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A Formação Acadêmica do Contador Proposta pelas Instituições de

Ensino Superior versus Exigências do Mercado de Trabalho:


Percepção dos Egressos de Ciências Contábeis na Cidade de
Curitiba/PR

Julyene F. da Silva Domakoski (UFPR) julyenef@hotmail.com


Tatiane Antonovz (UFPR) tatiane152@ufpr.com
Vicente Pacheco (UFPR) pacheco@ufpr.br
Michael Dias Corrêa (UFPR) mcdias@hotmail.com

Resumo
As exigências legais, em conjunto com as necessidades das organizações no atual cenário de mercado
globalizado, pedem um perfil de profissional contábil cada vez mais dinâmico e competente para o
exercício da profissão, sendo que este deve zelar pela construção de uma categoria forte e dinâmica,
adequando-se às demandas conforme as mudanças de mercado, aos desafios éticos e técnicos. A
presente pesquisa procurou debater sobre a formação acadêmica do contador e tratar sobre o perfil do
formando dentro das Instituições de Ensino Superior (IES) e do profissional exigido pelos
empregadores, considerando suas habilidades, valores e atitudes. O objetivo geral deste artigo foi
verificar qual a percepção dos egressos de Ciências Contábeis sobre a formação acadêmica do
contador proposta pelas IES e se essas atendem às exigências do mercado de trabalho. Trata-se de um
estudo estatístico, que teve a coleta de dados obtida por meio de survey, que obteve 71 questionários
válidos. Foi possível concluir, entre outros achados, que o curso de Ciências Contábeis foi escolhido,
principalmente, pelo mercado de trabalho e pela possibilidade de trabalhar e estudar. Além disso, a
presente pesquisa também identificou que a maioria dos egressos já atuava profissionalmente durante
a graduação. Os estudantes também demonstraram estar satisfeitos com o curso de Ciências Contábeis
e que se sentiam aptos para o mercado de trabalho.
Palavras chave: Perfil, Profissional, Ciências Contábeis.

Accountant Academic Formation Proposal in Gradution’s Courses


versus Labour Market: Accounting practitioners’ perceptions at
Curitiba/PR
Abstract
Legal requirements, together with the needs of organizations in today's globalized market
scenario, ask a professional profile accounting increasingly dynamic and competent to
practice the profession, and this should ensure the building of a strong and dynamic category,
adapting to the demands as the market changes, ethical and technical challenges. This study
sought to discuss their academic counter and treat on the profile of the learner within the
Higher Education Institutions and training required by employers, considering their skills,
values and attitudes. The purpose of this paper was to verify the perception of graduates of
Accountancy on the academic counter proposal by the IES and if these meet the requirements
of the job market. This is a statistical study, which was collecting data obtained through
survey, which received 71 valid questionnaires. It can be concluded, among other findings,
that the course of Accountancy was chosen mainly by the labor market and the possibility to
work and study. Furthermore, this research also identified that most graduates have acted
professionally during graduation. Students also demonstrated to be satisfied with the course of
Accountancy and that they felt fit for the job market.
Key-words: Profile, professional, Accounting

1 INTRODUÇÃO
O desenvolvimento da contabilidade em âmbito nacional foi marcado pela globalização e
consequentes exigências legislativas, pois estas interferiram e interferem ainda hoje nos
procedimentos contábeis. As exigências legais, em conjunto com as necessidades das
organizações no atual cenário de mercado globalizado, pedem um perfil de profissional
contábil cada vez mais dinâmico e competente para o exercício da profissão.
Para Schmidt (2000), a contabilidade progrediu juntamente com o desenvolvimento da
civilização humana. Portanto, a história do pensamento contábil é produto do meio social de
seus usuários. Dessa forma, a evolução da contabilidade é o resultado dado em resposta às
mudanças sociais e econômicas ocorridas na sociedade, adaptando a sua aplicabilidade
conforme as necessidades demandadas (MARION, 1996; SÁ, 1999; SCHIMIDT, 2000).
Após a revolução informacional e tecnológica, o profissional contábil deve atuar de forma
dinâmica, utilizando-se de novos conhecimentos e recursos tecnológicos; um fator ímpar,
oferecendo suporte aos gestores para tomada de decisão (BEUREN e ROMANOWSKY,
2002; HAWKES et al, 2003).
De acordo com o International Accounting Education Standards Board (IAESB, 2008),
abordando sobre o perfil do profissional contábil para o futuro foi relatado que a missão desse
deve ser a de construir uma profissão forte e dinâmica, adequando-se às demandas conforme
as mudanças de mercado, aos desafios éticos e técnicos, abraçando novas tecnologias e novos
tipos de relatórios, promovendo a qualidade em todas as áreas da profissão, convergindo para
padrões internacionais e atendendo as necessidades de todas as entidades.
Diante da importância conferida a essa área de atuação e às exigências das competências e
habilidades do profissional contábil, torna-se necessário debater sobre a formação acadêmica
do contador e tratar sobre o perfil do formando dentro das instituições de ensino superior, bem
como do profissional exigido pelos empregadores, considerando suas habilidades, valores e
atitudes. Portanto, a questão orientativa desta pesquisa é: A formação acadêmica do
contador proposta pelas Instituições de Ensino Superior (IES) atende às exigências do
mercado de trabalho, na percepção dos egressos de Ciências Contábeis na cidade de
Curitiba/PR?
O objetivo geral deste artigo é analisar, mediante as percepções dos alunos graduados em
Ciências Contábeis, a formação acadêmica do contador proposta pelas IES e se essas atendem
às exigências do mercado de trabalho. Além disso, por meio dos objetivos específicos, o
artigo busca discutir os principais elementos da formação acadêmica do contador nas IES:
conhecimentos e habilidades, verificar e analisar as necessidades do mercado em relação às
habilidades, valores e atitudes para fins de contratação e investigar se o curso transmitiu
informações necessárias para a contratação, permanência e promoção desses alunos no
mercado de trabalho.
O presente estudo justifica-se pela tentativa de adaptação do currículo de Ciências Contábeis
às atuais exigências do mercado. As IES devem buscar formar um profissional forte e
dinâmico, com capacidade e virtudes técnicas e práticas e que deve ser capaz de compreender
novas tecnologias para prover a qualidade de seus serviços em todas as áreas da profissão.
Além disso, esta pesquisa também é justificada pelo crescente aumento dos cursos de
Ciências Contábeis em Curitiba, que conforme o Ministério da Educação (MEC, 2009) já
totaliza 23 cursos/habilitações, demandando assim estudos acerca do comportamento e do
atendimento às exigências do mercado por parte das IES.
Como delimitação de pesquisa, em decorrência do próprio tema explorado, o curso de
Ciências Contábeis, o presente estudo visou a aplicação dos questionários restrita aos alunos
da especialização e que sejam egressos do curso de graduação em Ciências Contábeis, pois
são esses que vivenciaram e representam efetivamente a proposta do presente artigo.
A presente pesquisa está dividida em mais cinco seções além da introdução: a Revisão da
Literatura, que contempla os tópicos sobre a Evolução do Curso de Ciências Contábeis,
seguida pela abordagem acerca da Formação profissional e Diretrizes Curriculares,
culminando com o Perfil do Profissional Contábil. Posteriormente, na terceira parte do artigo,
são apresentados o Design da Pesquisa de Campo e a Classificação da Pesquisa. A análise dos
resultados é apresentada na quarta parte da pesquisa, seguida pelas Conclusões obtidas.

2 REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Evolução do Curso de Ciências Contábeis
No Brasil, em termos de formação profissional, uma das primeiras manifestações deu-se em
1856, com a criação do Instituto Comercial do Rio de Janeiro, que oferecia a partir de 1863, a
disciplina de Escrituração Mercantil como forma de qualificar seus alunos para a prática do
registro contábil (SCHMIDT, 2000). Porém, ainda segundo o autor, a profissão do contador
foi regulamentada muitos anos após, mediante publicação no Diário Oficial da União do
Decreto nº 20.158, de 30 de junho de 1931, e somente em 1945, a profissão contábil foi
considerada uma carreira universitária.

Em 26 de janeiro de 1946, foi fundada a faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas


da Universidade de São Paulo, com a instituição do Curso de Ciências Contábeis e Atuariais e
em 27 de maio do mesmo ano, foi criado o Conselho Federal e os Conselhos Regionais de
Contabilidade, mediante Decreto-Lei nº 9.295 (SCHMIDT, 2000; PELEIAS et al 2007).
Peleias et al (2007) evidenciam que a primeira fase do ciclo evolutivo do curso de Ciências
Contábeis, iniciada em 1863, termina no final da década de 60 e meados dos anos 70, que
foram marcados pelo Milagre Econômico e pela Ditadura Militar, sucedidos então por crises
econômicas derivadas de alta do petróleo.
A segunda fase evolutiva, iniciada nos anos 80, que foram considerados como a Década
Perdida, não havendo mudanças substanciais no ensino da contabilidade no Brasil. Somente a
partir da década de 90 iniciam-se novamente mudanças significativas nos currículos dos
cursos de contabilidade oriundos da estabilidade econômica advinda do plano real implantado
em 1994 e que proporcionou ao país estabilidade inflacionária (PELEIAS et al, 2007).
Em 1992, devido à Resolução CFE nº 03 de 03.10.1992, fixaram-se novas normas para que as
IES elaborassem os currículos para o curso de Ciências Contábeis, definindo o perfil do
profissional a ser formado, trazendo contribuições para o ensino da contabilidade no Brasil,
estimulando o conhecimento teórico e prático, permitindo o exercício da profissão com
competência e ética perante a sociedade (PELEIAS et al, 2007).
A evolução quantitativa dos cursos de contábeis é cada dia mais dinâmica. Segundo o
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), foram
ofertados no Brasil em 2006, entre universidades públicas e privadas, faculdades integradas e
institutos, cerca de 879 cursos presenciais de graduação em Ciências Contábeis, sendo o
número de vagas ofertadas por vestibular e outros processos seletivos um total de 101.367, os
alunos matriculados somavam 179.294 e os que concluíam o curso foram por volta de 28.931.
Já em 2009, o MEC reporta a existência de 1.132 cursos/habilitações autorizados e/ou
reconhecidos em Ciências Contábeis no Brasil, distribuídos conforme a tabela 1.

Região Instituições Reconhecidas Percentual

Norte 73 6%
Nordestes 206 18 %
Sudeste 485 43%
Sul 232 20%
Centro-Oeste 136 12%
Totais 1132 100%
TABELA 1 - Distribuição dos Cursos de Ciências Contábeis no Brasil
Fonte: Adaptado do MEC (2009)

Conforme o MEC (2009), o Sul do país apresenta 232 instituições reconhecidas que provêm o
curso de Ciências Contábeis, isso representa 20% do total do país. Especificamente no Paraná,
existem 85 cursos de graduação/habilitação em Ciências Contábeis, entre universidades
públicas e privadas, faculdades integradas e institutos, somando 23 cursos somente na capital
paranaense.
A educação superior no estado do Paraná teve uma grande expansão nos últimos 30 anos,
porém sem atender às expectativas e demandas sociais, devendo-se fundamentalmente à falta
de uma política para o setor público, dependendo mais das pressões de segmentos organizados
do que de um planejamento. Como resultado, o Estado encontra-se em dificuldades para
manter o sistema e prover todas as necessidades institucionais para garantir a qualidade do
ensino superior oferecido (INEP, 2006).
2.2 Formação Profissional e Diretrizes Curriculares
No Brasil, a Resolução CNE/CES nº 6, de 10 de março de 2004, oficializou o Parecer CES
289/2003 e instituiu as Diretrizes Curriculares Nacionais. O Parecer CNE/CES nº 269/2004,
mudou as Diretrizes Curriculares Nacionais e a pedido do Instituto Brasileiro de Atuária
(IBA) alterou a Resolução nº 06/2004 devido à utilização do termo “domínio” das atividades
atuariais, utilizado diversas vezes na Resolução nº 06/2004, para o termo “noções” das
atividades atuariais.
A justificativa do IBA é que a Ciência Contábil possui fundamentos distintos da Atuarial,
levando finalmente à promulgação da Resolução CNE/CES 10/2004, aprovado em 16 de
dezembro de 2004 (PELEIAS et al, 2007). Essa alteração é muito pertinente, pois modificou a
utilização do termo “domínio” das atividades atuariais, atribuição essa exclusiva do Atuário,
dentro das competências e habilidades do Curso de Ciências Contábeis, sendo mais adequado,
portanto, a utilização do termo “noções” das atividades atuariais, sem causar danos as
competências e habilidades propostas para a formação profissional do contador.
O projeto pedagógico trazido pela Resolução CNE/CES nº 10/2004 abrange diversos
elementos estruturais, como inserção institucional, política, geográfica e social; modos de
integração entre teoria e prática; incentivos à pesquisa entre outros. Segundo o Art. 4º da
Resolução CNE/CES nº 10/2004, o curso de graduação deve possibilitar formação
profissional que revele habilidades ligadas ao uso da terminologia e a linguagem das Ciências
Contábeis e Atuariais, bem como desenvolver e aplicar os conhecimentos adquiridos no curso
possibilitando, entre outros, o fornecimento de informações aos administradores e aos outros
interessados, servindo como agente de ligação entre as entidades e a sociedade como um todo.
Está explicito que as diretrizes visam um currículo que viabilize a criação de múltiplos perfis,
bem como a formação de profissionais que atendam às necessidades da sociedade em seus
diferentes momentos de evolução e sempre que necessário surgirão novas resoluções que
visem ajustar essas diretrizes a alcançar a formação profissional mais adequada às
expectativas demandadas pelo mercado. Cada entidade pode adaptar o seu currículo a sua
necessidade de mercado de trabalho. Também existem algumas diferenças curriculares no que
diz respeito a questões culturais, porém Lousada e Martins (2004) confirmam o papel das IES
na escolha do melhor currículo quando citam que estas devem implementar o processo que
melhor atenda as suas características e expectativas.

2.3 O Perfil do Profissional Contábil


A globalização e a harmonização contábil têm gerado muitas mudanças no que diz respeito às
alterações de modelos econômicos, geralmente propostas por países desenvolvidos (RICCIO e
SAKATA, 2004). A sociedade como um todo está sofrendo mudanças contínuas, devido à
revolução da tecnologia da informação, fator esse que veio acelerar ainda mais o processo de
globalização. Aumentando, portanto, a responsabilidade imposta sobre as IES responsáveis
pela formação de profissionais atuantes nesta sociedade (BEUREN e ROMANOWSKY,
2002; HAWKES et al, 2003; MAGALHÃES e ANDRADE, 2006).
A convergência com as normas internacionais de contabilidade é um fator que influencia a
formação do profissional contábil, bem como de seu perfil, devido à busca pela similaridade
dos conhecimentos nos diversos países (RICIO e SAKATA, 2004; MAGALHÃES e
ANDRADE, 2006). Isto denota a importância dada às competências e habilidades aplicadas
nas IES, como forma de preparar um profissional capaz de suprir as demandas de mercado,
sem deixar de lado as especificidades de conhecimento e exigibilidades legais locais.
O IFAC, por meio do IAESB (2007), a fim de melhorar e homogeneizar os padrões da
instrução da contabilidade em torno do mundo, foca em pontos chave, que seriam os
elementos essenciais que dão crédito: a instrução, experiência prática e testes de competência
profissional. O International Education Standard (IES 3) cobre atualmente as habilidades
profissionais e a instrução geral exigidas de um contabilista profissional. O padrão identifica
estas aptidões sob cinco tipos: intelectual, técnico, pessoal, interpessoal e de organização.
Já a International Education Guideline (IEG 9) do IFAC preconiza que os contadores também
devem aliar os conhecimentos técnicos a situações práticas, envolvendo todas as outras
habilidades já requeridas, porém com ênfase neste conjunto de ações e não só a parte teórica
ou prática. Oliveira (2005, p. 28) atenta para o papel das IES “[...] para que não se limitem à
formação puramente técnica de seus alunos, e sim da necessidade de oferecer a oportunidade
para construção de conhecimento para competência humana”. Lousada e Martins (2004, p.
74) complementam que “[...] uma das finalidades da Universidade é inserir na sociedade
diplomados aptos para o exercício profissional, deve ter ela retorno quanto à qualidade desses
profissionais que vem formando, principalmente no que diz respeito à qualificação para o
trabalho”.
3 DESIGN DA PESQUISA DE CAMPO
A seguir, serão descritos a tipologia da pesquisa, como foi definida a população e a
amostra escolhida.

3.1 Classificação da pesquisa


O presente estudo pode ser definido pela abordagem quantitativa e descritiva sobre o tema.
Marconi e Lakatos (1996) enunciam que a pesquisa descritiva aborda quatro aspectos, os
quais são descrição, registro, análise e interpretação de fenômenos atuais, objetivando o seu
funcionamento no presente. Além disso, a pesquisa quantitativa viabiliza a precisão dos
resultados e evita a distorção da interpretação, gerando maior segurança quanto às conclusões.
Segundo Cooper e Schindler (2003), a pesquisa ainda pode ser classificada como ex post
facto, que mostra percepções de rotina real dos pesquisados e de caráter transversal. Esta
pesquisa utilizou-se do método survey, realizada mediante a interrogação/comunicação, feita
pela aplicação de questionários que continham perguntas abertas e fechadas (COOPER e
SCHINDLER, 2003). O estudo pode ser classificado como estatístico e, com relação à análise
dos dados, foi utilizado o software Statistical Package for the Social Sciences (SPSS).

3.2 Operacionalização do instrumento e da coleta de dados


O questionário validado em trabalhos anteriores (OLIVEIRA, 2005; MAGALHÃES e
ANDRADE, 2006) apresentou perguntas fechadas, de múltipla escolha, além de uma questão
envolvendo escala de Likert e uma questão aberta relacionada à idade dos respondentes.
Também foram aplicadas outras questões relativas ao perfil dos estudantes, o gênero e há
quanto tempo esses estão graduados. Inicialmente, foi feita uma abordagem com relação ao
egresso antes de escolher o curso de Ciências Contábeis, suas principais motivações e anseios.
No decorrer do questionário foram abordadas questões relativas ao período de realização do
curso, as principais percepções, achados, além de atributos relacionados ao mercado de
trabalho que este estudante encontrou. Por fim, são abordados os aspectos intrínsecos
propriamente ao egresso de Ciências Contábeis, especificamente suas percepções em relação
ao curso, se estes indivíduos se sentiram preparados após a formatura e se houve alguma
mudança profissional na vida desses.
Os questionários foram aplicados no mês de Junho de 2009, em cinco turmas de
especialização de duas instituições, uma pública e uma privada, escolhidas por conveniência
dos autores. Foram questionários, direcionados aos contadores e desconsiderando os alunos
faltantes no dia da aplicação do instrumento de pesquisa.
4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1 Análise Descritiva dos Dados


A seguir, serão apresentados os resultados obtidos com a análise e interpretação dos 71
questionários válidos que foram preenchidos no dia 06 de Junho de 2009 por alunos de pós-
graduação, formados em contabilidade de duas instituições, uma pública e uma privada.
A amostra, não probabilística escolhida por conveniência dos autores, é representada por
52,9% (36) mulheres e 46,5% (34) homens, sendo que um questionário não possuía tal
identificação. Há quanto tempo os alunos se graduaram e o curso por esses escolhido, pode
ser melhor visualizado conforme os gráficos 1 e 2.

GRÁFICO 1 – Há quanto tempo se graduaram GRÁFICO 2 – Distr. do Curso de Pós-Graduação


Fonte: os autores (2010)

Do total de respondentes válidos, 47,9% se graduaram há dois anos ou menos, 33,8% entre 3
e 5 anos e 18,3% há 6 anos ou mais. Quando perguntados em que tipo de instituição se
graduaram, 42,3% responderam em instituição pública e 57,7% em instituição privada.
Do total dos alunos que identificou o curso de pós-graduação, foi possível verificar que a
distribuição dos cursos está mais concentrada nos cursos de Gerência Contábil e
Controladoria, com 31% e 30% dos alunos respectivamente, 14% cursam Contabilidade e
Finanças, outros 10% cursam MBA em Auditoria Integral e 13% Gestão de Negócios. Com
relação à escolha do curso, foram apresentadas alternativas que possibilitavam múltipla
escolha por parte dos respondentes, estas opções estão elencadas e analisadas na tabela 2.

Escolha do Curso Percentual respostas


Mercado de trabalho: empregabilidade 38%
Possibilidade de trabalhar e estudar 34%
Vocação ou por afinidade com a área 29%
Influência de terceiros 20%
Perspectivas salariais 13%
Baixa Concorrência no vestibular 6%
TABELA 2 – Escolha do curso de Ciências Contábeis
Fonte: os autores (2010)

É possível verificar que 38% dos respondentes escolheram o curso de Contabilidade pelo
mercado de trabalho, ou seja, a empregabilidade que este aparentemente proporciona. Além
disso, a possibilidade de trabalhar e estudar também foi um fator considerado importante na
escolha do curso, sendo que essa opção representou 34% das respostas.
Na tabela 3, foi feita uma comparação da escolha dos respondentes versus a satisfação geral
do curso. No cruzamento da possibilidade de trabalhar e estudar combinada com a satisfação
dos respondentes, 42% desses demonstraram estar satisfeitos e 33% muito satisfeitos com o
curso escolhido. Já com relação aos que optaram por cursar Ciências Contábeis pelo mercado
de trabalho e a empregabilidade, pode-se verificar que 59% desses se consideraram
satisfeitos, 15% muito satisfeitos e 7% encontram-se insatisfeitos. Aqueles que escolheram o
curso por vocação também estão satisfeitos em sua maioria (53%) e os muito satisfeitos
representam 26% dos respondentes. Verifica-se que nenhum dos respondentes demonstrou
estar muito insatisfeito com a graduação em Ciências Contábeis.

TABELA 3 – Comparação da escolha do curso com a satisfação geral percebida pelos alunos
Fonte: os autores (2010)

O gráfico 3 apresentou o grau de importância dos conhecimentos e habilidades exigidos para


a inserção do contador no mercado atual, conforme a percepção dos entrevistados. Na análise
da percepção dos egressos de Ciências Contábeis, o domínio de informática tem maior
importância do que outros conhecimentos e habilidades, apresentando média de 4,14 em uma
escala que variava de 1 a 5, para inserção desses indivíduos no mercado de trabalho. Aliaram-
se a esta escolha conhecimentos em Contabilidade Gerencial, a capacidade de tomar iniciativa
e pensamento crítico juntamente com conhecimentos em Finanças e Custos. Por fim. a
Auditoria apresentou a menor média (3,20) entre todas as matérias apresentadas.
desenvolvidas dos entrevistados a fluência em outro idioma, com média de 2,67 e o
conhecimento em Auditoria, com média de 2,65.

GRÁFICO 4 - Como o aluno se enquadra em relação aos conhecimentos e habilidades exigidos pelo
mercado atual
Fonte: os autores (2010)

Quando perguntados se houve modificação após a graduação (dos que já empregados), 42%
responderam que não houve modificação em suas carreiras, porém 58% dos respondentes
tiveram algum tipo de mudança, situação essa delineada conforme a tabela 4.

Mudança após a graduação Percentual respostas


Não houve modificação 42%
Foi promovido 19%
Aumento de salário 15%
Outros 13%
Contrato efetivado 10%
TABELA 4 – Mudanças ocorridas após a graduação
Fonte: os autores (2010)

Do total de alunos que passaram por alguma mudança após a graduação, 19% deles foram
promovidos, 15% obtiveram aumento de salário, 13% outros (passaram em concurso público,
assumiram cargo público, entre outros) e 10% deles tiveram seu contrato de trabalho
efetivado. A tabela 5 relaciona estas informações adquiridas ao longo do curso comparadas à
preparação dos alunos para o mercado do trabalho.

Sentia-se preparado
Informações enfatizadas pelo Curso para o mercado

Sim Não

Teóricas 84% 16%


Práticas 100% 0%
Conjunto de teóricas e práticas 86% 14%
Enfatizou menos a formação (tanto teórica quanto prática) 80% 20%
TABELA 5 – Comparação das informações enfatizadas pelo curso versus preparação para o mercado
Fonte: os autores (2010)
De acordo com a tabela 5, é possível verificar que a maioria dos alunos, independente da
opção de escolhas relativas ao que foi enfatizado no curso, sentia-se preparado para o
mercado de trabalho. Porém, essa relação pode ainda ser explicada pelo fato de que 73% dos
alunos já atuavam no mercado de trabalho (na área contábil e afins) durante a graduação,
enquanto 18,3% não trabalhavam e 8,5% atuavam em áreas distintas dessas. Quanto à área de
atuação, dos entrevistados que já trabalhavam durante a graduação e que informaram a
ocupação, 60,6% deles atuavam em empresa privada, 9,9% em serviço público, 8,5% como
autônomos e 5,6% exerciam outros tipos de atividades.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente estudo respondeu a questão de pesquisa ao verificar qual a percepção dos alunos
de especialização em contabilidade sobre a formação acadêmica do contador proposta pelas
IES e se essa atende às exigências do mercado de trabalho.
Mediante os resultados apresentados, a resposta foi positiva sobre a formação acadêmica
proposta pelas IES e se estas atendem às necessidades do mercado de trabalho, pois foi
possível verificar que grande parte dos alunos (83,1%) sentiam-se preparados para atuar no
mercado de trabalho, fato este, possivelmente aliado ao perfil dos alunos que demonstrou que
73% já atuavam no mercado de trabalho durante a graduação, indicando que o curso
proporciona esta possibilidade e pode ser enriquecido pela combinação de teoria e prática que
os alunos acabam obtendo por intermédio de seus empregos.
Outro resultado relevante quanto ao atendimento das expectativas dos egressos foi o alto grau
de satisfação devido aos motivos pela escolha do curso, que é justamente a possibilidade de
trabalhar e estudar (42%) e o próprio mercado de trabalho (59%).
O dinamismo do mercado de trabalho é acompanhado e percebido pelos alunos e
profissionais, pois ao elencarem habilidades e conhecimentos deram a maior nota média para
a informática, que atualmente desempenha papel importante aliada a outras áreas do
conhecimento contábil, como contabilidade gerencial, capacidade de tomar iniciativa,
finanças e custos. Porém, estes mesmos alunos apresentam um perfil um pouco diferenciado,
segundo suas próprias percepções e atitudes, que elencaram trabalho em grupo a
posteriormente capacidade de tomar iniciativa como as opções que mais definem seus perfis,
o que também confronta com aquela velha imagem do contador, fechado e atento somente a
conhecimentos altamente relacionados a sua área.
Os resultados sugerem que as IES estão inserindo na sociedade diplomados aparentemente
aptos ao exercício da profissão. Para o curso de Ciências Contábeis este é um resultado muito
positivo, pois pode alavancar o prestígio do curso, bem como do profissional. É sinal de que
as IES estão se adaptando e procurando acompanhar as mudanças sociais e econômicas que
vêm ocorrendo na sociedade, especialmente pela pressão da globalização, enfatizando ainda
mais a importância pela busca da qualidade do ensino como resultado de um profissional mais
competente, dinâmico e qualificado que atenda às expectativas demandas pela sociedade.

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