Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
01 - Anamnese e Ectos
01 - Anamnese e Ectos
SEMIOLOGIA 2016
Arlindo Ugulino Netto.
ANAMNESE E ECTOSCOPIA
Semiologia médica é a parte da medicina relacionada ao estudo dos sinais e sintomas das doenças humanas.
O termo semiologia vem do grego (semeîon, sinal + lógos, tratado, estudo). A semiologia é muito importante para o
diagnóstico da maioria das enfermidades, tendo como base seus sinais e sintomas:
Sinais: características objetivas da enfermidade, ou seja, que podem ser evidenciadas pelo médico sem ser
necessário a interlocução do doente. Ex: febre, lesões tissulares, edemas, icterícia, etc.
Sintomas: características subjetivas da enfermidade, de modo que só o paciente pode informar ao médico a
existêcia e intensidade, sem que o examinador tenha como comprovar. Ex: dor, irritação, prurido, etc.
A segunda parte da disciplina de semiologia médica é importante por detalhar ainda mais os exames físicos
correspondentes ao sistema cardiovascular, respiratório e à região abdominal. Contudo, a prática da anamnese e do
exame físico geral (ectoscopia) não podem ser negligenciados, mas ao contrário – uma parte complementa a outra,
construindo, assim, uma história clínica completa e eficaz.
Diante desta importância, este capítulo faz um apoio ao estudo semiológico dos sistemas orgânicos trazendo
uma revisão geral da parte correspondente à anamnese e à ectoscopia, isto é, o exame clínico. O termo “exame clínico”
compreende, pois, a dois processos fundamentais da observação médica: a história clínica (ou anamnese), relatada
pelo doente, e o exame físico, feito pelo médico.
Anamnese (do grego ana, trazer de novo; e mnesis, memória): é uma entrevista realizada por um profissional da
área da saúde com um paciente, que tem a intenção de ser um ponto inicial no diagnóstico de uma doença. É a
primeira e fundamental peça do exame clínico. A anamnese compreende os seguintes tópicos, cada um
apresentando uma função semiológica específica: (1) Identificação; (2) Queixa principal e duração; (3) História
da Doença Atual (HDA); (4) Interrogatório Sintomatológico (ou Sistemático); (5) Antecedentes Pessoais e
Familiares (Fisiológicos e Patológicos); (6) Hábitos de vida e condições socioeconômicas e culturais.
Exame físico: também representa uma peça importante para o exame clínico. Sempre realizado depois de uma
anamnese, o exame físico pode utilizar aparelhos médicos específicos, tais como: estetoscópio,
esfigmomanômetro, termômetro, entre outros, ou por meio de manobras (palpação, auscuta) com o objetivo de
melhor avaliar um órgão ou sistema na busca de mudanças anatômicas ou funcionais que são resultantes da
doença. A ectoscopia ou exame físico geral compreende um momento em que o médico deve avaliar as
condições gerais do paciente, tais como nível de consciência e orientação, hidratação e nutrição, fala e
linguagem, sinais vitais, etc. O exame físico dos sistemas orgânicos será detalhado para cada um dos aparelhos
nos próximos capítulos.
ANAMNESE
A anamnese (do grego, aná = trazer de novo; mnesis = memória) é a parte mais importante da clínica médica,
pois envolve o núcleo da relação médico-paciente, onde se apoia a parte principal do trabalho médico. Além disso,
preserva o lado humano da medicina e orienta de forma correta o plano diagnóstico e terapêutico. A anamnese, em
síntese, é uma entrevista que tem por objetivo trazer de volta à mente todos os fatos relativos ao doente e à doença. É a
parte mais difícil do exame clínico. Seu aprendizado é lento, apenas se conseguido após a realização de dezenas de
entrevistas criticamente avaliadas. A anamnese é, para a na maioria dos pacientes, o fator isolado mais importante para
se chegar ao diagnóstico.
Durante a anamnese, ocorre o momento onde se estabelecem as regras subliminares da relação médico-
paciente, que poderão vir a determinar o êxito futuro: do diagnóstico e da aderência ao tratamento, alicerçadas numa
relação de respeito e amizade que deveria ocorrer já na primeira consulta.
Pode-se abreviadamente descrever que em medicina a anamnese é o histórico que vai desde os sintomas
iniciais referidos pelo paciente até o momento da observação clínica, realizado com base nas lembranças deste.
Representa, a nosso ver, o momento da prática médica hierarquicamente mais importante onde, através dos Sinais e
Sintomas revelados e detalhados pelo paciente e a experiência do médico que realiza a entrevista são os instrumentos
básicos capazes de emitir uma hipótese diagnóstica e estabelecer uma conduta adequada do ponto de vista laboratorial
para comprovar sua hipótese, encaminhar o paciente a um médico especialista em áreas que não são de sua
competência ou para iniciar uma solução terapêutica.
Temos a inteira convicção que muitos procedimentos invasivos e não invasivos e erros terapêuticos, por vezes
onerosos e desnecessários, não seriam realizados se o médico tivesse efetuado parcimoniosamente uma boa
anamnese. Existe, pois, uma relação direta entre uma boa anamnese e uma boa prática da medicina.
1
Os objetivos da anamnese são, em resumo:
Estabelecer condições para a relação médico-paciente;
Fazer a história clínica e conhecer os fatores pessoais, familiares e socioambientais relacionados com o
paciente;
Estabelecer os aspectos do exame físico que merecem mais investigação;
Definir a estratégia seguida em cada paciente quanto aos exames complementares. É necessário ao médico
ainda saber optar por exames com alta sensibilidade e especificidade;
Escolher procedimentos terapêuticos mais adequados em função dos diagnósticos e do conhecimento global do
paciente.
Para conseguir tal intento, o médico deve fazer uso das seguintes técnicas: facilitação (facilitar o relato do
paciente por meio da postura médica), reflexão, esclarecimento (médico deve procurar definir de maneira mais clara o
que o paciente está relatando), confrontação (mostrar ao paciente algo acerca de suas próprias palavras ou
comportamento), interpretação (observação do médico a partir do que vai anotando sobre o relato do paciente) e
respostas empáticas (intervenção do médico mostrando “empatia”, ou seja, compreensão e aceitação sobre os
relatos).
A anamnese é classicamente desdobrada nas seguintes partes:
1. Identificação;
2. Queixa principal;
3. História da doença atual, doenças preexistentes e medicamentos em uso;
4. Interrogatório sintomatológico ou anamnese especial;
5. Antecedentes pessoais e familiares;
6. Hábitos de vida e condições socioeconômicas e culturais do paciente.
1. Identificação
A identificação possui múltiplos interesses. O primeiro deles é de iniciar o relacionamento com o paciente. Saber
o nome de uma paciente é indispensável para que se comece um processo de comunicação em nível afetivo. São
obrigatórios os seguintes interesses:
“Nome, idade, sexo, cor (raça: branca, parda, preta), estado civil, profissão (atual e anteriores), local de trabalho,
naturalidade, residência. Data da internação, enfermaria, leito, Hospital.”
Ex: Francisco Dantas, 58 anos, masculino, branco, casado, comerciante, natural e residente em Pombal-PB. Data
da internação: 28/01/2009, Enfermaria 01, leito 08, Hospital Edson Ramalho.
2. Queixa Principal
Em poucas palavras, registra-se a queixa principal que levou o paciente a procurar o médico, repetindo se
possível as expressões por ele utilizadas. Não se deve esquecer de pôr, como informação, a duração do sinal.
A queixa principal é, portanto, o motivo que levou o paciente a procurar o médico. É a resposta da seguinte
pergunta: “Qual o problema que o (a) trouxe ao hospital? Há quanto tempo o(a) senhor(a) sente isso?” . A resposta deve
ser reescrita pelo médico buscando seguir os seguintes pontos:
Repetir as expressões utilizadas pelo paciente;
Incluir sempre a duração da queixa.
Ex1: Dor no peito, há 2 horas; Ex²: Tosse, há 15 dias; Ex3: Dor “na boca do estômago”, há 1 semana.
A duração total de um sintoma refere-se ao intervalo do tempo entre a primeira ocorrência do sintoma até a
consulta atual e inclui todos os períodos assintomáticos que possam ocorrer numa doença recorrente. Muitas vezes, a
data assinalada como início, corresponde, na verdade, à exacerbação de um sintoma preexistente.
O início refere-se não somente à ocasião da primeira ocorrência do sintoma (ou ocasião de aparecimento de
crise), mas também à maneira do início e às circunstâncias relacionadas com esse início. A data do início deve ser
obtida com precisão. “Quando sentiu pela primeira vez esse problema?” É, com frequência, uma pergunta útil, para se
fixar a data da primeira ocorrência do sintoma. A ocasião da primeira ocorrência deve ser anotada, pelo número de dias,
semanas, meses ou anos, antes do atendimento atual. Nos casos agudos é importante anotar a hora do início. O modo
de início, gradual ou súbito, pode fornecer uma chave quanto ao tipo de processo patológico responsável pelo sintoma.
É importante também o conhecimento de fatores ou eventualidades que precedem (ou coincidem) com o início do(s),
como, por exemplo, perturbações emocionais, esforço físico, fadiga, movimentos musculoesqueléticos, traumatismos,
fatores ambientais (más condições de trabalho ou do ambiente onde vive, alterações climáticas, etc.), funções orgânicas
(sono, alimentação, evacuação, micção, período menstrual), gravidez, etc. Pergunte ao paciente como estava sua vida
quando do início dos sintomas.
O curso de um sintoma refere-se à natureza contínua, recorrente ou rítmica do mesmo. Cada sintoma apresenta
seu curso, podendo regredir e desaparecer, ou então, desenvolver-se, progredir. Algumas doenças caracteristicamente
evoluem em crise, por períodos, com surtos e remissões, outras seguem uma evolução contínua, com melhoras ou
pioras parciais, ou não.
Em relação a episódios agudos recorrentes, considere seu episódio mais recente (início, características,
evolução), visto que este último é, em geral, o que é mais claramente lembrado (note a frequência e a duração das
crises, bem como a duração dos períodos livres de sintomas). Pergunte: “Quando esse sintoma surge, ele é constante
ou altera?” Se as ocorrências forem diárias, pergunte quantas vezes o sintoma ocorre durante um período de 24 horas.
O sintoma assume um padrão rítmico em relação a alguma função orgânica? Se as ocorrências forem periódicas, o
sintoma ocorre com intervalos de semanas, meses ou anos? E a duração dos períodos sintomáticos?
Neste momento, deve-se questionar quais são as características do sintoma (esta é a análise do sintoma). A
análise do sintoma principal pode ser feita do seguinte modo:
a) Caráter do sintoma: descrição subjetiva da queixa feita pelo paciente, que pode, por exemplo, descrever a
sua dor como uma sensação de queimação, facada pressão, cólica, pontada etc. pergunte: “com o que a dor
se parece?
b) Localização corporal e irradiação (este último, se o sintoma for dor): o paciente pode descrever a sua dor
como localizada no meio do peito, irradiando-se (estendendo-se) para o braço esquerdo. Sugira que o
paciente aponte com o dedo a localização e a irradiação da dor. Pergunte: “Onde dói?” E “Você a sente em
algum outro lugar?”
c) Intensidade: relaciona-se à sua severidade como é expressa pelo paciente (fraca, moderada, intensa). Não é
uma medida quantitativa exata do grau de perturbação da função, porque, em geral, os indivíduos diferem
em seus limiares de reação aos estímulos, de acordo com a sua personalidade, idade, raça e nível social.
d) Fatores de melhora e de piora: a origem e o significado do sintoma em estudo podem ser parcialmente
determinados dirigindo-se o interrogatório para fatores que podem agravar ou aliviar o sintoma. Exemplo: dor
retroesternal precipitada pelo esforço físico e aliviada pela cessação da atividade é um forte indício de
angina do peito; dor epigástrica aliviada por um alcalino ou alimento, sugere doença ulcerosa; dor torácica
agravada pela tosse e pela inspiração profunda sugere origem pleurítica.
e) Sintomas associados: o sintoma em estudo pode estar associado a outros sintomas num mesmo ou em
outro sintoma do corpo. Esta associação pode indicar a origem do sintoma. Exemplo: uma súbita dor
torácica com febre e calafrios sugere infecção pulmonar ou pleural; dor no quadrante superior do abdome
associada à icterícia sugere comprometimento biliar; dor no ângulo costovertebral direito ou esquerdo
associado à micção (disúria, polaciúria) sugere comprometimento do aparelho urinário.
f) Efeitos de tratamento (s): considere o nome da medicação usada, se a droga aliviou o sintoma, a duração do
uso e qual foi a dose usada. Se o paciente não souber informar o nome e/ou a dosagem da medicação em
uso, registre o fato.
g) Progressão: determine se o sintoma, durante a sua evolução particular, está melhorando, piorando ou
permanece inalterado desde o momento em que surgiu até o estágio atual, ou seja, faça a análise atual do
sintoma (progressão, regressão, inalterabilidade). Esta informação é de particular valor na análise dos
sintomas caracterizados por crises, de modo a se saber se as crises estão aumentando, diminuindo de
frequência ou gravidade, ou se estão na mesma intensidade, mas também no problema crônico e contínuo é
relevante determinar se o sintoma permanece inalterado, exacerba-se, regride parcialmente ou torna-se
progressivamente pior.
Agora, ao finalizar, indique o efeito da doença sobre o bem estar geral do paciente, a julgar pela presença de
sintomas gerais ou por uma alteração dos seus hábitos pessoais, isto é, alimentação, sono, trabalho, lazer ou atividades
sociais. Registre também a reação psicológica do paciente à sua doença, isto é, a compreensão que ele tem de sua
doença e a atitude em relação a ela. O que o paciente pensa sobre seus sintomas? Quais os sentimentos que ele tem
em decorrência do que ele pensa?
Lembre-se ainda dos seguintes pontos:
(1) Coloque cada sintoma em sua ordem cronológica. A cronologia é a estrutura mais prática para organizar a
história e possibilita que se compreenda melhor a sequência de desenvolvimento do processo patológico
subjacente. O paciente geralmente não apresenta a história de seus males em uma sequência lógica; portanto,
todos os aspectos da história, com exceção da HDA, podem ser diretamente anotados à medida que o paciente
os relata, porque a técnica de obtenção desta fase da história, em geral não corresponde à ordem cronológica
em que é escrita. Assim, na obtenção da história, é aconselhável tomar breves notas durante a HDA e organizar
a forma final depois de completadas as outras fases da história. Este método fornece uma oportunidade para
que se obtenham fatos adicionais de importância à HDA.
(2) As perguntas formuladas devem ser simples, acessíveis e de acordo com o nível cultural de cada doente.
(3) As informações prestadas devem ser transcritas preferentemente em termos técnicos (médicos), mas em certas
ocasiões será lícito transcrever para a HDA as palavras leigas (entre aspas), especialmente se elas referirem a
um sintoma permanentemente enfatizado pelo paciente.
(4) Anote também nomes e resultados de exames laboratoriais realizados no decurso da doença.
a) Sintomas gerais: febre (aumento de temperatura corporal); astenia (sensação de fraqueza); alterações do
peso (ganho ou perda, tempo); sudorese (eliminação abundante de suor); calafrios (sensação momentânea de
frio com ereção de pelos; relacionado com febre); prurido (sensação de coceira); alterações do revestimento
cutâneo (áreas hipo ou anestesiadas, alterações da temperatura, lesões); alterações do desenvolvimento físico
(nanismo, gigantismo, acromegalia, infantilismo, puberdade precoce, puberdade atrasada).
b) Cabeça e pescoço:
Crânio, face e pescoço: dor, alterações dos movimentos (paralisias, tiques, movimentos involuntários),
alterações do pescoço (dor, tumorações cervicais, alterações no movimento).
Olhos: acuidade visual (boa ou má), dor, sensação de corpo estranho (sensação desagradável),
queimação ou ardência (acompanhado ou não de dor), lacrimejamento (eliminação constante de
lagrimas), sensação de olho seco (xeroftalmia), diplopia (visão dupla), fotofobia (hipersensibilidade à
luz), escotomas (manchas ou pontos escuros no campo visual), secreção (líquido purulento recobrindo
as estruturas do olho), nistagmo (movimentos repetitivos rítmicos dos olhos); xantopsia, iantopsia e
cloropsia (visão amarela, violeta e verde, respectivamente)
Ouvidos: acuidade auditiva (boa ou má), dor, otorreia (vazamento de secreção pelo ouvido), otorragia
(perda de sangue pelo canal auditivo), zumbidos (sensação subjetiva de diferentes ruídos), vertigem
(sensação subjetiva de estar girando em torno dos objetos);
Nariz e seios paranasais: obstrução nasal (nariz “entupido”), dor, rinorreia (corrimento nasal), espirros
(isolados ou em crises), prurido (coceira interna ou externa), epistaxe (hemorragia nasal), alterações do
olfato (hiposmia; anosmia; parosmia – perversão do olfato; cacosmia – sensação de mau cheiro),
drenagem nasal posterior (escorrimento de catarro pelas coanas);
Cavidade oral e faringe: sialorreia (produção excessiva e escorrimento de saliva), xerostose (sensação
de boca seca), halitose (mau hálito), dor, gengivorragias (sangramento gengival), lesões de mucosa,
glossodínea (hipersensibilidade dolorosa da língua), odinofagia (deglutição dolorosa), disfagia
(dificuldade de deglutir), pigarro (ato de raspar a garganta), tosse (seca ou produtiva), vômica (eliminar
pus pela boca).
c) Tórax:
Mamas: mastalgia (dor nas mamas), secreção mamilar (corrimento de líquido; perguntar a coloração),
nódulos palpáveis (relatar localização e morfologia).
Sistema cardiorespiratório: precordialgia (dor referente na região do precórdio), palpitações
(percepção incômoda de batimentos cardíacos), dispneia (dificuldade respiratória), cianose (coloração
azulada da pele causada por hipóxia), edemas (localização, morfologia, época quando surgiu), dor
torácica (localização e características semiológicas), tosse (seca ou com expectoração), expectoração
(volume, cor, odor e consistência), disfonia (dificuldade de falar), hemoptise (escarrar sangue), chiado
(relação com dispneia e tosse), vômica (eliminação de pus oriundo das vias respiratórias).
d) Abdome:
Parede abdominal: dor, alterações da forma e do volume (crescimento do abdome, hérnias,
tumorações, edemas, etc.).
Sistema gastrintestinal: disfagia, odinogafia, epigastralgia (dor no epigástrio ou “boca do estômago”,
segundo os leigos), dor, pirose (sensação de queimação retroesternal), regurgitação (vômito: frequência
e aspecto), eructação (arrotos), soluço, hematêmese (vômito com sangue: hemorragia digestiva alta),
náuseas e vômitos, dispepsia (desconforto epigástrico, na forma de “empachamento”), hábito intestinal
(nº. de evacuações diárias, aspecto das fezes – cor e consistência, presença de elementos anormais –
sangue, muco e/ou pus), diarreia (duração, volume e consistência das fezes), esteatorreia (gordura nas
fezes), cólicas, distensão abdominal, flatulência, hemorragia digestiva (alta ou baixa), icterícia,
obstipação intestinal, sangramento anal (hemorragia digestiva baixa);
e) Sistema genitourinário: dor, incontinência urinária, retenção, modificações do jato urinário, alterações do
volume e do ritmo urinário (oligúria, anúria, poliúria, noctúria, polaciúria, urgência), disúria (condição dolorosa ao
urinar), alterações da cor e odor da urina (urina turva, hematúria, mau cheiro).
Para homens: lesões genitais, corrimento uretral, disfunções sexuais (impotência, ejaculação precoce,
diminuição da libido).
Para mulheres: distúrbios menstruais (polimenorreia, oligomenorreia, amenorreia, hipermenorreia,
hipomenorreia, menorragia, dismenorreia), corrimento, prurido, disfunções sexuais (dispareunia: dor no
ato sexual; frigidez, diminuição da libido), menopausa e climatério (período de transição entre o período
reprodutivo e o não reprodutivo da mulher).
h) Sistema musculoesquelético: artralgias, sinais inflamatórios (edema, calor, rubor e dor), limitação de
movimentos, deformidades, rigidez matinal;
i) Sistema nervoso: distúrbios de consciência ou memória, tontura e vertigem, convulsões, ausências, distúrbios
da motricidade voluntária e da sensibilidade (paresias, paralisias, parestesias, anestesias), distúrbios da
marcha, do sono e das funções cerebrais superiores;
j) Exame psíquico e avaliação das condições emocionais: consciência, atenção, orientação, humor,
pensamento (normal, fantástico, maníaco, inibido, esquizofrênico, incoerente, prolixo, oligofrênico, compulsões,
etc), ansiedade, choro frequente, irritabilidade, melancolia, sentimento de culpa e perda de interesse, perda de
energia e desânimo.
b. Antecedentes pessoais patológicos. Por sua vez, compreendem os seguintes itens que dizem respeito ao
histórico de possíveis patologias que tenham acometido o paciente no passado:
Doenças sofridas pelo paciente:
o Doenças da infância: sarampo, varicela, coqueluche, parotidite, moléstia reumática, amigdalites,
rubéola;
o Doenças apresentadas na vida adulta: tuberculose (“mancha no pulmão”, raios X do tórax anormais,
tratamento para doenças no pulmão por 6 meses); DST (antigamente denominadas doenças
venéreas, “doenças do mundo”), incluindo AIDS e hepatite viral; diabetes mellitus; hipertensão
arterial; cardiopatias; febre reumática; asma brônquica; Sexo feminino: abortamentos (espontâneos?
provocados? de repetição?).
Alergia: quando se depara com um caso de doença alérgica, esta investigação passa a ter relevância
especial, principalmente se tratando da existência de alergia a alimentos, drogas ou outras substâncias.
Pesquisa-se, portanto, o seguinte: alergias ambientais, alimentares e medicamentosas; afecções de fundo
alérgico (eczema, urticária, rinite alérgica e asma);
Cirurgias: anotar o tipo da intervenção, diagnóstico, data, resultados, nome do cirurgião e do hospital
onde foram realizadas;
Traumatismos: data, acidente em si e suas consequências. É necessário indagar sobre o acidente e
sobre as consequências deste.
Hospitalizações: motivo, diagnóstico(s), nome do hospital;
Hemotransfusões: época, local, causa;
Medicações atuais e passadas
c. Antecedentes familiares
Estado de saúde (quando vivos) dos pais e irmãos do paciente; cônjuge, filhos (se houver). Se houver
alguém doente na família, esclarecer a natureza da enfermidade; falecimento (causa e idade).
Histórico familiar de enxaqueca, DM, tuberculose, hipertensão arterial sistêmica, câncer, doenças
alérgicas, doença arterial coronária (IAM, angina), AVC, dislipidemia, úlcera péptica, colelitíase e varizes,
doença de caráter hereditário: hemofilia, rins policísticos etc.
INTERPRETAÇÃO E OBSERVAÇÃO
É muito fácil confundir observação com interpretação. Observação é aquilo que o paciente realmente diz ou faz;
as palavras do paciente são os dados primários dos sintomas. Não é incomum encontrarmos no ambiente médico
termos que são interpretações e não descrições, por exemplo: o termo angina significa certo tipo de dor torácica devido
à insuficiência coronariana. O dado primário deveria ser algo como: desconforto ou dor subesternal de natureza
opressiva com duração de cerca de 3 minutos, iniciada pelo exercício físico e aliviada pelo repouso, no caso da angina
estável. Quando se produz a interpretação prematuramente perde-se a objetividade do dado e formula-se um
diagnóstico que pode não estar correto.
Objetividade significa não somente separar a nossa interpretação do dado objetivo, mas também separar a
interpretação do paciente. É importante lembrarmos este ponto quando o paciente chega contando-nos que a sua úlcera
esta doendo ou que seu coração esta causando sérios problemas em sua vida. Nesta situação o paciente esta
interpretando certos sintomas ou reportando um diagnóstico ao invés de fornecer o dado objetivo.
Exemplo:
Paciente do sexo feminino com 68 anos de idade, há 6 anos vive com o diagnóstico de “angina” (doença coronariana) porque
o seu médico não ouviu atentamente a sua história que foi a seguinte:
Dr.: Conte-me a respeito da sua dor no peito?
Pcte: É uma dor em aperto aqui no meio do tórax e sobe queimando até a minha garganta. Às vezes doi um pouco no braço
e nas costas.
Dr.: Quando a dor aparece?
Pcte: Aparece nos mais diferentes momentos e situações. Algumas vezes no meio da noite.
Dr.: A dor tem relação com o exercício físico?
Pcte: Não. A dor aparece mesmo eu estando em repouso.
Mesmo tendo em vista que a paciente nunca apresentou dor torácica aos exercícios, foi realizada investigação
cardiológica, completa incluindo angiografia coronariana. Apesar de todos os exames terem sido negativos, a paciente
recebeu o diagnóstico de doença arterial coronariana. Posteriormente, outro médico foi consultado e tendo achado que a
história da paciente não era compatível com o diagnóstico, realizou investigação radiológica do esôfago e estomago,
tendo sido estabelecida a existência de refluxo e espasmo esofagiano. Após 6 anos de convivência com o diagnóstico de
insuficiência coronariana, a paciente não acreditou que nada tinha no coração e não conseguiu ser reabilitada para uma
vida ativa.
Portanto, para uma boa prática da medicina, devemos indicar exames complementares com base numa hipótese
diagnóstica bem estabelecida e realizá-los de maneira escalonada, dos mais simples aos mais complexos. Não é uma
boa prática encaminhar pacientes para exames invasivos sem ter um embasamento clínico e laboratorial consistente. Se
assim fosse, qualquer cefaleia seria indicativa de uma tomografia do crânio, qualquer dor abdominal de uma
ultrassonografia da região ou uma colonoscopia. É necessário racionalizar a investigação laboratorial dentro do bom
senso e de uma análise fisiopatológica cuidadosa que atenda a uma hipótese clínica adequada que deve surgir de uma
boa anamnese e um bom conhecimento da medicina.
PRECISÃO
Refere-se a quanto a observação se dispersa ao redor do valor "real". Aqui estamos lidando com o erro ao
acaso, não sistemático, induzido pela falta de atenção ao detalhe, pela audição desatenta e pela falta de objetividade. As
unidades básicas de medida quando tiramos uma história clínica são as palavras. Palavras são descrições de sensações
percebidas pelo paciente e comunicadas ao médico. Palavras são mensurações verbais e devem ser entendidas
precisamente; devem ser tão detalhadas quanto possível. O paciente pode se queixar de "cansaço" e nesta situação é
necessário esclarecer do que se trata: falta de ar, fraqueza muscular, falta de vontade de realizar atividades físicas, ou
falta de repouso adequado. O médico precisa esclarecer qual a real sensação que o paciente está experimentando
fazendo perguntas do tipo: o que você quer dizer com "cansaço"? Você pode-me dizer mais sobre este cansaço ou como
você descreveria o que você sente sem utilizar a palavra cansaço.
Toda e qualquer queixa vaga ou inespecífica deve ser adequadamente interpretada pelo médico, pois ela pode
ser coerente dentro de um meio social ou grau de instrução do paciente. Existem termos, inclusive, que fazem parte do
cotidiano de um regionalismo (variante dialetal) e que tem sentido no local de onde procede o paciente e é de
desconhecimento do profissional de outra região ou extração social.
SENSIBILIDADE E ESPECIFICIDADE
Sensibilidade de um teste expressa a sua capacidade de identificar casos verdadeiros da doença (verdadeiros
positivos). Quanto maior a sensibilidade, maior a porcentagem de casos que o teste identifica acuradamente como
sendo positivo. Especificidade de um teste expressa a sua capacidade de descartar a doença em indivíduos normais
(verdadeiros negativos). Quanto maior a especificidade maior a chance de um resultado negativo representar um
indivíduo normal sem doença.
Em resumo, podemos dizer:
Especificidade: sempre que há um sinal/sintoma, há uma determinada doença. Ex: se tem vegetação no
miocárdio diagnosticada por ECG, o paciente tem endocardite. Em outras palavras, um sinal/sintoma ou um
teste é específico para uma doença quando ele, se presente ou ausente, indica o diagnóstico desta doença, até
que se prove o contrário. Por exemplo, uma queixa de elevada especificidade é: na ausência de disúria e
polaciúria existe uma grande chance do paciente não ter cistite.
Sensibilidade: sempre que há uma doença, haverá determinados sintomas. Em outras palavras, um
sinal/sintoma ou um teste é considerado sensível para uma determinada doença quando, na presença dela, este
sinal/sintoma ou o teste, muito possivelmente, estará presente. Ex: na meningite e na pielonefrite, tem-se febre.
OBS1: Como analogia prática no que diz respeito ao conceito de sensibilidade e especificidade, podemos utilizar o
alarme de um carro. Como se sabe, o alarme de um carro tem o objetivo de identificar o furto ou arrombamento do
mesmo por assaltantes, na maioria das vezes. Entretanto, muitos alarmes disparam quando simplesmente encostamos
no veículo ou quando, eventualmente, alguma outra coisa se move dentro do carro (um inseto, por exemplo). Portanto,
podemos dizer que o alarme do carro é muito sensível, mas pouco específico: sensível por que ao simples toque, pode
ser acionando; pouco específico porque, nem sempre, identifica um assalto de verdade.
Poucos testes em medicina apresentam 100% de sensibilidade e 100% de especificidade. A entrevista clínica
encontra-se longe destes valores. Um sintoma pode ser muito sensível (tosse em casos de pneumonia) e bastante
específica pois na ausência de tosse são grandes as chances de não ter pneumonia, mas nem todos os sintomas são
assim, existem doenças graves no seu início que não tem sintomas relevantes.
Dor epigástrica noturna aliviada pela alimentação em casos de úlcera duodenal é um sintoma bastante sensível,
porém com baixa especificidade pois muitas pessoas com úlcera duodenal não apresentam este sintoma. Entretanto,
sintomas individuais não são as unidades apropriadas nas quais nos possamos basear para a tomada de decisão;
devemos nos basear em conjuntos de sintomas, padrões ou quadros clínicos. Devemos considerar a reconstrução
detalhada da doença no lugar de valorizarmos um sintoma isolado. Um complexo sintomático (conjunto de sintomas que
caracterizam uma doença) é suficientemente sensível e específico para permitir a realização do diagnóstico e da
terapêutica.
A história clínica obtida com objetividade e precisão fornece um conjunto de dados que permitem delinear um
eficiente (e pequeno) plano diagnóstico. Precisão (acurácia) é, de fato, a somatória dos sintomas verdadeiramente
positivos com os sintomas verdadeiramente negativos; dividido pela população em geral.
REPRODUTIBILIDADE
A reprodutibilidade é outra importante característica dos procedimentos científicos, incluindo a entrevista clínica.
Não é raro observarmos um grau significativo de variabilidade quando a mesma história clínica é obtida por médicos
diferentes.
Parte das discrepâncias pode ser explicada pelo fato de que os indivíduos apresentam diferentes níveis de
precisão (acurácia) quando realizam a observação clínica. Outros fatores envolvidos podem ser atribuídos ao processo
de reconstrução da história que melhora à medida que são obtidas histórias ou mesmo ao processo de aprendizado a
que o paciente é submetido à medida que interage com a equipe de saúde. Por fim, parte pode ser debitada às
diferentes capacidades dos médicos em interagir de forma empática com o paciente, obtendo as informações sem
dificuldades maiores.
A sinceridade significa não pretender ser alguém ou algo diferente daquilo que você é. Significa ser exatamente
quem você é pessoal e profissionalmente. O estudante deve sempre se apresentar como tal e nunca pretender assumir
o papel do médico que ele ainda não é.
A empatia significa compreensão. Significa colocar-se no lugar do paciente e realizar um esforço para
compreendê-lo de forma integral. Para que o relacionamento empático se estabeleça é necessário que preste atenção
em todos os aspectos da comunicação com o paciente: palavras, sentimentos, gestos, etc. Uma vez estabelecida a
comunicação empática o paciente fornecerá, não somente dados relevantes, mas permitirá a emersão de sentimentos e
crenças.
O atendimento na sala de emergência nem sempre permite, pelas circunstancias e os procedimentos técnicos
imediatos, uma longa observação e pouco diálogo interpessoal, no entanto, tão logo a situação crítica for resolvida, estas
mesmas atitudes que ocorrem no consultório devem aparecer tanto para o paciente quanto para os familiares.
NÍVEIS DE RESPOSTA
Para que o médico mantenha a comunicação empática com o paciente é importante que as respostas,
principalmente a relativa aos sentimentos que o paciente expõe, sejam adequadas. Quatro categorias ou níveis de
resposta devem ser considerados:
1. Ignorando – quando o médico não ouve o que o paciente disse ou age como se não tivesse ouvido. Não existe
resposta aos sintomas ou sentimentos expostos pelo paciente.
2. Minimizando – o médico responde aos sintomas ou sentimentos expostos pelo paciente diminuindo a sua
importância ou intensidade.
3. Intercambiando – o médico reconhece os sintomas e sentimentos expressos pelo paciente de forma adequada e
responde no mesmo nível de intensidade. A resposta de intercâmbio é um objetivo importante no processo de
obtenção da história clínica. Em termos práticos significa a repetição das palavras do próprio paciente de forma a
demonstrar que o médico esta entendendo o que o paciente esta tentando dizer.
4. Adicionando – o médico reconhece o que o paciente esta tentando expressar e também aquilo que o paciente
pode estar sentindo, mas não consegue expressar
Alonso Augusto Moreira Filho citando Dewal no diz em seu livro sobre relação médico paciente “o fato de ter
alguém que o escute com atenção, respeito e interesse é, por si mesmo, um fenômeno único que propicia ao paciente
uma satisfação importante que raramente lhe oferecem outras relações humanas”.
ECTOSCOPIA
O exame físico geral é realizado pela inspeção e palpação. Alguns aspectos são fundamentais, destacando-se
as fácies, o nível de consciência, o estado nutricional, o estado de hidratação e o desenvolvimento físico, com especial
atenção à harmonia entre os diversos segmentos do corpo.
O paciente deve ser examinado nas posições de decúbito, sentada, de pé e andando. Para o conforto do
paciente e melhor sistematização do exame físico geral, deve-se examiná-lo primeiramente em decúbito, anotando os
dados necessários; a seguir, continuando com as posições, de pé e andando.
É sugerida que seja seguida a seguinte ordem: estado geral, nível de consciência, fala e linguagem, estado de
hidratação, estado de nutrição, desenvolvimento físico, fácies, atitude e decúbito, mucosas, pele e fâneros, tecido celular
subcutâneo e panículo adiposo, linfonodos, medidas antropométricas, biótipo, sinais vitais.
1. Estado geral: é a impressão que se tem do doente, descrita da seguinte forma: estado geral bom, estado geral
regular ou estado geral ruim.
É uma avaliação subjetiva no conjunto de dados exibidos pelo doente e interpretados de acordo com a
experiência de cada um. Em outras palavras, é o que aparenta o doente, visto em sua totalidade.
2. Nível de consciência: avalia-se pela perceptividade, reatividade, deglutição e reflexos. Os extremos de variação
são o estado de vigília e o estado de coma (grau IV).
Nesta parte do exame, temos possibilidade de, usando recursos próprios do exame físico, completar o estudo do
nível de consciência do paciente. Com fins práticos, devem ser usados quatro parâmetros para uma avaliação do nível
de consciência:
Perceptividade: referente a capacidade de responder perguntas simples, como por exemplo: “Olá! Como vai?”,
ou ainda, atender algumas ordens como “Tire a camisa”. Deve-se avaliar a percepção que o paciente tem do
mundo que o cerca e de si mesmo, podendo avaliar se o mesmo está lúcido e orientado no tempo e no espaço
(LOTE).
Reatividade: significa a capacidade de reagir a estímulos inespecíficos, como desviar os olhos e a cabeça para
um ponto onde se faça barulho.
Deglutição: além de ter sido avaliada na anamnese, pode ser testada ao se oferecer um copo d’água, devendo-
se observar bem o comportamento do paciente.
Reflexos: pode-se fazer a pesquisa de alguns reflexos tendinosos.
A partir destes dados, é possível caracterizar o estado de coma dentro da seguinte graduação:
Grau I (coma leve): o comprometimento da consciência é leve e o paciente é capaz de atender a ordens simples,
do tipo abrir e fechar o olho. Reage bem e de modo apropriado à estimulação dolorosa. A deglutição se faz
normalmente.
Grau II (coma médio): perda da consciência é quase total, estando o paciente com sua perceptividade bastante
reduzida. Responde apenas à estimulação dolorosa enérgica e o faz desapropriadamente. A deglutição é feita
com dificuldade. Estão preservados os reflexos tendinosos, cutâneos e pupilar.
Grau III (coma profundo): perda da consciência é completa e o paciente não responde às solicitações externas
por mais intensas que sejam. Sua perceptividade é igual a zero. Nem o estímulo doloroso é perceptível. Além
disso, observam-se arreflexia tendinosa, cutânea e pupilar, relaxamento completo da musculatura e
incontinência esfinctérica.
Grau IV (coma Depassé): além dos elementos já referidos ao coma de grau III, aqui há ainda o
comprometimento das funções vitais, como parada respiratória (sendo necessária a ventilação artificial). É quase
sempre um estado irreversível e o EEG revela silêncio elétrico cerebral.
A Escala de Coma de Glasgow também é largamente utilizada. É uma forma de caracterizar os estados de
consciência através de uma escala numérica baseada na avaliação de 3 características: abertura dos olhos (4 pontos),
resposta motora (6 pontos) e resposta verbal (5 pontos). Cada uma delas vale uma pontuação específica. O escore 15
representa indivíduo lúcido e consciente, enquanto que o escore 3 representa indivíduo em coma.
3. Fala e linguagem: avalia-se a presença de alterações como: disfonia, distúrbios na fluência da fala (taquilalia,
gagueira), distúrbios fonoarticulatórios (como as substituições, as adições e as omissões de fonemas), disartria,
disfasia (de recepção ou de expressão).
Durante a entrevista, o examinador deve prestar atenção na linguagem do paciente, particularmente na
linguagem falada. Deve-se lembrar que a fala não só depende do órgão fonador (laringe) e da língua, mas de áreas de
elaboração cerebral superior. As principais alterações da fala são:
Disfonia ou afonia: alteração no timbre da voz causada por problema no órgão fonador. Ex: voz rouca,
fanhosa ou bitonal.
Dislalia: alterações menores na fala (comum em crianças), como a troca de letras (“casa” por “tasa”).
Disritmolalia: distúrbios no ritmo da fala, como gagueira e a taquilalia.
Disartria: alterações nos músculos da fonação, incoordenação cerebral (voz arrastada), de hipertonia do
parkinsonismo (voz baixa, monótona e lenta) ou perda do controle piramidal (paralisia pseudobulbar).
Disfasia: aparece com completa normalidade do órgão fonador e dos músculos da fonação, mas está
relacionada com uma perturbação na elaboração cortical da fala. Representa uma descoordenação da fala
e incapacidade de dispor as palavras de modo compreensível.
Disgrafia: perda da capacidade de escrever
Dislexia: perda da capacidade de ler.
4. Estado de hidratação: deve-se observar o consumo ou ingesta de água: hidratado, hiperidratado e desidratado.
Deve-se pesquisar ainda a pele, mucosa oral e conjuntiva, diurese, estado geral, sudorese, salivação, fontanelas
(se estiverem fundas, pode indicar desidratação).
O estado de hidratação do paciente é avaliado tendo-se em conta os seguintes parâmetros principais: alteração
abrupta do peso; da pele quanto à umidade, elasticidade e turgor; das mucosas quanto à umidade; fontanelas (em casos
de crianças); alterações oculares; estado geral.
Um paciente está normalmente hidratado quando a oferta de líquidos e eletrólitos for feita de acordo com as
necessidades do organismo e quando não houver perdas extras (diarreias, vômitos, taquipneia).
5. Estado de nutrição: por meio do Critério de Gomez (déficit de peso em relação ao padrão normal para a idade
e o sexo), pesquisa-se desnutrição, subnutrição, má-nutrição proteica; obesidade.
O estado de nutrição deve ser sistematicamente avaliado lançando-se mão dos seguintes parâmetros: peso,
musculatura, panículo adiposo, desenvolvimento físico, estado geral, pele, pelos e olhos. No estado de nutrição normal,
os elementos antes referidos se encontram dentro dos limites normais.
7. Fácies: é o conjunto de dados exibidos na face do paciente, sendo ela resultante de traços anatômicos,
expressão fisionômica e elementos patológicos.
Os principais tipos de fácies são:
Fácies normal: nenhuma alteração, normal.
Fácies hipocrática: portadores de doenças crônicas terminais e irreversíveis; aspecto próximo a agonia:
falta de gordura facial, pele de coloração escurecida, boca entreaberta, lábios afilados, olhos fundos e
parados.
Fácies renal: é o caso das nefropatias: rosto pálido, edemaciado, predominando o edema palpebral
(edema que predomina ao redor dos olhos – típico da nefropatia edematosa).
Fácies leonina: grosseira, típica de hansenianos: pele espessa, lepromas de tamanhos variáveis, sem
supercílios, nariz espesso e largo, barba escassa, semelhante a um leão.
Fácies adenoidiana: geralmente, acontece com crianças com hipertrofia das adenoides (que deste modo,
dificultam a respiração): nariz pequeno e afilado, boca entreaberta.
Fácies parkinsoniana: portadores da Síndrome de Parkinson: olhar fixo, supercílios elevados, fronte
enrugada, expressão de espanto, fisionomia facial semelhante a uma máscara,
Fácies basedowiana ou do hipertireoidismo: rosto magro, com olhos salientes (exoftalmia) e brilhantes,
expressão fisionômica indicando vivacidade e espanto, presença de bócio na face anterior do pescoço.
Fácies mixedematosa ou do hipotireoidismo: rosto arredondado, pele seca e com acentuação de seus
sulcos, nariz e lábios grossos, pálpebras enrugadas e infiltradas.
Fácies acromegálicas: típico da acromegalia: saliências das arcadas supraorbitais, proeminência das
maçãs do rosto, maior desenvolvimento da mandíbula, do nariz, lábios e orelhas. Os olhos aparecem
pequenos.
Fácies cushingoide ou de Lua-cheia: observado nos casos de síndrome de Cushing por hiperfunção do
córtex da adrenal: arredondamento do rosto, acentuação dos traços faciais, aparecimento de acne.
Fácies mongoloide: típico no mongolismo, modernamente chamado trissomia do par 21 ou Síndrome de
Down: prega cutânea (epicanto) que torna os olhos oblíquos, bem distantes um do outro (hipertelorismo),
braquicefalia, orelhas pontiagudas, expressão fisionômica de pouca inteligência.
Fácies de depressão: pouca expressividade do rosto, cabisbaixos com olhar voltado para o chão, sulco
nasolabial acentuado, tristeza e sofrimento moral aparentes.
Fácies pseudobulbar: aparece na chamada paralisia pseudobulbar (aterosclerose cerebral): súbitas crises
de choro ou de riso que levam a um aspecto espasmódico, ao tentar contê-las.
Fácies da paralisia facial periférica: bastante comum: assimetria da face, impossibilidade de fechar as
pálpebras, repuxamento da boca para o lado são, apagamento do sulco nasolabial, ausência das rugas na
fronte do lado lesado.
Fácies miastênica ou fácies de Hutchinson: ocorre na miastenia grave: ptose palpebral bilateral (que
obriga o paciente a franzir a testa e levantar a cabeça).
Fácies de deficiente mental: traços faciais apagados e grosseiros, boca constantemente entreaberta e
com salivação, estrabismo, olhar desprovido de objetivo, olhos se movimentam sem se fixarem em nada,
sorrisos sem motivação.
Fácies etílica: chama atenção os olhos avermelhados e uma certa ruborização na face, hálito etílico, voz
pastosa, sorriso indefinido.
Fácies esclerodérmica (fácies de múmia): imobilidade facial, endurecimento da pele, repuxamento dos
lábios, afinamento do nariz, imobilização das pálpebras, fisionomia parada, imutável e inexpressiva.
8. Atitude e decúbito. Atitude é a posição adotada pelo paciente no leito ou fora dele, por comodidade, hábito ou
com o objetivo de conseguir alívio para algum padecimento. Algumas posições são conscientemente procuradas
pelo paciente (voluntárias), enquanto outras independem de sua vontade ou são resultantes de estímulos
cerebrais (involuntárias):
As atitudes voluntárias são as seguintes:
Atitude ortopneica (ortopneia): o paciente adota esta posição para aliviar a falta de ar decorrente de
insuficiência cardíaca, asma brônquica e ascites volumosas. O paciente permanece sentado no leito ou com
os pés no chão e as mãos sobre a cama.
Atitude genupeitoral (ou de “prece maometana”): doente fica de joelhos com o tronco fletido sobre as
coxas, enquanto o peito põe-se em contato com o solo ou com o colchão. Esta posição facilita o enchimento
do coração nos casos de derrame pericárdico.
Atitude de cócoras: observada em crianças com cardiopatia congênita cianótica. Os pacientes descobrem,
instintivamente, que esta posição traz alívio para a hipóxia.
Atitude parkinsoniana: ao se por de pé, o paciente com Parkinson apresenta semiflexão da cabeça, tronco
e membros inferiores.
Atitude em decúbito: forma de decúbito em que o paciente relatar melhoras algum padecimento:
Decúbito lateral: posição que costuma ser adotada quando há uma dor de origem pleurítica. Através
dela, o paciente reduz a movimentação dos folhetos pleurais sobre o qual repousa.
Decúbito dorsal: com pernas fletidas sobre as coxas e estas sobre o quadril, é observado nos
processos inflamatórios pelviperitoneais.
Decúbito ventral: comum nos portadores de cólica intestinal.
9. Mucosas. As mucosas facilmente examináveis a olho nu são as mucosas conjuntivas e as mucosas labiobucal,
lingual e gengival. O método de exame é a inspeção, coadjuvado por manobras singelas que exponham as
mucosas à visão do examinador. É indispensável uma boa iluminação.
Os parâmetros observados são: coloração (descoramento, cianose, icterícia), umidade e presença de lesões.
10. Pele e fâneros. Os seguintes aspectos da pele devem ser observados: coloração, continuidade ou integridade,
umidade, textura, espessura, temperatura, elasticidade, mobilidade, turgor, sensibilidade e presença de lesões
elementares. Quanto aos fâneros, devemos avaliar tipo de implantação, distribuição, quantidade, coloração e
outras características, como brilho, espessura e consistência, dos cabelos; forma, implantação, espessura,
superfície, consistência, brilho e coloração das unhas.
11. Tecido celular subcutâneo e panículo adiposo. O tecido celular subcutâneo ou hipoderme é constituído de
feixes conjuntivos, fibras elásticas, parte dos folículos pilosos, glândulas sudoríparas e grande parte de células
adiposas. Este tecido pode ser sede de processos inflamatórios (celulite) que se exterioriza pelos sinais
clássicos da inflamação, fibromas, que são neoplasias do tecido conjuntivo e são percebidos sob forma de
nódulos, lipomas, cistos sebáceos que resultam da retenção da secreção sebácea por obstrução do canal
excretor das glândulas sebáceas.
Avalia-se a seguinte sistematização semiológica:
Quanto à distribuição: normal (varia com a idade e com o sexo) ou acúmulo especial em determinadas
áreas (como na síndrome de Cushing, na qual se vê braços e pernas magras, enquanto face, tórax e
abdome com acúmulo de gordura).
Quanto à quantidade: normal, aumentada (quando se percebe uma grossa camada de tecido adiposo),
diminuído (quando é reduzido ou nulo).
12. Linfonodos. Os linfonodos ou gânglios linfáticos recebem a linfa trazida pelos ductos coletores das várias
regiões do organismo. A linfa alcança o sistema circulatório pelos troncos linfáticos e ducto torácico. As
seguintes características são analisadas: localização, tamanho ou volume, consistência, mobilidade,
sensibilidade e alterações da pele circunjacente; Avaliar: grupos ganglionares da cabeça e pescoço
(submentonianos; submandibulares; amigdalianos; cervicais superficiais, profundos e posteriores; occipitais,
auriculares anteriores e posteriores); supraclaviculares, axilares e supratrocleares; inguinais.
13. Medidas antropométricas. Avalia-se o peso, a altura e o IMC do paciente (IMC=PESO/ALTURA²). O IMC não
diferencia a gordura corporal e a massa muscular, e qual pesa mais que a gordura. Para tal medida, busca-se
exames mais específicos.
14. Biotipo. O biótipo, também denominado tipo morfológico, é o conjunto de características morfológicas
apresentadas pelo indivíduo. Uma medida bastante utilizada como padrão é o ângulo de Charpy (corresponde
ao ângulo que as costelas inferiores formam com o osso esterno). Outras características também são
destacadas:
Longilíneo (ectomorfo): ângulo de Charpy menor
que 90º, pescoço longo e delgado, membros
alongados, musculatura delgada e panículo adiposo
pouco desenvolvido, tendência para estatura
elevada.
Mediolíneo (mesomorfo): ângulo de Charpy em
torno de 90º, equilíbrio entre tronco e membros,
desenvolvimento harmônico entre musculatura e
panículo adiposo.
Brevilíneo (endomorfo): ângulo de Charpy maior
que 90º, pescoço curto e grosso, tórax alargado e
volumoso, mmebros curtos com relação ao tronco,
musculatura desenvolvida e panículo adiposo
espesso, tendência para a baixa estatura.
Fácies Miastênica: caracterizada por ptose palpebral bilateral, que obriga o paciente a
franzir a testa e levantar a cabeça. Ocorre na miastenia gravis e outras miopatias.
Fácies Adenoidiana: Elementos fundamentais: Nariz pequeno e afilado e boca sempre entreaberta. Presente nas crianças com hipertrofi
Fácies Pseudobulbar: Caraterizada por crises de choro ou riso, involuntárias, mas conscientes, dando um aspecto espasmódico à fácies.
Fácies da depressão: Cabisbaixo, olhos com pouco brilho e fixos em um ponto distante. Sulco nasolabial acentuado e o canto da boca re