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FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO

FUNDAMENTOS
DO ENSINO RELIGIOSO

Isabel Cristina Piccinelli Dissenha


Sérgio Rogério Azevedo Junqueira

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-5020-8
FUNDAMENTOS
DO ENSINO RELIGIOSO
9 788538 750208
41815
FUNDAMENTOS DO
ENSINO RELIGIOSO

Isabel Cristina Piccinelli Dissenha


Sérgio Rogério Azevedo Junqueira

IESDE BRASIL S/A


Curitiba
2015
© 2015 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização
por escrito dos autores e do detentor dos direitos autorais.

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SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
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P489f

Fundamentos do Ensino Religioso / Isabel Cristina Piccinelli Dissenha ; Sérgio Rogério


Azevedo Junqueira. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE BRASIL S/A, 2015.
130 p. : il. ; 21 cm.
ISBN 978-85-387-5020-8
1. Bíblia - Estudo. 2. Ensino religioso. I. Dissenha, Isabel Cristina Piccinelli. II. Junqueira,
Sérgio Rogério Azevedo.

15-24077 CDD: 220.6


CDU: 27-276
________________________________________________________________________
25/06/2015 26/06/2015

Capa: IESDE BRASIL S/A.


Imagem da capa: Shutterstock

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IESDE BRASIL S/A.


Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200
Batel – Curitiba – PR
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Apresentação

Este Guia de Estudo traz a disciplina Fundamentos do Ensino Religioso, orga-


nizada para explicitar a construção histórica e legislativa do Ensino Religioso a
partir de 1931. Assim, os interessados nesta temática poderão identificar o es-
tabelecimento dos parâmetros jurídicos, políticos, epistemológicos e didáticos
deste componente curricular.
Inicialmente, o Ensino Religioso foi introduzido nas escolas públicas brasilei-
ras como instrumento ideológico de uma instituição religiosa para, na segunda
metade do século XX, dialogar sobre a formação da identidade cultural do povo
brasileiro, valorizando a diversidade religiosa. Sob diferentes ângulos, será pos-
sível estabelecer referências e compreender como uma disciplina, presente no
currículo da escola pública brasileira, poderá promover a formação básica do
cidadão.
Sobre os autores

Isabel Cristina Piccinelli Dissenha

Mestre em Teologia pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR).


Especialista em Currículo e Prática Educativa pela Pontifícia Universidade Católica
do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e em Psicopedagogia pelo Instituto Brasileiro De
Pós-Graduação e Extensão (IBPEX). Graduada em Pedagogia pela Universidade
Tuiuti do Paraná (UTP).

Sérgio Rogério Azevedo Junqueira

Livre Docente e Pós-Doutor em Ciências da Religião pela Pontifícia Universidade


Católica de São Paulo (PUC-SP). Doutor e Mestre em Ciências da Educação pela
Universitá Pontifícia Salesiana di Roma. Especialista em Metodologia do Ensino
Religioso pela PUC-SP e em Metodologia do Ensino Superior pelo Centro de Estudos
e Pesquisas Educacionais de Minas Gerais (CEPEMG). Graduado em Pedagogia pela
Universidade de Uberaba (UNIUBE). Bacharel em Ciências Religiosas pelo Instituto
Superior de Ciências Religiosas (ISCR). Professor Titular na Pontifícia Universidade
Católica do Paraná (PUCPR). Professor do Programa de Strictu Sensu em Teologia na
PUCPR. Líder do Grupo de Pesquisa Educação e Religião.
Sumário

Aula 01 OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO ENSINO RELIGIOSO 9


PARTE 01 | ENSINO RELIGIOSO NAS CONSTITUIÇÕES FEDERAIS E LDBs 11

PARTE 02 | ENSINO RELIGIOSO NOS DIFERENTES SISTEMAS DE ENSINO 18


PARTE 03 | PARÂMETRO CURRICULAR, DIRETRIZES E PROGRAMAS 23

Aula 02 O ENSINO RELIGIOSO COMO ÁREA DO CONHECIMENTO 29


PARTE 01 | O QUE É UMA ÁREA DO CONHECIMENTO? 31
PARTE 02 | ÁREA DO CONHECIMENTO PARA AS DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO BÁSICA E PARA O CNPQ 36
PARTE 03 | OBJETOS DO ENSINO RELIGIOSO 40

Aula 03 O FENÔMENO RELIGIOSO 45


PARTE 01 | CONCEITOS DE RELIGIÃO E SUA HISTÓRIA 47
PARTE 02 | FENÔMENO RELIGIOSO 51
PARTE 03 | FENÔMENO RELIGIOSO COMO OBJETO PARA O ENSINO RELIGIOSO 55

Aula 04 O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO ESCOLAR 59


PARTE 01 | ESCOLA E RELIGIÃO 61
PARTE 02 | ESCOLA, DIVERSIDADE CULTURAL E CIDADANIA 65
PARTE 03 | O ENSINO RELIGIOSO E A DIVERSIDADE RELIGIOSA 70

Aula 05 PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO 73


PARTE 01 | PRESSUPOSTOS DA APRENDIZAGEM 75
PARTE 02 | PRESSUPOSTOS DO ENSINO – ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA 78
PARTE 03 | CONCEPÇÕES DO ENSINO RELIGIOSO 81
Sumário

Aula 06 EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO 87


PARTE 01 | CURRÍCULO E SUA ESTRUTURA 89
PARTE 02 | IDENTIDADE E PERFIL DOS EIXOS 93
PARTE 03 | EIXOS DO ENSINO RELIGIOSO EM DIFERENTES REGIÕES 96

Aula 07 VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO ENSINO RELIGIOSO 101


PARTE 01 | PROJETO PEDAGÓGICO E O ENSINO RELIGIOSO 103
PARTE 02 | SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO RELIGIOSO 107
PARTE 03 | ENSINO RELIGIOSO E OS TEMAS TRANSVERSAIS 112

Aula 08 FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA O ENSINO RELIGIOSO 115


PARTE 01 | SISTEMA DE ENSINO E ENSINO RELIGIOSO 117
PARTE 02 | POLÍTICA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES 121
PARTE 03 | ESTUDOS REGIONAIS E SUA POLÍTICA DE ORGANIZAÇÃO CURRICULAR 126
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Aula 01

OBJETIVO E LEGISLAÇÃO
DO ENSINO RELIGIOSO
Objetivo:

Identificar a construção histórico-


-legislativa do Ensino Religioso no
contexto republicano brasileiro.
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OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 01
ENSINO RELIGIOSO NAS CONSTITUIÇÕES
FEDERAIS E LDBs
O desafio de efetivar o Ensino Religioso durante o perío-
do republicano brasileiro é registrado pela tensão causada no
processo de aprovação das Constituições, especialmente nas
três mais recentes que explicitaram a separação entre Estado
e Igrejas, mas validaram a possibilidade de liberdade religiosa,
mesmo que concretamente sofram restrições.
Nesse sentido temos respectivamente Constituições da
“Segunda República” (1946), do “Regime Militar” (1967) e a
“Constituição Cidadã” (1988). Nos artigos referentes às ques-
tões religiosas dos trechos das três Constituições, depreende-se
que o Brasil vem sistematicamente, em consequência de sua
herança cultural, refletindo e orientando a questão religiosa no
país numa perspectiva plural.
A introdução do Ensino Religioso (ER) nas escolas brasileiras
a partir de 1931 foi justificada pelo então Ministro da Educação,
Francisco Campos, com argumentos de caráter filosófico e pe-
dagógico. Contudo, existe um aspecto político evidente: trata-
va-se de obter o apoio da igreja ao novo governo, oriundo da
Revolução de 1930.
Neste período, além do caráter político, o aparato legal
para introdução do ER se mostrou carregado também de dimen-
são ideológica. A ligação entre formação moral e a educação
religiosa e consequente transferência para a igreja católica da
responsabilidade sobre esses aspectos, atendeu ao anseio de

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Pa r te OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO
01 ENSINO RELIGIOSO

educadores católicos, além de confirmar a concepção autoritá-


ria do governo, que se serviu disso para estabelecer diferentes
mecanismos de reforço à disciplina e autoridade.
Apresentamos a seguir uma linha de tempo, a partir da dé-
cada de trinta, na qual o ER é situado com relação às diferentes
legislações brasileiras:
1931 – Reforma Francisco Campos: Ensino Religioso facul-
tativo de acordo com a confissão e a opção familiar.
1934 – Constituição Federal: responsabilização do Estado
quanto à educação para todos, com a consequente expansão
da rede ensino. O ER foi mantido como facultativo. Havia forte
influência eclesial no campo político.
1941 – Lei do Ensino Secundário de Gustavo Capanema:
Incluída a Instrução Religiosa no currículo.
1946 – Constituição Brasileira: bastante polêmica com re-
lação ao ER. A ICAR1 propunha catequese no ambiente escolar.
Nessa época o ER era de matrícula facultativa, de acordo com
a confissão do aluno. Nessa Constituição, no capítulo referente
à Educação, foram reintroduzidos alguns princípios suprimidos
na “Carta Ditatorial” (1937). Entre esses princípios, que figura-
vam, antes, na Constituição de 1934, estavam:
• direito de educação para todos;
• ensino primário obrigatório;
• assistência aos estudantes; e
• gratuidade do ensino oficial para todos no nível pri-
mário e, nos níveis ulteriores, para quantos provassem
falta ou insuficiência de meios.
1 ICAR: Igreja Católica Apostólica Romana.

12 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 01
1961 – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
4.024/61) – o ER continuou com matrícula facultativa, respei-
tando a confissão religiosa do aluno, sem ônus para estado. O
registro de professores era realizado pela autoridade religiosa
respectiva ao credo confessado pelo aluno. A disciplina era ope-
racionalizada de modo mais próximo do Ecumênico, também
por influencia do Concílio Vaticano II2.
1964 – Golpe militar.
1971 – Diretrizes e Bases para o ensino de 1.º e 2.º graus
(Lei 5.692/71): o ER mantido como propagador da fé sendo fa-
cultativo para os alunos.
1988 – Nova Constituição, antecedida por uma organização
social pró-democracia. Nesse processo, o ER enquanto discipli-
na recebeu a segunda maior ementa, cujo apoio reuniu mais de
70 mil assinaturas. No art. 210, Parágrafo 1.º é promulgado e
garantido o ER, de matricula facultativa, como disciplina dos
horários normais das escolas.
Década de 90 – houve um boom religioso no país.
1995 – foi solicitada alteração da LDB. Neste ano foi funda-
do o FONAPER – Fórum Nacional Permanente do Ensino Religioso.
1996 – Aprovação da nova Lei de Diretrizes e Bases da
Educação Nacional (Lei 9.394/96), em seu artigo 33 constava
ER sem ônus para o estado:
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui
disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental, sendo oferecido, sem ônus para os cofres públicos,
de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por
seus responsáveis, em caráter:

2 Série de conferências realizadas entre 1962 e 1965, consideradas o grande evento da Igreja Católica no século 20. Com
o objetivo de modernizar a Igreja e atrair os cristãos afastados da religião, o papa João XXIII convidou bispos de todo o
mundo para diversos encontros, debates e votações no Vaticano. (Disponível em: <http://mundoestranho.abril.com.br/
materia/o-que-foi-o-concilio-vaticano-ii>.)

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Pa r te OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO
01 ENSINO RELIGIOSO

I - confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou


do seu responsável, ministrado por professores ou orientadores
religiosos preparados e credenciados pelas respectivas igrejas ou
entidades religiosas; ou
II - interconfessional, resultante de acordo entre as diversas en-
tidades religiosas, que se responsabilizarão pela elaboração do
respectivo programa. (Revogado) (BRASIL, Lei 9.394/96)

1997 – Aprovada a revisão da LDB 9.394/96, com a lei


9.475/97, que fez uma revisão no artigo relativo ao ensino
religioso:
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte in-
tegrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina
dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental,
assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil,
vedadas quaisquer formas de proselitismo. (Redação dada pela
Lei nº 9.475, de 22.7.1997)
§1º Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para
a definição dos conteúdos do ensino religioso e estabelecerão as
normas para a habilitação e admissão dos professores. (Incluído
pela Lei nº 9.475, de 22.7.1997)
§2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída
pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos
conteúdos do ensino religioso. (Incluído pela Lei nº 9.475, de
22.7.1997). (BRASIL, Lei 9.394/1996)

Extra

Para que você possa refletir com novos elementos sobre


o tema, propomos a leitura do artigo da Revista NUMEN: Sem
ônus para os cofres públicos: O estado sem autoridade para
garantir a laicidade no ER, de Antonio Carlos Ribeiro. Numen,
v. 17, n. 1, 69-87, 2014. Disponível em: <http://numen.ufjf.
emnuvens.com.br/numen/article/view/2829/2153>. Acesso em:
27 maio 2015.

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OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 01
Atividade
Na Cartilha Diversidade religiosa e os direitos humanos
publicada em 2004 e depois em 2013, pela Secretaria Especial
dos Direitos Humanos (BRASIL, 2013, p. 23-24), encontramos a
seguinte história de matriz africana:
[...] que no princípio havia uma única verdade no
mundo. Entre o Orun (mundo invisível, espiritual)
e o Aiyê (mundo natural) existia um grande espe-
lho. Assim tudo que estava no Orun se materia-
lizava e se mostrava no Aiyê. Ou seja, tudo que
estava no mundo espiritual se refletia exatamente
no mundo material. Ninguém tinha a menor dúvi-
da em considerar todos os acontecimentos como
verdades. E todo cuidado era pouco para não se
quebrar o espelho da Verdade, que ficava bem
perto do Orun e bem perto do Aiyê. Neste tem-
po, vivia no Aiyê uma jovem chamada Mahura, que
trabalhava muito, ajudando sua mãe. Ela passava
dias inteiros a pilar inhame. Um dia, inadvertida-
mente, perdendo o controle do movimento ritma-
do que repetia sem parar, a mão do pilão tocou
forte no espelho, que se espatifou pelo mundo.
Mahura correu desesperada para se desculpar com
Olorum (o Deus Supremo). Qual não foi a surpresa
da jovem quando encontrou Olorum calmamente
deitado à sombra de um iroko (planta sagrada,
guardiã dos terreiros). Olorum ouviu as desculpas
de Mahura com toda a atenção, e declarou que,
devido à quebra do espelho, a partir daquele dia
não existiria mais uma verdade única. E concluiu
Olorum: “De hoje em diante, quem encontrar um
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Pa r te OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO
01 ENSINO RELIGIOSO

pedaço de espelho em qualquer parte do mundo já


pode saber que está encontrando apenas uma par-
te da verdade, porque o espelho espelha sempre
a imagem do lugar onde ele se encontra” (BRASIL,
2013, p. 23-24).

Portanto, é preciso, antes de tudo, aceitar que somos to-


dos iguais, apesar de nossas diferenças. Também é necessário
entender que a verdade não pertence a ninguém. Há um peda-
cinho dela em cada lugar, em cada crença, dentro de cada um
de nós.
A partir da história da disciplina de Ensino Religioso, e do
artigo 33, da estabelecida pela Lei 9.475/97, e ainda com um
olhar sensível para o apresentado acima, construa um texto que
comunique a importância do trabalho que contempla a diversi-
dade religiosa na formação dos estudantes.

Referências
BRASIL. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Rio de
Janeiro, 1934. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicao34.htm>. Acesso em: 29 maio 2015.

______. Constituição da República dos Estados Unidos do Brasil. Promulgada


em 18 de setembro de 1946. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/
constituicao/constituicao46.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

______. Lei 4.024 de 20 de Dezembro de 1961. Fixa as Diretrizes e Bases da


Educação Nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 27 dez. 1961 e
retificado em 28 dez. 1961. Brasília: 1961. Disponível em: <www.planalto.gov.
br/ccivil_03/Leis/l4024.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

______. Lei 5.692 de 11 de Agosto de 1971. Fixa Diretrizes e Bases para o


ensino de 1.º e 2.º graus, e dá outras providências. Publicada no Diário Oficial
da União 12 ago. 1971. Brasília: 1971. Disponível em: <www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Leis/l5692.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

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OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 01
______. Constituição da República Federativa do Brasil. Promulgada em
5 de outubro de 1988. Publicada no Diário Oficial da União, n. 191-A, 5
out. 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/
constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

______. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e


bases da educação nacional. Publicado no Diário Oficial da União, 23 dez.
1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.

______.Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33


da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional.
Publicada no Diário Oficial da União, Brasília, Congresso Nacional, 1997.
Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/l9475.htm>. Acesso em:
26 maio 2015.

BRASIL. Presidência da República. Cartilha de diversidade religiosa e direitos


humanos. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República. Brasília:
2013, p. 23-24. Disponível em: <www.sdh.gov.br/assuntos/bibliotecavirtual/
promocao-e-defesa/publicacoes-2013/pdfs/diversidade-religiosa-e-direitos-
humanos>. Acesso em: 12 jun. 2015.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; CORRÊA, Rosa Lydia; HOLANDA, Ângela


Maria. Ensino Religioso: aspectos legal e curricular. São Paulo: Paulinas, 2007.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; WAGNER, Raul (Org.). Ensino Religioso


no Brasil. Curitiba: Champagnat, 2004.

Resolução da atividade

A legislação permitiu uma amplitude na atuação do Ensino


Religioso como componente curricular. A atual redação do ar-
tigo na Lei de Diretrizes e Bases da Educação propõe que não
exista proselitismo, o que exige uma proposta intercultural
para o ER. Esta história publicada na Cartilha da Diversidade
apresenta a existência de diferentes verdades religiosas, por
este motivo não é possível ensinar uma única perspectiva. É o
resultado da construção pedagógica do Ensino Religioso.

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Pa r te OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO
02 ENSINO RELIGIOSO

ENSINO RELIGIOSO NOS DIFERENTES


SISTEMAS DE ENSINO
Cabe lembrar que o país, na perspectiva cutural-religiosa a
partir da década de 1940, passou por um período desafiante de
transição de uma economia agropastoril para uma realidade de
rápida urbanização, ou seja, de uma sociedade aparentemente
homogênea para a explicitação de sua realidade pluralista, pro-
gressivamente acompanhada pelo vislumbre das novas possibili-
dades de tecnologia que chega aos lares brasileiros. Além disso,
nesse cenário, os movimentos migratórios tanto do campo para
a cidade quanto intrarregiões certamente deram maior visibili-
dade a particularidades culturais regionais.
Também é necessário relembrar as antigas configurações
da disciplina: primeiro para a formação de membros da religião
hegemônica e depois, a partir de 1961, aproximadamente, com
um viés mais ecumênico. Então, a partir de 1996/1997 a visão
passa a ser de uma disciplina que deve respeitar a diversidade
cultural e religiosa brasileira.
Em 1997, a Lei 9.475/97 alterou o artigo 33 da LDB (Lei
9.394/96), consolidando a regulamentação dos procedimentos
para a definição dos conteúdos e o estabelecimento das nor-
mas para a habilitação e admissão dos professores do Ensino
Religioso como de responsabilidade dos Sistemas de Ensino.
Dessa forma, cada sistema estadual e municipal de ensino deve
orientar o perfil organizacional para o Ensino Religioso, sendo,
portanto, impossível identificar uma perspectiva única nas di-
ferentes realidades regionais.
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OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 02
Portanto, a partir do contexto escolar, é estabelecida a
identificação do Ensino Religioso como um dos componentes do
currículo do Ensino Fundamental para as escolas públicas brasi-
leiras e assumidas essa disciplina como elemento integrante de
uma área maior da educação.
Entendendo o ER enquanto componente curricular, faz-se
necessário compreender teorias e doutrinas no campo da
Educação, e ainda perceber que a disciplina não está ancorada
no conhecimento construído na área de Teologia ou Ciências
da Religião. Isto se reflete no fazer pedagógico por conta de
os profissionais que nele atuam não deterem formação nessas
áreas.
Novamente, dirigindo o olhar para a história, percebe-se
que a produção de conhecimento POR e PARA essa disciplina
escolar tem íntima ligação com o contexto social e, posterior-
mente, com o contexto escolar ocupado pelas igrejas cristãs. O
que influenciou a formação pedagógica, a organização curricu-
lar e a metodologia desenvolvida no ER.
Diferentes denominações religiosas, em especial as cristãs
no caso do Brasil, influenciaram as escolhas do conteúdo e da
metodologia. De forma que “o que ensinar” (conteúdo) se ini-
ciou com a opção de conteúdo doutrinal, evoluindo para uma
proposta ecumênica, traduzindo o momento de diálogo entre
estas denominações, até alcançar a formatação de proposição
inter-religiosa.
Outro aspecto é o “como ensinar” (metodologias) que so-
freu interferência direta das diferentes pedagogias desenvolvi-
das ao longo do século XX. Partindo do processo de instrução,

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Pa r te OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO
02 ENSINO RELIGIOSO

diferentes configurações foram testemunhadas até se perceber


a ação dos estudantes de modo ativo e interacionista.
Os conteúdos, metodologias e técnicas traduzem a cons-
trução desse componente curricular, que demonstra na sua his-
tória e tem na atualidade a escola como local de produção de
conhecimento, que deve levar em conta a cultura escolar, a
cultura da sociedade e ainda a religiosa.
Por conta da diversidade brasileira, os contextos escolares
– sempre no plural devido à pluralidade de suas configurações,
devem manter em tela a regionalidade histórica e cultural de
cada sistema e escola. Nos 26 estados brasileiros, existem dife-
rentes orientações sobre conteúdo e formação de professores,
a fim de respeitar os diferentes contextos e, além disso, dar
conta da formação desse cidadão considerando seu cotidiano e
sua comunidade.

Extra
Para que você possa compreender a discussão sobre a re-
gionalização do Ensino Religioso, propomos a leitura do arti-
go que reflete essa temática: A regionalização do estudo do
ensino religioso brasileiro, de Sérgio Junqueira e Flávio Paes
Carvalho. Publicado na Revista Ciências da Religião – História e
Sociedade, v. 11, n, 1, 2013. Disponível em: <http://editorare
vistas.mackenzie.br/index.php/cr/article/view/5724/4146>.
Acesso em: 27 maio 2015.

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OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 02
Atividade
A maioria dos estados brasileiros possuem legislações pró-
prias sobre o Ensino Religioso. Pesquise a legislação do seu es-
tado ou de algum próximo ao seu e identifique as principais
características dessa disciplina no texto da legislação em sua
região. Você poderá localizar textos completos dos diversos es-
tados em: <www.gper.com.br/ensino_religioso.php?secaoId=6>.
Acesso em: 27 maio 2015.

Referências
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez.
1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.

______. Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33


da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional.
Publicada no Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
Congresso Nacional, 1997. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

BRAUDEL, Fernand. Escritos sobre a história. 3. ed. São Paulo: Perspectiva,


2013.

CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um


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2015.

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Pa r te OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO
02 ENSINO RELIGIOSO

FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Parâmetro Curricular


Nacional do Ensino Religioso. São Paulo: Ave Maria, 1997.

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JUNQUEIRA, Sérgio; WAGNER, Raul. O ensino religioso no Brasil. 2. ed.


Curitiba: Champagnat, 2011.

Resolução da atividade

Caberá a cada estado da federação definir o conteúdo e o


perfil dos professores, portanto é importante localizar nas le-
gislações estaduais quais as orientações sobre esses dois aspec-
tos: o que será ministrado na disciplina e quem irá ministrar
as aulas.

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OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 03
PARÂMETRO CURRICULAR,
DIRETRIZES E PROGRAMAS
O documento Parâmetros Curriculares Nacionais do
Ensino Religioso (1996), produzido pelo FONAPER, foi oficiosa-
mente acolhido como norteador para a disciplina e estruturado
segundo as orientações propostas para todos os componentes
das áreas do conhecimento a serem trabalhadas efetivamente
no cotidiano da escola. A atual legislação (a saber o artigo 33 da
LDB 9.394/96, alterado pela Lei 9.475/97) sobre educação alte-
rou de fato o Ensino Religioso. Não se trata mais de apresentar
religiões, mesmo que de forma compartilhada como no modelo
inter-relacional (interconfessional e inter-religioso), mas con-
tribuir na formação básica do cidadão, procurando assegurar
o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, além de
vedar qualquer forma de proselitismo.
Um Parâmetro Curricular é estabelecido com base em no-
ções e conceitos essenciais sobre fenômenos, processos, siste-
mas e operações, para contribuir na constituição de saberes,
conhecimentos, valores e práticas sociais indispensáveis ao
exercício de uma vida de cidadania plena. Especificamente, o
Ensino Religioso foi organizado segundo o pressuposto de que o
fenômeno religioso é a resposta articulada culturalmente para
afrontar a questões existenciais que demonstram a situação
de finitude do ser humano. Basicamente essas questões foram
explicitadas em quatro estruturas: ressureição, reencarnação,
ancestralidade e o nada, que procuram dar sentido a uma vida
além da morte.
FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 23
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Pa r te OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO
03 ENSINO RELIGIOSO

Em cada uma dessas respostas, é estabelecido um sistema


de pensamento próprio, porém, com critérios comuns que tor-
nam visível o fenômeno religioso, ou seja, culturas e tradições,
textos orais e escritos sagrados, as teologias, os ritos e o ethos.
O primeiro critério, que trata das culturas e tradições, nos per-
mite compreender a ideia do transcendente e a evolução das
estruturas que explicitam as concepções expostas nas respostas
ao problema do pós-morte. As ciências que estudam a religião
como filosofia, sociologia e psicologia tornaram possível esta
formalização do conhecimento.
Os outros quatro critérios/eixos (textos orais e escritos sa-
grados, as teologias, os ritos e o ethos) são a concretização da
experiência das comunidades religiosas que incluem o cotidiano
das tradições religiosas organizadas para fazer memória contí-
nua da finitude humana.
A sistemática de trabalho sobre esses aspectos é que as-
sume uma configuração religiosa, favorecendo a compreensão
da cultura em que estamos envolvidos. As expressões religiosas
estão no substrato cultural da sociedade e são de fundamental
importância para o estabelecimento da identidade de uma na-
ção e dos cidadãos que dela fazem parte.
De tal forma que a compreensão de religio proposta por
Cícero, em que a religião é uma releitura do cotidiano social,
expresso por meio das respostas oferecidas aos questionamen-
tos que o ser humano faz a si mesmo, interfere nas relações que
estabelece em um espaço e tempo concreto, como ser finito que
busca fora de si o desconhecido, o mistério e o transcendente.

24 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 03
Portanto, muito mais do que o estudo de curiosidades
religiosas ou simplesmente o perfilar das religiões, o Ensino
Religioso é desafiado a favorecer a reflexão sobre a identidade,
por meio desses critérios que estruturam as tradições religiosas.
Os conhecimentos de caráter antropológico e sociológico,
trabalhados sistematicamente no espaço formal da escola, de-
vem contribuir para o estudante recuperar as questões existen-
ciais que impulsionaram o ser humano a se confrontar consigo
mesmo, com o outro e com seu ambiente.
Os conteúdos e objetivos do Ensino Religioso são estabe-
lecidos segundo critérios que tornam visível a possibilidade de
responder questões existenciais do ser humano que busca o sen-
tido último da vida expresso de forma sociocultural, favorecen-
do a sensibilização dos estudantes que compreendam e respei-
tem a pluralidade religiosa presente no país, contribuindo para
a formação da identidade do povo brasileiro.
Portanto, a disciplina objetiva valorizar a diversidade cul-
tural brasileira e, consequentemente, o pluralismo religioso,
de forma a facilitar o entendimento a respeito das diferentes
formas que exprimem o transcendente, que compõem cenários
de forma diferente no processo histórico da sociedade humana.

Extra
Para que você possa compreender as concepções do Ensino
Religioso, propomos a leitura e o estudo do seguinte artigo:
Concepções do Ensino Religioso, de Sérgio Junqueira e Sérgio
Nascimento. Publicado na Revista Numen, v. 16, n.1 , 2013.
Disponível em: <http://numen.ufjf.emnuvens.com.br/numen/
article/view/2141/1978>. Acesso em: 27 maio 2015.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 25


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Pa r te OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO
03 ENSINO RELIGIOSO

Atividade
.
Assista à entrevista sobre Ensino Religioso nos estados bra-
sileiros e, com base nas informações apresentadas, explique
como está o Ensino Religioso nas diferentes regiões do país.
Organize um breve texto sobre esse mapa da disciplina no país.
Vídeo disponível em: <www.youtube.com/watch?v=p-
5Nu9A4BXpc>. Acesso em: 12 jun. 2015.

Referências
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez.
1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.
Acesso em: 26 maio 2015.

______. Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33


da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional.
Publicada no Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
Congresso Nacional, 1997. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

FONAPER. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Religioso (PCNER).


São Paulo: Ave-Maria. 1996.

GIUMBELLI, Emerson. Mapeamento do Ensino Religioso no Brasil: definições


normativas e conteúdos curriculares. Proposta para o programa de apoio a
projetos em saúde, direitos sexuais e direitos reprodutivos (PROSARE Edital
2007). Rio de Janeiro: ISER, 2007.

JACOB, César Romero et al, A diversificação religiosa. Revista Estudos


avançados, v. 18, n. 52, São Paulo, set.-dez. 2004, p.9-11. Disponível em: <www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142004000300002>.
Acesso em: 29 maio 2015.

JUNQUEIRA, S. O Ensino Religioso no Brasil: estudo do seu processo de


escolarização. 2000. 238 f. Tese (doutorado em Ciências da Educação),
Universidade Pontifícia Salesiana, Roma: Itália, 2000.

26 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 03
JUNQUEIRA, S. Processo de escolarização do Ensino Religioso. Petrópolis:
Vozes, 2002. JUNQUEIRA, S. WAGNER, R. O Ensino Religioso no Brasil. Curitiba:
Champagnat, 2004.

JUNQUEIRA, Sérgio; CORRÊA, Rosa Lydia; HOLANDA, Ângela Ribeiro. Ensino


Religioso: aspectos legal e curricular. São Paulo: Paulinas, 2007.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério; HOLANDA, Angela Maria Ribeiro; CORRÊA, Rosa


Lydia Teixeira. Aspectos legislativos do ensino religioso brasileiro: uma
década de identidade. Religião & cultura: Departamento de Teologia e
Ciências da Religião PUC-SP, São Paulo, v. VI, n. 11, p. 09-42, jan./jun. 2007.
Disponível em: <www.gper.com.br/biblioteca_download.php?arquivoId=41>.
Acesso em: 29 maio 2015.

Resolução da atividade

É fundamental compreender que mesmo existindo uma


proposta nacional para o Ensino Religioso, como os Parâmetros
Curriculares Nacionais, cada estado apresenta uma identidade,
saber identificar essas diferenças pode garantir a compreensão
de uma imensa diversidade nacional.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 27


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Pa r te OBJETIVO E LEGISLAÇÃO DO
03 ENSINO RELIGIOSO

28 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Aula 02

O ENSINO RELIGIOSO
COMO ÁREA DO
CONHECIMENTO
Objetivo:

Estabelecer a compreensão do Ensino


Religioso como área do conhecimento.
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O ENSINO RELIGIOSO Par te
COMO ÁREA DO CONHECIMENTO 01
O QUE É UMA ÁREA DO CONHECIMENTO?
O Ensino Religioso pode ser tomado, entendido e respei-
tado como área de conhecimento segundo a Lei de Diretrizes
e Bases da Educação Brasileira do ano de 1996. De acordo com
a Resolução CNE/CEB 04 de 2010, que traz orientações sobre a
definição e organização curricular para a Educação Básica:
Art. 14. A base nacional comum na Educação Básica
constitui-se de conhecimentos, saberes e valores
produzidos culturalmente, expressos nas políticas
públicas e gerados nas instituições produtoras do
conhecimento científico e tecnológico; no mundo
do trabalho; no desenvolvimento das linguagens;
nas atividades desportivas e corporais; na produ-
ção artística; nas formas diversas de exercício da
cidadania; e nos movimentos sociais.

§1.º Integram a base nacional comum nacional:

a) a Língua Portuguesa;

b) a Matemática;

c) o conhecimento do mundo físico, natural, da


realidade social e política, especialmente do
Brasil, incluindo-se o estudo da História e das
Culturas Afro-Brasileira e Indígena,

d) a Arte, em suas diferentes formas de expres-


são, incluindo-se a música;

e) a Educação Física;

f) o Ensino Religioso.
FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 31
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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO
01 COMO ÁREA DO CONHECIMENTO

§2.º Tais componentes curriculares são organiza-


dos pelos sistemas educativos, em forma de áreas
de conhecimento, disciplinas, eixos temáticos,
preservando-se a especificidade dos diferentes
campos do conhecimento, por meio dos quais se
desenvolvem as habilidades indispensáveis ao
exercício da cidadania, em ritmo compatível com
as etapas do desenvolvimento integral do cida-
dão. (CNE/CEB 04/2010)

Parte-se do entendimento que as áreas de conhecimento


são “marcos estruturados de leitura e interpretação da reali-
dade” (JUNQUEIRA, 2003, p. 98), sendo essenciais para pos-
sibilitar a participação de cada cidadão de forma autônoma,
de forma a compreender a sociedade e interferir no espaço e
história que ocupam (ibidem).
O Ensino Religioso como área de conhecimento está fun-
damentado numa releitura religiosa do cotidiano, respaldado
no estudo do ser humano em desenvolvimento, que sustenta
a estrutura social das diferentes comunidades das quais parti-
cipa, inclusive no processo da construção de um cidadão que
compreende a pluralidade da sociedade. Ressalva-se a clareza
de que essa área do conhecimento exige ainda uma reflexão
pedagógica profunda em sua estruturação, o que demanda o
estabelecimento de fundamentos para sua estruturação, no
mapeamento curricular nacional.
Assim, poderá se difundir entre os alunos o sentimento de
amor e respeito pelas diferentes tradições religiosas, bem como
desenvolver capacidades de aplicação dos novos conhecimen-
tos, em confronto com as realidades atuais, além de contribuir

32 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO Par te
COMO ÁREA DO CONHECIMENTO 01
para o reconhecimento e aperfeiçoamento de uma educação
significativa e efetivamente integral.
A atual concepção é resultado de um longo percurso na
organização de disciplina, currículo e articulação dos elemen-
tos do processo de ensino-aprendizagem para compreender a
elaboração do Ensino Religioso. Com base nesses pressupostos,
o modelo para o Ensino Religioso é o referenciado na manifesta-
ção do sagrado no coletivo. A mudança se propõe no momento
histórico em que a cultura brasileira se confronta com as conse-
quências políticas e sociais de uma economia neoliberal, de um
subjetivismo cultural e de uma concepção religiosa pentecostal
carismática. (JUNQUEIRA; ALVES, 2005)
A elaboração do trabalho a ser desenvolvido no Ensino
Religioso, enquanto conteúdo, foi desafiador e mobilizador,
contando ainda com inúmeras discussões. O conceito de cida-
dania, por exemplo, está sendo reelaborado e suas diversas
dimensões assumem relevâncias diversificadas no decorrer do
tempo, como consequência do desenrolar da história. Cada
corrente filosófica percebe o conceito segundo seu ângulo de
visão, não obstante o direito à educação, como exercício para
a cidadania parecer indiscutível, pois constitui um instrumento
de atuação social, possibilitando a releitura de seu contexto.
Diante desse quadro, o Ensino Religioso assume
o papel de provocar, junto a cada um dos com-
ponentes da comunidade educativa, o questiona-
mento sobre a própria existência do ser humano,
participante das intrincadas relações sociocultu-
rais, favorecendo-se o conhecimento das diversas
tradições religiosas responsáveis pela construção
cultural do nosso país. (JUNQUEIRA, 2008, p. 19)
FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 33
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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO
01 COMO ÁREA DO CONHECIMENTO

Extra

Propomos a leitura do texto de Marlon Schock sobre objeto do


Ensino Religioso: Objeto próprio do ensino religioso escolar: de
Babel ao Mar Vermelho. Publicado na Revista Pistis & Praxis, v. 3,
n. 1, 2011. Disponível em: <www2.pucpr.br/reol/pb/index.php/
pistis?dd1=4578&dd99=view&dd98=pb>. Acesso em: 28 maio 2015.

Atividade
Convidamos você a assistir uma entrevista sobre a visão
geral do Ensino religioso no Brasil. Com base nas informações
apresentadas, responda à seguinte questão: O que é o ensino
religioso no Brasil? Disponível em: <www.youtube.com/watch?-
v=0Ktmt7HQrj4&index=15&list=PL9tahgr-HimMSOco7djqNkf4lX-
flbtgjN>. Acesso em: 12 jun. 2015.

Referências
BRANDENBURG, Laude. A fenomenologia religiosa e os espaços educativos.
In: BRANDENBURG, Laude. (Org.). Fenômeno religioso e metodologias: VI
Simpósio de Ensino Religioso. São Leopoldo: Sinodal; EST, 2009a. p. 67-74.

BRASIL. Lei 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e


bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez.
1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.
Acesso em: 26 maio 2015.

______.Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33 da


Lei n. 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional.
Publicada no Diário Oficial da República Federativa do Brasil, Brasília,
Congresso Nacional, 1997. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

34 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO Par te
COMO ÁREA DO CONHECIMENTO 01
JUNQUEIRA, Sérgio. O Ensino Religioso no Paraná: a partir da Deliberação 03/2002
do Conselho Estadual de Educação. Revista Educação em Movimento, Curitiba,
v.2, n.5, p. 97-106, (Supl.), maio/ago. 2003. Disponível em: <www.gper.com.br/
biblioteca_download.php?arquivoId=663>. Acesso em: 29 maio 2015.

JUNQUEIRA , Sérgio Rogério Azevedo; ALVES, Luiz Alberto Sousa. O contexto


pluralista para a formação do professor de ensino religioso. Revista Diálogo
Educacional, Curitiba, v. 5, n.16, p. 229-246, set./dez. 2005. Disponível em:
<www2.pucpr.br/reol/index.php/dialogo?dd99=pdf&dd1=611>. Acesso em:
12 jun. 2015.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério. Ensino Religioso na Perspectiva do Espaço


Escolar”. Revista Teoria e Prática da Educação, v.11, n.1, p.15-22, jan./abr.
2008. Disponível em: <www.dtp.uem.br/rtpe/volumes/v11n1/002_Sergio_
Junqueira.pdf>. Acesso em: 29 maio 2015.

Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de


Educação Básica. Resolução n. 4, de 13 de Julho de 2010. Define Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Publicada no Diário
Oficial da União, Brasília, 14 jul. 2010, Seção 1, p. 824. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf>. Acesso em: 12
jun. 2015.

SCHOCK, Marlon. Educação e transcendência: dimensões contempláveis,


aspectos edificáveis, categorias compartilháveis. Dissertação (Mestrado em
Teologia) – Escola Superior de Teologia. Programa de Pós-Graduação, São
Leopoldo, 2008.

Resolução da atividade

O Ensino Religioso é uma disciplina em construção, para


tal, identificar o seu objeto de estudo, o seu contexto no ce-
nário do conhecimento é algo a ser amadurecido e articula-
do. Nessa entrevista são retomados diferentes aspectos dessa
construção.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 35


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO
02 COMO ÁREA DO CONHECIMENTO

ÁREA DO CONHECIMENTO PARA AS


DIRETRIZES DA EDUCAÇÃO BÁSICA E
PARA O CNPQ
A Câmara de Educação Básica do Conselho Nacional de
Educação por meio da Resolução 07/2010 fixou as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove)
anos1 e traz o Ensino Religioso como componente da base cur-
ricular nacional, junto com outras disciplinas como Língua
Portuguesa, Matemática, entre outras.
Além disso, dá instruções com relação ao Ensino Religioso,
enquanto área de conhecimento, no § 6.º do artigo 15:
§6.º O Ensino Religioso, de matrícula facultativa
ao aluno, é parte integrante da formação básica
do cidadão e constitui componente curricular dos
horários normais das escolas públicas de Ensino
Fundamental, assegurado o respeito à diversidade
cultural e religiosa do Brasil e vedadas quaisquer
formas de proselitismo, conforme o art. 33 da Lei
n.º 9.394/96. (CNE/CEB 07/2010).

Equiparável às outras disciplinas curriculares e considera-


da uma das grandes áreas de conhecimento, tem-se em vista a
necessidade de deter-se sobre um objeto de estudo com con-
teúdos, tratamento didático e metodologias próprias, a fim de
facilitar a construção de conhecimento específico da cultura
religiosa.

1 Em consonância com a Resolução CNE/CEB 04/2010: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf>.

36 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO Par te
COMO ÁREA DO CONHECIMENTO 02
Mais do que uma educação para a fé, que é de caráter
pessoal e temático sobre a qual se ocupam as religiões, é o co-
nhecimento dos fenômenos religiosos e suas inter-relações com
o contexto social que é o campo de conhecimento do Ensino
Religioso.
Dessa forma, essa disciplina do corpo curricular da educa-
ção brasileira pode propiciar um espaço e ambiente dialógico,
em perspectiva inter, multi e transdisciplinar (Holanda, 2006),
que instrumentalize os cidadãos para a convivência significativa
em ambiente rico e plural como o brasileiro.

Extra
Propomos a leitura do artigo Religião e educação, um diá-
logo emergente: do teórico ao prático para constituição de
uma área de conhecimento, de Eulálio Figueira. Publicado na.
Revista Pistis Praxis, v. 6, n. 2, 2014. Disponível em: <www2.
pucpr.br/reol/pb/index.php/pistis?dd1=12767&dd99=view&d-
d98=pb>. Acesso em: 28 maio 2015.

Atividade
O Ensino Religioso como elemento curricular teve sua ori-
gem quando o Estado assumiu o papel de organizar a escolariza-
ção. No primeiro momento, ocorreu a incorporação do modelo
realizado nas comunidades religiosas no cotidiano escolar como
consequência da forte influência das religiões sobre as socie-
dades. Entretanto, quando os países reconhecerem o direito à
livre opção religiosa e filosófica, será necessário uma alteração
nesse componente curricular, mesmo contrariando lideranças

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 37


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO
02 COMO ÁREA DO CONHECIMENTO

de grupos religiosos que compreendem a escola como suplência


das comunidades. Para essa atividade, assista ao filme:
• Lutero (Luther)
Gênero: Drama
Ano de Lançamento: 2003
Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=PlP-Xt4LLNg>.
Acesso em: 28 maio 2015.
Com base na reflexão do filme sobre Lutero, propõe-se o
aprofundamento da questão da inferência da religião sobre a
educação no século XXI, e de que forma religião e sociedade se
organizam. Elabore um texto deste seu estudo e reflexão.

Referências
HOLANDA, Ângela Maria Ribeiro. Fenômeno Religioso e Religiosidade. Revista
de Educação da Aec. Ano 35, janeiro/março 2006, n. 138, pp. 24–31. Disponível
em: <www.gper.com.br/noticias/3cc27b5c178434f822421ce40a0d0592.pdf>.
Acesso em: 30 maio 2015.

JUNQUEIRA, Sérgio. História, Legislação e fundamentos do Ensino Religioso.


Curitiba: Ibpex, 2008.

Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de


Educação Básica. Resolução n. 4, de 13 de Julho de 2010. Define Diretrizes
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica. Publicada no Diário
Oficial da União, Brasília, 14 jul. 2010, Seção 1, p. 824. Disponível em:
<http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb004_10.pdf>. Acesso em: 12
jun. 2015.

Brasil. Ministério da Educação. Conselho Nacional de Educação. Câmara de


Educação Básica. Resolução n. 7, de 14 de Dezembro de 2010. Fixa Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de 9 (nove) anos. Publicada
no Diário Oficial da União, Brasília, 15 dez. 2010, Seção 1, p. 34. Disponível
em: <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/rceb007_10.pdf>. Acesso em:
12 jun. 2015.

38 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO Par te
COMO ÁREA DO CONHECIMENTO 02
Resolução da atividade

Lutero foi um dos responsáveis pela mudança na concep-


ção de educação no mundo moderno. Ao questionar o papel do
domínio religioso sobre a cultura alemã, esse monge interferiu
na visão de mundo de colonos e nobres. O papel da religião na
formação cultural religiosa de uma comunidade é um dos obje-
tivos propostos pelo modelo brasileiro de Ensino Religioso, mas
que tem suas origens muito antes de 1997. Ao conhecer a histó-
ria de Lutero (em alemão: Martin Luther), você estará conhe-
cendo uma parte da revisão do papel religioso na sociedade.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 39


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO
03 COMO ÁREA DO CONHECIMENTO

OBJETOS DO ENSINO RELIGIOSO


O primeiro princípio a ser considerado para operacionalizar
os objetivos do Ensino Religioso é que ele é parte integrante da
formação básica do cidadão. Assim essa disciplina se alicerça
nos princípios da cidadania, do entendimento do outro e na
formação integral do educando.
O direito ao exercício da religiosidade é garantido por lei
federal, na qual se engloba também a opção por não ser religio-
so. Ainda que essa opção seja exercida, a religião está para as
pessoas como um dado antropológico e cultural perceptível em
cada ajuntamento de pessoas, assim como a língua falada, as
preferências alimentares, formas de vestir-se etc. No substrato
de cada cultura, sempre está presente o religioso.
Essa disciplina que trata do conhecimento religioso de for-
ma plural oportuniza que o estudante se desenvolva, enten-
dendo a si próprio e ao outro como pertencentes a um sistema
complexo de relações culturais. Portanto, os saberes desen-
volvidos pela disciplina vão além da informação a respeito de
conteúdos e fenômenos religiosos, conforme apresentado pelos
Parâmetros Curriculares Nacionais.
Com base nesse componente curricular, busca-se ampliar
as formas de convívio entre os estudantes, em que o respeito à
sua própria tradição religiosa e à dos outros deve ser buscado
diligentemente, proporcionando um espaço seguro para a liber-
dade de expressão, também dos caracteres religiosos de sua
própria forma de crer ou da opção e opinião daqueles que não

40 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO Par te
COMO ÁREA DO CONHECIMENTO 03
crêem. Nesse ambiente escolar de respeito, deve-se cultivar
o diálogo e a reverência aos diferentes modos e às múltiplas
formas que o transcendente pode ser declarado, considerando
a cultura que permeia cada crença.
Na perspectiva de disciplina escolar, o objeto a que se de-
bruça o Ensino Religioso é o fenômeno religioso, cujos conteú-
dos se traduzem no conhecimento das culturas e tradições reli-
giosas organizados em teologias, escrituras e tradições sagradas
(orais e escritas), ritos e ethos, que encontram na pluralidade
cultural e religiosa brasileira uma vastidão de elementos para o
desenvolvimento dos estudantes. É importante ressaltar que o
desenvolvimento do conteúdo deve respeitar as características
etárias, emocionais e cognitivas de cada fase ou ano escolar.
O processo de aprendizagem no Ensino Religioso, como
qualquer outra disciplina escolar, é permanente e evolutivo e,
por isso, deve-se considerar o conhecimento prévio de cada
estudante e propiciar uma continuidade progressiva, aprofun-
dando o entendimento do fenômeno religioso, isento de juízo
de valor e afirmação de preconceitos. É espaço excelente para
que a alteridade seja desenvolvida, de forma a reconhecer a
importância e a validade da superação das diferenças.
O conhecimento da forma como é operacionalizado no ER
pode oportunizar a valorização da religiosidade particular e tam-
bém de diferentes agrupamentos humanos, promovendo uma
convivência mais próxima do acolhimento e de posturas frater-
nas, pois enquanto vivencia momentos de aprendizagem a res-
peito da própria cultura e tradição religiosa, exercita a possibi-
lidade de respeitar as formas culturais e religiosas dos outros.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 41


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO
03 COMO ÁREA DO CONHECIMENTO

Essa disciplina orienta para a sensibilidade ao mistério,


na alteridade: este trata do conhecimento religioso que é ao
mesmo tempo historicamente construído e revelado. Logo, os
temas religiosos são complexos em si e muito mais em seu tra-
tamento na pluralidade e diversidade da sala de aula. Isso re-
quer do educador um aprofundamento mais apurado, pois é nas
relações do conhecimento religioso próprio com o conhecimen-
to religioso do outro que o educando vai se sensibilizando para
o mistério, compreendendo o sentido da vida e da vida além
morte, elaborada pelas Tradições Religiosas.
O conhecimento a respeito do fenômeno religioso que se
pretende construir de forma participativa e coletiva, mostra-se
responsável por construir significados na medida em que pro-
move a informação, reflexão e a construção de um conheci-
mento novo significativo, de forma a entender outras respostas
às questões humanas fundamentais de identidade e destino.
O desenvolvimento e planejamento das aulas dessa disci-
plina deve ser contextualizado e organizado, assim como as ou-
tras do ambiente escolar, tendo em vista: a caracterização do
estudante, os objetivos a serem alcançados, os melhores meios
e métodos necessários para possibilitar a construção do conhe-
cimento e ainda uma forma de aferir se os objetivos foram al-
cançados. Os Parâmetros Curriculares Nacionais do ER orientam
que ensino e aprendizagem devem ser permeados de momentos
críticos reflexivos pelo docente que pretenda estabelecer uma
prática intencional, dialógica e cooperativa.
Ao olhar para os objetivos e para a aula desenvolvida, sur-
ge o importante processo de avaliação. Como um momento de

42 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO Par te
COMO ÁREA DO CONHECIMENTO 03
significar o tão subjetivo alcance das aulas de ER, faz-se mister
entender a avaliação como uma engrenagem que realimenta a
máquina, no caso a aprendizagem significativa.
Ter em mente o contexto social, cultural e religioso dos
estudantes é um dos pressupostos que devem ser considerados
para cada conteúdo e momento com a turma. Além disso, o
acompanhamento do desenvolvimento de posturas, ideias e ex-
pressões de cada um exige percepção, análise e reflexão para
que seja possível aferir os resultados pretendidos.

Extra

Propomos a leitura do seguinte artigo: Ensino Religioso:


espaço dos catecismos, de Sérgio Junqueira. Publicado na
Revista Horizonte. v. 12, n. 36, 2014. Disponível em: <http://
periodicos.pucminas.br/index.php/horizonte/article/view/P.
2175-5841.2014v12n36p1283/7529>. Acesso em: 28 maio 2015.

Atividade
.
Selecione quatro reportagens de jornais ou revistas de sua
região que expressem a relação do universo religioso com o co-
tidiano social. Em seguida elabore um texto expressando a rela-
ção entre as reportagens e procure formular uma aula de Ensino
Religioso com esse material. Nesse plano explicite o objetivo
ou objetivos, as atividades e a avaliação. Indique para que ano
escolar seria proposta essa aula. Com essa ação, procure verifi-
car sua sensibilidade para enxergar no cotidiano e na história os
elementos para o Ensino Religioso no enfoque da diversidade.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 43


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO
03 COMO ÁREA DO CONHECIMENTO

Referências
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez.
1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.
Acesso em: 26 maio 2015.

______. Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33


da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional.
Publicada no Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
Congresso Nacional, 1997. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO – FONAPER. Parâmetros


Curriculares Nacionais do Ensino Religioso. São Paulo: Ave Maria, 1997.

Resolução da atividade

Por meio deste trabalho é possível verificar a relação en-


tre o cotidiano do religioso e a educação de posturas para o
diálogo, um dos objetivos do Ensino Religioso.

44 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Aula 03

O FENÔMENO
RELIGIOSO
Objetivo:

Identificar o objeto do Ensino Religioso e


sua relação com o estudo das Ciências da
Religião por meio do fenômeno religioso.
David Carillet/Shutterstock
Par te
O FENÔMENO RELIGIOSO
01
CONCEITOS DE RELIGIÃO E SUA HISTÓRIA
A definição mais aceita pelos estudiosos, para
efeitos de organização e análise, tem sido a se-
guinte: religião é um sistema comum de crenças e
práticas relativas a seres sobrehumanos dentro de
universos históricos e culturais específicos. (SILVA,
2004, p. 4)

O modelo de “Ensino Religioso fenomenológico assumiu


como conceito de Religião (lat.) religio como (lat.) relegere
(port.) “reler”, a definição de Cícero1.”(JUNQUEIRA, 2008, p.
20). Segundo esse filósofo, conforme aponta Junqueira (2008),
“religio” estaria ligado ao culto aos deuses, a costumes ances-
trais, e a religião mais antiga seria a melhor, por estar mais pró-
xima dos deuses. A religião seria própria de cada sociedade hu-
mana particular, sendo o conjunto de práticas e formas de crer,
que busca honrar seus deuses, e por isso mesmo é apropriado
receber respeito de outras comunidades. Na cultura do Império
Romano, havia a demonstração desse princípio no reconhecimen-
to do direito ao culto monoteísta a Javé para o povo Judeu, de
forma livre, por meio do estatudo religio licita, tendo em vista
“a realização escrupulosa da observância cultual, no respeito e
na piedade devidos aos poderes superiores” (JUNQUEIRA, 2008,
p. 20), como prática fundamentada em uma tradição.
É necessário lembrar que o termo foi aplicado de for-
ma ampliada, reconhecendo como religio sistemas e culturas
que cultuavam divindade(s), mesmo que de maneiras diferen-
tes ao praticado pelo Império Romano. Para Émile Durkheim2,
1 Conheça um pouco mais sobre Cícero: <http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%ADcero>.
2 Conheça um pouco mais sobre Durkheim: http://pt.wikipedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 47


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Pa r te
O FENÔMENO RELIGIOSO
01
sociólogo, psicólogo social e filósofo francês do início do Século
XIX, a religião seria um “sistema solidário de crenças e práticas
relativas a coisas sagradas” (Ibidem).
A religião pode influenciar e definir as relações humanas,
emprestando sentido, quando valida uma gama de informações,
aferindo veracidade a elas. Além disso, serve de modelo en-
quanto baliza ações e responde questões cruciais para a vida,
como aquelas ligadas à identidade (quem sou? Por que estou
aqui?) e destino (de onde vim? para onde vou?), além daqueles
questionamentos quanto às ameaças de sofrimento, ignorância
e injustiça.
Instintivamente, há uma tendência à busca de comporta-
mentos religiosos, independente da cultura a que pertença, por
ser instrumento para o conhecimento e compreensão do mun-
do, de si e de ações e fenômenos incontroláveis, inexplicáveis
e desconhecidos.
Assim, as aldeias humanas, independente de localização e
época, vêm indicando e buscando significados para seu viver,
e nisso se reconhece também a caracterização de religião, em
que se constituem caminhos para dirigir-se àquilo que necessi-
tava ser reconectado.

Extra

Propomos a leitura do artigo que aborda sobre a construção


conceitual do Ensino Religioso e as Ciências da Religião Dos con-
ceitos de Ciência de Religião e de Ensino Religioso: diálogos ne-
cessários, de Edivaldo Bortoleto e Rosa Gitana Krob Meneghetti.
Publicação Numen: revista de estudos e pesquisa da religião, Juiz
de Fora, v. 17, n. 1, p. 15-50. Disponível em: <http://numen.ufjf.

48 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
O FENÔMENO RELIGIOSO
01
emnuvens.com.br/numen/article/view/2828/2151>. Acesso em:
2 jun. 2015.

Atividade

Assista a entrevistas com três líderes de diferentes reli-


giões e procure identificar: o que é uma religião?
Seguem três sugestões:
• Fé Baháí. Disponível em: <www.youtube.com/watch?-
v=fhuHI942-Q0>. Acesso em: 15 jun. 2015.
• Cristãos ortodoxos. Disponível em: <www.youtube.
com/watch?v=9fjjpQjrLbs>. Acesso em: 15 jun. 2015.
• Budismo Tibetano. Disponível em: <www.youtube.
com/watch?v=4f6iwrm-FR0>. Acesso em: 15 jun. 2015.

Referências

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; CORRÊA, Rosa Lydia; HOLANDA, Ângela


Maria. Ensino Religioso: aspectos legal e curricular. São Paulo: Paulinas, 2007.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; WAGNER, Raul (Org.). Ensino Religioso


no Brasil. Curitiba: Champagnat, 2004.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo. Ensino Religioso na Perspectiva do


Espaço Escolar. Revista Teoria e Prática da Educação, v.11, n.1, p.15-22,
jan./abr. 2008. Disponível em: <www.dtp.uem.br/rtpe/volumes/v11n1/002_
Sergio_Junqueira.pdf>. Acesso em: 15 jun. 2015.

SILVA, Eliane Moura da. Religião, Diversidade e Valores Culturais: conceitos


teóricos e a educação para a Cidadania. Revista de Estudos da Religião, n. 2 /
2004 / pp. 1-14. Disponível em <www.pucsp.br/rever/rv2_2004/p_silva.pdf>.
Acesso em: 7 jun. 2015.

Resolução da atividade

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 49


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Pa r te
O FENÔMENO RELIGIOSO
01
O filósofo Cícero propõe que religião é a releitura do que
transcende na sociedade. As entrevistas devem proporcionar
condições de identificar o conceito do que é religião como uma
marca distintiva humana, independente de qual ela seja.

50 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
O FENÔMENO RELIGIOSO
02
FENÔMENO RELIGIOSO
O Conselho Nacional de Educação (CNE) contribuiu com
orientações para a formatação das diretrizes curriculares para
todas as disciplinas escolares. O Fenômeno Religioso foi o cami-
nho encontrado para a definição de objeto e objetivos para o
Ensino Religioso (ER).
Essa escolha deu condições de ampliar o entendimento a
respeito do ER enquanto disciplina escolar, ao considerar duas
áreas específicas: educação-ensino e religião, ou seja, a di-
mensão escolar e aquela ligada a religiosidades. Ilimitadas pos-
sibilidades se abrem, tanto com relação à primeira como quan-
to à segunda.
Inicialmente, é determinante o fato desse estudo ocorrer
no espaço da escola, exigindo a escolarização dos estudos sobre
as manifestações religiosas, em que entrecruzam-se:
• a sociedade local, global, plural e cultural, suas injus-
tiças e conquistas, conjunto que influencia a formação
humana;
• as diferentes visões de mundo e práticas de convivên-
cia recebidas do ambiente familiar de cada estudante;
• o sistema escolar expresso nas diferentes prioridades
econômicas, filosóficas e pedagógicas, que estrutu-
ram e influenciam uma gama de relações internas ho-
rizontais e verticais de poder;
• o corpo discente, ou estudantes, que com suas his-
tórias, gostos e escolhas pessoais, inter-relacionados

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 51


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Pa r te
O FENÔMENO RELIGIOSO
02
com diferentes fases etárias, de desenvolvimento cog-
nitivo e interpessoal, são influenciados pelo seu pro-
tagonismo (ou não) nos contextos sociais em que se
inserem.
Algumas condições são necessárias para que se atinjam os
objetivos da disciplina:
• instrumento metodológico isento de ideologias, in-
tenções preconcebidas, julgamento de valores (tanto
quanto possível);
• análise da recorrência e constância de determinados
aspectos (valores, credos etc.) ao longo do tempo;
• utilização de fontes primárias, ou seja, leituras inter-
culturais o mais próximo possível de suas raízes origi-
nais, descartada a prática de classificação (histórica,
sociológica, ou qualquer outra), que evite apropriações
de causa-efeito no afã de explicar o momento funda-
mental apresentado enquanto fenômeno religioso.
Fenômeno religioso pode ser comparado aos fenômenos
sociais ou culturais, enquanto sistema de relações entre seres
humanos, contudo seria possível restringir as relações do fenô-
meno religioso ao relacional entre seus pares? Com o que ou
com quem estes se relacionam no âmbito religioso?
Novamente é preciso pensar que essa relação religiosa
está relacionada às questões cruciais para a vida de identidade
(quem sou? Por que estou aqui?), destino (de onde vim? para
onde vou?) e profundidade existencial.

52 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
O FENÔMENO RELIGIOSO
02
Portanto não se tratam de questões levianas ou superfi-
ciais, já que envolve a pessoa em sua totalidade, oferecendo
sentido, que por vezes se traduz como o sentido de ser, perma-
necer e fazer no mundo.

Extra
Propomos a leitura do artigo Fenômeno Religioso: uma
buca pela verdade, de Yask Gondim da Silva. Publicação:
Fragmentos de cultura, Goiânia, v. 22, n. 4, p. 345-353, out./
dez. 2012. Disponível em: <http://seer.ucg.br/index.php/frag-
mentos/article/view/2550/1583>. Acesso em: 15 jun. 2015.

Atividades
Assista ao Programa Teodiversidade da PUC São Paulo -
Programa Teodiversidade 3 – Panorama das Religiões no Brasil,
que discute a diversidade religiosa no Brasil. Disponível em:
<www.youtube.com/watch?v=9HbncepXhkQ>. Acesso em: 15
jun. 2015.
Tomando como base esse vídeo, propomos que você produ-
za um breve texto respondendo à seguinte questão: Qual é o
cenário religioso brasileiro?
Caso você queira aprofundar a questão da diversidade
religiosa no Brasil, acesse a pesquisa sobre o Novo Mapa das
Religiões. Disponível em: <www.cps.fgv.br/cps/religiao/>.
Acesso em: 15 jun. 2015.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 53


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Pa r te
O FENÔMENO RELIGIOSO
02
Referências
JUNQUEIRA, Sergio (Org.). O sagrado: fundamentos e conteúdo do ensino
religioso. Curitiba: Ibpex, 2009.

JUNQUEIRA, Sergio; WAGNER, Raul. O ensino religioso no Brasil. 2. ed.


Curitiba: Champagnat, 2011.

Resolução da atividade

Ao perceber a diversidade religiosa no cenário religioso


brasileiro, é possível ampliar a visão do Ensino Religioso que
deve apresentar o posicionamento de olhar para o fenômeno,
ou seja, considerar a dimensão fenomenológica da disciplina.

54 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
O FENÔMENO RELIGIOSO
03
FENÔMENO RELIGIOSO COMO OBJETO PARA
O ENSINO RELIGIOSO
Diante das bases filosóficas, sociológicas e legais a respeito
do Ensino Religioso, e considerando a diversidade religiosa bra-
sileira, o fenômeno religioso, enquanto núcleo central, apre-
senta a releitura de diferentes contextos junto às concepções
das diferentes religiões como o caminho para operacionalizar
conteúdos para esse componente curricular.
Mais do que apresentar esses conhecimentos, faz-se neces-
sária uma postura facilitadora da construção destes, de forma
provocativa, a fim de que os estudantes se tornem protagonis-
tas da aprendizagem.
Como caminhada de crescimento cultural, o modelo feno-
menológico exige que se compreenda qual é a escola, o aluno e
os contextos que estão envolvidos e, além disso, a proposta e a
metodologia que se implementará nesta jornada.
Neste percurso de formação cultural e, consequentemente,
de preparação para atuação social e profissional, encontra-se
a educação da consciência religiosa como um direito de cada
pessoa. Como mais uma dimensão da cultura, torna-se possível
discutir problemas da existência, entre outros fundamentais.
Restringir o ensino a conteúdos vagos e neutros, que des-
prezam a reflexão quanto a modelos que transmitem a tradição
e cultura de cada povo, é limitar o leque de conhecimentos que
podem ser desenvolvidos e apropriados e que podem ser signi-
ficativos para as tomadas de decisão diante das opções de vida
a serem enfrentadas.
FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 55
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Pa r te
O FENÔMENO RELIGIOSO
03
É na escola, enquanto agência de educação para a vida em
sociedade, que a operacionalização fenomenológica da discipli-
na pode influenciar a formação de seres que atuem de forma
comprometida com o exercício da cidadania, com o mundo do
trabalho, de seres que, de forma alteritária1, contribuem para
uma vivência fundamentada na ética, na justiça, no respeito
aos direitos humanos, efetivando uma formação integral.
Além das contribuições filosóficas, sociológicas, legais, pe-
dagógicas e a diversidade da nação brasileira, para a efetivação
do Ensino Religioso, é preciso considerar também o ambiente
educativo, aspecto valorizado na pedagogia contemporânea.
O Ensino Religioso se insere nesses ambientes enquanto
processo educativo e deve considerar seus elementos coexis-
tentes (pessoas, relações, espaços e tempos destinados), po-
dendo favorecer ou não a formação humana. As condições de
espaço, tempo e as relações humanas se influenciam mutua-
mente, de acordo com um programa na forma como é pensado
e aceito pelos pares envolvidos.
É a escola o cenário em que se desenvolve o crescimento
cultural não só de cada sujeito, como de cada comunidade, e
por isso mesmo, deve ser o lugar no qual as formulações de
questões, e a busca pelas respostas e novas perguntas provem e
ampliem a capacidade e possibilidade do exercício da inteligên-
cia, da razão, da reflexão científica e da sensibilidade artística.
É lá onde se deve reunir as condições ideais para que todos os
questionamentos e, em especial, os ligados ao senso da vida e
valores existenciais se desenvolvam.

1 Relativo à alteridade.

56 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
O FENÔMENO RELIGIOSO
03
O Ensino Religioso, nesse aspecto, ocupa tempo e espaço
privilegiados para uma formação que se pretende científica, pois
propicia poder observar, analisar, rever, sintetizar e, em atitude
de diálogo, conhecer o que de outra forma não seria possível.

Extras

Propomos a leitura do artigo: Um espaço para compreender


o sagrado: a escolarização do Ensino Religioso no Brasil. Sylvio
Fausto Gil Filho e Sérgio Rogério Azevedo Junqueira. História:
Questões & Debates, Curitiba, n. 43, p. 103-121, 2005. Editora
UFPR. Disponível em: <http://ojs.c3sl.ufpr.br/ojs2/index.php/
historia/article/view/7865/5546>. Acesso em: 2 jun. 2015.
Para que você possa ir além na compreensão da questão diversi-
dade, propomos que acesse o site oficial do IBGE, em que encontra-se o
artigo: Censo 2010: número de católicos cai e aumenta o de evangé-
licos, espíritas sem religião. Disponível em: <http://censo2010.ibge.
gov.br/pt/noticias-censo?view=noticia&id=1&idnoticia=2170&t=-
censo-2010-numero-catolicos-cai-aumenta-evangelicos-espiritas-
sem-religiao>. Acesso em: 15 jun. 2015.

Atividade
Para discutir nas aulas de Ensino Religioso sobre a cons-
trução dos conceitos religiosos no país, é fundamental com-
preender a sua diversidade religiosa. Propomos que você ouça
o demógrafo da religião, e com base na entrevista, responda
à seguinte questão: Como estão distribuídas as religiões no
Brasil?
Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=tmIEDltbfms>.
Acesso em: 15 jun. 2015.
FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 57
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Pa r te
O FENÔMENO RELIGIOSO
03
Referências
JUNQUEIRA, S. (Org.). O sagrado: fundamentos e conteúdo do ensino religioso.
Curitiba: Ibpex, 2009.

JUNQUEIRA, S.; WAGNER, R. O ensino religioso no Brasil. 2. ed. Curitiba:


Champagnat, 2011.

Resolução da atividade

Compreender o Brasil como um país cuja diversidade se


reflete em diferentes modos de vida, e em especial nos aspec-
tos religiosos. Propõe-se esse percurso como forma de correla-
cionar a necessidade do enfoque fenomenológico da disciplina
como necessário e urgente para dar resposta à multicultural
sociedade brasileira.

58 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Aula 04

O ENSINO RELIGIOSO
NO CONTEXTO
ESCOLAR
Objetivo:

Análise da diversidade cultural religiosa e


seu impacto nas aulas de Ensino Religioso.
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O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO Par te
ESCOLAR 01
ESCOLA E RELIGIÃO
Na educação realizam-se os aspectos do fazer da humani-
dade, bem como na religião se expressam aspectos constituti-
vos de cada povo, o que se reflete na atuação de cada indivíduo
na sociedade onde vive. Sua atuação pode ou não transformar,
manter ou desenvolver características que marcam e dão iden-
tidade à sua cultura, ocupando a posição de agente social, com
força e influência na formação desta, como protagonistas de
atos que mantém ou transformam hábitos, costumes, ideolo-
gias, moral.
Assim, tanto a educação quanto a religião, tendo em vista
que são organizações socioculturais, desempenham uma espe-
cífica e determinada função social, que, ao longo do tempo,
pode modificar aspectos sociais. Essas mudanças, via de regra,
não se operacionalizam de forma homogênea e sem tensões,
em especial quando a diversidade e a pluralidade enfrentam
cenários também diversos e adversos na política e nas questões
sociais, sendo possível aferir a diversidade também nos aspec-
tos culturais, morais e religiosos.
Historicamente, religião e educação são interdependentes
em suas constituições, e elas se dedicam a questões cujos ele-
mentos históricos, culturais e concretos compõem o processo
de construção – perpetuação – modificação da história da huma-
nidade. Interligadas historicamente, elas têm papel fundamen-
tal no desenvolvimento dos povos, sendo responsáveis e oca-
sionando tanto a delimitação quanto a expansão do processo
evolutivo humano.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 61


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO


01 ESCOLAR

Com funções sociais diferentes, a educação tem a função


de oportunizar a ciência do conhecimento historicamente cons-
truído aos que a ela têm acesso. Já a religião tem a função de
tornar acessível a dimensão simbólica, de aspectos do transcen-
dente, de crenças e convicções religiosas humanas. Em ambas,
é possível que o sujeito entenda a sua própria constituição en-
quanto ser que tem aspirações e usar do conhecimento elabora-
do/transmitido nessas esferas para sua atuação em sociedade.
Com campos de atuação diferentes, o educacional e reli-
gioso encontram na disciplina do Ensino Religioso o espaço pro-
dutivo para entender a diversidade de forma a contribuir para
a formação cidadã.
Essa cidadania, da qual a escola se ocupa em formar e se
coloca como espaço fundamental para isso, também é tocada
por aspectos religiosos. E na escola, em especial, pode ser de-
senvolvida a tão necessária acolhida àquilo ou àquele que é di-
ferente, de forma respeitosa, e que só pode se efetivar através
do conhecimento sistematizado.
No desenvolvimento da cidadania a religião colabora pro-
piciando fenômenos religiosos de diferentes sociedades, que
configuram diferentes e densas articulações, mudanças, com-
binações e interpretações.
Diante de todos estes aspectos, é desafiante a postura que
se exige da disciplina e dos profissionais que trabalham com o
ER, pois os elementos concretos de cada esfera (educacional e
religiosa) tem epistemologia própria e especifica diferente de
qualquer outra disciplina escolar.

62 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO Par te
ESCOLAR 01
Extra

Propomos a seguinte leitura: Ensino Religioso e cidada-


nia na escola pública, de Elisa Rodrigues, publicado na Revista
Numen, v. 16, n. 1, 2013. Disponível em: <http://numen.ufjf.
emnuvens.com.br/numen/article/view/2126/1935>. Acesso em:
5 jun. 2015.

Atividade
Converse com uma ou mais pessoas de seu convívio (adulta
ou jovem) e tente resgatar de suas memórias alguns aspectos so-
bre atividades religiosas que eram realizadas no espaço escolar.
Após a organização do quadro a seguir, responda à seguinte
questão: como a religião se expressa na escola?

Escola pública Escola particular


Existia alguma imagem re-
ligiosa na escola? (Quadro/ SIM NÃO SIM NÃO
estatueta/gravura...)
Em algum momento, existiu a
oportunidade de oração para SIM NÃO SIM NÃO
os alunos?
Era feita a distribuição de
material religioso para alunos SIM NÃO SIM NÃO
e/ou professores?
Textos religiosos eram utiliza-
SIM NÃO SIM NÃO
dos na escola?
Em algum momento aconte-
SIM NÃO SIM NÃO
ciam celebrações religiosas?

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 63


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO


01 ESCOLAR

Referências
SEVERINO, Antonio Joaquim. Educação, ideologia e contra-ideologia. São
Paulo: EPU, 1986.

_____. Educação, trabalho e cidadania: a educação brasileira e o desafio da


formação humana no atual cenário histórico. In: São Paulo em Perspectiva.
São Paulo: Apr./June 2000. v. 14, n. 2. Disponível em: <www.scielo.br/scielo.
php?script=sci_arttext&pid=S0102-88392000000200010>. Acesso em: 16 jun.
2015.

WEILER, Lara. A educação e a sociedade atual frente às novas tecnologias.


Disponível em: <http://jararaca.ufsm.br/websites/l&c/download/Artigos/
L&C_1S_06/LaraL&C2006.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2015.

Resolução da atividade

A proposta é verificar a presença da religião na escola mes-


mo sem o Ensino Religioso, pois algumas vezes o tema religião
surge no espaço escolar em decorrência de situações propostas
por alunos e/ou professores, como: o tema da morte, questões
morais como aborto, eutanásia e homoafetividade. Aqui vale
lembrar que os princípios religiosos orientam o tema do diá-
logo. Para tal, é fundamental saber identificar e preparar-se
para essas discussões.

64 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO Par te
ESCOLAR 02
ESCOLA, DIVERSIDADE CULTURAL E
CIDADANIA
Diversidade tem sua raiz semântica (origem) na palavra
latina diversitate e significa “diferença”, “dessemelhança”,
“dissimilitude”. Por isso há o entendimento de que diversidade
é palavra antônima à homogeneidade.
Assim, diversidade cultural pode ser entendida como dife-
rença entre culturas, na forma em que concebe o mundo, entre
outras diferenças. Por serem originais em diferentes aspectos,
com histórias de formação, necessidades e características pe-
culiares entre si, exigem que o trato dos seus aspectos formati-
vos e constitutivos seja feito evitando a uniformização, discri-
minação e hierarquização de valores. É por isso também que a
produção cultural que representa cada cultura deve ser tomada
com postura respeitosa e alteritária. Essa produção cultural se
expressa, entre outros aspectos, por meio de idioma, símbolos,
tradições, ritos, alimentação, música, artes etc.
Geertz1 (1926-2006), antropólogo da Universidade
Princeton, de Nova Jersey, apresentou a diversidade cultural
como uma teia de significados construída por meio das vivên-
cias de cada um na sociedade em que se encontra. Por meio
dessas vivências, são convencionadas significações, valores e
regras que dão condição à comunicação e à vida entre os sujei-
tos e entre os diferentes grupos. Cultura, portanto, não é ca-
sual, mas resulta das relações historicamente construídas, por

1 Para saber um pouco mais sobre Clifford Geertz, acesse: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Clifford_Geertz>.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 65


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO


02 ESCOLAR

gerações anteriores, e que condicionam a forma como se vive e


como se traduz essa vida social.
No primeiro artigo da Declaração Universal sobre
Diversidade Cultural, consta que
Artigo 1 – A diversidade cultural, patrimônio co-
mum da humanidade. A cultura adquire formas
diversas através do tempo e do espaço. Essa di-
versidade se manifesta na originalidade e na
pluralidade de identidades que caracterizam os
grupos e as sociedades que compõem a humani-
dade. Fonte de intercâmbios, de inovação e de
criatividade, a diversidade cultural é, para o gê-
nero humano, tão necessária como a diversidade
biológica para a natureza. Nesse sentido, constitui
o patrimônio comum da humanidade e deve ser
reconhecida e consolidada em benefício das gera-
ções presentes e futuras. (UNESCO, 2002).

Portanto se entende que a diversidade cultural é caracte-


rística da humanidade, contendo aspectos que tanto marcam
quanto revelam sua identidade a ser conhecida, estudada e
preservada, tendo em vista sua condição singular no mundo e
riqueza.
A história humana é composta de sociedades e agrupamen-
tos formados com características próprias e ímpares e que, ao
longo do processo histórico, se viram avaliadas e categorizadas
como inferiores, passando por exclusões e marginalizações, va-
riáveis de acordo com as relações sociais e de poder.

66 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO Par te
ESCOLAR 02
O diferente, visto por vezes como inimigo, é categorizado
também como forma de oportunizar relações de domínio, pas-
sando a processos de homogeneização e suplantação da cultura
denominada minoritária. Esse processo pode ser exemplificado
na ocidentalização e colonização de povos deste planeta como,
com as colonizações africana, americana e asiática. A domi-
nação econômica e política influenciaram os aspectos cultu-
rais, nos quais a religião se inclui, por meio do etnocentrismo
ocidental.
Atualmente, o capitalismo se impõe como modelo de so-
ciedade, cuja cultura é expressa pela globalização econômica,
apoiada por estratégias de comunicação, além de tradições re-
ligiosas e escolas, o que mantém, se é que não amplia, a condi-
ção de suplantar a diversidade cultural humana.
Com o objetivo de resgatar uma condição digna a grupos
vulneráveis, que por vezes tiveram e ainda tem os direitos hu-
manos violados e sua diversidade cultural negada, a Declaração
Universal sobre a Diversidade Cultural, no art. 4.º, expressa
A defesa da diversidade cultural é um imperativo
ético, inseparável do respeito à dignidade huma-
na. Ela implica o compromisso de respeitar os di-
reitos humanos e as liberdades fundamentais, em
particular os direitos das pessoas que pertencem a
minorias e os dos povos autóctones. Ninguém pode
invocar a diversidade cultural para violar os direi-
tos humanos garantidos pelo direito internacional,
nem para limitar seu alcance. (UNESCO, 2002)

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 67


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO


02 ESCOLAR

Extra
Propomos a leitura do seguinte artigo: Ensino Religioso:
um estudo sobre sua relação com gênero e orientação sexual,
de Sérgio Junqueira, Emerli Schlögl e Claudia Regina Kluck.
Publicado na Revista Religare, v. 10, n.2, 2013. Disponível em:
<http://periodicos.ufpb.br/ojs/index.php/religare/article/
view/17478/9977>. Acesso em: 5 jun. 2015.

Atividade
A compreensão da diversidade pela escola deve ser fei-
ta por seus educadores, entre eles os professores, justamente
pelo fato de que a cultura é um produto histórico com certa au-
tonomia para gerar formas de pensar e agir próprios que inter-
ferem no cotidiano das comunidades, promovendo a identidade
destes espaços. Desse modo, a dinâmica social impõe à escola
brasileira nas últimas décadas, o imperativo de incorporar à
sua cultura esta outra diversidade. Que considerações você faz
sobre esta afirmação?

Referências
JUNQUEIRA, Sérgio. O processo de escolarização do Ensino Religioso no
Brasil. Petrópolis: Vozes, 2002.

KADLUBITSKI, Lídia. Diversidade cultural na formação do pedagogo. 2010.


Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, Curitiba, 2010. Disponível em: <www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_
busca/arquivo.php?codArquivo=1667>. Acesso em: 5 jun. 2015.

68 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO Par te
ESCOLAR 02
KADLUBITSKI, Lídia; JUNQUEIRA, Sérgio. Cultura e Diversidade Religiosa:
diálogo necessário em busca da Fraternidade Universal. Publicado em
Interações: Cultura e Comunidade, v. 5 n. 8, Jul./dez. (2010) p. 123-139,
2010. Disponível em: <http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/
article/viewFile/6444/5898>. Acesso em: 5 jun. 2015.

UNESCO. Declaração Universal sobre a Diversidade Cultural. 2002. Disponível


em: <http://unesdoc.unesco.org/images/0012/001271/127160por.pdf>. Acesso
em: 15 jun. 2015.

Resolução da atividade

Cultura e educação acham-se intimamente relacionadas.


A educação opera sobre a cultura e esta não se reproduz sem
aquela. A cultura retrata a sociedade e suas particularidades, e
a educação cuida por meio de processos formais e não formais
de garantir a permanência da cultura. Uma e outra se con-
substanciam em práticas sociais historicamente construídas.
Em cada uma delas, há uma composição de saberes variados,
dos quais a educação depende para fazer sentido no processo
de interlocução que a sociedade realiza com os seus indivíduos,
visando sua conservação, perspectivas e renovação. Cada cultu-
ra tem um projeto social a ser disseminado. A educação escolar
tem papel preponderante no processo de disseminação desse
projeto, o qual é primeiramente político pelas intencionalida-
des demarcadas que abarca. Nesse universo, a educação para a
diversidade na diversidade é relevante não só enquanto proje-
to civilizatório, mas, principalmente, como resposta a premen-
tes necessidades humanas.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 69


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO


03 ESCOLAR

O ENSINO RELIGIOSO E A DIVERSIDADE


RELIGIOSA
A escola brasileira é desafiada a tornar cada estudante ca-
paz de manter relações humanizadas e dialógicas, reconhecer a
diversidade cultural em seu próprio contexto e operacionalizar
uma educação que seja libertadora, com respeito às diferenças
de toda ordem, possibilitando transpor as barreiras de precon-
ceitos contra as minorias do país.
Em diferentes culturas, pode ser constatada, historica-
mente, a presença da diversidade religiosa. Cada religião apre-
senta, a seu modo, as respostas para as diferentes perguntas
ligadas a identidade e destino (De onde vim? Para onde vou?), e
as diferentes formas de crer, celebrar, simbolizar e ligar-se ao
ser de devoção, e expressam diferentes experiências vivencia-
das por cada povo.
O Brasil, país marcadamente plural e rico em diversida-
de, expressa também na esfera religiosa essas características,
o que se revela, inclusive, nos documentos oficiais e educa-
cionais. Isso deve ser abordado no ambiente escolar, a fim de
formar pessoas abertas à multiculturalidade, minimizando ati-
tudes discriminatórias e preconceituosas a grupos minoritários,
o que inclui religiões minoritárias.
Nesse sentido a partir de 1997 a LDB (Lei 9.496/96), com
alterações dadas pela Lei 9.475/97, expressa essa diretiva
para a Educação Nacional e especificamente para o trato do
Ensino Religioso brasileiro. Nessa lei foi estabelecido o ER como

70 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO Par te
ESCOLAR 03
componente curricular oficial no Ensino Fundamental, com con-
cepção pedagógica e pluralista.
Em atendimento à disposição legal, diferentes envolvidos
com a Educação em âmbito federal, estadual e municipal bus-
cam incluir a diversidade cultural e religiosa do país, abordando
a diversidade religiosa brasileira como uma forma de contribuir
para o conhecimento e respeito das diferentes vertentes reli-
giosas e suas expressões.

Extra

Propomos o estudo deste artigo, sobre a relação do Ensino


Religioso e as questões etnico-racial: A leitura do Ensino Religios
na Cultura Afro-Brasileira e Cultura Indígena, de Lidia Kadlubitski
e Sérgio Junqueira, publicado na. Revista Identidade, 16, n. 2,
2011. Disponível em: <http://periodicos.est.edu.br/index.php/
identidade/article/view/186>. Acesso em: 5 jun. 2015.

Atividade
.
Procure ao menos uma notícia de sua região que explicite
algum fato com vínculo religioso, poderá ser uma ação clara-
mente religiosa, como a entrevista com líderes religiosos, ou,
ainda, festas sagradas. Mas também poderá ser uma notícia
implicitamente religiosa, como alguma forma de exclusão, de
preconceito em decorrência de compreensão religiosa. Depois
de localizar, procure organizar uma aula para alunos do Ensino
Fundamental baseando-se no material recolhido.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 71


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Pa r te O ENSINO RELIGIOSO NO CONTEXTO


03 ESCOLAR

Referências
JUNQUEIRA, S. O processo de escolarização do Ensino Religioso no Brasil.
Petrópolis: Vozes, 2002.

KADLUBITSKI, Lídia. Diversidade cultural na formação do pedagogo. 2010.


Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, Curitiba, 2010. Disponível em: <www.biblioteca.pucpr.br/tede/tde_
busca/arquivo.php?codArquivo=1667>. Acesso em: 5 jun. 2015.

KADLUBITSKI, Lídia; JUNQUEIRA, Sérgio. Cultura e Diversidade Religiosa:


diálogo necessário em busca da Fraternidade Universal. Interações: Cultura
e Comunidade, v. 5 n. 8, jul./dez. (2010) p. 123-139, 2010. Disponível em:
<http://periodicos.pucminas.br/index.php/interacoes/article/viewFile/
6444/5898>. Acesso em: 5 jun. 2015.

Resolução da atividade

A proposta desta atividade é favorecer a sensibilização


para a releitura religiosa por meio do cotidiano de nossa so-
ciedade, bem como consiste em obter recursos básicos para as
aulas do Ensino Religioso.

72 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Aula 05

PRESSUPOSTOS
PARA O ENSINO
RELIGIOSO
Objetivo:

Compreender os fundamentos das


áreas da psicologia, da sociologia e
da antropologia, a fim de estabelecer
relações com a prática pedagógica do
Ensino Religioso.
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Par te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
01
PRESSUPOSTOS DA APRENDIZAGEM
A aprendizagem, segundo um artigo publicado pelo Brasil
Escola:
[...] é um processo de mudança de comportamen-
to obtido através da experiência construída por
fatores emocionais, neurológicos, relacionais e
ambientais. Aprender é o resultado da interação
entre estruturas mentais e o meio ambiente. De
acordo com a nova ênfase educacional, centra-
da na aprendizagem, o professor é co-autor do
processo de aprendizagem dos alunos. Nesse en-
foque centrado na aprendizagem, o conhecimen-
to é construído e reconstruído continuamente.
(HAMZE)

Segundo Saviani (1992), a ação do professor é norteada por


três objetivos:
1. identificar as formas pelas quais se exprimem o saber
objetivado socialmente (seleção de conteúdos);
2. transformar esse saber em saber escolar (definir
metodologia);
3. garantir que os alunos se apropriem desse saber e que
elevem seu nível de compreensão da realidade.
Eis o nosso desafio: Como trabalhar na prática pedagógica,
com todos os alunos igualmente, se eles aprendem em ritmos
diferentes, ou até mesmo com alguns alunos que não aprendem?
É preciso compreender as novas relações entre desenvolvimen-
to e aprendizagem, bem como utilizar as bases conceituais e
os saberes das diversas áreas das ciências sociais: Filosofia,
FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 75
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Pa r te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
01
História, Antropologia, Psicologia, Sociologia entre outras.
A Psicologia da aprendizagem tem propiciado, com seus
estudos, contribuições relevantes para melhor compreender
o processo ensino-aprendizagem e como se dá o processo de
construção do conhecimento do ponto de vista cognitivo, psi-
comotor, socioafetivo, linguístico etc. Também propicia o co-
nhecimento do desenvolvimento em suas diferentes áreas (cog-
nitiva, socioafetiva, sensório-motora e simbólica), as quais são
ativamente construídas na interação com o meio e com outros
indivíduos.
Na prática pedagógica, conhecer e levar em consideração
esses pressupostos é fundamental para auxiliar os nossos/as alu-
nos/as a como aprender e apreender, (re)planejar e avaliar as
suas atitudes, tendo em vista a apropriação do conhecimento.

Extra

Para aprofundar os estudos sobre como o indivíduo constrói


sua estrutura conceitual e seu universo de significados, propo-
nho a leitura do artigo Algumas Contribuições da Psicologia
Cognitiva, de Marta Kohl de Oliveira. Disponível em: <www.
ia.ufrrj.br/ppgea/conteudo/T2SF/Akiko/41-Marta_Kohl.pdf>.
Acesso em: 1.º jun. 2015.

Atividade
Leia o artigo Desenvolvimento e aprendizagem: reflexões
sobre suas relações e implicações, de Marisa Eugênia Melillo
Meira. A autora busca levar à compreensão do desenvolvimento

76 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
01
humano e suas articulações com aprendizagem e relações so-
ciais. Escreva as relações entre aprendizagem e desenvolvimen-
to, evidenciadas no estudo da ficha e do artigo. Disponível em:
<www.scielo.br/pdf/ciedu/v5n2/a06v5n2.pdf>. Acesso em: 1.º
jun. 2015.

Referências
HAMZE, Amélia. O que é a aprendizagem? Brasil Escola. Disponível em: <http://
educador.brasilescola.com/trabalho-docente/o-que-e-aprendizagem.htm>.
Acesso em: 15 jun. 2015.

MEIRA, Marisa Eugênia Melillo. Desenvolvimento e aprendizagem: reflexões


sobre suas relações e implicações. Ciência e Educação, Bauru, v. 5, n. 2,
1998, p. 61-70. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/ciedu/v5n2/a06v5n2.pdf>.
Acesso em: 1.º jun. 2015.

SAVIANI, Demerval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações.


3.ed. São Paulo: Cortez, 1992.

Resolução da atividade

A autora do texto proposto para realizar a atividade esta-


belece interfaces com aprendizagem e relações sociais (perce-
ba-se que a autora vincula ambos, a partir de seus pressupostos
teóricos, pela vertente marxista/histórico-cultural).

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 77


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Pa r te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
02
PRESSUPOSTOS DO ENSINO –
ANTROPOLOGIA E SOCIOLOGIA
Os pressupostos teóricos do ensino explicitam as concep-
ções de ser humano, de educação e de sociedade, os quais
orientam toda proposta pedagógica. A definição desses pressu-
postos se dá por meio da contribuição das áreas do conhecimen-
to da psicologia, da história, da sociologia e da antropologia.
Os estudos antropológicos nos apontam a importância de
levarmos em consideração o contexto de vida dos educandos
e as características específicas dos educadores e da escola. Já
os estudos sociológicos norteiam o sentido da função da escola,
bem como os conhecimentos que nela são construídos.
Na relação entre antropologia e educação abre-se
um espaço para debate, reflexão e intervenção,
que acolhe desde o contexto cultural da apren-
dizagem, os efeitos sobre a diferença cultural,
racial, étnica e de gênero, até os sucessos e insu-
cessos do sistema escolar em face de uma ordem
social em mudança. Nesse sentido, como ciência
e, em particular, como ciência aplicada, antropo-
logia e antropólogos estiveram, no passado e no
presente, preocupados com o universo das dife-
renças e das práticas educativas (GUSMÃO, 1997).

Como sabemos, há uma estreita relação entre educação


e sociedade. Segundo Poyer (2007, p. 42), a escola é “com-
preendida como uma das partes que compõe o processo social”.

78 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
02
Diversos autores, entre eles Souza (2003), discutem a importân-
cia dos pressupostos da sociologia da educação
[...] para uma compreensão crítica da realidade
social, política, econômica e cultura na qual a es-
cola e a educação estão inseridas e contribui para
uma formação de educadores com uma visão crí-
tica que possa formar indivíduos para compreen-
derem e transformarem a realidade onde vivem.
(CORREIA; BATISTA, p. 01)

Extras
Para aprofundar os seus estudos, leia os artigos:
Antropologia e educação: Origens de um diálogo, de
Neusa Maria Mendes de Gusmão. Publicado no cad. CEDES,
v. 18, n. 43, Campinas, dez. 1997. Disponível em: <www.scielo.br/
scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32621997000200002>.
Acesso em: 1.º jun. 2015.
História da Educação Escolar e Sociologia: uma rela-
ção promissora, de Miriam Waidenfeld Chaves. Publicado na
Educação em Revista, v. 30 n. 2, Belo Horizonte, abril/junho
2014 Epub 08 abr., 2014. Disponível em: <www.scielo.br/scie-
lo.php?pid=S0102-46982014000200005&script=sci_arttext>.
Acesso em: 1.º jun. 2015.

Atividade
Com base nos conceitos discutidos na ficha de estudo, ela-
bore um texto sobre as contribuições das bases conceituais da
sociologia e da antropologia para a prática docente.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 79


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Pa r te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
02
Referências
CORREIA, Deyse Morgana das Neves; BATISTA, Maria do Socorro Xavier. A
importância da sociologia da educação na formação do educador: visão dos
alunos e professores do curso de pedagogia da UFPB. X Encontro de iniciação
à docência. Disponível em: <www.prac.ufpb.br/anais/IXEnex/iniciacao/
documentos/anais/4.EDUCACAO/4CEDFEMT01.pdf>. Acesso em: 1.º jun. 2015.

GUSMÃO, Neusa Maria Mendes de. Antropologia e educação: Origens de um


diálogo. Cad. CEDES, v. 18, n. 43, Campinas, Dez. 1997. Disponível em: <www.
scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-32621997000200002>.
Acesso em: 1.º jun. 2015.

MOTA, Kelly Cristine Corrêa da Silva. Os lugares da sociologia na formação de


estudantes do ensino médio. Revista Brasileira de Educação, n. 29 [S.L]
n. 2. mai/jun/jul/ago 2005. Disponível em: <www.scielo.br/pdf/rbedu/n29/
n29a08>. Acesso em: 1.º jun. 2015.

POYER, Viviani. Sociologia da educação: livro didático. Palhoça: Unisul


Virtual, 2007. Disponível em: <http://busca.unisul.br/pdf/89245_Viviani.
pdf>. Acesso em: 1.º jun. 2015.

Resolução da atividade

Para fundamentar a prática pedagógia, (seleção de con-


teúdos, planejamento das aulas, seleção de estratégias meto-
dológicas e avaliativas) busque sempre dialogar com os pressu-
postos teóricos da antropologia e da sociologia.

80 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
03
CONCEPÇÕES DO ENSINO RELIGIOSO
Ao longo da história educacional brasileira, destacam-se
três concepções do Ensino Religioso nas escolas: Confessional,
Interconfessional e a Fenomenológica.
O confessional é o mais antigo, é a famosa aula de
religião, ligada à Teologia. O ensino interconfes-
sional foi criado a partir dos anos 70, segue a linha
cristã. É mais ligado ao ensino de valores, como
amor, respeito, que são temas comuns entre as
denominações cristãs. O fenomenológico é o que
estuda as manifestações culturais e religiosas da
sociedade. São objetos de estudo festas, rituais,
feriados, comportamentos etc. É mais ligado à
Antropologia, Sociologia, Filosofia, enfim, ciên-
cias humanas que estudam o fenômeno religioso.
(JUNQUEIRA, 2008).

No documento Ensino religioso: diversidade cultural e


religiosa, elaborado pela Secretaria de Estado de Educação do
Estado do Paraná consta:
[...] um dos grandes desafios da escola e da disci-
plina de Ensino Religioso é efetivar uma prática de
ensino voltada para a superação do preconceito
religioso, como, também, desprender-se do seu
histórico confessional catequético, para a cons-
trução e consolidação do respeito à diversidade
cultural e religiosa. Um Ensino Religioso de cará-
ter doutrinário, como ocorreu no Brasil Colônia e

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 81


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Pa r te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
03
no Brasil Império, estimula concepções de mundo
excludentes e atitudes de desrespeito às diferen-
ças culturais e religiosas.

É justamente esse contexto que reclama uma re-


formulação do Ensino Religioso adequada ao ideal
republicano de separação entre Igreja e Estado,
pois suas formas confessionais são incapazes de
cumprir essas exigências que hoje se apresentam.
Assim, a disciplina de Ensino Religioso deve ofe-
recer subsídios para que os estudantes entendam
como os grupos sociais se constituem cultural-
mente e como se relacionam com o sagrado. Essa
abordagem possibilita estabelecer relações entre
as culturas e os espaços por ela produzidos, em
suas marcas de religiosidade. Tratado nesta pers-
pectiva, o Ensino Religioso contribuirá para supe-
rar desigualdades étnico-religiosas, para garantir
o direito Constitucional de liberdade de crença e
expressão e, por consequência, o direito à liber-
dade individual e política, atendendo, assim, um
dos objetivos da Educação Básica que, segundo a
LDB 9.394/96, é o desenvolvimento da cidadania.
(SEED/PR, 2013, p. 11-12)

Os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Religioso


foram elaborados em 1997, por uma equipe do FONAPER (Fórum
Nacional Permanente do Ensino Religioso). Esse documento,
além de ser um referencial curricular, definiu a identidade des-
sa disciplina escolar. O conteúdo para o Ensino Religioso, pro-
posto nos Parâmetros, se estrutura em cinco eixos do campo
religioso: Culturas e Tradições Religiosas, Textos Sagrados Orais
e Escritos, Teologias, Ritos e Ethos.
82 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO
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Par te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
03
[...] o Ensino Religioso, enquanto disciplina, en-
quadra-se no padrão comum a todas as outras
áreas do conhecimento, ou seja, tem objeto de
estudo próprio: o fenômeno religioso; conteúdo
próprio: o conhecimento religioso; tratamento
didático próprio: didática do fenômeno religioso;
objetivos próprios; metodologia e sistema de ava-
liação (Cf. Ensino Religioso: Referencial Curricular
para a Proposta Pedagógica da Escola, 2000).
(FONAPER, et al, 2009)

O Ensino Religioso, no contexto escolar, deverá assumir


como pressuposto um caráter inter-religioso. Na prática peda-
gógica, significa realizar um trabalho abrangente, que se carac-
teriza como processo educativo do senso religioso do ser huma-
no, visando favorecer o conhecimento das diferentes tradições
religiosas, bem como a reflexão crítica da informação sobre o
fenômeno religioso, para que o aluno amplie sua visão da reali-
dade social, cultural e religiosa.
Para tal, é fundamental trabalhar em sala de aula na pers-
pectiva do diálogo inter-religioso, isto é, motivar não apenas o
mútuo conhecimento entre tradições religiosas distintas, mas
igualmente o seu recíproco enriquecimento.

Extra

Proponho a leitura do artigo Uma concepção em cons-


trução: o ensino religioso em uma perspectiva pedagógica
a partir do artigo 33 da LDB, do prof. Sérgio Junqueira, com
o objetivo de aprofundar seu conhecimento de como se deu
o processo de escolarização do Ensino Religioso, para melhor

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 83


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Pa r te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
03
compreender o seu perfil nas escolas brasileiras. Publicado
na Revista de Educação PUC-Campinas, Campinas, n. 21, p.
107-124, novembro 2006. Disponível em: <http://periodicos.
puc-campinas.edu.br/seer/index.php/reveducacao/article/
view/211/194>. Acesso em: 2 jun. 2015.

. Atividade
Tendo em vista a concepção fenomenológica do Ensino
Religioso, a qual deverá ser trabalhada na perspectiva do diálogo
inter-religioso, elabore uma síntese explicitando algumas ideias
de como estabelecer interfaces entre esses dois pressupostos.

Referências
FIGUEIREDO, Anísia de Paulo. Ensino religioso no Brasil: tendências,
conquistas e perspectivas. Petrópolis: Vozes, 1996.

FONAPER - FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Parâmetros


Curriculares Nacionais: Ensino Religioso. São Paulo: Ave-Maria, 1997.

FONAPER - FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO; et al.


Aos professores de Ensino Religioso. 16 out. 2009. Disponível em: <www.
ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=210>.
Acesso em: 2 jun. 2015.

JUNQUEIRA, Sergio Rogério Azevedo. O Processo de Escolarização do Ensino


Religioso no Brasil. Petrópolis: Vozes, 2002.

JUNQUEIRA, Sergio Rogério Azevedo. O estado deve oferecer o ensino


religioso. Gazeta do Povo, 29. Ago. 2008. Disponível em: <www.gazetadopovo.
com.br/vida-e-cidadania/o-estado-deve-oferecer-o-ensino-religioso-
b5kjectmyovm2xj4mfjcqtglq>. Acesso em: 2 jun. 2015.

BRASIL. Secretaria do Estado de Educação do Paraná. Ensino religioso:


diversidade cultural e religiosa. Curitiba: SEED/PR., 2013. Disponível em:
<www.ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/arquivos/File/livro_er_19_3_2015.
pdf>. Acesso em: 15 jun. 2015.

84 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
03
Resolução da atividade

O Ensino Religioso, na perspectiva fenomenológica, tem


como pressuposto o acento sobre o fenômeno religioso, com-
preendido como um conjunto de fatos, acontecimentos, ma-
nifestações e expressões, tanto de ordem material como es-
piritual e que envolvem o ser humano em sua busca e relação
com o Transcendente; sendo que essa busca e relação pode ter
caráter individual e coletivo.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 85


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Pa r te
PRESSUPOSTOS PARA O ENSINO RELIGIOSO
03

86 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Aula 06

EIXOS E CONTEÚDOS
DO ENSINO RELIGIOSO
Objetivo:

Compreender como se constitui o currículo


escolar, a fim de reconhecer a importância
da disciplina de Ensino Religioso.
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Par te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
01
CURRÍCULO E SUA ESTRUTURA
É por meio do currículo que se viabiliza o processo de ensi-
no-aprendizagem, assim constitui-se como elemento central do
projeto político pedagógico. Mas o que é currículo? São muitas
as concepções possíveis, entre elas destacamos as afirmações
de três autores.
Segundo César Coll:
O currículo será um elo entre a declaração dos
princípios gerais e sua tradução operacional, en-
tre a teoria educacional e a prática pedagógica,
entre planejamento e a ação, entre o que é pres-
crito e o que realmente sucede nas salas de aula.
(COLL, 1998, p.33-34).

De acordo com Sacristán:


O currículo é a ligação entre a cultura e a socie-
dade exterior à escola e à educação; entre o co-
nhecimento e cultura herdados e a aprendizagem
dos alunos; entre a teoria (ideias, suposições e as-
pirações) e a prática possível, dadas determinadas
condições (SACRISTÁN, 1999, p. 61).

E ainda, Doll (1997, p. 147) acentua que “[...] o currículo


não é apenas um veículo para transmitir conhecimentos, mas é
um veículo para criar e recriar a nós mesmos e à nossa cultura”.
Segundo estudos realizados entre as décadas de 1960 a
1970, elencou-se três níveis de currículo: formal ou prescrito,
real e oculto.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 89


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Pa r te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
01
O Currículo Formal ou Prescrito, conforme destaca Moreira
& Silva (1997), refere-se ao currículo estabelecido pelos siste-
mas de ensino, é expresso em diretrizes curriculares, objetivos
e conteúdos das áreas ou disciplina de estudo. Este é o que traz
prescrita institucionalmente os conjuntos de diretrizes como os
Parâmetros Curriculares Nacionais.
O Currículo Real, como afirma Libâneo (2004), é o currículo
que acontece na sala de aula em decorrência de um projeto
pedagógico e um plano de ensino. É a execução de um plano, é
a efetivação do que foi planejado, mesmo que nesse caminho
de planejar e do executar aconteçam mudanças, intervenção
da própria experiência dos professores, decorrente de seus va-
lores, crenças e significados.
O Currículo Oculto, segundo Moreira & Silva (1997), é o ter-
mo usado para denominar as influências que afetam a aprendi-
zagem dos alunos e o trabalho dos professores. O currículo ocul-
to representa tudo o que os alunos aprendem diariamente em
meio às várias práticas, atitudes, comportamentos, gestos, per-
cepções, que vigoram no meio social e escolar. O currículo está
oculto porque ele não aparece no planejamento do professor
A distinção entre esses vários níveis de currícu-
lo serve para mostrar que aquilo que os alunos
aprendem na escola ou deixam de aprender de-
pende de muitos fatores, e não apenas de disci-
plinas previstas na grade curricular. (LIBÂNEO,
OLIVEIRA, TOSCHI, 2003, p. 363).

90 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
01
Extra
Para aprofundar os estudos sobre currículo e sua estrutura,
sugiro a leitura do artigo Currículo e Educação: Conceito e ques-
tões no contexto educacional, de Adriana Regina de Jesus. A au-
tora estabelece uma análise crítica sobre a origem e o contexto do
currículo brasileiro e faz uma reflexão sobre os novos desafios pre-
sentes na formação do professor. Disponível em: <www.pucpr.br/
eventos/educere/educere2008/anais/pdf/642_840.pdf>. Acesso
em: 5 jun. 2015.

Atividade
Com base nos estudos sobre currículo e seus níveis, ela-
bore um texto sistematizando esses conceitos. Na sua prática
pedagógica, é fundamental essa fundamentação teórica para
que você possa se inserir na discussão do projeto político peda-
gógico da escola.

Referências
COLL, Cesar. Psicologia e Currículo. 3. ed. São Paulo: Ática, 1998.

DOLL JR., Willian. E. Currículo: uma perspectiva pós-moderna. Porto Alegre:


Artes Médicas, 1997.

LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola: teoria e prática.


Goiânia: ed. Alternativa, 2004.

LIBÂNEO, José Carlos; OLIVEIRA, João Ferreira de; TOSCHI, Mirza Seabra.
Educação escolar: políticas, estruturas e organização. São Paulo: Cortez,
2003.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 91


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Pa r te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
01
CURRÍCULO ESCOLAR. In: MENEZES, Ebenezer Takuno de; SANTOS, Thais
Helena dos. Dicionário Interativo da Educação Brasileira – EducaBrasil. São
Paulo: Midiamix Editora, 2002. Disponível em: <www.educabrasil.com.br/eb/
dic/dicionario.asp?id=72>. Acesso em: 15 jun. 2015.

MOREIRA, Antonio Flávio Barbosa; SILVA, Tomaz Tadeu. (Org.). Currículo,


cultura e sociedade. 2. ed. São Paulo: Cortez, 1997.

SACRISTAN, J. Gimeno. Poderes instáveis em educação. Tradução de Beatriz


Affonso Neves. Porto Alegre: Artmed, 1999.

Resolução da atividade

Na sistematização do seu texto, estabeleça interfaces com


um dos conceitos de currículo:
Conjunto de dados relativos à aprendizagem es-
colar, organizados para orientar as atividades
educativas, as formas de executá-las e suas fina-
lidades. Geralmente, exprime e busca concretizar
as intenções dos sistemas educacionais e o plano
cultural que eles personalizam como modelo ideal
de escola defendido pela sociedade. A concepção
de currículo inclui desde os aspectos básicos que
envolvem os fundamentos filosóficos e sociopolí-
ticos da educação, até os marcos teóricos e refe-
renciais técnicos e tecnológicos que a concreti-
zam na sala de aula. (MENEZES; SANTOS).

92 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
02
IDENTIDADE E PERFIL DOS EIXOS
No Brasil, é o Conselho Nacional de Educação que determi-
na as diretrizes para inclusão de uma base nacional comum na
composição curricular do Ensino Fundamental e Médio. Também
lhe compete deliberar sobre as diretrizes curriculares, com
base nas propostas apresentadas pelo MEC.
De acordo com Arnaldo Moreira Matos (2004), a educação
nacional tem como meta que o currículo permita em cada re-
gião incorporar estudos de interesse da sociedade, da cultura,
da economia e da população local.
Segundo o Relatório Mundial da UNESCO, quatro
eixos fundamentais devem nortear a educação do
século XXI:

• aprender a conhecer;

• aprender a fazer;

• aprender a conviver juntos e uns com os outros e

• aprender a ser.

Esses quatro pilares devem estar presentes na po-


lítica de melhoria da qualidade da educação, pois
eles abrangem o ser em sua totalidade, do cog-
nitivo ao ético ao técnico, do imediato ao trans-
cendente. A moderna concepção de qualidade em
educação é a visão da pessoa em sua totalidade
(MATOS, 2004, p. 93).

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 93


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Pa r te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
02
Nesse sentido, o mesmo autor destaca que a finalidade
maior da educação passa a ser necessidade de formação de um
cidadão solidário capaz de circular democraticamente no seio
de diversas culturas em busca do que é humano e indispensável
a todas as pessoas, entre os quais, solidariedade e justiça.
Para a efetivação do trabalho com os eixos fundamentais,
via prática pedagógica e currículo, é fundamental o protagonis-
mo dos professores. Conforme aponta Saviani (1992), os edu-
cadores devem buscar nortear sua ação segundo três objetivos
fundamentais:
1. a identificação das formas mais desenvolvidas em que
se exprime o saber objetivo socialmente produzido;
2. a transformação desse saber objetivo em saber esco-
lar que possa ser assimilado pelo conjunto dos alunos;
3. a garantia das condições necessárias para que estes
não apenas se apropriem do conhecimento, mas ain-
da possam elevar seu nível de compreensão sobre a
realidade.

Extra

Sugiro a leitura do interessante artigo O Currículo e seu


papel na Educação, de Arnaldo Moreira de Matos. O autor abor-
da os diferentes elementos que garantem a prática pedagógica,
visando uma melhoria qualitativa de aprendizagem. Disponível
em: <revistas.unipar.br/educere/article/download/172/146>.
Acesso em: 5 jun. 2015.

94 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
02
Atividade
Como vimos, é de fundamental importância o protagonis-
mo do professor para que de fato se concretize o trabalho com
os eixos fundamentais (Aprender a conhecer; Aprender a fazer;
Aprender a conviver juntos e uns com os outros e Aprender a
ser). Pensando na sua prática pedagógica, descreva como você
dialogaria no seu plano de aula com os eixos fundamentais.

Referências
MATOS. Arnaldo Moreira. O Currículo e seu Papel na Educação. EDUCERE.
Umuarama, v. 4, n.2, p. 89-101, jul./dez., 2004. Disponível em: <http://
revistas.unipar.br/educere/article/download/172/146>. Acesso em: 5 jun.
2015.

SAVIANI, Demerval. Pedagogia histórico-crítica: primeiras aproximações. 3.


ed. São Paulo: Cortez, 1992.

Resolução da atividade

Os eixos são também chamados de pilares da educação,


pois são considerados fundamentais na sua estrutura. A atual
concepção de educação, busca a formação integral da pessoa, e
o trabalho com os eixos busca abranger o ser em todas as suas
dimensões. Como complemento para essa atividade, recomen-
damos o vídeo de Celso Antunes: “Os quatro pilares da edu-
cação” para “iluminar OU inspirar” a sua prática pedagógica.
Disponível em: <www.youtube.com/watch?v=IQF8mVF3j84>.
Acesso em: 15 jun. 2015.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 95


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Pa r te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
03
EIXOS DO ENSINO RELIGIOSO EM
DIFERENTES REGIÕES
A estrutura do conteúdo para o Ensino Religioso, propos-
ta nos PCNER, é estruturada nas cinco invariantes do campo
religioso:
A) Culturas e Tradições Religiosas: estudo do fenô-
meno religioso à luz da razão humana, analisando
questões como: função e valores da tradição reli-
giosa, relação entre tradição e ética, teodiceia,
tradição religiosa natural e revelada, existência
e destino do ser humano nas diferentes culturas;

B) Textos Sagrados (Orais e Escritos): textos que


transmitem, conforme a fé dos seguidores, uma
mensagem do Transcendente, através da qual, pela
revelação, cada forma de afirmar o Transcendente
faz conhecer aos seres humanos seus mistérios e
sua vontade, dando origem às tradições. E estão
ligados ao ensino, à pregação, à exortação e aos
estudos eruditos;

C) Teologias: conjunto de afirmações e conheci-


mentos elaborados pela religião e repassados para
os fiéis sobre o Transcendente, de um modo orga-
nizado ou sistematizado;

D) Ritos: série de práticas celebrativas das tradi-


ções religiosas formando um conjunto de rituais,
símbolos e espiritualidades;

E) Ethos: forma interior da moral humana em que


se realiza o próprio sentido do ser. É formado na
96 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO
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Par te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
03
percepção interior dos valores, através dos quais
nasce o dever como expressão da consciência e
como resposta do próprio “eu” pessoal. O valor
moral tem ligação com um processo dinâmico da
intimidade do ser humano e, para atingi-lo, não
basta deter-se à superfície das ações humanas
(PCNER, 1997, p. 34-38).

Esses eixos de conteúdos permitem trabalhar a disciplina


de Ensino Religioso na perspectiva fenomenológica e do diálogo
inter-religioso, demonstrando respeito à diversidade religiosa,
bem como apresentar temas relativos à cultura e tradições re-
ligiosas (concepções de Transcendência, práticas ritualísticas e
textos sagrados).
O Ensino Religioso por meio de um conteúdo específico e
alicerçado no estudo do fenômeno religioso,
[...] desperta no educando a necessidade de ver,
sentir e experimentar a vida não só sob a ótica
materialista de um mundo calcado na ciência e
na técnica, mas perceber a dimensão da transcen-
dência que possibilita encontrar ânimo para viver
e sonhar. Não sonhar com coisas ilusórias e irreais,
mas com um projeto de vida que alimenta a uto-
pia de ajudar na construção de uma sociedade jus-
ta e solidária. No contato com a transcendência
a criança, o adolescente e o jovem encontram a
esperança e passam a valorizar a vida enquanto
o mistério e o ethos como um lugar sagrado [...]
(NETO, 2002, p. 53).

Além de trabalhar o seu conhecimento específico, esta dis-


ciplina ao articular religião e cultura, tem como desafio diante

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 97


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Pa r te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
03
da incerteza, da contradição, da descontinuidade dos fatos, da
quebra dos valores e das normas sociais que vivemos na socie-
dade contemporânea contribuir na reconstrução das utopias e
dos horizontes dos seres humanos. Outra meta a alcançar é a de
incentivar a vivência e a descoberta de valores fundamentados
na ética; de favorecer relações interpessoais fraternas, solidá-
rias e justas; bem como desenvolver a consciência planetária,
resgatar a essência do ser humano, para que juntos possamos
ajudar a (re)construir um mundo melhor.

Extra

Sugiro a leitura do artigo: Quais são os eixos do ER e que


conteúdos os integram?, do Prof. Antonio Boeing. Você terá a
oportunidade de observar que conteúdos podem ser trabalhados
em cada eixo. Disponível em: <www.gper.com.br/gper_news/
anexos/news75.pdf>. Acesso em: 5 jun. 2015.

Atividade
Escolha um dos eixos do Ensino Religioso e elabore um pla-
no de aula para a série em que você atua, ou gostaria de atuar.

Referências
FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Parâmetros
Curriculares Nacionais: Ensino Religioso. São Paulo: Ave-Maria, 1997.

MENDES NETO, Alfero. Aberto à pluralidade. In: Diálogo. Maio. Ano VII – n. 26.
São Paulo: Pia Sociedade Filhas de São Paulo, 2002, p. 53.

98 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Par te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
03
Resolução da atividade

Ao elaborar seu plano de aula, o conteúdo deverá ter como


alicerce o fenômeno religioso. Reler os fenômenos religiosos
significa conhecer as diferentes expressões religiosas, tendo
em vista o respeito à diversidade e o modo específico como
cada povo organiza as suas tradições religiosas. Por fenôme-
nos religiosos compreende-se o conjunto de manifestações,
acontecimentos e expressões, tanto de ordem material como
espiritual, que envolvem os seres humanos na sua busca e re-
lação com o Transcendente. A dimensão transcendente ou o fe-
nômeno religioso é encontrado em todas as culturas humanas.
Baseando-nos na história dos povos e culturas, observamos em
todas as épocas e em todos os lugares a presença de alguma
Religião (ex.: povo de Israel, Egito, mitologia grega, religiões
africanas e indígenas).

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 99


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Pa r te
EIXOS E CONTEÚDOS DO ENSINO RELIGIOSO
03

100 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Aula 07

VISÃO METODOLÓGICA
E DIDÁTICA DO
ENSINO RELIGIOSO
Objetivo:

Compreender as interfaces entre o projeto


político pedagógico e a disciplina de
Ensino Religioso, a fim de estabelecer uma
metodologia que dialogue com as demais
áreas do conhecimento e com os Temas
Transversais.
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VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 01
PROJETO PEDAGÓGICO E O
ENSINO RELIGIOSO
A palavra “projeto” vem do latim projectus e é particípio
passado do verbo projiceire, que significa lançar para adiante.
Plano, interno, desígnio. Empresa, empreendimento. Redação
provisória de lei. Plano geral de edificação. (FERREIRA, s.d.,
p.1.153).
É por meio do projeto pedagógico que a escola delineia os
rumos que deseja tomar no futuro, adquirindo como referência
as condições atuais e a realidade local. Aqui, destacamos a de-
finição de Projeto Político Pedagógico (PPP):
Projeto porque faz uma projeção da intenciona-
lidade educativa para futura operacionalização
[...], político porque define uma posição do gru-
po, supõe uma proposta coletiva, consciente, fun-
damentada e contextualizada para a formação do
cidadão [...], pedagógica porque define a inten-
cionalidade formativa, expressa uma proposta de
intervenção formativa. (EYNG, 2002, p.26).

Nesse sentido, Veiga (1995, p.13) afirma:


O projeto busca um rumo, uma direção. É uma
ação intencional com um sentido explícito, com
um compromisso definido coletivamente. Por isso,
todo projeto pedagógico da escola e, também, um
projeto político por estar intimamente articulado
ao compromisso sociopolítico com os interesses
reais e coletivos da população majoritária. É po-
lítico no sentido de compromisso com a formação
FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 103
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Pa r te VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO


01 ENSINO RELIGIOSO

do cidadão para um tipo de sociedade. [...] Na


dimensão pedagógica reside a possibilidade da
efetivação da intencionalidade da escola, que é
a formação do cidadão participativo, responsável,
compromissado, crítico e criativo. Pedagógico,
no sentido de definir as ações educativas e as ca-
racterísticas necessárias às escolas de cumprirem
seus propósitos e sua intencionalidade.

Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional


indicou a questão do Ensino Religioso como elemento a ser
inserido na construção dos currículos das escolas do Ensino
Fundamental. Portanto, o Ensino Religioso faz parte da discus-
são e elaboração do PPP.
O Ensino Religioso quando se apropria de sua refe-
rência como Área de Conhecimento, apropria-se,
ao mesmo tempo, do papel de quem dialoga do
lugar da ciência da religião, com a intenção pri-
meira de transitar no campo dos outros saberes
e para dialogar com eles na procura de agregar e
não de separar os campos demarcados por episte-
mologias diferentes. (JUNQUEIRA, MENEGHETTI,
WACHOWISCZ, 2002, p.51).

Extras

Recomendamos o artigo O ensino religioso em face do


Projeto Político Pedagógico, de Lurdes Fátima Polidoro e
Robson Stigar, publicado na Ciberteologia – Revista de Teologia
& Cultura, edição n. 18 - Ano IV - Julho/Agosto 2008 - ISSN:
1809-2888. Disponível em: <http://ciberteologia.paulinas.org.

104 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 01
br/ciberteologia/wp-content/uploads/2009/06/01oensinoreli-
gioso.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2015.
E, para maior aprofundamento das contribuições do Ensino
Religioso para a formulação do PPP da escola, sugere-se a lei-
tura do livro: Ensino Religioso e Sua Relação Pedagógica, de
Sergio Rogério Azevedo Junqueira, Rosa Gitana Krob Meneghetti,
Lilian Anna Wachowiscz, da Editora Vozes, 2002.

Atividade
Com base na leitura do artigo indicado, faça uma síntese
destacando a relação e a importância do Ensino Religioso jun-
to ao Projeto Político Pedagógico: O ensino religioso em face
do Projeto Político Pedagógico, de Lurdes Fátima Polidoro e
Robson Stigar, publicado na Ciberteologia – Revista de Teologia
& Cultura, edição n. 18 – Ano IV – Julho/Agosto 2008 - ISSN:
1809-2888. Disponível em: <http://ciberteologia.paulinas.org.
br/ciberteologia/wp-content/uploads/2009/06/01oensinoreli-
gioso.pdf>. Acesso em: 10 jun. 2015.

Referências
EYNG, Ana Maria. Políticas e práticas de gestão pública na educação municipal:
as competências da escola. Revista Diálogo Educacional – PUCPR. Curitiba:
Champagnat, 2001.

FERREIRA, Naura Syria Carapeto. Gestão democrática da educação: atuais


tendências, novos desafios. 2 ed. São Paulo: Cortez, 2000.

JUNQUEIRA, Sergio Rogério Azevedo Junqueira, MENEGHETTI, Rosa Gitana


WACHOWISCZ, Lilian Anna. O Ensino Religioso e sua relação pedagógica.
Petrópolis: Editora Vozes, 2002.

VEIGA, Ilma P.A. (Org.). As Dimensões do Projeto Político-Pedagógico.


Campinas, 4. ed. SP: Papirus, 2001.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 105


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Pa r te VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO


01 ENSINO RELIGIOSO

Resolução da atividade

O Ensino Religioso, como disciplina, é parte integrante


da formação básica do cidadão. Portanto, deve fazer parte do
Projeto Político Pedagógico (PPP) a fim de garantir seus funda-
mentos epistemológicos e pedagógicos, pois o Ensino Religioso
tem um conhecimento específico, insere-se ao lado de outras
áreas de conhecimento e acrescenta, à visão sobre a realidade,
mais um modo de discuti-la para melhor compreendê-la.

106 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 02
SEQUÊNCIAS DIDÁTICAS PARA
O ENSINO RELIGIOSO
[...] o Ensino Religioso, enquanto disciplina en-
quadra-se no padrão comum a todas as outras
áreas do conhecimento, ou seja, tem objeto de
estudo próprio: o fenômeno religioso; conteúdo
próprio: conhecimento religioso; tratamento di-
dático: didática do fenômeno religioso; objeti-
vos próprios; metodologia e sistema de avalia-
ção. (Cf. Ensino Religioso: Referencial Curricular
para a Proposta Pedagógica da Escola, 2000).
(FONAPER et al, 2009)

Com base nos eixos de conteúdos (Culturas e Tradições


Religiosas, Textos Sagrados Orais e Escritos, Teologias, Ritos,
Ethos), o Parâmetro Curricular Nacional propõe conteúdos re-
lacionados às situações e acontecimentos do cotidiano e gera-
dores de valores.
Também deverão ser trabalhados, segundo Figueiredo
(1995), conteúdos que possibilitem uma relação consigo mesmo,
com o outro, com o espaço, com o transcendente, procurando
despertar para a sensibilidade diante de situações desumanas,
que ferem a dignidade humana, assim como perceber os meca-
nismos geradores de vida que devem ser valorizados, sobretudo
os que proporcionam dignidade ao ser humano. Elementos que
contribuam para a formação do senso crítico, de uma consciên-
cia ecológica, de uma síntese entre a cultura e a experiência

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 107


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Pa r te VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO


02 ENSINO RELIGIOSO

religiosa. Conteúdos que permitam compreender e reconhecer


as diferentes denominações religiosas, os fundamentos antro-
pológicos do simbolismo e sua relação com a experiência do
transcendente. Elementos que habilitem o aluno a uma leitura
e interpretação dos fatos históricos e narrações relacionadas
com o fenômeno religioso.
O Ensino Religioso no ensino fundamental necessita de uma
metodologia que relacione os conteúdos apreendidos com a di-
versidade religiosa presente na sociedade. Oleniki e Daldegan
sugerem quatro momentos que se articulam entre si e contri-
buem no fazer pedagógico da disciplina:
1.º momento: apresentar as informações de de-
terminado conteúdo, relativo a uma ou várias tra-
dições religiosas, por meio de diferentes estraté-
gias, como por exemplo: música, história narrada
ou dramatizada, dinâmica de grupo etc;

2.º momento: propor atividades a serem desen-


volvidas individualmente ou em grupo. São ativi-
dades, que possibilitam ampliar a abordagem do
conteúdo proposto, levando o educando a apren-
der a fazer, a conhecer e, a saber de si.;

3.º momento: promover uma síntese [...];

4.º momento: possibilitar um espaço aberto para


aprimorar o conteúdo proposto, interagindo com
as experiências pessoais. (OLENIKI; DALDEGAN,
2003, p. 74-78).

108 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 02
Os PCNER destacam que o tratamento didático a essa área
do conhecimento apoia-se nas etapas de: Observação – Reflexão –
Informação.
Observação: para o trabalho com os conceitos bá-
sicos do Ensino Religioso; Reflexão: para o enten-
dimento e a decodificação do fenômeno religioso;
e Informação: apropriação do conhecimento sis-
tematizado, organizado e elaborado (FONAPER,
1997, p. 34-35).

Extras
Propomos a entrevista com a professora Diná Raquel Daudt
da Costa, sobre metodologia do Ensino Religioso. Disponível
em: <www.youtube.com/watch?v=2LS1cJe3DCY>. Acesso em:
10 jun. 2015.
Além disso, sugerimos a leitura dos PCNER (Parâmetros
Curriculares Nacionais do Ensino Religioso), em especial o ca-
pítulo 3, que apresenta o tratamento do Ensino Religioso em
cada ciclo do ensino fundamental com sua caracterização, ob-
jetivos, pressupostos para avaliação, bloco de conteúdos e o
respectivo tratamento didático. Como é um material que não
se encontra disponível gratuitamente na internet, é interes-
sante que em algum momento se adquira este material junto
ao FONAPER.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 109


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Pa r te VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO


02 ENSINO RELIGIOSO

Atividade
A partir dos estudos sobre a metodologia do Ensino Religioso,
escolha um dos eixos de conteúdos e elabore um plano de aula.
Para auxiliar na elaboração do seu planejamento, sugi-
ro a leitura de dois dos materiais elaborados pela ASSINTEC
(Associação Inter-Religiosa de Educação):
Educação com respeito à diversidade cultural religio-
sa: Sugestão de proposta pedagógica para o ensino religioso.
Curitiba: Assintec, 2005. Disponível em: <www.gper.com.br/
noticias/750de743fa3d10f68de2a83f02ccc6cf.pdf>. Acesso em:
10 jun. 2015.
Ensino Religioso: 1.º ano. Curitiba: ASSINTEC/SME, 2007.
Disponível em: <http://issuu.com/brigidakarina1/docs/aposti-
la_1__/1>. Acesso em: 15 jun. 2015.

Referências
ASSINTEC/SME. Ensino Religioso: 1.º ano. Curitiba: ASSINTEC/SME, 2007.
Disponível em: <http://issuu.com/brigidakarina1/docs/apostila_1__/1>. Acesso
em: 15 jun. 2015.

DALDEGAN, Mirilac Loraine R.; OLENIKI, Viviane. Encantar: Uma prática


pedagógica no Ensino Religioso. Vozes, 2003.

FIGUEIREDO, Anísia de Paulo. Ensino Religioso, perspectivas pedagógicas.


Petrópolis, Vozes, 1995.

FONAPER – FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Parâmetros


Curriculares Nacionais: Ensino Religioso. São Paulo: Ave-Maria. 1997.

______. Caderno temático n. 1 – Ensino Religioso. Referencial curricular para


a proposta pedagógica da escola, 2000.

FONAPER – FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO; et al.


Aos professores de Ensino Religioso. 16 out. 2009. Disponível em: <www.
ensinoreligioso.seed.pr.gov.br/modules/noticias/article.php?storyid=210>.
Acesso em: 2 jun. 2015.

110 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 02
Resolução da atividade

Dica para quando você for planejar a sua aula de Ensino


Religioso (observe que os autores ampliaram as etapas da me-
todologia sugerida pelos PCNER):
Sugere-se que cada aula parta de um ponto intro-
dutório capaz de proporcionar motivação, orga-
nização do espaço interior e exterior, bem como
apresente de maneira interessante a temática
que será desenvolvida, é o momento que chama-
mos de sensibilização.

No momento seguinte sugere-se como passo me-


todológico a realização da observação-refle-
xão-informação. Esses momentos se interligam,
numa dinâmica, num movimento constante, por-
tanto, não são estanques e nem isolados. Desse
modo, busca-se decodificar e analisar os elemen-
tos básicos que compõem o fenômeno religioso,
enfocando os conteúdos em uma rede de relações
e de forma progressiva, propiciando ao aluno a
ampliação de sua visão de mundo, o exercício do
diálogo inter-religioso e a valorização das dife-
rentes expressões religiosas e místicas a partir do
seu contexto sociocultural.

No terceiro e último momento, realiza-se uma


síntese na qual o resultado de todo processo
de ensino/aprendizagem se estabelece por meio
de uma proposta de comportamentos éticos.
(ASSINTEC/SME, 2007, p. 6-7).

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 111


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Pa r te VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO


03 ENSINO RELIGIOSO

ENSINO RELIGIOSO E
OS TEMAS TRANSVERSAIS
Os Temas Transversais são um conjunto de as-
suntos apresentados pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais (PCN), considerados urgentes e neces-
sários ao exercício da cidadania e que devem
ser incorporados às áreas convencionais do cur-
rículo (Língua Portuguesa, Matemática, Ciências
Naturais, História, Geografia, Arte e Educação
Física), ocupando “o mesmo lugar de importân-
cia” que elas possuem. O adjetivo “transversais”
indica a metodologia a ser adotada no seu trata-
mento didático: “pretende-se que esses temas
integrem as áreas convencionais de forma a es-
tarem presentes em todas elas, relacionando-as
às questões da atualidade” (Brasil, 1997, p. 36).
(SILVEIRA, 2009, p. 696)

A transversalidade está apoiada numa visão interdisciplinar


de conhecimento, pois é uma prática educativa que busca siste-
matizar o processo de ensino/aprendizagem, relacionando co-
nhecimentos entre si e principalmente, com o contexto. Assim,
os Temas Transversais definidos como: Ética; Meio Ambiente;
Pluralidade Cultural; Saúde; Orientação Sexual; Temas Locais;
devem estabelecer interfaces com e entre as disciplinas, bem
como, entre a teoria e a prática. Nesse sentido, o Ensino
Religioso

112 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO Par te
ENSINO RELIGIOSO 03
[...] deverá ser considerado integrante e integra-
do na construção coletiva do projeto pedagógico
da escola, tendo uma prática pedagógica mais
interdisciplinar e menos fragmentada na organi-
zação curricular, pois a partir da Resolução n.º
02/98 da Câmara de Educação Básica do Conselho
Nacional de Educação, o Ensino Religioso passa
a fazer parte das áreas do conhecimento, sendo
reconhecido como integrante da formação básica
do cidadão. (RODRIGUES, MACHADO E JUNQUEIRA,
2004, p. 8-9)

Portanto, o Ensino Religioso, como área do conhecimento,


deverá dialogar com os Temas Transversais e não trabalhar na
perspectiva destes.

Extra
Para aprofundar os seus estudos sobre os Temas Transversais
e auxiliá-lo(a) na realização da atividade proposta, proponho a
leitura do artigo: Temas Transversais e Transversalidade, de
Laura Monte Serrat Barbosa. Disponível em: <www.construir-
noticias.com.br/asp/materia.asp?id=1203>. Acesso em: 10 jun.
2015.

Atividade
Elabore um plano de aula estabelecendo interfaces entre o
Tema Transversal “Pluralidade cultural” e o eixo de conteúdos
do Ensino Religioso “Culturas e Tradições Religiosas”.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 113


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Pa r te VISÃO METODOLÓGICA E DIDÁTICA DO


03 ENSINO RELIGIOSO

Referências
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental.
Parâmetros Curriculares Nacionais: apresentação dos temas transversais,
ética. Brasília, 1997. 146 p. (Parâmetros curriculares nacionais – 1.ª a 4.ª
série – v. 8).

CORDIOLLI, Marcos. Para Entender os PCNs: Os Temas Transversais. Curitiba:


Módulo, 1999.

RODRIGUES, Kleberson M.; MACHADO, Léo Marcelo P.; JUNQUEIRA, Sérgio


Rogério Azevedo. O Fórum Nacional Permanente Do Ensino Religioso
(Fonaper) e sua contribuição para o processo de escolarização do
Ensino Religioso. 2004. Disponível em: <www.pucpr.br/eventos/educere/
educere2004/anaisEvento/Documentos/MR/MR-CI0143.pdf>. Acesso em: 10
jun. 2015.

SILVEIRA, René José Trentin. Ética como tema transversal. Revista Brasileira
Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 90, n. 226, p. 695-709, set./dez. 2009. Disponível
em:  <http://rbep.inep.gov.br/index.php/RBEP/article/viewFile/1376/1293>.
Acesso em: 15 jun. 2015.

Resolução da atividade

Na prática pedagógica, trabalhar com a transversalidade


remete a uma mudança de concepção de conhecimento e de
aprendizagem, pois como destaca Cordiolli (1999), os Temas
Transversais apontam para mudanças na cultura, nos aspectos
de ver e sentir o mundo. Não se trata, portanto, de “mais con-
teúdos” nem de procurar organizar os conteúdos numa pers-
pectiva interdisciplinar ou transdisciplinar, mas, sim, da for-
mação de valores e padrões de conduta, como uma espécie de
“óculos” que qualifica o olhar dos professores para certos ele-
mentos da formação dos alunos.

114 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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Aula 08

FILOSOFIA E POLÍTICAS
EDUCACIONAIS PARA O
ENSINO RELIGIOSO
Objetivo:

Compreender a construção da identidade do


Ensino Religioso, a fim de estabelecer relações
com a importância da formação docente.
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FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS Par te
PARA O ENSINO RELIGIOSO 01
SISTEMA DE ENSINO E ENSINO RELIGIOSO
É de fundamental importância para os educadores conhecer
e compreender como foi construída a identidade da educação
religiosa no Brasil - como componente curricular - ao longo dos
anos, dos caminhos históricos e políticos que essa área trilhou,
desde o período colonial, até chegar à Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional 9.694/96 e suas alterações posteriores.
Nesse processo histórico, vale destacar que foi no regime repu-
blicano (em seu sistema educacional), que se deu a construção
de um componente curricular que de fato valoriza a pluralidade
cultural religiosa na formação do cidadão.
Foi por meio da Constituição Federal de 1988, em seu ar-
tigo 210, parágrafo 1.º do Capítulo III da Ordem Social, que
estabeleceu a caracterização do Ensino Religioso como sendo
uma disciplina de matrícula facultativa das escolas públicas de
ensino fundamental, sendo ministrada em horários normais.
A inclusão desse dispositivo deu-se com uma sig-
nificativa mobilização nacional, resultando na
segunda maior emenda, em número de assinatu-
ras, apresentadas ao Congresso Constituinte. Em
todo o país há grandes esforços pela renovação do
conceito de Ensino Religioso, da sua prática peda-
gógica, da definição de seus conteúdos, natureza
e metodologia adequada ao universo escolar [...]
(PCNER, 1997, p. 18).

O Ensino Religioso se encontra nas escolas desde a sua ori-


gem, a qual se iniciou a partir do período de colonização do
Brasil. Diversos estudos sobre essa temática identificam que
FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 117
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Pa r te FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS


01 PARA O ENSINO RELIGIOSO

essa disciplina possui uma concepção mais política do que pe-


dagógica. Dessa forma, a estruturação da sua identidade ainda
é um desafio, bem como o estabelecimento de diálogo com o
currículo e o Projeto Político-Pedagógico das escolas. Aqui, vale
destacar que:
A escolarização do Ensino Religioso no Brasil ain-
da não é uma realidade nacional; existe a carên-
cia de profissionais capacitados para empreender
esta proposta, assim como subsídios para apoiar
todo este processo. As linhas que ainda apostam
na ação desta disciplina com espaço legítimo de
doutrinamento é forte, muitos professores ade-
rem a estas linhas que divergem da lei de diretri-
zes e o fazem não por acreditar ou desacreditar
na escolarização do Ensino Religioso, mas porque
não sabem o que fazer. Sempre atuaram como ca-
tequistas e não como professores, sobretudo, não
tem onde buscar suporte para a disciplina como
componente escolar. São muitos os esforços ainda
que se tem a fazer (FONAPER, 1997, p. 17).

Extra

Sugerimos a leitura da matéria publicada em Gestão


Escolar (2009), sobre As leis brasileiras e o ensino religioso
na escola pública. Disponível em: <http://gestaoescolar.abril.
com.br/politicas-publicas/leis-brasileiras-ensino-religioso-
escola-publica-religiao-legislacao-educacional-constituicao-
brasileira-508948.shtml>. Acesso em: 18 jun. 2015.

118 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS Par te
PARA O ENSINO RELIGIOSO 01
Atividade
A partir da leitura do artigo: O Ensino Religioso, por quê?,
de Sérgio Junqueira e Cláudia Cardoso, elabore uma linha do
tempo explicitando como o Ensino Religioso é tratado desde o pe-
ríodo da monarquia brasileira até os dias de hoje. Disponível em:
<www.gper.com.br/documentos/ensino_religioso_porque.pdf>.
Acesso em: 18 jun. 2015.

Referências
BRASIL. Constituição da Republica Federativa do Brasil de 1988. Publicada no
Diário Oficial da União, 5 out. 1988. Disponível em: <www.planalto.gov.br/
ccivil_03/Constituicao/Constituicao.htm>. Acesso em: 18 jun. 2015.

BRASIL. Lei 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e


bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez.
1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.
Acesso em: 18 jun. 2015.

BRASIL. Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33


da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional.
Publicada no Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
Congresso Nacional, 1997. Disponível em <www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

FONAPER - FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Parâmetros


Curriculares Nacionais: Ensino Religioso. São Paulo: Ave-Maria. 1997.

FONAPER - FÓRUM NACIONAL PERMANENTE DO ENSINO RELIGIOSO. Normas


para habilitação e admissão de Professores de Ensino Religioso. Blumenau:
Mimeo, 1997.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 119


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Pa r te FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS


01 PARA O ENSINO RELIGIOSO

Resolução da atividade

Como professores, é fundamental compreendermos a


identidade da educação religiosa, dos caminhos históricos e
políticos que esta área trilhou, desde o período colonial, que
perpassou pelos períodos imperial e republicano e pelas cons-
tituições até chegar à Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional 9.394/96 e posteriores alterações.
Tal fundamentação se faz necessária, pois no contexto
atual não é suficiente que o(a) professor(a) apenas domine a
sua área de conhecimento e a ciência. É necessário saber ler,
interpretar e posicionar-se diante da realidade, conhecer os
caminhos da ciência construídos historicamente, e pensar a
ação educativa enquanto ciência e processo envolvido na cons-
trução e reconstrução permanente da sociedade.

120 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS Par te
PARA O ENSINO RELIGIOSO 02
POLÍTICA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES
A formação universitária do professor é prevista na legisla-
ção nacional, conforme o artigo 62 da LDB (Lei 9.394/96):
Art. 62. A formação de docentes para atuar na
educação básica far-se-á em nível superior, em
curso de licenciatura, de graduação plena, em
universidades e institutos superiores de educação,
admitida, como formação mínima para o exercício
do magistério na educação infantil e nos 5 (cinco)
primeiros anos do ensino fundamental, a oferecida
em nível médio na modalidade normal. (Redação
dada pela Lei n.º 12.796, de 2013) (BRASIL, 1996)

Deste modo, é por meio da universidade que os professores


(re)constroem determinados saberes, além de uma formação
em nível de conteúdo específico, assim como uma formação
pedagógica ainda muito pautada na teoria.
Alguns autores, entre eles, André e Romanowski (1999,
2002), em seus estudos sobre a formação pedagógica, destacam
que esta é pouco valorizada nos cursos de licenciatura. André
aponta: “temos que fazer o melhor, dar o máximo, melhorar,
melhorar cada vez mais os nossos cursos de licenciatura” (1996,
p. 102).
Gatti e Barretto (2009), no estudo “Professores no Brasil:
impasses e Desafios”, ao considerar alguns aspectos relaciona-
dos à docência, argumentam que a formação de professores
exige uma verdadeira e necessária revolução nas estruturas
institucionais formativas e nos currículos dos cursos. Segundo

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 121


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Pa r te FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS


02 PARA O ENSINO RELIGIOSO

as autoras, é necessário integrar a formação e voltar-se para


esse objetivo. Essa formação não pode ser pensada a partir das
ciências e de seus diversos campos disciplinares, “como adendo
destas áreas, mas a partir da função social própria da escolari-
zação: ensinar às novas gerações o conhecimento acumulado e
consolidar valores e práticas sociais coerentes com a vida civil”
(GATTI; BARRETTO, 2009, p. 7).
Como afirma Nóvoa (2009, p. 6), é preciso trazer a forma-
ção de professores para a profissão. Segundo ele:
[...] a educação vive um tempo de grandes in-
certezas e de muitas perplexidades. Sentimos a
necessidade da mudança, mas nem sempre con-
seguimos definir-lhe o rumo. Há um excesso de
discursos, redundantes e repetitivos, que se tra-
duz em uma pobreza de práticas (NÓVOA, 2009,
p. 11).

Quanto à formação do profissional para a disciplina do


Ensino Religioso, tivemos algumas iniciativas, entre as quais,
destaca-se que:
A disciplina Metodologia da Educação Religiosa
foi incluída apenas recentemente no componente
curricular dos cursos de pedagogia e normal supe-
rior de algumas Instituições de Ensino Superior. É
possível perceber que esta área do conhecimento
não tem sido contemplada na formação inicial de
muitos professores que atuam no magistério em
especial nas escolas católicas. Sendo, outrossim,
responsável pelas distorções no encaminhamen-
to pedagógico desta disciplina. Este componente

122 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS Par te
PARA O ENSINO RELIGIOSO 02
curricular tem sua importância à medida que inte-
gra e aprofunda a discussão sobre o fenômeno re-
ligioso às demais áreas do conhecimento (SANTOS,
p. 3-4).

Extra

Para aprofundar o seu olhar sobre a formação docente es-


pecífica para o Ensino Religioso, propomos a leitura do arti-
go: O Ensino Religioso na formação docente: Um olhar sobre
os cursos de licenciatura em Ciências da Religião com habi-
litação em Ensino Religioso no Brasil, de Edir Spredemann.
Publicado: Anais do Congresso Internacional da Faculdades EST.
São Leopoldo: EST, v. 1, 2012. Disponível em: <http://anais.est.
edu.br/index.php/congresso/article/viewFile/29/116>. Acesso
em: 17 jun. 2015.

Atividade
Com base na leitura do artigo: História da formação do
professor de Ensino Religioso no contexto brasileiro, de
Sérgio Rogério Azevedo Junqueira e Edile Maria Fracaro, elabo-
re uma síntese sobre a história da formação de professores do
Ensino Religioso. Publicação: ANAIS DO III ENCONTRO NACIONAL
DO GT HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E DAS RELIGIOSIDADES – ANPUH
– Questões teórico-metodológicas no estudo das religiões e re-
ligiosidades. In: Revista Brasileira de História das Religiões.
Maringá (PR) v. III, n. 9, jan/2011. Disponível em: <www.dhi.
uem.br/gtreligiao/pdf8/ST1/013%20-%20Sergio%20Rogerio%20
Azevedo%20Junqueira%20e%20Edile%20Maria%20Fracaro.pdf>.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 123


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Pa r te FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS


02 PARA O ENSINO RELIGIOSO

Acesso em: 17 jun. 2015.

Referências
ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de. O papel da pesquisa na formação de
professores. In: REALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues; MIZUKAMI, Maria
da Graça Nicoletti. Formação de professores: tendências atuais. São Carlos:
EDUSFcar, 1996.

ANDRÉ, Marli Eliza Dalmazo Afonso de; ROMANOWSKI, Joana Paulin. O tema
formação de professores nas teses e dissertações brasileiras, 1990-1996. In:
REUNIÃO Anual da ANPEd, Caxambu: ANPEd, 1999.

BRASIL. Lei 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e


bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez.
1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm>.

BRASIL. Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33


da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional.
Publicada no Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
Congresso Nacional, 1997. Disponível em <www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

GATTI, Bernadete Angelina; BARRETTO, Elba Siqueira de Sá. Professores no


Brasil: impasses e desafios. Brasília: Unesco, 2009. Disponível em: <www.
unesco.org/fileadmin/MULTIMEDIA/FIELD/Brasilia/pdf/professores_brasil_
resumo_executivo_2009.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2015.

NÓVOA, António. Professores: imagens do futuro presente. Lisboa, Educa,


2009.

ROMANOWSKI, Joana Paulin. As licenciaturas no Brasil: um balanço das teses


e dissertações dos anos 90. São Paulo, Faculdade de Educação, 2002. Tese de
doutorado.

SANTOS, Silvana Fortaleza dos. O perfil do professor de ensino religioso


da educação infantil e anos iniciais. Disponível em: <www.dhi.uem.br/
gtreligiao/pdf/st6/Santos,%20Silvana%20Fortaleza.pdf>. Acesso em: 17 jun.
2015.

SAVIANI, Demerval. História da formação docente no Brasil: três momentos

124 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS Par te
PARA O ENSINO RELIGIOSO 02
decisivos. Educação, Edição 2005, v. 30, n. 2.

Resolução da atividade

O artigo proposto para a atividade é fruto de uma pesquisa


que busca compreender as diferentes propostas para formação
inicial e continuada, bem como discutir a profissionalização do-
cente de profissionais que atuam na área do Ensino Religioso.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 125


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Pa r te FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS


03 PARA O ENSINO RELIGIOSO

ESTUDOS REGIONAIS E SUA POLÍTICA DE


ORGANIZAÇÃO CURRICULAR
A LDB (Lei 9.394/96) estabelece as diretrizes e bases da
educação nacional, e, em seu art.33, evidencia que:
Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultati-
va, é parte integrante da formação básica do cida-
dão e constitui disciplina dos horários normais das
escolas públicas de ensino fundamental, assegu-
rado o respeito à diversidade cultural religiosa do
Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
(Redação dada pela Lei 9.475, de 22.7.1997)

§1.º Os sistemas de ensino regulamentarão os pro-


cedimentos para a definição dos conteúdos do en-
sino religioso e estabelecerão as normas para a
habilitação e admissão dos professores. (Incluído
pela Lei 9.475, de 22.7.1997)

§2.º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil,


constituída pelas diferentes denominações reli-
giosas, para a definição dos conteúdos do ensino
religioso. (Incluído pela Lei 9.475, de 22.7.1997)
(BRASIL, 1996)

Há diferentes leituras desse artigo nos Sistemas Estaduais


de Ensino das regiões Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste
e Sul. É fundamental conhecer as legislações que norteiam o
Ensino Religioso no território brasileiro e, especificamente, nos
seus respectivos estados para compreender essa disciplina como

126 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS Par te
PARA O ENSINO RELIGIOSO 03
área de conhecimento que possui respaldo legal para ser consi-
derada como parte integrante da formação básica do cidadão.
Apesar das diferenças regionais brasileiras, o en-
sino religioso nas escolas municipais do país tem
características semelhantes: professores com
formação precária; ausência de legislação espe-
cífica; conteúdo discriminatório contra religiões
em livros didáticos; obrigatoriedade das aulas em
contraposição à facultatividade estabelecida pela
LDB; uso irregular de símbolos religiosos, fato que
incentiva o proselitismo religioso; intolerância nos
espaços públicos. (SIMONS, 2011)

Segundo Junqueira, Corrêa e Holanda


[...] no que se refere ao tratamento dado ao Ensino
Religioso nas legislações de ensino nacionais e so-
bretudo estaduais, percebe-se a necessidade de
maior clareza em relação aos fundamentos epis-
temológicos, antropológicos, sociológicos, filosó-
ficos e pedagógicos do ponto de vista curricular,
enquanto área de conhecimento (JUNQUEIRA;
CORRÊA; HOLANDA, 2010, p.110).

Extras

Para complementar esta aula, recomendamos a leitura do ar-


tigo de Ana Luiza Grillo Balassiano: Ecos de Laicidade. Publicado
na Revista Educação de Agosto/2013. Disponível em: <http://
revistaeducacao.com.br/textos/196/ecos-de-laicidade-
293575-1.asp>. Acesso em: 18 jun. 2015.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 127


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03 PARA O ENSINO RELIGIOSO

Propomos também a leitura do livro Ensino Religioso:


aspectos legal e curricular, de JUNQUEIRA, Sérgio Rogério
Azevedo; CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira; HOLANDA, Ângela Maria
Ribeiro. São Paulo: Ed. Paulinas, 2007.
Essa obra apresenta um estudo sobre os textos que re-
gulamentam e normatizam o Ensino Religioso nos vários esta-
dos, com base no art. 33 da LDBEN 9.394/96, alterado pela Lei
9.475/97.

Atividade
Como vimos, há diversas interpretações e compreensões
sobre o artigo 33 da atual LDB. Cada estado tem uma regula-
mentação própria sobre o Ensino Religioso, o que é legalmente
permitido pela LDB 9.394/96. Faça uma pesquisa sobre como
este artigo é interpretado na sua região.

Referências
BRASIL. Lei 9.394, de 20 de Dezembro de 1996. Estabelece as diretrizes e
bases da educação nacional. Publicada no Diário Oficial da União, 23 dez.
1996. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L9.394.htm>.

BRASIL. Lei 9.475/97, de 22 de julho de 1997. Dá Nova Redação ao Artigo 33


da Lei 9.394/96 que estabelece as Diretrizes de Base da Educação Nacional.
Publicada no Diário Oficial [da] República Federativa do Brasil, Brasília,
Congresso Nacional, 1997. Disponível em: <www.planalto.gov.br/ccivil_03/
Leis/l9475.htm>. Acesso em: 26 maio 2015.

JUNQUEIRA, Sérgio Rogério Azevedo; CORRÊA, Rosa Lydia Teixeira; HOLANDA,


Ângela Maria Ribeiro. Ensino Religioso: aspectos legal e curricular. São Paulo:
Paulinas, 2007.

128 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


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FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS Par te
PARA O ENSINO RELIGIOSO 03
BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretoria
de Currículos e Educação Integral. Proposta de uma base nacional comum
para o Ensino Básico do Brasil. 3 jun. 2014. Disponível em: <http://
basenacionalcomum.org.br/wp-content/uploads/2014/09/audiencia_
publica_CLARICE-TRAVERSINI-MEC-SEB.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2015.

SIMONS, Udo. Confusão de Sentidos: Práticas associam universo ético a religião.


Revista Educação, ed. 166, nov. 2011. Disponível em: <http://revistaeducacao.
com.br/formacao-docente/166/artigo233487-1.asp>. Acesso em: 18 jun. 2015.

Resolução da atividade

Há diferentes interpretações do Ensino Religioso, siste-


matizadas e implementadas nos Sistemas Estaduais das re-
giões brasileiras com base na promulgação do artigo 33 da LDB
9.394/96, alterado pela Lei 9.475/97. Esse embasamento legal
e curricular é um importante subsídio para a formação docente.

FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO 129


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Pa r te FILOSOFIA E POLÍTICAS EDUCACIONAIS


03 PARA O ENSINO RELIGIOSO

130 FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO


FUNDAMENTOS DO ENSINO RELIGIOSO
FUNDAMENTOS
DO ENSINO RELIGIOSO

Isabel Cristina Piccinelli Dissenha


Sérgio Rogério Azevedo Junqueira

Fundação Biblioteca Nacional


ISBN 978-85-387-5020-8
FUNDAMENTOS
DO ENSINO RELIGIOSO
9 788538 750208
41815

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