Você está na página 1de 12

Artigos

CONFRONTOS NA SÍRIA: A TEORIA unique and unchanging. We search to understand


CRÍTICA APLICADA AO CONSELHO DE why the Security Council was not able to establish
SEGURANÇA a consensus on what should be the best decision
to be made in the case of Syria, and how,
CONFRONTATIONS IN SYRIA: THE especially based on Gramisci's concept of
CRITICAL THEORY APPLIED TO THE hegemony, the study of Critical Theory can bring
SECURITY COUNCIL explanatory contributions to renew the theoretical
eld of International Relations.
Luís Fernando Casara Corrêai
Keywords: Syria, Security Council, Critical
RESUMO Theory, Hegemony.

Este artigo é um estudo sobre o processo 1. INTRODUÇÃO


revolucionário na Síria, em que se buscou
abordar de forma sucinta a relação entre o conito Vivemos em um mundo em que o conito ainda
e as ações do Conselho de Segurança para a é fator político determinante para a resolução dos
resolução do problema. Para tanto, foi feita uma problemas do sistema internacional. O que
breve análise do posicionamento do Conselho de diferencia o conito de hoje dos conitos de
Segurança à luz da Teoria Crítica das Relações tempos passados é a capacidade de negociação
Internacionais, principalmente a visão de Robert e o uso de uma certa “coerção” do próprio sistema
W. Cox, de matriz neo-gramsciana, mostrando a internacional para limitar o conito a sua
manutenção de uma ordem internacional que, resolução por vias pacícas. A coerção é feita em
vista a partir das teorias tradicionais das Relações grande parte pelo Conselho de Segurança da
Internacionais, tende ser única e imutável. ONU (CS) que, desde sua criação, age de forma a
Buscou-se entender porque o Conselho de amenizar os conitos internos e externos dos
Segurança não conseguiu até o momento Estados.
estabelecer um consenso sobre qual seria a Porém alguns conitos do sistema
melhor decisão a ser tomada no caso sírio e de internacional propõe um desao maior ao
que forma, principalmente a partir do conceito de Conselho de Segurança. Tais conitos expõe uma
hegemonia, o estudo da Teoria Crítica, pode diculdade “genética” do CS, explícita na disputa
trazer contribuições explicativas para renovar o por necessidades individuais atreladas aos
campo teórico das Relações Internacionais. conitos quando estes envolvem, por exemplo,
aliados e parceiros econômicos. Analisando
Palavras-chave: Síria, Conselho de Segurança, dessa perspectiva, em que os membros do CS
Teoria Crítica, Hegemonia. atrelam interesses particulares à resolução dos
conitos, ca duvidosa a atuação do CS em sua
ABSTRACT tarefa e, traz o questionamento quanto à
legitimidade que alguns Estados tem para
This article is a study of the revolutionary controlar o destino do sistema Internacional.
process in Syria, and it tries to approach the Os conitos sírios mostraram que alguns
relations between the conict and the actions of assuntos do sistema internacional são mais
the Security Council to resolve the problem. To complexos do que parecem ser e colocaram em
that end, it presents a brief analysis of the position xeque a capacidade do Conselho de Segurança
of the Security Council in the light of the Critical em lidar com problemas de natureza conituosa.
Theory of International Relations, especially the Expuseram a diculdade em alinhar interesses e
vision of Robert W. Cox, neo-Gramscian school of utilizar o aparato das Nações Unidas para trazer
thought, showing the maintenance of an estabilidade ao sistema internacional.
international order, that seen by the traditional Transpondo a questão do Conselho de
theories of International Relations, tends to be Segurança para o campo teórico das Relações

Edição n.3, v.1 47 ISSN 2179-6165


Artigos
Internacionais, pode-se perceber que o caso sírio mudança signicativa para toda a população,
está sendo abordado com as mesmas tanto na esfera social quanto políticaiv. A revolta
condicionantes presentes durante a Guerra Fria. social nesses países é o resultado de anos de
Parece existir um posicionamento de atraso democrático e social, condicionados a
manutenção de uma ordem estabelecida no pós- governantes que se mantêm e mantiveram no
Segunda Guerra Mundial ii que se desloca poder por décadas.v
diretamente para o período hoje vivenciado, sem O início das revoluções na Síria, em 15 de
considerar as modicações atuais do cenário março de 2011, provenientes de um processo
internacional. sócio revolucionário em todo oriente médio, não
Para obter um outro olhar sobre o problema foi diferente. Inicialmente, ocorreram grandes
sírio, a visão da Teoria Crítica, abordada por manifestações nas ruas, rapidamente
Robert Coxiii, tenta expandir o debate existente repreendidas. O governo do Presidente Bashar Al
nas Relações Internacionais, para além das Assad, usou de força para conter os
correntes teóricas tradicionais que atuaram e manifestantes, criando um ambiente de tensão
ainda atuam, como modelo teórico explicativo das interna e externa. Com a chegada de forças
Relações Internacionais. Tendo em vista as rebeldes à capital Damasco, os conitos entre
limitações do uso, em sua forma pura, de modelos oposição e governo se intensicaram.
teóricos tradicionais, como o Realismo, novas Inicialmente a oposição reivindicou uma maior
abordagens teóricas, como as da Teoria Crítica, abertura democrática, fazendo com que Assad
tornam-se imprescindíveis. decretasse o m do estado de emergência e a
No que concerne este artigo, foi abordada a aprovação de uma nova constituição. Porém, a
Teoria Crítica, também chamada de neo- oposição mudou seu discurso, pedindo
gramsciana, pois busca, embasada nas diretamente a saída de Assad do poder.vi Assad
concepções do teórico italiano Antonio Gramsci, deixou claro seu posicionamento com relação ao
uma explicação mais ampla sobre os problemas pedido de renúncia, segundo ele: "Não sou um
enfrentados no atual sistema internacional. fantoche. Eu não fui feito para que os ocidentais
Robert Cox faz uma leitura importante de me digam que eu devo ir ao Ocidente ou qualquer
Gramsci, baseada na concepção gramsciana de outro país. Eu sou um sírio. Fui feito na Síria e
materialismo histórico, deslocando conceitos para viver e morrer na Síria."vii
como hegemonia, bloco histórico, sociedade civil, O caso sírio se torna mais complexo quando
entre outros, para serem analisados à luz da atual tratado na esfera do Conselho de Segurança da
conguração do sistema internacional, torna os ONU. Com posicionamentos adversos, os cinco
conceitos gramscianos atuais, servindo de permanentes (China, Estados Unidos, França,
importante aporte teórico para as Relações Grã Bretanha e Rússia) não conseguem
Internacionais do século XXI. estabelecer coesão sobre o que deve ser feito
para amenizar as questões enfrentadas na Síria.
2. CONTEXTUALIZAÇÃO Se, por um lado, EUA, França e Grã Bretanha
apoiam uma intervenção humanitária, de outro,
As revoluções sociais no Oriente Médio, Rússia e China pregam a não interferência
também conhecidas como “Primavera Árabe”, externa, sobretudo devido ao recente caso líbio.viii
tiveram início no nal de 2010. O estopim para o Para tanto, o Conselho de Segurança possui
início de um movimento revolucionário em todo uma tarefa difícil de ser resolvida.ix O constante
Oriente Médio se deu quando, na Tunísia, veto de Rússia e China descarta qualquer diálogo
Mohammed Bouazizi, vendedor ambulante ilegal para a aplicação de uma resolução. O governo
de 26 anos, ateou fogo em si mesmo após um russo já deixou claro que não permitirá, em
policial conscar suas mercadorias. A partir desse nenhuma hipótese, a ação externa na Síria. Assim
fato, países como Egito, Iêmen, Bahrein, Líbia, como declarou o Ministro das Relações
Síria, Marrocos e Argélia, enfrentaram, e ainda Exteriores Russo, Sergey Lavrov: “Se alguém
enfrentam, revoltas sociais que buscam uma tiver a intenção de usar a força a qualquer preço –

Edição n.3, v.1 48 ISSN 2179-6165


Artigos
ouvi pedidos para o envio de tropas árabes à Síria território representantes da oposição e do
– dicilmente poderemos impedir, mas não governo. Para a Rússia, a negociação deve ter
receberá nenhuma ordem do Conselho de como resultado a transição negociada do atual
Segurança.”x governo para um governo plural e democrático
Os outros três permanentes - Estados Unidos, que seja representado pela vontade do povo sírio.
Grã Bretanha e França - por diversas vezes Para o Ministro das Relações Exteriores Russo,
tentaram, através da união com membros Sergey Lavrov,
rotatórios do Conselho de Segurançaxi, propor
uma resolução para a Síria, sem sucesso. Esse [...] a Rússia é a favor de um cessar-fogo imediato
impasse trouxe a público discursos impacientes e coordenado entre todas as partes do conflito,
de representantes destes países, que com monitoramento internacional imparcial, além
condenaram duramente o posicionamento russo do acesso da ajuda humanitária aos civis e o início
de veto às resoluções propostas. Segundo Hillary de um diálogo entre as partes sírias sem
Clinton, Secretária de Estado dos Estados condições prévias.xvi
Unidos, o posicionamento russo, estaria
contribuindo para a guerra civil na Síria.xii Em outra tentativa recente para negociação do
Quando analisamos os discursos de conito sírio, foi dada a tarefa a Ko Annan, ex-
representantes dos governos envolvidos, Secretário Geral das Nações Unidas, de mediar
percebemos que o jogo de poder existente uma transição pacíca e o diálogo entre governo e
atrapalha as negociações para ambas as partes. oposição. A escolha de Annan deve-se pela
Por diversas vezes a Secretária de Estado dos capacidade de negociação e de anos de
Estados Unidos, Hillary Clinton, demonstrou em experiência como Secretario Geral. Além de
seu discurso tom ameaçador, deixando a questão Secretario Geral, ocupou cargos como
diplomática um pouco de lado. Em uma das Representante Especial do Secretário-Geral na
reuniões para tentativa de resolução do problema antiga Iugoslávia e Enviado Especial da
sírio, Hillary deixou claro que tanto para Rússia, Organização do Tratado do Atlântico Norte
quanto para a China, o impasse na aprovação de (Otan). Antes de desempenhar estas funções,
uma resolução contra a Síria pelo Conselho de Annan serviu às Nações Unidas em outros postos
Segurança traria responsabilidades a serem e dedicou mais de 30 anos de sua vida às Nações
cobradas. Em suas palavras: "Não basta vir a uma Unidas, trabalhando em lugares tão diferentes
reunião dos Amigos da Síria. A única forma de como Adis Abeba, Cairo, Genebra, Ismailia
obter resultados é que cada país representado (Egito) e Nova York.xvii Não se trata portanto de um
aqui faça Rússia e China compreender que há um político ou representante de algum Estado
preço a pagar.xiii O Presidente dos Estados membro do Conselho de Segurança, mas sim de
Unidos, Barack Obama, também se posicionou uma pessoa altamente preparada que vai além
com relação à situação síria, principalmente dos interesses particulares dos membros do
devido aos protestos em frente à embaixada Conselho de Segurança.
norte-americana em Damasco. Obama disse em Nem mesmo a ONU via como tarefa fácil
entrevista que estamos assistindo o presidente negociar uma solução para o conito mediante
Assad perder legitimidade frente a seu povo. E tantas interferências externas. Kof Annan
completou: “Ele perdeu oportunidade atrás de reuniu-se com representantes de ambas as
oportunidade para apresentar uma agenda de partes e buscou apoio tanto do bloco liderado por
reformas genuínas. E é por isso que temos Estados Unidos, Grã Bretanha e França, como do
trabalhado em nível internacional para nos bloco Rússia e China. Sua função era negociar a
certicar que a pressão mantenha-se alta.”xiv resolução pacíca da crise. Tinha o mesmo
Em contrapartida, tanto Rússia quanto China pensamento de Rússia e China: “Acho que
mantiveram seu posicionamento contra qualquer qualquer aumento das operações militares
interferência externa na Síria.xv A Rússia contribui causaria uma deterioração da situação”. xviii
ao seu modo quando trouxe para negociar em seu Mesmo após negociar com ambas as partes,

Edição n.3, v.1 49 ISSN 2179-6165


Artigos
percebeu que os interesses, ainda que qualidades, um brilhante diplomata e uma pessoa
permeados pela questão humanitária, muito honesta”xxi como citou o Presidente Russo,
permaneciam conitantes. A própria ONU se viu Vladimir Putin, mais ainda, por demonstrar sua
presa aos interesses do Conselho de Segurança, inecácia em resolver os problemas de ordem
mantendo a situação estática mesmo com a internacional, motivo pelo qual foi criada, bem
participação de Kof Annan. Enquanto tentava como de seu Conselho de Segurança, em propor
trabalhar no cerne do conceito da ONU de soluções coesas em casos como o ocorrido na
resolução de conitos, em que a negociação é o Síria.xxii
meio mais adequado, o Conselho de Segurança, Passados mais de doze meses do início dos
representado por Estados Unidos, Grã Bretanha confrontos na Síria, percebe-se a diculdade em,
e França, mantinha o pensamento de como já mencionado, estabelecer a transição de
intervenção. governos ditatoriais, como é o caso de Assad na
O que torna o caso sírio ambíguo é que, para a Síria, para regimes plurais e democráticos.
ONU, a interferência externa direta, militar ou não, Diversos fatores contribuem para a não resolução
só é necessária quando o problema pode causar do problema. Primeiro, as potências não têm
danos sistêmicos, ou seja, uma situação que coesão sobre o que deve ser feito, divergências
possa vir a se transformar em um conito de cunho politico e econômico destoam o foco
internacional. xix Entretanto, no caso sírio a principal - trabalhar em um projeto pró Síria.xxiii
questão só se tornaria propícia à intervenção Segundo, a falta de diálogo entre oposição e
havendo a ingerência (ou intervenção) externa e governo na Síria, somada ao apoio ocidental dado
não na situação que o país apresentava naquele à oposiçãoxxiv, contribui para o afastamento do
momento – argumento também sustentado por diálogo e, cada vez mais, para o isolamento do
Rússia e China. O perigo da interferência externa governo de Assad no cenário internacional. Outro
gerariam condições que até então não se fator que perpetuou a situação síria, tanto por
observava. questões de interesse russo quanto em defesa de
Para Ko Annan cou claro que os interesses seu aliado estratégico, foi o uso do veto dentro do
eram conitantes e que não seria possível conselho de segurança.
estabelecer um denominador comum para a O presidente da Federação russa, Vladmir
situação. Em suas palavras: Putin, deixa claro seu posicionamento quanto ao
veto. Para ele: “o veto não é um capricho, mas
A crescente militarização em terra e a evidente uma parte integrante do sistema mundial, como
falta de unidade no Conselho de Segurança, consagrado na Carta das Nações Unidas, a
mudaram fundamentalmente as circunstâncias propósito, por insistência dos Estados Unidos.”xxv
para o exercício da minha função […] Em um Para Putin, o veto ao posicionamento dos demais
momento que precisamos – quando o povo sírio países do Conselho de Segurança signica não
precisa desesperadamente de ação – continuam repetir os mesmos erros ocorridos com
existindo acusações e xingamentos no Conselho intervenções passadas que, como no caso do
de Segurança […] Sem uma pressão Iraque, não garantiram a democracia anunciada.
internacional unida, significativa e séria, inclusive Segundo Putin:
dos poderes regionais, é impossível para mim ou
qualquer um, compelir o governo sírio, em Em geral, o que está acontecendo no mundo
primeiro lugar, e também a oposição, a tomar árabe é muito instrutivo. Acontecimentos
medidas necessárias para começar um processo mostraram que o desejo de introduzir a
político.xx democracia por métodos de força pode - e muitas
vezes leva – a um efeito completamente
Com a saída de Annan como mediador, um ano oposto.xxvi
após o início dos confrontos na Síria, a ONU
perde mais uma batalha na questão. Não apenas Desde março de 2011, cerca de 36 mil pessoas
por ter perdido um “homem de grandes já morreram na Síria.xxvii Esse dado deteriora cada

Edição n.3, v.1 50 ISSN 2179-6165


Artigos
vez mais a situação política no país, fazendo com (principalmente o Realismo e o Neo-Realismoxxx),
que o argumento russo de não intervenção torne- que tendem apenas a ajustar o modelo estrutural
se cada vez mais difícil.xxviii No entanto, até agora já existente.
não pôde ser observada nenhuma tentativa de Para Cox, Problem-solving Theory - ou Teoria
romper os discursos e intervir passando por cima de Resolução de Problemas - tende a corrigir as
dos interesses particulares. disfunções do sistema, analisando os problemas
separados do contexto total. Em seu trabalho
3. TEORIA CRÍTICA x TEORIA DE Social Forces, States and World Orders: Beyond
RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS International Relations Theory, Robert Cox
estabelece a distinção entre Teoria Crítica e,
Para explicar o caso concreto – questão síria principalmente, entre a corrente Realista e sua
aqui levantada –, buscou-se estabelecer contato versão mais recente, o Neo-Realismo. Para ele, a
com uma corrente teórica pouco debatida no meio Teoria da Resolução de Problemas seria um guia
acadêmico, principalmente no meio acadêmico para ajudar a resolver os problemas colocados
brasileiro. A Teoria Crítica, aqui aplicada, aparece dentro dos termos da perspectiva particular. Seu
como uma corrente teórica de possibilidades, objetivo geral é fazer com que as instituições de
frente à imobilidade teórica das Relações dominação existentes funcionem sem problemas
Internacionais (RI). Sua abordagem é por meio do enfoque fechado da origem de
comumente vista com maus olhos pelas demais problemas especícos (COX, 1981, p. 129). Cox
correntes teóricas que não se interessam por uma segue:
mudança normativa mais profunda. Portanto, “os
demais modos de pensamento censuram-se A teoria de resolução de problemas pode ser
como inadequados e incompreensíveis em seus representada, numa perspectiva mais ampla da
próprios termos (o que impede esclarecer, por teoria crítica, servindo determinados interesses
exemplo, o surgimento de um fenômeno como o nacionais, setoriais, ou de classes confortáveis
fundamentalismo islâmico, em assuntos dentro da ordem dada. Na verdade, o objetivo da
internacionais)” (COX, 1981, p. 132). “Uma teoria teoria de resolução de problemas é conservador,
sempre serve a alguém e a algum propósito” uma vez que tem como meta resolver problemas
(COX, 1981, p. 128), portanto todas as lentes até surgidos em várias partes de um conjunto
agora usadas nas RI tiveram um propósito: a complexo, de modo a suavizar o funcionamento
manutenção de uma ordem sistêmica que prevê do conjunto. (COX, 1981, p. 129)xxxi
poucas possibilidades de modicação integral.
Cox, e a própria Teoria Crítica, trazem essa A crítica de Cox à Teoria de Resolução de
possibilidade, abrindo uma nova janela ao Problemas dá-sexxxii, pois, defende a ideia que
pensamento das RI's, dentro de um cenário pré- tanto as relações sociais quanto as políticas não
estabelecido. são estáticas; elas permanecem em contínuo
Quando abordamos uma teoria, podemos, processo de mudança. Percebe-se aqui a função
dentre outras possibilidades, saber se ela tem do historicismo (e da própria dialética), muito
como objetivo manter a ordem existente ou mudá- considerado em suas análises.
la. Robert Cox vai abordar esse tema, Para avaliar as esferas humanas particulares
identicando os problemas das demais teorias em dentro de um processo histórico, Cox sugere a
realizar ajustes à ordem já estabelecida, e abrir o adoção de métodos das estruturas históricas, no
diálogo com a Teoria Crítica, fugindo do qual são investigadas três esferas sociais de
convencional teórico de manutenção do status atividades: as forças sociais, construídas pelo
quoxxix existente. Para isso, vai distinguir a Teoria processo de produção; a forma de Estado,
Crítica, fundada na tentativa de modicação de derivada do estudo dos complexos sociais e
ordens que tendem à dominação, e a teoria de estatais; e as ordens mundiais, que são as
resolução de problemas, que poderia ser congurações de forças que continuamente
entendida como sendo as demais teorias das RI's denem as relações de paz e guerra entre os

Edição n.3, v.1 51 ISSN 2179-6165


Artigos
Estados. Essas três esferas seriam inter- em um sistema que encontra-se em constante
relacionadas à medida que, por exemplo, as modicação.
mudanças na forma de produção gerariam novas
forças sociais que, por sua vez, modicariam as 4. DA TEORIA PARA O CONSELHO DE
estruturas do Estado e levariam a alterações das SEGURANÇA
ordens mundiais. (SARFATI, 2005, p. 254)
Modicação talvez seja, epistemologicamente, Robert Cox foi bem sucedido ao trazer para o
a própria centralidade da teoria crítica. A teoria campo das Relações Internacionais os conceitos
alocaria o cerne da possibilidade de alteração de gramscianos. Bem sucedido, pois Antonio
um sistema pré-concebido, tendo a Gramsci desenvolveu seu pensamento para
funcionalidade de aproximar a realidade à questões internas do Estado. Suas concepções
modicação. “A teoria crítica é dirigida ao elaboradas sobretudo em Cadernos do Cárcere
complexo social e politico como um todo e não estão muito ligadas ao momento histórico por ele
para as partes separadas” (COX, 1981, p. 129). vivido, momento de ascensão de Mussolini na
Irá questionar não apenas a ordem atual Itália, onde é preso (1926 a 1937) e começa a
existente, como também seu surgimento e como desenvolver suas premissas teóricas. Cox, ao ler
se dá a sua manutenção. Esse questionamento é Gramsci, usa conceitos que se adaptaram muito
imprescindível dado o alinhamento das demais bem para explicar a ordem predominante em
teorias com o processo de formação e de determinados momentos históricos, podendo
manutenção do sistema internacional. Assim assim trazer Gramsci para a atualidade do
segue: pensamento das Relações Internacionais
(MEZZAROBA, 2005, p. 9).
A teoria crítica, é claro, não é indiferente com os Talvez, o conceito mais importante dentre os
problemas do mundo real. Os seus objetivos são usados por Cox, seja o de hegemonia. Este
tão práticos quanto os da teoria de resolução de conceito possui uma pluralidade de análises que,
problemas, mas aborda a prática de uma por si só, já bastariam para atualizar o
perspectiva que transcende a da ordem existente pensamento das RI. Ao considerar a sociedade
que a teoria de resolução de problemas toma civil e política como entes modicadores e de
como ponto de partida. (COX, 1981, p. 130)xxxiii manutenção da ordem, introduz uma
representatividade importante que perpassa a
Robert Cox deixa claro em seus estudos a importância do núcleo duro do Estado e das
necessidade de se estabelecer a aplicabilidade relações de poder, principalmente de vertente
da teoria com o campo das relações Realista. Cox não desconsidera o Estado, pelo
internacionais, uma vez que,trabalhar com contrário, para ele o Estado continua sendo o
diversas alternativas tenderiam a deixar a teoria principal ator das Relações Internacionais.
utópica. Porém, apesar de reconhecer esse Cintudo, tem como ponto principal de sua análise
elemento de utopia, vai além, explicando que a as relações sociais e políticas da formação dos
utopia de sua teoria pode ser representada como Estados e da participação desses no cenário
uma imagem coerente de uma ordem alternativa, internacional.
condicionada à compreensão dos processos A concepção de hegemonia que Cox trabalha é
históricos, a m de propor as modicações derivada da concepção gramsciana de
necessárias para a formação de um novo bloco hegemonia. Desta forma, pode-se dizer que
histórico.xxxiv hegemonia signica conhecimento além de ação
Portanto, o primeiro passo para distinguirmos a e, por isso, é a conquista de um novo nível
teoria crítica das demais teorias usadas nas RI é cultural, a descoberta de coisas que não se
diferenciar a teoria crítica, fundada numa conhecia. (MEZZAROBA, 2005, p. 9). A
possibilidade de modicação que mesmo hoje hegemonia no sentido gramsciano está ligada
torna-se cada vez mais atual, de um apanhado também às questões de poder, à dispersão social
teórico que funcionou como alternativa de reparo de um pensamento hegemônico legítimo.

Edição n.3, v.1 52 ISSN 2179-6165


Artigos
Vinculada às ações derivadas desse sucesso das práticas das camadas sociais
pensamento, dará ao grupo dominante o real dominantes e da influência que elas exercem
poder hegemônico. Cita Mezzaroba: sobre outros estratos da sociedade por meio do
processo que Gramsci descreveu como uma
O grupo pode ficar hegemônico mesmo antes de revolução passiva. A hegemonia determina as
conquistar o poder, para isso basta que consiga ideias e, assim, circunscreve a ação. (COX, 2000,
difundir entre todos os seus membros a sua p. 194).
identidade político-cultural. Quando o grupo
passa a exercer o poder, ele se torna dominante, O Conselho de Segurança tem mecanismos
mas isso não basta, acima de tudo ele deve ser que tendem a disponibilizar momentaneamente a
dirigente. (MEZZAROBA, 2005, p. 9) participação de outros Estados no seu núcleo de
decisão. Para tanto, possui os membros rotativos.
Cox, transpõe essa ideia para o nível Estes são eleitos para um mandato de dois anos
internacional e inclui as instituições para legitimar como membros rotativos, participando do dia-a-
o pensamento gramsciano no cenário dia da tomada de decisão do Conselho de
internacional. Cox deixa claro que o papel das Segurança. Entretanto, a força hegemônica se
Organizações Internacionais é fundamental para mostra como a grande ilusionista de um sistema
esse processo. As Organizações Internacionais que supostamente tenderia a ser democrático.
(OI) são mecanismos pelos quais as normas Com o poder de veto nas votações, os cinco
universais de hegemonia mundial são permanentes estabelecem de onde emana o real
expressadas. (MUNHOZ, 2005, p. 94) Para Cox, poder do Conselho de Segurança. Cox, mesmo
entre as características das OIs que expressam aceitando o fator de expressão da hegemonia
seu papel na hegemonia estão: pelas instituições, vai, em uma leitura atual,
considerar que os Estados menos poderosos,
[...] (i) elas incorporam regras que facilitam a também inuem nas relações interestatais.
expansão de ordens hegemônicas mundiais; (ii) Segundo Cox:
elas mesmas são um produto da ordem
hegemônica mundial; (iii) elas legitimam Eles têm um interesse coletivo em impor limites à
ideologicamente as normas da ordem mundial; atividade das grandes potências e estimulam
(iv) elas cooptam as elites de Estados periféricos; normas de conduta internacional anticoloniais e
e (v) elas absorvem ideias contra-hegemônicas. antiintervencionistas, favorecendo a
(COX, 1993, p. 62) redistribuição dos recursos mundiais. Mesmo
quando é uma vitima, o Estado pequeno enfatiza
As OI são as grandes responsáveis por mostrar a mudança da hegemonia para a dominância,
uma coesão de pensamento que tornam legítima minando as certezas morais, enfatizando a
qualquer ação perante o sistema. A cooptação de arbitrariedade e o desrespeito às regras. Basta
outras ideologias é fundamental para a lembrar como a crença hegemônica foi
manutenção dessa ordem, representada, por prejudicada nos casos do Vietnã, do Afeganistão,
exemplo, na participação de Estados que na de Granada, de Nicarágua, de El Salvador e do
maioria das vezes não têm expressão no cenário Panamá. (COX, 2000, p. 197-198).
internacional e se limitam a desempenhar o papel
de atores meramente representativos nessas Como já foi visto neste artigo, cou clara a
instituições. São imbuídos de coerção nanceira diculdade do Conselho de Segurança e de seus
e senso comum do bem estar ao participar destas membros permanentes em estabelecer um
organizações, sem se questionar sobre qual é o consenso sobre o que deve ser feito a respeito da
resultado de estar envolvido no processo. Cox questão síria. Posicionamentos geopolíticos e
segue: econômicos são fatores constantemente
consultados na análise de cada Estado envolvido
A hegemonia expande-se e é mantida pelo para a tomada de decisão. Diante disso,

Edição n.3, v.1 53 ISSN 2179-6165


Artigos
questionamentos começam a ser levantados exemplo, não vemos esforços dentre os membros
acerca de qual seria a legitimidade dos membros do Conselho de Segurança em discutir a
permanentes em deter a exclusividade da intervenção permeada pela questão dos Direitos
decisão sobre o que deve ser feito na Síria. Humanos em outros conitos como no Congo.xxxv
Ao longo do tempo, o Conselho de Segurança, Assim, Cox mostra que as OI's (ONU) são a
com premissas de manutenção da paz e Direitos expressão da hegemonia de sociedades que
Humanos, conseguiu disseminar a legitimidade possuem o amplo domínio cultural e de
que Cox – assim como Gramsci – considera pensamento que na maioria das vezes
necessária para o alcance da hegemonia. Para magnetizam outras sociedades a aceitar suas
isso, deve-se partir da centralidade estabelecida regras e viver seus ideais. A Teoria Crítica, tendo
pela hegemonia norte-americana que conseguiu, como característica ontológica o questionamento,
no pós Segunda Guerra Mundial, tornar seu irá questionar a ordem existente e essas
padrão social universal em diversas culturas, instituições - que são o resultado direto de uma
utilizando a ONU e o próprio Conselho de ampla cadeia de fatores hegemônicos, expressos
Segurança como ferramentas dessa expansão de em nível internacional.
pensamento até os dias de hoje.
5. CONCLUSÃO
[...] a união de poder, ideologia e instituições
constituiu a base da chamada pax americana Após analisarmos o contexto do conito na
(pós-1945), período caracterizado pela Síria, e as perspectivas teóricas da Teoria Crítica,
hegemonia norte-americana. Dentro dessa aplicadas, principalmente, à condição de
concepção, não é possível entender a hegemonia dominância estabelecida pelo Conselho de
apenas em termos de domínio militar e Segurança na tomada de decisões, algumas
econômico, como sugerem as teorias condições puderam ser observadas.
realistas/neo-realistas. No caso especifico da pax A primeira delas é que existe um consenso
americana, teria sido central a internalização do gerado pós-Segunda Guerra Mundial, em que o
Estado, ou seja, as forças materiais norte- melhor caminho para a resolução de conitos e
americanas atreladas à ideologia do livre- problemas do sistema internacional passa
comércio levaram a uma institucionalização do inevitavelmente pelo Conselho de Segurança.
ideário norte-americano, principalmente pela Esse consenso, pelo que se percebe, foi criado
constituição de instituições como o Fundo com a ajuda norte-americana que
Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e intersubjetivamente, ou seja, com noções
ex-GATT em termos econômicos, e a OTAN, no compartilhadas socialmente sobre as relações
caso da segurança internacional. Ou seja, a sociais que tendem a se perpetuar na forma de
internacionalização da política norte-americana hábitos e expectativas de comportamento,
construiu uma forte noção de obrigação inuíram na criação desse consenso x x x v i .
internacional que desde o final da Segunda Outrossim, o Conselho de Segurança hoje é uma
Guerra Mundial tornou-se parte do DNA do ferramenta ou, como diria Gramsci, um aparelho
governo norte-americano. (SARFATI, 2005, p. privado de hegemonia, pois pressupõe de seus
255) membros uma adesão voluntária, contratual, não
formando assim o que Gramsci chamou de
Termos como “guerra contra o terror”, por Estado-coerção.
exemplo, só foram abertamente discutidos A segunda condição percebida
mediante a inuência norte-americana. Até (empiricamente) é que o Conselho de Segurança
mesmo a questão síria, em que muito se falou da tornou-se uma ferramenta política para seus
intervenção permeada pela necessidade de membros permanentes e que, por esse motivo,
defesa dos Direitos Humanos, é percebida como sua capacidade de resolução pacíca de conitos
fator maleável às necessidades dominantes (de encontra-se comprometida. Foi observado que,
uma elite internacional). Da mesma forma, por quando se trata de resolução de conitos,

Edição n.3, v.1 54 ISSN 2179-6165


Artigos
principalmente quando o que está em jogo são
resoluções para ingerência externa em um BEDIN, Gilmar Antonio. A Sociedade
Estado, o fator político envolvido condiciona seus Internacional e o Século XXI: Em busca da
membros a rever todas as condicionantes, para construção de uma ordem mundial justa e
que essas não destoem de seus interesses solidária. Ijuí: UNIJUÍ, 2001.
econômicos, políticos, geopolíticos, alianças e COX, Robert W. (1995a), “Critical Political
etc. Economy”, in B. Hettne (org.), International
Assim, no caso sírio, percebe-se que o Political Economy: Underglobal Disorder. Nova
impasse estabelecido dentro do Conselho de Scotia: Fernwood Books.
Segurança não é meramente condicionado à _______. [1981] (1995b), “Social Forces, States
resolução do problema, mas consiste na disputa and World Orders: Beyond Inter- national
de poder, principalmente no que tange à Relations Theory”, in R. W. Cox e T. Sinclair,
manutenção do status quo do poder de cada um Approaches to World Order. Cambridge:
de seus membros permanentes. Cambridge University Press.
Por m, percebe-se que a aplicação de um _______. [1995] (2000), “Rumo a uma Con-
conjunto de teorias construídas para o “conserto” ceituação Pós-hegemônica da Ordem Mundial:
de certos problemas do sistema internacional não Reexões sobre a Relevância de Ibn Kaldun”, in J.
possibilita, no campo das Relações N. Rosenau e E-O Czempiel (orgs.), Governança
Internacionais, um pensar que modique sem Governo: Ordem e Transformação na
signicativamente a estrutura das relações Política Mundial. Brasília: Editora da UnB.
internacionais, tão somente uma parte C A R N E VA L I , G i o r g i o . A t e o r i a p o l í t i c a
problemática limitada por um período histórico internacional em Gramsci, in Orides Mezzaroba
fechado. Durante o processo de abordagem feito (org), Gramsci: Estado e Relações Internacionais.
sobre a Teoria Crítica para a aplicação no caso, foi Florianópolis: Fundação Boiteux, 2005.
percebido o quão importante é o COUTINHO, Carlos Nelson. Gramsci: um estudo
dimensionamento dado aos outros fatores sobre seu pensamento político. Rio de Janeiro:
levantados por essa teoria. A esses fatores deve- Civilização Brasileira, 1999.
se principalmente a abordagem de Robert Cox CHAUÍ, Marilena De Sousa. O Que é Ideologia.
que desconstrói, a partir dos conceitos São Paulo: Abril Cultural/Brasiliense, 1984.
gramscianos, a velha estrutura de poder Disponível em: http://pendientedemigracion.
condicionada pela Teoria Realista/Neo-Realista ucm.es/info/nomadas/12/wsoares.pdf acessado
que tende, como produto teórico das escolas em: 21/11/12
europeias e norte-americana, conceber o sistema GRAMSCI, Antonio. Cadernos do Cárcere (vol.
internacional como sendo único, 2). São Paulo: Editora Civilização Brasileira, 2000
desconsiderando, por exemplo, o contexto GRUPPI, Luciano. O Conceito de Hegemonia em
histórico das relações internacionais.xxxvii Gramsci. 3˚ Edição. Rio de Janeiro: Graal, 1991.
Não se busca com isso creditar à Teoria Critica NOGUEIRA J.P; MESSARI, N. Teoria das
uma superioridade de análise das Relações Relações Internacionais. Rio de Janeiro:
Internacionais. Como cita Cox, sempre há um Campus, 2005.
propósito na concepção de uma teoria e MEZZAROBA, Orides. Gramsci e a hegemonia.
provavelmente a Teoria Critica não foge também In: MEZZAROBA, Orides (org). Gramsci: Estado
dessa regra. No entanto, ao reconstruir a e Relações Internacionais. Florianópolis:
realidade sobre outra perspectiva, insere-se nas Fundação Boiteux, 2005. p. 7-27.
Relações Internacionais uma outra possibilidade, MUNHOZ, Carolina Pancotto Bohrer. Hegemonia
um outro caminho, garantindo ao observador uma e reforma do Conselho de Segurança da ONU. In:
outra lente para a análise das relações MEZZAROBA, Orides (org). Gramsci: Estado e
internacionais contemporâneas. Relações Internacionais. Florianópolis: Fundação
Boiteux, 2005. p. 79-121.
BIBLIOGRAFIA REBELATTO, Arthur Galli. A atuação da ONU nos

Edição n.3, v.1 55 ISSN 2179-6165


Artigos
conitos em Darfur (2003 a jul/2007): uma 2012
abordagem crítica. 2011. 32 páginas. Trabalho de vi Disponível em: <http://educacao.uol.com.br/

Conclusão de Curso. Relações Internacionais. disciplinas/atualidades/crise-na-siria-atentado-


UNIVALI. Balneário Camboriú aumenta-tensao-em-damasco.htm> Acessado
SARFATI, Gilberto. Teoria das Relações em: 03 set. 2012
Internacionais. São Paulo: Saraiva, 2006. viiDisponível em:<http://www1.folha.uol.com.br/
SILVA, Marco Antonio de Meneses, Teoria Crítica mundo/1182277-fui-feito-para-viver-e-morrer-na-
em Relações Internacionais. Disponível em: siria-diz-ditador.shtml> Acessado em: 07 set.
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010285292 2012
005000200001&script=sci_abstract&tlng=pt viiiDisponível em: <http://www.cartamaior.com.br/
Acessado em: 05/12/2012 templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=1968
VINSETINI, P.F; PEREIRA, A.D. História Mundial 0> Acessado em: 10 set. 2012
Contemporânea (1776-1991): Da independência ixDisponível em:<http://operamundi.uol.com.br/
dos Estados Unidos ao Colapso da União conteudo/noticias/24092/conito+na+siria+e+qu
Soviética. 3˚ Edição. Brasília: Fundação ase+impossivel+de+ser+resolvido+admite+envi
Alexandre de Gusmão, 2012. ado+especial+da+onu.shtml> Acessado em: 27
set. 2012
______________________________________ xDisponível em: <http://operamundi.uol.com.br/

iGraduando conteudo/noticias/19250/russia+impedira+que+c
do Curso de Relações Internacionais
pela UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí – onselho+de+seguranca+aprove+intervencao+na
SC. E-mail: luisrea@me.com. +siria.shtml> Acessado em: 28 set. 2012
xiO Conselho de Segurança é o órgão da ONU
iiDepois da II Guerra Mundial, que devastou
responsável pela paz e segurança internacionais.
dezenas de países e tomou a vida de milhares de
Ele é formado por 15 membros: cinco
seres humanos, existia na comunidade
permanentes, que possuem o direito a veto –
internacional um sentimento generalizado de que
Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e
era necessário encontrar uma forma de manter a China – e dez membros não permanentes, eleitos
paz entre os países. Disponível em: pela Assembleia Geral por dois anos. Este é o
<http://www.onu.org.br/conheca-a-onu/a- único órgão da ONU que tem poder decisório, isto
historia-da-organizacao> Acessado em 04 dez. é, todos os membros das Nações Unidas devem
2012. aceitar e cumprir as decisões do Conselho.
iiiBuscou-se a visão de Robert W. Cox neste
Disponível em: http://www.onu.org.br/conheca-a-
trabalho, pois o presente artigo é resultado de um onu/como-funciona/ acessado em: 04/10/2012
trabalho de Laboratório de Análise de Relações x i i Disponível em: <http://www.bbc.co.uk/
Internacionais (LARI) em conjunto com a portuguese/ultimas_noticias/2012/05/120531_cli
aplicação da Teoria das Relações Internacionais, nton_russia_siria_rn_rc.shtml> Acessado em: 04
em que se foi trabalhado o supracitado autor. Não out. 2012
se desconsidera com isso a existência de outros xiiiDisponível em: <http://noticias.bol.uol.com.br/
autores que abordam a visão da Teoria Crítica das internacional/2012/07/06/eua-pedem-resolucao-
Relações Internacionais. da-onu-sobre-transicao-na-siria-com-ameacas-
i v Disponível em: <http://noticias.r7.com/
de-sancoes.jhtm> Acessado em: 04 out. 2012
internacional/noticias/um-ano-apos-inicio-da- xivTradução nossa, do original: He has missed
primavera-arabe-novos-lideres-se-dividem- opportunity after opportunity to present a genuine
entre-islamismo-radical-e-moderado- reform agenda. And that's why we've been
20111218.html> Acessado em: 28 ago. 2012 working at an international level to make sure we
vDisponível em: <http://www.viomundo.com.br/
keep the pressure up. Disponível em :
politica/vladimir-safatle-a-primavera-arabe-e-a- <http://www.nytimes.com/2011/07/13/world/midd
indignacao-seletiva.html> Acessado em: 25 ago. leeast/13policy.html?pagewanted=all> Acessado

Edição n.3, v.1 56 ISSN 2179-6165


Artigos
em: 04 out. 2012 adicionais-em-ajuda-para-a-siria> Acessado em:
xv Disponível em: http://www.diariodarussia. 10 dez. 2012
xxvDisponível em: <http://mn.ru/politics/
com.br/internacional/noticias/2012/06/07/russia-
e-china-mantem-posicao-sobre-a-questao- 20120227/312306749.html> Acessado em: 10
siria/> Acessado em: 04 out. 2012 dez. 2012
xvi Disponível em: <http://www.diariodarussia. x x v i Disponível em: <http://mn.ru/politics/

com.br/internacional/noticias/2012/03/14/russia- 20120227/312306749.html> Acessado em: 10


rearma-o-direito-de-soberania-do-governo-da- dez. 2012
xxviiDisponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/
siria/> Acessado em: 04 out. 2012
xviiDisponível em: <http://unic.un.org/imucms/rio- mundo/1178660-ong-eleva-numero-de-mortos-
de-janeiro/64/35/o-secretario-geral.aspx> na-siria-para-36-mil.shtml> Acessado em: 11 dez.
Acessado em: 04 out. 2012 2012
xviiiDisponível em: <http://operamundi.uol.com.br/ xxviiiSegundo dados do Alto Comissariado das

conteudo/noticias/20399/ko+annan+condena+p Nações Unidas para Direitos Humanos, estima-


ossivel+intervencao+militar+na+siria.shtml> se que o número de mortos hoje é de 70 mil
Acessado em: 04 out. 2012 pessoas. A estimativa é que mais de 4 milhões de
x i x Disponível em: <http://www.onu.org.br/ pessoas necessitem de assistência humanitária
conheca-a-onu/como-funciona/> Acessado em: urgente, incluindo mais de 2 milhões de
05 out. 2012 deslocados internos. Até 18 de fevereiro, o
xxTradução nossa, do original: The increasing número de refugiados sírios no Egito, Iraque,
militarization on the ground and the clear lack of Jordânia, Líbano e Turquia já superava os 857 mil.
unity in the Security Council, have fundamentally Se o uxo de refugiados se mantiver, a previsão é
changed the circumstances for the effective que cheguem a 1,1 milhão até junho. Disponível
exercise of my role […] At a time when we need – em: <http://www.onu.org.br/siria/> Acessado em:
when the Syrian people desperately need action – 19 abr. 2013
xxix[...] idéia de que o mundo é como é em razão da
there continues to be finger-pointing and name-
calling in the security council […] Without serious, ordem natural das coisas. (CHAUÍ, 1984)
xxx “Essa contemporaneidade, em parte, das
purposeful and united international pressure,
including from the powers of the region, it is concepções realistas do paradigma realista, foi,
impossible for me, or anyone, to compel the justamente, o fato que impulsionou alguns
Syrian government in the first place, and also the autores, como GILPIN e WALTZ, a buscarem
opposition, to take the steps necessary to begin a atualizar os principais pressupostos realistas, em
political process. Disponível em: um movimento chamado neo-realismo político.
<www.un.org/apps/news/infocus/Syria/press.asp Esses autores neo-realistas iniciam a sua
?sID=41> Acessado em: 07 out. 2012 contribuição ao estudos das relações
xxiDisponível em: <http://www.estadao.com.br/ internacionais nos anos setenta, numa clara
noticias/internacional,vladimir-putin-considera- tentativa de conferir à teoria clássica do realismo
renuncia-de-annan-uma-grande- um tratamento mais sistemático e rigoroso, que
perda,909977,0.htm> Acessado em: 10 out. 2012 até então não possuía. Assim, sem abrir mão dos
xxii Disponível em: <http://gazetarussa.com.br/ pressupostos do realismo, esses autores neo-
articles/2012/10/02/crise_siria_e_um_teste_para realistas buscaram ultrapassar a visão intuitiva e
_a_onu_15815.html> Acessado em: 10 out. 2012 histórica e, numa certa medida simplista,
xxiiiDisponível em: <http://blogs.estadao.com.br/ comumente atribuída às ideias realistas.”
gustavo-chacra/entenda-a-disputa-sobre-a-siria- (BEDIN, 2001, p. 261).
xxxiTradução nossa. Do original: Problem-solving
no-conselho-de-seguranca/> Acessado em: 10
dez. 2012 theories can be represented, in the broader
xxiv Disponível em: <http://exame.abril.com.br/ perspective of critical theory, as serving particular
mundo/noticias/eua-anunciam-us-45-milhoes- national, sectional, or class interests, which are

Edição n.3, v.1 57 ISSN 2179-6165


Artigos
confortable within the given order. Indeed, the em nível internacional sobre a legitimidade destas
purpose served by problem-solving theory is intervenções ou sobre a partir de que momento
conservative, since it aims to solve the problems criou-se o consenso sobre a necessidade de tais
arising in various parts of a complex whole in order intervenções e seus métodos intervencionistas.
to smooth the functioning of the whole. “A frequência de lançamento das missões,
xxxii“Após tantos anos de esforço para formular contudo, difere de toda a história anterior e
métodos cientícos neutros, encontramos um mantém paridade com os anos 1990. No mesmo
autor que arma abertamente que “toda teoria é período, o número de novas operações da OTAN
para algo e para alguém, ou seja, toda teoria é também cresceu, e entre os anos 2000 e 2008
interessada em um estado de coisas, seja ele atingiu um total ligeiramente maior que o
político, econômico ou social. Assim como registrado para a ONU no mesmo período. Mais
zeram os membros da Escola de Frankfurt, Cox do que isso, a atuação independente por parte da
defende a ideia de que toda teoria é relativa aos OTAN em escala global e o recurso direto à OTAN
seu tempo e lugar e, portanto, não pode ser por parte de membros da ONU representam
transformada em um modelo absoluto, aplicável precedentes importantes.” Disponível em:
universalmente, como se não estivesse <http://dx.doi.org/10.1590/S0102-
85292010000100003> Acessado em: 19 abr.
associada a certo contexto histórico e politico. As
2013
teorias tem sempre uma perspectiva, um olhar xxviiCabe ressaltar que a Escola Inglesa das
engajado com a realidade sobre a qual está
Relações Internacionais, destacadamente
reetindo, sendo inuenciada e inuenciando tal
representada por Martin Wight e Hedley Bull, já
realidade.” (NOGUEIRA, J.P; MESSARI, N. 2005,
preconizava, durante a década de 60 e 70, a
p. 139)
xxxiiiTradução nossa. Do original: Critical theory is, análise do apanhado histórico, principalmente na
modicação do marco teórico normativo. Sua
of course, not unconcerned with the problems of
diferenciação para a Teoria Crítica, é que esta
the real world. Its aims are just as practical as
ultima, realiza sua análise à luz dos conceitos
those of problem-solving theory, but it approaches
marxistas/gramscianos.
practice from a perspective which transcends that
of the existing order, which problem-solving theory
takes as its starting point.
xxxiv “A hegemonia gramsciana se materializa

precisamente na criação dessa vontade coletiva,


motor de um “bloco histórico” que articula numa
totalidade diferentes grupos sociais, todos eles
capazes de operar, em maior ou menor medida, o
movimento “catártico” de superação de seus
interesses meramente “econômico-corporativos”,
no sentido da criação de uma consciência “ético-
política”, universalizadora”. (COUTINHO, 2009,
p. 251
xxxvO Congo na atualidade, vive uma das mais

sangrentas guerras civis do continente Africano.


Disponível em: <http://www.ihu.unisinos.br/
noticias/516127-conito-no-congo-e-ignorado-
pelo-mundo>. Acessado em: 11 dez. 2012.
xxxviÉ notável o número crescente de

intervenções, tidas como humanitárias,


realizadas pela OTAN (Organização do Atlântico
Norte), sem que exista um maior questionamento

Edição n.3, v.1 58 ISSN 2179-6165

Você também pode gostar