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ESCOAMENTO DE LÍQUIDOS E GASES

EM DUTOS

Curso de Extensão para a

Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul - SULGÁS

Prof. Sidney Stuckenbruck, Ph.D

Porto Alegre
13-14 de Abril de 2012
ESCOAMENTO DE LÍQUIDOS E GASES
EM DUTOS

Curso de Extensão para a

Companhia de Gás do Estado do Rio Grande do Sul - SULGÁS

Prof. Sidney Stuckenbruck, Ph.D


olympus@terenet.com.br

Porto Alegre

13-14 de Abril de 2012


INTRODUÇÃO AO ESCOAMENTO DE
LÍQUIDOS E GASES EM DUTOS
1
Sidney Stuckenbruck

OBJETIVOS DESTA APRESENTAÇÃO

! Introduzir alguns conceitos básicos de mecânica fluidos, termodinâmica


e transferência de calor aplicados ao escoamento de líquidos e gases em dutos.

! Introduzir princípios físicos fundamentais do escoamento viscoso


incompressível e compressível em dutos.

! Breve análise de sistemas envolvendo o escoamento em dutos.

! Aperfeiçoar capacitação para operação e projeto de instalações industriais.

1
PUC-Rio e Olympus Software Científico e Engenharia, olympus@terenet.com.br,
Cel: (21) 9871-2626.
CONCEITOS FUNDAMENTAIS

A ciência da mecânica dos fluidos envolve a compreensão dos seguintes tópicos:


! Propriedades de fluidos
! Aplicações das leis básicas da mecânica
! Aplicações das leis da termodinâmica
! Análises de experimentos

Dimensões e Unidades
Dimensão é a medida pela qual uma variável física é expressa quantitativamente.
Unidade é a forma particular de atribuir um número à dimensão. Portanto, comprimento
é uma dimensão associada com variáveis tais como diâmetro, comprimento e espessura,
enquanto metro e milímetro são unidades numéricas para expressar comprimento.
Em mecânica dos fluidos, utilizam-se somente quatro dimensões primárias, das
quais todas as outras podem ser derivadas. Essas dimensões e suas unidades estão
indicadas na Tabela 1 para o Sistema Internacional (Sistème International d’Unités), SI,
e Britânico (British Gravitational Units), BG. Todas as outras variáveis podem ser
expressas em termos de {M}, {L}, {T} e { 2}. Por exemplo, a dimensão de força é obtida
a partir da segunda lei de Newton,

(1)

Logo, {F}= {MLT -2 }. Portanto, definimos a unidade de força (newton) como,

(2)

Tabela 1: Dimensões primárias e unidades nos sistemas SI e BG

Dimensão primária Unidade SI Unidade BG Fator de conversão

massa {M} kilograma (kg) slug 1 slug= 14,5939 kg

comprimento {L} metro {m} pé {ft} 1 ft= 0,3048 m

tempo {T} segundo {s} segundo {s} 1 s= 1 s

temperatura {2} Kelvin {K} Rankine {ºR} 1K = 1,8 ºR


Fluido
Fluido é uma substância que se deforma continuamente quando sujeito a uma
tensão cisalhante, não importando quão pequena seja. Uma força cisalhante é a
componente da força, atuando tangencialmente a uma superfície. Na Fig. 1 uma substância
é colocada entre duas longas placas paralelas e próximas uma da outra. A placa inferior
é fixa enquanto uma força F é aplicada na placa superior. Quando a força causa o
deslocamento da placa superior conclui-se que a substância entre as placas é um fluido.
A experiência mostra que o fluido em contato imediato com as placas mantém a
velocidade deslas. Experimentos indicam que, mantidas outras quantidades constantes, a
tensão cisalhante J é diretamente proporcional ao gradiente de velocidade transversal, ou
seja, à taxa de deformação angular do fluido,

Figura 1: Distribuição de velocidade entre placas paralelas

(3)

A constante de proporcionalidade : é denominada viscosidade absoluta do fluido, e a


Eq. (3), a lei de Newton para a viscosidade.

Viscosidade
Em muitos problemas de escoamento a razão entre a viscosidade absoluta e a massa
específica : /D é encontrada, sendo definida como viscosidade cinemática <,

(4)
A viscosidade de fluidos Newtonianos é uma propriedade termodinâmica, variando
com a pressão e temperatura. A Tabela 2 relaciona a viscosidade e a densidade de alguns
fluidos, podendo sua dimensão ser obtida da equação de Newton (3). A Fig. 2 mostra a
viscosidade de alguns fluidos com a temperatura. No Sistema Internacional tem-se,

(5)

Ou seja, a unidade para a viscosidade dinâmica em SI é Pascal segundo, Pa-s.


Na prática da engenharia é ainda comum utilizar o antigo sistema de unidades cgs
(centímetro-grama-segundo) para a viscosidade, definida em poise (1 poise = 1 g/cm-s).
Por se tratar de um número relativamente grande, é usual utilizar a unidade derivada
centipoise, cp (1 cp = 0,01 poise). De forma similar, a unidade para a viscosidade
cinemática é denominada stoke, (1 stoke = 1 cm 2 /s = 10 -6 m 2 /s). Aqui também é freqüente
a utilização da unidade derivada centistoke, cSt (1 cSt= 0,01 stoke).

Tabela 2 Viscosidade e densidade de alguns fluidos (p= p atm ,; T= 20ºC)


: < D
Fluido kg/(m-s) cp m2/s cSt kg/m3
Hidrogênio 8,90×10-6 0,0089 1,06×10-4 106 0,084
Ar 1,80×10-5 0,0180 1,51×10-5 15,1 1,204
Metano 1,03×10-5 0,0103 1,44×10-5 14,4 0,716
Etano 0,93×10-5 0,0093 0,68×10-5 6,8 1,356
Propano 0,76×10-5 0,0076 0,38×10-5 3,8 2,019
Gasolina 2,90×10-4 0,29 4,27×10-7 0,427 680
Querosene 1,82×10-3 1,82 2,25×10-6 2,25 810
Água 1,0×10-3 1,0 1,01×10-6 1,0 998,2
Etanol (Álcool Etílico) 1,2×10-3 1,2 1,52×10-6 1 789
Etileno Glicol 2,04×10-3 2 1,83×10-6 1 1.115
Mercúrio 1,5×10-3 1,5 1,16×10-7 0,116 13.540
Óleo SAE 30 0,26 260 2,79×10-4 279 933
Glicerina 1,5 1500 1,19×10-3 1190 1.263
* 1 cp = 10 -3 kg/(m-s) = 10 -3 Pa-s = 10 -3 N-s/m 2 ; 1 cSt = 10 -6 m 2 /s
Figura 2: Viscosidade dinâmica em função da temperatura para alguns fluidos .
Velocidade e Aceleração
A solução de problemas em mecânica dos fluidos envolve a determinação de
variáveis e propriedades do fluido em função da posição e do tempo. Ao contrário da
mecânica dos sólidos, raramente existe interesse nas trajetórias individuais das partículas.
Determinar o campo de velocidade V(x,y,z,t) constitui um problema central da mecânica
dos fluidos. Em geral, a velocidade é uma função vetorial, com três componentes u, v, w
nas direções i, j, k do sistema de coordenadas, cada uma definida por um campo escalar,
função de x,y,z,t; i.e.,

(6)

Por outro lado, a aceleração é igualmente uma variável fundamental, uma vez que
está associada à força por meio da segunda lei de Newton. A aceleração é obtida da
derivada total da velocidade, Eq. (6),

(7)

Mas, o deslocamento local de uma partícula está relacionado com as componentes


da velocidade,

(8)

Combinando essas duas equações obtém-se,

(9)

O primeiro termo no lado direito é denominado aceleração local, que é nulo num
regime permanente. Os três últimos são chamados de aceleração convectiva, que aparece
quando a partícula desloca-se por uma região com velocidade variável, como num bocal
convergente.
Pode-se escrever a Eq. (9) numa forma compacta utilizando algumas propriedades
da análise vetorial. A aceleração convectiva pode ser escrita como o produto escalar da
velocidade V com o operador gradiente,
(10)

ou,

(11)

Observe que esta equação contém a expressão geral do operador para a derivada
temporal total,

(12)

Este operador pode ser aplicado a qualquer propriedade do fluido, seja um escalar
ou um vetor. Por exemplo, para a pressão tem-se,

(13)

Vazão Volumétrica e de Massa


A vazão volumétrica, Q, de um fluido passando por uma superfície (real ou
imaginária) no campo de escoamento, Fig. 3, é calculada pela expressão,

(14)

onde V é o vetor velocidade e n o vetor unitário, normal à superfície S. A vazão de massa


é obtida multiplicando o fluxo volumétrico pela massa específica, D, i.e.

(15)
Figura 2b: Variação de temperatura por um balão em ascensão
Figura 3: Velocidade através de uma superfície arbitrária.

Energia do Sistema
A energia de um sistema é composta de todas as formas comumente entendidas de
energia, tais como cinética, potencial e elétrica. Na maioria dos problemas de mecânica
dos fluidos, admite-se que energias devidas aos efeitos elétricos, magnéticos e de tensão
superficial, por exemplo, são desprezíveis. Desta forma, a energia total por unidade de
massa atuando num sistema fluido é usualmente composta de três partes: energia interna
(molecular), energia cinética e energia potencial, assim representada,

(16)

A energia interna û é função da pressão e temperatura para uma substância pura


simples, enquanto as energias cinética e potencial são propriedades cinemáticas.
Relações de Estado

Gases
Para temperaturas moderadas e baixas pressões, muitos gases obedecem a lei dos
gases perfeitos,

(17)

onde p é a pressão absoluta, T a temperatura absoluta, k a massa específica e R g = c p -


c v a constante do gás. Cada gás tem sua própria constante, igual à constante universal R * ,
dividida pela massa molecular do gás M g (g/mol ou kg/kmol)

(18)

onde R * = 8314,5 m 2 /(s 2- K) [8314,5 kJ/kmol-K] no sistema SI. Para o ar, por exemplo,
M ar= 28,97 kg/kmol, então R ar= 287 m 2 /(s2 -K). Assim, de (17), a massa específica do ar
nas condições padrão (p= p atm e T= 20º C) é

(19)

Para gases perfeitos, a energia interna é função somente da temperatura. Portanto,


também o é a entalpia, assim definida,

(20)

Logo, os calores específicos são também funções exclusivas da temperatura,

(21)

Um importante parâmetro no estudo de escoamento compressível é a razão entre


os dois calores específicos do gás, também denominado expoente isentrópico,
(22)

Gases a pressões moderadas para alta não se comportam como ideais e são
denominados gases reais. Nesses casos, a equação de estado é escrita incluindo-se o
fator de compressibilidade Z, que representa o desvio da idealidade do gás. Logo,

(23)

Z varia com a pressão e temperatura e pode ser medido e tabulado para cada gás, ou
deduzido teoricamente.

Líquidos
Líquidos são praticamente incompressíveis e apresentam um único, aproximadamente
constante, calor específico. Portanto, uma relação de estado idealizada para líquidos é

(24)

Nas condições padrão (p= p atm e T= 20º C), os valores para água: D= 998,2 kg/m 3
e c p = 4180 J/kg-K. A massa específica de líquidos decresce ligeiramente com a
temperatura, crescendo moderadamente com a pressão.

Densidade Relativa
Outra variável freqüentemente utilizada em engenharia é a densidade relativa, (, que é a
razão da massa específica do líquido para a massa específica da água (no caso de líquidos)
nas condições padrão. Gases utilizam o ar como referência para cálculo da densidade
relativa. Na indústria de petróleo, é comum expressar a densidade relativa do óleo, (o, em
termos do grau API (American Petroleum Institute) pela fórmula,

(25)
Por exemplo, um óleo API 32 possui uma densidade (o =141,5/(131,5+32)= 0,865
(portanto, massa específica Do= 0,865×998,2 = 863,4 kg/m 3 .

FUNDAMENTOS DE MECÂNICA DOS FLUIDOS

Distribuição de Pressão Hidrostática


Se o fluido encontra-se estacionário, ou com velocidade constante referida a um
referencial, então a condição de equilíbrio de forças reduz-se à distribuição hidrostática,

(26)

A Fig. 4 mostra um sistema de coordenadas para representar a distribuição de


pressão num meio líquido estacionário. Neste caso, utiliza-se a coordenada-z apontando
para cima da superfície terrestre, portanto, contra a ação da gravidade, e origem na
interface gás-líquido. As coordenadas x e y encontram-se num plano paralelo à interface.
Pode-se escrever para o vetor g,

(27)

onde g é o valor da gravidade local. Desta form a obtém-se as seguintes equações para a
pressão,

(28)

As duas primeiras indicam que p é independente de x e y (plano paralelo à


superfície livre). Portanto, a distribuição de pressão é dada pela integral da terceira
equação, ou

(29)
Figura 4: Coordenada para distribuição de pressão num fluido.

Esta é a solução de um problema hidrostático. Gases e líquidos são, em geral,


tratados diferentemente devido ao comportamento diferenciado da massa específica com
a pressão. Pode-se concluir da condição hidrostática que a pressão num fluido contínuo
e uniformemente distribuído varia somente com a distância vertical, sendo independente
da forma do reservatório. A pressão é a mesma em todos os pontos localizados num plano
horizontal no fluido, aumentando com a profundidade.

Exemplo 1 A lâmina d’água num ponto da Bacia de Campos é de 1850m. Admitindo massa
específica média de 1032 kg/m3 para a água na região, estimar a pressão no fundo do mar em
Pascal e psi.
Solução: Para g= 9,7876 m/s2 (cf. Observatório Nacional, http://www.on.br), da Eq. (29),

Sistema e Volume de Controle


Sistema é aqui definido como uma quantidade fixa de matéria. Em outras
palavras, um sistema representa uma certa quantidade de substância composta das mesmas
moléculas, não importando como estas se movimentam no espaço.
As leis da mecânica clássica são escritas para sistemas. Dentre aquelas
necessárias para resolver problemas comuns, envolvendo transferência de energia através
de fluidos, destacam-se as leis de conservação de massa, de quantidade de movimento
linear e de energia.
Para um grande número de problemas de escoamento, especialmente em dutos, é
conveniente escrever as equações fundamentais de conservação para uma certa região nas
vizinhanças do objeto ou equipamento em estudo. Este ponto de vista do analista (ou
projetista) sugere a necessidade de uma análise para um volume de controle. A
transformação de referências é possível através de uma fórmula de conversão de sistema
para volume de controle. A fórmula difere ligeiramente, dependendo se o volume de
controle é fixo, deformável ou se encontra em movimento.
A Fig. 5 ilustra essas três situações. O volume de controle fixo mostrado na Fig. 5a
envolve uma região estacionária de um bocal. Destaque-se que a superfície de controle é
um conceito abstrato que não intercepta o escoamento de forma alguma. No caso
particular, o volume de controle expõe as tensões nos parafusos do flange que contribui
para as forças atuando sobre o fluido (o sistema).
A Fig. 5.b ilustra um volume de controle em movimento. Aqui o para-quedas é o
objeto de interesse, não o ar, de forma que a superfície de controle acompanha o para-
quedas na mesma velocidade deste. Se a velocidade for constante, o movimento relativo
tem o padrão de regime permanente, o que simplifica o estudo.
Por último, a Fig. 5c mostra um volume de controle deformável. Movimentos
relativos nos contornos tornam-se relevantes e a taxa de variação do volume tem que ser
considerada na análise.

Figura 5: Volumes de controle: a) fixo - análise de tensões num bocal; b) em movimento -


análise de forças de arraste; c) deformável - análise de variação de pressão dentro de um tanque.
Relações Integrais para Volume de Controle

Conservação de Massa
Para um volume fixo,

(30)

onde D é a massa específica, œ o volume, V a velocidade do fluido, e os subscritos vc e sc


nas integrais referem-se ao volume e superfície de controle, respectivamente. Se o volume
tem um número finito de entradas e saídas, e o regime for permanente,

(31)

Esta equação garante que, em regime permanente, o fluxo de massa entrando (in)
no volume de controle é igual ao fluxo de massa saindo (out). Finalmente, se o fluido for
incompressível (D= constante), os fluxos volumétricos (vazões) de entrada e saída têm que
ser iguais,

(32)

Conservação de Quantidade de Movimento


Para um volume fixo,

(33)

O termo referente à integral de superfície nesta equação é denominado fluxo de


quantidade de movimento. De novo, para regime permanente e um número finito de
entrada e saídas, a equação reduz-se a

(34)
É importante enfatizar que a expressão (34) refere-se à uma relação vetorial. A Eq.
(33) estabelece que o somatório das forças atuando sobre um volume de controle fixo é
igual à taxa de variação da quantidade de movimento dentro do volume de controle, mais
a soma vetorial dos fluxos de quantidade de movimento saindo, menos a soma vetorial dos
fluxos de quantidade de movimento entrando.

Conservação de Energia
Aplicada a um volume de controle fixo, a primeira lei da termodinâmica, ou lei de
conservação de energia, assume a forma,

(35)

Um valor positivo de Q refere-se ao calor absorvido pelo sistema (fluido), enquanto


um valor positivo de W refere-se ao trabalho realizado pelo sistema. E define o valor da
energia interna total e e representa a energia por unidade de massa, conforme apresentado
em (16).
Para regime permanente ( ) a equação pode ser simplificada para,

(36)

onde é a transferência de calor para o fluido por unidade de massa. De

forma análoga, = dW s /dm representa o trabalho realizado pelo fluido através de

uma máquina (bomba, turbina ou compressor), por unidade de massa, e éa


entalpia por unidade de massa.
Aplicada para o escoamento entre duas seções arbitrárias de um duto, a equação
pode ser escrita na forma unidimensional,

(37)

onde V 1 e V 2 representam valores médios para a velocidade nas seções 1 e 2 e w f a energia


dispendida pelo sistema devido às perdas por atrito viscoso. Essas são irreversíveis
(transformadas em calor), podendo ocorrer ao longo do duto e, ou, em pontos localizados,
como válvulas, curvas, expansões, etc.
Para massa específica constante (D1 = D2 = D), a equação simplifica-se para,

(38)

Para perdas ao longo de dutos, é usual utilizar-se a clássica equação de Darcy-


Weisbach para w f, i.e.,

(39)

onde f é o coeficiente de atrito de Darcy (função do número de Reynolds e da rugosidade


relativa), L a distância entre as duas seções, e D o diâmetro interno do duto. Deve ser
lembrado que w s foi definido acima como,

(40)

onde a representa a energia total transferida por unidade de tempo (potência). Para o
sistema SI, a unidade de é J/s= watt e de w s é m 2 /s 2 = J/kg= watt-s/kg.

A Equação de Bernoulli
Uma equação muito útil na solução de problemas de escoamento pode ser obtida
para fluido não-viscoso, sem perdas e sem trabalho atuando sobre ou pelo sistema.
Neste caso, para regime permanente, a integral da equação de quantidade de movimento
ao longo de uma linha de corrente produz a consagrada equação de Bernoulli,

(41)

A equação estipula que a soma das energias por unidade de massa devido à pressão,
à energia cinética e ao potencial gravitacional, mantém-se constante ao longo da linha de
corrente. Portanto, para dois pontos quaisquer ao longo da linha de corrente de um fluido
incompressível,

(42)

Ou seja, a equação de Bernoulli é mais restritiva do que a equação da energia, não


devendo ser aplicada entre pontos onde perdas de energia por atrito possam ser
significativas, nem quando qualquer forma de transferência de energia ocorre, como por
turbina, bomba ou compressor.

Linha Piezométrica e Linha de Energia


Uma interpretação gráfica para a equação de energia pode ser útil na análise dos
diversos termos que a compõem. Para tanto divide-se a Eq. (38) por g. Todos os termos
passam a representar alturas, ou energia por unidade de peso (e não de massa) [J/kg-m/s2
= N-m/kg-m/s 2 = m]. A equação assume então a forma,

(43)

onde h s= W s /g e h f= W f /g representam, respectivamente, a altura correspondente ao


trabalho realizado pelo fluido, e a perda de altura devido ao atrito viscoso entre 1 e 2.
A linha de energia (LE) representa a altura da energia total, ou da constante de
Bernoulli, h o = z + p/Dg + V 2 /2g . Para escoamento não-viscoso, sem trabalho e
transferência de calor, a LE mantém uma altura constante. A linha piezométrica (LP),
também denominado gradiente hidráulico, representa a altura correspondente à elevação
local mais a altura de pressão z + p/Dg; isto é, a linha de energia menos a altura de
velocidade V 2 /2g (energia cinética). A linha piezométrica é altura que o fluido subiria num
piezômetro conectado ao escoamento.
A Fig. 6 ilustra a LE e a LP para um escoamento sem atrito entre dois pontos 1 e 2
num duto. Os tubos piezométricos medem a altura de pressão estática z + p/Dg; ou seja,
a LP. Os tubos de pitot medem as alturas de pressão correspondentes às velocidades de
Figura 6: Linhas de energia e piezométrica para escoamento não-viscoso num duto.

estagnação, h o = z + p/Dg + V 2 /2g, que corresponde à LE. Neste exemplo, a LE é constante


e a LP decresce devido o aumento na velocidade.
No caso real a LE tende a cair gradativamente devido às perdas por atrito,
caindo abruptamente em cada uma das perdas localizadas (válvulas, obstruções, etc.), ou
devido o trabalho extraído, como por uma turbina. A LE só subirá se ocorrer adição de
trabalho ao sistema, como no caso de uma bomba ou compressor. Em geral a LP segue o
comportamento da LE com respeito às perdas e adições de trabalho, subindo ou descendo
se a velocidade decrescer ou aumentar, respectivamente.
Exemplo 2 Uma mangueira de bombeiro de 75 mm de diâmetro, com um bocal de 30 mm,
descarrega 1,5 m3/min para a atmosfera. Admitindo escoamento sem atrito, estimar a força
atuando sobre os parafusos para manter o flange fixo na mangueira.

Solução: Aplicando a equação de Bernoulli entre os pontos 1 e 2 (ambos na mesma cota),

As velocidades são encontradas a partir da vazão e respectivas áreas: Q= 1,5 m3/min= 0,025 m3/s,
então, V1= 5,66 m/s e V2= 35,5 m/s. Uma vez que p2 = patm= 0 (manométrica) então,

Do balanço de quantidade de movimento sobre o volume de controle mostrado na figura, Eq. (34),
vem,

Para e A1= B D12/4= 0,00442 m2, a força atuando sobre os


parafusos, FB, tem o valor de Fx com o sinal invertido (uma reação a Fx), logo,

Observe que a resultante das forças atuando sobre o fluido (o sistema), como resultado da
distribuição de pressão no interior do bocal, representado por Fx , tem sinal negativo. Portanto, a
força atuando sobre o bocal, FB, é positiva; i.e., tende a afastá-lo da mangueira.
ESCOAMENTO VISCOSO EM DUTOS

Problemas envolvendo o escoamento de fluido em dutos requerem o cálculo de


vazões, perda de pressão e conversão de energia. Na solução são utilizados os princípios
definidos no parágrafo anterior relativos à conservação de massa, balanço de forças e
quantidade de movimento e de conservação de energia. A resistência ao escoamento
viscoso ocorre não somente nas longas seções retas, mas também em elementos
construtivos como curvas, conexões e válvulas.

Força de Resistência e Dissipação de Energia


Embora a equação de energia (37) seja fundamental para a análise de escoamento,
ela não contém qualquer informação sobre as forças de resistência que causam a dissipação
de energia no fluido. Considerações de equilíbrio de forças no interior do duto levam à
expressão de Darcy-Weisbach, (39), na qual o coeficiente de Darcy, f, pode ser expresso
na forma,

(44)

Aqui, Jo é a tensão cisalhante na parede do duto, D e V a massa específica e a


velocidade média do fluido, , e D a rugosidade absoluta e o diâmetro interno do duto. Re
é o número de Reynolds, assim definido,

(45)

onde : e < representam, respectivamente, as viscosidades absoluta e cinemática do fluido.


Portanto, o coeficiente de Darcy depende de dois parâmetros: um geométrico, ,/D, e outro
dinâmico, Reynolds.

Regimes de Escoamento
O escoamento viscoso pode ser classificado como laminar ou turbulento. No
regime laminar o fluido escoa sem se misturar de forma significativa com as partículas
vizinhas. Já no escoamento turbulento, o movimento do fluido varia de forma acentuada,
fazendo com que variáveis como a velocidade e a pressão apresentem alterações aleatórias
no espaço e no tempo. Experimentos mostram que a definição do regime de escoamento
depende do número de Reynolds. Se este for relativamente pequeno o regime é laminar;
se for grande, o regime é turbulento. Os dois estados são caracterizados de forma mais
apropriada definindo um número de Reynolds crítico , Re c , de forma que o escoamento é
laminar se Re < Re c , e turbulento se Re > Re c. Para escoamento em dutos, Rec . 2300.

Escoamento Laminar (Hagen-Poiseuille)


Considere o escoamento laminar num duto reto com seção transversal circular
conforme mostrado na Fig. 7. Para esta situação existe uma solução analítica para a
equação de quantidade de movimento, conhecida como solução de Hagen-Poiseuille. O
perfil de velocidade é um parabolóide de revolução centrado no eixo do duto definido pela
Eq. (46).

Figura 7: Escoamento laminar num duto circular.

O termo -dp/dx representa o gradiente de pressão ao longo do duto, considerado um valor


conhecido.

(46)

Integrando na seção transversal, obtém-se para a velocidade média V e a vazão


volumétrica Q,

(47)
Levando a expressão acima para dp/dx em (44), o coeficiente de Darcy é definido
como,

(48)

Esta equação mostra um resultado interessante: no escoamento laminar


(Re < 2300), o fator de atrito não depende da rugosidade da parede.

Escoamento Turbulento
No escoamento turbulento, o fator de atrito é obtido de relações para o perfil de
velocidade cobrindo subregiões específicas da seção transversal do duto. Dados
experimentais, relacionando o fator de atrito com o número de Reynolds, são obtidos para
uma ampla faixa da rugosidade relativa, conforme mostrado na Fig. 8. O gráfico,
denominado diagrama de Moody, mostra claramente que abaixo do número de Reynolds
crítico (.2300), o escoamento é laminar. O diagrama mostra ainda que, para escoamento
em duto liso (,/D .0), o fator de atrito depende exclusivamente do número de Reynolds,
enquanto, para duto rugoso, f depende predominantemente da rugosidade relativa. Numa
zona de transição, entre duto liso e totalmente rugoso, o fator de atrito depende tanto do
número de Reynolds quanto da rugosidade relativa. Deve ser observado do diagrama que,
para números de Reynolds muito elevados, o fator de atrito torna-se praticamente constante
(as curvas são praticamente horizontais), pouco dependente de Reynolds. Quando isto
ocorre, o escoamento é dito totalmente rugoso, ou totalmente turbulento.

Fator de Atrito em Dutos Lisos e Rugosos

Dutos Lisos
Para dutos lisos, e 4×10 3 < Re < 10 7 , a equação clássica é de Prandtl,

(49)
Uma expressão mais recente, considerada mais precisa do que a de Prandtl, é de
Zagarola e Smits, válida para a faixa, 10 5 < Re < 3,5×10 7 ,

(50)

Estas equações são implícitas, requerendo algum processo iterativo de resolução.


A literatura apresenta grande quantidade de alternativas em que f pode ser determinado
explicitamente, como a equação de Blasius, válida para 4×10 3 < Re < 10 5 ,

(51)

ou de Colebrook, para 4×10 3 < Re < 10 7 ,

(52)

Dutos Rugosos
Para escoamento totalmente rugoso a expressão consagrada é de von Kámán e Nikuradse,

(53)

Regime de Transição - Colebrook-White


A equação que correlaciona toda a região de transição entre o escoamento
hidraulicamente liso até totalmente rugoso foi estabelecida por Colebrook e White,

(54)
Esta é a fórmula usualmente utilizada para cálculo do coeficiente de atrito viscoso
em escoamento turbulento. Moody utilizou-a para construir o diagrama mostrado na Fig.
8. Embora aplicável para todo o campo de rugosidade relativa e de número de Reynolds,
a equação é particularmente precisa para a região de transição; ou seja, para Re < Re ,, onde
Re , é o número de Reynolds de transição, Eq. (55). Para valores de Reynolds superiores
a Re , o escoamento é totalmente rugoso; o fator de atrito independe do número de
Reynolds.

(55)

Figura 8: Diagrama de Moody para dutos com paredes lisas e rugosas.

Valores da Rugosidade Absoluta - Oleodutos e Gasodutos


A equação de Darcy-Weisbach permite determinar de forma elegante a queda de
pressão em função da densidade, da velocidade média, do diâmetro, da distância entre os
pontos de interesse e do coeficiente de atrito f. Esse, por outro lado, depende do número
de Reynolds e da rugosidade relativa, sendo fortemente dependente desta nos escoamentos
com altos números de Reynolds. Portanto, a estimativa de f torna-se tarefa importante no
projeto de dutos. De um modo geral, a experiência e o acesso à uma boa literatura são
fundamentais para estimar o fator de atrito com precisão. Todavia, deve-se ter em
perspectiva outros fatores, como o aumento da rugosidade com o envelhecimento da
instalação, ou a sua redução, através da aplicação de coberturas protetoras no interior do
duto.
No caso específico de oleodutos e gasodutos novos, Mohitpour sugere que se pode
admitir como referência para a rugosidade absoluta, ,, valores entre 15 e 30 :m (15 e 30
×10 -6 m). Caso uma cobertura (epóxi/poliamida) seja aplicada, um valor típico para , fica
entre 5 e 8 :m. Segundo Golshan e Narsing, em Mohitpour, esses valores podem crescer
à taxa de 0,7 a 1,3 :m por ano devido à erosão, corrosão e outros problemas. Os autores
destacam que a taxa de deterioração de dutos com cobertura é bem menor, ficando entre
0,2 e 0,4 :m/ano.

Tabela 3: Rugosidades para dutos novos.


Duto Rugosidade abs.
(:m)
Oleodutos 20 a 30
Gasodutos 15 a 20
Pintura 5-8

A Tabela 3 resume algumas condições sugeridas para a rugosidade absoluta médias


para dutos novos. Observe que para um número de Reynolds de 30.000 em um oleoduto
de 12”, a rugosidade relativa com base no valor sugerido pela tabela é 1×10 -4 . O diagrama
de Moody, Fig. 8, indica que, para esta rugosidade, o escoamento tem comportamento de
duto liso, com f . 0,024. De forma análoga, para um gasoduto de 20”e Reynolds da ordem
de 20×10 6 obtém-se uma rugosidade relativa de 4×10 -5 . De novo, o diagrama indica um
comportamento próximo de duto liso, com f . 0,012. O ponto a ser realçado é que os
valores da Tabela 2.4 sugerem que, na média, as rugosidades relativas operacionais devem
estar próximas de valores que conduzem à condição de escoamento hidraulicamente liso.
Rugosidades muito menores do que as sugeridas tendem a encarecer desnecessariamente
o sistema, enquanto valores muito superiores levarão o escoamento para a condição de
hidraulicamente rugoso, tornando o custo operacional (bombeamento) muito elevado.
Note-se ainda que para manter a rugosidade relativa dentro dessas faixas, dutos com
diâmetros menores requerem rugosidades absolutas menores (mais lisos) do que dutos
maiores.
Exemplo 4 Óleo cru é transportado num duto NPS 4, diâmetro de 102,5 mm e rugosidade de 40
:m. Para uma vazão de 7.200 bbl/dia e viscosidade cinemática igual a 22 cSt, calcular o fator de
atrito.
Solução: Velocidade do óleo: V= Q/A= 7200×0,159/86400×0,008251= 1,61 m/s. Portanto, o
número de Reynolds é Re= 1,61×0,1025/22×10-6= 7501. Da equação de Colebrook-White obtém-
se após três iterações (iniciando com f= 0,03), f= 0,03394. Note que a equação de Blasius (51)
produz f= 0,03399 (próximo de 0,03394 !).

Perdas Localizadas
Perdas localizadas são devido à resistência hidrodinâmica, em geral associadas à
forma e à dimensão do duto. A passagem do fluido por uma variação de geometria causa
variação na velocidade e a formação de vórtices que, por sua vez, provocam perdas de
energia. Na maioria dos casos, perdas localizadas ocorrem na entrada e saída de duto, nas
expansões e contrações, nas curvas, joelhos, tês e juntas e nas válvulas.
Para escoamento turbulento a experiência mostra que as perdas são
aproximadamente proporcionais ao quadrado da velocidade. Denominando a perda de
carga por )p d , pode-se escrever,

(57)

onde D e V são, respectivamente, a massa específica e velocidade do fluido e K d o


coeficiente de perda de carga.
Um duto pode ter várias fontes de perdas localizadas. Se todas elas estiverem
correlacionadas com V 2 /2g, e se este tiver um diâmetro constante, a perda total pode ser
determinada a partir da soma das perdas individuais, i.e.,

(58)

onde )p f é a queda de pressão devido ao atrito viscoso, Eq. (39).


Um sumário de perdas localizadas representativas de alguns componentes é
mostrado na Tabela 4.
Tabela 4: Coeficientes de perda localizada em componentes
Componente K
Válvula globo (tot. aberta) 10
Válvula de retenção - balanço (tot. aberta) 2,5
Válvula gaveta (tot. aberta) 0,2
Tê padrão 1,8
Joelho padrão 0,9
Joelho médio 0,7
Joelho longo 0,6

Expansão Súbita e Contração Súbita


A expansão, ou contração, súbita está normalmente associada à mudança no
diâmetro do duto, conforme esquematizado na Fig. 9. A variação na área induz a formação
de vórtices e, como conseqüência, a dissipação de energia sob a forma de calor. O
coeficiente de perda de carga, K d , para o escoamento turbulento numa expansão brusca
pode ser determinado teoricamente, produzindo a seguinte expressão,

(59)

Para uma contração súbita, o coeficiente pode ser estimado pelas expressões empíricas,

(60)

onde, para as duas situações, A 1 e A 2 são as áreas a montante e jusante, conforme indicado
na Fig. 9.
Figura 9: Expansão (a) e contração (b) súbitas no escoamento num duto.

Curvas
Uma curva brusca, ou joelho, produz, em geral, perdas de carga importantes, uma
vez que no seu interior ocorrem descolamentos e vórtices. Por outro lado, uma curva
gradual, arredondada, como mostrado na Fig. 10, reduz consideravelmente a importância
de zonas de turbulência e, assim, a perda de carga. A redução na perda será tanto maior
quanto maior for o raio de curvatura relativo R/D e menor a rugosidade relativa ,/D. Para
um raio bastante elevado o turbilhamento desaparece completamente. A perda é sempre
superior àquela devida exclusivamente ao atrito viscoso, uma vez que incorpora efeitos
associados à eventual separação na parede e à rotação de escoamentos secundários. O
coeficiente de perda K d, mostrado nas Fig. 10, refere-se a essa perda adicional. A perda por
atrito devido ao comprimento axial da curva deve ser computado separadamente; i.e., o
comprimento da curva deve ser adicionado ao comprimento do duto para efeito de cálculo
da perda de energia total.
Figura 10: Coeficiente de perda de carga para curva de 90º.

Entradas e Saídas
A Fig 11 mostra coeficientes de perdas para três geometrias de entrada de dutos,
onde pode ser destacado que bordas agudas na entrada causam zonas de separação e perdas
consideráveis. Um pequeno arredondamento pode reduzir significativamente as perdas,
enquanto uma entrada bem arredondada produz perda praticamente desprezível. Na saída,
por outro lado, o escoamento simplesmente sai do duto e entra no reservatório de grandes
dimensões, perdendo toda sua pressão devido à energia cinética. Portanto, K d = 1,0 para
todas as saídas, não importando quão arredondadas sejam essas.

Figura 11: Coeficientes de perda de carga para entradas.


ESCOAMENTO DE LÍQUIDOS

Problemas envolvendo o escoamento de líquidos (considerados aproximadamente


incompressíveis) incluem seis variáveis: )p f, Q, D, L, < e ,. Em geral, o comprimento, a
viscosidade cinemática e a rugosidade (L,<, ,) são conhecidos. Desta forma, na prática
corrente de engenharia, pode-se identificar três tipos distintos de problemas envolvendo
as três outras incógnitas; i.e., a queda de pressão )p f, a vazão Q, e o diâmetro D. Em cada
um desses casos as equações de Darcy-Weisbach, de continuidade e de Colebrook (ou
outra mais adequada), são utilizadas para encontrar a quantidade desconhecida.

a) Cálculo da Queda de Pressão


A solução deste caso é bastante direta. Com as variáveis conhecidas estima-se o
número de Reynolds, Re= VD/<. O fator de atrito, f, pode ser encontrado diretamente de
uma das equações anteriores, como Colebrook, ou o gráfico de Moody. A substituição de
f na equação de Darcy-Weisbach fornece o valor da queda de pressão devido ao atrito
viscoso,

(61)

onde, para dutos circulares, o coeficiente de resistência, K f, é definido como,

(62)

b) Cálculo da Vazão
Neste caso, tanto V quanto f são desconhecidos. Uma vez que ,/D é conhecido, um
valor aproximado de f pode ser obtido a partir da equação de Nikuradse, por exemplo,
admitindo que o escoamento seja totalmente turbulento. Com f a equação de Darcy-
Weisbach produz um valor aproximado para V, para o qual o número de Reynolds é
calculado. Com este valor de Reynolds, um valor mais preciso pode ser obtido para f e, em
seguida, para V, ou para a vazão.
O procedimento iterativo pode ser interrompido quando f repetir pelo menos três
algarismos significativos. A partir das equações de energia (38) e de Darcy-Weisbach (39),
(63)

c) Cálculo do Diâmetro
Com D desconhecido, três variáveis são também desconhecidas na equação de
Darcy-Weisbach (f,V,D), duas na equação de continuidade (V,D) e três na equação para
o número de Reynolds (V,D,Re). Também é desconhecida a rugosidade relativa. Da Eq.
(39), e da expressão para o número de Reynolds tem-se, respectivamente,

(64)

onde C 1 e C 2 são constantes conhecidas, facilmente identificadas nessas expressões. A


solução é obtida pelo procedimento iterativo:
a) Estime um valor para f
b) Resolva para D
c) Resolva para Re
d) Determine a rugosidade relativa
e) Com Re e ,/D determine novo valor para f
f) Vá para (b) até f convergir para, pelo menos, três algarismos
significativos. Normalmente a convergência é obtida em duas ou três iterações. Uma vez
que um duto padrão é geralmente escolhido, o tamanho imediatamente superior ao
calculado deve ser a opção para o diâmetro.

Sistema com Dutos Múltiplos – Série e Paralelo


Compreendendo a metodologia de solução de escoamento permanente para um duto
solitário é possível resolver grande parte das situações envolvendo sistemas de dutos, seja
o fluido compressível ou incompressível; o procedimento básico é o mesmo nos dois casos.

Queda de Pressão para Dutos em Série


Para dutos em série, com diferentes diâmetros e comprimentos, Fig. 12, o
escoamento é determinado conforme mostrado a seguir.
Figura 12: Sistema de dutos com diâmetros e comprimentos variáveis em série.

Utilizando a forma compacta para a equação geral do escoamento,

(65)

onde os expoentes n e m refletem o comportamento da queda de pressão com a vazão, e


K i (i= 1,2,3,...) representam os coeficientes de resistência de cada segmento, conforme
mostrado nas Eqs. (61) e (62).
No caso de escoamento incompressível (líquidos em geral) n= 1, enquanto m fica
no intervalo 1< m < 1,75, limites entre escoamento laminar e totalmente turbulento,
respectivamente; cf. Eq. (47) para escoamento laminar e Eq. (61) para escoamento
turbulento. Como será visto posteriormente, para gases o escoamento é normalmente
turbulento e os expoentes são: n= 2 e m . 2.
Somando as equações em (65) obtém-se
,

(66)

Ou seja, a resistência do sistema é a soma das resistências de cada segmento.


Queda de Pressão para Dutos em Paralelo
Considere-se, agora, dois segmentos em paralelo conforme mostrado na Fig. 13. As
equações para a queda de pressão e vazão são,

(67)

Resolvendo para Q 1 e Q 2 em (67a) e levando o resultado em (67b), a relação para


o escoamento entre os pontos de entrada e saída do loop é dada por,

(68)

A fórmula se aplica para um número qualquer de dutos em paralelo, bastando, para tanto,
que o somatório na segunda equação acima seja igual ao número desses.

Figura 13: Sistema de dutos em paralelo.

Escoamento Através de Orifícios


O escoamento através de orifícios ocorre em inúmeras situações práticas de
engenharia. Algumas aplicações tecnológicas incluem o escoamento na entrada e saída de
tanques, injetores, válvulas de controle na operação de sistemas hidráulicos, robôs
industriais e sistemas de medição de vazão em dutos. Em certos casos, como no
vazamento por uma fissura na parede de um duto, embora a geometria do problema seja
distinta de um orifício, utiliza-se freqüentemente a metodologia de cálculo de orifício na
determinação da vazão (vazamento) em função do diferencial de pressão atuando no
sistema.

Placa de Orifício
Considere o escoamento por uma placa de orifício com diâmetro D o instalada num
duto de diâmetro D, Fig. 14. A vazão volumétrica está relacionada com os outros
parâmetros pela equação,

(69)

Figura 14: Placa de orifício instalada em um duto.

A variável C d , denominada coeficiente de descarga, é função do parâmetro


geométrico $=D o/D, e do número de Reynolds, Re = V 1 D/L. Valores típicos para o
coeficiente estão na faixa: 0,6 < C d < 1,0. Observe que as linhas de corrente se contraem
a jusante do orifício, formando uma área de diâmetro D vc , inferior ao diâmetro do orifício,
denominada vena contracta. Padrões definidos por diversas entidades internacionais, como
ISO e ASME, sugerem posicionar as tomadas de pressão a distâncias fixas da placa,
normalmente um diâmetro a montante e meio diâmetro a jusante.
Bocal
Existem dois tipos de bocais para medir vazão em dutos, um com raio de curvatura
interna longo e outro com raio curto, este mostrado na Fig. 15. O bocal, com uma entrada
curva suave e polida elimina a vena contracta, produzindo um coeficiente de descarga
próximo de 1,0, embora a perda de energia não recuperável a jusante seja relativamente
alta, uma vez que não há difusor para garantir uma expansão gradual do fluido. O cálculo
da vazão no bocal utiliza a mesma equação para orifício, (69). Bocais são normalmente
construídos com razão de diâmetros na faixa: 0,2 < $ < 0,8.

Figura 15: Bocal instalado em um duto.

Venturi
Um medidor de vazão Venturi é mostrado na Fig. 16. Consiste de uma entrada
cônica suave formando um ângulo aproximado de 20º, uma seção cilíndrica curta e um
difusor cônico com ângulo entre 5º e 7º para evitar separação do fluido na entrada do
cone e minimizar perdas locais. Em algumas situações especiais pode-se chegar a ângulos
de até 15º, embora possa ocorrer separação, provocando perdas adicionais não desejáveis
para este tipo de equipamento. Para uma operação satisfatória, o medidor deve ser
instalado numa seção retilínea e uniforme, livre de conexões, desalinhamentos e outras
fontes de turbulência, e tendo pelo menos 50 diâmetros de seção reta a montante. Aletas
para alinhamento e redução de rotação do fluxo podem ser instaladas a montante.
Figura 16: Venturi instalado em um duto

As pressões na base e na garganta do medidor são obtidas por anéis piezométricos.


Para medição de gases é necessário medir a pressão e temperatura nos dois pontos; para
líquidos bastam normalmente as pressões. Para escoamento de líquidos a vazão pode ser
obtida pelas mesmas equações utilizada para orifícios e bocais. No caso de uma instalação
não horizontal, considerando cotas z 1 e z 2 para os pontos na linha de centro do medidor no
plano das respectivas tomadas de pressão, obtém-se

(70)

onde $=D o /D, A o a área da seção da garganta e C d o coeficiente de descarga (0,90 < C d <
0,99). Venturis modernos são esperados operar numa faixa de número de Reynolds
relativamente estreita, 10 5 < Re < 5×10 6 .

Exemplo 5 Um duto transporta óleo cru, D= 866 kg/m3, entre duas localidades distantes 120 km.
A linha original está representada na figura abaixo pelos segmentos A e B. A operadora decide
aumentar a vazão em 25%, acrescentando um trecho paralelo, C , na parte final. Mantendo-se as
pressões de entrada e saída, pontos 1 e 3, pede-se estimar o comprimento do segmento C. Dados:
i- diâmetros internos, DA = DB = 10" (247 mm); DC= 14" (325 mm); ii- p1= 116 bar; p3= 4,6 bar;
iii- coeficiente de atrito médio nos dutos, f= 0,027; iv- perdas localizadas nos pontos 2 e 3, e
respectivas curvas, Kd= 0,9 (somente para a linha C).
Solução: Para o sistema original, Eq. (62),

(1)

Das Eqs. (62) e (66), as resistências dos segmentos A, B e C são definidas pelas expressões,

(2)

enquanto a equação característica do sistema torna-se,

(3)

A resistência total KT, é calculada pela soma das resistências KA com a equivalente do
grupo paralelo KB e KC. O fator " representa a fração de aumento esperado na vazão: "= 0,25 no
caso presente. Portanto, igualando as quedas de pressão nas Eqs. (1) e (3),

(4)

com Ko* e KT definidos em (1) e (3). Note que a expressão para KT em (3) contém a incógnita-x,
conforme se pode observar das equações para KA, KB e KC em (2).
Para os dados especificados, a solução da Eq. (4) é x= 48,66 km. A vazão na linha original
é então obtida diretamente de (1); i.e., Q= 5.796 m3/d, enquanto com a derivação Qnov= 7.245 m3/d.
Considere agora a expressão geral para o comprimento-x no caso em que os diâmetros e
os coeficientes de atrito sejam todos iguais, e as perdas locais ignoradas. Resolvendo a Eq. (4)
encontra-se a relação,
(5)

Para os dados do problema (hipótese de diâmetros iguais, etc.) e "= 0,25, encontra-se x/L=
0,48. Portanto, x= 0,48×120 = 57,6 km. Como esperado, pouco mais extenso do que com uma
derivação de 14" (original era de 10").
Finalmente, para dobrar a vazão ("= 1 ˆ $= 4), encontra-se x= L. Evidentemente, uma
segunda linha, idêntica à primeira!

ESCOAMENTO DE GASES

Analisemos o escoamento permanente de gás seco em duto com área constante e


atrito viscoso. No escoamento compressível, a massa específica tende a variar
significativamente e, assim, da equação de estado (17), conclui-se que a pressão e a
temperatura também variam de forma substancial. Portanto, a componente térmica da
equação de energia não pode ser ignorada; a solução do problema envolve as quatro
equações de conservação de: massa, quantidade de movimento, energia e estado.
Aplicações industriais nesta área incluem problemas termohidráulicos de válvulas,
orifícios, bocais, dutos curtos e dutos longos. Dada a grande complexidade dos
escoamentos nessas situações, freqüentemente são introduzidas nas soluções uma ou mais
das seguintes hipóteses simplificadoras: idealidade de gás, ausência de atrito viscoso,
ausência de troca de calor entre o fluido e o exterior, ausência de variação da
temperatura e irreversibilidade do processo.
Admitamos inicialmente que o gás tenha comportamento ideal, hipótese bastante
utilizada em dinâmica de fluidos compressíveis. As relações básicas para gases ideais
incluem as seguintes equações,

(71)

onde (g representa a densidade relativa (ao ar, sob condições padrão).


Consideremos inicialmente alguns conceitos associados ao escoamento
compressível como:

! Processo termodinâmico
! Velocidade do som e número de Mach
! Escoamento em Venturis, bocais e orifícios
! Condição cítica em bocais e dutos (Choking)

Processo Termodinâmico
O conceito de processo é utilizado para designar a mudança de um estado
termodinâmico de uma situação inicial para outra final. O conhecimento de um
processo envolve não somente os estados limites como a interação do sistema com o seu
ambiente, como, por exemplo, a transferência de energia, de calor e de massa. Problemas
envolvendo escoamento de dutos tratam com freqüência de alguns processos particulares,
como: isotérmico, adiabático, isentrópico, reversível e irreversível.
O processo isotérmico é aquele em que a temperatura do sistema se mantém
uniforme e constante com o tempo. O adiabático designa aquele em que não ocorre troca
de calor entre o sistema e o exterior, enquanto o isentrópico refere-se ao processo
adiabático reversível, ou seja, com entropia constante. O processo isentrópico é
freqüentemente utilizado como um modelo, ou limite, para processos adiabáticos reais. Se
a entropia é constante em cada passo do processo, pode-se obter relações isentrópicas a
partir da equação de variação de entropia para uma substância pura, ou seja,

(72)

Para um escoamento isentrópico, s 2 = s 1 , desta equação obtém-se a expressão clássica,

(73)
Velocidade do Som – Número de Mach
A velocidade do som é um parâmetro importante na teoria do escoamento
compressível. Ela é a velocidade para a qual um pequeno distúrbio na pressão viaja por
uma substância.
A velocidade do som é uma medida do efeito da compressibilidade do fluido
quando comparado com a velocidade do escoamento. A partir das equações de conservação
pode-se relacionar a velocidade de propagação, c, com as mudanças nas propriedades da
substância e obter,

(74)

onde o subscrito s refere-se à condição isentrópica; admitida porque as variações de


pressão e temperatura são pequenas e, conseqüentemente, o processo é praticamente
adiabático e reversível.

Velocidade do Som para Gases Ideais


Levando as Eqs. (71) e (73) em (74), a expressão para a velocidade do som para um
gás ideal torna-se,

(75)

que mostra que, em geral, gases com baixa densidade têm velocidades de som maiores e
vice-versa. Por exemplo: ar, na temperatura normal, c . 20 T 1/2 . Ou seja, a 20ºC (T= 293,2
ºK), c ar . 342 m/s; enquanto hidrogênio ((= 1,4 e M g = 2), c H2 . 1300 m/s.

Número de Mach
Outro parâmetro importante que aparece nas equações de movimento de fluidos,
quando a compressibilidade é um fator relevante, é o número de Mach, definido como a
razão da velocidade do fluido para a velocidade do som,

(76)

A velocidade do som deve ser calculada na pressão e temperatura local, podendo,


evidentemente, variar de ponto a ponto no campo do escoamento.
Escoamento Isentrópico em Venturis, Bocais e Orifícios

Medidores de Vazão
Venturis, bocais e placas de orifício são utilizados para medir a vazão de massa de
escoamento compressível em dutos.
Como no caso de escoamento de líquido, a vazão de massa pode ser determinada a
partir da leitura da diferença de pressões nas seções de entrada e de área mínima, pela
aplicação das equações de conservação de massa e de energia. Venturis e bocais
praticamente não apresentam vena contracta, o que permite aplicar a equação de energia
entre a entrada e a seção convergente com resultados razoavelmente precisos, quando
comparados com dados experimentais. Placas de orifício, ao contrário, não mostram
comportamento tão bons e requerem relações empíricas, conforme mostrado a seguir.

Venturis e Bocais
Para escoamento subsônico (Ma < 1) e adiabático, aplicando a equação de energia
(36) entre os pontos 1 e 2 na Fig. 16, utilizando a equação de continuidade D1 A 1 V 1 = D2 A 2 V 2
e a relação isentrópica (73), a vazão de massa em Venturis e bocais pode ser escrita na
forma,

(77)

onde o fator de expansão, Y, é definido como,

(78)

Nessas expressões, são utilizados os seguintes parâmetros: A o = área da garganta, D 1 =


diâmetro do duto, D o= diâmetro da garganta, $= D o /D 1 , r= p 2 /p 1 , k= c p /c v , D1 = massa
específica do gás na seção-1. C d é o coeficiente de descarga do Venturi (ou bocal), cujo
valor numérico é aproximadamente o mesmo utilizado para líquidos.
Placas de Orifício
A expressão para a vazão de massa é a mesma indicada em (77), mas uma relação
empírica é utilizada para definir o fator de expansão,

(79)

Exemplo 6 Gás natural com densidade 0,68 e expoente isentrópico 1,42 escoa por um duto de 75
mm de diâmetro. A este, está conectado um Venturi com diâmetro de entrada de 75 mm e garganta
de 30 mm. A temperatura de entrada é de 18ºC e as pressões (manométricas) na entrada e na
garganta são de 0,760 bar e 0,330 bar, respectivamente. A pressão barométrica local é de 1,020 bar
e o coeficiente de descarga igual a 0,98. Calcular a vazão de massa admitindo: (i) escoamento
compressível isentrópico; (ii) escoamento incompressível.

Solução: A relação das pressões entre os pontos 2 e 1, e a massa específica em 1, Fig. 16, são,

Com $= D2/D1= 30/75= 0,40, e a razão de pressões indicada acima, obtém-se de (78) o fator de
expansão, Y= 0,863. A vazão de massa para a hipótese de escoamento compressível é obtida
diretamente de (77), enquanto para a hipótese incompressível basta fazer Y= 1,0. Ou seja,
Condição Crítica em Bocais (Choking)
A equação para a vazão (77) é válida somente quando as condições de fluxo
subsônico prevalecem em toda extensão do bocal. Para condição de estagnação 2 conhecida,
o fluxo de massa pelo bocal atinge um valor máximo quando a garganta está sob condição
crítica, ou sônica 3 . O bocal é dito estar afogado (choked) e não permite a passagem de
maior fluxo de massa, a menos que a área da garganta seja aumentada. Se a garganta for
reduzida, o fluxo de massa reduz-se também. Assim, a condição crítica ocorre no momento
em que a razão da pressão na garganta para a pressão de estagnação é tal que a velocidade
na garganta é sônica. Esta situação acontece quando a seguinte relação for satisfeita ,

(80)

onde p o é a pressão de estagnação e p * a pressão crítica na garganta. Para ar (k=1,4), p * /p o=


0,528; portanto, a pressão (absoluta) na garganta do bocal é 52,8% da pressão (absoluta)
de estagnação. Para esta situação, o fluxo máximo pode ser calculado a partir da seguinte
equação (A * é a área da garganta para a condição crítica; i.e., escoamento sônico na
garganta, Ma=1).

(81)

Logo, conhecidas as condições de estagnação (p o,T o), este é valor do fluxo máximo
admitido pelo bocal (Venturi); a equação representa a condição limite para a Eq. (77).

2
Estado de estagnação refere-se à condição do fluido quando este encontra-se ou é levado à
velocidade nula por um processo isentrópico ou adiabático. Assim, definimos a pressão de
estagnação, po , (proc. isentrópico), a temperatura de estagnação To , (proc. adiabático) e a densidade
de estagnação, Do , (proc. isentrópico). No escoamento isentrópico, todas as propriedades de
estagnação são constantes. No escoamento adiabático não-isentrópico, To é constante, mas po e Do
decrescem ao longo do escoamento devido aos efeitos do atrito viscoso.
3
Estado crítico refere-se à condição do fluido no ponto em que a velocidade é sônica
(Ma=1). As propriedades críticas (ou sônicas) são denominadas por asteriscos: p*, T* e D*. Nos
escoamentos isentrópicos, as propriedades críticas permanecem constantes.
Escoamento Isotérmico em Duto
Analisemos a situação do escoamento de gás em duto sob a condição isotérmica (i.e.
temperatura uniforme) ao longo de toda extensão. Naturalmente, gasodutos ocorrem em
toda forma de ambiente, trocando calor com o exterior e não mantêm a temperatura
necessariamente uniforme. Apesar disso, a análise teórica básica admite a condição
isotérmica, pelo menos ao longo de alguns segmentos discretos. Uma solução numérica do
problema mais geral permite considerar condições mais completas, como atrito viscoso,
troca de calor e temperatura não-uniforme, requerendo, contudo, a utilização de softwares
especializados
Embora o número de Mach para a condição isotérmicaa normalmente bastante
baixo, ocorrem consideráveis quedas de pressão devido às grandes distâncias sobre as quais
o atrito atua e, assim, o escoamento não pode ser tratado como incompressível.

Vazão em Função da Pressão


Consideremos o escoamento de um gás real num duto longo sob a hipótese de
temperatura uniforme. Dividindo a equação de energia mecânica (38) por DV 2 obtémos a
forma diferencial,

(82)

Definindo o fluxo de massa por unidade de área, , então V 2 =


G 2 /(p/ZR gT)2 . Eliminando dV/V pela equação de continuidade (2.31), [d(DV)= 0], e, da
equação de estado (2.23), com dT= 0, obtém-se

(83)

Embora R g T seja constante, Z= Z(p,T) não o é, uma vez que a pressão varia. Para
integrar a equação é utilizado um valor médio Z m (p m ,T m ) e retirado o fator da integral. Desta
forma, integrando (83) entre (0,p 1 ) e (L,p 2 ), obtém-se para a vazão volumétrica para
condições padrão (p std abs= p atm e T std = 20 ºC) [lembrando que G= DV= Dstd V std ],
(84)

onde foi introduzido a densidade relativa, (g, e os valores médios, indicados com o
subscrito-m, são assim definidos,

(85)

Condição Crítica no Duto


No escoamento subsônico, o número de Mach cresce continuamente ao longo do
duto, sendo reduzido somente a cada estação de compressão. Para a hipótese de escoamento
isotérmico, o número de Mach tende para Ma 2 <1/k, situação limite que define a condição
de afogamento. Se atingido, o limite ocorre na extremidade do duto e a vazão de massa é
ajustada de forma a satisfazer a condição crítica, ou seja, o duto encontra-se afogado.
A Eq. (84) mostra uma dificuldade: como o número de Mach não é explicitado na
fórmula, não é possível reconhecer diretamente a condição de afogamento. O realismo
físico da solução ao utilizar essa equação é obtido calculando o número de Mach na saída
e garantindo que este não seja superior ao valor crítico; ou seja (subscritos-s referem-se às
condições de saída),

(86)
Velocidade de Erosão
Quando um fluido escoa em alta velocidade num duto, pode causar tanto vibração
quanto erosão. A erosão é provocada por cavitação (colapso de bolhas) ou projeção de
líquido ou partículas sólidas sobre a parede do duto. Se a velocidade exceder um valor
limite, denominado velocidade de erosão, V ers, a integridade estrutural do duto pode correr
risco após algum tempo. Isto é especialmente verdadeiro para escoamento de gás a altas
velocidades, excedendo 20 m/s. Erosão não é um problema particular de poços produzindo
óleo, ela ocorre também no escoamento de gás. Por esse motivo, recomenda-se controlar
a velocidade do gás em dutos, limitando-a de tal forma que V max . $V ers, onde $.0,40 -
0,50.
Por outro lado, não é possível determinar com precisão a velocidade com que se
inicia o processo de erosão; se partículas sólidas estão presentes, como areia, a erosão pode
ocorrer a velocidades relativamente baixas. Uma recomendação aceita em geral pela
indústria de petróleo é a proposta de 1981 do American Petroleum Institute: a velocidade
de erosão é correlacionada com a massa específica do gás através da seguinte expressão,

(87)

Utilizando unidades SI, V ers é definida em m/s.

Queda de Pressão Ótima para Projeto


O gradiente de pressão (queda de pressão por unidade de comprimento) ótimo é um
fator importante para projetar o sistema mais efetivo sob o ponto de vista de custo. Manter
a queda de pressão ótima ao longo de cada segmento do sistema é imperativo para
minimizar as despesas operacionais e de instalação (incluído duto, compressores e custos
de combustível). Alguns estudos têm mostrado que uma queda de 10 a 25 kPa/km está
próximo do ponto ótimo. Isto significa que, quando o projeto está concluído, os gradientes
de pressão em todas as seções do sistema devem estar neste intervalo. Portanto, a seguinte
condição deve ser satisfeita,

(88)
Gradientes de pressão superiores a 25 kPa/km exigirão maior fator de carga para os
compressores, requerendo maior consumo de combustível. Gradientes de pressão inferiores
a 10 kPa/km indicam que foram instaladas estações de compressão em excesso.

Equações Práticas para Escoamento em Gasoduto

Ao longo dos anos, projetistas de gasodutos procuraram expressões que melhor


ajustassem às condições observadas para a vazão em função dos diversos parâmetros do
escoamento. Nessas aplicações há uma clara distinção entre os modelos aplicados para
escoamento totalmente turbulento (hidraulicamente rugoso) e escoamento parcialmente
turbulento. O primeiro refere-se à situação em que a rugosidade do duto não pode deixar
de ser considerada no cálculo do coeficiente de atrito f; regime definido pela condição
Re>Re ,, onde Re , é o número de Reynolds de transição, definido pela Eq. (55). Nesse caso,
o fator de atrito é função exclusiva da rugosidade relativa. Por outro lado, no escoamento
parcialmente turbulento tem-se que Re<Re ,, situação em que o fator de atrito depende
também do número de Reynolds. Nove modelos são apresentados a seguir, incluindo uma
breve descrição das restrições e recomendações da indústria.

Weimouth. Normalmente utilizado para grandes vazões, grandes diâmetros (maiores do


que NPS-24) e sistemas sob altas pressões. A equação tende a superestimar as previsões de
queda de pressão e apresenta grau inferior de precisão relativa às outras equações. É
também utilizado no cálculo de distribuição de gás em redes urbanas por questão de
segurança na previsão das quedas de pressão.

Panhandle-A. Apropriado para vazões moderadas em diâmetros médios a relativamente


grandes operando sob pressões médias a altas e número de Reynolds na faixa de 5 a 11
milhões. O fator de transmissão, , não inclui o termo devido à rugosidade,
refletindo sua aplicação primordial para escoamento parcialmente turbulento.

Panhandle-B. Apropriado para vazões elevadas, grandes diâmetros e sistemas com altas
pressões. Como no caso da fórmula de Panhandle-A, o fator de transmissão só inclui o
termo devido ao número de Reynolds. O modelo é particularmente preciso para números
de Reynolds na faixa de 4 a 40 milhões.
AGA-A. Modelo cujos resultados dependem muito do número de Reynolds. É utilizado
para vazões médias, diâmetros médios e sistemas sob alta pressão em escoamento
parcialmente turbulento. O fator de transmissão é, em geral, mais baixo do que o da
equação de Panhandle-A para valores de Reynolds baixos (Re<5×10 5 ), tendendo a se
igualar ao número de Reynolds acima deste valor.

AGA-B. Modelo mais recomendado e mais utilizado para sistemas sob alta pressão e
altas vazões em dutos com diâmetros médio para grande e escoamento totalmente
turbulento. A equação prevê tanto a vazão quanto a queda de pressão com alto grau de
precisão, especialmente se a rugosidade efetiva utilizada tiver sido medida com precisão.

Mueller e IGT. O modelo de Mueller segue um fator de transmissão aproximadamente


igual ao de AGA-A para Reynolds baixos (até 4×10 4 ). Por outro lado, para o modelo IGT,
o fator de transmissão é muito próximo da equação de AGA-A para valores de Reynolds
acima deste limite, i.e. para Re>4×10 4 . Alguns autores sugerem que as equações de Mueller
e IGT são boas alternativas para a equação AGA-A.

Fritzsche. O modelo de Fritzsche foi desenvolvido na Alemanha no início do século XX,


sendo largamente utilizado em linhas de ar comprimido e de gás. O comportamento geral
da equação é similar ao de AGA-A.

Teórico. Equação fundamental para o cálculo da vazão a partir da qual os outros modelos
se baseiam. Utilizando-se o fator de transmissão adequado, tende a satisfazer a maioria das
situações práticas.

O cálculo da vazão para esses modelos tem origem na Eq. (84). Desta forma,
reescreve-se a equação fundamental, introduzindo seis coeficientes (0,C 1 , C 2 , a, b, c).
Assim a equação para a vazão torna-se,

(89)
Todas as variáveis são avaliadas no sistema SI de unidades, enquanto as pressões e
temperaturas referem-se aos valores absolutos, (p=p man +p atm e T= ºC+273,2). Portanto, as
unidades utilizadas são: vazão Q(m 3 /s), pressão p(Pa), temperatura T(K), comprimento
L(m), elevação z(m), constante do ar R ar (m 2 /s 2 -K), densidade relativa do gás (g (-). A
vazão Q std , refere-se às condições padrão (no Brasil, p=p atm e T=20ºC), enquanto p 1 e p 2
são as pressões a montante e a jusante, respectivamente.
Destaque-se que a vazão para uma instalação real tende a ser inferior àquela sugerida
por (89) devido às perdas adicionais provocadas por componentes, como válvulas, curvas
e flanges, assim como outros efeitos, como corrosão e a presença de sólidos (poeiras e
partículas de corrosão). Para considerar essas perdas extras, é introduzido o fator de
eficiência 0 que, em geral, assume um valor no intervalo 0,8< 0 <1,0, podendo chegar a
0,7< 0 <1,0 em instalações mais antigas.

Tabela 5: Coeficientes para diversos modelos de escoamento - Eq. (89)


Coeficientes
Modelo C1 a b c C 2=
Teórico 13,305 1,0 0,5 2,5
Weimouth 137,32 1,0 0,5 2,6667 1,0
Panhandle-A 99,51 0,8539 0,5394 2,6182 1,0
Panhandle-B 137,24 0,9608 0,5100 2,5300 1,0
IGT 88,06 0,8000 0,5555 2,6667 1,0
Mueller 87,51 0,7400 0,5747 2,7240 1,0
Frizsche 94,26 0,8580 0,5382 2,6911 1,0
AGA-A 13,303 1,0 0,5 2,5

AGA-B 13,303 1,0 0,5 2,5

A Tabela 5 resume os coeficientes adotados pelos diversos modelos. A última coluna


registra as expressões utilizadas para cálculo do fator C 2 para o modelo específico,
resultante da aplicação do fator de transmissão . Nos modelos teórico, AGA-A e
AGA-B, C 2 é uma função explícita de f. Nos outros seis casos, os valores dessas funções
estão embutidas em C 1 , com C 2 =1. O coeficiente C f na expressão para o coeficiente de
atrito para AGA-A é um fator utilizado para compensar as perdas devido a curvas, soldas,
etc., tendo um valor recomendado na faixa (0,90<C f <1,0). O parâmetro , é a rugosidade
absoluta do duto.
Segmentação de Duto (Loop) - Aumento de Vazão
Um problema interessante no projeto de gasoduto consiste em aumentar a vazão com
a instalação de um loop, mantendo as pressões de entrada e saída. Normalmente, o que se
faz nessa circunstância é instalar uma linha paralela em algum trecho, conforme sugerido
na Fig. 17.

Figura 17: Segmentação de um duto.

Considere um duto com diâmetro constante D o conectando os pontos A e B e


transportando gás natural com vazão Q o . Deseja-se aumentar a vazão para Q f com a
instalação de um loop. Qual o comprimento e o diâmetro deste segmento? A solução
consiste em aplicar o conceito de escoamento de dutos em série e em paralelo. Das Eqs.
(66) e (68) tem-se,

(90)

onde K 1 e K eq são os coeficiente de resistência nos trecho AC e CB, respectivamente. A


partir da condição nas quais as pressões são mantidas, a combinação de (89) com (66), (68)
e (90), fornece a relação entre as vazões,

(91)

onde os expoentes b e c são especificados na Tabela 6.


Esta equação mostra alguns resultados interessantes: (a) quando L 2 /L 1 6 0 então Q f
6 Q o; (b) quando D 3 /D o6 0 então Q f 6 Q o, ambos consistentes com o esperado. Uma vez
especificada a razão Q f /Q o pode-se calcular D 3 e L 2 . Um resultado igualmente interessante
ocorre quando D 3 =D o (diâmetro do loop igual ao diâmetro original da linha),
(92)

Para b= 0,5, L= L 1 +L 2 , $= (1+ ") 2 e Q f= (1+ ")Q o ("= fração do aumento na vazão) esta
expressão reduz-se a,

(93)

Portanto, para dobrar a vazão ("= 1 ˆ $= 4), e L 3 = L; ou seja, uma segunda linha, idêntica
à primeira.

Efeito da Localização do Loop sobre a Vazão e a Pressão


As últimas equações mostram que, mantidas as pressões de entrada e saída, a
segmentação sempre aumenta a vazão no sistema. E, vice-versa, se a vazão for mantida
constante, a presença do loop provoca uma redução na perda de carga.
As equações mostram também que, à primeira vista, a localização do loop não tem
qualquer efeito sobre a vazão. Ora, no caso particular de escoamento compressível, isto
pode não ser exatamente verdade, podendo a localização ter um impacto significativo na
resposta do sistema. O motivo está associado ao comportamento do escoamento com as
variações de pressão, temperatura e do coeficiente de compressibilidade Z ao longo do
duto.
Pressão e temperatura têm efeitos particulares quando se escolhe a posição do loop.
Por exemplo, na região final da linha a perda de carga é maior do que na inicial, uma vez
que no final o gás está expandido, i.e., as densidade são menores e as velocidades maiores;
portanto, maiores são as perdas. Por outro lado, a temperatura tem também um efeito
especial sobre o escoamento compressível. Na região a montante, particularmente logo a
jusante da estação de compressão, a temperatura do gás tende a ser relativamente alta.
Acrescentando um loop numa região de temperatura mais elevada, aumenta-se a
transferência de calor com o exterior, uma vez que a superfície de troca de calor é maior.
Quanto maior a taxa de resfriamento, menor será a queda de pressão — basicamente
devido à redução de velocidade, conseqüente do aumento da densidade do gás. Portanto,
esta análise sugere que o loop seja instalado na região a montante, preferencialmente logo
a jusante da estação de compressão, especialmente se o gás estiver muito quente. Apesar
disso, para certas configurações, uma análise transiente do sistema pode concluir que a
perda de carga pode ser menor para o loop instalado no final da linha, longe do compressor.
Desta forma, é recomendável que a distribuição de temperatura seja também objeto de
simulações numéricas cuidadosas na determinação da melhor localização de loops,
incluindo a análise transiente. Ressalte-se que para situações em que a temperatura do gás
encontra-se próxima da temperatura externa — diferenças inferiores a 5º-10º C —, esta
deixa de ser um parâmetro relevante.

Energia Transportada pelo Gás


O poder calorífico de um gás é o calor (energia química) liberado quando uma
unidade do combustível é queimada com oxigênio sob certas condições. Metano, por
exemplo, tem um poder calorífico em torno de 1010 Btu/ft 3 (37.620 kJ/m 3 ) nas condições
padrão. Denominando 'g o poder calorífico do gás (naturalmente nas unidades apropriadas,
como J/m 3 no sistema SI), a energia transportada será igual a,

(94)

Observe que esta equação representa potência; i.e., watts= J/s = (J/m 3 )×(m 3 /s).
Portanto, W g expressa a quantidade de energia transportada por unidade de tempo
(potência) pelo duto. Deve-se ter em conta que o poder calorífico reflete tão somente a
quantidade de energia liberada numa queima completa do gás. Até aqui não foi feita
nenhuma referência ao rendimento termodinâmico da planta, ou do sistema, que recebe o
gás e o transforma em energia útil. A energia disponível, W e ou efetiva da planta é obtida
pela expressão,

(95)

onde 0p representa o rendimento global da instalação.


Um gasoduto com vazão de 1×10 6 m 3 /d de gás natural e poder calorífico de 37×10 6
J/m 3 , transporta 428 Mw (=1×10 6 ×37×10 6 /86400). Por outro lado, uma moderna usina
termelétrica, consumindo gás natural num ciclo simples, apresenta um rendimento na faixa
de 36-38%. Logo, para esta situação, 1milhão de m 3 /d de gás natural produz cerca de 160
Mw de potência elétrica (160×10 6 . 0,37×10 6 ×37×10 6 /86400). A usina de Itaipu, por
exemplo, tem hoje (2012) uma potência instalada de 14.000 Mw (20 turbinas de 700
Mw). Equivale, portanto, ao consumo de gás natural em torno de 88 MMm 3 /d
(=14.000×10 6 /160×10 6 ). Em resumo, para um rendimento de 37% o equivalente
energético para o gás natural é (aproximadamente): 1 MMm 3 /dia . 160 Mwatts .

Exemplo 8 Um gasoduto transporta gás natural entre duas localidades distantes 14 km. O gás tem
densidade 0,72, expoente isentrópico 1,46 e viscosidade 1,03×10-5 Pa-s. Determinar a vazão e a
velocidade no final da linha se a pressão (man.) no ponto inicial é de 8,2 bar e no ponto de entrega
é de 5 bar. As elevações, temperaturas e o fator Z nesses dois pontos são, respectivamente: (10m,
23ºC, 0,97) e (920m, 18ºC, 1,0). O diâmetro do duto é de 150 mm, enquanto a rugosidade é de 20
:m e o fator de atrito para AGA-B igual a 0,97. Utilizando uma eficiência de duto de 100%,
compare os resultados obtidos pelos nove modelos de transporte.

Solução: A vazão é obtida pela aplicação direta da Eq. (89), enquanto a velocidade é calculada a
partir da equação de continuidade . Os resultados estão resumidos na tabela a seguir.
Observe que os modelos Weimouth e Fritsche são conservadores, enquanto os valores dos modelos
Teórico, IGT e AGA-A encontram-se relativamente próximos. Os números de Reynolds para os
respectivos modelos estão no intervalo 6,5 a 9,5×106, enquanto, no ponto de entrega, os números
de Mach têm um valor médio de 0,025 e a velocidade de erosão é de 52,7 m/s, Eq. (87). Os
resultados mostram que as velocidade do gás estão dentro dos valores recomendados; ou seja, entre
16% e 24% da velocidade de erosão.

Modelo Qstd Vs Modelo Qstd Vs


(m3/d) (m/s) (m3/d) (m/s)
Teórico 89.730 9,84 Mueller 105.570 11,57
Weimouth 80.200 8,79 Fritzsche 80.540 8,83
Panhandle-A 98.960 10,85 AGA-A 83.260 9,13
Panhandle-B 116.210 12,74 AGA-B 94.790 10,39
IGT 95.590 10,48
Exemplo 9 Um duto transporta gás natural entre duas cidades distantes 185 km. O gás tem
densidade 0,56 e viscosidade 1,31×10-5 Pa-s. Determinar o diâmetro da linha para transportar 2,5
MMm3/d se a pressão no ponto inicial é de 98 bar e no ponto de entrega de 45 bar. As elevações,
temperaturas e o fator Z nesses dois pontos são, respectivamente: (10m, 25ºC, 0,90) e (415m, 19ºC,
0,92). A rugosidade do duto é de 18 :m e o fator de atrito para AGA-B é igual a 0,94. Utilizando
uma eficiência média do duto de 95%, compare os resultados obtidos pelos nove modelos de
transporte.

Solução: O diâmetro é obtido da Eq. (89); ou seja,

Os resultados estão resumidos na tabela a seguir. Neste exemplo há uma concordância geral
para o diâmetro, em torno de 12 in. Os números de Reynolds para os respectivos modelos
encontram-se no intervalo de 6 a7,5×106, enquanto na extremidade final do duto os números de
Mach têm um valor médio de 0,020 e a velocidade de erosão é de 20,7 m/s. Pode-se concluir então
que as velocidades do gás para os diversos modelos estão dentro dos valores recomendados, entre
34% e 54% da velocidade de erosão. Outro ponto a ser destacado é que o gradiente de pressão
médio no duto é de 28,6 kPa/km, próximo do valor recomendável, Eq. (88).

Modelo D Vs Modelo D Vs
(in) (m/s) (in) (m/s)
Teórico 11,8 8,29 Mueller 10,22 11,03
Weimouth 12,29 7,64 Fritzsche 11,77 8,33
Panhandle-A 11,08 9,4 AGA-A 11,89 8,16
Panhandle-B 10,93 9,64 AGA-B 11,71 8,4
IGT 10,93 9,65
O PROBLEMA TÉRMICO

Transferência de calor pode ser definida como a transmissão de energia de uma


região para outra em conseqüência da diferença de temperaturas entre elas. É usual na
literatura, distinguir três modos de transferência de calor: condução, convecção e radiação.
Devido os distintos processos envolvidos em cada um desses mecanismos, eles são
estudados separadamente. Por outro lado, na maior parte das situações práticas a
transferência de calor, ocorre através dos três mecanismos, simultâneamente. É
particularmente importante em engenharia estar ciente da confluência dos vários modos de
troca de calor porque, na prática, quando um mecanismo é quantitativamente dominante
soluções aproximadas importantes podem ser obtidas desprezando-se todos, exceto o
dominante.
Em muitas situações práticas os três mecanismos mencionados são relevantes no
cálculo da distribuição de temperatura. Todavia, neste caso, consideram-se somente os
modos devidos à condução e à convecção, uma vez que o estudo da radiação requer
detalhes da configuração geométrica do sistema duto-meio exterior e das fontes de energia
radiante, não tratados nesta introdução.

Leis de Transferência de Calor - Condução e Convecção

Condução
A relação básica de transferência de calor por condução diz que a quantidade de
calor transferida é proporcional à área e ao gradiente de temperatura na direção do fluxo.
O fluxo de calor é obtido pela lei de Fourier que, para condição unidimensional, tem a
forma,

(98)

onde q ks é o fluxo de calor na direção-s, A a área e k a condutividade térmica do material.


No sistema SI de unidades k é definido por J/s-m-K, ou W/m-K. O fluxo de calor é assim
dado em watts (W).
Convecção
O fluxo de calor por convecção entre uma superfície e um fluido pode ser expresso
pela equação,

(99)

na qual q c é o fluxo de calor, A a área, h c o coeficiente de filme (coeficiente de película,


ou de troca de calor por convecção), T s a temperatura da superfície e T 4 a temperatura
do fluido, longe da superfície. O coeficiente de filme é expresso em W/m 2 -K.
A avaliação do coeficiente de transferência de calor, h c , é sempre difícil devido à
complexidade do fenômeno de convecção. A estimativa de h c depende da geometria da
superfície, da velocidade do fluido relativa à superfície, das propriedades do fluido e do
valor da diferença de temperatura )T= (T s-T 4). Na maior parte dos casos práticos, as
quantidades na Eq. (99) não são constantes ao longo da superfície; i.e., tanto a temperatura
quanto o coeficiente de filme variam de ponto a ponto, gerando um valor local e um médio.

Condução de Calor num Cilindro Composto


Considere o cálculo da transferência de calor envolvendo convecção forçada e
condução num cilindro composto de mais de um material onde um fluido escoa pelo
cilindro interno e o conjunto encontra-se imerso em outro fluido. Admite-se que o arranjo
é composto de duas camadas a e b, com coeficientes de película h i e h e para as regiões
internas e externas do cilindro, conforme esquematizado na Fig. 18.
Admitindo regime permanente, o fluxo de calor radial é constante, desde a região
interna até uma distância considerável do cilindro externo em que a temperatura mantém-se
igual a T e . A aplicação das Eqs. (98) e (99) desde a linha de centro até o ponto externo
conduz à equação,

(100)

com o coeficiente global de transferência de calor, U, definido como,

(101)
No sistema SI, a unidade de U é W/m-K (/ W/m-C).

Figura 18: Fluxo de calor num cilindro composto

Coeficiente de Troca de Calor


O coeficiente local de troca de calor é função das propriedades físicas do fluido que
escoa sobre a superfície sólida, assim como a do mecanismo de escoamento. Propriedades
do fluido, tais como densidade, viscosidade, calor específico e condutividade térmica
afetam o coeficiente, assim como a geometria e o ponto onde este está sendo
considerado. O parâmetro geométrico inclui o diâmetro, ou uma distância a partir de um
ponto de referência. A variável do escoamento é a velocidade (média para escoamento
interno, ou da corrente, no caso de escoamento externo). Coeficientes de troca de calor para
essas situações são apresentados na literatura sob forma de correlações por meio de grupos
adimensionais, envolvendo esses parâmetros na forma Nu= f(Re,Pr), onde Nu= hD/k é o
número de Nusselt, Re= VD/< o número de Reynolds e Pr= : c p /k o número de Prandtl
(uma propriedade do fluido). Conhecidos Re e Pr, a relação funcional entre o número de
Nusselt e esses dois parâmetros permite calcular o valor de h.

Transferência de Calor em Dutos


Pressão e temperatura desempenham um papel importante em dutos transportando
hidrocarbonetos, especialmente em longas distâncias. Variações na temperatura afetam a
viscosidade, densidade e calor específico de líquidos, particularmente no transporte de óleo.
Enquanto o aumento na temperatura pode ser vantajoso nos oleodutos, uma vez que a
redução na viscosidade induz uma queda na pressão, o inverso ocorre nos gasodutos, onde
a queda de pressão aumenta com a temperatura (a viscosidade dinâmica, :, dos gases
aumenta com temperatura).
Nos projetos de dutos para transporte de hidrocarbonetos, o cálculo da temperatura
é tão relevante quanto o da pressão. É importante para o projetista conhecer a distribuição
desses parâmetros, tanto para o cálculo estrutural quanto para estudos e análises
operacionais.
Para calcular o fluxo de calor, ou a distribuição de temperatura ao longo de um duto,
é necessário conhecer as propriedades físicas dos materiais (duto e isolante) dos fluidos
escoando no seu interior e exterior, assim como dos coeficientes de troca de calor. Se a
radiação for relevante, propriedades das superfícies (emissividade e fator de forma, dentre
outras) também precisam ser conhecidas.

Distribuição de Temperatura e Efeito Joule-Thomson


Para escoamento unidimensional em regime permanente ( const), a equação de
energia (36) admite a forma simplificada,

(102)

Para uma substância real (não ideal), a entalpia depende da temperatura e da pressão, ou
seja,

(103)

onde : é o coeficiente Joule-Thomson [K/Pa]. Levando (103) em (102) e combinando


com a forma diferencial de (100) obtém-se,

(104)
Definindo os parâmetros , e T * ,

(105)

a Eq. (104) pode ser escrita como,

(106)

onde s é a coordenada na linha de centro do duto. Admitindo que os parâmetros que


definem g e T * sejam constantes no intervalo s, a solução desta equação é,

(107)

onde T o e T ext representam, respectivamente, as temperaturas de entrada no duto e externa.


Com freqüência pode-se desprezar o termo devido à energia cinética (V 2 ) na equação
de energia; neste caso, a expressão para T * assume a forma simplificada,

(108)

A Eq. (107) mostra que à medida que o comprimento s cresce, o lado direito da equação
tende para zero; portanto, T f 6 (T ext-T * ). Isto significa que para dutos longos, a temperatura
do fluido tende para a temperatura externa subtraída de T * , Fig. 19. No caso particular de
linhas horizontais (2=0), e efeito Joule-Thomson desprezível, ou não considerado, T * =0,
e a temperatura do fluido tende para a temperatura externa, T ext.
Figura 19: Perfil de temperatura ao longo de um duto com efeito Joule-Thomson.

Duto Enterrado
O fluxo de calor por unidade de comprimento (q 6 W/m) de um duto com
isolamento térmico, enterrado no solo, rocha ou areia, esquematicamente representado na
Fig. 20, é dado pela expressão,

(109)

onde k s é a condutividade térmica do solo, e S * o fator de forma de condução para o


sistema composto,

(110)

D é o diâmetro externo do isolamento térmico, e

(111)
O termo S*k s em (109) (S* definido em (110)), pode ser expresso como,

(112)

e assim a Eq. (109) pode ser escrita em função de U G * como,

(113)

Desta forma, a equação fundamental para o fluxo de calor no duto enterrado torna-se a
mesma daquela utilizada na Eq. (109). A solução para a distribuição de temperatura no duto
é dada pela Eq. (107), substituindo o coeficiente global de troca de calor U G , por U G * ,
definido em (111) e (112), assim como a temperatura externa, T ext, pela temperatura do
solo, T s. A resposta do sistema é análoga àquela mostrada na Fig. 19.

Figura 20: Duto enterrado num meio semi-infinito com temperatura de superfície
constante, h i é o coeficiente de película interno (convecção forçada), r1 e r2 os raios interno
e externo do duto, r3 o raio externo do isolante e k a e k b as condutividades térmicas do duto
e do isolante, respectivamente.
Exemplo 10 Um gasoduto de aço transporta 24 MMm 3 /d de gás natural entre duas
localidades distantes 735 km, conforme esquematizado abaixo. O duto está apoiado sobre
suportes que o mantém acima da superfície ao longo de toda extensão, sendo constituído
de três seções com diâmetros diferentes (especificados na figura), cada uma com
isolamento térmico de espessuras distintas também (65mm, 50mm e 35mm para os trechos
AB, BC e CD). Se a temperatura do gás no ponto de entrada é de 72º C, a temperatura e
a velocidade do ar é de 27ºC e 2,5 m/s, respectivamente, pede-se calcular a distribuição de
temperatura ao longo da linha, considerando os efeitos de Joule-Thomson. O gás tem
densidade 0,572, viscosidade 1,12×10 -5 Pa-s, condutividade térmica 0,034 W/m-K e calor
específico 2.230 J/kg-K. Propriedades do ar são: massa específica 1,204 kg/m 3 , viscosidade
1,85×10 -5 Pa-s, condutividade térmica 0,022 W/m-K e calor específico 1.005 J/kg-K. A
condutividade térmica do isolante é de 0,042 W/m-K.

Solução:
Uma vez que as propriedades são função da pressão e temperatura, sobretudo D(p,T) e
Z(p,T), os problemas hidrodinâmico e térmico são acoplados; ou seja, devem ser resolvidos
simultaneamente. Como primeira aproximação, pode-se estimar valores médios para a
temperatura, por exemplo, resolvendo o problema hidrodinâmico (pressão) primeiro e, em
seguida, o térmico (temperatura). Este é resolvido subdivindo a linha em três segmentos,
uma vez que é possível especificar informações geométricas, como diâmetros e espessura
de isolamento, nesses trechos. Para cada um calcula-se o coeficiente global de troca de
calor entre o gás e o exterior. De (105/107) nota-se ser necessário conhecer o valor da
vazão de massa, uma constante ao longo do gasoduto por se tratar de escoamento em
regime permanente; isto é, . Para calcular U G é necessário avaliar os
coeficientes de filme interno e externo (h i e he ), além dos raios e condutividades térmicas
dos componentes (aço e isolante), esses conhecidos. Os coeficientes h i e h e são obtidos a
partir de expressões para os respectivos números de Nusselt. Uma vez determinados esses
parâmetros, a temperatura num ponto-i da linha pode ser estimada a partir da Eq. (107), i.e.,
(114)

onde )s i = s i - si-1 e T i e T i-1 são as temperaturas nos pontos s i e s i-1 , respectivamente. T ext é
a temperatura externa, T * é definido em (108), U Gi o coeficiente global de troca de calor do
intervalo-i, a vazão de massa e c p o calor específico à pressão constante do gás. O
processo inicia no ponto de entrada, s o = 0, onde a temperatura é conhecida, prosseguindo
até o ponto de entrega.
A Tabela abaixo indica os valores médios calculados para os coeficientes de filme
e de Joule-Thomson para cada segmento.

Segmento
Parâmetro
AB BC CD
UG (W/m-K) 2,102 1,932 2,600
: (K/Pa) 3,6×10-6 4,3×10-6 8,6×10-6

A Fig. 21 apresenta os resultados para a distribuição de temperatura e pressão. O gráfico


para a temperatura mostra as conseqüências de se considerar ou não o efeito Joule-
Thomson. A temperatura no ponto final é de 28,6 ºC quando J-T não é considerado,
enquanto esta atinge 11,7 ºC ao considerá-lo. Ou seja, a expansão devida à queda de
pressão provoca um significativo resfriamento do gás. Note que no primeiro trecho a
pressão cai lentamente devido à baixa velocidade, resultado do grande diâmetro de 42". Nos
dois segmentos seguintes, o diâmetro cai para 30", provocando um considerável gradiente
de pressão. Nesses trechos o efeito J-T é reforçado, conforme se pode observar da
expressão para T * , Eq. (108). Observe ainda que as pequenas inflexões na curva da
temperatura entre os trechos são devido aos valores distintos adotados para os coeficientes
de J-T nos respectivos segmentos. Num cálculo mais preciso, os coeficientes devem variar
continuamente ao longo do duto (função das pressões e temperaturas locais), gerando uma
distribuição mais suave.
Figura 21: Distribuição de temperatura e pressão ao longo do duto, destacando a
importância do efeito Joule-Thomson sobre a temperatura.

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