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A teoria dos modelos mentais e a educação inclusiva

Por Ruth Marcela Winter

RESUMO

Apontar a teoria dos modelos mentais como um aliado do professor no seu labor diário em sala
de aula com seus alunos, principalmente na educação inclusiva. Argumentaremos com base nas
leituras dos materiais teóricos proposto no curso Estratégias de Ensino e Aprendizagem
ofertado pelo IFMG Campus Arcos, e indicados nas referências bibliográficas e nas
experiências da autora como professora da educação básica. Pincelaremos alguns conceitos da
teoria dos modelos mentais e sua aplicação em sala de aula, indicaremos também com base nas
legislações vigentes o que é a educação inclusiva e como ela tem se mostrado em sala de aula.
Concluindo que esta é uma estratégia eficaz, que fomenta o processo de ensino aprendizagem
e facilita o entendimento do professor das atitudes e respostas vindas de seus alunos. Além de
contribuir com o aperfeiçoamento do próprio profissional da educação, tanto na sua práxis,
como nos aspectos seculares de sua vida.

PALAVRAS CHAVE: educação inclusiva; teoria dos modelos mentais; estratégia de ensino e
aprendizagem.

Introdução

“O professor que não leve a sério sua formação, que não estude, que não se esforce para estar
à altura de sua tarefa não tem força moral para coordenar as atividades da sua classe.” (FREIRE,
1996, P.92.) A principal característica que torna o professor cada vez mais competente em sua
tarefa é buscar cada vez mais conhecimentos, estratégias e ferramentas para aplicar no seu
processo de ensino e aprendizagem. A área da neurociência sempre atenta ao funcionamento
das nossas capacidades intelectuais e cognitivas tem sido um grande aliado da educação. Afinal,
a curiosidade é o que move a sociedade e provoca as evoluções. Aqui encontramos a teoria dos
modelos mentais desenvolvida por Johnson-Laird, que tem se mostrado verdadeira como parte
do princípio do conhecimento construído através da dedução. Por isso neste estudo é
argumentada a necessidade de ser conhecida por todos os profissionais da educação, em
especial os que trabalham com educação inclusiva. Algo que em breve será comum e parte do
trabalho de todos os profissionais da educação.
Breve história da educação inclusiva no Brasil

A educação é um direito básico garantido pela Constituição Federal de 1988, e reforçado pela
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, N°9394/96. Nela encontramos no capítulo V,
art. 58 , a definição e a garantia da educação especial. “Entende-se por educação especial, para
os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede
regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais.” A partir do ano de
1994 uma portaria do MEC recomenda que os cursos superiores incluam em sua formação os
aspectos relacionadas a formação da pessoa com necessidades especiais. No ano de 1999, com
o decreto 3298, define-se que a educação especial é uma modalidade transversal a qualquer
nível e modalidade de ensino. Em seguida a resolução CNE/CEB N°2 afirma que os sistemas
de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo as escolas se adequarem e organizarem
para atender aos alunos com necessidades especiais. Mais alguns pareceres reforçam a
importância de conteúdos voltados para a área de educação inclusiva na formação do professor,
e reforçam que a educação inclusiva não é apenas a presença física do aluno dentro da sala de
aula, mas rever concepções, abordagens, estratégias até promover a quebra de paradigmas para
que se promova a formação deste aluno. Foram formalizados também a Lingua Brasileira de
Sinais, o Braile, a importância da adequação dos prédios para acessibilidade arquitetônica, e o
reforço da presença do aluno com necessidades especiais na educação básica e, caso necessário,
o atendimento especializado acontecerá no contra turno escolar. Muito foi feito e ainda tem sido
feito na direção da consolidação e aperfeiçoamento da educação inclusiva no nosso país. Mas
vale ressaltar um trecho da Declaração de Salamanca (1994 P.3)

“.O princípio que orienta esta Estrutura é o de que escolas deveriam


acomodar todas as crianças independentemente de suas condições
físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras. Aquelas
deveriam incluir crianças deficientes e super-dotadas, crianças de rua e
que trabalham, crianças de origem remota ou de população nômade,
crianças pertencentes a minorias lingüísticas, étnicas ou culturais, e
crianças de outros grupos desavantajados ou marginalizados”

A educação inclusiva na sua essência é voltada para todos, não apenas para aqueles com
necessidades educacionais especiais. Mas para fins formais, “ela é uma modalidade da educação
escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para alunos que se diferenciam
por seus ritmos de aprendizagem, sejam mais lentos ou mais acelerados.” (DELOU, 2008 P.15-
16) Segundo a mesma autora, muitas vezes este processo leva a uma rotulação e com isso “O
indivíduo passa a se ver e a ser visto a partir de um rotulo, perdendo-se de vista tudo o que se
relacione ao seu referencial sócio-cultural, à riqueza de sua subjetividade, de seus valores, de
sua individualidade, de sua particularidade, acabando por se tornar um excluído social por se
diferenciar dos demais membros da sociedade.” (DELOU, 2008, P.17). Sendo necessário ao
professor lançar mão de estratégias que quebrem esse paradigma e esta forma de pensamento.

Números da educação inclusiva no Brasil

Utilizaremos as notas estatísticas do Censo Escolar da Educação Básica, realizado anualmente


pelo INEP em conjunto com as secretarias municipais e estaduais de educação. Conforme
consta no documento de 2019 (BRASÍLIA – DF; P.2)

É obrigatório aos estabelecimentos públicos e privados de educação


básica, conforme determina o art. 4º do Decreto nº 6.425/2008. As notas
estatísticas têm por objetivo ser um instrumento inicial de divulgação
com destaques relativos às informações de alunos (matrículas),
docentes e escolas coletadas no Censo Escolar da Educação Básica
2018.

Ao analisarmos os dados referentes ao ano de 2018, observamos que “o número de matrículas


da educação especial chegou a 1,2 milhão em 2018, um aumento de 33,2% em relação a 2014.”
E que “considerando apenas os alunos de 4 a 17 anos da educação especial, verifica-se que o
percentual de matrículas de alunos incluídos em classe comum também vem aumentando

gradativamente, passando de 87,1% em 2014 para 92,1% em 2018”, (BRASIL, 2019; P.4) como
mostrado na tabela I.
É notável o aumento de alunos da educação especial na rede básica de ensino, devido ao avanço
das tecnologias e da medicina gerando um maior número de casos diagnosticados. E graças ao
maior acesso a informação, os pais e responsáveis dos alunos tem entendido cada vez mais a
importância da escola na vida da criança e adolescente. Fato registrado por Pimentel em 2013,
na sua tese Autismo e escola: perspectiva de pais e professores, “A maioria dos pais e
responsáveis de crianças autistas (85%), enxerga a escola como positiva e 63% deles creem que
o maior impacto é a socialização”.

Estímulo ao saber

Uma das boas práticas que um professor pode ter é “usar diferentes recursos, estratégias e
metodologias para que todas as crianças possam aprender” (MINAS GERAIS; 2010). Os
estudos da neurociência e aquelas pesquisas voltadas para o entendimento do processo de
aquisição de conhecimento destacam vários fatores como integrantes deste processo, entre eles
o principal é a memória. RELVAS; 2007, P.48 diz que:

“A memória é a base de todo o saber e também de toda a existência


humana, desde o nascimento. Todo o nosso cérebro funciona através da
memória, comemos, andamos e falamos porque nos lembramos de
como fazê-lo. A memória determina nossa individualidade como
pessoas e como povos.”

“A memória é a reprodução mental das experiências captada pelo corpo


por meio de movimentos e dos sentidos. Essas representações são
evocadas na hora de executar atividades, tomar decisões e resolver
problemas, na escola e na vida.” (LIMA apud RELVAS,2007; P.49)

Sendo esta a base da aprendizagem, podemos associar ideias, teorias e estratégias como
ferramentas para estimular, despertar e até mesmo criar memórias. A teoria dos modelos
mentais de Johnson-Laird, é uma delas. Em resumo, a teoria diz que cada pessoa tem uma forma
de “ler o mundo”, e ler o mundo inclui ver e interpretá-lo. Eles são criados e definidos com base
na sua formação cultural, linguagem, vivências e experiências no meio social, preconceitos e
paradigmas e até mesmo componentes biológicos. “Os modelos mentais constituem um meio
de caracterizar as formas pelas quais as pessoas compreendem e interagem com dispositivos e
sistemas de um modo geral” (BORGES apud VIEIRA; 2019; P.45). O professor tem como
papel apresentar modelos conceituais que façam com que se desenvolvam outros modelos
mentais sobre determinado assunto. RELVAS; 2007, P. 50 – 51 diz:
“Se o estudante não aprende o conteúdo é porque não encontrou
nenhuma referência nos arquivos já formados para abrigar a nova
informação, e com isso, a aprendizagem não ocorre. Não adiante insistir
no mesmo tipo de explicação. Por isso, os conhecimentos do educando
precisam ser investigados, recordar aulas anteriores e dispor de diversos
recursos pedagógicos são importantes para formar “ganchos”,
facilitando a aprendizagem do mesmo.”

A teoria dos modelos mentais se baseia em alguns princípios, entre eles o da computabilidade;
ou seja; a mente funciona como um computador, “sistema lógico que capta e processa
informação, sendo capaz de produzir representações classificadas principalmente por duas
formas: analógicas (determinadas pelos sentidos) e proposicionais (linguagem ou código
representado por símbolos).” (JOHNSON-LAIRD apud VIEIRA; 2019 P.45). Podemos
comparar os arquivos anteriormente formados citados por Relvas, com os modelos mentais
citados na teoria de Johnson-Laird, e os modelos conceituais podem ser comparados aos
gatilhos para que sejam criadas novas memórias.

Teoria dos modelos mentais e a educação inclusiva

É importante para o profissional da educação conhecer os modelos mentais que cada aluno tem,
e se ele modela sobre determinado assunto, para que na sua prática de sala de aula, ele saiba
atingir o aluno com modelos conceituais que desenvolvam estes modelos mentais. Conhecer os
modelos mentais de uma pessoa ajuda também a prever as reações e formas comportamentais
frente as mais diversas situações. Por isso esta é uma grande estratégia para a educação
inclusiva, pois normalmente a forma de aprendizagem e o convívio em sociedade do aluno será
afetado pela sua necessidade especial. Entendendo os modelos mentais deste aluno, o trabalho
do professor se torna mais fácil. É possível conhece-los através de pesquisas, conversas,
avaliações diagnósticas não com foco nos resultados, mas no processo e observações dos
comportamentos e reações. Quanto mais modelos o professor conhecer, mais resultados
positivos ele alcançará e isto trará benefícios também para sua prática pedagógica, pois ele não
mais estimulará seus alunos a partir do mesmo modelo conceitual. Esta estratégia deveria ser
uma das primeiras a ser lançada mão dentro de uma sala de aula, e até mesmo se tornar natural
para o educador. Perante tantos desafios encontrados na educação em geral e em especial na
educação inclusiva, está e a ferramenta que mais tem se tornado apropriada para a prática
docente.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 RELVAS, Marta Pires; Fundamentos Biológicos da Educação: Despertando


inteligências e Afetividade no Processo de Aprendizagem. 2.ED. – Rio de Janeiro:
Wak. Ed.,2007
 ROSA, Suely Pereira da Silva; DELOU, Cristina Maria de Carvalho; OLIVEIRA,
Eloíza da Silva Gomes de; Fundamentos Teóricos e Metodológicos da Inclusão.–
Curitiba: Iesde Brasil S.A.,2008.
 FREIRE, Paulo; Pedagogia da Autonomia: Saberes Necessários à Prática
Educativa.2 ED. – São Paulo: Paz e Terra, 1996
 PIMENTEL, Ana Gabriela; Autismo e escola: Perspectiva de Pais e Professores. São
Paulo: USP, 2013
 VIEIRA JUNIOR, Nilton; Estratégias de Ensino e Aprendizagem.; Arcos, 2019
 Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais; Caderno de boas práticas dos
professores alfabetizadores das escolas de Minas Gerais. Minas Gerais; 2010
 INEP; Censo Escolar 2018.; Brasília – DF; 2019
 BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996). Disponível em
<https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/70320/65.pdf>Acessado em
19/07/2019.
 ONU, Declaração de Salamanca (1994). Espanha, disponível em
<http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf> Acessado em 19/07/2019.
 GIL, Marta; A legislação federal brasileira e a educação de alunos com deficiência
(2017). Disponível em < https://diversa.org.br/artigos/a-legislacao-federal-brasileira-e-
a-educacao-de-alunos-com-deficiencia/ > Acessado em 19/07/2019.
 AGUIAR, Camila; A teoria dos modelos mentais de Johnson-Laird (2016).
Disponível em :<https://pt.slideshare.net/camiguiar/a-teoria-dos-modelos-mentais-de-
johnsonlaird> Acessado em 19/07/2019
 RODRIGUES, Mõnica; Modelos mentais em 10 minutos (2015). Disponível em:
<https://pt.slideshare.net/monica85rodrigues/modelos-mentais-em-10-min> Acessado
em 19/07/2019
 SANTOS, Daniel; Modelos mentais (2012). Disponível em
<https://pt.slideshare.net/dsantos7/modelos-mentais-10788011>Acessado em
19/07/2019.

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