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A Terapia Comportamental

A psicologia se caracteriza por ser um campo de conhecimento sem um


paradigma aceito por toda a comunidade. Neste sentido não se fala em uma
psicologia mas em várias psicologias. Entretanto, no escopo deste trabalho, o
campo teórico adotado será o da análise do comportamento aplicada, adotando
como instrumento básico de estudo a análise funcional (Meyer, 1997). Para a
terapia comportamental tanto os comportamentos considerados adequados
quanto os considerados inadequados são resultados de processos complexos de
aprendizagem (Machado, A. M., 1997)

“Terapia Comportamental implica, basicamente, a análise funcional do(s)


comportamento(s) problema em questão (queixa do cliente), uma vez que ela se
dirige para metas de aprendizagem de outras maneiras de agir. Nesse sentido, o
objetivo geral da TC é criar novas condições para essa aprendizagem; e faz isso,
através da análise das contingências nas quais a queixa ou o problema está
sendo mantido. Assim, uma análise funcional das contingências em operação que
produzem um comportamento desadaptativo ou mal aprendido é realizada visando
a aquisição de novos repertórios comportamentais, em substituição aos
deficitários ou mal aprendidos, de modo a fortalecer e manter o comportamento
desejado, que 'funciona', permitindo, desse modo, que os indesejáveis, mal
aprendidos ou desadaptativos sejam enfraquecidos. E o terapeuta
comportamental é, nesse processo todo, a pessoa que vai atuar, voluntariamente,
no sentido de produzir alterações no comportamento do cliente: o comportamento
do terapeuta é diretivo, 'centrado' no cliente.”

Machado. A. M. (1997)
Elementos Básicos de Análise

Os elementos básicos da análise funcional são os estímulos antecedentes,


as respostas (ações dos organismos) e conseqüências (mudanças que seguem a
emissão da resposta e que alteram a probabilidade de ocorrência da mesma)
(Rangé, 1995a). Também é levado em conta na análise os eventos que podem
abranger características genéticas, estados de privação, fatores orgânicos e
fisiológicos. No trabalho clínico a análise funcional envolve pelo menos três
momentos da vida do cliente, a serem analisados por todo processo terapêutico:
história de vida, comportamento atual e a relação terapêutica (Delitti, 1997).

A Psicoterapia

Skinner (1974) coloca a psicoterapia como mais uma agência controladora


(além do governo, religião e outras) porém não organizada como as outras, mas
constituindo-se uma profissão que lida com os comportamentos do campo da
emoção (respondentes) e comportamentos operantes. O campo de atuação desta
psicoterapia são nas situações onde existem comportamentos inconvenientes ou
perigosos para o sujeito ou para o grupo.

O terapeuta comportamental utiliza em seu trabalho algumas técnicas e


procedimentos mais ou menos padronizados em seu trabalho:

· Audiência não punitiva: esta tem um papel importante no curso da terapia


por possibilitar que os comportamentos que até então estavam reprimidos
comecem a aparecer no repertório do cliente, podendo então ser
trabalhados e discutidos na terapia. Posteriormente alguns efeitos relativos
à punição destes comportamentos podem começar a ter extinção, sendo
este um dos principais resultados da terapia. (Skinner 1974) Este tipo de
procedimento é colocado por Skinner como sendo comum a psicoterapia
em geral.
· Sugestão de manejo de contingências: O terapeuta pode sugerir ao
cliente esquemas ou rotinas que afetem as contingências que podem estar
controlando determinado comportamento do cliente (Skinner 1974).
Posteriormente o autor detalhou mais esta questão relacionando estas
sugestões com os operantes verbais onde elas podem adquirir
propriedades de: Conselhos em forma de ordem (faça isto), ou de
conselhos em forma de descrição (se você fizer isto, aquilo pode acontecer)
(Skinner, 1995)

· Administração de reforços: apesar de uma pequena parte da vida do


clientes se passar na terapia, reforçadores podem ser usados para
comportamentos sociais e principalmente verbais, através de modelagem
mútua nos encontros face a face (Skinner, 1995)

O Papel do Terapeuta

Nesta abordagem cabe ao terapeuta identificar as causas mantenedoras


dos problemas do cliente e fornecer meios para que os objetivos dos clientes
sejam alcançados. (Lettner, 1995). Neste sentido o papel do terapeuta é de
identificar, através de inferências (Skinner, 1995), as relações funcionais dos
comportamentos utilizando como dado a própria sessão terapêutica e a relação
terapêutica (Guilhardi, 1997)

A relação terapêutica pode ser um fator de influência positiva quando o


terapeuta tem uma participação efetiva no tratamento (Rangé, 1995b) no sentido
de que tendo se desenvolvido uma relação terapêutica positiva, o cliente se sente
confortável o suficiente para fornecer as informações necessárias para a terapia.
(Lettner, 1995).

Skinner (1995) relata que existe uma diferença entre o conhecer por
compreensão (quando o organismo obteve as conseqüências reforçadoras) ou
conhecer por descrição (quando as conseqüências foram ensinadas). Isto é
chamado de comportamento modelado por contingências e comportamento
governado por regras.

O papel do terapeuta tendo em vista esta questão não é de simplesmente


oferecer novas regras aos seus clientes, mas lançando mão de doses
“homeopáticas” de algumas pequenas regras, fáceis de serem seguidas e com
alta probabilidade de receberem reforços, terem um objetivo maior de que os
clientes possam formular suas próprias regras, para que não mais necessitem do
terapeuta no futuro, quando surgirem novos problemas.

Por fim, sendo que a análise funcional se dá durante todo o processo


terapêutico, não existe a necessidade da utilização de rótulos em termos de uma
classificação nosológica. Esta não se mostra útil para um prognóstico do caso e
serve apenas para a comunicação entre profissionais de diferentes áreas. (Torós,
1997)

Dificuldades:

Meyer (1997) relata que a Análise do Comportamento aplicada na clínica se


depara com alguns problemas de controle de variáveis, o que difere do que
acontece nos laboratórios experimentais. As dificuldades são de identificação das
unidades de análise, de definição de eventos antecedentes e conseqüentes e de
falta de informações para a definição destas classes. Nos trabalhos com grupos,
onde a análise funcional também á aplicada, também são apontados problemas
relativos a julgamentos influenciados por fatores culturais e pessoais (Falcone,
1995).

A pesquisa em terapia comportamental:

Lipp (1995), tendo em vista as dificuldades relatadas acima, então, ressalta


a importância da documentação e avaliação sistemática dos casos clínicos.
Kerbauy, (1997) também aponta a necessidade de se gravar e transcrever as
sessões para posterior análise onde se irá descobrir as variáveis atuantes do
processo terapêutico. Se tratando de uma pesquisa em clínica estes
procedimentos se tornam ainda mais necessários, pois o controle total nunca é
possível. Além disto, na utilização da análise funcional em uma pesquisa clinica, a
investigação basicamente se apresenta como um estudo de caso, onde de acordo
com Kerbauy (1997) as formas de pesquisa ainda estão em aberto, necessitando
de criatividade por parte do pesquisador e respaldo na literatura.

Silvares e Banaco (in press) também argumentam a favor da pesquisa de


estudo de caso, onde relatam que esta é a forma ideal para se aumentar o corpo
de conhecimento em terapia comportamental podendo ser feita com delineamento
experimental (tratamento testados num único sujeito, onde o comportamento do
sujeito serve como seu próprio controle) ou naturalístico (utilizado quando não se
tem controle das variáveis, sendo feito de modo narrativo, sistemático e temporal)

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