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Resumo
As exigências legais, em conjunto com as necessidades das organizações no atual cenário de mercado
globalizado, pedem um perfil de profissional contábil cada vez mais dinâmico e competente para o
exercício da profissão, sendo que este deve zelar pela construção de uma categoria forte e dinâmica,
adequando-se às demandas conforme as mudanças de mercado, aos desafios éticos e técnicos. A
presente pesquisa procurou debater sobre a formação acadêmica do contador e tratar sobre o perfil do
formando dentro das Instituições de Ensino Superior (IES) e do profissional exigido pelos
empregadores, considerando suas habilidades, valores e atitudes. O objetivo geral deste artigo foi
verificar qual a percepção dos egressos de Ciências Contábeis sobre a formação acadêmica do
contador proposta pelas IES e se essas atendem às exigências do mercado de trabalho. Trata-se de um
estudo estatístico, que teve a coleta de dados obtida por meio de survey, que obteve 71 questionários
válidos. Foi possível concluir, entre outros achados, que o curso de Ciências Contábeis foi escolhido,
principalmente, pelo mercado de trabalho e pela possibilidade de trabalhar e estudar. Além disso, a
presente pesquisa também identificou que a maioria dos egressos já atuava profissionalmente durante
a graduação. Os estudantes também demonstraram estar satisfeitos com o curso de Ciências Contábeis
e que se sentiam aptos para o mercado de trabalho.
Palavras chave: Perfil, Profissional, Ciências Contábeis.
1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento da contabilidade em âmbito nacional foi marcado pela globalização e
consequentes exigências legislativas, pois estas interferiram e interferem ainda hoje nos
procedimentos contábeis. As exigências legais, em conjunto com as necessidades das
organizações no atual cenário de mercado globalizado, pedem um perfil de profissional
contábil cada vez mais dinâmico e competente para o exercício da profissão.
Para Schmidt (2000), a contabilidade progrediu juntamente com o desenvolvimento da
civilização humana. Portanto, a história do pensamento contábil é produto do meio social de
seus usuários. Dessa forma, a evolução da contabilidade é o resultado dado em resposta às
mudanças sociais e econômicas ocorridas na sociedade, adaptando a sua aplicabilidade
conforme as necessidades demandadas (MARION, 1996; SÁ, 1999; SCHIMIDT, 2000).
Após a revolução informacional e tecnológica, o profissional contábil deve atuar de forma
dinâmica, utilizando-se de novos conhecimentos e recursos tecnológicos; um fator ímpar,
oferecendo suporte aos gestores para tomada de decisão (BEUREN e ROMANOWSKY,
2002; HAWKES et al, 2003).
De acordo com o International Accounting Education Standards Board (IAESB, 2008),
abordando sobre o perfil do profissional contábil para o futuro foi relatado que a missão desse
deve ser a de construir uma profissão forte e dinâmica, adequando-se às demandas conforme
as mudanças de mercado, aos desafios éticos e técnicos, abraçando novas tecnologias e novos
tipos de relatórios, promovendo a qualidade em todas as áreas da profissão, convergindo para
padrões internacionais e atendendo as necessidades de todas as entidades.
Diante da importância conferida a essa área de atuação e às exigências das competências e
habilidades do profissional contábil, torna-se necessário debater sobre a formação acadêmica
do contador e tratar sobre o perfil do formando dentro das instituições de ensino superior, bem
como do profissional exigido pelos empregadores, considerando suas habilidades, valores e
atitudes. Portanto, a questão orientativa desta pesquisa é: A formação acadêmica do
contador proposta pelas Instituições de Ensino Superior (IES) atende às exigências do
mercado de trabalho, na percepção dos egressos de Ciências Contábeis na cidade de
Curitiba/PR?
O objetivo geral deste artigo é analisar, mediante as percepções dos alunos graduados em
Ciências Contábeis, a formação acadêmica do contador proposta pelas IES e se essas atendem
às exigências do mercado de trabalho. Além disso, por meio dos objetivos específicos, o
artigo busca discutir os principais elementos da formação acadêmica do contador nas IES:
conhecimentos e habilidades, verificar e analisar as necessidades do mercado em relação às
habilidades, valores e atitudes para fins de contratação e investigar se o curso transmitiu
informações necessárias para a contratação, permanência e promoção desses alunos no
mercado de trabalho.
O presente estudo justifica-se pela tentativa de adaptação do currículo de Ciências Contábeis
às atuais exigências do mercado. As IES devem buscar formar um profissional forte e
dinâmico, com capacidade e virtudes técnicas e práticas e que deve ser capaz de compreender
novas tecnologias para prover a qualidade de seus serviços em todas as áreas da profissão.
Além disso, esta pesquisa também é justificada pelo crescente aumento dos cursos de
Ciências Contábeis em Curitiba, que conforme o Ministério da Educação (MEC, 2009) já
totaliza 23 cursos/habilitações, demandando assim estudos acerca do comportamento e do
atendimento às exigências do mercado por parte das IES.
Como delimitação de pesquisa, em decorrência do próprio tema explorado, o curso de
Ciências Contábeis, o presente estudo visou a aplicação dos questionários restrita aos alunos
da especialização e que sejam egressos do curso de graduação em Ciências Contábeis, pois
são esses que vivenciaram e representam efetivamente a proposta do presente artigo.
A presente pesquisa está dividida em mais cinco seções além da introdução: a Revisão da
Literatura, que contempla os tópicos sobre a Evolução do Curso de Ciências Contábeis,
seguida pela abordagem acerca da Formação profissional e Diretrizes Curriculares,
culminando com o Perfil do Profissional Contábil. Posteriormente, na terceira parte do artigo,
são apresentados o Design da Pesquisa de Campo e a Classificação da Pesquisa. A análise dos
resultados é apresentada na quarta parte da pesquisa, seguida pelas Conclusões obtidas.
2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Evolução do Curso de Ciências Contábeis
No Brasil, em termos de formação profissional, uma das primeiras manifestações deu-se em
1856, com a criação do Instituto Comercial do Rio de Janeiro, que oferecia a partir de 1863, a
disciplina de Escrituração Mercantil como forma de qualificar seus alunos para a prática do
registro contábil (SCHMIDT, 2000). Porém, ainda segundo o autor, a profissão do contador
foi regulamentada muitos anos após, mediante publicação no Diário Oficial da União do
Decreto nº 20.158, de 30 de junho de 1931, e somente em 1945, a profissão contábil foi
considerada uma carreira universitária.
Norte 73 6%
Nordestes 206 18 %
Sudeste 485 43%
Sul 232 20%
Centro-Oeste 136 12%
Totais 1132 100%
TABELA 1 - Distribuição dos Cursos de Ciências Contábeis no Brasil
Fonte: Adaptado do MEC (2009)
Conforme o MEC (2009), o Sul do país apresenta 232 instituições reconhecidas que provêm o
curso de Ciências Contábeis, isso representa 20% do total do país. Especificamente no Paraná,
existem 85 cursos de graduação/habilitação em Ciências Contábeis, entre universidades
públicas e privadas, faculdades integradas e institutos, somando 23 cursos somente na capital
paranaense.
A educação superior no estado do Paraná teve uma grande expansão nos últimos 30 anos,
porém sem atender às expectativas e demandas sociais, devendo-se fundamentalmente à falta
de uma política para o setor público, dependendo mais das pressões de segmentos organizados
do que de um planejamento. Como resultado, o Estado encontra-se em dificuldades para
manter o sistema e prover todas as necessidades institucionais para garantir a qualidade do
ensino superior oferecido (INEP, 2006).
2.2 Formação Profissional e Diretrizes Curriculares
No Brasil, a Resolução CNE/CES nº 6, de 10 de março de 2004, oficializou o Parecer CES
289/2003 e instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais. O Parecer CNE/CES nº 269/2004,
mudou as Diretrizes Curriculares Nacionais e a pedido do Instituto Brasileiro de Atuária
(IBA) alterou a Resolução nº 06/2004 devido à utilização do termo “domínio” das atividades
atuariais, utilizado diversas vezes na Resolução nº 06/2004, para o termo “noções” das
atividades atuariais.
A justificativa do IBA é que a Ciência Contábil possui fundamentos distintos da Atuarial,
levando finalmente à promulgação da Resolução CNE/CES 10/2004, aprovado em 16 de
dezembro de 2004 (PELEIAS et al, 2007). Essa alteração é muito pertinente, pois modificou a
utilização do termo “domínio” das atividades atuariais, atribuição essa exclusiva do Atuário,
dentro das competências e habilidades do Curso de Ciências Contábeis, sendo mais adequado,
portanto, a utilização do termo “noções” das atividades atuariais, sem causar danos as
competências e habilidades propostas para a formação profissional do contador.
O projeto pedagógico trazido pela Resolução CNE/CES nº 10/2004 abrange diversos
elementos estruturais, como inserção institucional, política, geográfica e social; modos de
integração entre teoria e prática; incentivos à pesquisa entre outros. Segundo o Art. 4º da
Resolução CNE/CES nº 10/2004, o curso de graduação deve possibilitar formação
profissional que revele habilidades ligadas ao uso da terminologia e a linguagem das Ciências
Contábeis e Atuariais, bem como desenvolver e aplicar os conhecimentos adquiridos no curso
possibilitando, entre outros, o fornecimento de informações aos administradores e aos outros
interessados, servindo como agente de ligação entre as entidades e a sociedade como um todo.
Está explicito que as diretrizes visam um currículo que viabilize a criação de múltiplos perfis,
bem como a formação de profissionais que atendam às necessidades da sociedade em seus
diferentes momentos de evolução e sempre que necessário surgirão novas resoluções que
visem ajustar essas diretrizes a alcançar a formação profissional mais adequada às
expectativas demandadas pelo mercado. Cada entidade pode adaptar o seu currículo a sua
necessidade de mercado de trabalho. Também existem algumas diferenças curriculares no que
diz respeito a questões culturais, porém Lousada e Martins (2004) confirmam o papel das IES
na escolha do melhor currículo quando citam que estas devem implementar o processo que
melhor atenda as suas características e expectativas.
Do total de respondentes válidos, 47,9% se graduaram há dois anos ou menos, 33,8% entre 3
e 5 anos e 18,3% há 6 anos ou mais. Quando perguntados em que tipo de instituição se
graduaram, 42,3% responderam em instituição pública e 57,7% em instituição privada.
Do total dos alunos que identificou o curso de pós-graduação, foi possível verificar que a
distribuição dos cursos está mais concentrada nos cursos de Gerência Contábil e
Controladoria, com 31% e 30% dos alunos respectivamente, 14% cursam Contabilidade e
Finanças, outros 10% cursam MBA em Auditoria Integral e 13% Gestão de Negócios. Com
relação à escolha do curso, foram apresentadas alternativas que possibilitavam múltipla
escolha por parte dos respondentes, estas opções estão elencadas e analisadas na tabela 2.
É possível verificar que 38% dos respondentes escolheram o curso de Contabilidade pelo
mercado de trabalho, ou seja, a empregabilidade que este aparentemente proporciona. Além
disso, a possibilidade de trabalhar e estudar também foi um fator considerado importante na
escolha do curso, sendo que essa opção representou 34% das respostas.
Na tabela 3, foi feita uma comparação da escolha dos respondentes versus a satisfação geral
do curso. No cruzamento da possibilidade de trabalhar e estudar combinada com a satisfação
dos respondentes, 42% desses demonstraram estar satisfeitos e 33% muito satisfeitos com o
curso escolhido. Já com relação aos que optaram por cursar Ciências Contábeis pelo mercado
de trabalho e a empregabilidade, pode-se verificar que 59% desses se consideraram
satisfeitos, 15% muito satisfeitos e 7% encontram-se insatisfeitos. Aqueles que escolheram o
curso por vocação também estão satisfeitos em sua maioria (53%) e os muito satisfeitos
representam 26% dos respondentes. Verifica-se que nenhum dos respondentes demonstrou
estar muito insatisfeito com a graduação em Ciências Contábeis.
TABELA 3 – Comparação da escolha do curso com a satisfação geral percebida pelos alunos
Fonte: os autores (2010)
GRÁFICO 4 - Como o aluno se enquadra em relação aos conhecimentos e habilidades exigidos pelo
mercado atual
Fonte: os autores (2010)
Quando perguntados se houve modificação após a graduação (dos que já empregados), 42%
responderam que não houve modificação em suas carreiras, porém 58% dos respondentes
tiveram algum tipo de mudança, situação essa delineada conforme a tabela 4.
Do total de alunos que passaram por alguma mudança após a graduação, 19% deles foram
promovidos, 15% obtiveram aumento de salário, 13% outros (passaram em concurso público,
assumiram cargo público, entre outros) e 10% deles tiveram seu contrato de trabalho
efetivado. A tabela 5 relaciona estas informações adquiridas ao longo do curso comparadas à
preparação dos alunos para o mercado do trabalho.
Sentia-se preparado
Informações enfatizadas pelo Curso para o mercado
Sim Não
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo respondeu a questão de pesquisa ao verificar qual a percepção dos alunos
de especialização em contabilidade sobre a formação acadêmica do contador proposta pelas
IES e se essa atende às exigências do mercado de trabalho.
Mediante os resultados apresentados, a resposta foi positiva sobre a formação acadêmica
proposta pelas IES e se estas atendem às necessidades do mercado de trabalho, pois foi
possível verificar que grande parte dos alunos (83,1%) sentiam-se preparados para atuar no
mercado de trabalho, fato este, possivelmente aliado ao perfil dos alunos que demonstrou que
73% já atuavam no mercado de trabalho durante a graduação, indicando que o curso
proporciona esta possibilidade e pode ser enriquecido pela combinação de teoria e prática que
os alunos acabam obtendo por intermédio de seus empregos.
Outro resultado relevante quanto ao atendimento das expectativas dos egressos foi o alto grau
de satisfação devido aos motivos pela escolha do curso, que é justamente a possibilidade de
trabalhar e estudar (42%) e o próprio mercado de trabalho (59%).
O dinamismo do mercado de trabalho é acompanhado e percebido pelos alunos e
profissionais, pois ao elencarem habilidades e conhecimentos deram a maior nota média para
a informática, que atualmente desempenha papel importante aliada a outras áreas do
conhecimento contábil, como contabilidade gerencial, capacidade de tomar iniciativa,
finanças e custos. Porém, estes mesmos alunos apresentam um perfil um pouco diferenciado,
segundo suas próprias percepções e atitudes, que elencaram trabalho em grupo a
posteriormente capacidade de tomar iniciativa como as opções que mais definem seus perfis,
o que também confronta com aquela velha imagem do contador, fechado e atento somente a
conhecimentos altamente relacionados a sua área.
Os resultados sugerem que as IES estão inserindo na sociedade diplomados aparentemente
aptos ao exercício da profissão. Para o curso de Ciências Contábeis este é um resultado muito
positivo, pois pode alavancar o prestígio do curso, bem como do profissional. É sinal de que
as IES estão se adaptando e procurando acompanhar as mudanças sociais e econômicas que
vêm ocorrendo na sociedade, especialmente pela pressão da globalização, enfatizando ainda
mais a importância pela busca da qualidade do ensino como resultado de um profissional mais
competente, dinâmico e qualificado que atenda às expectativas demandas pela sociedade.
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