti- a classe trabalhadora deve se organizar a *PAULO PIMENTA é líder da bancada
nentes. partir desta e estar inserido em seu coti- do PT na Câmara dos Deputados
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TENDÊNCIA
VV
..ivemos tempos de guerra.
Guerra de ricos contra pobres.
Guerra de empresários con-
tra trabalhadores. Guerra do
agronegócio contra os cam-
poneses, indígenas e quilombolas. Guerra
de latifundiários urbanos contra o povo
sem teto. Guerra de especuladores contra
aposentados. Guerra de machistas contra
as mulheres. Guerra de racistas contra
negros e negras. Guerra dos intolerantes
contra os LGBT. Guerra de conservadores
contra a juventude. Guerra de fascistas
contra as liberdades democráticas. Guerra
Nossos inimigos têm a seu favor o Estado,
os grandes meios de comunicação, o poder
econômico, a manipulação dos corações e
mentes. Nós, das classes oprimidas e domi-
nadas, temos a nosso favor a organização. É
a organização que nos permite conscienti-
zar, mobilizar, lutar, resistir, é a organização
que nos permite, mais cedo ou mais tarde,
conquistar o poder para as classes trabalha-
doras poderem construir um novo Brasil e
um novo mundo.
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TESE DA AE
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TESE DA AE
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6) Entender que a luta social (a mobi- turais do capitalismo existente no Brasil. E contra os capitalistas e a principal arma
lização independente das classes trabalha- agora, aquele setor da esquerda defende da classe trabalhadora nessa luta é a orga-
doras em torno de seus objetivos imedia- continuar mantendo o socialismo na “fila de nização: os sindicatos, os movimentos, as
tos), a luta eleitoral (a disputa por espaços espera”, porque pensa que a tarefa seria re- entidades estudantis, a UNE e UBES, o MST,
no aparato estatal) e a ação institucional sistir, impedir o desmonte, recuperar o ter- a CUT, a Frente Brasil Popular e, com desta-
(dos mandatos, governos e de outras ins- reno perdido. E depois, quem sabe, quando que, o PT.
tituições do Estado) são diferentes formas tudo voltar ao normal, recolocar na ordem Todas as organizações do campo de-
que a luta de classes assume, sendo neces- do dia bandeiras de mais longo prazo, tais mocrático, popular e socialista estão cha-
sário analisar concretamente a centralidade como o socialismo. madas a mudar seus métodos de trabalho
de cada uma e a relação entre elas, a cada Os que pensam desta forma convertem e atuação, especialmente em quatro terre-
momento dado. o socialismo em absolutamente nada: não nos: a) funcionamento e método de direção,
Hoje, a centralidade é da luta social. seria necessário quanto a classe trabalha- b) organização de base e relação cotidiana
E nossa participação nas eleições de 2020 dora está forte e não seria factível quanto com as classes trabalhadoras, c) mobiliza-
deve estar a serviço de uma tática nacio- está fraca. ção e luta de massa, d) comunicação e for-
nalizada de oposição radical ao governo A experiência latino-americana (1998- mação política.
Bolsonaro, com uma política de coligações 2018) e a experiência da socialdemocracia A questão organizativa central é nosso
eleitorais coerente com isso. europeia (1945-91) demonstram que a so- diálogo e enraizamento junto à classe traba-
brevivência das reformas e dos avanços de- lhadora. Temos uma classe trabalhadora di-
7) Compreender que estamos numa pende não do capitalismo, mas sim da cor- ferente, mais precarizada, mais influenciada
época internacional de crises, guerras e relação de forças entre capitalistas e classes por pensamentos capitalistas e de direita.
rupturas, que torna ainda mais atual a luta trabalhadoras. E por mais que as classes tra- O desafio de organizar a classe traba-
pelo socialismo. balhadoras melhorem suas posições, se elas lhadora inclui políticas de comunicação de
O PT é um partido socialista, luta contra não avançarem sobre a propriedade dos massa e a construção de núcleos de base, ca-
a exploração do trabalho pelo capital, defen- meios de produção e dos instrumentos de sas do povo e centros culturais, enraizando o
de a derrota e a superação do capitalismo. A poder, os capitalistas sempre terão os meios petismo nos locais de trabalho, estudo e mo-
crise internacional de 2008 demonstrou que para “colocar as coisas no seu devido lugar”. radia. Inclui, também, políticas de assistência
o capitalismo segue extremamente instável, Por isso é que consideramos imprescindível social e ação direta do Partido junto a quem
propenso a crises brutais, que se desdobram adotar uma estratégia socialista, ou seja: foi empurrado para o desemprego e a misé-
em “guerras” comerciais, políticas, culturais uma estratégia que visa fazer a classe traba- ria. Inclui, ainda, financiamento militante e
— e guerras propriamente ditas. Essa crise lhadora construir e conquistar os meios de de massa, bem como políticas permanentes
também revelou que o capitalismo neolibe- produção e os instrumentos de poder. de comunicação e de formação.
ral é incapaz de reformar a si mesmo: é cada Sem este nível de organização, não te-
vez menor a chance de convivência pacífica 8) Priorizar a auto-organização inde- remos nenhuma chance contra a operação
entre, de um lado, o capitalismo, e de outro pendente das classes trabalhadores. O ca- que a máquina do Estado está promovendo
lado as políticas de bem estar social e as li- minho para mudar o Brasil passa pela luta contra a classe trabalhadora e contra o PT.
berdades democráticas. Assim como é cada
vez menor a chance de convivência pacífica
das grandes potências entre si e destas com
os países periféricos. A luta entre as classes A questão organizativa
sociais dentro de cada país, bem como as central é nosso diálogo
disputas e conflitos entre os Estados nacio-
nais, tendem ao acirramento. e enraizamento junto
Parte da esquerda brasileira não acre- à classe trabalhadora.
Temos uma classe
dita nisto. Por isso, deixa o socialismo na
“fila de espera”. Antes de 2008, fazia isso
porque considerava que o socialismo não trabalhadora diferente,
seria necessário ou pelo menos não seria
urgente. Afinal, estaríamos conseguindo
mais precarizada,
avançar, melhorar a vida do povo, ampliar as mais influenciada por
liberdades, afirmar a soberania, construir a pensamentos capitalistas
integração regional, mudar pouco a pouco o
mundo, mesmo sem tocar nas bases estru- e de direita.
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TESE DA AE
7o CONGRESSO
As instâncias partidárias devem ser ca- construir uma JPT militante e de massas, mais importante experiência organizativa
pazes de agir no dia a dia da luta de classes, que supere seu profundo processo de dis- de quem vive do trabalho, sofre opressão e
dirigindo um partido que faça política tam- persão, desorganização e burocratização; dominação.
bém nos anos ímpares, não apenas em anos Para resistir e para derrotar a coalizão
de eleição. retomar e massificar o trabalho de for- golpista, o PT vai precisar de uma nova es-
As direções atuais do PT não funcionam mação, com ênfase nos aspectos politico-i- tratégia, que nos permita reconquistar o
coletivamente, são pouco executivas, com deológicos e teóricos; apoio da maioria da classe trabalhadora,
dirigentes atuando como num parlamento. condição para trilhar um caminho que nos
Para agravar, há governadores eleitos pelo viabilizar o autofinanciamento do Par- leve não apenas a uma vitória eleitoral, mas
PT que afrontam publicamente as posições tido, que não deve depender nem de re- ao poder e ao socialismo. Precisamos de um
do Partido, sem que a atual direção os en- cursos empresariais (como antes), nem do partido para tempos de guerra, orientado
quadre. E há tendências que atuam como financiamento público (como agora). pela esperança vermelha dos que sabem
partidos-dentro-do-partido, convertendo o que o futuro da humanidade depende da
PT em mera legenda eleitoral e tratando a VIVEMOS TEMPOS DE GUERRA vitória do socialismo.
base como “massa de manobra”, convocada
a cada quatro anos para eleger as direções e A coalizão responsável pelo golpe de Lula Livre!!
depois mandada de volta para casa. 2016, pela prisão e interdição de Lula, e V
iva o Partido dos Trabalhadores!
Para poder dirigir a luta cotidiana e pela vitória de Bolsonaro, não quer apenas e das Trabalhadoras!!!
a luta pelo socialismo, o PT precisa ser de nos derrotar. Quer destruir a esquerda, a
massas militantes, que participem de orga- começar pelo PT. Porque a direita não tem
nismos de base, com acesso à comunicação dúvida sobre o papel histórico do PT. Sabem
e à formação política; que sustentem finan- que sem o PT, não será possível derrotar o
ceiramente o Partido; e que não apenas ele- golpismo, nem convocar uma Assembleia
jam, mas também controlem os parlamenta- Nacional Constituinte. Sabem que na his-
res, dirigentes e figuras públicas do Partido. tória do Brasil o petismo é a mais forte e a
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CULTURA
Sobre transe,
vertigem
e ilusões:
o golpe no
cinema
N
A cineasta Petra Costa, diretora do documentário Democracia em Vertigem
Sônia Ap. Fardin*
ão há guerra sem Com esse intuito, dedico aqui aten-
Dedico aqui atenção respectiva inscrição ção à produção de documentários sobre
à produção de visual. Visualidade o golpe, buscando compreender as rela-
não é mera repre- ções complexas no campo cultural comu-
documentários sobre sentação da políti- nicacional entre vários sujeitos políticos
ca, é parte de sua encarnação, cinema é (indivíduos e instituições) envolvidos na
o golpe, buscando a mais completa das encarnações visuais. realização e veiculação de discursos vi-
compreender as No Brasil do golpe, assim como na suais.
grande maioria dos momentos críticos A produção brasileira de documen-
relações complexas da luta de classes contemporânea, uma tário é uma das mais politizadas, seus
no campo cultural vasta produção de narrativas visuais vem principais expoentes têm trajetórias co-
sendo realizada pelos dois lados da guer- nectadas com a história internacional e
comunicacional ra. Como toda luta social contemporânea, seus acúmulos teóricos e experimenta-
entre vários sujeitos a que travamos também é atravessada ções fílmicas que registram as lutas da
pelas múltiplas determinações de um classe trabalhadora.
políticos (indivíduos campo cultural comunicacional em que Nos governos Lula e Dilma as políti-
parte fundamental de sua maquinaria cas públicas de fomento do audiovisual,
e instituições) está organizada sob a hegemonia da or- as janelas de inserção obrigatórias de rea-
envolvidos na dem capitalista. Portanto, é cada vez mais lizações brasileiras nas televisões estatais
necessário realizar, ver e debater produ- e proliferação de canais especializados
realização e ções visuais da esquerda, assim como propiciaram o fortalecimento desse seg-
veiculação de conhecer as condições objetivas que con- mento, o que levou a ampliação da pro-
dicionam as produção e distribuição e re- dução e do número de cineastas exclusi-
discursos visuais. percussão dessas obras. vamente dedicados ao gênero. Em razão
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CULTURA
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Ambos títulos
compostos por dois
substantivos ligados
por uma proposição,
remetem à situação de
transição
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CULTURA
Também, em ambos, para substan- As semelhanças cessam nesses pon- suas obras indispensáveis para a história
ciar a linha argumentativa, o roteiro lan- tos. A diferença mais eloquente é o tem- do documentário e do sindicalismo bra-
ça mão dos vínculos políticos dos direto- po histórico no qual foram realizadas: sileiro: Greve de Março (1979), A Luta
res com a história da esquerda brasileira Esquerda em transe entre 2014 e 2017 do Povo (1980) e Linha de Montagem
que enfrentou a ditadura civil militar e Democracia em vertigem entre 2016 e (1981). Premiado em festivais interna-
do período 1964-1985. Cada um a seu 2018. Um átimo de tempo as une, mas cionais (Leipzig, Oberhausen e Havana) e
modo, Renato Tapajós e Petra Costa co- estão cronologicamente situadas em eta- nacionais (Jornada de cinema e vídeo de
locam-se como personagem testemunha, pas distintas do golpe; meu proposito é Salvador), sua produção audiovisual lista
cujo histórico pessoal se apresenta como buscar vê-las em seu tempo histórico e mais de 30 filmes entre curtas, médias e
fiança da condição singular que ocupam problematizar suas contribuições e con- longas metragens, e mais de 200 vídeos.
para dar a ver e interpretar os conflitos tradições para reflexões sobre o golpe, a Desde 2003 atua com Hidalgo Rome-
políticos atuais sob uma perceptiva de re- esquerda e o cinema. ro, Julio Matos e Coaraci Ruiz no Labora-
visão histórica do período 1964/2018. tório Cisco, produtora audiovisual de Es-
Nesse intento, fazem uso de um re- O desejo em transe querda em transe, sediada em Campinas
curso clássico da história do documen- (SP), dedicada à séries para TV, curtas e
tário, uma opção discursiva de grande Uma das marcas do trabalho docu- longa metragens documentais com te-
potencial afetivo para produzir atmosfera mentarista de Renato Tapajós é colocar-se mas ligados à cultura popular e direitos
testemunhal: uma camada sonora sob a como ser político comprometido com os humanos. No mesmo período que dirigiu
forma de um discurso organizado na pri- sujeitos que documenta. Sua trajetória é Esquerda em transe, Renato Tapajós di-
meira pessoa, em que a voz do diretor se de um intelectual militante. Nascido em vidiu com Hidalgo Romero a direção de
assume como a autoridade que atesta a Belém em 1943, Renato Tapajós veio a São Chão de Fábrica (2017).
veracidade da argumentação construída. Paulo estudar e aos vinte três anos inte- Esquerda em transe tem a direção de
Lincam, assim, o individual com o coleti- grou a luta armada para enfrentar o golpe Renato Tapajós e roteiro de Hidalgo Ro-
vo, o passado com o presente, postulando de 1964, por isso foi preso por duas vezes. mero, foi feito a várias mãos, em elabo-
um continuum domínio do tema. Seu romance Em Câmara Lenta, sobre a rações coletivas com seus entrevistados,
Ambos produzem cinema de apu- luta armada, escrito na prisão em 1973, para compreender um rápido e denso
rada gramática audiovisual, as escolhas foi o primeiro publicado sobre o tema no tempo do golpe, datado entre a eleição de
técnicas e estéticas, desenvolvidas com Brasil em 1977 em plena ditadura militar, Dilma em 2014, os meses seguintes a ar-
competência, atravessam os sentidos do o livro foi censurado e seu autor foi nova- mação do golpe, as resistências a ele, sua
expectador de forma transparente, quase mente preso. Nos anos setenta e oitenta efetivação no impitiman em 2016, e em-
evanescendo sua condição de construção dedicou-se ao cinema para documentar bates das esquerdas por perspectivas para
discursiva. o movimento operário que ressurgia, são reagir e enfrentar as próximas etapas da
Cena de Esquerda em Transe, documentário de longa-metragem dirigido por Renato Tapajós Uma das marcas
do trabalho
documentarista
de Renato Tapajós
é colocar-se
como ser político
comprometido com
os sujeitos que
documenta
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CULTURA
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luta, diante de uma cisão social promovi- políticos importantes que expressaram de toda a esquerda, que em grande parte
da pela direita que construiu e emulou o expectativas de setores da esquerda e de não se deu
deu conta
conta que
que oojogo
jogoinstitucional
instrucional
anti-petismo. movimentos sociais diante da derrota na estava sob o controle do juiz a serviço do
As fraturas do mundo real, entre votação do impitiman no parlamento e inimigo e continuou agindo como se a
direita e esquerda e entre segmentos do nas ruas, e que, por várias razões, não se próxima eleição fosse abrir uma janela de
campo progressista, foram levadas à lin- aperceberam de fato que a guerra em cur- oportunidade para virar a chave do golpe.
guagem visual com a edição de imagens so nunca foi somente para interromper Todavia, mesmo atado as contradi-
em uma tela cindida ao meio, criando um mandato de um partido, mas derro- ções de seu tempo, Esquerda em transe
dois campos simétricos com projeções tar toda esquerda e as forças progressis- não se deixa iludir pelo coro pequeno-
de imagens descompassadas que aludem tas, se possível de forma definitiva, para -burguês da farsa moralista, nesse aspec-
mundos em desconexão. retomar politicas neoliberais e a subordi- to sua posição política é explicitada ao
A escolha que Renato Tapajós fez da nação aos interesses imperialistas. Fato questionar a platitude das argumenta-
qualificação em transe manifesta a inten- hoje percebido por Romero: “como rotei- ções golpistas sobre a corrupção, quando
cionalidade de emular a atuação coletiva rista, uma coisa que passa agora na cabe- Renato Tapajós comenta sua indignação
das lideranças das esquerdas e movimen- ça é que achávamos que o impitiman ti- diante de “uma frase, dita por um deputa-
tos sociais para o enfrentamento político nha sido o pior, mas veio tudo o que veio, do qualquer: ‘não é uma história de ricos
que se colocou às claras logo após a elei- nunca poderíamos imaginar que seria contra pobres, nem da esquerda contra
ção presidencial de 2014; momento em tudo muito pior” (entrevista por telefone a direita, mas é a nação contra a corrup-
que, sob a guerra declarada por setores em 08 de julho de 2019). ção’. Para ele a nação era todo mundo?
do capital e seus representantes no judi- Em Transe é exemplar na docu- Todas as classes sociais? E a corrupção é
ciário, no parlamento e na grande mídia, mentação das contradições e ilusões da o governo? Como era possível tamanha
num consórcio de interesses para impe- esquerda frente ao golpe. Pontuo três hipocrisia? A construção de narrativa so-
dir e interromper o quarto mandato de questões que o filme ilumina: primeiro, bre a corrupção como problema central
um governo progressista, as esquerdas, embora fosse o primeiro alvo e o partido do Estado já foi feita algumas ouras vezes
em seu conjunto, ainda não haviam se mais atacado, o roteiro de entrevistas não em nossa historia recente, foi aplicada
apercebido do nível de belicosidade do destacou nenhuma liderança partidária aos governos nacionalistas progressistas
confronto. Qualificar o estado da esquer- petista, optando por intelectuais próxi- que defendiam os trabalhadores (…) e eu
da como em transe expressa um desejo mos como Marilena Chauí e Boaventura me pergunto? Qual discurso vamos ado-
de conectar as várias frentes de lutas de Souza Santos e lideranças de movi- tar? O discurso moralista, que criminaliza
que se apresentaram nas manifestações mentos sociais como João Pedro Stédile. e desqualifica a política? Colocando todos
contra o golpe, criar interlocução frente Vale lembrar que naquele momento o PT os partidos no mesmo saco? Ou o discur-
a fragmentação das massas, para enfren- era percebido por muitos como sujeito so político, que envolve a disputa do po-
tar os ataques golpistas e não sucumbir politico em suspensão, se não em de- der e de um projeto de nação?”
à paralisia diante das contradições do composição; segundo, a valorização das Ao tecer críticas, propor caminhos, e
campo progressistas e suas dificulda- declarações de Guilherme Boulos apre- apontar projetos à esquerda, o filme cra-
des em construir um programa comum goando o fim do ciclo petista na esquer- va suas apostas nas insurgências identi-
agravadas pela cisão social entre direita e da brasileira: Boulos é destacado como tárias, em especial a juventude e as mu-
esquerda, que construiu e emulou o an- autoridade emergente, apesar da voz off lheres como linhas de frente do próximo
ti-petismo. de Renato Tapajós dirigir à ele um contra- período.
O roteiro vai da eleição de 2014 à vo- ponto imediato, ao afirmar “ciclos não se Nesse aspecto toma cuidado ao apre-
tação do imptimam, supondo dar conta e encerram e nem surgem do dia para noite sentar mais perguntas que respostas,
narrar os desafios da esquerda diante do e o PT ainda representa a principal força para questionar as esquerdas pelas ne-
golpe, mas estava apenas narrando um partidária brasileira. Para mim ele ainda gligências com segmentos sociais como
dos capítulos. Esquerda em transe deve tem um importante papel a cumprir na negros, índios, mulheres e lgtbts; porém
ser visto exatamente por isso: registrou esquerda brasileira”; terceira é a adesão salienta a centralidade política da classe
declarações e projeções de personagens implícita à postura não só de Boulos, mas trabalhadora como sujeito da luta, su-
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situado entre a burguesia nacional e o mento com Brasília, obvias demais como Petra Costa deu conta de narrar em
campo progressista, dualidade que a au- metáfora da estetização do poder em segundos o processo de rebaixamento do
tora inseriu em seu roteiro, denominada
denominan- sobrevoos noturnos. Também há algo de programa do Partido dos Trabalhadores,
do
comocomo
uma uma mutação
mutação pessoal.
pessoal. ambíguo no flanar da câmera por aposen- em uma competente condensação de
Tendo tudo isso em conta, como mi- tos vazios do Alvorada, num certo apreço imagens de momentos eleitorais em que
litante de esquerda busco analisar a obra aos ícones de um glamour palaciano. a firmeza da luta contra o capital foi sen-
de Petra Costa como discurso cinemato- Diante da cisão social inflada pelo do subtraída da tática eleitoral.
gráfico dirigido a interagir e sustentar a ideário do golpe, Petra Costa situa sua Contudo, nesse percurso seu texto,
percepção de vertigem diante dos ata- ambiguidade familiar:: “Minha famí- que funciona como coluna dorsal do fil-
ques da direita, ou seja, a desorientação lia inteira estaria do lado direito desse me, segue pautas e formulações da mídia
política dos que se sentem atingidos por muro, não fosse por uma pequena mu- sobre as razões da crise e do impitimam,
um tsunami, como verbaliza a voz da au- tação que aconteceu em 1964. O governo que ganharam enraizamento não apenas
tora em obra.
sua obra. tinha acabado de declarar que faria a re- em grande parte da sociedade brasileira,
Avalio ser esta uma das realizações forma agrária nas margens das rodovias mas também em parte significativa da es-
culturais merecedoras de um olhar aten- federais, a família da minha mãe fica em querda: a incapacidade da presidenta Dil-
to e crítico pelos que militam nos frontei- polvorosa, chega a preparar as malas para ma de lidar com o congresso devido à sua
riços campos da cultura e comunicação, mudar para Califórnia, para escapar da personalidade supostamente inacessível;
pois sob a tese da democracia em estado ameaça comunista, para alivio deles os a corrupção estrutural inerente ao exer-
de vertigem residem contradições estru- militares tomam o poder apoiados pelos cício do poder institucional; a incapaci-
turais da tática política que predominou Estados Unidos e celebrados pela mídia dade da esquerda de equacionar a gestão
nos partidos de esquerda, em particular nacional”. Mas, se de um lado busca se da institucionalidade governamental e os
no PT. distanciar de suas origens burguesas, por movimentos de luta pelo poder popular; e
Não é surpresa que parcela do campo outro, em vários momentos há coloca- a impossibilidade de governar sem fazer
progressista dentro e fora do Brasil, enten- ções que também visam sublinhar uma concessões aos representantes do capi-
da o adjetivo vertiginoso como um dos que posição de neutralidade, de desvincula- tal. O mantra da suposta incapacidade de
melhor qualificam o ritmo dos ataques e ção com os personagens centrais dos go- gestão política de Dilma atravessa o filme
derrotas políticas que o campo progressis- vernos petistas em busca de uma ilusória sob um tratamento superficial e por vezes
ta vem sofrendo desde 2016 no terreno da isenção. É sobre o PT e seus governos que sucumbe ao ideário moralista do golpe.
institucionalidade democrática. ela se debruça. Seu roteiro, embora faça Sem dúvida, o filme mostra um olhar
O filme foi pensado em asserção com saltosSeu roteiro, embora
temporais faça saltos
para construir a tem-
rela- competente que saber ver e extrair à força
frustrações das camadas médias sem en- porais
ção entrepara construir familiar
a trajetória a relaçãodaentre
autoraa das imagens os gestos contidos que des-
volvimentos com a militância partidária, trajetória
e a históriafamiliar da autorapós-abertura,
da democracia e a história nudam canalhas; há momentos memo-
mas que não têm acordo com o desmon- da democracia
mantêm foco nopós-abertura, mantêm
período dos governos ráveis dessa capacidade em sua narração,
te das garantias da civilidade burguesa, foco
Lula no período
e Dilma, nados governos
busca Lula e Dil-
pelas razões que como quando explora nas imagens da
gente que se reconhece em falas como: ma, na busca
levaram pelasque
a situação razões que “os
rachou levaram
alicer-a cerimônia de posse a desconexão pessoal
“por surdez ou cegueira, foi meu primei- situação que democracia”.
ces da nossa rachou “os alicerces da nos- e política do vice Temer com o que re-
ro contato com o movimento (…) desse sa democracia”. presentava o mandato de Dilma. Porém
ponto em diante o pais se divide entre Seu roteiro embora faça saltos tem- há também trechos em que negligencia
duas partes irreconciliáveis (…) era a pri- porais para construir a relação entre a a exposição de outros, por exemplo ao
meira vez em mais de vinte anos que o Petra Costadadeu
trajetória familiar autora e a história formular a pergunta sobre a atuação de
pais
país prestava atenção no que acontecia conta
da democracia de pósnarrar emmantêm
abertura, Aécio Neves no golpe: “se ele sabia que
no congresso”. foco no período dos governos Lula e Dil- forças estava despertando” quando ques-
Tais afirmações dão a ver um distan- segundos
ma, na busca pelas o razões
processoque levaram tionou a legitimidade da vitória eleitoral
ciamento da vida politica real, é desse lu- ade rebaixamentoalicerces
situação que rachou “os do da de 2014. Há uma ofensa a nossa inteli-
gar autodeclarado que Petra Costa cons- nossa democracia” e sobre uma esquerda gência nesse “se”, o que representa Aécio
trói seu filme com cenas de deslumbra- programa do PT
que “está desmoronando” . Neves já estava posto em 2014.
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CULTURA
CULTURA
Mas o mais significativo do filme é me dediquei a ir a todos os atos Lula Li- A melancolia com que
seu tempo de realização (2016-2018), pe- vre que pude, não apenas para libertar
ríodo marcado pelo desfecho negativo de um companheiro das garras do fascis-
Petra Costa finaliza
um conjunto de ilusões: a possibilidade mo, mas buscar criar espaços de debates seu filme rende um
de vitória no processo do impitimam, a e discussões sobre as ilusões enraizadas
reversão da prisão de Lula, a candidatura nas direções partidárias, nos movimentos
bom cinemão, ajuda a
de Lula, a vitória da união Lula-Haddad- sociais e sindicais. Ilusões que por déca- conquistar Hollywood,
-Manuela ou ao menos a impossibilidade das vem impedindo as instâncias organi-
da vitória de Bolsonaro. Cabe pensar: de zadas da classe trabalhadora, em especial
mas não ajuda na
onde saíram essas certezas? no Partido dos Trabalhadores, de se pre- leitura da realidade
Penso que tais ilusões são decorren- pararem para a guerra real, que não finda
tes de um longa construção em que uma com a conquista de hiatos de democracia.
nem na superação das
visão de mundo se impôs, expressa em Ilusões que impedem de ver que a demo- amarras do fascismo
frases que estão no filme, dita por Lula no cracia é em si mesma uma vertigem, se
dia 07 de abril de 2018, em São Bernardo dela esperarmos a emancipação total da Também deve ser visto porque traduz
“eu não quis fazer uma revolução (...) por classe trabalhadora. um conjunto de temores que devem ser
isso eu criei um partido (…) eu acredito Democracia em vertigem merece ser respeitados em sua dimensão humana,
nas leis”. visto e deve ser debatido principalmente mas devem ser problematizados em sua
Eu estava lá nesse dia e como muitos porque muitas das ambiguidades e de- dimensão política. Nos cabe pensar quais
chorei pela prisão injusta de Lula, mas cepções, e consequentes desorientações, são as causas da melancolia e desorienta-
também e principalmente por essa ilu- pontuadas na voz da autora, são também ção expressas no tom de voz de quem su-
são democrática republicana que se en- resultado do descolamento da prática po- cumbe ao cansaço das famílias que ditam
tranhou na tática política petista. Como lítica da análise da realidade concreta, que os hiatos de permissão à democracia e faz
milhares de nós, saí de São Bernardo e parcela da esquerda cometeu até agora. afirmações como: “senti o chão se abrir
(…) temo que a nossa democracia tenha
sido apenas um sonho efêmero”.
Quem e por qual leitura da realidade
se percebe desorientado a ponto de dizer
“Como lidar com a vertigem de ser lan-
çado a um futuro que parece tão sombrio
quanto o passado mais obscuro? O que
fazer quando a mascara da civilidade cai
e o que se revela é uma imagem ainda
mais assustadora de nos
nós mesmos?”
Me pergunto quem é esse “nós” ma-
jestático, que se reconhece sob tal más-
cara? A superficialidade catastrofista do
texto e a emotividade da voz que narra
dão carne à uma leitura política da reali-
dade calcada em um fatalismo amedron-
tado, que produz mais medo. Fatalismo
que acomete ao mesmo tempo setores
do campo progressista e extratos sociais
burgueses que tem vínculos afetivos, mas
não efetivos com a concretude das lutas
Parentes e amigos se solidarizam com Lula em São Bernardo do Campo antes de sua prisão em 7 de abril de 2018 da classe trabalhadora.
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RESENHA
L
embro-me quando comecei a cuidadosa pesquisa documental sobre o
acompanhar, com entusiasmo, chamado proceso de cambio boliviano.
a escrita da tese de doutorado Nessa obra densa, o autor faz um im-
de Daniel Araújo Valença, que portante resgate da história do marxismo
originou o livro “De Costas para o Impé- na América Latina, tentando compreen-
rio” (2018), objeto desta resenha. O ano der a complexa relação entre o marxismo
era 2014. A América Latina ainda vivia o e o indianismo. A partir de uma análise O livro “De Costas
reflexo de um importante momento his- histórica, a obra nos traz a reflexão de
tórico, de ascensão de governos progres- que as classes sociais são forjadas na con- para o Império” é
sistas, inaugurado em 1998, na Venezue- creticidade do real. Assim, não se pode um convite para
la. Na Bolívia, a eleição do primeiro Presi- compreender a Bolívia sem levar em con-
dente da República indígena já prometia ta o elemento da etnicidade. Além disso, aprendermos com
intensas mudanças na política econômi- o autor se debruça sobre a formação so-
ca daquele país. Evo Morales, indígena e cial boliviana, para compreender as crises
o passado de lutas
sindicalista, derrotara, nas urnas, o pro- de Estado ocorridas durante o período revolucionárias
jeto neoliberal. republicano e as diversas sublevações po-
Para escrever essa obra, mesmo sem pulares ocorridas na região.
daquele país,
a pretensão de um estudo de caráter et- Ao lermos “De Costas para o Impé- para possibilitar a
nográfico, o autor realizou uma impor- rio”, percebemos, através da aprofunda-
tante imersão no cotidiano do país andi- da pesquisa do autor, que a Bolívia tem construção de um
no. Buscando ir além da extensa biblio- atravessado um processo de cambio que novo porvir, de um
grafia consultada sobre a história social mudou sua estrutura social, sua estru-
da Bolívia, o autor participou ativamente tura estatal e a organização econômica amanhã com mais
de eventos políticos, entrevistou lideran- da sociedade. Ao resgatar a história eco-
ças do Estado Plurinacional, intelectuais nômica e social daquele país, podemos,
esperança.
e movimentos sociais, além de realizar através das suas lentes, apreender que a
Bolívia contemporânea apresenta uma convida a indagar para onde caminhará mistas. Pero, en verdad, el pesimismo do-
importante ruptura com a ordem colo- a construção do socialismo comunitário. mina mucho menos nuestro espíritu que
nial, ou seja, de índios e trabalhadores O resultado é um belíssimo estudo, el optimismo. No creemos que el mundo
subalternizados, dirigidos por uma socie- que analisa o processo político, econô- deba ser fa tal y eternamente como es.
dade dominante branco-mestiça. Hoje, mico, cultural e jurídico vivenciado pela Creemos que puede y debe ser mejor. El
com os índios governando o país, em ar- Bolívia nas últimas décadas, desde uma optimismo que rechazamos es el fácil y
ticulação com outros setores populares - perspectiva totalizante e histórico-dialé- perezoso optimismo panglosiano de los
e importantes mudanças nos dispositivos tica. Nas suas 244 páginas, fica evidente que piensan que vivimos en el mejor de
constitucionais - houve uma importante o compromisso ético-político do autor, los mundos posibles”.
valorização simbólica dos elementos liga- que consegue, como poucos, aliar o rigor O livro “De Costas para o Império”
dos à indianitude. acadêmico à militância pela construção é um convite para aprendermos com o
No dia primeiro de maio, em territó- de outro projeto de sociedade. Trata-se de passado de lutas revolucionárias daquele
rio andino, o autor vivenciou a força de uma análise realista, contada através de país, para possibilitar a construção de um
uma marcha formada por camponeses, muitas derrotas e vitórias, mas que nun- novo porvir, de um amanhã com mais es-
indígenas originários, mineiros, operá- ca perdeu seu horizonte revolucionário. perança.
rios. Era essa a história que Daniel Araú- Como afirmou José Carlos Mariátegui:
jo Valença pretendia contar: como a su- “Los que no nos contentamos con
cessão de lutas empreendidas por aquele la mediocridad, los que menos aún nos *ILANA LEMOS DE PAIVA é professora
povo sintetizou o chamado Estado pluri- conformamos con la injusticia, somos do Programa de Pós-Graduação em
nacional boliviano. Ademais, o autor nos frecuentemente designados como pesi- Psicologia (UFRN)
A Bolívia tem
atravessado
um processo
de câmbio
que mudou
sua estrutura
social, sua
estrutura
estatal e a
organização
econômica
da sociedade
Francisco de Oliveira,
um intelectual radical
Leonardo Mello e Silva*
F
igura destacada da intelli-
gentsia radical e marxista
Perda imensurável para o
brasileira, Francisco de pensamento crítico brasileiro,
Oliveira faleceu no último
dia 10 de julho, em São Chico de Oliveira foi um
Paulo. Chico de Oliveira, como era dos nossos mais originais
conhecido, era professor aposentado
do Departamento de Sociologia da Usp, e afiados sociólogos marxistas
onde ministrou aulas de graduação e pós-
-graduação, orientou teses e dissertações,
e atuou como pesquisador do Centro de
Estudos dos Diretos da Cidadania. Além
disso, tinha freqüente participação na
discussão política, por meio de artigos de
jornal, entrevistas e palestras. O texto a
seguir, de caráter ao mesmo tempo in-
formativo e pessoal, é uma tentativa de
traçar um breve perfil da figura e de sua
importância para a história intelectual da
esquerda no país.
As contribuições intelectuais do Prof.
Francisco de Oliveira para a sociologia
brasileira podem ser divididas em três fa-
ses: a primeira vai do período da Sudene
até a publicação de Crítica à Razão Dualis-
ta, sua obra mais consagrada, em 1972. A
segunda fase cobre o período em que ele
foi pesquisador do Cebrap, que é também
a que consolida a sua produção teórica
e originalidade de abordagem, na inter- Francisco Maria Cavalcanti de Oliveira, mais conhecido como Chico de Oliveira,
cessão entre as ciências sociais e a eco- foi um dos mais importantes sociólogos brasileiros. Nascido em Recife em 7 de
nomia política. Na primeira metade dos novembro de 1933, faleceu em São Paulo no dia 10 de julho de 2019.
anos 1980 sua atividade se dividiu tam- O Cenedic (Centro de Estudos dos Direitos da
bém com a docência no Departamento de
Economia da PUC-SP. Cidadania) marca o segundo momento da fase
É dessa fase boa parte de sua
produção editorial, com livros tais como O
“uspiana”, que vai acompanhar a produção
Banquete e o Sonho: ensaios sobre a economia acadêmica e ensaística do autor até o final
brasileira, pela Brasiliense, em um forma-
to de brochura; A Economia da Dependên- vidida entrementes em dois momentos: o
cia Imperfeita, uma compilação de artigos primeiro momento, na primeira metade
publicados em revistas e capítulos de li- dos anos 1990 quando, ainda no Cebrap,
vros; Elegia para uma re(li)gião (traduzido Chico elabora o projeto de pesquisa cha-
para o espanhol pela editora Fondo de mado Os Cavaleiros do Anti-Apocalipse, so-
Cultura Económica e depois re-publicado bre o significado da câmara setorial do
em português com o título de A Noiva da setor automotivo, a qual teve lugar entre
Revolução); O Elo Perdido. Classe e identidade os anos de 1991 e 1993 - projeto que foi,
de classe na Bahia, um estudo que contém na verdade, uma prodigiosa síntese entre
uma sofisticada e penetrante análise da a problemática dos direitos, a economia
formação das classes sociais no Brasil, política da globalização e a sociologia
com foco em suas discrepâncias regio- do trabalho, sendo até hoje reconhecido
nais; A Falsificação da Ira, um trabalho como um estudo-chave para entender a
pouco conhecido mas que, escrito para história recente das relações industriais
entender a ascensão de Collor de Mello no Brasil, em particular o sindicalismo. O para desembocar no texto-síntese, tam-
como primeiro presidente eleito após a fechamento do projeto de pesquisa sobre bém muito conhecido, chamado O Or-
redemocratização, contém boa parte da a câmara setorial coincidiu com o afas- nitorrinco (de 2003), que é sobre a (má)
problemática que ficou consagrada com o tamento do Cebrap e o engajamento em formação da sociedade brasileira, desde
ensaio chamado O Surgimento do Antivalor: um novo projeto intelectual que teve lu- o período colonial até a entrada resoluta
Capital, Força de Trabalho e Fundo Público, gar com o que mais tarde tomou forma e sem ambigüidades do país na globa-
e, finalmente, em 1988, o ensaio supra- como Centro de Estudos dos Direitos da lização. A radicalização desse caminho
-citado, que saiu pela primeira vez na re- Cidadania, o Cenedic. O livro-marco des- escolhido pelas elites - “o atraso é uma
vista Novos Estudos 22, e que tempos de- se período é Os Sentidos da Democracia: polí- escolha”, ele gostava de enfatizar, que-
pois se tornou o carro-chefe de uma co- ticas do dissenso e hegemonia global, de 1999, rendo com isso dizer que não se tratava
letânea chamada exatamente Os Direitos organizado conjuntamente com Maria de uma exigência do (sub)desenvolvi-
do Antivalor, publicado pela coleção Zero Célia Paoli. O Cenedic marca o segundo mento, muito ao contrário - vai apare-
à Esquerda, coordenada pelo Prof. Paulo momento da terceira fase, a “uspiana”, cer, paradoxalmente, segundo sua ótica
Arantes. É dessa época, passagem dos oi- que vai acompanhar a produção acadê- crítica, também nos governos do Partido
tenta para os noventa, que se pode locali- mica e ensaística do autor até o final. dos Trabalhadores, a partir de 2003, e ele
zar a terceira fase, quando ele entra para Nesse ínterim ele participa como inspira- dedicará então a tal complexo de proble-
o Departamento de Sociologia da Usp e dor (e pesquisador) do projeto temático mas o seu ensaio chamado Hegemonia às
passa então a cultivar um profícuo diálo- de pesquisa chamado Cidadania e Demo- Avessas, também título da penúltima pu-
go com professores que ali desenvolviam cracia: As Rupturas no Pensamento da Políti- blicação do grupo do Cenedic (2010).
reflexões sobre o significado dos direi- ca, o qual dará lugar mais tarde (2007) à Em todas essas contribuições, a so-
tos e do espaço público. O contato então publicação A Era da Indeterminação. Suas ciologia aparece como o campo do diálogo
com a Profª Maria Célia Paoli foi, nesse intervenções a partir de então, largamen- crítico com os autores que buscaram uma
aspecto, como se verá em seguida, funda- te inspiradas nas pesquisas do grupo do interpretação de conjunto sobre o país, sua
mental. Essa fase “uspiana” pode ser di- Cenedic, vão aos poucos o encaminhando história, e sua constituição como nação
Morte matada!
Jesuína Previdente*
O
jornalismo brasileiro
perdeu, no dia 10 de ju-
lho de 2019, Paulo Hen-
rique Amorim, profissio-
nal comprometido com
os interesses do Brasil. PHA era crítico
ao governo Bolsonaro, defendia a demo-
cracia, a soberania nacional e o Estado de
Direito. Faleceu de infarto fulminante,
em sua casa, no Rio de Janeiro. A morte
ocorreu 17 dias após o afastamento força-
do do Domingo Espetacular, da Rede Re-
cord, programa que apresentou por mais
de uma década.
O Grupo Record e a RecordTV têm
como proprietário o fundador e líder da
Amigos, familiares e admiradores se despedem de PHA durante velório na sede da ABI,
Igreja Universal do Reino de Deus, Edir
no Rio de Janeiro
Macedo, apoiador declarado do governo
Bolsonaro. O comunicado sobre o afasta-
gundo ele próprio, inspirada em um dis- precisão e críticas, o massacre contra os
mento de Amorim do programa foi emiti-
curso do ex-deputado federal Fernando trabalhadores.
do em 24 de junho. O bispo licenciado da
Ferro (PT-PE). Amorim, quando utiliza Um dia antes da sua morte, Paulo
IURD e atual prefeito do Rio de Janeiro,
o termo PIG, escrevia com um i minús- Henrique Amorim publicou no Conversa
Marcelo Crivella, esteve entre as autori-
culo, em alusão ao portal iG, do qual foi Afiada notícias a respeito do tema. O títu-
dades que lamentou a morte de FHA.
demitido em 18 de março de 2008. lo: Câmara pode votar Previdênssia ho-
A despedida de FHA deixa todos os
PHA se foi sem ter tempo para criti- je, no qual citava o pagamento de emen-
defensores da democracia tristes. É mais
car a aprovação da Reforma da Previdên- das parlamentares pelo governo federal
lutador que se vai em tempos de barbárie.
cia. Se vivo, certamente, teria registrado para compra de votos de parlamentares a
Se foi aquele que popularizou a expressão
em seu Blog, o Conversa Afiada, com favor da reforma.
PIG (Partido da Imprensa Gopista), se-
No Conversa Afiada, PHA, também re- la. Participou de coberturas jornalísticas Falhou, por quê?
gistrava as denúncias do site Intercept, sobre de repercussão internacional: a eclosão
as relações nada republicanas do ex-juiz e do vírus ebola na África (1975 a 1976); a Amorim deixa a trincheira do jorna-
atual ministro da Justiça, Sérgio Moro; do guerra civil de Ruanda e a rebelião zapa- lismo em um momento de desgraça no
procurador Deltan Dallagnol e os desman- tista no México (1994). País e na sua profissão. Faleceu, afastado
dos da operação Lava Jato. Era um críti- O primeiro emprego como jornalista do programa que comandou por mais de
co da operação. Em março de 2016, num foi no jornal A Noite, no Rio de Janeiro em uma década e das telas nas quais estáva-
vídeo que publicou no YouTube, acusou a 1961, ano em que cobriu para o jornal a mos acostumados a vê-lo.
Polícia Federal do Brasil de atuar de forma renúncia do presidente Jânio Quadros. O coração de PHA falhou ou quem
“golpista”, “irresponsável”, “subversiva” e Trabalhou em Nova Iorque como corres- sabe não aguentou o caos do País dirigido
“criminosa”, sugerindo que ex-presidente pondente internacional e abriu sucursais pela ultra-direita, o ataque ferrenho aos
Dilma Rousseff demitisse todos os servi- para veículos, em Nova Iorque. direitos dos trabalhadores, as notícias fal-
dores do órgão, “do diretor-geral ao contí- Em 1996, deixou a Globo pela Rede sas (fake news), o afastamento imposto
nuo que serve cafezinho”. Bandeirantes, onde passou a apresentar o pela Record por suas posições, o declínio
A ex-presidenta lamentou a morte telejornal Jornal da Band e o programa po- da grande imprensa (a mídia tradicional
do jornalista: “Ele deixa a marca de uma lítico Fogo Cruzado. Em 2003, foi contrata- cada vez mais perde espaço e audiência
atuação digna na denúncia dos retroces- do pela Rede Record, onde apresentou o para as redes sociais) e o derretimento da
sos que o país enfrenta e na defesa da telejornal noturno Jornal da Record 2ª Edi- sua profissão. O desemprego, a precariza-
democracia e do estado de direito”, escre- ção (extinto em 5 de janeiro de 2007) e o ção de direitos e os baixos salários afetam
veu no Twitter. Em seu perfil nas redes Edição de Notícias. De 2004 até o final de atualmente os jornalistas como nunca.
sociais, o ex-presidente Lula, afirmou: janeiro de 2006, passou a apresentar a re- Uma pena a cena política ter per-
“nos deixou cedo demais”, além de pu- vista eletrônica exibida no final de tarde dido, em momento tão agudo do Brasil,
blicar cópia da sua última carta enviada Tudo a Ver. Em fevereiro de 2006, passou um cronista crítico, atuante e afinado aos
ao jornalista. a apresentar o programa Domingo Espeta- interesses do povo. O infarto fulminante
cular. atropelou, traiu o coração de Amorim em
Prêmios e atuação Entre tantas premiações, PHA rece- tempos de guerra, justamente no período
beu o Prêmio Esso na categoria Prêmio que necessitamos de conversa afiada. Vai
Paulo Henrique Amorim atuou na Esso de informação econômica pela re- nos fazer muita falta! Fernando Henri-
Veja, nos anos 70, ao lado de Mino Carta. portagem “A renda dos brasileiros” na que Amorim, presente!
Passou também pela Globo, UOL e Band. revista Veja.
No Jornal do Brasil, denunciou a farsa do Em 1999, o Programa Jornal da Band, *JESUÍNA PREVIDENTE é pastora
Proconsult, revelando o esforço da dita- apresentado por ele, ganhou o prêmio de da Igreja dos Marxistas Leninistas dos
dura em tirar a vitória de Leonel Brizo- Melhor Telejornal de 98 da APCA e em, Últimos Dias
106
108 ESQUERDA PETISTA
ESQUERDA PETISTA #10
#10 -- Agosto
Agosto-Setembro
2019 2019
HOMENAGEM
Walter Barelli, o
economista dos
trabalhadores
Paulo Fontes*
N
ascido em 25 de julho de firmou-se como o mais importante órgão ter um papel chave no assessoramento,
1938 em São Paulo, Walter de assessoria econômica do sindicalismo. formação sindical e, principalmente nos
Barelli vinha de uma típica Não por acaso, o órgão seria quase desa- processos de negociação coletiva com os
família operária de origem tivado logo após o golpe. Aos poucos foi empresários. Nas assembleias sindicais
italiana. Sua mãe foi tecelã e seu pai, me- retomando suas atividades e ainda se en- ao longo da década de 1970, não era in-
cânico de manutenção da Nitro Química, contrava em situação bastante precária, comum encontrar o alto e corpulento téc-
grande indústria do bairro de São Miguel quando em 1966, a convite da socióloga nico do DIEESE explicando diretamente
Paulista, onde Barelli viveu sua infância. Heloísa de Souza Martins, o jovem eco- aos trabalhadores os cálculos de reajuste
Os laços com a classe trabalhadora per- nomista Walter Barelli lá começou a tra- salarial e sobre a inflação. Tal ativismo
maneceriam por toda sua vida. balhar. Pelas duas décadas seguintes, Ba- não passou despercebido pela repressão
Ainda adolescente, tornou-se fun- relli seria a alma do DIEESE e o principal ditatorial. O DOPS monitorava cotidiana-
cionário do Banco do Brasil o que acabou responsável por torná-lo a mais respeitada mente as atividades de Barelli e do DIEE-
estimulando-o a prestar vestibular para instituição do sindicalismo brasileiro. SE. Em 1979, já nacionalmente conheci-
Economia na Universidade de São Paulo. Competente, humanitário e conci- do e respeitado, chegou a ser preso pela
Na USP, no início dos anos 1960, Barelli liador, Barelli navegava com habilidade polícia política, o que causou protestos
começou a militar na Juventude Univer- pelas várias correntes políticas que po- generalizados e indignados, obrigando
sitária Católica (JUC) e aproximou-se da voavam o movimento sindical durante o DOPS a um constrangedor pedidos de
Ação Popular (AP). a ditadura. Conseguia, por exemplo, ser desculpas pelo “lamentável engano”.
O golpe militar de 1964 atingiu vio- ao mesmo tempo amigo pessoal de Joa- No auge da tecnocracia econômica
lentamente as organizações dos trabalha- quinzão, presidente do Sindicato dos ditatorial, Barelli foi uma poderosa voz
dores, dentre elas o DIEESE, o Departa- Metalúrgicos de São Paulo, tido como em favor de uma “economia para os tra-
mento Intersindical de Estatísticas e Estu- “pelego”, e muito respeitado pelos aguer- balhadores”. Teve um papel fundamental
dos Sócio-Econômicos. Fundado em 1955 ridos dirigentes da Oposição Metalúrgica na denúncia do caráter concentrador de
por sindicalistas paulistas, o DIEESE logo paulistana. renda do “milagre econômico”. Sua reve-
ESQUERDAESQUERDA PETISTA
PETISTA #10 #10 - Agosto 2019
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HOMENAGEM
A proeminência sindical no
final dos anos 1970 e na
década de 1980 alçou o DIEESE
à condição de instituição
reconhecida e respeitada no
cenário político brasileiro.
Walter Barelli tornou-se
renomada figura pública,
cuja opinião reverberava na
mídia e nos meios políticos e
empresariais.
lação da manipulação pelo governo dos simo, assessorando as centrais sindicais e atritos com Fernando Henrique Cardoso,
índices inflacionários de 1973, reconhe- outras organizações na construção de po- como a defesa de um salário mínimo de
cida pelo Banco Mundial em 1977, traria líticas trabalhistas e sociais que forjariam US$100, repudiada pelo então ministro
angariria oorespeito
notoriedade e angariaria respeitoacadê-
acadê- muito do que há de melhor em termos de da Fazenda.
mico e político. Mais importante ainda, direitos para os trabalhadores na Consti- Com a eleição de Mario Covas como
o ataque à manipulação dos índices da tuição de 1988. governador de São Paulo, Barelli foi, por
inflação foi um dos motores das campa- Barelli deixaria a coordenação técni- duas gestões, Secretario de Emprego e Re-
nhas salariais de 1977 e 1978, que deram ca do DIEESE no início dos anos 1990. lações de Trabalho. Também foi suplente
início ao ciclo de greves e lutas sociais Passou a lecionar no Departamento de de deputado federal pelo PSDB, assumin-
que mudaram o sindicalismo brasileiro e Economia da Unicamp, onde anos de- do o mandato entre 2005 e 2007. Apesar
recolocaram os trabalhadores no centro pois, ajudaria a consolidar o CESIT (Cen- da filiação tucana, manteve relações de
do processo de redemocratização do país. tro de Estudos Sindicais de Economia do proximidade, amizade e respeito com o
A proeminência sindical no final dos Trabalho). Simultaneamente, foi um dos movimento sindical e com diversos seto-
anos 1970 e na década de 1980 alçou o coordenadores na área de economia do res do PT, inclusive com o ex-presidente
DIEESE à condição de instituição reco- “governo paralelo” criado por Lula após Lula. No final daquela década, voltou a
nhecida e respeitada no cenário político as eleições de 1989. lecionar na Unicamp, onde se aposentou.
brasileiro. Walter Barelli tornou-se reno- Quando
Quando Itamar
ItamarFranco assumiu
Franco a pre-a
assumiu Em abril deste ano, Barelli sofreu
mada figura pública, cuja opinião reverbe- sidência da República, após o impeachment
presidência, após o impeachment de Fer- um acidente ao cair numa escada no
rava na mídia e nos meios políticos e em- de
nandoFernando
Collor Collor em 1992,
em 1992, BarelliBarelli
assumiutor- Instituo Tomie Ohtake em São Paulo.
presariais. O DIEESE cresceu e naciona- nou-se Ministro do Trabalho. Durante
o Ministério do Trabalho. Durante dois dois Seriamente ferido, ficou internado du-
lizou-se. Criou seções em quase todos os anos, abriu amplas negociações com enti- rante três meses, vindo a falecer no úl-
estados e nos principais sindicatos do país. dades de trabalhadores e empresários na timo dia 18 de julho. Certa vez, numa
Consolidou metodologias de medição de tentativa, ao final frustrada, de construir crítica à ditadura, afirmou “A classe
índices inflacionários, de desemprego, de um novo sistema de contrato coletivo de operária é muito mais digna do que os
valor do salário mínimo, entre outras, que trabalho nas relações trabalhistas. Tam- governantes”. Poucos intelectuais foram
se tornaram referência e rivalizavam, mui- bém capacitou o Ministério em ações de tão dignos na defesa da classe trabalha-
tas vezes superando em qualidade, os cál- combate ao trabalho escravo que se tor- dora quanto Walter Barelli.
culos de instituições consolidadas como o nariam uma importante política pública
IBGE e a FGV. Durante o processo consti- nos anos vindouros. No processo de for- *PAULO FONTES é professor do
tuinte, o DIEESE teve papel importantís- mulação do Plano Real teve numerosos Instituto de História da UFRJ
L
úcio foi um dos grandes dade política na fábrica foi destruída pelo Lúcio ficou mais de um ano preso. Foi
quadros organizadores do Departamento de Ordem Política e Social libertado condicionalmente e retomou sua
movimento operário no Bra- (Dops-SP) e pelo Departamento de Segu- vida profissional. Condenado, optou por
sil. Atuou na maior fábri- rança Industrial da Volks. A empresa, em cumprir a pena e não cair na clandestini-
ca da época, na década de cooperação direta com o terrorismo de dade. Ao total, mais de dois anos de prisão.
1970, a Volkswagen em São Bernardo do Estado, organizou a prisão dos mili- Saindo da cadeia, muda-se para o Vale do
Campo. A empresa era uma cidade. Ti- tantes em seus postos de trabalho. O Paraíba para manter a família, mas já sem
nha 40 mil trabalhadores. Atuando clan- Coronel Adhemar Rudge, que acompa- ligações partidárias. Passados esses anos
destinamente, Lúcio participou da orga- nhou pessoalmente as prisões, dirigiu a de afastamento, retorna ao ABC. A emer-
nização de uma grande base partidária, segurança da Volks de 1969 a 1989. gência das greves o jogará novamente na
atingindo mais de 200 trabalhadores A história dessa base partidária e sua arena sindical. Mantém-se como militan-
que, inclusive, recebiam regularmente destruição está sendo reconstruída. Dos te, atuando na base.
o Voz operária, jornal do Partido Comu- militantes da época, sabe-se mais a his-
nista Brasileiro (PCB). tória de Lúcio e de Heinrich Plagge. Os São Paulo e São Bernardo
De família de tradição comunista, dois foram sequestrados em seus postos do Campo. A mesma luta,
foi formado na escola do “Partidão”. Ti- de trabalho, à vista dos colegas de ses- características diferentes.
nha uma matriz de atuação militante, da são. Lúcio ficou 47 dias desaparecido no
qual manteve os traços essenciais a vida Dops e Heinrich, 4 meses. Nesse período, Após a Greve das comissões de fábrica,
inteira, com as características da sua for- foram presos mais 10 militantes dentro em 1978, e a Greve geral de 79, ambas dos
mação. Tinha 8 anos de trabalho na em- da Volkswagen. Sofreram acareações e metalúrgicos da capital, cria-se um cli-
presa e 28 anos de idade quando a ativi- torturas durante todo o período no Dops. ma de ebulição também na unidade da
“Em São Paulo, se fabrica zação interna e são mobilizadas pela A partir daí, dedicou-se a fazer um traba-
de prego a míssil”1 OSM-SP. Basta ver as fotos das faixas nos lho silencioso de organização dentro das
piquetões ou nas grandes assembleias2. fábricas. Teve a sorte de coincidir com a
A cidade de São Paulo era um con- E muitas fábricas médias são exemplo de crise do modelo econômico da ditadura,
tinente industrial. Entre as décadas de organização, como a Asama, na Vila Leo- quando começam a emergir os movi-
1970 e 1980, eram 400 mil metalúrgicos, poldina, que era a expressão das concep- mentos populares nas periferias.
distribuídos em mais de 13.000 empre- ções da Oposição Metalúrgica: democracia Era um mundo diferente daquele
sas, a maioria delas muito pequenas. Mas direta, questionamento do poder patro- em que Lúcio foi formado. Ele estava ha-
muitas de 500 a 1.500 trabalhadores. E nal, interferência e disputa para escolha bituado à organização partidária, mais
muitas iguais ou maiores que a Ford. dos chefes de seção, autossustentação fi- centralizada e disciplinada. Aqui em São
São impressionantes as mobilizações nas nanceira, revogabilidade de mandatos. E Paulo era o movimento, um entrecruzar
concentrações ou corredores industriais: o lema a democracia operária dá certo 3. de opiniões e disputas resolvidas pelo
na Leopoldina, na Avenida das Nações Na década de 1970, essas fábricas sistema democrático assembleário, na-
Unidas, na Pedreira, no Socorro, na Lapa e outras tiveram militantes que nelas quilo que se chamou Frente de Trabalha-
de Baixo, na Ilha do Sapo (Mooca), na permaneceram durante anos, fazendo o dores. A maneira possível de ter unidade
Anchieta. Fábricas enormes, como Metal chamado “trabalho de base”, nas CIPAs, e enfrentar a seleção de pelegos coloca-
Leve, Villares, Caterpillar, MWM, Sie- nos Grupos de Fábrica ou nas Comis- dos pelos militares como interventores
mens, Sofunge, Scopus, General Eletric, sões. A OSM-SP disputou uma eleição es- no Sindicato lopo após o golpe de 1964 e
Toshiba, Arno, Philco, Aliperti, mesmo candalosamente fraudada em 1972. Em que se mantiveram, com Joaquim à ca-
não tendo Comisões eleitas, têm organi- 1974, teve mais de 40 militantes presos. beça, até 1987 4.
2 Ver as imagens de Máquinas paradas. Fotógrafos em ação,
organizado por Adilson Ruiz e Enio Brauns e publicado pela
1 Frase de Waldemar Rossi, dirigente da Oposição Sindical Editora Perseu Abramo, em 2016. 4 Para entender a seleção de pelegos colocados na direção
Metalúrgica de São Paulo e um dos fundadores da Pastoral 3 Ver a revista 30 anos da Comissão de Fábrica da ASAMA, do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, ver o livro de
Operária (PO), ao descrever a complexidade da indústria publicada pelo IIEP/Projeto Memória da Oposição Sindical Heloísa Martins, O Estado e a burocratização do Sindicato no
paulistana. Metalúrgica de São Paulo, em 2012. Brasil, publicado pela Editora Hucitec, em 1989.
A bandeira das Comissões
de fábrica, com a
auto-organização dos
trabalhadores e a
participação da base, se
generaliza no final da
Imagens do livro Máquinas paradas. década de 1970. Torna-
Fotógrafos em ação se uma reivindicação em
vários pontos do país nos
quais explodiam greves.
E foram muitas greves.
Acervo IIEP
A CUT entra em cena
Em 2015, por iniciativa política do e outras empresas. Fizemos várias exibi- O inquérito do Caso Volkswagen foi
Fórum dos trabalhadores por verdade, justiça e ções da película Cúmplices? A Volkswagen e encerrado, concluindo pela necessidade
reparação, o IIEP elaborou uma represen- a ditadura militar brasileira8. Foram muitos de responsabilização da empresa. Exis-
tação ao Ministério Público Federal, com- debates, entrevistas (por sorte, disponí- te a possibilidade de a empresa aceitar
posta de pesquisa documental e funda- veis na internet). Diversas reuniões junto firmar acordo junto ao Ministério Pú-
mentação jurídica baseada nos princípios com os Ministérios Públicos Federal, Es- blico. Ou, caso contrário, essa história
da Justiça de Transição e na experiência tadual e do Trabalho para oitivas de teste- se prolongará com um processo judicial.
internacional de casos semelhantes, de- munhas contra a Volks e para a busca de De qualquer modo, é o primeiro caso no
nunciando a Volkswagen por graves viola- uma solução para o caso que garantisse Brasil de uma empresa acusada por gra-
ções de direitos humanos durante a ditadura a responsabilização da empresa. Recente- ves violações de direitos humanos, que
civil-militar. A representação foi assinada mente, dia 04/06/2019, participamos do deverá prestar contas à Justiça. Todo o
por todas as dez CENTRAIS Sindicais programa Bom Para Todos, da TVT, sobre trabalho do Fórum dos trabalhadores,
brasileiras, presidentes de Comissões da o Caso Volks 9. das 10 Centrais Sindicais brasileiras e do
Verdade, juristas, militantes de direitos Em outubro de 2017, Lúcio acompa- IIEP ao apresentarem a denúncia contra
humanos, trabalhadores atingidos pela nhou a oitiva de Heinrich Plagge, realiza- a Volkswagen foi centrado na concretiza-
Volks e pelo IIEP. da pelo Ministério Público em São José ção do lema Verdade, Memória, Justiça e
Lúcio jogou um papel insubstituível do Rio Preto. Foi, junto com o de Lúcio, o Reparação. Lúcio Bellentani foi um disci-
na investida contra a Volkswagen por ser, mais importante depoimento colhido con- plinado militante dessa causa.
dos presos de 1972, o único conhe- tra a Volkswagen. Por incrível que pareça, Com todas as suas contradições, é
cido vivo até então. Posteriormente, essa foi a primeira vez que os dois mili- inegável o papel político jogado pelo com-
em 2017, foi localizado Heinrich Plagge, tantes se encontraram desde 1972. Plagge panheiro Lúcio. É parte de uma vanguar-
também preso na empresa em 1972 por faleceu no dia 6 de março de 2018. Nes- da proletária, de operários conscientes
sua militância no PCB 7. sa data, em sua homenagem, foi criada a politicamente, que enfrentaram a ditadu-
Mais do que testemunha, desde o Associação Heinrich Plagge, que reúne os ra empresarial-militar e não se dobraram
início do Caso Volks Lúcio foi incansável trabalhadores e trabalhadoras vitimados à dura repressão que sofreram.
militante. Ia onde quer que fosse neces- pela Volkswagen, presidida por Lúcio.
sário para testemunhar e pedir REPARA- *SEBASTIÃO NETO é coordenador
8 Filme produzido pela DW, canal de TV público alemão.
ÇÃO pelos crimes cometidos pela Volks Disponível com legendas no YouTube (https://m.youtube. do IIEP - Projeto Memória da Oposição
com/watch?v=1iWmAmvNMNg&t=1213s)
7 Matéria sobre a prisão de Plagge, produzida pelo jornalista 9 Programa Bom Para Todos, da TVT, que foi ao ar no dia
Sindical Metalúrgica (OSM-SP)
Gabriel Baldocchi, da Isto é Dinheiro: https://youtu.be/
xTTrchnAusg
04/06/2019. Disponível no YouTube (https://youtu.be/
Z8nitaNtEw0).
secretaria@iiep.org.br
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DO POR LULA LIVR
ABAIXO-ASSINA
LULA
GAMENTOS DE
LAÇÃO DOS JUL s penais contra
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ADO PELA ANU amentos das açõe
ABAIXO-ASSIN , lação dos julg
unal Federal requerer a anu
s Ministros do
Supremo Trib eitosamente, para ção mundiais.
Exmos. Senhore te judi cial do Brasil, resp da mis éria , a paz e a coopera da cha mad a
ima Cor fome e a-tarefa
senhores, inte
grantes da máx a erradicação da uradores da forç meio de
se dirigem aos itos humanos, io Moro e os proc istério Público, atuando por Tudo
Os signatários Lula da Silva. es para os dire e o ex-juiz Sérg
iona l por suas contribuiçõ rcep t Bras il, diálogos entr rmal das investigações e do
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ex-presidente
Luiz Inác nhecimento inte s do portal da Internet The ia portou-se como chefe info ostas provas, e determinando
conquistou reco de sup de Ética
Preso político, éria ânc
sentadas nas mat o magistrado de primeira inst que fossem tomadas, dicas e pelo Código
as provas apre o que antes Processo Penal artigo 564, ambos do
Diante das nov ente demonstrad os de decisões , pelo Código de do
Lava Jato , resta efetivam ntações, repassando conteúd Con stitu ição Federal de 1988 IV, do artigo 254, c/c inciso I,
operaçã o orie pela so
, repreensões e presenciais. alidade, fixadas esso, na forma prevista no inci
aconselhamentos o de aplicativo e reuniões ade e impesso
de imparcialid absoluta do proc
em diálogo por
mei a determinação o consequência a nulidade
e modo, o juiz, ASSINATURA
Rompeu, dess eição é irrefutável, e tem com o:
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da Magistratura inam este aba ESTADO/UF
esso Penal. Ass CIDADE
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