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Levantamento de ninhos de Meliponíneos no campus da Faculdade de

Ciências Agro-Ambientais - R.J.

M. G. O . R. Itagiba*; R. F.Teixeira de Freitas** & Souza, J. C. D.*** , J. C. Coelho da


Rocha**
Abstract:
The objective of this work was carry out a survey of the natives bees colonies
(Meliponinae) in a urban area of Rio de Janeiro (Faculdade de Ciencias Agro Ambientais’s
campus) during the period of June to December of 2001, in order to verify the diversity,
density and the substratum type used for nidificate.
Thirty six colonies were found : Nannotrigona testaceicornis (61,11%),
Tetragonisca angustula (25%), Plebeia droryana (11,11%) and Melipona spinipes (2,77%).
The population density was 2,5 colonies / hectare in 14,4 hectare. The substratum type
showed that 18 colonies used natural crack in the walls for nidificate (17 of them were
Nannotrigona testaceicornis and 1 Tetragonisca angustula), 16 colonies used hollows of
the trees (4 of them were Nannotrigona testaceicornis, 8 Tetragonisca angustula and 1
Plebeia droryana), 1 colony of the Nannotrigona testaceicornis used lamp post for
nidificate and 1 colony of the Melipona spinipes used branch of tree because this specie has
a particular capacity of building airiness nests.
The capacity of adaptation, the several sites for nidificate available and the
abundance of natural food resources could have influenced this the survival of these bees
at the campus.
Key words: Meliponinae, natives bees.

Resumo:
Esse trabalho teve como objetivo fazer um levantamento das colônias de abelhas
nativas (Meliponineios) verificando a diversidade, densidade e o tipo de substrato utilizado
para a nidificação, em uma área urbana na cidade do Rio de Janeiro (campus da Faculdade
de Ciências Agro Ambientais), durante o período de Junho a Dezembro de 2001.
Foram encontradas 36 colônias sendo: Nannotrigona testaceicornis (61,11%),
Tetragonisca angustula (25%), Plebeia droryana ( 11,11%) e Melipona spinipes (2,77%).
A densidade populacional em 14,4 ha foi de 2,5 colônias / ha. Quanto ao tipo de substrato
escolhido para nidificação 18 colônias utilizaram fendas naturais em paredes (sendo17
delas eram de Nannotrigona testaceicornis e 1 de Tetragonisca angustula), 16 colônias
nidificaram em ocos de árvores (sendo que 4 eram de Nannotrigona testaceicornis, 8 de
Tetragonisca angustula e 4 de Plebeia droryana), 1 colônia de Nannotrigona
testaceicornis nidificou em poste de iluminação e 1 colônia de Melipona spinipes nidificou
em galho de arvore, pois esta espécie apresenta a característica de construir ninhos aéreos.
A capacidade de adaptação, a disponibilidade de locais variados para a nidificação e
a abundancia de recursos alimentares podem ter contribuído para a
sobrevivência dessas abelhas no campus universitário.
Palavras chave: Meliponinae, abelhas nativas.
* ** ***
Professor da UFRRJ (aposentado) e da FAGRAM, Professores da FAGRAM, Professor da UFRRJ e da FAGRAM
Introdução:
As abelhas nativas brasileiras , sem ferrão, pertencem a família Apidae e a sub-
familia Meliponinae. Elas são responsáveis pela polinização de 90% de nossas plantas
nativas (segundo Kerr, 1994).
As alterações nos ecossistemas naturais causadas por desmatamentos, queimadas,
poluição, uso indiscriminado de defensivos agrícolas e urbanização podem modificar a
densidade de ninhos e a diversidade das espécies de abelhas nativas em diversas regiões.
Nas cidades, o crescimento urbano desordenado tem causado a diminuição de áreas
verdes e por conseqüência tem diminuído a oferta de substratos para a nidificação de
meliponíneos.
Diversos trabalhos envolvendo o levantamento de abelhas nativas nas áreas urbanas
tem sido realizados em vários estados brasileiros. No Paraná, Hakim (1983) observou
abelhas em Curitiba, Fritzen & cols (2000) pesquisaram as abelhas nativas na cidade de
Maringá e Proni & Macieira (2000) as pesquisaram na Bacia do rio Tibagi-Paraná. Em São
Paulo, Camargo & Mazucato (1986) e Freitas e cols (2000) analisaram as abelhas em
Ribeirão Preto, já Knoll (1985) e Pirani & Cortopassi-Laurino (1993) pesquisaram as
abelhas no campus da Universidade de São Paulo na cidade de São Paulo, bem como
Parpinelli e cols (2000) as pesquisaram em Santo André. Antonini & Martins (2000)
estudaram as abelhas nativas em Januária, Minas Gerais. Na Bahia elas foram estudadas na
cidade de Salvador por Teixeira e cols (2000).
Porém, no estado do Rio de Janeiro, poucos estudos tem sido realizados com
relação as abelhas nativas brasileiras, motivo pelo qual nos incentivou a realização desse
trabalho, que teve como objetivo : 1) procurar, localizar e identificar as colônias de abelhas
nativas em seus habitats naturais, no campus da Faculdade de Ciências Agro-Ambientais,
2) verificar os tipos de substratos usados para nidificação, 3) determinar a densidade
populacional .

Material e Métodos:
A pesquisa foi realizada no campus da Faculdade de Ciências Agro-Ambientais
(FAGRAM) que possui uma área de 14,4 hectares , localizada dentro de um perímetro
urbano, próximo a baía de Guanabara, na cidade do Rio de Janeiro, que caracteriza-se por
apresentar áreas edificadas, áreas pavimentadas, áreas com plantas cultivadas, áreas com
plantas forrageiras, áreas com espécies de ervas aromáticas e medicinais, áreas com plantas
ruderais ou nativas, áreas com plantas ornamentais revestindo jardins e áreas com espécies
de árvores frutíferas.
As colônias de abelhas nativas foram procuradas por todas as áreas do campus
universitário, em árvores vivas e árvores mortas, em seus troncos e em suas raízes, ao nível
do solo, bem como em fendas naturais das paredes dos prédios, durante o período de Junho
a Dezembro de 2001.
Após serem encontradas as colônias de abelhas nativas foram mapeadas e
identificadas. Para o mapeamento foi registrada a localização de cada colônia encontrada. E
para a identificação das espécies de abelhas foram observadas as suas características
morfológicas e biológicas, as características de comportamento e os hábitos de nidificação.
Foram estudadas também a densidade populacional, a porcentagem das espécies de
colônias encontradas e os tipos de substratos utilizados para a nidificação.
Resultados e Discussão:
Foram encontradas 36 colônias de abelhas nativas, sendo que 61,11 % eram de
abelhas Nannotrigona testaceicornis (abelhas iraí), 25 % eram de abelhas Tetragonisca
angustula (abelha jataí), 11,11 % eram de abelhas Plebéia droryana (abelha mirim) e
2,77 % eram de abelhas Melípona spinipes (abelha irapuá) .
A densidade populacional em14,4 ha foi de 2,5 colônias / ha.
Entre as 36 colônias de abelhas encontradas, 22 foram identificadas como a espécie
Nannotrigona testaceicornis conhecida popularmente como abelha iraí . Destas 17 foram
localizadas nidificando em fendas nas paredes dos prédios, 4 em ocos de árvores e 1 em
poste de iluminação. Embora alguns pesquisadores como Nogueira-Neto (1970) e Pirani &
Cortopassi-Laurino (1993) relatam que essas abelhas geralmente constroem tubos de
cerume curto, entre 2 a 3 cm de comprimento, em nossas observações verificamos que as
colônias encontradas apresentavam tubos de cerume longo, entre 5 a 18 cm de
comprimento e de coloração parda . Algumas colônias de abelhas iraí permaneceram em
seus habitats naturais enquanto que outras não.
Nove colônias foram identificadas como da espécie Tetragonisca angustula
conhecida como abelha jataí, que foram localizadas 8 delas nidificando em ocos de árvores
e 1 em fenda de parede . Elas apresentavam tubos de cerume de coloração amarelada com
cera branca nas extremidades e com muitos furinhos. Todas as colônias de abelhas jataí
permaneceram em seus habitats naturais após 6 meses de localizadas.
Foram identificadas 4 colônias de abelhas Plebéia droryana conhecida como
abelha mirim. Elas foram localizadas nidificando em ocos de árvores, apresentando tubo
de cerume de forma longitudinal com protuberância na parte inferior, como se fosse um
patamar, sendo que algumas apresentavam 2 entradas. Diferentemente das outras espécies
encontradas, elas apresentaram-se com pouco movimento de entrada e saída de abelhas ,
indicando provavelmente tratar-se de colônias com pequena população. Essas colônias de
abelhas mirim permaneceram em seus habitats naturais durante todo o período de nossas
observações.
Também foi encontrada uma colônia de abelha Melípona spinipes conhecida como
abelha irapuá nidificando em um galho de árvore , pois esta espécie apresenta característica
própria de construir ninhos aéreos.
Tanto as abelhas jataí ,Tetragonisca angustula , como as abelhas mirim, Plebéia
droryana, foram encontradas por Nogueira-Neto em uma área muito urbanizada, no bairro
de Copacabana, na cidade do Rio de Janeiro (Nogueira-Neto, 1970).

Conclusões:
1) Foram encontradas 36 colônias de abelhas nativas brasileiras com predominância
de Nannotrigona testaceicornis ( 61,11 % ) seguida de Tetragonisca
angustula ( 25 % ), Plebéia droryana ( 11,11 % ) e Melipona spinipes ( 2,77 % ).

2) A densidade populacional em 14,4 ha foi de 2,5 colônias / ha .

3) 50% da colônias encontradas utilizaram fendas naturais nas paredes dos prédios
como substratos para nidificação, 44,44 % utilizaram ocos de arvores, 2,77 %
utilizaram postes de iluminação e outras 2,77 % utilizaram galhos de arvores.
4) As espécies aqui encontradas tem sido encontradas também em outras cidades
brasileiras, o que nos permite concluir que tratam-se de espécies de grande
ocorrência no meio urbano, podendo serem consideradas cosmopolitas e que estão
em decréscimo no meio rural, como também constatou Proni e Macieira (2000).

5) O campus da FAGRAM conta com intensa atividade humana, o que demonstra que
as espécies de abelhas nativas que foram encontradas podem se adaptar em áreas
urbanas, desde que, estas áreas possuam recursos alimentares suficientes para
sobrevivência. Desta forma, o campus universitário contribui decisivamente para a
preservação dessas espécies de abelhas nativas brasileiras.

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