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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA


DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES

Disciplina: FUNDAÇÕES Código: 101134


Professor: Erinaldo Hilário Cavalcante

Notas de Aula

EMPUXOS DE TERRA E ESTABILIDADE DE MUROS


Capítulo 1 – Métodos de Cálculo

Aracaju, dezembro de 2006.

Contato:
Prof. Dr. Erinaldo Hilário Cavalcante
Área de Geotecnia e Pavimentação
Av. Mal. Rondon, S/N – Cidade Universitária
Aracaju – SE
CEP 49000-000
Fone: (79) 2105-6736/6701 fax (79) 2105-6684
e-mail: erinaldo@ufs.br; geotecnia.ufs@gmail.com
ÍNDICE
1.0 Definição 3
2.0 Tipos de Empuxos 3
3.0 Cálculos dos Coeficientes de Empuxo Ativo e Passivo 5
4.0 Métodos para Cálculo do Empuxo 6
4.1 Método de Rankine 6
4.1.1 O efeito da água 9
4.1.2 Situações possíveis de perfis de tensão horizontal 11
4.1.3 Efeito de uma Sobrecarga 12
4.2 Método de Coulomb 12
4.2.1 Solução analítica do método de Coulomb para solos granulares 13
4.3 Solo Coesivo 15
4.4 Comentários Sobre os Métodos de Rankine e Coulomb 18
4.5 Métodos Gráficos 18
4.5.1 Método gráfico de Poncelet 18
4.5.1.1 Terrenos inclinados e sobrecarga 19
5.0 Estabilidade de Muros de Arrimo 21
5.1 Estruturas de Arrimo 21
5.2 Condições de Estabilidade dos Muros de Arrimo 25
5.2.1 1ª condição: Segurança contra o tombamento 25
5.2.2 2ª condição: Segurança contra o escorregamento 26
5.2.3 3ª condição: Segurança contra deformação excessiva no terreno de 27
fundação
5.2.4 4ª condição: Segurança contra ruptura global 28
6.0 Exemplos de Aplicação 31
7.0 Bibliografia Consultada 33

2
1.0 Introdução

Denomina-se Empuxo a ação produzida por um maciço de terra (Empuxo de Terra) ou por
uma massa de água (Empuxo de água) sobre as obras em contato com tais maciços,
projetadas para suportar os esforços decorrentes desses elementos. Os empuxos de terra,
assim como as fundações, também dependem da interação solo – estrutura.
Algumas vezes, na engenharia civil, não se dispõe de espaço suficiente para fazer uma
transição gradual das elevações do terreno onde se quer implantar uma determinada obra.
Nestes casos, os taludes necessários podem ser suficientemente altos ou inclinados, de modo
que a estabilidade dos mesmos não é assegurada em longo prazo. As estruturas de contenção
são projetadas para prover suporte para estas massas de solo instáveis.
O cálculo dos empuxos de terra constitui uma das mais antigas preocupações da engenharia
civil, tratando-se de um problema de elevado valor prático, de ocorrência freqüente e de
determinação complexa. As teorias clássicas sobre empuxo de terra foram formuladas por
Coulomb (1773) e Rankine (1856).
Os muros de arrimo, os escoramentos de escavações, os encontros de pontes, os problemas
de capacidade de carga de fundações, pressão de grãos sobre as paredes de silos, entre
outras, são as obras que exigem, em seus dimensionamentos e análises de estabilidade, o
conhecimento das tensões laterais desenvolvidas e, conseqüentemente, dos valores dos
empuxos.

2.0 Tipos de Empuxos


Um maciço de terra pode se encontrar na natureza sob três situações de equilíbrio: em
repouso, em estado de empuxos ativo ou em estado passivo (ver Figuras 1.1a, b).
⇒ Empuxo ativo: desenvolve-se quando o maciço age sobre a estrutura de contenção, que
resiste, porém, cede com um pequeno deslocamento (ver Figuras 1.1a e 1.2). Neste caso,
o maciço sofre uma distensão em virtude do deslocamento relativo que tende a ocorrer.
⇒ Empuxo passivo: desenvolve-se quando a estrutura de contenção age pressionando o
maciço de terra, provocando o seu deslocamento em sentido contrário ao caso ativo (ver
Figuras 1.1b e 1.2). É o caso, por exemplo, da ação de tirantes executados para conter o
deslocamento de um talude em corte. O tirante “puxa” a face do talude, comprimindo-o.
⇒ Estado de equilíbrio: existe quando não o maciço se encontra na situação de
deslocamento nulo. Por exemplo, se na escavação de uma vala não há necessidade de
escoramento, há indicações de que o maciço escavado se encontra em estado de repouso
(ver Figura 1.2). As tensões horizontais atuantes são denominadas e tensões de repouso.
As três situações descritas acima estão bem ilustradas na Figura 1.2.

3
(a) (b)
Figura 1.1 – Condições de deslocamento relativo maciço-muro nos casos (a) ativo e (b) passivo.

Figura 1.2 – Estado de repouso e desenvolvimento dos empuxos ativo e passivo.

Em todos os casos apresentados acima existe uma relação entre as tensões horizontais
efetivas desenvolvidas (σ´h) e as tensões verticais efetivas (σ´v) atuantes. A relação entre estas
tensões denomina-se coeficiente de empuxo (K). No caso ativo, tem-se o coeficiente de
empuxo ativo (Ka). No caso passivo, recebe o nome coeficiente de empuxo passivo (Kp),
enquanto que na situação de repouso a denominação é coeficiente de empuxo em repouso
(K0).

σ ´h
K= (1)
σ ´v
Na situação de repouso existe a conhecida equação de Jaki, professor húngaro, para a
estimativa de K0 em função apenas do ângulo de atrito interno efetivo do solo (φ): K0 = (1-sinφ´)
para areias e K0 = (1-sinφ´)x(OCR)senφ´ para o caso de argilas com história de préadensamento.
O empuxo em um ponto é, portanto, calculado em função da tensão vertical naquele ponto
multiplicada pelo valor do coeficiente de empuxo específico.

4
3.0 Cálculos dos Coeficientes de Empuxo Ativo e Passivo

Para a determinação dos outros coeficientes de empuxo considere-se um semi-espaço infinito


de solo, constituído por um solo isotrópico, não saturado e de superfície horizontal (ver Figura
1.2). A Figura 1.3 ilustra o que acontece com os elementos de solo A (caso ativo) e B (caso
passivo) à luz do círculo de tensões de Mohr.

Figura 1.3 – Círculos de Mohr inicial e final de tensões para os estados ativo, passivo e em repouso.

Conforme mostrado na Figura 1.3, ambos os elementos partem de um círculo de Mohr


possuindo como tensões principais σv e K0×σv. Conforme apresentado nesta figura, no estado
em repouso o solo se encontra afastado da ruptura. Com o deslocamento do muro, as tensões
horizontais no elemento B se tornam maiores que o valor da tensão vertical, sendo seu valor
limite alcançado quando o círculo de Möhr passa a tangenciar a envoltória de resistência do
solo. Neste instante, diz-se que o solo está em um estado de ruptura passiva. Para uma
condição de ruptura, as tensões principais estão relacionadas de acordo com a Equação 2,
apresentada adiante.
σ1 = σ 3 ⋅ Nφ + 2c ⋅ N φ (2)

em que
 φ 
Nφ = tg 2  45° +  (2A)
 2 

No estado ativo, a tensão horizontal, σha, corresponde à tensão principal menor, σ3. Se o solo
for granular (c=0), pode-se demonstrar que :
σ´
K = h = 1 = tg 2  45° − φ  (3)
a σ´ N  2
v φ

5
No estado passivo, a tensão horizontal, σhp, corresponde à tensão principal maior, σ1. Se o solo
for granular (c=0), pode-se facilmente demonstrar também que :

σ´
K = h = Nφ = tg 2  45° + φ  (4)
p σ´  2
v

Das Equações 3 e 4 observa-se que os valores de Ka são sempre inferiores a 1, ao passo que
os valores de Kp, por serem o inverso dos do coeficiente de empuxo ativo, são sempre
superiores à unidade.

4.0 Métodos para Cálculo do Empuxo


4.1 Método de Rankine

Os processos clássicos utilizados para a determinação dos empuxos de terra são métodos de
equilíbrio limite. Nestes métodos admite-se que a cunha de solo situada em contato com a
estrutura de suporte esteja num dos possíveis estados de plastificação, ativo ou passivo. Esta
cunha tenta deslocar-se da parte fixa do maciço e sobre ela são aplicadas as análises de
equilíbrio dos corpos rígidos. A análise de Rankine se apóia nas equações de equilíbrio interno
do maciço. Estas equações são definidas para um elemento infinitesimal do meio e estendida a
toda a massa plastificada através de integração. Esta análise enquadra-se no teorema da
região inferior (TRI) da teoria da plasticidade.
Como filosofia básica, este teorema defende, em primeiro lugar, o equilíbrio de tensões entre
os campos externos e internos que se estabelecem sobre a cunha plastificada. As tensões
externas são despertadas por solicitações aplicadas na superfície do terreno pela ação do peso
próprio da cunha. As solicitações internas são as reações que se desenvolvem na cunha, em
conseqüência das solicitações externas. Para resolução das equações de equilíbrio, todos os
pontos dentro da cunha de ruptura são supostos em estado limite e as tensões se relacionam
pelo critério de ruptura de MÖHR – COULOMB.
A solução de Rankine, estabelecida para solos granulares e estendida por Rèsal para solos
coesivos, constitui a primeira contribuição ao estudo das condições de equilíbrio limite dos
maciços, tendo em conta as equações de equilíbrio interno do solo. Em razão disso, essas
equações são conhecidas como estados de plastificação de Rankine.
O método de Rankine, que consiste na integração, ao longo da altura do elemento de suporte,
das tensões horizontais atuantes, calculadas a partir do sistema de equações estabelecido
para o maciço, fundamenta-se nas seguintes hipóteses:

i) Maciço homogêneo de extensão infinita e de superfície plana (horizontal).

6
ii) O solo no interior da cunha de ruptura se encontra nos estados de plastificação de
Rankine.
iii) A inserção do muro não interfere nos resultados obtidos.

Embora teoricamente a solução de Rankine só seja válida para muro de parede vertical,
perfeitamente lisa, que é quando se atingem os estados de plastificação de Rankine (superfície
de escorregamento fazendo um ângulo igual a 45° + φ/2 ou 45° - φ/2 com o plano principal
maior, para as condições ativa e passiva, respectivamente, conforme mostrado na Figura 1.4),
ela é estendida também aos casos em que o tardoz do muro faz um ângulo β com a vertical.

Figura 1.4 – Condições para aplicação da Teoria de Rankine.

Quando a superfície do terreno é inclinada de um ângulo β com a horizontal, há que se


considerar o muro com uma rugosidade suficiente para inclinar as tensões resultantes do
mesmo valor. À medida que se afasta das condições teóricas fundamentais, o método fornece
valores que se distanciam cada vez mais dos valores práticos observados. A presença do atrito
ou de adesão na interface solo–muro gera tensões tangenciais que contribuem para resistir ao
deslocamento da cunha plastificada. Neste caso, a utilização da teoria de Rankine torna
sobrestimado o valor do empuxo ativo e subestimado o do empuxo passivo. Além disso, o atrito
propicia uma redução da componente horizontal do empuxo (menor quanto maior for o valor do
coeficiente de atrito entre o solo e o muro, δ) e provoca o encurvamento das superfícies de
escorregamento. A Figura 1.4 mostra cunhas de ruptura obtidas pelo método de Rankine (onde
não se considera a interação solo-estrutura), enquanto na Figura 1.5 são mostradas as formas
das cunhas de ruptura dos estados ativo e passivo, na consideração da existência do atrito na
interface solo–muro.

7
Figura 1.5 – Efeito do atrito solo–estrutura sobre as direções das cunhas de plastificação.
Sobre o procedimento do método de Rankine existe a desvantagem de que a obtenção dos
valores de Ka e Kp para geometrias complexas e/ou outras formas de carregamento, que não
carregamento extenso, conduz a procedimentos de cálculos bastante árduos.
Para os solos não coesivos, a variação das tensões horizontais é linear com a profundidade. O
diagrama resultante será triangular e o empuxo consistirá na integração das tensões laterais ao
longo da altura. A Figura 1.6 ilustra a obtenção do empuxo ativo sobre uma estrutura de
contenção pelo método de Rankine, para os casos de solos não coesivos e coesivos.

Figura 1.6 – Aplicação do método de Rankine para cálculo do empuxo ativo sobre estruturas de
contenção (Machado e Machado, 2002).

Conforme se pode observar, para o caso dos solos coesivos, os valores de empuxo obtidos até
uma profundidade z = z0 são negativos. A ocorrência de empuxo negativo sobre a estrutura de
contenção é pouco provável, pois neste caso haveria uma tendência do solo se “descolar” do
muro. Além disto, até a profundidade de z = z0, é provável a ocorrência de trincas de tração no
solo. Deste modo o empuxo negativo sobre a estrutura de contenção é geralmente
desprezado, calculando-se o empuxo a partir da altura reduzida do muro, h = H – z0, conforme
mostrado na Figura 1.6.

8
A integração das tensões horizontais ao longo do muro de arrimo representa o empuxo ativo
atuando sobre a estrutura de contenção, conforme a equação seguinte:
h 1
E a = ∫ K a γ ⋅ z ⋅ dz = .γ .h 2 .K a (5)
0 2

De maneira análoga, obtém-se para a expressão do empuxo passivo total:


1
E = .γ .h 2 .K p (5A)
p 2
A existência da coesão permite executar um corte vertical em um maciço de terra, sem
necessidade de escoramento, até uma determinada profundidade, denominada crítica (zc),
onde o empuxo resultante é nulo. Isto acontece quando z = 2z0. A Equação 6 permite o cálculo
da altura crítica, zc.
4c´
zc = (6)
 φ´ 
γ ..tg  45° − 
 2
O empuxo passivo para solos é calculado através da Equação 7, em que h é considerada a
altura total da estrutura de arrimo.
1
EP = .γ .h 2 .K P + 2c´⋅h ⋅ K P (7)
2
Embora esteja se considerando o caso de estruturas de contenção suportando solos coesivos,
deve-se salientar que quando da execução destas estruturas em campo, sempre que possível,
deve-se utilizar materiais granulares no aterro anterior ao muro. Os materiais granulares, não
coesivos, são sempre preferíveis, pois apresentam maiores valores de φ e geralmente não
apresentam grandes variações volumétricas em processos de secagem/umedecimento. Além
disso, é imprescindível que as estruturas de contenção possuam um bom sistema de
drenagem, de modo a evitar empuxos na estrutura de contenção provocados pela água. Com
base na experiência de Salvador, pode-se afirmar que o efeito da água tem sido decisivo nas
condições de instabilidade de estruturas de contenção (Machado e Machado, 2002).

4.1.1 O Efeito da Água


O efeito da água é ilustrado na Figura 1.7. No caso de o nível do lençol freático interceptar a
estrutura de contenção, existirão dois empuxos sobre a estrutura, um originado pela água e
outro pelo solo. O empuxo da água será aplicado a uma altura (h – hw)/3 da base da
contenção, enquanto que o empuxo resultante do solo aplica-se a uma altura
aproximadamente igual a h/3.

9
Figura 1.7 – Efeito da água no empuxo do solo sobre estruturas de contenção (Machado e
Machado, 2002).

Neste caso, há uma mudança no peso específico do solo, que passa a γsat, e que as tensões
neutras devem subtraídas das tensões horizontais do solo sobre a estrutura, pois os
coeficientes de empuxo devem sempre ser utilizados em termos de tensão efetiva. Caso o
nível d’ água se eleve até à superfície do terreno, o que consiste na situação mais
desfavorável, o empuxo ativo sobre a estrutura de contenção será calculado através da
Equação 8:
1 h 2γ w
E a = .γ sub .h 2 .K a + (8)
2 2

em que γsub e γw são os pesos específicos submerso e da água, respectivamente.

No caso de talude onde exista uma inclinação β do terrapleno com o plano horizontal, os
coeficientes de empuxo ativo e passivo são dados pelas Equações 9 e 10, respectivamente. Os
valores dos empuxos resultantes sobre as estruturas de contenção são obtidos através das
Equações 11 e 12, respectivamente.

σ ´ ha cos( β ) − cos 2 ( β ) − cos 2 (φ´)


Ka = = (9)
σ ´ v cos( β ) + cos 2 ( β ) − cos 2 (φ´)

σ ´ ha cos( β ) + cos 2 ( β ) − cos 2 (φ´)


Kp = = (10)
σ ´ v cos( β ) − cos 2 ( β ) − cos 2 (φ´)

1
E = .γ .h 2 .K a (11)
a 2
1
Ep = .γ .h 2 .K P (12)
2

10
Os valores de Ka e Kp se encontram tabelados para facilitar a obtenção, conforme apresentado
nas Tabelas 1.1 e 1.2.

Tabela 1.1 – Valores de Ka para o método de Rankine (Bowles, 1988).

Tabela 1.2 – Valores de Kp para o método de Rankine (Bowles, 1988).

4.1.2 Situações Possíveis de Perfis de Tensão Horizontal

A Figura 1.8 mostra três situações que podem ser encontradas na prática: no caso a, tem-se a
superfície horizontal (β=0°), na qual o valor de Ea é a própria componente horizontal; na
situação b, o terreno se apresenta inclinado de um valor β>0, onde a resultante do empuxo
será também inclinada de mesmo ângulo, enquanto que no caso c além da inclinação existe
uma sobrecarga distribuída na superfície do terreno. Os valores das tensões horizontais e suas
respectivas distribuições estão apresentados nas próprias ilustrações.

Figura 1.8 – Diagramas de tensão horizontal para a teoria de Rankine.

11
4.1.3 Efeito de uma Sobrecarga
Quando sobre a superfície do maciço atua um sobrecarga uniformemente distribuída, q,
conforme mostrado na Figura 1.9, as tensões horizontais podem ser calculadas pela
expressão:
σ h = (γ .z + q ) ⋅ K (13)
onde K é o coeficiente de empuxo ativo ou passivo do solo, conforme o caso que se considere.
A sobrecarga ainda pode ser transformada em uma altura equivalente de terra, h0, em que:
q
h0 = (14)
γ
em que γ é o peso específico do solo. A tensão horizontal, a uma profundidade z, será então:
σ h = (γ .z + γ .h0 ) ⋅ K (15)
Conforme mostrado na Figura 1.9, o diagrama de tensões horizontais, neste caso, será
trapezoidal, e a resultante estará acima do terço inferior da altura da parede.

Figura 1.9 – Transformação de sobrecarga em altura equivalente de solo.

4.2 Método de Coulomb

O método de C. A. Coulomb é um dos mais antigos para o cálculo do empuxo de terra, tendo
sido enunciado por volta de 1776 (Bowles, 1998). O método de Coulomb é baseado no
Teorema da Região Superior (TRS) da teoria da Plasticidade, a qual estabelece o equilíbrio de
uma massa de solo partindo do pressuposto que, para um deslocamento arbitrário, o trabalho
realizado pelas forças externas é menor que o das forças internas. Do contrário, o maciço
entrará em processo de instabilidade ou de plastificação. Este método admite as seguintes
hipóteses:
i) O solo é isotrópico, homogêneo e possui atrito interno e coesão.
ii) A superfície de ruptura é considerada plana
iii) É atendida a condição de deformação plana ao longo do eixo do muro (bidimensional).
12
iv) Ao longo da superfície de deslizamento o material se encontra em estado de equilíbrio
limite (critério de Mohr-Coulomb).
v) Ocorre deslizamento relativo entre o solo e o muro, resultando em tensões cisalhantes na
interface, cuja direção depende do movimento relativo solo-estrutura. O coeficiente de
atrito é dado por f = tan(φ).

O cálculo do empuxo é efetuado estabelecendo-se as equações de equilíbrio das forças


atuantes sobre uma cunha de deslizamento hipotética. Uma das forças atuantes é o empuxo,
que no estado ativo corresponde à reação da estrutura de suporte sobre a cunha e, no passivo,
à força que a estrutura de arrimo exerce sobre ela. O empuxo ativo será o máximo valor dos
empuxos determinados sobre as cunhas analisadas. O passivo será o valor mínimo. Assim,
nos casos de geometria mais simples, será possível estabelecer uma equação geral para o
problema e encontrar o seu valor máximo, ou mínimo, correspondente às situações ativa e
passiva, respectivamente.
Na mobilização do empuxo ativo, o muro se movimenta de modo que o solo é forçado a
mobilizar a sua resistência ao cisalhamento, até a ruptura iminente. A ativação da resistência
ao cisalhamento do solo pode ser entendida como o fim de um processo de expansão que se
desencadeia no solo a partir de uma posição em repouso. Isto significa que o valor do empuxo
sobre a estrutura de contenção vai diminuindo, com a expansão, até que se atinge um valor
crítico, situado no limiar da ruptura, ou da plastificação.
Quando as análises de equilíbrio são efetuadas para as diversas cunhas hipotéticas, supõe-se
que esse limiar da ruptura tenha sido alcançado em todas elas. Portanto, o maior valor de
empuxo estabelecido na análise destas cunhas será o crítico, pois no processo de ativação ele
será atingido em primeiro lugar, ocasionando o empuxo ativo. Isto significa que o empuxo ativo
é um ponto de máximo dentre os valores determináveis de empuxo. O contrário ao descrito nos
dois últimos parágrafos ocorrerá para o caso passivo.

4.2.1 Solução analítica do método de Coulomb para solos granulares

Empuxo Ativo: A Equação 16 apresenta o valor do coeficiente de empuxo ativo obtido pelo
método de Coulomb. Nas Figuras 1.10 e 1.11 estão apresentadas todas as variáveis contidas
na Equação 16, para o caso de empuxo passivo. No caso de empuxo ativo, a resultante R do
solo atuará desviada também de φ’ da normal à cunha, mas agora em sentido oposto. Do
mesmo modo, devido ao movimento descendente da cunha no caso ativo, Ea será inclinada da
normal à contenção também de δ, mas em sentido contrário àquele apresentado na Figura

13
1.10. Deste modo, no uso das Equações 16 e 17, deve-se atentar para a convenção de sinais
adotada nas Figuras 1.10 e 1.11.

sen 2 (α + φ´)
Ka = (16)
sen(φ´+δ ) ⋅ sen(φ´− β ) 
2

sen 2 (α ) ⋅ sen(α − δ ) 1 + 
 sen(α − δ ) ⋅ sen(α + β ) 

Figura 1.10 – Empuxo de Coulomb para solos granulares.

Figura 1.11 – Empuxo de Coulomb – Superfície e cunha de ruptura.

Empuxo Passivo: A Equação 17 apresenta o valor do coeficiente de empuxo passivo obtido


pelo método de Coulomb.

sen 2 (α − φ´)
KP = 2
(17)
 sen(φ´+δ ) ⋅ sen(φ´+ β ) 
sen 2 (α ) ⋅ sen(α + δ ) 1 − 
 sen(α + δ ) ⋅ sen(α + β ) 

14
É importante lembrar que as componentes horizontal e vertical (Eah, Eav) dos empuxos são
calculadas pelos métodos de Rankine e Coulomb de formas diferentes. No método de Rankine,
as componentes são função do ângulo de inclinação da superfície do terreno (β):

E AH = E ⋅ cos( β ) (18)
a
E AV = E ⋅ sen( β ) (19)
a
No caso do método de Coulomb, as componentes horizontal e vertical dependem do ângulo de
atrito solo-estrutura (δ):

E AH = E ⋅ cos(δ ) (20)
a
E AV = E ⋅ sen(δ ) (21)
a
De forma análoga são obtidas as componentes do empuxo no caso passivo. O valor de δ é

geralmente tomado como sendo igual a 2φ .


3

Os coeficientes de empuxo de Coulomb se encontram também tabelados para facilidade de


obtenção, conforme mostrado nas Tabelas 1.3 e 1.4.

4.3 Solo Coesivo

Segundo Bowles (1988), nem no método de Rankine nem no de Coulomb foi introduzida a
coesão como um parâmetro de entrada em suas equações de empuxo. Bell (1915) foi o
primeiro autor a publicar a solução para este problema, partindo de uma aplicação direta do
círculo de Möhr. Neste caso, a coesão atua favoravelmente à estabilidade do maciço,
reduzindo o valor da tensão horizontal ativa, numa espécie de empuxo passivo, conforme a
Equação 19:

σ ha = γzK a − 2c K a (22)

A tensão horizontal se anula a uma profundidade z, dada pela seguinte expressão:

2c K a
0 = γzK a − 2c K a ⇒ z = (23)
γK a
Para o caso de argilas moles, onde φ = 0°, tem-se:

1 2 4c
Ea = γh − 2c e zc = (24)
2 γ

15
Tabela 1.3 – Valores de KA para aplicação do método de Coulomb (Bowles, 1988).

16
Tabela 1.4 – Valores de KP para aplicação do método de Coulomb (Bowles, 1988).

17
4.4 Comentários Sobre os Métodos de Rankine e Coulomb

Tanto a equação de Rankine quanto a de Coulomb são amplamente usadas para problemas
envolvendo empuxos de terra. A solução de Rankine é, talvez, a mais empregada por causa da
sua simplicidade e por ser mais conservativa que a de Coulomb (por exemplo, Rankine
despreza o atrito solo-muro). Todavia, padece de algumas limitações. De acordo com Bowles
(1988), não é recomendável a aplicação da equação de Rankine no cálculo de EP quando β >
0, visto que na Tabela 1.2 se observa que o valor de KP diminui com o aumento da inclinação
da superfície do terreno, o que não está correto, ao contrário do que ocorre com os valores de
KA.
Já as equações de Coulomb podem ser usadas tanto para valores de β positivos quanto para
valores negativos.
Finalmente, ressalta-se em relação que o método de Rankine, que desconsidera o atrito entre
o solo e o muro, fornece soluções do lado da segurança. Entretanto, o método de Coulomb
considera o atrito e fornece soluções mais realistas. O emprego de uma ou de outra teoria está
associado, inclusive, à geometria do problema. As obras dimensionadas pelo método de
Rankine tendem a ser mais caras em razão deste método fornecer valores mais conservativos
do empuxo.

4.5 Métodos Gráficos

São procedimentos gráficos baseados na hipótese de Coulomb, na qual o plano em que ocorre
o deslizamento é aquele que limita um prisma de empuxo máximo sobre o suporte. Nesses
métodos encontra-se uma relação geométrica entre a área da seção do prisma deslizante e a
área de um triângulo definido por três retas traçadas no problema, cujas direções dependem da
inclinação do terreno, da existência de sobrecarga, da inclinação do tardoz, de φ e δ. Os
métodos mais comuns são os de Poncelet e o de Culmann. Como ambos são muito
semelhantes, neste trabalho será abordado apenas o primeiro. O leitor deverá recorrer à
bibliografia indicada para consultar outros métodos.

4.5.1 Método Gráfico de Poncelet

Para um terreno de superfície plana, o processo gráfico de Poncelet permite a determinação de


maneira muito simples do empuxo. O método segue o roteiro apresentado a seguir, que deverá
ser acompanhado com a interpretação da Figura 1.12.

18
i) traçar BT fazendo um ângulo φ com a horizontal;
ii) traçar AS paralela a BO, fazendo o ângulo φ + δ com a linha AB;
iii) tendo BT com diâmetro, traçar uma semicircunferência;
iv) traçar por S a reta perpendicular SL a BT;
v) rebater L em D, com centro em B e raio BL;
vi) finalmente, traçar DC paralela a AS e rebater o ponto C, assim obtido, em G.

A superfície de ruptura será BC e o valor do empuxo será: E a = γ (área do triângulo CDG) ou

1 ____ ____
Ea = γ ⋅ ⋅ CD⋅ CN (25)
2

Figura 1.12 – Processo gráfico de Poncelet para superfície horizontal.

4.5.1.1 Terrenos inclinados e sobrecarga

Para casos envolvendo pequenos valores de φ ou grandes inclinações do terreno torna-se mais
adequada a construção gráfica descrita a seguir (ver Figura 1.13):
i) traçar BT fazendo um ângulo φ com a horizontal;
ii) traçar AS formando o ângulo φ + δ com AB;
iii) pelo ponto S traçar SS0 paralela à superfície livre do terreno;
iv) por S0 traçar a perpendicular S0L0 a AB, até encontrar a circunferência de diâmetro
AB;
v) rebater BL0 sobre AB e marcar o ponto D0;
vi) traçar por D0 uma paralela a SS0, obtendo-se assim o ponto D;
vii) finalmente, traçar por D uma paralela a AS até encontrar a superfície do terreno, em
C, que é o ponto procurado.

19
Figura 1.13 – Solução gráfica de Poncelet para casos de φ muito pequeno.

Ocorrendo sobrecarga q sobre a superfície do terreno, a construção de Poncelet é a mesma,


sendo que o ângulo φ + δ é marcado a partir do ponto A´ e a semicircunferência é traçada
sobre o diâmetro BT´, sendo T´ o ponto de encontro da reta de talude natural BT´ com a
superfície fictícia A´C´T´, obtida através do acréscimo da altura equivalente h0 à superfície do
terreno natural (ver Figura 1.14).

Figura 1.14 – Solução gráfica de Poncelet para casos de superfície inclinada com sobrecarga.

Empuxo Passivo: para determinação gráfica do empuxo passivo o procedimento está descrtio a
seguir, de acordo com a Figura 1.15.

20
i) traçar BT fazendo um ângulo φ com a horizontal;
ii) prolongar a superfície livre AC até interceptar em E o prolongamento da reta BT;
iii) traçar por A a reta AF formando com AB o ângulo φ + δ;
iv) sobre BE como diâmetro obter a semicircunferência de círculo BHE;
v) pelo ponto F traçar a perpendicular a FH até o ponto H sobre a semicircunferência;
vi) rebater o ponto H em D, com centro em B;
vii) por D traçar a paralela DC a AF até cortar a superfície livre em C;
viii) a reta BC representa a superfície de ruptura mais crítica;
ix) rebatendo-se C em G, com centro em D, obtém-se o triângulo CDG, de área S;
x) finalmente, o valor do empuxo passivo, Ep, será igual a γS.

Figura 1.15 – Solução gráfica de Poncelet para empuxo passivo.

5.0 Estabilidade de Muros de Arrimo

5.1 Estruturas de Arrimo Temporárias e Definitivas

As estruturas de arrimo de obras temporárias são utilizadas, principalmente, em abertura de


valas para implantação de condutos e metrôs. Nestes casos, geralmente, introduzem-se os
elementos da estrutura anteriormente à escavação, e à medida que se processa a escavação,
complementa-se a estrutura com os elementos adicionais: pranchões de madeira, estroncas,
tirantes, etc. Completada a obra, providencia-se ao reaterro da escavação e os elementos
utilizados no escoramento podem ser retirados e reaproveitados.

21
Em obras definitivas, como no caso dos muros de arrimo, é normal proceder-se à escavação,
deixar um espaço livre atrás de onde será implantada a estrutura, para facilidade de trabalho,
e, uma vez completada a estrutura, procede-se ao reaterro do espaço deixado livre. Deve-se
observar, entretanto, que estas não são regras gerais para estruturas temporárias e definitivas,
havendo comumente exceções.
As estruturas de contenção são basicamente divididas em flexíveis e rígidas. Estas podem ser
de vários tipos e proporcionam estabilidade de diversas maneiras. Existem os muros de arrimo
de gravidade, de gravidade aliviada, muros de flexão, muros de contraforte, cortinas de estacas
prancha, cortinas de estacas secantes ou justapostas, cortinas de perfis metálicos combinados
com pranchões de madeira, paredes diafragma e eventualmente partes de estruturas
projetadas para outro fim, que têm por finalidade retenção, como por exemplo, os subsolos dos
edifícios e os encontros de pontes. A Figura 1.16 mostra três casos típicos onde se justifica a
necessidade da execução de estruturas de contenção.

Figura 1.16 – Exemplos típicos de necessidade de execução de estrutura de contenção.

Os muros de arrimo podem ser construídos de alvenaria ou de concreto simples ou ciclópico


(muros de gravidade). Podem ser de concreto armado (flexão ou de contraforte) ou ainda muro
de fogueira (formado por peças de madeira, de aço ou de peças premoldadas de concreto).

Figura 1.17 – Estruturas de contenção comuns.


22
A Figura 1.18 mostra a foto de um muro de arrimo em concreto armado, servindo de apoio no
encontro entre um viaduto e o aterro. Percebem-se na foto, três linhas de drenos, denominados
barbacâns, usados para aliviar as poropressões. Na Figura e 1.19 é mostrado um detalhe do
muro sofrendo um processo de deslocamento lateral, característica de início de tombamento.

Figura 1.18 – Muro de arrimo em concreto armado.

Figura 1.19 – Muro de arrimo em concreto armado sofrendo deslocamento horizontal.


23
Os muros de gravidade, os mais comuns, podem ser de seção trapezoidal ou escalonado,
conforme mostrado na Figura 1.20.

Figura 1.20 – Seções típicas de muros de arrimo, de gravidade.

Com o progresso dos métodos construtivos, tem se empregado cada vez mais a construção de
estruturas de contenção utilizando-se geotêxteis (Figura 1.21 ou outros elementos estruturais.
Este é o caso dos muros de arrimo construídos utilizando-se as técnicas de terra armada ou
solo “envelopado”. Embora esteja fora do propósito deste trabalho a apresentação detalhada
dos princípios de funcionamento destas estruturas, pode-se dizer que, nestes casos, há a
incorporação de elementos estruturais ao solo no sentido de conferir a este resistência à
tração. Em ambos os casos, trabalha-se com o atrito entre o solo e os elementos estruturais,
de modo que o uso de solos granulares é sempre preferível. No caso destas estruturas e
mesmo no caso dos muros de arrimo em gabiões (Figura 1.21), além das verificações de
estabilidade normalmente realizadas, deve-se também realizar análises no sentido de verificar
a estabilidade interna da estrutura de contenção.

Figura 1.21 – Muro de gabião com uso de geotêxtil e muro de contraforte (Machado e Machado, 2002).

24
5.2 Condições de Estabilidade dos Muros de Arrimo

Na verificação da estabilidade de um muro de arrimo há que se atentar para a possibilidade de


deslizamento e tombamento. Além disso, deve-se considerar a possibilidade de ruptura do
talude formado (análise de estabilidade global), bem como verificar as tensões aplicadas ao
solo de fundação e os recalques (segurança a ruptura do solo de fundação). Para alguns tipos
de estruturas de contenção devem ser feitas verificações de sua estabilidade interna (gabiões,
contenções em terra armada, solo envelopado, etc).
Cabe ressaltar que a execução de um sistema de drenagem, por mais rústico que seja, pode
proporcionar significativos benefícios a um muro de arrimo, com redução de esforços sobre ele,
resultante do alívio das poropressões geradas.
Resumindo, os critérios exigidos para um projeto satisfatório de uma seção de um muro de
arrimo são os seguintes:

i) O muro deve ser seguro quanto ao tombamento, ou seja, o fator de segurança ao


tombamento deve ser adequado;
ii) O muro deve ser seguro contra o deslizamento, ou seja, o fator de segurança ao
deslizamento deve ser adequado;
iii) A base do muro deve ser tal que a máxima tensão exercida no solo de fundação não
exceda a sua tensão admissível;
iv) Não devem se desenvolver tensões de tração expressivas em nenhuma parte do muro;
v) Deve haver segurança à ruptura do conjunto solo/muro (ruptura global).

Para melhor entendimento, são apresentados na Figura 1.22 os principais esforços atuando
sobre um muro de arrimo. Os critérios de estabilidade serão analisados individualmente:

5.2.1 1ª condição: Segurança contra o tombamento

A condição para que o muro não tombe em torno da extremidade externa “A” da base, é que o
momento gerado pelo peso do muro seja maior que o momento gerado pelo empuxo
resultante, ambos tomados em relação ao ponto A, mostrado na Figura 1.23. Ou seja:

M res
F= ≥ Fmín = 1,5 (26)
M atua

em que Mres é o momento devido ao peso do muro e Matua é o momento gerado pelo empuxo
resultante.

25
Figura 1.22 – Esforços sobre um muro de arrimo (Machado e Machado, 2002).

Aconselha-se que a resultante das forças atuantes, R, passe dentro do núcleo central (terço
médio, da base AB), e o mais próximo quanto possível do ponto médio “O” quando o muro se
apóia sobre terreno muito compressível.

Figura 1.23 – Cálculo dos momentos em um muro de arrimo.

5.2.2 2ª condição: Segurança contra o escorregamento

Esta condição de estabilidade do muro não permite que o mesmo sofra uma transladação
motivada pela resultante dos esforços horizontais atuantes, ∑H atua . Dessa forma, tem-se:

F=
∑H res
≥ Fmín = 1,5 (27)
∑H atua

26
onde ∑H res é a resultante das forças horizontais resistentes. De acordo com a Figura 1.22,

tem-se a condição mínima de estabilidade é:

1,5 ⋅ H ≤ V ⋅ µ´ (28)

em que µ varia de 0,67tgφ´ a tgφ´ (coeficiente de atrito solo-muro), sendo φ´ o ângulo de atrito
interno do solo. Na falta de dados medidos podem ser adotados os valores indicados a seguir.
φ´ ≅ 30° para areia grossa pura
φ´ ≅ 25° para areia grossa argilosa ou siltosa
φ´ ≅ 35° solo de alteração de rocha
φ´ ≅ 25° para solo arenoso

5.2.3 3ª condição: Segurança contra deformação excessiva no terreno de fundação

Esta condição possibilita comparar a tensão aplicada pela base do muro (σ1 ou σ2) com a
tensão admissível do solo que o serve de apoio (σadm), conforme mostrado na Figura 1.23.
Para o cálculo das tensões atuantes no solo de fundação, primeiramente é preciso calcular o
ponto de aplicação da força normal V, usada na verificação do deslizamento. Para este cálculo
é feito o equilíbrio dos momentos resistente (MRES) e ativo (MAt) em relação ao ponto A,
resultando em:
_MRes − M at
x= (29)
V
Da Equação 29, se obtém facilmente a
excentricidade, e, ou seja:
B _
e= −x (29A)
2

Figura 1.24 – Esforços na base da fundação.

Os valores de σ1 e σ2 dependerão da posição da resultante das forças (R) em relação ao


núcleo central da base. Neste caso, duas situações são importantes na análise:
i) Força R caindo dentro do núcleo central da base (situação da Figura 1.23): o diagrama de
tensões na base será um trapézio, pois o terreno está submetido apenas a compressão. As
equações de equilíbrio são:

V  6e 
σ1 = 1 +  (30)
B B 

27
V  6e 
σ2 = 1−  (31)
B B 

onde B é a largura da base do muro e “e” a excentricidade, obtida da Equação 29A.


Essa condição é satisfatória quando a maior das tensões (σ1) seja, no máximo, igual à σadm do
solo, para e ≤ B/6.

ii) Força R caindo fora do núcleo central da base, ou seja, e > B/6: o diagrama de tensões na
base terá uma distribuição triangular, mas limitada à parte que gera compressão (ver Figura
1.25). O valor da tensão máxima será:
2V
σ1 = (32)
3e´

Figura 1.25 – Resultante caindo fora do terço médio da base do muro.

A situação (ii) deve ser evitada sempre que possível, visto que o aparecimento de tensões de
tração na base do muro poderá causar trincamento na sua estrutura, o que não é desejável.
Para a estimativa da tensão admissível (σadm) do terreno onde se apóia o muro, diversos
métodos são disponíveis na literatura, a exemplo da equação de capacidade de carga de
Terzaghi, para sapatas corridas (ver Capítulo 4).

5.2.4 4ª condição: Segurança contra ruptura global

Deve ser investigada sempre que se achar necessário a estabilidade do conjunto formado pelo
maciço e o muro projetado. Há diversos métodos na literatura que permitem este tipo de
análise, dentre eles o método de Bishop Simplificado, muito empregado em análises de
estabilidade de barragens de terra. Superfícies circulares de ruptura típicas são mostradas na
Figura 1.26 (superfície ABC).

28
(a) (b)
Figura 1.26 – Forma típica de uma superfície de ruptura global do conjunto maciço de terra e muro: a –
gravidade comum; b – gravidade escalonado.

O método de Bishop adota superfícies de ruptura cilíndricas, conforme mostrado nas Figuras
1.26(a e b). Dessa forma, são verificados possíveis arcos de ruptura que cruzam o terrapleno e
o solo de fundação, contornando todo o muro de arrimo.
Para aplicar o método, a parte do maciço delimitada por cada um desses arcos é dividida em
fatias ou lamelas, do que se calcula o coeficiente de segurança contra a ruptura ao longo dessa
superfície. Inicialmente é admitida uma superfície de ruptura cilíndrica aleatória e o material
delimitado por esta superfície é dividido em lamelas, conforme mostrado na Figura 1.26b. As
forças que agem sobre cada uma dessas fatias são mostradas na Figura 1.27, as quais são
listadas a seguir:

P = peso da lamela
b = largura
α = inclinação da superfície de ruptura de cada uma das lamelas
N = força normal agindo na superfície de ruptura
T = força tangencial que age na superfície de ruptura
H1, H2 = forças horizontais agindo nas faces laterais das lamelas
V1, V2 = forças verticais agindo nas faces laterais das lamelas

29
Figura 1.27 – Forças agindo em cada lamela (a); parâmetros de uma superfície de ruptura cilíndrica (b)

A partir do equilíbrio das forças agindo nas lamelas, obtém-se o coeficiente de segurança
contra a ruptura global do sistema solo-muro, a partir da seguinte equação:

 
 
c ⋅ b + P ⋅ tan φ
∑  senα ⋅ tan α


 cos α + 
 FS 
FS = (33)
∑ (P ⋅ senα )
onde c e φ são a coesão e o ângulo de atrito interno do solo, respectivamente.
Caso o nível d´água passe no interior da lamela, o peso desta é calculado utilizando-se o peso
específico saturado para a parte abaixo dele e também é determinada a poropressão (u) que
age na superfície de ruptura.
Como o coeficiente de segurança (FS) aparece nos dois lados da Equação 33, sua
determinação é iterativa. Para cada muro, devem ser pesquisadas várias superfícies de ruptura
até se encontrar a mais crítica, ou seja, aquela com o menor coeficiente de segurança. Como
para identificação de uma superfície de ruptura são necessários três parâmetros (coordenadas
horizontal e vertical do ponto “O” e um valor do raio do círculo), essa pesquisa é bastante
trabalhosa quando é feita manualmente. Por sorte, com as facilidades da informática, essa
tarefa se torna muito prática e rápida, através de algoritmos devidamente programados.
Diversos programas estão disponíveis no mercado para atender a essa necessidade.

30
6.0 Exemplos de Aplicação

6.1 Determinar o valor do empuxo ativo e seu ponto de aplicação para o caso apresentado na
figura a seguir.

Solução usando Rankine:

a) Ka = tg2 ( 45 - φ/2 ) = tg2 ( 45 – 25/2 ) = 0,406

b) para z=0 , σh = γ z Ka = 0

para z= 3 m , σh = (19-10)(3)(0,406) = 11 kPa

para z= 3 m , σhágua = (10)(3) = 30 kPa

c) Ea1 = ½. (11)(3) = 16,5 kN/m

Ea2 = ½. (30)(3) = 45 kN/m

Ea = Ea1 + Ea2 = 16,5 + 45 = 61,5 kN/m

d) ponto de aplicação

(16,5).[13 .(3)]+ (45)[13 .(3)]


y= = 1,0 m
61,5
y = 1,0 m

6.2 Determinar o valor do empuxo ativo e seu ponto de aplicação para o caso apresentado na
figura a seguir.

Solução usando Rankine:

a) Ka = tg2 ( 45 - φ /2 ) = tg2 ( 45 – 32/2 ) = 0,307

b) para z=0 , σh = (γ z + q)Ka = (0 + 20) (0,307) = 6,1 kPa


para z= 3 m , σh = [ (16,8)(3) + (20) ] 0,307 = 21,6 kPa

31
c) Ea1 = (6,1)(3) = 18,3 kN/m
Ea2 = ½. (21,6 – 6,1)(3) = 23,3 kN/m

Ea = Ea1 + Ea2 = 18,3 + 23,3 = 41,6 kN/m

d) ponto de aplicação

y= (18,3)[ 1/2 . (3)] + (23,3) [ 1/3 .( 3)] = 1,22 m


41,6

6.3 Verificar a estabilidade do muro de arrimo a seguir apresentado. A tensão admissível do terreno onde
o muro se apóia é igual a 200kPa.

Solução usando Coulomb:

a) Cálculo do empuxo ativo


sen 2 (α + φ )
Ka = 2
= 0,278
 sen(φ + δ ) sen(φ − β ) 
sen 2α .sen(α − δ ) 1 + 
 sen(α − δ ) sen(α + β ) 

Ea = ½. γ z2 Ka = ½. (19)(5)2(0,278) = 66 kPa
Eav = Ea.senδ = (66)(sen300) = 33 kPa
Eah = Ea.cosδ = (66)(cos300) = 57,2 kPa

y = 1/3 .(H) = (1/3).(5) = 1,67 m

b) Cálculo do momento resistente, Mr

32
c) cálculo do momento atuante, Ma
Ma = ΣH . y = Eah. ya = (57,2).(1,67) = 95,5 kN.m/m
d) verificação da segurança ao tombamento
F.S. = Mr / Ma = (273,6) / (95,5) = 2,9 > 1,5 ⇒ OK
e)verificação da segurança ao deslizamento
F.S. = (ΣV)tgδ / ΣH = [(203)(tg30)] / 57,2 = 2,0 > 1,5 ⇒ OK
f) Verificação da segurança quanto ao terreno de fundação ponto de aplicação da resultante:

Mr − Ma 273,6 − 95,5
x= = ≅ 0,88m
ΣV 203
B 2
e = − x = − 0,88 = 0,12m
2 2
Se e ≤ B/6, a resultante passa no terço médio, B/6 = 2/6 = 0,33 > e, logo, a resultante passa no terço
médio, portanto:

⇒ OK!

Portanto, o muro está estável quanto aos fatores analisados.

6.0 Bibliografia Consultada

1) Almeida, M.S.S. (1996), Aterros Sobre Solos Moles: da Concepção à Avaliação do


Desempenho, Editora da UFRJ, 216p.
2) Alonso, U. R. (1983), Exercícios de Fundações, Editor Edgard Blücher Ltda., São Paulo.
3) Alonso, U.R. (1989), Dimensionamento de Fundações Profundas, Ed. Edgar
Blücher Ltda.
4) Alonso, U.R. (1991), Previsão e Controle das Fundações, Ed. Edgar Blücher
Ltda.
5) Barata, F.E. (1984), Propriedades Mecânicas dos Solos. Uma Introdução ao Projeto
de Fundações, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
6) Caputo, H.P. (1988 e 1987), Mecânica dos Solos e suas Aplicações, Velo 1 e 2, 6a
Edição, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
7) Das, B.M. (2000), Fundamentals of Geotechnical Engineering, Brooks/Cole.
8) Fang, H.-Y. (1991), Foundation Engineering Handbook, Van Nostrand Reinhold.
9) Gaioto, N. (1983), Maciços e Obras de Terra, Notas de Aula, EESC/USP.
33
10) Hachich, W., Falconi, F.F., Saes, J.L., Frota, R.G.Q., Carvalho, C.S.,
Niyama, S. (1998), Fundações - Teoria e Prática, 2a Edição, Editora Pini Ltda.
11) Lambe, T.W., and Whitman, R.V. (1979), Soil Mechanics, SI Version, John Wiley &
Sons.
12) Machado, S. L. e Machado, F. C. (2002), Apostila de Mecânica dos Solos, Escola
Politécnica, UPBA.
13) Moliterno, A. (1994), Caderno de Muros de Arrimo, 2a Edição, Ed. Edgar Blücher
Ltda.
14) Moraes, M. Da Cunha, (1976), Estruturas de Fundações, McGraww-Hill Book
Company do Brasil, 172p.
15) Poulos, H.G. and Davies, E.H. (1980), Pile Foundations Analysis and Design, John
Wiley, New York.
16) Simons, N. E. & Menziens, B. K., (1981), Introdução à Engenharia de Fundações,
Tradução de Luciano Moraes Jr. e Esther Horovitz de Beermann, Editora Interciência,
Rio de Janeiro, 199p.
17) Terzaghi, K. & Peck, R.B. (1967), Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed.,
John Willey & Sons, Inc., New York.
18) Vargas, M. (1977), Introdução à Mecânica dos Solos, Ed. McGraw-Hill do Brasil, Ltda,
São Paulo.
19) Velloso, D. A., Lopes, F. R. (1996), Fundações - Critérios de Projeto - Investigações do
Subsolo, Fundações Superficiais, Volume 1, COPPE/UFRJ.

34
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES

Disciplina: FUNDAÇÕES Código: 101134


Professor: Erinaldo Hilário Cavalcante

Notas de Aula

ESCORAMENTOS DE ESCAVAÇÕES
Capítulo 2 – Aspectos Gerais e Dimensionamento

Aracaju, maio de 2005.


ÍNDICE
1.0 Obras de Contenção 36
2.0 Classificação das Contenções 36
3.0 Aspectos Tecnológicos da Estabilidade das Escavações 38
3.1 Ângulo de talude natural 38
3.2 Contenções provisórias 39
4.0 Dimensionamento dos Escoramentos de Cavas 41
4.1 Escoramentos em balanço 43
4.2 Escoramentos com uma linha de escoras 45
4.3 Escoramentos com duas ou mais linhas de escoras 45
5.0 Exemplos de Aplicação 47
6.0 Bibliografia Consultada 50

35
1.0 Obras de Contenção

A execução de contenções, provisórias ou permanentes, é um serviço bastante comum em


obras civis, principalmente quando estas são realizadas em áreas com limitação de espaço,
situação geralmente encontrada em obras urbanas.
As figuras seguintes mostram dois tipos de contenção, sendo o primeiro uma vala contida por
escoramento (Figura 2.1a) e a segunda sem contenção, onde a estabilidade da vala escavada
se dá unicamente pela inclinação do terreno escavado (Figura 2.1b).

Figura 2.1 – Escavação com contenção e em talude.

A alternativa da Figura 2.1b é na maioria das vezes mais econômica, porém requer maior área
escavada em razão da inclinação do talude gerado, podendo se constituir numa solução
inviável em áreas urbanas.
A necessidade de limitar as escavações por taludes se dá em razão de segurança. As
escavações são executadas num material geralmente heterogêneo – solo – cujas propriedades
podem variar expressivamente com pequenas mudanças nas condições ambientais. Por
exemplo, um solo argiloso pode perder completamente suas propriedades coesivas quando
saturado durante e após um temporal. Isso põe em risco toda a obra, devido à possibilidade de
desmoronamento da escavação, destruindo equipamentos e, principalmente causando perdas
de vidas humanas.

2.0 Classificação das Contenções

⇒ Pela existência ou não de contenção

i) contidas
ii) em talude

36
⇒ Pela transitoriedade da contenção
iii) provisórias
iv) definitivas

⇒ Pelo funcionamento estrutural


v) flexíveis
vi) rígidas

⇒ Pela forma de obtenção do equilíbrio


vii) escoradas
viii) sem escoramento

A primeira classificação já foi discutida na introdução. Já a transitoriedade da contenção é um


aspecto relevante quando da escolha do método executivo. Por exemplo, na abertura de uma
vala para o assentamento de uma tubulação qualquer, que será posteriormente reaterrada, se
deve utilizar uma contenção provisória, preferencialmente, total ou parcialmente reutilizável.
Esse tipo de contenção é o que será abordado mais detalhadamente nesta apostila.
Já no caso da execução de um subsolo de edifício, se pode conceber uma contenção
definitiva, cujo sistema cumprirá duas funções: conter o terreno escavado ao mesmo tempo em
que serve de vedação vertical da parte enterrada.
Na classificação pelo funcionamento estrutural, sabe-se que as flexíveis permitem uma certa
movimentação, sendo capazes de absorverem deformações do solo circunvizinho com mais
facilidade, ao contrário das rígidas. Todavia, as flexíveis, ao se deformarem, podem fazer com
que o solo junto a uma construção vizinha também se deforme, podendo causar a esta
conseqüências indesejáveis, como recalques, trincas, etc. Geralmente, as contenções
provisórias são flexíveis e as definitivas são rígidas.
Com relação à forma como o equilíbrio é obtido, se pode tomar como exemplo a Figura 1a, na
qual as paredes opostas se apóiam uma contra a outra através de escoras horizontais
denominadas de estroncas. Essa mesma contenção poderia ser executada sem estroncas se
as paredes fossem dotadas de maior capacidade de absorção de esforços horizontais, porém,
resultando em paredes de maiores dimensões com maior consumo de material.
Serão apresentados a seguir alguns aspectos gerais sobre estabilidade das escavações, que
servirão de base para um estudo mais detalhado em itens seguintes.

37
3.0 Aspectos Tecnológicos da Estabilidade das Escavações
3.1 Ângulo de talude natural

Entende-se por talude toda superfície inclinada que limita um maciço de solo. Os taludes
podem ser naturais (as encostas) ou artificiais (os cortes e os aterros). Na Figura 2.2 é feita
uma ilustração da seção de um talude típico e a terminologia mais empregada.

Figura 2.2 – Terminologia empregada em talude de maciço de terra.

O ângulo de talude natural (α) é o maior ângulo de inclinação para um determinado tipo de solo
exposto ao tempo, obtido sem instabilidade do maciço. Nos solos granulares, o valor de α é
praticamente igual ao ângulo de atrito interno do solo (φ). Por outro lado, nas argilas, que são
solos bastante impermeáveis, teoricamente α equivaleria a 90°. Porém, a ocorrência de
fissuras superficiais, devido a retração por ciclos de molhagem e secagem, acaba permitindo a
entrada de água no corpo do talude, podendo causar instabilidade do mesmo (ver Figura 2.3).
Em conseqüência disso, o ângulo de talude natural nestes solos se situam em torno de 40°
(Cardoso, 2002).

Figura 2.3 – Instabilidade de solos coesivos devido à fissuração e conseqüente ação da água.

Cabe ressaltar que o valor de α de cada solo, na realidade depende de diversos fatores:
condições locais, grau de compactação, heterogeneidade do solo, permeabilidade da camada
superficial, existência de vibrações nas proximidades, escavações vizinhas, etc.

38
Do ponto de vista prático, o ângulo de talude natural dá indicações do limite a partir do qual a
escavação deve ser obrigatoriamente ser escorada ou contida. Sendo desconsiderado seu
valor, corre-se o sério risco da ocorrência de escorregamentos e o soterramento de valas
escavadas e operários executando a escavação.

3.2 Contenções provisórias

São citados a seguir três métodos de contenções provisórias, consideradas flexíveis, podendo
ser ou não escoradas.

⇒ contenções de madeira (pranchas, estroncas, etc.)


⇒ contenções com perfis cravados e madeira (perfis “I”, “U” e “H” usados em associação com
pranchas, estroncas, etc)
⇒ contenções com perfis metálicos justapostos (perfis “I”, “U” e “H”)
⇒ contenções de concreto (estacas justapostas)

A contenção de madeira é geralmente usada em escavações manuais, de pequena


profundidade (de 1,5m a 2,5m), que se constitui no tipo mais empregado (Figura 2.4). No caso
de escavações mais profundas, o processo utilizando perfis metálicos cravados e pranchas
horizontais de madeira é a solução técnica e economicamente mais viável (Figura 2.5).
No caso de escavação de obras que não são valas, as estroncas são substituídas por estacas
inclinadas, denominadas contrafortes, conforme mostrado na Figura 2.6.

Figura 2.4 – Contenção escorada, confeccionada apenas com madeira.

39
Figura 2.5 – Contenção com perfis metálicos e pranchas horizontais de madeira.

Figura 2.6 – Escoramentos empregando-se estacas inclinadas (contrafortes).

A Figura 2.7 apresenta um tipo de contenção efetuada com parede de concreto atirantada,
denominada parede diafragma, enquanto que na Figura 2.8 mostra-se a foto de um tipo de
contenção definitiva executada com estacas-prancha.

Figura 2.7 – Sistema de contenção empregando-se parede diafragma (atirantada).


40
Figura 2.8 – Sistema de contenção empregando-se estacas-prancha.

Existem outros diversos tipos de contenções disponíveis no mercado, os quais não serão
apresentados aqui em razão de fugir de alguma forma do escopo deste trabalho. O mais
importante a partir deste ponto é apresentar os métodos de dimensionamento dos tipos mais
comuns de escoramentos de cavas de fundação. O leitor que se interessar por mais detalhes
sobre os tipos de contenção usados na engenharia de fundações deverá consultar a apostila
de Cardoso (2002) ou outra bibliografia relacionada ao assunto.

4.0 Dimensionamento dos Escoramentos de Cavas

As tensões ativas (σha) e passivas (σhp) numa profundidade genérica “i” são expressas por:
σ ha = σ (1)
z k a − 2c k a (1)

e
σ hp = σ (2)
z k p + 2c k p (2)

cujos parâmetros estão ilustradas na Figura 2.9, onde,


σz é a tensão vertical efetiva na profundidade z
ka = coeficiente de empuxo ativo [tg2 (45° - φ/2), para terrapleno horizontal]
kp = coeficiente de empuxo ativo [tg2 (45°+ φ/2), para terrapleno horizontal]
41
c = coesão do material
φ = ângulo de atrito interno do solo.

Figura 2.9 – Tensões ativas e passivas geradas numa escavação (adaptado de Alonso, 1983).

Observações:
i) se as superfícies forem horizontais, tem-se que kp = 1/ka
ii) não se dispondo de resultados de ensaios de laboratório, os valores de c e φ podem
ser estimados com base nos dados das Tabelas 2.1 e 2.2
iii) quando os escoramentos forem estanques, acrescentar às tensões σha e σhp as
correspondes pressões de água. Neste caso, o peso específico do solo será o
submerso, adotando-se γágua = 10kN/m3.
iv) o cálculo de σha e σhp empregando-se as equações (1) e (2) tem emplícito que o
ângulo de atrito solo-escoramento é nulo (δ = 0). Todavia, o valor de δ pode variar

desde 0 até , conforme mostrado na Tabela 2.3, que pode ser empregada nestes
3
casos.

Tabela 2.1 – Estimativa dos valores da coesão em função do tipo de solo – argilas (Alonso, 1983).
Argilas NSPT c (kPa)
Muito mole < 2 < 10
Mole 2a4 10 a 25
média 4a8 25 a 50
Rija 8 a 15 50 a 100
Muito rija 15 a 30 100 a 200
dura > 30 > 200

42
Tabela 2.2 – Estimativa dos valores de φ em função do tipo de solo – areias (Alonso, 1983).
Compacidade NSPT φ (°)
Areia
relativa, Dr
Fofa < 0,2 < 4 < 30
Muito compacta 0,2 a 0,4 4 a 10 30 a 35
Medianamente compacta 0,4 a 0,6 10 a 30 35 a 40
Compacta 0,6 a 0,8 30 a 50 40 a 45
Muito compacta > 0,8 > 50 > 45

Tabela 2.3 – Valores sugeridos de ka e kp em função de φ e do atrito solo–escoramento (Alonso, 1983).

Dispondo-se dos diagramas de tensões ativas e passivas, o cálculo clássico de escoramentos


é feito conforme será exposto nos itens seguintes, considerando-se separadamente três
situações: i) escoramentos em balanço; ii) escoramentos com uma linha de escoras e iii)
escoramentos com duas ou mais linhas de escoras. Vejamos cada uma individualmente.

4.1 Escoramentos em balanço

A Figura 2.10 ilustra esta situação. Neste caso, têm-se as seguintes condições:

i) Ep2 é a resultante do diagrama passivo p5 a p6


ii) Quando p1 for negativo (parcela 2cka > qka), recomenda-se adotar p1 = 0 (Figura 2.10c)

43
iii) Se o escoramento abaixo da escavação for descontínuo, as tensões ativas deverão ser
calculadas a favor da segurança (considerando contínuo), porém as tensões passivas
devem ser consideradas atuando numa extensão igual a três vezes a largura da mesa.
3b
Ou seja, deve-se multiplicar as tensões passivas por ≤ 1 , assimilando-o a um
e
escoramento contínuo equivalente (ver Figura 2.11).

Figura 2.10 – Escoramento em balanço (adaptado de Alonso, 1983).

Figura 2.11 – Escoramento descontínuo transformado num contínuo equivalente (Alonso, 1983).

Baseado no diagrama de tensões horizontais mostrado na Figura 2.10c, faz-se ∑M = 0 em

relação ao ponto O (Figura 2.10a), obtendo-se assim o valor de z (profundidade a partir da


escavação) do ponto de giro. Finalmente, calcula-se o valor da ficha (f) necessária à
estabilidade da escavação empregando-se a seguinte expressão:

f = 1,2 ⋅ z (3)

44
4.2 Escoramentos com uma linha de escoras

Os diagramas de tensões ativas e passivas são calculados de maneira análoga ao caso


anterior, considerando-se inclusive as observações (i) e (ii). Todavia, neste caso, o ponto de
giro admite-se coincidir com a posição da escora R, conforme mostrado na Figura 2.12. No
presente caso, de acordo com a Figura 2.12, observa-se que existem duas incógnitas, que são
a reação na estronca, R, e a ficha, f. Daí é necessário um sistema de duas equações para
estabelecer o equilíbrio do escoramento:
i) soma das forças horizontais é nula

∑H = 0 ⇒ R + Ep − Ea = 0 (4)

ii) soma dos momentos em torno de ponto de aplicação da reação R é nula

∑M = 0 ⇒ Ep ⋅ x 2 + Ea ⋅ x1 = 0 (5)

em que Ep é a resultante da tensões passivas na profundidade z, e Ea é a resultante das


tensões ativas desde o nível do terreno até a profundidade z.

Figura 2.12 – Esquema de escoramento realizado com uma linha de escora (Alonso, 1983).

A resolução das Equações 4 e 5 permitem calcular R e a profundidade de equilíbrio z. Da


mesma forma que o caso de escoramento em balanço, a ficha a adotar será igual a 1,2xz.

4.3 Escoramentos com duas ou mais linhas de escoras

Será apresentada para o caso de escoramentos com duas ou mais linhas de escoras, a
solução aproximada de Terzaghi e Peck. Este caso surge quando a escavação deverá atingir
profundidades relativamente grandes (de 3m ou mais).
De acordo com Terzaghi e Peck, nesta situação, tensão ativa pode ser calculada conforme
mostrado esquematicamente nas Figuras 2.13a e 2.13b, casos de inexistência de sobrecarga
na superfície do terreno. Havendo sobrecarga, será adicionada aos diagramas da Figura 2.13 a
parcela correspondente, qka.

45
Figura 2.13 – Esquema de escoramento realizado com duas ou mais linhas de escoras (Alonso, 1983).

Para efetuar o cálculo das reações nas estroncas, o procedimento consiste em subdividir-se o
escoramento em diversas vigas isostáticas, conforme mostrado na Figura 2.14. Do ponto de
vista prático, calcula-se a reação E como se a ficha fosse nula e em seguida adota-se para a
mesma um comprimento da ordem de grandeza do último vão.
Cabe ressaltar, no entanto, que os cálculos aproximados aqui apresentados são válidos na
consideração de não ocorrência de risco de ruptura de fundo ou de estabilidade geral da
escavação, o que se recomenda ser sempre verificado. Essa observação é pertinente inclusive
aos casos dos itens 4.1 e 4.2.

Figura 2.14 – Procedimento para cálculo das reações em múltiplas estroncas (Alonso, 1983).

46
5.0 Exemplos de Aplicação
1) Calcular a ficha necessária para que a cortina indicada na figura seguinte suporte a escavação.

Solução:

Coeficientes de empuxo
Solo 1: ka = tg2 (45 – 15/2) = 0,59
Solo 2: ka = tg2 (45 – 35/2) = 0,27 kp = 3,7

Cálculo das tensões horizontais ativas


Z = 0 m ⇒ σha = 10 x 0,59 -2 x 10 0,59 = -9,5 kN/m Adotar σha = 0,0 kN/m2 (só p/ escoramento)
Z = 3,0 m ⇒ σha = (10 + 3 x 17) x 0,59 - 2 x 10 0,59 = 20,6 kN/m2 (φ, c, ka do solo 1)
Z = 3,0 m ⇒ σha = (10 + 3 x 17) x 0,27 = 16,5 kN/m2 (φ, c, ka do solo 2)
Z = 3 + z⇒ σha = 16,5 + (19 x z) x 0,27 = 16,5 + 5,1z kN/m2

Cálculo das tensões horizontais passivas


Z = 3,0 m ⇒ σhp = 0 kN/m2
Z = 3 + z ⇒ σhp = (19 x z)3,7 = 70,3 z kN/m2

Tensões horizontais resultantes:


Z = 3,0 m ⇒ ∆σh = σhp - σha = -16,5 kN/m2
Z = 3 + z ⇒ ∆σh = 70,3z – (16,5 – 5,1z) ≅ 65z – 16,5 kN/m2

Ponto onde a tensão resultante se anula:


z = 16,5/65 ≅ 0,25 m

O diagrama de tensões horizontais resultante é o seguinte:

∑M =0 ⇒ 30,8 (1,25 + x) +2,1 (0,17 + x) – 32,5 x2. x/3 = 0


10,8 x3 - 32,9 x -38,9 = 0 resolvendo-se a equção do 3º grau, encontra-se:
X = 2,2 m ⇒ z = 2,2 + 0,25 = 2,45 m
Valor da ficha: f = 1,2 . z = 1,2 . 2,45 = 2,95 m ⇒ adotar f = 3,0 m
47
2) Calcular a ficha e a reação (por metro de cortina) na estronca no escoramento contínuo indicado a
seguir. Adotar δ = 0 e dispensar a verificação da estabilidade global.

Solução:

Coeficientes de empuxo
Solo 1: ka = tg2 (45 – 10) = 0,49
Solo 2: ka = tg2 (45 – 15) = 0,33 kp = 3,0

Cálculo das tensões horizontais ativas


Z = 0 m ⇒ σha = 0,49 x 10 -2 x 10 0,49 = -9,5 kN/m Adotar σha = 0,0 kN/m2
Z = 2,5 m ⇒ σha = (10 + 2,5 x 17) x 0,49 - 2 x 10 0,49 = 11,7 kN/m2 (φ, c, ka do solo 1)
Z = 2,5 m ⇒ σha = (10 + 2,5 x 17) x 0,33 - 2 x 0 0,33 = 17,3 kN/m2 (φ, c, ka do solo 2)
2
Z = 4,0 m ⇒ σha = 17,3 + (1,5 x 19) x 0,33 ≅ 26,5 kN/m
Z = 4 + z⇒ σha = 26,7 + (11 x z) x 0,33 = 26,5 + 3,6z kN/m2 OBS.: (γsub = γsat - γágua)

Cálculo das tensões horizontais passivas


Z = 4,0 m ⇒ σhp = 0 kN/m2
Z = 4 + z ⇒ σhp = (11 x z)3,0 = 33 z kN/m2

Tensões horizontais resultantes:


Z = 4,0 m ⇒ ∆σh = σhp - σha = -26,5 kN/m2
Z = 4 + z ⇒ ∆σh = 33 z – (26,5 + 3,6z) kN/m2 = 29,4z – 26,5 kN/m2

Ponto onde a tensão resultante se anula:

z = 26,5/29,4 = 0,90 m

O diagrama de tensões horizontais resultante é o seguinte:

48
Cálculos dos empuxos = áreas dos diversos trechos do diagrama:

11,7 x 2,5
RA = = 14,6 kN m
2

R B = 17,3 x1,5 ≅ 26 kN m

26,7 − 17,3
RC = 1,5 = 7,1 kN m
2
26,7 x0,9
RD = = 12,0 kN m
2
29,4 x
RE = x = 14,7 x 2 kN m
2

∑M =0 (em relação ao nível da escora)


14,7 x2 x (3,9+0,67x) –14,6 x 0,67 – 26 x 2,25 – 7,1 x 2,5 – 12 x 3,3 = 0
9,8 x3 + 57,7x2 –125,6 = 0 resolvendo-se a equção do 3º grau, encontra-se:
x = 1,3 m ⇒ z = 1,3 + 0,9 = 2,2m
Valor da ficha: f = 1,2 x z = 1,2 x 2,2 = 2,64 m ⇒ adotar f = 2,65 m

∑H =0 ⇒ H + 14,7 x2 – (14,6 + 26 + 7,1 + 12) = 0


H + 14,7 x2 – 59,7 = 0
Como x = 1,3 m ⇒ H = 34,9 kN/m.

49
6.0 Bibliografia Consultada

1) Almeida, M.S.S. (1996), Aterros Sobre Solos Moles: da Concepção à Avaliação do


Desempenho, Editora da UFRJ, 216p.
2) Alonso, U. R. (1983), Exercícios de Fundações, Editor Edgard Blücher Ltda., São Paulo.
3) Alonso, U.R. (1989), Dimensionamento de Fundações Profundas, Ed. Edgar
Blücher Ltda.
4) Alonso, U.R. (1991), Previsão e Controle das Fundações, Ed. Edgar Blücher
Ltda.
5) Barata, F.E. (1984), Propriedades Mecânicas dos Solos. Uma Introdução ao Projeto
de Fundações, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
6) Caputo, H.P. (1988 e 1987), Mecânica dos Solos e suas Aplicações, Vol. 1 e 2, 6ª
Edição, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
7) Cardoso, F.F. (2002), Sistemas de Contenção, EPUSP, Tecnologia da Construção de
Edifícios I, Apostila.
8) Das, B.M. (2000), Fundamentals of Geotechnical Engineering, Brooks/Cole.
9) Fang, H.-Y. (1991), Foundation Engineering Handbook, Van Nostrand Reinhold.
10) Gaioto, N. (1983), Maciços e Obras de Terra, Notas de Aula, EESC/USP.
11) Hachich, W., Falconi, F.F., Saes, J.L., Frota, R.G.Q., Carvalho, C.S.,
Niyama, S. (1998), Fundações - Teoria e Prática, 2a Edição, Editora Pini Ltda.
12) Lambe, T.W., and Whitman, R.V. (1979), Soil Mechanics, SI Version, John Wiley &
Sons.
13) Machado, S. L. e Machado, F. C. (2002), Apostila de Mecânica dos Solos, Escola
Politécnica, UPBA.
14) Moliterno, A. (1994), Caderno de Muros de Arrimo, 2ª Edição, Ed. Edgar Blücher
Ltda.
15) Moraes, M. da Cunha, (1976), Estruturas de Fundações, McGraww-Hill Book
Company do Brasil, 172p.
16) NBR 6122 (1996), Projeto e Execução de Fundações, ABNT, 33p.
17) Poulos, H.G. and Davies, E.H. (1980), Pile Foundations Analysis and Design, John
Wiley, New York.
18) Simons, N. E. & Menziens, B. K., (1981), Introdução à Engenharia de Fundações,
Tradução de Luciano Moraes Jr. e Esther Horovitz de Beermann, Editora Interciência,
Rio de Janeiro, 199p.
19) Terzaghi, K. & Peck, R.B. (1967), Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed.,
John Willey & Sons, Inc., New York.

50
20) Vargas, M. (1977), Introdução à Mecânica dos Solos, Ed. McGraw-Hill do Brasil, Ltda,
São Paulo.
21) Velloso, D. A., Lopes, F. R. (1996), Fundações - Critérios de Projeto - Investigações do
Subsolo, Fundações Superficiais, Volume 1, COPPE/UFRJ.

51
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES

Disciplina: FUNDAÇÕES Código: 101134


Professor: Erinaldo Hilário Cavalcante

Notas de Aula

REBAIXAMENTO DO NÍVEL D´ÁGUA


Capítulo 3 – Aspectos Gerais e Dimensionamento

Aracaju, maio de 2005


ÍNDICE
1.0 Introdução 54
2.0 Conceitos Básicos 54
3.0 Aspectos Tecnológicos da Estabilidade das Escavações 55
3.1 Ângulo de talude natural 55
3.2 Contenções provisórias 56
3.2.1 Principais limitações do sistema de poços filtrantes 57
3.2.2 Cálculo de uma estação de bombeamento com poços filtrantes 57
3.2.3 Principais efeitos do rebaixamento do lençol freático 60
3.2.4 Recarga do aqüífero do terreno vizinho 63
4.0 Exemplo de Aplicação 67
5.0 Bibliografia Consultada 68

53
1.0 Introdução

A presença do lençol freático acima das cotas em que estruturas de fundações (de edifícios, de
pontes, de barragens, etc.) deverão ser construídas pode trazer sérios inconvenientes ao
andamento normal da obra. Por exemplo, a existência d´água na cava de uma fundação não só
dificulta sobremaneira a execução do serviço como pode alterar as condições de estabilidade
do maciço adjacente e do fundo da escavação, resultando em desmoronamento do talude.
Além disso, a ação da água exige que escoramentos mais resistentes sejam projetados para
as paredes das cavas, uma vez que maiores são os empuxos a serem contidos.
Para que a obra não sofra os efeitos instabilizadores da água, tornam-se necessários estudos
de drenagem e rebaixamento do lençol freático para cotas abaixo do fundo das escavações.

2.0 Conceitos Básicos

Os lençóis aqüíferos podem ser livres ou artesianos se a água encontra-se confinada entre
camadas impermeáveis ou semipermeáveis, conforme mostrado na Figura 3.1. O nível d´água
atingido em um poço artesiano define o nível piezométrico do aqüífero artesiano (efeito da
pressão a que a água está submetida), enquanto que em um poço de um aqüífero livre, a água
se eleva apenas até o nível freático. Dependendo da pressão artesiana a que a água está
submetida, através de um poço ela pode se elevar acima da superfície do terreno. Quando
isso acontece dá-se o nome de poço “surgente”.

Figura 3.1 – Tipos de aquíferos (Caputo, 1977).


54
Casos especiais de aqüíferos livres são os denominados aqüíferos suspensos, que existem
quando a massa d´água é suportada por uma camada impermeável situada acima do nível
freático local. Os aqüíferos suspensos são alimentados pela água que infiltra no terreno
sempre que ocorre precipitação.

3.0 Principais Processos de Rebaixamento

Na prática, são empregados basicamente dois processos de rebaixamento de nível d´água:


i) Bombeamento direto da escavação
ii) Sistema de poços filtrantes

3.1 Bombeamento direto da escavação

Neste processo, o esgotamento da água do interior de uma escavação é feito por meio de
bombas centrífugas (ver Figura 3.2). A água é conduzida através de valetas para dentro de um
poço executado abaixo da escavação, e em seguida é recalcada para fora da zona de trabalho,
conforme mostrado no esquema da Figura 3.2 (à direita). Cabe ressaltar que este processo só
deve ser empregado em obras de pequeno porte, tendo em vista os seguintes motivos:

i) carreamento de partículas finas do solo pela água, podendo provocar recalques das
fundações vizinhas, conforme mostrado na Figura 3.3a;
ii) fluxo d´água para o interior da escavação através da base, podendo provocar o
fenômeno da areia movediça (afofamento do solo) e ruptura de fundo (Figura 3.3b).

ou
Figura 3.2 – Sistemas de rebaixamento de nível d´agua por bombeamento(Caputo, 1977).

55
(a) (b)
3.3 – Efeitos do rebaixamento de nível d´agua por bombeamento: b) carreamento de finos; b)
afofamento do solo motivado por subpressão elevada (Caputo, 1977).

3.2 Sistema de poços filtrantes (wellpoints)

Neste caso, o rebaixamento é feito por meio de poços situados no aquífero (ver Figura 3.4).
Este sistema apresenta a vantagem de possibilitar o rebaixamento de toda a área de trabalho
de interesse, eliminando os inconvenientes existentes quando do uso do sistema de
bombeamento, apresentado no item anterior. A Figura 3.4a apresenta, em planta, um exemplo
típico de um sistema de rebaixamento com ponteiras filtrantes, enquanto na Figura 3.4b
mostra-se uma seção transversal.

(a) (b)
Figura 3.4 – Sistema de rebaixamento de nível d´agua com poços filtrantes: a) planta; b) seção
transversal típica (Caputo, 1977).

Neste processo, como é grande o número de ponteiras filtrantes distribuídas pela área, o
rebaixamento do nível d´água é conseguido de maneira rápida e uniforme. É possível com
esse sistema rebaixar até 9 metros de coluna d´água numa área. Todavia, para rebaixamentos
maiores de 7 metros, é recomendado que o sistema seja projetado em dois estágios, conforme
mostrado na Figura 3.5, não sendo recomendado um maior número de estágios.

56
Figura 3.5 – Sistema de rebaixamento de nível d´agua com poços filtrantes em estágios (Caputo, 1977).

3.2.1 Principais limitações do sistema de poços filtrantes

Com relação à natureza do terreno, o sistema de poços filtrantes é aplicável eficientemente aos
solos permeáveis, com coeficiente de permeabilidade de no mínimo 1 x 10-3 cm/s e diâmetro
efeito do solo (Φefet) acima de 0,1mm. Em solos argilosos, o processo poderá ser empregado,
desde que se envolva o tubo coletor com uma coluna de areia e pedregulho, formando assim
um dreno vertical.

3.2.2 Cálculo de uma estação de bombeamento com poços filtrantes

Quando se tem em funcionamento, após certo tempo, uma instalação de rebaixamento do


N.A., a experiência evidencia que se cria em torno de cada filtro uma zona rebaixada de forma
cônica, conforme mostrado na Figura 3.6. O rebaixamento máximo depende de alguns fatores:
do número de ponteiras, de seu espaçamento, do terreno, da descarga da bomba, etc.

Figura 3.6 – Forma cônica obtida com o sistema de rebaixamento com poços filtrantes (Caputo, 1977).

57
Para o dimensionamento do rebaixamento, é preciso que se defina se este será em poço único
(por exemplo, Figura 3.6) ou se com um sistema de poços, conforme mostrado nas Figuras 3.4
e 3.5.

a) Cálculo para a situação de poço único

De acordo com os elementos mostrados na Figura 3.6, tem-se para a velocidade da água e
para a descarga do poço as seguintes equações 1 e 2:
dy
vx = k (1)
dx
dy
q = 2π .xy.k (2)
dx
Separando-se as variáveis na equação 2, vem:
q dx
ydy = (3)
2πk x
Integrando a e1uação 3 e simplificando os termos, tem-se:
q
y2 = ln x + C (4)
πk
onde C é a constante de integração, que pode ser determinada a partir da observação de que
para x =r (raio do poço), tem-se y = h, que é a altura do nível da água no poço. Dessa forma,
obtém-se:
q
C = h2 − ln r (5)
πk
Substituindo-se C pelo valor encontrado, tem-se:

q q
y2 = ln x + h 2 − ln r (6)
πk πk

Da equação 6, obtém-se, finalmente a equação 7:

q x
y2 − h2 = ln (7)
πk r
que é a equação meridiana do rebaixamento no caso de único poço.

Se na equação 7 for igualado y = H, x assume o valor de R, ou seja o raio de influência do


poço, ou seja:
q R
H 2 − h2 = ln (8)
πk r

58
Da equação 8, obtém-se:

q R
h= H2 − ln (9)
πk r
De onde, o rebaixamento máximo será igual a:

q R
H −h = H − H 2 − ln (10)
πk r
Portanto, a descarga do poço, obtida da equação 8, será obtida da equação 11:

πk ( H 2 − h 2 )
q= (11)
R
ln
r
onde R é o raio de influência do poço, calculado pela fórmula de Sichard:

R = 3000 ( H − hw ) k (12)

Em que k é o coeficiente de permeabilidade do solo, em m/s e H e hw expressos em metros.


No caso do poço não atingir a camada impermeável, admite-se que H corresponde à distância
entre a superfície do nível d´água e o fundo do poço, conforme Figura 3.7.

Figura 3.7 – Rebaixamento com poço onde a ponta filtrante está acima da camada impermeável.

Portanto, para um determinado poço de raio “r”, há uma descarga e um valor de rebaixamento
máximo. A uma distância x qualquer do poço, o valor do rebaixamento será dado pela seguinte
equação:

q x
H − y = H − h2 − ln (13)
πk r

b) Cálculo para a situação de sistema de poços ou de ponteiras

De um ponto de vista prático, quando se deseja rebaixar uma quantia (H – y), numa

59
determinada área A (ver Figura 3.8), pode-se assimilar essa área à de um círculo de raio rm, ou
seja:

S
A = a ⋅ b = πrm2 ⇒ rm = (14)
π

O raio de influência do rebaixamento, R, que é a distância a partir do eixo do poço até onde se
admite que a influência do rebaixamento cessa, pode ser calculado a partir da fórmula de
Sichard, conforme mostrado na equação 12.

Figura 3.8 – Área de um rebaixamento com sistema de ponteiras filtrantes.

Para o cálculo da vazão total do sistema, Q, usa-se a seguinte equação:

Q=
(
kπ H 2 − hw2 ) (15)
R
ln
rm
A máxima vazão individual de cada ponteira pode ser calculada pela regra de Sichard:

2πrhw k
qmáx = (16)
15
onde r é o raio da ponteira adotada, em metros.

Para o cálculo do número de ponteiras necessárias para efetuar o rebaixamento (n), é


aconselhável majorar-se a vazão total calculada no passo “c” em 25%, ou seja:

1,25Q
n= (17)
qmáx

3.2.3 Principais efeitos do rebaixamento do lençol freático

Quando os devidos cuidados não são tomados, um rebaixamento pode provocar:


i) diminuição na umidade média dos terrenos em torno da área. Os jardins perdem a
sua exuberância pela queda no teor de umidade do solo;
60
ii) a vitalidade da vegetação de grande porte que se servem da água do lençol;
iii) o adensamento do terreno pela diminuição da pressão neutra do sub-solo. Mais
popularmente conhecido como afundamento (recalque), o terreno cede
verticalmente, podendo afundar jardins. Além disso, tanques de peixes e espelhos
d'água podem rachar, e o pavimento da rua pode ceder, abrindo crateras, onde
veículos podem cair;
iv) afundamento do piso da garagem do prédio, mesmo que o edifício esteja distante do
local da obra.

Dependendo do tipo de solo e do tipo de fundação empregada no prédio, podem ocorrer


recalques diferenciais. Como conseqüências desses recalques, destacam-se o aparecimento
de trincas que antes não existiam, ligeira inclinação do prédio, destacamento de azulejos,
destacamento de placas de revestimento de pisos, trincas em vidros das janelas, janelas de
correr que começam a engripar, portas que não fecham direito, vazamento (quase
imperceptível) de gás, vazamento de água, etc.

Nas Figuras 3.9 a 3.12 são mostradas fotos de sistemas de rebaixamento de nível d´água em
operação em uma obra na cidade de Aracaju. É importante, para melhor compreensão,
descrever os principais elementos que compõem um sistema de rebaixamento com ponteiras
filtrantes.

a) ponteira filtrante: tubo com ponta perfurada (drenante), responsável pela condução da
água do solo até os tubos coletores (ver Figuras 3.9; 3.10);

b) tubo coletor principal: responsável pela coleta da água advinda das ponteiras, através
dos coletores secundários, e pela descarga para local escolhido (ver Figuras 3.9; 3.10);

c) tubo coletor secundário ou giro: responsável pelo transporte da água desde as ponteiras
até o tubo coletor principal (ver Figuras 3.9; 3.10; 3.11 e 3.12);

d) central de sucção: bomba de sucção capaz de aplicar o vácuo necessário para recalcar
a água à superfície, através das ponteiras filtrantes.

61
Figura 3.9 – Sistema rebaixamento com sistema de ponteiras filtrantes em operação.

Figura 3.10 – Detalhe do operário conectando uma ponteira filtrante ao coletor secundário.

62
Figura 3.11 – Detalhes dos coletores do sistema de ponteiras filtrantes.

(a) (b)
Figura 3.12 – Central de sucção usada para o sistema de ponteiras filtrantes (a); detalhe da escavação
e do coletor principal alimentado pelos vários coletores secundários (b).

3.2.4 Recarga do aqüífero do terreno vizinho

A recarga do aqüífero freático é uma técnica que pode ser usada para evitar que o
rebaixamento realizado em um terreno provoque danos em uma obra vizinha, principalmente
em razão dos recalques que podem acontecer pelo aumento das tensões efetivas (ver Figura
3.13).
63
Figura 3.13 – Recarga de aqüífero.

A vazão a ser injetada por cada poço (Qi) para recarregar o aqüífero vizinho, poderá ser
estimada a partir da equação para a linha de poços com fonte linear, conforme segue:

Qw =
( )
kπ H 2 − h w2
(18)
2L 1 a
+ ln
a π 2πrw
Logo, a contribuição de cada poço será:

Qi = Q w (para L = L) - Q w (para L = L0 ) , conforme mostrado na Figura 3.14.

Figura 3.14 – Detalhes de projeto de recarga de aquífero.


64
Portanto, a vazão individual será:

Qi =
( )
k H 2 − h w2 (L0 − L )
(19)
2
2 L0 L 1 a  a1 a 
+ (L0 + L ) ln  +  ln 
a  π 2πrw  2  π 2πrw 

onde o valor de L0 correspondente à vazão sem recarga será adotado como da ordem do de R,
mostrado na equação 12. Isto é:

L0 = R = 3000 ( H − hc ) k (20)

A altura de água a ser aplicada em cada poço (hi), poderá ser estimada com base no caso de
vazão constante, ou seja:

2
 hf  h 
Qi ln  + 1 +  f 
 2rw   2rw 
hi > (21)
2πkh f

O valor de hf , correspondente ao trecho perfurado, de injeção, do tubo do poço, deve permitir a


saída da vazão Qi. Ou seja, será estimado com base em equações já conhecidas (22 e 23),
fazendo-se Qw = Qi.

Qw
hf ≥ + ∆h (22)
V máx αβπ d p

em que o valor de ∆h será:

Qw Qw2
∆h ≅ + (23)
n (CS 0 ) 2 2 g
h f k´ f
nd
onde,

k´ = coeficiente de permeabilidade do material do filtro;


nf dp 
a relação = f   , obtida com auxílio do ábaco da Figura 3.15;

nd  dw 
C = coeficiente de vazão do orifício, que varia de 0,6 a 1,0;
g = aceleração da gravidade;
S0 = αβπd p (h f − ∆h) = área perfurada disponível;

65
α = área perfurada tela que recobre, eventualmente, o tubo perfurado, por unidade de área das
mesma (≅ 50%);
β = área perfurada do tubo perfurado, por unidade de área do mesmo (≅ 10%);
Vmáx – velocidade de percolação no trecho filtrante do poço ≅ de 5 a 8 cm/s;
dw = diâmetro do poço; e
dp = diâmetro do tubo do poço.

Figura 3.15 – Ábaco para obtenção da relação nf/nd em função de dp/dw.

66
4.0 Exemplo de Aplicação

EXEMPLO 1:
Calcular um sistema de rebaixamento com
os dados abaixo:
S = 1000 m2 (25 m x 40 m)
H = 20 m
H – hw = 7 m (y = hw)
r = 0,02 m
k = 1 x 10-4 m/s

Solução:

a) Raio médio

1000
rm = = 17,8m
π
b) Raio de influência do rebaixamento

R = 3000 ⋅ 7 ⋅ 10−4 = 210m


c) Descarga total

Q=
(
10 −4 π 20 2 − 132)= 0,004 m 3 s
210
ln
17,8
d) Para o cálculo das bombas, aconselha-se aumentar em 25% a vazão
Q = 0,004 ⋅1,25 = 0,005 m3 s = 18 m3 h
e) Descarga máxima de cada poço ou ponteira

2π ⋅ 0,02 ⋅1 ⋅ 10 −4
qmáx = = 0,000084 m 3 s
15
adotando-se hw = 1m.

f) Numero de poços necessários ao sistema de rebaixamento


0,005
n= = 60 poços ou ponteiras
0,000084
g) Espaçamento entre ponteiras
2(a + b) 2(40 + 25)
e= = = 2,16m
n 60
Ou seja, será colocada uma ponteira a cada 2,16 metros, aproximadamente.
67
5.0 Bibliografia Consultada

1) Almeida, M.S.S. (1996), Aterros Sobre Solos Moles: da Concepção à Avaliação do


Desempenho, Editora da UFRJ, 216p.
2) Alonso, U. R. (1983), Exercícios de Fundações, Editor Edgard Blücher Ltda., São Paulo.
3) Alonso, U.R. (1989), Dimensionamento de Fundações Profundas, Ed. Edgar
Blücher Ltda.
4) Alonso, U.R. (1991), Previsão e Controle das Fundações, Ed. Edgar Blücher
Ltda.
5) Barata, F.E. (1984), Propriedades Mecânicas dos Solos. Uma Introdução ao Projeto
de Fundações, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
6) Caputo, H.P. (1988 e 1987), Mecânica dos Solos e suas Aplicações, Vol. 1 e 2, 6ª
Edição, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
7) Cardoso, F.F. (2002), Sistemas de Contenção, EPUSP, Tecnologia da Construção de
Edifícios I, Apostila.
8) Das, B.M. (2000), Fundamentals of Geotechnical Engineering, Brooks/Cole.
9) Fang, H.-Y. (1991), Foundation Engineering Handbook, Van Nostrand Reinhold.
10) Gaioto, N. (1983), Maciços e Obras de Terra, Notas de Aula, EESC/USP.
11) Hachich, W., Falconi, F.F., Saes, J.L., Frota, R.G.Q., Carvalho, C.S.,
Niyama, S. (1998), Fundações - Teoria e Prática, 2a Edição, Editora Pini Ltda.
12) Lambe, T.W., and Whitman, R.V. (1979), Soil Mechanics, SI Version, John Wiley &
Sons.
13) Machado, S. L. e Machado, F. C. (2002), Apostila de Mecânica dos Solos, Escola
Politécnica, UPBA.
14) Moliterno, A. (1994), Caderno de Muros de Arrimo, 2ª Edição, Ed. Edgar Blücher
Ltda.
15) Moraes, M. da Cunha, (1976), Estruturas de Fundações, McGraww-Hill Book
Company do Brasil, 172p.
16) NBR 6122 (1996), Projeto e Execução de Fundações, ABNT, 33p.
17) Poulos, H.G. and Davies, E.H. (1980), Pile Foundations Analysis and Design, John
Wiley, New York.
18) Simons, N. E. & Menziens, B. K., (1981), Introdução à Engenharia de Fundações,
Tradução de Luciano Moraes Jr. e Esther Horovitz de Beermann, Editora Interciência,
Rio de Janeiro, 199p.
19) Terzaghi, K. & Peck, R.B. (1967), Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed.,
John Willey & Sons, Inc., New York.

68
20) Vargas, M. (1977), Introdução à Mecânica dos Solos, Ed. McGraw-Hill do Brasil, Ltda,
São Paulo.
21) Velloso, D. A., Lopes, F. R. (1996), Fundações - Critérios de Projeto - Investigações do
Subsolo, Fundações Superficiais, Volume 1, COPPE/UFRJ.

69
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES

Disciplina: FUNDAÇÕES Código: 101134


Professor: Erinaldo Hilário Cavalcante

Notas de Aula

FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS
Capítulo 4 – Capacidade de Carga

Aracaju, maio de 2005


ÍNDICE
1.0 Definição 73
2.0 Relevância e Normalização das Fundações 73
2.1 Principais Normas Associadas a Fundações 73
3.0 Entidades Nacionais e Internacionais Ligadas à Engenharia de Fundações 73
4.0 Tipos de Fundações 74
4.1 Tipos de Fundações Superficiais, Rasas ou Diretas 74
4.2 Tipos de Fundações Profundas 75
5.0 Elementos Necessários ao Projeto de Fundações 76
5.1 Ações nas Fundações 76
6.0 Requisitos de um Projeto de Fundações 77
7.0 Fatores/Coeficientes de Segurança (FS) 78
7.1 Fator de Segurança Global 78
7.2 Fator de Segurança Parcial 78
8.0 Deslocamentos em Estruturas e Danos Provocados 79
8.1 Definição de Deslocamentos e Deformações 79
8.2 Recalques Totais Limites 80
8.3 Distorções Angulares e Danos Associados 81
9.0 CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS 81
9.1 Mecanismos de Ruptura em Função do Solo 82
9.1.1 Campos de Deslocamentos das Rupturas 83
9.1.2 Fatores que Afetam o Modo de Ruptura 83
9.1.3 Tensões de Contato 84
9.2 FORMULAÇÃO DE TERZAGHI 84
10.0 DESENVOLVIMENTO DA EQUAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA 85
10.1 Casos Particulares 86
10.2 Superposição de Efeitos 86
10.2.1 SOLUÇÃO DE TERZAGHI PARA O CASO DE SOLOS FOFOS E MOLES 87
(localizada)
10.3 A SOLUÇÃO DE MEYERHOF (1963) 89
10.4 A SOLUÇÃO DE BRINCH HANSEN (1970) 90
10.5 A SOLUÇÃO DE VÉSIC (1973; 1975) 90
10.6 Influência do Lençol Freático 91
10.7 Avaliação dos Métodos 93
11.0 MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS 94

71
11.1 Métodos Baseados no SPT 94
11.2 Métodos Baseados no CPT 95
12.0 MÉTODOS EMPÍRICOS 96
12.1 Recomendações Gerais 96
12.1.1 Solos Granulares 96
12.1.2 Construções Sensíveis a Recalques 97
12.1.3 Aumento da Tensão Admissível com a Profundidade 97
12.1.4 Solos Argilosos 97
13.0 PROVAS DE CARGA SOBRE PLACAS – INTERPRETAÇÃO E 97
EXTRAPOLAÇÃO
13.1 Extrapolação dos Resultados para a Sapata 98
14.0 Fundação em Solos Não Saturados e Colapsíveis 99
15.0 Influência do Nível D´água em Areias 99
16.0 Estimativas de Parâmetros de Resistência e Peso Específico 100
17.0 Exercícios Propostos 102
17.1 Questionário 102
17.2 Exemplo Prático 104
18.0 Bibliografia Consultada 106

72
1.0 Definição

Entende-se por Fundação o conjunto formado pelo elemento estrutural mais o maciço de solo,
projetado para suportar as cargas de uma edificação. O elemento estrutural é responsável pela
transmissão das cargas da superestrutura ao solo sobre o qual se apóia. Uma estrutura de
fundação adequadamente projetada é aquela que transfere as cargas sem sobrecarregar
excessivamente o solo. A transferência de esforços (cargas ou tensões) além do que o solo
pode resistir resultará em recalques excessivos ou até mesmo a ruptura do solo, por
cisalhamento. Portanto, os engenheiros geotécnico e estrutural deverão avaliar a capacidade
de carga do solo.

2.0 Relevância e Normalização das Fundações


• Corresponde de 4% a 10% do custo total de uma edificação
• Não existe obra civil sem fundação
• As condições do solo não podem ser escolhidas – são as que existem no local
• Não dá para padronizar uma solução – cada obra difere das outras

2.1 Principais Normas Associadas a Fundações

ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS


NBR 6122 (1986) – Projeto e Execução de Fundações
NBR 6489 (1984) – Prova de Carga Direta Sobre Terreno de Fundação
NBR 6121/MB3472 – Estacas - Prova de Carga Estática
NBR 13208 (1994) – Estacas – Ensaio de Carregamento Dinâmico
NBR 8681 (1984) – Ações e Segurança nas Estruturas
NBR 6118 – Projeto e Execução de Obras de Concreto Armado

3.0 Entidades Nacionais e Internacionais Ligadas à Engenharia de Fundações

i) ABMS – Associação Brasileira de Mecânica dos Solos e Engenharia de Geotécnica


(www.abms.com.br)
ii) ABEF – Associação Brasileira de Empresas de Engenharia de Fundações
(www.abef.org.br)
iii) ISSMFE – International Society of Soil Mechanics and Geotechnical Engineering
(www.issmge.org)

73
4.0 Tipos de Fundações • Superficiais, rasas ou diretas
• Profundas

A diferença de acordo com a profundidade de embutimento do elemento no solo

Figura 4.1 – Mecanismos de ruptura em fundações.

A diferença de acordo com o mecanismo de ruptura


Superficial: mecanismo surge na superfície do terreno
Profunda: mecanismo não surge na superfície do terreno

4.1 Tipos de Fundações Superficiais, Rasas ou Diretas


Bloco
Sapata corrida
Viga de fundação
Grelha
Sapata associada
Radier

Figura 4.2 – Tipos de fundações superficiais.


74
4.2 Tipos de Fundações Profundas

Estaca

Tubulão

Caixão

Figura 4.3 – Tipos de fundações profundas.


Fundações Mistas

Estaca T

Estapata

Radier sobre
estacas

Radier sobre
Figura 4.4 – Tipos de fundações mistas: (a) estaca “T”; (b) estapata; (c)
tubulões radier sobre estacas; (d) radier sobre tubulões.

Principais diferenças entre blocos e sapatas

Figura 4.5 – Principais diferenças entre um bloco e uma sapata.

maior altura pequena altura


trabalha basicamente à compressão trabalha à flexão
concreto simples (em geral) concreto armado para resistir esforços
de tração e cisalhantes

75
5.0 Elementos Necessários ao Projeto de Fundações
i) Topografia da área
Levantamento topográfico
Dados sobre taludes e encostas
Dados sobre possibilidades de erosões na área de apoio da fundação
ii) Dados Geológicos-Geotécnicos
Investigação do Subsolo (preliminares e/ou complementar)
Análise de mapas, fotos aéreas, levantamentos aerofotogramétricos, etc.)
iii) Dados da Estrutura a Construir
Tipo e uso
Sistema estrutural
Cargas que serão transmitidas
iv) Dados das Construções Vizinhas
Nº de pavimentos, carga média por pavimento
Tipo de estrutura e fundações
Desempenho das fundações
Existência de subsolo
Possíveis efeitos de escavações e vibrações provocadas pela nova obra

5.1 Ações nas Fundações

⇒ Cargas Vivas

⇒ Cargas mortas ou
permanentes
OBS.: A NBR 8681
(1984) estabelece
critérios para
combinação destas
ações na verificação
dos estados limites de
uma estrutura.

76
ESTADO LIMITE: Estado a partir do qual a estrutura apresenta desempenho inadequado ao
desempenho da obra. São dois os estados limites:
i) Estado Limite Último ⇒ associa-se ao colapso parcial/total da obra;
ii) Estado Limite de Utilização ⇒ Quando a ocorrência de deformações, fissuras, etc.
compro metem o uso da construção.

6.0 Requisitos de um Projeto de Fundações


⌦ Deformações aceitáveis sob as condições de trabalho (requer verificação dos estados
limites de utilização);
⌦ Segurança adequada ao colapso do solo de fundação – estabilidade externa
(verificação dos estados limites últimos);
⌦ Segurança adequada ao colapso dos elementos estruturais – estabilidade interna
(verificação dos estados limites últimos).

OUTROS REQUISITOS
Segurança adequada ao tombamento e deslizamento provocados por forças
horizontais (estabilidade externa);
Níveis de vibração compatíveis com o uso da obra, verificados nos casos de cargas
dinâmicas.

Figura 4.6 – (a) Deformações excessivas, (b) colapso do solo, (c) tombamento, (d) deslizamento e (e)
colapso estrutural resultante de projetos deficientes.

77
7.0 Fatores/Coeficientes de Segurança (Fs)
Em fundações os valores de FS estão associados às incertezas, refletindo a soma dos
seguintes fatores:
Investigações geotécnicas disponíveis, tipo, qualidade, quantidade, etc.;
Parâmetros admitidos ou estimados;
Métodos de cálculo empregados;
As cargas que realmente atuam e
Os procedimentos de execução.

7.1 Fator de Segurança Global

Q σ
últ rup
Incorpora todos os fatores mencionados acima, ou seja: FS = ou
Q
trab σ trab

Tabela 4.1 – Fatores de Segurança globais mínimos em geotecnia (Terzaghi & Peck, 1967).
Tipo de ruptura Obra Fator de Segurança (FS)
Obras de Terra 1,3 a 1,5
Cisalhamento Estruturas de Arrimo 1,5 a 2,0
Fundações 2,0 a 3,0
Subpressão, Levantamento 1,5 a 2,5
Ação da Água
Gradiente de saída (piping) 3,0 a 5,0

Tabela 4.2 – Fatores de Segurança mínimos aplicados em Fundações no Brasil (NBR 6122, 1996).
Condição Fator de Segurança (FS)
Capacidade de carga de fundações superficiais 3,0
Capacidade de carga de estacas ou tubulões sem prova de
2,0
carga
Capacidade de carga de estacas ou tubulões com prova de
1,6
carga

7.2 Fator de Segurança Parcial

Consiste num valor de FS para cada tipo de ação, no caso das cargas atuantes, enquanto que
no caso das resistências, consiste em se adotar um coeficiente de minoração para cada
parcela de resistência do problema.

78
BRINCH HANSEN (1965) sugere:
• Cargas permanentes ⇒ FS = 1,0
• Cargas acidentais ⇒ FS = 1,5
• Pressões d´água ⇒ FS = 1,0
• Cálculo da estabilidade de taludes e Empuxos de Terra ⇒ Coesão: FS = 1,5
⇒ tg(φ): FS = 1,2
• Fundações superficiais ⇒ Coesão: FS = 2,0 ; tg(φ): FS = 1,2

♦Fórmulas estáticas Coesão: FS = 2,0 ; tg (φ): FS = 1,2


• Fundações profundas ♦Fórmulas de cravação FS = 2,0
♦Provas de carga FS = 1,6
♦Aço: FS = 1,35 (em relação à tensão de escoamento)
• Materiais estruturais ♦Concreto: FS = 2,7 (em relação à tensão de ruptura)
♦Outros materiais: dividir as tensões admissíveis por 1,4

8.0 Deslocamentos em Estruturas e Danos Provocados


Toda fundação está sujeita a:
OBS.: Estes deslocamentos
• Deslocamentos verticais (recalques ou levantamentos)
dependem da interação solo-
• Deslocamentos horizontais estrutura apoiada.
• Deslocamentos rotacionais

OBS.: Quando os valores desses deslocamentos ultrapassam certos limites, ocorre a


possibilidade do colapso da estrutura suportada. Isto acontece por causa do surgimento de
esforços para os quais a estrutura não foi dimensionada.

Deslocamentos admissíveis ⇒ não prejudicam a utilização (funcionalidade) da obra


Deslocamentos excessivos ⇒ podem comprometer a estrutura quanto à estética, função,...

8.1 Definição de Deslocamentos e Deformações


• Deformação específica (ε): rel ação entre a variação de comprimento (δL) e o
comprimento.

inicial (L) ⇒ ε = δL
L
• Recalque (r ou w): deslocamento para baixo (↓)
• Levantamento: deslocamento para cima (↑)

79
Recalque diferencial (δr ou δw): deslocamento vertical de um ponto em relação a outro.
Rotação (φ): descreve a variação da inclinação da reta que une dois pontos de referência da
fundação.
Desaprumo (ω): rotação da estrutura como um todo.
Distorção angular (β): corresponde à rotação da reta que une dois pontos de referência
tomados para definir o desaprumo.

8.2 Recalques Totais Limites

wmáx = 25 mm (SAPATAS)
AREIAS
wmáx = 50 mm (RADIER)

wmáx = 65 mm (SAPATAS
ARGILAS ISOLADAS)

wmáx = 65 a 100 mm
(RADIER) Figura 4.7 - Deslocamentos de uma fundação superficial.

Figura 4.8 – Deslocamentos que podem ocorrer com uma estrutura.

80
8.3 Distorções Angulares e Danos Associados

Figura 4.9 – Distorções angulares e danos associados.

9.0 CAPACIDADE DE CARGA DE FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS

Considerar uma sapata com as seguintes condições:


• Retangular, com dimensões B x L
• Apoiada na superfície do terreno
• Submetida a uma carga Q, crescente desde zero até à ruptura
• São medidos os valores de Q e dos deslocamentos verticais “w” (recalques)
Q
A tensão aplicada ao solo pela sapata é: σ=
B.L

81
Figura 4.10 – Sapata de concreto armado embutida em solo.

Figura 4.11 – Comportamento de uma sapata sob carga vertical – curvas carga x recalque (Kézdi, 1970).

FASE I ⇒ ELÁSTICA: w é proporcional à carga Q


FASE II ⇒ PLÁSTICA: w é irreversível. O deslocamento w é crescente mesmo sem variar Q
FASE III ⇒ PLÁSTICA: w é irreversível. A velocidade do “w” cresce continuamente ⇒ ruptura.

9.1 Mecanismos de Ruptura em Função do Solo


Ruptura generalizada ⇒ brusca, bem caracterizada na curva σ x w (ocorre em solos
rígidos, como areias compactas a muito compactas e argilas rijas a duras)
Ruptura localizada ⇒ curva mais abatida. Não apresenta nitidez da ruptura. Típica de
solos fofos e moles (areias fofas e argilas média e mole).
Ruptura por puncionamento ⇒ mecanismo de difícil observação. À medida que Q cresce,
o movimento vertical da fundação é acompanhado pela compressão do solo logo abaixo. O
solo fora da área carregada não participa do processo.
82
Figura 4.12 – Rupturas: generalizada (a); localizada (b); por puncionamento (c) e (d) condições que
ocorrem, em areias (Vésic, 1963).

9.1.1 Campos de Deslocamentos das Rupturas

Figura 4.13 – Campos de deslocamentos das rupturas: generalizada (a); localizada (b) e por
puncionamento (c), segundo Lopes (1979).

9.1.2 Fatores que Afetam o Modo de Ruptura

• Propriedades do solo (rigidez/resistência)


• Geometria do carregamento (profundidade relativa D/B): se D/B aumenta ⇒ punção
• Estado de tensões iniciais (k0): Se k0 aumenta ⇒ ruptura generalizada

83
9.1.3 Tensões de Contato
SAPATA APOIADA EM ARGILA

SAPATA APOIADA EM AREIA

SAPATA APOIADA EM ROCHA

Figura 4.14 – Tensões de contato entre a placa e o solo, dependendo da rigidez da placa e do tipo de
solo existente embaixo da placa.

9.2 FORMULAÇÃO DE TERZAGHI


Hipóteses:
i) a sapata é corrida, ou seja, L >>> B. Trata-se de um caso bidimensional (no plano);
ii) o embutimento da sapata (D) é menor que sua largura (B). Neste caso, é desprezada
a resistência ao cisalhamento do solo acima da cota de apoio da sapata e substitui-
se a camada pela sobrecarga q = γ.D;
iii) o maciço de solo sob a base da sapata é compacto ou rijo ⇒ ruptura generalizada.
84
10.0 DESENVOLVIMENTO DA EQUAÇÃO DA CAPACIDADE DE CARGA

Na iminência da ruptura, em que a sapata aplica a tensão σr ao solo, na cunha I, com peso W,
tem-se:

Figura 4.15 – Superfície potencial de ruptura.

Do equilíbrio de forças atuando na cunha de solo “I”, faces OR e O´R, vem: ∑F v =0

σr xB + W − 2Ep − 2Casenφ = 0 (1)


em que
2
( )
Cacosφ = B x1xc
 2 
W = B tgφ ⋅ γ
 4

Ep é a componente vertical do
empuxo passivo
Ca é a força coesiva
c é a coesão do solo
φ = ângulo de atrito interno do solo
B é a largura da sapata
Figura 4.16 – Cunha de solo sob a base da sapata.

ORST = SUPERFÍCIE POTENCIAL DE RUPTURA


OR e ST = TRECHOS RETOS
RS = ESPIRAL LOGARÍTMICA

Reescrevendo a equação (1), vem:

85
 2E  γ
p
σr =   + c.tgφ − B.tgφ (2)
 B  4
 

A equação (2) é a solução geral do problema, desde que Ep seja conhecido.


OBS.: Não há solução geral que leve em conta o peso do solo e a influência da sobrecarga.
Para simplificar, são analisados casos particulares e depois são superpostos os efeitos.

10.1 Casos Particulares


i) Solo sem peso e sapata à superfície do terreno: (c ≠ 0, D = 0, γ = 0)

σr = c.N (2.1)
c
 πtgφ 2 
Nc = fator de capacidade de carga função apenas de φ ⇒ N = cot gφ e tg  45 + φ 2  − 1
c    

ii) Solo não coesivo e sem peso: (c = 0, D ≠ 0, γ = 0)

σr = q.N (2.2)
q

Nq = fator de capacidade de carga função também só de φ ⇒ N = e


πtgφ tg 2  45 + φ 
q  2

Constata-se que N =  N − 1 cot gφ


c  q 
iii) Solo não coesivo e sapata à superfície (areia pura): (c = 0, D = 0, γ ≠ 0)

1
σr = γ .B.N
2 γ

4E
p
N = cos(α − φ )
γ γ .B 2

10.2 Superposição de Efeitos

No caso real de uma sapata corrida embutida em um maciço de solo com coesão (c) e ângulo
de atrito (φ), a capacidade de carga se compõe de três parcelas, que representa as
contribuições:
i) da coesão e do atrito de um material sem peso (W)e sem sobrecarga (q);
ii) do atrito de um material sem peso e com sobrecarga, e

86
iii) do atrito de um material com peso e sem sobrecarga.

Assim, a solução de TERZAGHI, considerando a superposição dos efeitos para ruptura geral é:
1
σr = cNc + qNq + γΒΝ γ (3)
2
Os fatores de capacidade de carga Nc, Nq e Nγ são adimensionais e dependem apenas de φ. A
Tabela a seguir e o ábaco correspondente apresentam os valores desses fatores.

10.2.1 SOLUÇÃO DE TERZAGHI PARA O CASO DE SOLOS FOFOS E MOLES (localizada)

Reduzir os valores de c e de φ. Neste caso,

c´= 2 c e tgφ´= 2 tgφ


3 3
Entrar no ábaco de Terzaghi com φ e obter Nc´, Nq´ e Nγ´. A Equação (3) fica:

1
σr = c´Nc´+qNq´+ γΒΝ γ´ (4)
2
Obs.: Para ruptura localizada, entra-se na Tabela 4.3 o valor de φ´ e obtém-se os
correspondentes valores de Nc´, Nq´ e Nγ´. Com o valor de φ ou φ´, determina-se no ábaco da
Figura 4.17 diretamente os valores dos fatores de capacidade tanto para o caso de ruptura
generalizada quanto localizada.

Tabela 4.3 – Fatores de capacidade de carga para aplicação da equação de Terzaghi.


φ ou φ´ FATORES DE CAPACIDADE DE CARGA PROPOSTOS POR TERZAGHI
(GRAUS) Nc Nq Nγ
0 5,7 1,0 0,0
5 7,3 1,6 0,5
10 9,6 2,7 1,2
15 12,9 4,4 2,5
20 17,7 7,4 5,0
25 25,1 12,7 9,7
30 37,2 22,5 19,7
34 52,6 36,5 36,0
35 57,8 41,4 42,4
40 95,7 81,3 100,4
45 172,3 173,3 297,5
48 258,3 287,9 780,1
50 347,5 415,1 1153,2

87
Figura 4.17 – Ábaco para obtenção dos fatores de capacidade de carga da equação de Terzaghi.

TERZAGHI também introduziu fatores de correção para levar em conta a forma da fundação.
Os fatores são sc e sγ, cujos valores são apresentados a seguir.
Equação final de Terzaghi para capacidade de carga:

1
σr = cNc sc + qNq + γΒΝ γ sγ (5)
2

Tabela 4.4 – Fatores de forma para aplicação da equação de Terzaghi.


VALORES DOS FATORES DE FORMA SUGERIDOS POR TERZAGHI
FATOR FORMA DA SAPATA
Corrida Circular Quadrada Retangular
sc 1,0 1,3 1,3 1 + 0,3B/L
sγ 1,0 0,6 0,8 1 - 0,2B/L

CASOS PARTICULARES:

Para φ = 0 ⇒ Nc = 5,7 e Nγ = 0 ⇒ σ r = 1,3 x c x 5,7 = 7,41c (sapata quadrada/cicrcular)

γ
Para c = 0 ⇒ σ r = 0,8 x x B x N = 0,4 x γ x B x Nγ (sapata quadrada)
2 γ
OBS 1: Para solos puramente coesivos a capacidade de carga independe de B;
OBS 2: Para solos puramente não-coesivos σr só depende de B;
OBS IMPORTANTE.: A solução de TERZAGHI foi desenvolvida para casos onde D ≤ B;
88
10.3 A SOLUÇÃO DE MEYERHOF (1963)

Um aperfeiçoamento da solução de Terzaghi foi feito por Meyerhof. Ele passou a considerar a
resistência ao cisalhamento do solo situado acima da base da fundação. Assim, a superfície de
deslizamento intercepta a superfície do terreno.

Meyerhof incluiu na Equação de Terzaghi o


fator de forma, sq, os fatores de profundidade
(dc, dq e dγ) e os fatores associados à
inclinação da carga aplicada em relação à
vertical (ic, iq, iγ). Os valores de Nc e de Nq
são praticamente os mesmos propostos por
TERZAGHI. Os fatores de capacidade de
carga propostos por MEYERHOF, estão
presentes na tabela onde também se
encontram os valores propostos por HANSEN

Figura 4.18 – teoria de Meyerhof: mecanismo de e VÉSIC, os dois últimos métodos a seguir.
ruptura de fundações superficiais.

As equações para cálculo dos fatores propostas por Meyerhof são apresentadas a seguir.

Nγ = (Nq – 1) tg (1,4.φ)

Nq = eπtgφtg2 (45 + 0,5. φ)

Nc = (Nq – 1) cotg φ

OBS.: Para profundidades D ≤ B, os


resultados da aplicação da solução de
MEYERHOF não diferem muito dos
resultados obtidos com a aplicação da
solução de TERZAGHI.

89
10.4 A SOLUÇÃO DE BRINCH HANSEN (1970)

HANSEN (1970) propõe os mesmos fatores de capacidade de carga sugeridos por


MEYERHOF, mas alterou os valores de Nγ e introduziu na equação de capacidade de carga de
MEYERHOF (1951, 1963) fatores de correção para levar em conta dois aspectos:

• a inclinação da base da sapata em relação à direção horizontal (bc, bq, bγ)


• a inclinação da superfície do solo suportando a sapata (gc, gq, gγ)

Para o caso de sapatas com cargas excêntricas, Hansen também propôs o conceito de “Área
Efetiva”, A´, da fundação (A´ = B´ x L´). Em que:
B´ = B – 2eB e L´ = L – 2eL
eB , eL = excentricidades nas direções de B e de L

Figura 4.19 – Áreas efetivas de fundação, inclusive áreas retangulares equivalentes.

Consultar instruções da Tabela 4.6.

10.5 A SOLUÇÃO DE VÉSIC (1973; 1975)

VÉSIC propõe os mesmos fatores de capacidade de carga propostos MEYERHOF e HANSEN,


com exceção do Ny, que tem a seguinte expressão:

Nγ = 2(Nq + 1) tg φ

Há diferenças também em relação a HANSEN nas expressões para cálculo dos fatores de
inclinação, solo e base (ii, bi e gi). Ver instruções na Tabela 4.6.
90
FATORES DE CAPACIDADE DE CARGA Nγ(M) = proposta de Meyerhof
PROPOSTOS PARA OS MÉTODOS DE Nγ(H) = proposta de Hansen
MEYERHOF, HANSEN E VÉSIC. Os valores Nγ(V) = proposta de Vésic
de Nc e Nq são os comuns aos três métodos.
Porém, Nγ tem um valor individual para cada
autor.

Tabela 4.5 – Fatores de capacidade de carga para as equações de Meyerhof, Hansen e Vésic.
φ FATORES DE MEYERHOF, HANSEN E VÉSIC
(GRAUS) Nc Nq Nγ(M) Nγ(H) Nγ(V)
0 5,14 1,0 0,0 0,0 0,0
5 6,49 1,6 0,1 0,1 0,4
10 8,34 2,5 0,4 0,4 1,2
15 10,97 3,9 1,1 1,2 2,6
20 14,83 6,4 2,9 2,9 5,4
25 20,71 10,7 6,8 6,8 10,9
26 22,25 11,8 8,0 7,9 12,5
28 25,79 14,7 11,2 10,9 16,7
30 30,13 18,4 15,7 15,1 22,4
32 35,47 23,2 22,0 20,8 30,2
34 42,14 29,4 31,1 28,7 41,0
36 50,55 37,7 44,4 40,0 56,2
38 61,31 48,9 64,0 56,1 77,9
40 75,25 64,1 93,6 79,4 109,3
45 133,73 134,7 262,3 200,5 271,3
50 266,50 318,5 871,7 567,4 761,3

10.6 Influência do Lençol Freático

A presença da água o solo afeta o valor de γ, presente na 2ª e na 3ª parcelas da equação da


capacidade de carga:
1
2ª parcela: q.Nq = γ.D.Nq e 3ª parcela: γBN γ
2

91
Tabela 4.6 – Fatores que influenciam a capacidade de carga de sapatas.
Fator de forma Fator de Fator de inclinação Fatores de solo
profundidade (talude e base)
H β°
i´ c ( H ) = 0,5 − 0,5 1 − g´ c =
B d´c = 0,4.k a f ca 147°
s´ c = 0,2 Vésic:
L mH
i´ c (V ) = 1 − N γ = −2senβ (φ=0)
a f ca N c
Nq B 1 − iq β°
sc = 1 + dc = 1+ 0,4.k ic ( H , V ) = i q − g´ c = 1 −
Nc L N q −1 147°
Sc = 1 (corrida)
B  
5
s q = 1 + tgφ 0,5 H
L i q ( H ) = 1 −  g q ( H ) = g γ ( H ) = (1 − 0,5tgβ )
 V + a c cot gφ 
 f a 
5 g q (V ) = g γ ( HV = (1 − tgβ ) 2
dq = 1 +2.tgφ (1-senφ)2k  0,5H 
i q (V ) = 1 − 
 V + a c cot gφ 
 f a 
Fatores de base
B  
5 η°
s γ = 1 − 0,4 0,7 H b´ c =
L i γ ( H ) = 1 −  (η=0) 147°
 V + a c cot gφ 
 f a 
  0,7 − η °  H 
5
η°
   bc = 1 −
 450   147°
dγ = 1 (qualquer φ) 
iγ ( H ) = 1 − (η>0)
 V + a f c a cot gφ 
 
 
m +1
 H 
iγ (V ) = 1 − 
 V + a c cot gφ 
 f a 
2+ B L
k=
D
para
D
≤1
m = mB =
1+ B L
se H // B bq ( H ) = e ( −2ηtgφ )
B B
D m = mL =
2+ B
se H // L bγ ( H ) = e ( −2,7ηtgφ )
k = tg −1 p/ D > 1 1+ L B
B B bq (V ) = bγ (V ) = (1 − ηtgβ )

Obs.: iq , iγ > 0
Observações importantes: Af = B´ x L´ ; ca = coesão na base ; D é usado com B e não com B´
H = componente transversal da carga na sapata ≤ V.tgδ +caAf
β = inclinação do talude sob a sapata ; η = ângulo de inclinação da base da sapata com o plano
horizontal
δ = ângulo de atrito entre a base da sapata e o solo = φ, para contato solo-concreto
Recomenda-se não usar fatores si combinados com fatores ii (si pode se combinar com di, bi e gi)
Referências das equações: (H) = Hansen e (V) = Vésic

Com relação à influência do lençol freático, três casos podem ser analisados (Figura 4.20):
i) N.A acima da base da fundação (d ≤ D), onde d = Dw (profundidade do N.A.)
ii) N.A. entre a base da fundação (D) e o limite da superfície de ruptura (D < Dw ≤ D+ B)
iii) N.A. abaixo de D + B (d > D+B), ou seja, Dw > D+ B
92
Figura 4.20 Influência do lençol freático na capacidade de carga: (a) caso 1 e (b) caso 2.

Procedimentos de correção
Caso i) Caso ii) Caso iii)

γ ´ = γ SUB = γ SAT − γ água   Dw − D  γ´ = γnat


γ ´= γ SAT − γ água 1−  
  B 
γ´= peso específico do solo, corrigido pele efeito do N.A.
γnat = peso específico do solo acima do lençol freático.

Exemplo: Imagine uma sapata quadrada, de 2m de largura, apoiada em uma areia pura, a 1m
de profundidade, com o nível d´água 2 m abaixo da fundação. Os dados da areia são: c = 0
kPa; φ = 30° e γ = 18 kN/m3. Nestas condições, de acordo com a equação de capacidade de
carga de Terzaghi, tem-se:
1
σ r = 18 x1 + 18.2.19,7.0,8 = 301,68 kN/m 2 ⇒σ = 100,56 kN/m 2 (FS = 3)
2 adm
Agora, suponha que por algum motivo, o nível freático se elevou até o nível do terreno, ou seja,
1m acima da cota da fundação:
1
σ r = 8 x1 + 8.2.19,7.0,8 = 134,08 kN/m 2 ⇒σ = 44,69 kN/m 2
2 adm
10.7 Avaliação dos Métodos

Tabela 4.7 – Avaliação dos métodos teóricos de previsão de capacidade de carga.


MÉTODO APLICABILIDADE RECOMENDADA
D
Solos muito coesivos e onde ≤ 1 . Não indicado para casos
B
TERZAGHI
onde há geração de momentos na sapata e/ou forças horizontais
ou inclinações da base e do solo adjacente.
HANSEN, MEYERHOF, VÉSIC Indicados para qualquer situação. A critério do usuário.
Indicados para uso quando a base da sapata é inclinada e/ou
HANSEN, VÉSIC
quando o terreno adjacente é em talude e quando D>B.

93
11.0 MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS

A NBR 6122 (1996) considera métodos semi-empíricos aqueles em que as propriedades dos
materiais, estimadas com base em correlações, são usadas em teorias adaptadas da Mecânica
dos Solos.

11.1 Métodos Baseados no SPT


A tensão admissível (σadm) de uma sapata pode ser obtida em função da resistência à
penetração do SPT (NSPT). A maioria das correlações foi determinada para sapatas apoiadas
em areias.
i) Correlação de Terzaghi & Peck (1948, 1967).

σ adm = 4,4 N10− 3  B2B


+ 1´ 

 kgf 
 2
 cm 
(6)
  

em que,
B = menor dimensão da sapata (em pés). A expressão (6) é aplicada para B ≥ 4 pés.
N = resistência à penetração do SPT
A Equação (6) também foi apresentada em ábaco.

Figura 4.21 Ábacos para obtenção da tensão admissível de sapatas em areia (Peck et al., 1974).

ii) Correlação de Meyerhof (1965)

N.r
σ adm = adm para B ≤ 4´ (7a)
8

N.r 2
σ adm = adm  B + 1´ 



 para B > 4´ (7b)
12  B 
onde B é expresso em pés, radm em polegadas e σadm em kgf/cm2.

94
iii) No meio técnico brasileiro tem sido muito empregada a expressão para o caso de sapatas
assentes tanto em areias quanto em argilas:

σ adm = N (MPa) (8)


50
A Equação (8) é válida no intervalo (5 ≤ N ≤ 20). N é a resistência à penetração média obtida
no trecho compreendido da base da sapata até 2B abaixo (bulbo de tensões).

iv) Correlação de Mello (1975)

σ adm = 0,1. 
N − 1

(MPa) (4 ≤ N ≤ 16) (8)

v) Correlação de Parry (1977) para Areias com a profundidade de embutimento D ≤ B.

σ adm = 30.N55 (9)

onde N55 é a resistência à penetração obtida com um sistema SPT com eficiência de 55%.

11.2 Métodos Baseados no CPT

i) Correlação de Teixeira e Godoy (1996)

σ adm = qc (≤ 4,0 MPa) (10a)


10
para argilas e

σ adm = qc (≤ 4,0 MPa) (10b)


15
para areias,
onde qc é a resistência de ponta obtida do
Cone Penetration Test (Figura 4.22) no
trecho correspondente ao bulbo de tensões
da sapata (qc ≥ 1,5 MPa). Figura 4.22 Cone de penetração (CPT).

ii) Método Baseado no CPT para Areia e para Argilas de Acordo com a Forma da Sapata.

σrup = 28 – 0,0052(300 – qc)1,5 para sapata corrida [kgf/cm2] (11a)


AREIAS
σrup = 48 – 0,009(300 – qc)1,5 para sapata quadrada [kgf/cm2] (11b)

95
σrup = 2 + 0,28.qc para sapata corrida [kgf/cm2] (12a)
ARGILAS
σrup = 5 + 0,34.qc para sapata quadrada [kgf/cm2] (12b)

12.0 MÉTODOS EMPÍRICOS

A NBR 6122 (1996) considera métodos empíricos aqueles pelos quais se obtém a tensão
admissível com base na descrição do terreno (classificação e determinação da compacidade
ou consistência por meio de investigações de campo/laboratório). A Tabela 4.8 é uma
orientação básica fornecida na norma NBR 6122 (1996), de uso restrito para cargas não
superiores a 100 tf (≅1000kN).

Tabela 4.8 – Tensões admissíveis segundo a NBR 6122 (1996).

12.1 Recomendações Gerais para Uso da Tabela de Tensões Admissíveis

12.1.1 Solos Granulares:

Quando no trecho z =0 até z =2B (a partir da base da fundação), o solo encontrado for das
classes 4 a 9, corrigir σ0 em função da largura B, obtendo-se σ0´:

96
σ o´ = σ o 1+ 1,5 B − 2 ≤ 2,5σo para B ≤ 10m e construções insensíveis a recalque.
 8 

12.1.2 Construções Sensíveis a Recalques


• Verificar o efeito dos recalques, quando B > 2m ou manter o valor de σo.

12.1.3 Aumento da Tensão Admissível com a Profundidade


• Para os solos das classes 4 a 9, os dados tabelados de σo só devem usados quando D≤ 1,0
metro. Para D > 1,0 metro, sugere-se majorar em 40% o valor de σo, para cada metro além
dessa profundidade. Esta majoração deve-se limitar a ao dobro do valor fornecido pela
tabela.

12.1.4 Solos Argilosos

• Para os solos das classes 10 a 15: os dados tabelados de σo só devem usados para
fundações com até, no máximo, 10 m2 de área. Para fundações com área superior a este
valor, reduzir o valor de σo de acordo com a seguinte expressão:

σ ,
o =σ o
10
A

13.0 PROVAS DE CARGA SOBRE PLACAS – INTERPRETAÇÃO E EXTRAPOLAÇÃO

NBR 6489 (1984)


Não define ruptura, define a
tensão admissível como o
menor dos dois valores abaixo:

σ10mm
σadm ≤
σ 25mm

σ10mm – tensão para recalque de


10mm;
Fig. 4.23 Montagem típica de uma prova de carga sobre placas.
σ25mm – tensão para recalque de
25mm;

97
OBS.: Um critério para a
Critério do recalque admissível: σ adm ≤
σ máx

estimativa da ruptura, adotado em 1,5


todo o mundo considera a tensão
CRITÉRIO DE TERAGHI & PECK
de ruptura como sendo aquela
σadm = σ25mm para a maior sapata da obra.
correspondente a um recalque
igual a 10% do diâmetro ou lado
da placa. No caso, por exemplo,
de uma placa com 80cm de
diâmetro, a ruptura deveria
acontecer quando o recalque
medido atingisse 8cm.

OUTRAS PRESCRIÇÕES
• Argilas ou Areias com
ruptura geral
Critério da tensão admissível:
σ rup
σ adm = Figura 4.24 Curvas tensão recalque típicas de provas de carga.
2

13.1 Extrapolação dos Resultados para a Sapata

Há uma diferença significativa no  2B fund 


2

rfund = rplac  
fator escala entre a placa da prova e B 
 fund + B plac 
a fundação real: o bulbo de tensões
gerado pela placa não é igual ao
bulbo gerado pela fundação (ver
Figura 4.25). Neste caso, há que ser
feita uma correção para extrapolar
os resultados do ensaio para a
aplicação.

AREIAS
Para um mesmo valor de tensão,
tem-se para areias, onde Es cresce
com a profundidade:
Figura 4.25 – Influência do bulbo de tensões na prova de
carga.
98
Para fundação e placa com mesma ARGILAS
forma geométrica:
B  Para argila média a dura, onde Es é constante com a
σr rup fund = σ rupt plac  fund
B


com
profundidade, para uma mesma tensão aplicada:
 plac 
 B fund 
σr rup fund = σ rupt plac , pois o termo B.Nγ =0. Também,
 ≤3
B 
 plac  A 
rfund = rplac  fund  em que,
onde A 
 plac 
σrupfund = tensão de ruptura Afund = Área da fundação
extrapolada Aplac = Área da placa
σrupplac = tensão de ruptura da placa
rfund = recalque extrapolado para a Se a fundação e a placa tiverem a mesma geometria
fundação em planta:
rplac = recalque da placa B 
rfund = rplac  fund 
Bfund = largura da fundação B 
 plac 
Bplac = largura da placa

14.0 Fundação em Solos Não Saturados e Colapsíveis

Solos porosos situados acima do nível d´água freático geralmente são colapsíveis, ou seja, em
condições de baixo teor de umidade, apresentam uma espécie de resistência “aparente” em
decorrência da tensão de sucção que se desenvolve em seus vazios. Dessa forma, em termos
de fundações, quanto mais seco o solo colapsível, maior a sucção e, em conseqüência, maior
a capacidade de carga. Por outro lado, quando úmido, menor a sucção e, menor a capacidade
de carga. Aumentando-se ainda mais a umidade até um valor extremo inundado, a sucção
torna-se nula e a capacidade de carga atinge seu valor mínimo.

15.0 Influência do Nível D´água em Areias

A posição do nível d´água freático em relação ao bulbo de tensões, em depósitos arenosos,


pode influenciar na capacidade de carga da fundação. Em solos arenosos a expressão da
capacidade de carga se resume a qr = 0,40.γ.B.Nγ, que depende do peso específico do solo.
Quando uma areia seca é saturada, seu peso específico se reduz a praticamente a metade.
Neste caso, se o N.A. se elevar do limite inferior do bulbo de tensões até a base da sapata, o
peso específico no interior do bulbo se reduz a 50%. Por isso, a capacidade de carga de uma
sapata apoiada em areia saturada é praticamente a metade do valor correspondente à situação
de areia na condição não saturada, conforme foi mostrado no exemplo do item 10.6.
99
16.0 Estimativa de Parâmetros de Resistência e Peso Específico

a) Coesão
Quando não se dispõem de resultados de ensaios de laboratório, a estimativa do valor da
coesão não drenada (Cu ou Su), pode ser feita a partir de correlações obtidas. Teixeira e Godoy
(1996) sugerem:

Cu = 10 N [kPa]

onde N é a resistência à penetração do SPT.

b) Ângulo de atrito interno (φ)


A estimativa do ângulo de atrito de areias pode ser feita empregando-se propostas de
correlações existentes na literatura. Mello (1971) propõe um ábaco que relaciona a tensão
vertical efetiva (σ´v) e o N do SPT, ambos obtidos na mesma cota (ver Figura 4.26).

Figura 4.26 Estimativa do ângulo de atrito em função do NSPT e da tensão vertical efetiva.

As correlações seguintes também podem ser empregadas para a estimativa de φ:

Godoy (1983) φ = 28o + 0,4 N

100
Teixeira (1996): φ= 20N + 15o

c) Peso Específico (γ): Não se disponde de resultados de ensaios efetuados em laboratório, o


peso específico do solo pode ser estimado a partir do tipo de solo, classificado com base no N
do SPT. A Tabela 4.9, mostrada abaixo, apresentam valores de γ sugeridos por Godoy (1972).

Tabela 4.9 – Estimativa do valor do peso específico de solos (Godoy, 1972).


Solo N Consistência γ (kN/m3)
≤2 Muito mole 13
Solos argilosos

3–5 Mole 15
6 – 10 Média 17
11 – 19 Rija 19
≥ 20 Dura 21
Solo N Compacidade Seca úmida Saturada
<5 Fofa
16 18 19
Solos arenosos

5–8 Pouco compacta


9 – 18 Medte. compacta 17 19 20
19 – 40 Compacta
18 20 21
> 40 Muito compacta

101
17.0 Exercícios Propostos
17.1 Questionário

1) O que é uma fundação?


2) Como podem ser classificadas as fundações?
3) Que são fundações superficiais, rasas ou diretas e quais os tipos?
4) Porque um tubulão também pode ser considerado um tipo de fundação direta?
5) Que são fundações profundas e quais os principais tipos?
6) O que você entende por ruptura de um sistema solo-fundação?
7) O que é tensão de ruptura?
8) Defina capacidade de carga de uma fundação.
9) Enumere alguns itens relevantes para o estudo das fundações.
10) Quais as principais normas da ABNT ligadas ao estudo das fundações. De que trata cada
uma?
11) No Brasil qual ou quais os órgãos que se dedicam à divulgação e organização dos estudos
sobre Geotecnia e Fundações?
12) O que pode diferenciar uma fundação rasa de uma fundação profunda?
13) O que você entende por mecanismo de ruptura de uma fundação?
14) Defina os termos a seguir: a) bloco; b) sapata; c) sapata corrida; d) viga de fundação; e)
radier; f) grelha.
15) Defina: a) estaca de fundação; b) tubulão; c) caixão de fundação; d) estapata; estaca T.
16) O que diferencia um bloco de uma sapata?
17) O que diferencia um a estaca de um tubulão?
18) Que são fundações mistas?
19) Quais os elementos necessários para elaboração de um projeto de fundações?
20) Classifique as ações atuantes nas fundações.
21) Que são cargas vivas e cargas permanentes?
22) O que é estado limite último?
23) O que é estado limite de utilização?
24) O que é estabilidade externa?
25) O que é estabilidade interna de uma fundação?
26) Na verificação das deformações aceitáveis de uma fundação, qual o estado limite a ser
analisado?
27) Que são coeficientes ou Fatores de Segurança (FS)?
28) Por que se aplica um coeficiente de segurança na estimativa da tensão ou carga
admissível de uma fundação?
29) O que você entende por fator de segurança parcial e fator de segurança parcial?
102
30) Quais os valores dos Fatores de Segurança mínimos empregados nos projetos de
fundações no Brasil, de acordo com a norma NBR 6122 (1996)?
31) Classifique os deslocamentos que podem acontecer com as estruturas de fundação.
32) O que você entende por colapso de uma estrutura de fundação? Porque ele ocorre?
33) O que é deslocamento admissível?
34) O que é recalque?
35) O que é levantamento?
36) O que é recalque diferencial?
37) O que é distorção?
38) Ilustre graficamente a ocorrência de recalque, levantamento, recalque diferencial e
distorção angular.
39) Quais os valores de recalques limites de acordo com o tipo da fundação superficial e do
solo?
40) Ocorrendo uma distorção angular da ordem de 1/300, quais os danos esperados na
edificação?
41) O que é a capacidade de carga de uma fundação superficial?
42) A partir da curva tensão x recalque de uma fundação superficial, explique as fases pelas
quais o sistema solo-fundação pode estar submetido.
43) Quais os tipos de ruptura que um sistema solo-fundação pode sofrer? Em que situação
cada tipo acontece?
44) Quais os fatores que afetam o modo de ruptura de uma fundação superficial?
45) Que são tensões de contato?
46) Como se comportam as tensões de contato e as deformações de acordo com a rigidez da
fundação superficial e do tipo de solo?

103
17.2 Exemplo Prático

Com os dados da Figura 4.28 e sabendo-se que a tensão admissível do solo é σadm = 200 kPa,
dimensionar a fundação em sapata apresentada.

Figura 4.27 – Dimensionamento de sapata de fundação.

Solução:
1) O dimensionamento de sapatas inicia-se pela escolha da profundidade de embutimento, D, e
pela estimativa da tensão admissível do terreno de fundação. O primeiro, depende da posição
do nível de água freático, enquanto o segundo depende do perfil de sondagem à percussão,
como é mais comum na prática da engenharia de fundações. Neste caso, calculando-se o Nméd
abaixo da cota de apoio da fundação se pode calcular o valor da tensão admissível a partir de:

N méd
σ adm = [MPa]
50
104
Estes parâmetros já foram fornecidos no presente problema.

2000kN
A= = 10m 2 = 100000cm 2
Área da sapata: 2
200kN / m

Dimensões do Pilar: 25 cm x 40 cm

L – B = l – b = 40 – 25 = 15 cm

L x B = A ⇒ (L + 15) x B = 100.000 cm2

B2 + 15B – 100000 = 0 ⇒ B = 309 cm ⇒ Adotar B = 310 cm

Daí, ⇒ L = 310 + 15 = 325cm

Portanto, a sapata terá as dimensões mostradas na figura abaixo, para ficar coerente com a
geometria do pilar:

105
18.0 Bibliografia Consultada

1) Almeida, M.S.S. (1996), Aterros Sobre Solos Moles: da Concepção à Avaliação do


Desempenho, Editora da UFRJ, 216p.
2) Alonso, U. R. (1983), Exercícios de Fundações, Editor Edgard Blücher Ltda., São Paulo.
3) Alonso, U.R. (1989), Dimensionamento de Fundações Profundas, Ed. Edgar
Blücher Ltda.
4) Alonso, U.R. (1991), Previsão e Controle das Fundações, Ed. Edgar Blücher
Ltda.
5) Barata, F.E. (1984), Propriedades Mecânicas dos Solos. Uma Introdução ao Projeto
de Fundações, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
6) Caputo, H.P. (1988 e 1987), Mecânica dos Solos e suas Aplicações, Velo 1 e 2, 6a
Edição, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
7) Das, B.M. (2000), Fundamentals of Geotechnical Engineering, Brooks/Cole.
8) Fang, H.-Y. (1991), Foundation Engineering Handbook, Van Nostrand Reinhold.
9) Gaioto, N. (1983), Maciços e Obras de Terra, Notas de Aula, EESC/USP.
10) Hachich, W., Falconi, F.F., Saes, J.L., Frota, R.G.Q., Carvalho, C.S.,
Niyama, S. (1998), Fundações - Teoria e Prática, 2a Edição, Editora Pini Ltda.
11) Lambe, T.W., and Whitman, R.V. (1979), Soil Mechanics, SI Version, John Wiley &
Sons.
12) Moliterno, A. (1994), Caderno de Muros de Arrimo, 2a Edição, Ed. Edgar Blücher
Ltda.
13) Moraes, M. Da Cunha, (1976), Estruturas de Fundações, McGraww-Hill Book
Company do Brasil, 172p.
14) NBR 6122 (1996), Projeto e Execução de Fundações, ABNT, 33p.
15) Poulos, H.G. and Davies, E.H. (1980), Pile Foundations Analysis and Design, John
Wiley, New York.
16) Simons, N. E. & Menziens, B. K., (1981), Introdução à Engenharia de Fundações,
Tradução de Luciano Moraes Jr. e Esther Horovitz de Beermann, Editora Interciência,
Rio de Janeiro, 199p.
17) Terzaghi, K. & Peck, R.B. (1967), Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed.,
John Willey & Sons, Inc., New York.
18) Vargas, M. (1977), Introdução à Mecânica dos Solos, Ed. McGraw-Hill do Brasil, Ltda,
São Paulo.
19) Velloso, D. A., Lopes, F. R. (1996), Fundações - Critérios de Projeto - Investigações do
Subsolo, Fundações Superficiais, Volume 1, COPPE/UFRJ.

106
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES

Disciplina: FUNDAÇÕES Código: 101134


Professor: Erinaldo Hilário Cavalcante

Notas de Aula

FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS
Capítulo 5 – Recalques

Aracaju, maio de 2005


ÍNDICE
1.0 Introdução 101
2.0 Classificação dos Recalques 101
2.1 Totais ou absolutos (w) de uma sapata isolada 101
2.2 Diferenciais ou relativos (δ) entre duas sapatas vizinhas 101
2.3 Distorção angular ou recalque diferencial específico ( δ ): é a diferença de 101
l
recalques entre duas sapatas dividida pela distância entre elas
3.0 MÉTODOS PARA PREVISÃO DE RECALQUES DE FUNDAÇÕES 104
DIRETAS
3.1 Equações dos Métodos Teóricos 104
3.1.1 Métodos diretos para estimativa de recalque imediato 105
3.1.1.1 Equação baseada na Teoria da Elasticidade 105
3.1.1.2 Método de Janbu 106
3.1.2 Método indireto: também chamado método de cálculo de recalque por 108
camadas
3.2 Métodos Semi-Empíricos 108
3.2.1 Métodos semi-empiricos baseados no SPT 109
3.2.1.1 Método de Terzaghi & Peck (1948; 1967) 109
3.2.1.2 Método de Meyerhof (1965) 109
3.2.1.3 Método de Burland & Burbidge (1985) 110
3.2.2 Métodos semi-empiricos baseados no CPT 111
3.2.2.1 Método de Schmertmann (1970; 1978) 111
3.3 Métodos Empíricos 114
3.4 Prova de Carga em Placa 115
3.4.1 Quanto à localização 116
3.4.2 Quanto ao tipo de placa 116
3.4.3 Quanto ao modo de carregamento 116
3.4.4 Extrapolação dos Recalques da Placa para a Fundação 117
3.4.5 Ensaio de três placas 118
4.0 FUNDAÇÕES VIZINHAS 119
5.0 EXEMPLO DE APLICAÇÃO 121
6.0 Bibliografia Consultada 124

100
1.0 Introdução

Define-se recalque de uma sapata, como sendo o deslocamento vertical para baixo, sofrido
pela base da fundação em relação ao indeformável. Esse deslocamento resulta da deformação
do solo sobre o qual se apóia o elemento da fundação. No caso de tubulões e estacas, deve-se
adicionar a esta deformação a parcela de compressão elástica do fuste para obter o recalque
no topo.
Segundo Velloso e Lopes (1996), a previsão de recalques é um dos exercícios mais difíceis da
Geotecnia, de forma que o resultado dos cálculos, por mais sofisticados que sejam, deve ser
encarado como uma estimativa.

2.0 Classificação dos Recalques

2.1 Totais ou absolutos (w) de uma sapata isolada

2.2 Diferenciais ou relativos (δ) entre duas sapatas vizinhas

Vargas (1981) ainda classifica os recalques da seguinte forma:

ƒ Normais: recalques previsíveis e calculáveis provenientes da compressão do solo de


fundação sob a ação das cargas do edifício;
ƒ Indeterminados: oriundos do escoamento visco-plástico do solo de fundação. Ocorrem
quando as tensões aplicadas superam a tensão crítica de escoamento do terreno de
fundação, em conseqüência de erros de cálculo das cargas aplicadas ou do
desconhecimento da resistência ou compressibilidade real do terreno;
ƒ Por deterioração das fundações: aprodecimento de estacas de madeira, deterioração do
concreto, corrosão do aço, agressões do meio ambiente, etc.;
ƒ Imprevisíveis: provocados pela execução posterior de obras vizinhas (escavações,
passagem de túneis, de galerias, rebaixamento do lençol freático) problemas na execução
das fundações;

2.3 Distorção angular ou recalque diferencial específico ( δ ): é a diferença de recalques entre


l
duas sapatas dividida pela distância entre elas.

A Figura 5.1 ajuda a compreender como se processa fisicamente o recalque de uma fundação
superficial sob carga vertical centrada.

101
Figura 5.1 – Recalques de uma fundação superficial sob carga centrada (Velloso e Lopes, 1996).

Uma fundação ao ser carregada sofre recalques, que se processam, em parte, imediatamente
após o carregamento e, em parte, como o decorrer do tempo. Dessa forma, o recalque
absoluto (wf) se compõe de duas parcelas: o recalque imediato (wi) e o recalque devido ao
adensamento (wt), oriundo da saída água dos poros (com a conseqüente redução no índice de
vazios). Há ainda uma parcela de recalque denominada de recalque secundário (ws), que se
processa linearmente com o logaritmo do tempo, mesmo após da pressão neutra se aproximar
de zero, devido a fenômenos viscosos (fluência). Portanto, o recalque total será a soma das
referidas parcelas:

wf = wi + wc + ws (1)

O recalque de adensamento é típico das argilas saturadas sob carregamentos permanentes, o


qual resulta de deformações volumétricas (diminuição do índice de vazios). O adensamento se
processa com a dissipação das pressões neutras, lentamente com o decorrer do tempo, pois a
baixa permeabilidade das argilas dificulta a expulsão da água intersticial. A fórmula teórica de
Terzaghi permite o cálculo do recalque final de adensamento, teoricamente em tempo infinito,
bem como os procedimentos para cálculo do recalque parcial para qualquer percentual de
adensamento, em tempo t.
Como regra geral, as sapatas e os tubulões podem ser apoiados em argilas desde que elas
sejam argilas sobreadensadas. Todavia, sempre que possível, deve-se limitar a tensão
admissível em fundações diretas ao valor da tensão de pré-adensamento.
Nas fundações diretas também ocorre uma parcela de recalque proveniente de deformações a
volume constante (sem redução do índice de vazios). Ao contrário do adensamento, processa-
se em tempo muito curto, quase simultaneamente à aplicação do carregamento, em condições
não-drenadas em argilas e condições drenadas em areias. Essa parcela de recalque é
chamada de recalque imediato, por razões óbvias.
102
Considerando um elemento de solo sob a base da sapata ou tubulão, o recalque imediato
corresponde a uma distorção desse elemento, uma vez que não há diminuição de volume (nem
diminuição de vazios). Por isso, muitos autores preferem a designação de recalque de
distorção.
Por ser calculado pela Teoria da Elasticidade, o recalque imediato também é chamado de
recalque elástico. Entretanto, os solos não são materiais elásticos e, em conseqüência, os
recalques imediatos geralmente não são recuperáveis com o descarregamento, ou reversíveis
apenas parcialmente. Por isso, a denominação recalque elástico é inadequada.
Mas o uso da Teoria da Elasticidade Linear justifica-se porque é bem razoável a hipótese de
comportamento tensão-deformação linear até níveis de tensão inferiores à tensão admissível
em fundações diretas. No emprego da Teoria da Elasticidade para cálculo de recalques, é
preferível substituir a denominação Módulo de Elasticidade por Módulo de Deformabilidade,
conforme sugere Vargas (1978).

OBS1.: Devido aos recalques, um edifício pode sofrer movimentos verticais (translação) acompanhados ou não de
inclinação (rotação).
OBS2.: Se o subsolo fosse homogêneo e todas as sapatas tivessem as mesmas dimensões, os recalques seriam
praticamente uniformes. Entretanto, a variabilidade do solo, em termos de compressibilidade, gera recalques
desiguais. Além disso, como o tamanho das sapatas de um edifício pode ser diferente por causa das cargas dos
pilares não serem as mesmas, surge mais uma fonte de recalques diferenciais.
OBS3.: Recalques absolutos elevados, mas de mesma ordem de grandeza em todas as partes da fundação,
geralmente podem ser aceitáveis. De fato, os recalques desiguais (diferenciais) é que preocupam.

Como há muita confusão entre elasticidade e linearidade, é importante entender que um


material pode ser elástico-linear, elástico não-linear e linear não-elástico, como mostra a Figura
5.2, mediante a comparação das curvas de carregamento e de descarregamento.

Figura 5.2 – Comportamento tensão x deformação. (a) elástico-linear; (b) elástico não-linear; (c) linear
não-elástico.

103
3.0 MÉTODOS PARA PREVISÃO DE RECALQUES DE FUNDAÇÕES DIRETAS

a) Teóricos ou Racionais

Os parâmetros de deformabilidade, obtidos em ensaios de laboratório ou de campo, são


combinados a modelos para previsão dos recalques teoricamente exatos.

b) Semi-Empíricos

Os parâmetros de deformabilidade, obtidos por meio de correlações empíricas a partir de


ensaios in situ, de natureza estática (Cone e Pressiômetro) e dinâmica (SPT), são combinados
a modelos de previsão de recalques teoricamente exatos ou adaptações deles.

c) Empíricos (Tabelados)

Consiste no emprego de tabelas de valores típicos de tensões admissíveis com base na


descrição do terreno de fundação (classificação e determinação da compacidade ou
consistência por meio de investigações geotécnicas). Os recalques associados às tensões
admissíveis indicadas são usualmente aceitos em estruturas convencionais. Na NBR 6122
(1996) os recalques admissíveis de fundações superficiais são da ordem de 25mm,
considerando que o embutimento da fundação em solos granulares é D ≤ 1m.

d) Provas de Carga Sobre Placa

Métodos que utilizam os resultados do ensaio de prova de carga sobre placa, interpretando-os
de modo a levar em conta as relações de comportamento entre a placa e a fundação real, bem
como as características das camadas de solo influenciadas pela placa e pela fundação.

3.1 Equações dos Métodos Teóricos

Os cálculos podem ser de duas espécies:

i) Cálculos diretos: o recalque é fornecido diretamente pela solução empregada.


Exemplos: Teoria da Elasticidade e Métodos Numéricos;
ii) Cálculos indiretos: o recalque é obtido à parte, com as deformações específicas
integradas posteriormente. Exemplo: cálculo de recalques por camadas.

104
3.1.1 Métodos diretos para estimativa de recalque imediato

3.1.1.1 Equação baseada na Teoria da Elasticidade

O recalque de uma sapata, com carga centrada centrada, apoiada sobre argilas pré-
adensadas, pode ser estimado por uma equação oriunda da Teoria da Elasticidade:

1 −ν 2
w = qB IS Id Ih (2)
E
onde,
q = tensão aplicada
B = menor dimensão da fundação
ν = coeficiente de Poisson
E = módulo de elasticidade
Is = fator de forma
Id = fator de profundidade
Ih = fator de espessura da camada compressível.

Para carregamento aplicado na superfície de um meio de espessura infinita, Id = Ih = 1. O valor


de Is pode ser obtido da Tabela 5.1. Sugere-se desprezar o fator Id, adotando-o igual a 1. Para
uma sapata de concreto armado ser considerada rígida, é preciso que a altura de sua base, h,
seja no mínimo igual 0,25 (B-b), conforme ilustrado na Figura 5.3, ou seja:

B−b
h≥
4 (3)

Figura 5.3 – Critério de rigidez de uma fundação


superficial.

105
Tabela 5.1 – Fatores de forma (Is) para carregamentos na superfície de um meio de espessura infinita
(Perloff, 1975).
Forma RIGIDEZ
FLEXÍVEL RÍGIDA
Posição
Centro Borda Média Qualquer
Círculo 1,00 0,64 0,85 0,79
Quadrado 1,12 0,56 0,95 0,99
Retângulo
-
(L/B)
1,5 1,36 0,67 1,15 -
2,0 1,52 0,76 1,30 -
3,0 1,78 0,88 1,52 -
5,0 2,10 1,05 1,83 -
10,0 2,53 1,26 2,25 -
100,0 4,00 2,00 3,70 -
1000,0 5,47 2,75 5,15 -
10000,0 6,90 3,50 6,60 -

Valores de Is.Ih estão propostos na Tabela 5.2.

Tabela 5.2 – Valores de Is.Ih para carregamentos atuando na superfície (Id =1) de um meio de espessura
finita (Egorov, 1958; Harr, 1966).

3.1.1.2 Método de Janbu

Como o método anterior, baseado na Teoria da Elasticidade, considera que a camada de solo
abaixo da fundação tem espessura semi-infinita, o que nem sempre acontece, Janbu (1966)
propôs um cálculo alternativo de recalque imediato considerando a espessura finita da camada.

1 −ν 2
w = µ 0 µ1σB (4)
E
em que µ0 e µ1 são fatores dependentes do embutimento da fundação, da espessura da
camada e da forma da fundação, conforme mostrado na Figura 5.4.

106
Figura 5.4 – Fatores µ0 e µ1 para o cálculo de recalque imediato de sapata em camada argilosa
fina (Janbu et al., 1956, apud Simons & Menziens, 1981).

No caso de uma sapata retangular, de largura B e comprimento L (ou circular, de diâmetro B),
apoiada a uma profundidade h da superfície do terreno e que a camada de solo compressível
tem espessura H, contada a partir da base da sapata (Figura 5.4), pode-se considerar que as
deformações ocorrem a volume constante (ν = 0,50). É o caso de argilas saturadas em
condições não-drenadas. Neste caso, o recalque médio de sapatas flexíveis será:

σB
w = µ 0 µ1
Es (5)

em que σ = tensão aplicada ao solo pela fundação;


Es é o módulo de elasticidade do solo.

107
3.1.2 Método indireto: também chamado método de cálculo de recalque por camadas

Procedimentos:
i) divide-se o terreno em subcamadas, em função de:
i.a) Propriedades dos materiais
i.b) Proximidades da carga: subcamadas devem ser menos espessas aonde são maiores as
variações no estado de tensão.

ii) cálculo: no ponto médio da subcamada e na vertical do ponto onde se deseja


conhecer o recalque das tensões geostáticas e do acréscimo de tensão (∆σ),
usando soluções da teoria da elasticidade;
iii) combinando as tensões geostáticas com o acréscimo de tensões e as
propriedades da subcamada, obtém-se a deformação específica média da
subcamada (εz). O produto da deformação pela espessura (∆h) da subcamada
fornece a parcela de recalque da subcamada, ou seja:

∆w = εz . ∆h (6)

iv) somando as parcelas de recalques das subcamadas, tem-se o recalque total:

w = ∑∆w (7)

3.2 Métodos Semi-Empíricos

O termo semi-empírico se deve à introdução de correlações matemáticas com respaldo


estatístico para a definição de propriedades dos solos. As correlações permitem a estimativa
de propriedades de deformação por meio de ensaios outros, não especificamente aqueles que
visam obter o comportamento tensão – deformação dos solos (triaxial, edométrico, ensaio de
placas, pressiômetro, etc.). Estes outros ensaios seriam o Cone de Penetração (CPT) e o
ensaio de penetração padrão (SPT). Como são obtidas as correlações?

i) a partir de resultados de ensaio de penetração;


ii) a partir de propriedades obtidas de ensaios do tipo tensão-deformação executados
com amostras retiradas do local do ensaio de penetração;
iii) das propriedades de deformação obtidas através de retroanálises de medições de
recalques de fundações;
108
3.2.1 Métodos semi-empíricos baseados no SPT

3.2.1.1 Método de Terzaghi & Peck (1948; 1967)


2
σ adm = 4,4 N SPT − 3  B + 1´ 
  
(8)
 10  2B 

OBS.: Se o nível d´água estiver superfície, sugere-se reduzir em 50% o valor da σadm.

Peck et al. (1974) propuseram ábacos para a estimativa da σadm para um recalque admissível
de 1 polegada, em função de B, D e do valor de Nmédio, conforme apresentado na Figura 5.5.

Figura 5.5 – Ábacos para obtenção da σadm de sapatas em areia (Peck et al. 1974).

3.2.1.2 Método de Meyerhof (1965)

Para sapatas apoiadas em areias, propõe-se:

N SPT wadm wadm está em polegadas


σ adm = (9)
8 σadm é obtido em kgf/cm2
para B ≤ 4 pés e
 N SPT − wadm  B + 1´  2
σ adm =   (10)
 12  B 
 

onde B está em pés.

109
3.2.1.3 Método de Burland & Burbidge (1985)

O recalque de fundações superficiais em areias é obtido pela expressão:

1,71
w = q.B0,7. f s. f l (11)
,4
N 1SPT
em que
w = recalque previsto, em mm
q = tensão aplicada pela fundação, em kgf/cm2
fs = fator de forma
fl = fator de espessura de camada compressível (H)
NSPT = resistência à penetração média na profundidade Z1, obtido da Figura 5.6.
Com os fatores fs e fl dados por:


 L 

 1,25   
B H  H 
fs =  

e fl = 2− se H < Z1
L 
Z1  Z1 


+ 0,25   
 B 

NOTAS SOBRE APLICAÇÃO DO MÉTODO

i) Areias pré-comprimidas

 2  1,71
w =  q − σ ´va .B0,7. f .f (12)
,4 s l

 3 
 N 1SPT

em que σ´va é a tensão de pré-compressão.

ii) Para NSPT > 15, em areias finas ou siltosas Figura 5.6 – Procedimento para obtenção da
submersas, usar: Ncorr = 15 + 0,5(NSPT – 15). profundidade de influência da fundação.

iii) Ocorrendo pedregulhos sugere-se usar: Ncorr =1,25 NSPT

iv) A estimativa do recalque com o tempo é feita incorporando o fator ft:

t R3 = 0,3 (cargas estáticas) e 0,7 (variáveis)


f t = 1 + R3 + Rt log (13)
3 Rt = 0,2 (cargas estáticas) e 0,8 (variáveis)
t = tempo (em anos).
em que,

110
v) A resistência à penetração média (NSPT) é calculada dentro da profundidade de influência,
Z1, obtida da Figura 5.6, em função da largura da fundação, B, se a resistência do solo abaixo
da cota de apoio da fundação for constante ou crescente com a profundidade.

vi) Se a resistência do solo abaixo da cota de apoio da fundação for decrescente ao longo da
profundidade, a média do NSPT é obtida até a profundidade correspondente a 2B ou até a base
da camada menos resistente, sendo adotado o menor dos dois valores.

vii) Entende-se por espessura de camada compressível (H) o solo ou pedregulho contido
abaixo da cota onde a fundação se apóia até à rocha ou até o estrato impenetrável.

viii) Se H ≥ Z1, o valor de fl =1,0.

ix) Se a sapata for quadrada, fs = 1,0.

x) Admite-se que uma sapata é retangular quando a relação 1 > L B ≤ 5 . Para L B > 5 ,
considera-se sapata corrida. Na prática, se procura sempre projetar sapatas retangulares com
relação L/B, no máximo, igual a 2,5.

3.2.2 Métodos semi-empíricos baseados no CPT

3.2.2.1 Método de Schmertmann (1970; 1978)

Schmertmann (1970) compilou vários perfis de deformação específica (εz) obtidos em areias
sob placas de prova, e observou que esses perfis exibiam um pico de deformação a uma
profundidade da ordem de B/2, e que a deformação se anulava em cerca de 2B. O pesquisador
assimilou os perfis de deformação a uma variação linear crescente, desde a cota de apoio da
fundação até a profundidade igual a B/2 e decrescente, de B/2 a 2B, conforme mostrado na
Figura 5.7. Assim, Schmertmann baseou seu método no conceito do índice de deformação
específica, Iεz. Com o perfil do índice de deformação específica e o módulo de elasticidade do
solo, E, o recalque da fundação poderá facilmente ser calculado (previsto):

ε .E em que,
I = z (14)
εz q q = tensão aplicada

Iε .d z n I ∆ E = módulo de elasticidade
w = ∫0H ε z d z = q ∫02B = q ∑ εi z (15)
E H = espessura total.
i = 1 Ei

111
Schmertmann (1970) propôs ainda duas correções:
a) uma para considerar o embutimento da fundação, C1

σ,
C1 = 1 − 0,5 v0 com C1 ≥ 0,5 (16)
q
b) uma para levar em conta deformações de origem viscosa (fluência) – efeito do tempo, C2

t
C2 = 1 + 0,2 log (17)
0,1
Os valores de E podem ser estimados a partir de correlações empíricas, conforme as equações
apresentadas a seguir, ou com base nos valores sugeridos na Tabela 5.3 seguinte:

E = 2,5 x qc ⇒ para sapatas circulares e quadradas, ou

E = 3,5 x qc ⇒ para sapatas corridas.

onde qc é a resistência de ponta medida no ensaio de cone, o CPT. Não se dispondo de


ensaios de cone de penetração, pode-se obter indiretamente o valor de qc a partir do índice de
resistência à penetração do SPT, ou seja, qc = K NSPT, conforme mostrado na Tabela 5.4.
Finalmente, a equação do recalque proposta por Schmertmann, incluindo os efeitos de
embutimento e tempo, assume a seguinte forma:

n I ∆
w = C1C2.q ∑ εi z (18)
i = 1 Ei

em que o Índice de deformação de pico, Iε,p é calculado conforme indicações da Figura 5.7. O
valor de ∆σ = q - σ´v0 representa o alívio de tensão vertical motivado pela escavação.

Figura 5.7 – Perfis de índice de deformação específica (Schmertmann, 1978).


112
Tabela 5.3 – Valores sugeridos para E e υ (Teixeira e Godoy, 1998; Das, 2000).
E (MPa) E (MPa) υ
Consistência ou
Solo Teixeira e Godoy DAS (2000)
compacidade
(1998)
Muito mole 1 - -
Mole 2 4 a 20 -
Média 5 20 a 40 0,20 a 0,50
Argila
Rija 7 40 a 100 -
Muito rija 8 - -
Dura 15 - -
Fofa 2 10 a 25 0,20 a 0,40
Pouco compacta 20 - -
Areia Medianamente
50 15 a 30 0,25 a 0,40
compacta
Compacta 70 35 a 55 0,30 a 0,45
Muito compacta 90 - -
Areia com Pouco compacta 50
70 a 170 0,15 a 0,35
pedregulhos Compacta 120
Argila arenosa - 30 a 40* - -
Silte - 3 a 10** - -
Areia siltosa - 7 a 20* 10 a 20 0,25 a 0,40

Tabela 5.4 – Valores de K, em MPa, em função do tipo de solo propostos por Schmertmann (1970) e
Danziger e Velloso (1986).
Tipo de solo Schmertmann Danziger e Velloso
Areia 0,40 a 0,60 0,60
Areia siltosa, argilosa, silto-argilosa 0,30 a 0,40 0,53
Silte, silte arenoso, argila arenosa 0,20 0,48
Silte argiloso - 0,30
Argila e argila siltosa - 0,50

Nota importante: Ao aplicar um método semi-empírico baseado no SPT, é comum se encontrar


a situação em que NSPT varia com a profundidade. Quando o método não indica como proceder
para obtenção da média de NSPT, pode-se fazer uma ponderação de valores até a profundidade
atingida pelo bulbo de tensões, usando-se como fator de ponderação o acréscimo de tensão
provocado pela fundação. Uma sugestão apresentada por Velloso e Lopes (1996), proposta
por Lopes et al. (1994) é esquematizada na Figura 5.8.

113
Figura 5.8 – Procedimento para obtenção de NSPT representativo por média ponderada (Lopes et al.
1994), citada por Velloso e Lopes (1996).

Para o cálculo do acréscimo de tensão em cada camada, recomenda-se recorrer a um dos


diversos métodos presentes na literatura, como por exemplo, os ábacos de Newmark e
Osterberg.

Em perfis arenosos, deve-se adotar maior valor do B previsto para calcular o Nméd, no trecho
correspondente a 2B, medido a partir da cota de apoio da base da fundação.

3.3 Métodos Empíricos

A previsão do recalque é feita com base na descrição do terreno (classificação e determinação


da compacidade ou consistência através de investigações geotécnicas). Os métodos empíricos
são apresentados na forma de tabelas de tensões admissíveis. Embora as tabelas indiquem
um valor de tensão admissível para cada tipo de solo, deve-se considerar que esse valor está
associado a um recalque admissível, ou seja, usualmente aceito por estruturas convencionais.
A NBR 6122 (1996) propõe valores de tensões admissíveis de acordo com o tipo de solo, para
recalques admissíveis limitados a 25 mm, cujos valores estão reproduzidos na Tabela 5.5.
Cabe ressaltar que os valores dessa tabela são válidos para os casos onde a profundidade de
embutimento das fundações superficiais apoiadas sobre solos granulares é, no máximo, igual 1
metro.

114
Tabela 5.5 – Tensões básicas da norma NBR 6122 (1996).

OBS.: Para solos argilosos (classes 10 a 15) os valores contidos na Tabela 5.5 são aplicáveis a
um corpo de fundação não superior a 10 m2. Para áreas maiores, devem ser corrigidos os
valores da tabela de acordo com a seguinte equação:
1
 10 
σ adm = σ 0   2 (19)
 A
 

onde A = área total da parte considerada ou da construção inteira, expressa em m2.

3.4 Prova de Carga em Placa

Além dos métodos teóricos, semi-empíricos e empíricos disponíveis na literatura para a


previsão de recalques de sapatas, o recalque de uma fundação superficial também pode ser
determinado experimentalmente, empregando-se a técnica da prova de carga sobre placa.
Neste método, uma placa de aço é submetida ao mesmo nível de tensão que a fundação em
escala real deverá sofrer. Esse tipo de ensaio, normalizado no Brasil pela NBR 6489 (1984),
consiste na instalação de uma placa rígida de aço, com diâmetro de 0,80 m (0,50 m2), na
mesma cota de projeto das sapatas, e aplicação de carga, em estágios (geralmente dez
estágios), até o dobro da tensão admissível prevista, com medida simultânea dos recalques
(ver Figura 5.9a). Os resultados são apresentados na forma de curva tensão – recalque,
conforme mostrado na Figura 5.9b.
115
(a) (b)
Figura 5.9 – Arranjo típico de uma prova de carga sobre placa e curva tensão-recalque.

Cuidados deverão ser tomados quando da interpretação dos resultados, pois, como o bulbo de
tensões gerado pela placa é em geral menos profundo que o da sapata, os resultados desse
ensaio só podem reproduzir os da fundação (escala real) nos casos onde o perfil vertical do
terreno é relativamente uniforme. Do contrário, pouco se pode extrair da prova de carga (ver
Figura 5.10).

3.4.1 Quanto à localização


a) Em superfície
b) Em cavas
c) Em furos

3.4.2 Quanto ao tipo de placa


a) Convencional
b) Parafuso (screw-plate)

3.4.3 Quanto ao modo de carregamento


a) Carga controlada (em incrementos ou com carga cíclica)
b) Deformação controlada

Na prova de carga convencional, o carregamento é incremental e é mantido até à estabilização


dos recalques, conforme prescrito pela norma brasileira.

⇒ Heterogeneidade do perfil: neste caso, o ensaio pouco representa a fundação real.


⇒ Lençol d´água: o recalque de placas em areias submersas pode ser de até duas vezes
maiores que os de areias secas ou úmidas.
116
⇒ Drenagem parcial: em solos argilosos, os recalques dependem do critério de estabilização.
O recalque medido pode estar entre o instantâneo e o final (drenado).
⇒ Não-linearidade da curva tensão-recalque: mesmo no trecho inicial da curva, pode haver
forte não-linearidade; pode também haver grande mudança de comportamento da curva
quando se atinge a tensão de pré-adensamento do solo.

3.4.4 Extrapolação dos Recalques da Placa para a Fundação

Muito cuidado deve ser tomado no momento da extrapolação dos resultados do ensaio de
placa para a fundação real. Podem ocorrer situações nas quais a prova de carga nada
reproduz da fundação real, conforme mostrado na Figura 5.10, onde existe uma relativa
estratificação do perfil. Nota-se que o bulbo de tensões da sapata atinge camadas inferiores de
solo mole não atingidas pelo bulbo da placa, o que pode facilmente induzir a erros grosseiros
de interpretação, principalmente no que se refere aos recalques.

Figura 5.10 – Comparação de bulbos de tensões da placa e da fundação em solos estratificados.

No caso de não haver estratificação significativa, pode-se extrapolar os resultados da placa:

a) Meio homogêneo (E é constante com a profundidade)

B I s,B
wB = wb (20)
b I s,b
117
em que Is.B e Is.,b são os fatores de forma para a fundação e a placa, respectivamente (ver
Tabela 5.6). O recalque wB é o da fundação extrapolado do da placa, wb. B é o diâmetro ou a
menor dimensão da fundação e b é o diâmetro da placa.

Tabela 5.6 – Valores e Is em função da forma da área carregada.

b) Meio em que E cresce linearmente com a profundidade

2
 2B 
wB = wb   (21)

 B + b 
Portanto, se o solo possui E = cte., o recalque da fundação para uma mesma tensão é
diretamente proporcional à área carregada, ou seja:
AB
wB = wb (22)
Ab
em que AB e Ab são as áreas da fundação e da placa, respectivamente.

Se a fundação e a placa tiverem mesma geometria em planta, tem-se:


B
wB = wb (23)
b

3.4.5 Ensaio de três placas

Há algumas propostas para interpretação de ensaios de placa, realizados em três diâmetros


diferentes, com vistas a se prever recalques de sapatas em meios linearmente heterogêneos.
Uma delas deve-se a Housel (1929). Dos três ensaios são retirados resultados em termos de
tensões que produzem o recalque admissível e devem conduzir a um gráfico, conforme
mostrado na Figura 5.11. Este gráfico permitirá obter, para as dimensões da fundação real, a
tensão que produzirá o recalque admissível. A interpretação se dá em termos de p/A, onde p é
o perímetro e A é área da placa. Do gráfico também podem ser retirados os parâmetros m e n,
para a equação do recalque associado a uma tensão admissível:

p
σ adm = n + m (24)
A
118
Figura 5.11 – Interpretação de ensaio em três placas segundo Housel (1929).

4.0 FUNDAÇÕES VIZINHAS

Quando uma fundação está próxima de outra, o bulbo de tensões desta interage com o da
vizinha e vice-versa, o que denominamos de sobreposição de tensões (ver Figura 5.12). O
recalque calculado isoladamente para cada sapata sem a interferência da (s) vizinha (s) será
menor do que considerando essa interação. A influência de uma sobre a outra será tanto maior
quanto mais próximas forem as sapatas e quanto maiores forem as cargas, conforme será visto
adiante.

Figura 12 – Sobreposição dos bulbos de tensões entre sapatas vizinhas.

O recalque isolado (ri) da fundação “i” quando sofre a influência da fundação “j” (ver Figura
5.13) será acrescido da parcela (1 + α), o que de acordo com a expressão matemática
seguinte, fornece o recalque total da sapata (r):

r = ri (1 + ∑ α i ) (25)
119
Figura 5.13 – Esquema da influência de sapatas vizinhas (Velloso, 1981).

A obtenção do fator α decorre do gráfico da Figura 5.14, calculando-se o parâmetro de entrada


com auxílio da Equação 26.

 π ⋅σ 
Lij +   ⇒ α (gráfico seguinte) (26)
 P 
 j 

Fator alfa para influência de sapatas vizinhas

0,70
Fator alfa
Ajuste exponencial
0,60
α = 0,5941 . x-1,1273
R2 = 0,9951
0,50

0,40
α

0,30

0,20

0,10

0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 5,50
raiz[Lij+(3,14*q/Pj)]

Figura 5.14 – Gráfico para cálculo da influência de sapatas vizinhas (Velloso, 1981).

120
5.0 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO

1) Fazer a previsão do recalque total que a sapata (isolada) apresentada na figura abaixo pode
sofrer. Considerar o perfil de sondagem apresentado para a estimativa do módulo de
elasticidade. A tensão admissível estimada do terreno foi σadm = 200 kPa. O peso específico do
solo é da ordem de 18 kN/m3.

Solução:

Usando o método de Schmertmann (1970, 1978).

σ´v0 = 18 x 1,0 = 18 kN/m2 (alívio de tensão devido à escavação)

q = 200 kPa (tensão aplicada é a tensão admissível)

∆σ = 200 – 18 = 182 kN/m2 (tensão líquida na base da fundação)

σ´vp = 18+ 18 x 1,0 + 0,55 (18 – 10) = 40,40 kN/m2 (tensão de pico, em B/2)

182
I ε , p = 0,5 + 0,1 = 0,71
40,40 (índice de deformação específica de pico)

Traçado do perfil de Iεz (ver gráfico seguinte):

18
Cálculo do fator de correção C1 ⇒
C1 = 1 + 0,5 = 0,95
182

121
Iz
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9
1

3
Profundidade (m)

Estimativa do módulo de elasticidade, E:


Por exemplo:
i) Sugestões da Tabela 5.3
ii) Areia siltosa e silte arenoso: E = 300 (NSPT + 6)
iii) Areia saturada: E = 250 (NSPT + 15)
iv) Sugestões encontradas no livro de Fundações da ABMS, publicado pela Ed. PINI.

Equação do recalque:
n I ∆ n I ∆
w = C1C2.q ∑ εi z , admitindo C2 = 1,0 e ∑ εi z = 0,000272 , tem-se:
i = 1 Ei i = 1 Ei

122
Tabela para cálculo das parcelas de recalque de cada subcamada do perfil do subsolo.
CAMADA ∆z Ei Iz Iz.∆z/Ei q = σadm σ´v0 ∆σ C1 Recalque
(m) (kPa) (kPa) (kPa (kPa) (m)

1 1,00 28000 0,34 1,21E-05 200,00 18,00 182,00 0,95 0,0021


2 1,00 40000 0,65 1,63E-05 200,00 18,00 182,00 0,95 0,0028
3 1,00 40000 0,56 1,40E-05 200,00 18,00 182,00 0,95 0,0024
4 1,00 40000 0,41 1,01E-05 200,00 18,00 182,00 0,95 0,0018
5 1,00 4000 0,26 6,50E-05 200,00 18,00 182,00 0,95 0,0112
6 1,00 4000 0,11 2,75E-05 200,00 18,00 182,00 0,95 0,0048
Soma = 0,0251
Soma = 0,000145 Soma = 2,51cm

Resultado: w =  0,95 182  0,000145 



= 0,0251m = 2,51cm

Exercício proposto:

2) Resolver o problema anterior empregando a solução de Burland e Burbidge (1985),


adotando a resistência à penetração do SPT média igual a 20.
Resposta: w = 1,05 cm
3) Resolver o problema 1 usando o método da Teoria da Elasticidade.

4) Calcular o recalque final da sapata que suporta o pilar P1, distante 3,5m da sapata vizinha,
que suporta a carga do pilar P2.
Dados:

P1 = 4000 kN r1 = 4,3cm
P2 = 5000 kN r2 = 3,2cm
Lij = 3,5m
σadm = 200 kPa

Cálculos:

 3,14 ⋅ 200  α = 0,30


Calcular 3,5 +   = 1,90
 5000 

Portanto, o recalque final da fundação 1, será: ri (final) = 4,3 (1+0,3) = 5,59 cm

123
5.0 Bibliografia Consultada

1) Almeida, M.S.S. (1996), Aterros Sobre Solos Moles: da Concepção à Avaliação do


Desempenho, Editora da UFRJ, 216p.
2) Das, B.M. (2000), Fundamentals of Geotechnical Engineering, Brooks/Cole.
3) Alonso, U. R. (1983), Exercícios de Fundações, Editor Edgard Blücher Ltda., São Paulo.
4) Alonso, U.R. (1989), Dimensionamento de Fundações Profundas, Ed. Edgar
Blücher Ltda.
5) Alonso, U.R. (1991), Previsão e Controle das Fundações, Ed. Edgar Blücher
Ltda.
6) Barata, F.E. (1984), Propriedades Mecânicas dos Solos. Uma Introdução ao Projeto
de Fundações, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
7) Caputo, H.P. (1988 e 1987), Mecânica dos Solos e suas Aplicações, Velo 1 e 2, 6a
Edição, Livros Técnicos e Científicos Editora S.A.
8) Fang, H.-Y. (1991), Foundation Engineering Handbook, Van Nostrand Reinhold.
9) Gaioto, N. (1983), Maciços e Obras de Terra, Notas de Aula, EESC/USP.
10) Hachich, W., Falconi, F.F., Saes, J.L., Frota, R.G.Q., Carvalho, C.S.,
Niyama, S. (1998), Fundações - Teoria e Prática, 2a Edição, Editora Pini Ltda.
11) Lambe, T.W., and Whitman, R.V. (1979), Soil Mechanics, SI Version, John Wiley &
Sons.
12) Moliterno, A. (1994), Caderno de Muros de Arrimo, 2a Edição, Ed. Edgar Blücher
Ltda.
13) Moraes, M. Da Cunha, (1976), Estruturas de Fundações, McGraww-Hill Book
Company do Brasil, 172p.
14) NBR 6122 (1996), Projeto e Execução de Fundações, ABNT, 33p.
15) Poulos, H.G. and Davies, E.H. (1980), Pile Foundations Analysis and Design, John
Wiley, New York.
16) Simons, N. E. & Menziens, B. K., (1981), Introdução à Engenharia de Fundações,
Tradução de Luciano Moraes Jr. e Esther Horovitz de Beermann, Editora Interciência,
Rio de Janeiro, 199p.
17) Terzaghi, K. & Peck, R.B. (1967), Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed.,
John Willey & Sons, Inc., New York.
18) Vargas, M. (1977), Introdução à Mecânica dos Solos, Ed. McGraw-Hill do Brasil, Ltda,
São Paulo.
19) Velloso, D. A., Lopes, F. R. (1996), Fundações - Critérios de Projeto - Investigações do
Subsolo, Fundações Superficiais, Volume 1, COPPE/UFRJ.

124
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES

Disciplina: FUNDAÇÕES Código: 101134


Professor: Erinaldo Hilário Cavalcante

Notas de Aula

FUNDAÇÕES PROFUNDAS
Capítulo 6 – Tipos

Aracaju, maio de 2005


ÍNDICE
1.0 Introdução 127
2.0 Classificação das Fundações Profundas 127
2.1 Fundações Mistas 128
3.0 Escolha do Tipo de Fundação 128
4.0 Classificação das Estacas 128
4.1 De acordo com o Material Empregado 128
4.2 De acordo com o Método de Execução 129
5.0 Comentários Sobre Problemas de Execução de Fundações 130
5.1 Fundações de Pontes e Viadutos 130
6.0 Tipos de Estacas Quanto ao Material 132
6.1 Estacas de Madeira 132
6.2 Estacas Metálicas 134
6.2.1 Principais vantagens das estacas metálicas sobre as demais 134
6.2.2 Principais desvantagens 135
6.2.3 Cravação 136
6.3 Estacas de Concreto 136
6.3.1 Estacas Premoldadas de Concreto 137
6.3.2 Estacas Premoldadas de Concreto Protendido 141
6.3.3 Estacas de Concreto Moldadas no Solo 142
6.3.4 Estacas Escavadas 151
6.3.5 Estacas Tipo Hélice Contínua 160
6.3.6 Estacas Prensadas 168
6.3.7 Estacas de Compactação (Melhoramento de Solos) 170
6.4 Tubulões 174
6.4.1 Tubulão a Céu Aberto 176
6.4.2 Tubulão sob Ar Comprimido 176
6.4.2.1 Fuste escavado mecanicamente 177
6.4.2.2 Fuste escavado manualmente 178
7.0 Questionário 179
8.0 Bibliografia Consultada 180

126
1.0 Definição

Fundações Profundas são aquelas cujo mecanismo de ruptura de base não atinge a
superfície do terreno. A NBR 6122 (1996) considera fundação profunda aquela cuja base está
implantada a mais de duas vezes sua menor dimensão, e a pelo menos 3 m de profundidade,
projetada para transmitir a carga ao terreno pela base (resistência de ponta), pelo fuste
(resistência de atrito lateral) ou por uma combinação das duas. As fundações profundas
dividem-se em três categorias: estacas, tubulões e caixões.

2.0 Classificação das Fundações Profundas

i) Estaca: elemento estrutural de fundação profunda, esbelto, que colocado no solo por
processo de cravação, prensagem, vibração ou por escavação, ou de forma mista (dois ou
mais processos), têm a finalidade de transmitir cargas ao mesmo, seja pela resistência sob sua
extremidade inferior (ponta), seja pela superfície lateral ao longo do fuste (atrito/adesão lateral).

ii) Tubulão: elemento de fundação profunda de forma cilíndrica, em que, pelo menos na
sua fase final de execução, há a descida de operário.

iii) Caixão: elemento de fundação profunda de forma prismática, concretado na superfície e


instalado por escavação interna.

As Figuras 6.1 e 6.2 mostram os principais tipos de fundações profundas.

Figura 6.1: (a) estaca metálicas; (b) pré-moldadas de concreto vibrado; (c) pré-moldada de concreto
cnetrifugado; (d) tipo Franki e Strauss; (e) tipo raiz; (f) escavadas; (g) tubulão a céu aberto, sem
revestimento; (h) tubulão, com revestimento de concreto e (i) tubulão, com revestimento de aço.
127
2.1 Fundação Mista

É aquela formada pela conjugação do elemento estrutural de uma fundação superficial e o de


uma fundação profunda. São exemplos desse tipo de fundação as estacas T, as estapatas, o
radier sobre estacas e o radier sobre tubulões.

Figura 6.2 – Estacas mistas: a) estaca associada à sapata (estaca T); b) estaca abaixo de sapata
(estapata); c) radier sobre estacas; d) radier sobre tubulões.

3.0 Escolha do Tipo de Fundação

É bom ressaltar que cada obra tem suas peculiaridades. Portanto, para cada projeto deve ser
feita uma análise de maneira individual. Como orientação geral, a decisão quanto ao tipo de
fundação escolher num projeto deve passar pelo julgamento de dois importantes parâmetros:

i) o menor custo (com qualidade e segurança)


ii) o menor prazo de execução

4.0 Classificação das Estacas


4.1 De acordo com o Material Empregado

As estacas podem ser de:

(i) Madeira.
(ii) Aço.
(iii) Concreto.
(iv) Mistas.

128
4.2 De acordo com o Método de Execução

A execução de estacas é uma atividade especializada da Engenharia, e o projetista precisa


conhecer as firmas executoras e seus serviços disponíveis em cada localidade, para projetar
fundações dentro das linhas de trabalho dessas firmas. As estacas podem ser instaladas no
solo empregando-se os seguintes processos:

Percussão (método mais comum)


Prensagem (comum em reforço de fundações)
ƒ cravação
Aparafusamento (de pouco uso no Brasil)
Não suportada (sem escoramento)
Suportada por lama bentonítica
ƒ escavação
Suportada por encamisamento

ƒ misto Parcialmente escavado (fase inicial) e parcialmente cravado

A Tabela 6.1 apresenta uma classificação dos tipos mais comuns de estacas, abordando os
efeitos do método executivo no grau deslocamento lateral e vertical do solo provocado durante
sua instalação.

Tabela 6.1 – Classificação dos principais tipos de estacas de acordo com o método executivo.

129
Terzaghi & Peck (1967) apresentaram o clássico agrupamento das estacas em três categorias:

i) Estacas de atrito em solos granulares muito permeáveis: indicadas para solos


granulares muito permeáveis, onde a maior parcela da carga transferida ao solo se
dá pelo atrito lateral. Pelo fato de sua instalação ser feita por cravação, muito
próximas umas das outras, reduzindo a porosidade e a compressibilidade do solo,
elas são usualmente chamadas de estacas de compactação.

ii) Estacas de atrito em solos finos de baixa permeabilidade: semelhante ao caso (i), a
transferência de carga se dá pelo atrito lateral, todavia, o seu processo executivo não
provoca a compactação do solo. São chamadas estacas flutuantes.

iii) Estacas de ponta: são aquelas que transferem a carga a uma camada de solo
resistente (camada suporte) situada a uma profundidade considerável abaixo da
base da estrutura. Neste caso, a parcela do atrito ao longo do fuste tende a zero.

5.0 Comentários Sobre Problemas de Execução de Fundações

Algumas vezes o engenheiro de fundações pode se deparar com problemas durante a fase de
execução de estacas ou outro tipo de fundação, em função das condições topográficas locais.
A seguir é destacado um dos problemas que poderão ser encontrados na prática da execução
de estacas:

5.1 Fundações de Pontes e Viadutos

Os viadutos são obras-de-arte construídos em ambiente urbano que não transpõe rios ou
outras massas de água, não apresentam problemas de fundação que diferem de outras obras
em terra, exceto dos esforços que são transmitidos às fundações. As pontes geralmente têm
parte de sua extensão cruzando massas d´água, o que apresenta problemas especiais de
execução de suas fundações.
Um dos primeiros aspectos a considerar na escolha da fundação de uma ponte é a erosão. O
projetista deverá dispor de informações sobre:

i) regime do rio (níveis máximos e mínimos)


ii) velocidades máximas do escoamento
iii) história de comportamento de fundações de outras pontes nas proximidades.

130
Além disso, o engenheiro deve consultar um geólogo de engenharia. Estes aspectos
freqüentemente impõem a elaboração do projeto em fundações profundas, uma vez que a
solução em fundação superficial é afastada por conta da possibilidade do solapamento de sua
base. Outro aspecto importante a considerar é o tipo de acesso à ponte (ver Figura 6.3).
Observe que na Figura 6.3, o primeiro tipo a ponte (a) tem extremos em balanço e o aterro de
acesso tem saia em talude. Ou outro tipo, mostrado no lado direito da figura (b), é o que adota
encontros, nos quais se apóiam as extremidades da ponte. Na ocorrência de argila mole na
região de acessos, as fundações serão naturalmente em estacas, as quais serão sujeitas ao
efeito Tchebotarioff1, que será mais severo no caso de encontros.
Outro destaque deverá ser dado ao método executivo, que poderá restringir as opções de
fundação, em função da disponibilidade de equipamentos e de mão de obra local. Dessa
forma, dispondo-se da locação dos pilares da ponte, passa-se a estudar, juntamente com a
capacidade estrutural dos elementos de fundação para transmitir os esforços da estrutura ao
solo, o processo executivo de tais elementos.
A Figura 4 mostra algumas destas maneiras em função da situação topográfica local. Quando
os pilares estão próximos das margens é possível se utilizar bate-estacas convencionais sobre
plataformas provisórias de madeira (ver Figura 6.4a) ou bate-estacas que atuam suspensos por
lança de guindastes (ver Figura 6.4b). No caso de pilares distantes das margens do rio, a
execução das fundações pode ser executada através de flutuantes (ver Figuras 6.4c,e),
conforme o modelo empregado na construção da ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros – SE, ou
plataformas auto-elevatórias (ver Figura 6.4d). Estes modelos de plataformas também podem
ser empregados na execução de tubulões2.

Figura 6.3 – Problemas com fundações em estacas próximas aos aterros de acesso de pontes.

1
Deformação lateral da estaca causada pelo desenvolvimento de elevadas tensões horizontais do maciço.
2
Os tubulões a ar comprimido continuam sendo a solução de fundação de pontes mais empregada no Brasil.
131
Figura 6.4 – Possíveis soluções para execução de fundações de pontes.

Figura 6.4e – Plataforma montada pra execução das fundações (estacões) da ponte Aracaju-Barra dos
Coqueiros – SE.

6.0 Tipos de Estacas Quanto ao Material


6.1 Estacas de Madeira

São confeccionadas com troncos de árvores, retilíneos, preparados nas extremidades (topo e
ponta) para a cravação e limpos na superfície lateral (Figura 6.5). Quando são usadas em
obras permanentes, passam por um processo de tratamento com preservativos. São estacas
empregadas no Brasil praticamente para obras provisórias. São tipos de estacas de uso
atualmente bastante restrito no país, em razão das questões de natureza ambiental. Há um
forte controle do IBAMA quanto à exploração de madeira no país, embora permaneça ainda a
prática ilegal de comercialização de madeira na região Norte.
132
Figura 6.5 – Estacas de madeira (a) sem e (b) com reforço da ponta (ponteira).

Principais vantagens:
i) duração ilimitada quando submersas
ii) facilidade de manuseio, corte, preparação para cravação e após a cravação.

Desvantagem marcante: se submetidas a alternância de secura e umidade, se deterioram


rapidamente. Sobre a deterioração das estacas de madeira, são as seguintes as causas:

i) apodrecimento pela presença de vegetais, cogumelos ou fungos


ii) ataque de térmitas ou cupins (menos freqüentemente)
iii) ataques por brocas marinhas, entre as quais crustáceos e moluscos

A Tabela 6.2, com dados da norma alemã (DIN 4026), apresenta as relações entre o
comprimento e o diâmetro de estacas de madeira. A Tabela 6.3, com dados da mesma norma,
mostra a ordem de grandeza das cargas admissíveis para servir de orientação na elaboração
de projetos, válida para estacas de madeira com comprimento mínimo de 5m, implantada em
areia compacta ou argila rija ao longo de uma espessura suficiente.

Tabela 6.2 – Relação entre o comprimento e o diâmetro das estacas de madeira (DIN 4026).
Diâmetro médio (cm)
Comprimento da estaca, L (m)
(tolerância ± 2cm)
<6 25
≥6 20 + L ; L em metros

133
Tabela 6.3 – Cargas e penetrações de estacas de madeira (DIN 4026).

Penetração na Carga admissível (kN)


camada resistente Diâmetro da ponta (cm)
(m) 15 20 25 30 35
3 100 150 200 300 400
4 150 200 300 400 500
5 - 300 400 500 600

6.2 Estacas Metálicas

As estacas metálicas ou de aço são encontradas em diversas formas, desde perfis laminados
(ou soldados) até tubos. Entre os perfis laminados estão os trilhos ferroviários, que são
reutilizados depois de retirados das ferrovias (trilhos usados). Os perfis podem ser usados
isoladamente ou associados (duplos ou triplos), conforme mostrado na Figura 6.6.
Na Tabela 6.4 são apresentados os valores das cargas de serviço para os perfis laminados
mais empregados.

6.2.1 Principais vantagens das estacas metálicas sobre as demais:


a) seções transversais de várias formas, permitindo adaptações a cada caso;
b) capacidade de carga mais elevada por área de seção transversal;
c) facilidade de transporte e de manipulação (resiste a tração e compressão);
d) facilidade para corte com maçarico e soldagem. Os pedaços são reaproveitados;
e) podem ser utilizados aços resistentes à corrosão, em casos especiais.

Figura 6.6 – Estacas de aço(seções transversais): (a) perfil de chapas soldadas; (b) perfis I laminados,
associados (duplo); (c) perfis tipo cantoneira, idem; (d) tubos; (e) trilhos associados (duplo) e (f) tubos
associados (triplo) .

134
Tabela 6.4 – Estacas de perfis laminados mais comuns.

OBS.: i) σ = tensão de trabalho.


ii) TR XX = Trilho com peso por unidade de comprimento igual a XX kgf/m;

6.2.2 Principais desvantagens:


a) No Brasil, o elevado custo;
b) Os efeitos da corrosão sobre o tempo de vida útil. Sobre este assunto
recomenda-se ler o livro de Velloso e Lopes (2002), páginas 18 a 21.

OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:

a) Estacas metálicas com trecho desenterrado, no ar ou na água, exigem uma proteção


especial. Dessa forma, faz-se a proteção desde a cota de erosão até o bloco de
coroamento, conforme indicado na Figura 6.7;

b) De acordo com a NBR 6122 (1996), no dimensionamento estrutural deverá ser


descontada uma espessura correspondente a 1,5 mm, por face em contato com o solo.
Portanto, esse valor é descontado na área de seção transversal da estaca, excetuando-
se as estacas que dispõem de proteção especial de eficiência comprovada contra a
corrosão.

135
Figura 6.7 – Estacas metálicas: proteção contra corrosão.

6.2.3 Cravação

No caso de estacas para carga admissível de até 1000kN (100tf), quando empregado martelo
de queda livre, a relação entre o peso do martelo e o da estaca deve ser a sempre maior
possível, não se usando relação menor que 0,5 e martelo com peso menor que 10kN (1tf). Por
outro lado, no caso de perfis metálicos, o uso de martelos de peso elevado pode provocar
cravação excessiva (Velloso e Lopes, 2002). Essa questão pode ser adequadamente tratada
através dos estudos envolvendo a dinâmica de estacas.

6.3 Estacas de Concreto

De todos os materiais de construção, o concreto é o que mais se presta à confecção de


estacas, por causa da sua resistência perante os agentes agressivos e pela sua estabilidade
diante de processos alternados de secagem e umedecimento. Além disso, com o concreto é
possível a execução de estacas tanto de pequena quanto de grande capacidade de carga. As
estacas de concreto são divididas em duas categorias:

136
a) Premoldadas
b) Moldadas no Solo (in loco ou in situ)

6.3.1 Estacas Premoldadas de Concreto

As estacas premoldadas são moldadas em canteiro ou em usina e podem ser classificadas,


quanto à forma de confecção em:

i) concreto vibrado
ii) concreto centrifugado
iii) por extrusão

Quanto à armadura as estacas premoldadas podem ser em concreto armado ou em concreto


protendido. Seções transversais e longitudinais típicas de estacas premoldadas são mostradas
na Figura 6.8.

Figura 6.8 – Estacas premoldadas de concreto: seções transversais típicas (a,b,c,d), seção longitudinal
com armadura típica (e) e estaca com furo central e anel de emenda (f).

6.3.1.1 Principais vantagens

i) boa qualidade do concreto (pode-se fazer o controle da concretagem)


ii) os agentes agressivos, encontrados no solo não agem sobre a cura do concreto
iii) segurança na passagem de camadas de solos muito moles

137
6.3.1.2 Principal desvantagem

i) dificuldades de adaptação às variações do terreno, visto que se a profundidade em


que se encontra a camada resistente não for relativamente constante e se a previsão
de comprimento não for feita cuidadosamente, será enfrentado o problema do corte
ou da emenda de estacas, ocasionando prejuízos econômicos para a obra.

6.3.1.3 Manipulação

As estacas premoldadas exigem dimensionamento específico para resistir aos esforços que
poderão sofrer por ação da estrutura (compressão, tração, forças horizontais e momentos), e
aos esforços de manipulação e cravação. Os esforços de manipulação são calculados a partir
dos modos de levantamento (suspensão) para carga, descarga e estocagem e de içamento
para cravação, previstos para a estaca. Portanto, ao se manipular estacas premoldadas são
necessários cuidados especiais. A Figura 6.9 mostra os modos de suspensão e içamento mais
comumente empregados.

Figura 6.9 – Modos de suspensão (pelos quintos) e içamento (pelo terço) de estacas premoldadas.

Suspensão: As estacas deverão ser suspensas, sempre que for utilizado guindaste, em dois
pontos eqüidistantes das extremidades de L/5. O mesmo procedimento é adotado no caso da
estocagem sobre caibros (Figuras 6.9 e 6.10).
Içamento: O bate-estacas, por meio de cabo de aço adequado, levantará cada estaca para ser
cravada, dando-se uma laçada bem apertada próximo da extremidade que deverá ser superior,
e a uma distância desta igual a 3L/10 (Figura 6.9). Esta operação deverá ser cuidadosa.
138
6.3.1.4 Estocagem

As estacas deverão ser estocadas sobre terreno firme e plano. Sendo o terreno perfeitamente
plano, as estacas poderão ser depositadas diretamente no chão, não sendo recomendado o
empilhamento de umas sobre as outras. Caso a superfície do terreno não esteja perfeitamente
aplainada, as estacas deverão ser estocadas apoiando-se suavemente sobre dois caibros,
conforme indicado na Figura 6.10, em no máximo duas camadas sempre que for utilizado
guindaste.

Figura 6.10 – Modo de estocagem de estacas premoldadas.

6.3.1.5 Dimensões e cargas admissíveis

Há duas categorias: i) estacas premoldadas de concreto armado vibrado executadas nos


próprios canteiros de obra, geralmente com seções de 20cm x 20 cm até 40cm x 40 cm e
comprimentos de 4m a 12m, e ii) as estacas produzidas em usinas (em escala industrial), que
normalmente atingem cargas de trabalho maiores. A Tabela 6.5 apresenta alguns dos tipos
mais comuns de estacas e suas respectivas características.
Na Tabela 6.6 são reproduzidos os valores das cargas admissíveis para estacas premoldadas
de acordo com a norma alemã (DIN 4026).

6.3.1.6 Cravação de Estacas Premoldadas

Durante o processo de implantação da estaca no solo por processo de percussão, são geradas
tensões na estaca devidas ao impacto do martelo. Essas tensões de cravação devem ser
inferiores à tensão característica do concreto, sendo normalmente recomendado como limite
máximo o valor 0,85fck. Ainda assim, para evitar o esmagamento da cabeça da estaca,
recomenda-se trabalhar com pequenas alturas de queda do martelo de cravação, geralmente
não superiores a 1 metro, bem como o uso de elementos amortecedores de impacto
(capacetes).

139
Tabela 6.5 – Tipos mais comuns de estacas premoldadas e suas cargas de trabalho
(Velloso e Lopes, 2002).

Tabela 6.6 – Cargas e embutimentos recomendados para estacas premoldadas (DIN 4026).

O sistema de cravação deve ser dimensionado para conduzir a estaca até à profundidade
prevista, sem causar danos à peça. Assim, o uso de martelos mais pesados com alturas de
quedas menores é mais eficiente do que martelos mais leves, com grande altura de queda.
Não é recomendado o uso de martelos com peso inferior a 15 kN (1,5tf), nem relação peso do
martelo/peso da estaca menor que 0,7, no caso de estacas projetadas para até 1MN de carga
admissível. Em todo caso, uma análise de cravabilidade da estaca, a partir de simulações

140
numéricas empregando-se programas de computador específicos (CAPWAP, por exemplo)
pode indicar o peso do martelo adequado à capacidade da estaca (Danziger, 1991).

6.3.1.7 Emendas de Estacas Premoldadas

De acordo com a NBR 6122 (1996), as estacas premoldadas podem ser emendadas, desde
que as seções onde são feitas as emendas possam resistir a todas as solicitações que nelas
ocorram durante o manuseio e a cravação, sem comprometer a axialidade dos elementos. Na
maioria das estacas, a emenda é feita soldando-se entre si luvas metálicas que são
incorporadas ao concreto. No caso de estacas submetidas apenas à compressão, a emenda
pode ser por anel ou luva de encaixe. A Figura 6.11 mostra detalhes de emendas usuais para
estacas premoldadas.

Figura 6.11 – Emendas de estacas premoldadas: (a) luvas de aço soldadas e (b) comprimidas.

6.3.2 Estacas Premoldadas de Concreto Protendido

São estacas utilizadas para suportar cargas elevadas, com comprimentos longos. Essa
categoria de estacas premoldadas possui as seguintes vantagens:

141
a) Elevada resistência na compressão, tração, flexão composta, etc.
b) Maior capacidade de manipulação, transporte, levantamento e cravação.
c) Pequena fissuração.
d) Emprego vantajoso de protensão excêntrica a fim de aumentar a resistência à
flexão, quando usadas como estacas-prancha em ensecadeiras e obras de
contenção.
e) Emprego efetivo como estacas de defensas para absorver o impacto de navios
em obras portuárias e na proteção de pilares de pontes.

6.3.3 Estacas de Concreto Moldadas no Solo (ou moldadas in loco)

A qualidade da estaca moldada no solo depende fundamentalmente da habilidade, do


equipamento disponível e da competência da equipe executora. A maior vantagem desse tipo
de estaca sobre as premoldadas é a execução da estaca com o comprimento estritamente
necessário, evitando-se o desperdício de material. Quanto à capacidade de carga, as estacas
moldadas no solo podem oferecer valores maiores do que as premoldadas. Existe uma
variedade muito grande de estacas moldadas no solo. Os principais tipos empregados no Brasil
são apresentados nos itens seguintes.

6.3.3.1 Estaca Tipo Broca

Segundo Velloso e Lopes (2002), é considerada a estaca mais rudimentar utilizada no Brasil,
sendo executada geralmente com trado manual, e empregada em obras de pequeno porte.
Seus diâmetros são normalmente entre 20cm e 50cm. Em geral, não são armadas, utilizando-
se apenas ferros de ligação com os blocos. As cargas de trabalho são geralmente baixas. Na
Tabela 6.7 são apresentados os valores típicos das cargas admissíveis desse tipo de estaca e
dos seguintes.

6.3.3.2 Estaca Strauss

É um tipo de estaca bastante popular, existindo inúmeros construtores que o executam


dispondo apenas de um tripé e um pequeno pilão, sem procurar firmas especializadas. As
operações envolvidas na execução de uma estaca Strauss iniciam-se pela descida de um tubo,
cujo diâmetro determina o da estaca, geralmente por escavação do solo no interior do tubo,
fazendo-se uso de uma ferramenta chamada piteira. Após atingir-se a cota desejada, enche-se
o tubo com cerca de 0,75m de concreto úmido, o qual é apiloado à medida que é retirado o
142
tubo, repetindo-se essa operação até que o concreto atinja a cota de arrasamento (ver Figura
6.12). A estaca Strauss não é indicada para casos onde o nível d´água se encontre acima da
cota de apoio da sua base.

Figura 6.12 – Seqüência executiva de estaca tipo Strauss: (a) escavação, (b) limpeza do furo, (c)
concretagem após colocar armadura e (d) estaca pronta (Velloso e Lopes, 2002).

Há uma prática originada no interior do Estado de São Paulo, principalmente em Bauru e São
Carlos, onde se utiliza uma estaca semelhante a Strauss, todavia, sem revestimento.
Denominada “estaca apiloada”, essa variante da Strauss é executada com auxílio de um
soquete que produz uma perfuração no terreno, sem a necessidade de contenção das paredes
do furo.

6.3.3.3 Estaca Tipo Franki

É uma das estacas mais difundidas no Brasil, possuindo, inclusive diversas variantes do
modelo original (Standard). A estaca Franki foi originalmente desenvolvida pelo engenheiro
belga Edgard Frankignoul, por volta de 1910 (Velloso e Lopes, 2002).
A característica mais marcante da estaca tipo Franki é a existência da base alargada, o que
contribui para conferir à estaca geralmente uma grande capacidade de carga. As operações
que envolvem a execução de uma estaca Franki são apresentadas na Figura 6.13, as quais
são descritas a seguir:

143
Figura 6.13 – Seqüência executiva da estaca Franki (Standard).

i) cravação do tubo (1 e 2): após a colocação do tubo, derrama-se nele uma certa
quantidade de mistura de areia seca e brita, socando-se de encontro ao terreno com
um pilão pesando entre 10kN a 40kN, dependendo do diâmetro da estaca. Essa
operação forma com a mistura uma “bucha” estanque, cuja base penetra
ligeiramente no solo, enquanto sua parte superior, fortemente aderida às paredes do
tubo o arrasta por atrito durante o seu afundamento. A bucha impede a entrada de
água e/ou solo no tubo.

144
ii) execução da base alargada (3): ao final da cravação do tubo, inicia-se a fase de
expulsão da bucha e execução da base alargada. Nessa etapa, o tubo é ligeiramente
erguido e mantido fixo aos cabos do bate-estacas, expulsando-se a bucha por meio
de golpes de elevada energia. Logo após a expulsão da bucha, coloca-se concreto
com fator água-cimento 0,18 (1 saco de 50kg de cimento + 90L de areia média
lavada +140L de brita nº 2), o qual é socado pelo pilão formando a base alargada.
iii) colocação da armadura (4): depois de executada a base alargada, coloca-se no tubo
a armadura, caso se tenha prevista a sua utilização. A armadura deverá se situar
entre o tubo e o pilão. No caso de estacas que serão solicitadas à tração, a armadura
deverá ser colocada antes do término da execução da base alargada, para conferir
uma melhor ancoragem na base.
iv) concretagem do fuste (5 e 6): após a etapa anterior, inicia-se a concretagem do
fuste, apiloando-se concreto com fator água/cimento entre 0,35 a 0,45 (comumente
0,36), em camadas sucessivas, com simultâneo levantamento do tubo, tendo–se o
devido cuidado para que a água e o solo nele não penetrem. Um traço básico
sugerido no Manual da ABEF é: 1 saco de 50kg de cimento CP II-E-32 + 90L de
água + 80L de brita nº 1 + 60L de brita nº 2, fator a/c = 0,36. O consumo mínimo de
cimento por m3 de concreto é 300kg.

Controle de execução: além do controle do concreto, também se faz o controle do


encurtamento da armadura. A operação de apiloamento do concreto provoca pequenas
deformações na armadura, reduzindo o seu comprimento. Uma redução brusca e de grande
valor no seu comprimento indica problemas sérios na concretagem, sendo recomendada sua
interrupção.
Métodos alternativos de cravação do tubo: sempre que vibrações ou a compressão do solo
forem indesejáveis (risco de levantamento de estacas próximas), a descida do tubo pode ser
feita escavando-se o terreno previamente, empregando-se para isso trado adequado e
mantendo-se a parede estável com o uso de lama bentonítica, no caso de terrenos arensosos.
Também é possível cravar o tubo com ponta aberta, procedendo-se à limpeza interna com o
uso da ferramenta chamada “piteira”. Esse método só é empregado quando o terreno
apresenta uma camada relativamente impermeável.
Diâmetro do pilão: A Tabela 6.7 apresenta os valores mínimos indicados para execução de
estacas Franki.
Base alargada: Na confecção da base alargada, é necessário que os últimos 0,15 m3 de
concreto sejam introduzidos com uma energia mínima de 2,5 MNm, para as estacas de
diâmetro inferior ou igual a 450 mm e 5 MNm para as estacas de diâmetro superior a 450 mm.

145
Armadura: Usa-se uma armadura mínima necessária, por motivos de ordem construtiva,
mesmo que as solicitações a que a estaca será submetida não exija qualquer armadura. A
armação básica de uma estaca Franki sugerida pela ABEF (2004) é mostrada na Figura 6.13a,
inclusive com detalhes das possíveis emendas.

Figura 6.13a – Detalhes de armadura padrão para estaca Franki (ABEF, 2004).

146
Tabela 6.7 – Características dos pilões usados na execução de estacas Franki (Velloso e Lopes, 2002).
Diâmetro da estaca Peso mínimo do pilão Diâmetro mínimo do pilão
(mm) (kN) (mm)
300 10 180
350 15 220
400 20 250
450 25 280
520 28 310
600 30 380
OBS.:Para estacas com mais de 15m, o peso do pilão deve ser aumentado em função do comprimento da estaca.

Concretagem: A execução do fuste deve ter um consumo mínimo de 350 kg/m3 de concreto,
sendo usados os seguintes procedimentos: i) o concreto é lançado em pequenas quantidades
que são compactadas sucessivamente, à medida que se retira o tubo e ii) o tubo é inteiramente
enchido de concreto plástico, e em seguida, é retirado com utilização de procedimentos que
garantam a integridade do fuste. O controle tecnológico do concreto tanto do fuste quanto da
base pode ser feito através da ruptura de corpos de prova (em geral com 15cm de diâmetro por
30cm de altura) coletados a cada 30m3 de concreto.
Carga estrutural admissível: Na fixação da carga estrutural admissível, não se pode adotar um
fck superior a 20MPa e γc = 1,5. A Tabela 6.8 mostra as principais características das estacas
Franki, segundo o catálogo de Estacas Franki Ltda.

Tabela 6.8 – Características das estacas tipo Franki (adaptado de Velloso e Lopes, 2002).

147
6.3.3.4 Estaca Tipo Franki Tubada

Essa variante da estaca Franki é de grande aplicabilidade em fundações de pontes e obras


marítimas (offshore), sendo, portanto indicada para casos onde a estaca tem uma parte em
água e outra parte em ar. A estaca Franki tubada apresenta a vantagem de não impor às
estruturas de apoio do bate-estaca em obras marítimas (plataformas ou flutuantes) esforços
muito elevados, visto que não há a operação de extração do tubo de cravação da bucha, pois
este passa a fazer parte da estaca. As demais operações são semelhantes às da Franki
Standard, mostradas na Figura 6.13. É usada armadura geralmente no trecho livre da estaca,
no qual o tubo é submetido a um processo intenso de corrosão.

6.3.3.4 Estaca Tipo Franki Mista

Como o próprio nome sugere, a estaca Franki mista é uma associação de fuste premoldado
ancorado em uma base alargada, que é principal característica da estaca Franki. O processo
de execução dessa variante da estaca Franki está representado na Figura 6.14. As estacas
mistas são recomendadas nas seguintes situações: i) estacas com um trecho acima do N.A.
(fundações de pontes, obras marítimas, etc) e ii) ocorrência de águas excepcionalmente
agressivas. Ela apresenta a vantagem de reunir a grande capacidade de carga da estaca
Franki e a boa qualidade do concreto usado no elemento premoldado.
A metodologia de execução da estaca mista começa com a cravação do tubo e da bucha, para
em seguida executar-se o alargamento da base, de forma semelhante ao sistema Standard.
Sobre a base alargada é colocada uma certa quantidade de concreto, para servir de ligação
entre esta e o fuste. Nesse instante, faz-se descer o elemento premoldado contendo na parte
inferior pontas de vergalhão para prover a ancoragem do fuste na base. Em seguida, retira-se o
tubo de cravação e a estaca fica concluída. O espaço vazio que se forma entre o tubo e as
paredes do solo às vezes é preenchido com o próprio solo, às vezes com argamassa de
cimento ou asfáltica.
Um subgrupo deste tipo de estaca é a estaca mista tubada. Neste caso, o elemento
premoldado é substituído por um tubo de aço de parede fina, o qual é preenchido com concreto
antes da retirada do tubo de cravação. Recomenda-se a ancoragem do tubo concretado na
base, através da soldagem de dois ferros em “U” na parte inferior do tubo.
A grande vantagem da estaca mista tubada é a facilidade oferecida pelo tubo de parede fina
para operações de corte e emenda, ajustando o comprimento da estaca a cada situação, sem
qualquer prejuízo econômico à obra, que possa ser causado por desperdício de material.

148
Figura 6.14 – Etapas de execução de uma estaca Franki mista.

6.3.3.5 Estaca Tipo Franki com Fuste Vibrado

A execução dessa variante da estaca Franki obedece à seqüência Standard até a colocação da
armadura. A partir daí, o tubo é completamente preenchido de concreto plástico, com “slump”
entre 8 cm a 12 cm, momento em que é acoplado ao tubo um aparelho vibrador especial, com
vibração unidirecional (vertical), procedendo-se simultaneamente o arrancamento contínuo do
tubo com o esforço do próprio bate-estaca, conforme representado na Figura 6.15.
Este processo diminui significativamente as dificuldades de concretagem do fuste em camadas
de argila mole ou muito mole, evitando-se a “fuga” de concreto e o conseqüente
estrangulamento do fuste.

6.3.3.6 Estaca Franki com Cravação por Martelo Automático e Fuste Vibrado

É uma variante do método precedente, sendo que o tubo é cravado pela ação de um martelo
automático. Além disso, a clássica bucha é substituída por uma chapa de aço, com a qual o
tubo é cravado até a profundidade especificada em projeto. Após essa etapa, coloca-se em
operação o pilão de queda livre que desloca a chapa até então fixada na extremidade inferior
do tubo e se executa a base alargada. Por fim, é colocada a armadura e substitui-se o martelo
pelo vibrador, executando-se o fuste vibrado, conforme mostrado na Figura 6.16.

149
Figura 6.15 – Etapas de execução de uma estaca Franki com fuste vibrado.

Figura 6.16 – Etapas de execução de uma estaca Franki com martelo automático e fuste vibrado.

150
6.3.4 Estacas Escavadas

As estacas escavadas caracterizam-se por serem moldadas no local após a escavação do


terreno e a retirada do material, enchendo-se a perfuração de concreto, tendo ou não o
alargamento na base. A perfuração pode ser feita usando-se sondas específicas para a
retirada de terra, perfuratrizes rotativas ou ainda trados manuais ou mecânicos. São, portanto,
estacas sem deslocamento. Uma configuração típica de equipamento usado na execução de
estacas escavadas é mostrada na Figura 6.17.

Figura 6.17 – Perfuração típica para estaca escavada com uso de lama bentonítica (ABEF, 2004).

151
A situação local é que determinará se a perfuração terá ou não suas paredes suportadas. O
suporte pode ser um revestimento metálico (recuperável ou perdido) ou lama tixotrópica
(bentonítica), conforme esquematizado nas Figura 6.18 (a,b), onde também são mostradas as
principais ferramentas para escavação em solo (Figuras 6.18 c, d, e, f). Admite-se a perfuração
desprovida de suporte apenas nos casos de terrenos coesivos, acima do lençol d´água natural
ou rebaixado. Na Figura 6.19 são mostradas as fases típicas de execução de uma estaca
escavada com lama bentonítica.

Figura 6.18 – Execução de estaca escavada: (a) escavação revestida com camisa metálica; (b)
escavação suportada por lama. Ferramentas para escavação: (c) clamshell esférico; (d) “balde”; (e)
trado helicoidal e (f) chamshell de diafragmadora (Velloso e Lopes, 2002).

O uso de lama bentonítica para suportar paredes de perfuração para execução de estaca
escavada é bastante difundida no Brasil. Essa técnica já tem de mais de 50 anos de utilização
no mundo, possibilitando a execução de estacas nas mais diversas condições de subsolo, com
comprimentos até maiores que 50 m e diâmetros de até 2,5 m (Velloso e Lopes, 2002). Vale
lembrar que estacas escavadas com diâmetros acima de 0,70 m são chamadas de estacões.
Uma foto dessa variante de estaca escavada com 2 m diâmetro (com camisa metálica perdida),
empregada nas fundações da ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros é mostrada na Figura 6.20.

152
Figura 6.19 – Execução de estaca escavada empregando-se lama bentonítica como suporte do furo.

Figura 6.20 – Estacas escavadas de grande diâmetro (2m) com uso de camisa de aço, para as
fundações da ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros.

153
Principais vantagens das estacas escavadas:

i) pouca perturbação na vizinhança.


ii) cargas admissíveis elevadas.
iii) adaptação fácil às variações de terreno.
iv) conhecimento do terreno atravessado.
Principais desvantagens:

i) requer investimento vultoso em aparelhagem (perfuratriz, guindaste auxiliar, central


de lama, etc).
ii) canteiro de obras mais difícil de manter.
iii) mobilização de grandes volumes de concreto para utilização em curto intervalo de
tempo.

No livro de Velloso e Lopes (2002) são apresentadas comparações entre os processos


executivos com lama e com revestimento recuperável, onde o leitor poderá tirar suas
conclusões a respeito do método mais adequado a cada situação (ver Tabela 11.9, pág. 44 e
45, Velloso e Lopes, 2002). No mesmo trabalho também são apresentadas especificações para
a suspensão da lama bentonítica a ser usada nas especificações.

Concretagem: A concretagem de uma estaca escavada é feita de diversas maneiras, sendo


mais comum o simples lançamento a partir do topo da perfuração. O processo de lançamento
do concreto depende do método de suporte adotado para as paredes do furo.
No caso das estacas escavadas com lama bentonítica, a concretagem é sempre submersa,
utilizando-se, geralmente, o processo da “tremonha”3. O tubo é mergulhado na lama, até o
fundo da escavação. É colocada uma bola plástica dentro desse tubo, que funcionará como
êmbolo, expulsando a lama que está no interior do tubo, impedindo-a de se misturar com o
concreto (ver Figura 6.21). Há tremonhas que são fechadas na sua base por uma tampa
articulada, cuja tampa é aberta quando o tubo está totalmente cheio de concreto, permitindo a
passagem deste para o furo.
O lançamento do concreto deve ser de forma contínua, logo após o término da perfuração,
sendo interrompido apenas o tempo necessário para as manobras do caminhão-betoneira. Em
todo o caso, as interrupções não devem durar mais que 30 minutos, para evitar a formação de
“juntas-frias”, que podem prejudicar a integridade do fuste da estaca.

As prescrições relativas às especificações técnicas para o concreto são fornecidas pela NBR
6122 (1996):

3
Tremonha é um tubo construído por elementos emendados por rosca e tendo um funil na extremidade superior.
154
i) Consumo de cimento não inferior a 400 kg/m3.
ii) Abatimento (slump) igual a (200 ± 20)mm.
iii) Diâmetro máximo do agregado não superior a 10% do diâmetro interno do tubo da
tremonha.
iv) O embutimento da tremonha no concreto durante toda a concretagem não pode ser
inferior a 1,5 m.

Figura 6.21 – Etapas da concretagem com tremonha.

Um exemplo de traço de concreto apresentado por Monteiro (1980), reproduzido por Velloso e
Lopes (2002), é apresentado a seguir, na Tabela 6.9:

Tabela 6.9 – Exemplo de traço de concreto para estaca escavada (Monteiro, 1980).
Material Em peso (kg) Em volume (litros)
Cimento 400 290
Areia 720 570
Brita Nº 1 980 630
Água 240 240
Plastiment VZ (*) 1,2 1,2
(*) Aditivo plastificante.

155
Após a concretagem, o trecho escavado e não concretado deve ser reaterrado para prevenir
desmoronamentos ou quedas de equipamentos ou pessoas. Para isso, é comum a utilização
de solo-cimento, no traço 50 kg de cimento para 1 m3 de solo. Depois do reaterro, a camisa-
guia é retirada e a estaca está concluída.
Carga estrutural admissível: adota-se um fck máximo de 20 MPa, com fator de redução de
resistência igual a γc = 1,9.

6.3.4.1 Estacas Escavadas com Injeção

São assim denominadas a estacas-raiz e as microestacas. A distinção é feita a seguir,


conforme definições da norma brasileira de fundações.

i) Estaca tipo raiz: a injeção é utilizada para moldar o fuste. Imediatamente, após a
moldagem do fuste, é aplicada pressão no topo, com ar comprimido, uma ou mais
vezes durante a retirada do tubo de revestimento. Não se usa tubo de válvulas
múltiplas, mas usam-se pressões baixas (menores que 500 kPa) para garantir a
integridade da estaca;
ii) Microestacas: incluem as pressoancoragens, executadas com tecnologia de tirantes
injetados em múltiplos estágios, utilizando-se, em cada estágio, pressão que garanta
a abertura das manchetes e posterior injeção.

Nos dois modelos, o fuste é constituído de armadura de barras e/ou tubo metálico, sendo os
vazios do furo preenchidos com calda de cimento ou argamassa. As principais vantagens
dessas estacas são:
i) Não produzem choques nem vibrações.
ii) As ferramentas disponíveis permitem sua execução em terrenos com matacões ou
peças de concreto.
iii) Equipamentos de pequeno porte, permitindo operação em locais com pouco espaço.
iv) Podem ser executadas com qualquer inclinação.
v) Podem ser utilizadas em reforço de fundações, podendo ser incorporadas à
estrutura, sob tensão.

a) Estacas-Raízes

Originalmente foram desenvolvidas na Itália, a partir da década de 50, sob a denominação de


“pali-radice”, para a contenção de encostas, quando eram cravadas formando reticulados,

156
tendo sua patente definitivamente registrada em 29 de dezembro de 1952 (Alonso, 1998). No
início de sua comercialização eram utilizados diâmetros iguais a 20 cm, razão pela qual eram
chamadas estacas injetadas de pequeno diâmetro. Com a popularização do seu emprego
como reforço de fundações e depois como fundação, houve uma tendência de se utilizar
diâmetros cada vez maiores, da ordem de 40 cm a 50 cm, deixando obviamente de receber o
nome pequeno diâmetro, sendo adotado pela NBR 6122 (1996) o título “estacas escavadas,
com injeção”. Na Figura 6.22 são mostradas as principais fases de execução de uma estaca
raiz.

Figura 6.22 – Etapas de execução de uma estaca raiz (ABEF, 2004).

Procedimentos executivos: A execução de uma estaca-raiz compreende, em geral, as quatro


fases descritas a seguir:

i) perfuração auxiliada por circulação de água;


ii) instalação da armadura (barra única ou um conjunto, estribadas – “gaiola”);
iii) preenchimento com argamassa (concretagem);
iv) remoção do revestimento e aplicação de golpes de ar comprimido.

157
Para a perfuração, utiliza-se o sistema rotativo, com circulação de água ou lama bentonítica,
que permite a colocação do tubo de revestimento provisório até a ponta da estaca. Para
diminuir o atrito entre o revestimento e o solo, durante a fase de perfuração, é colocada na
parte inferior do tubo uma ferramenta com diâmetro ligeiramente maior que o deste, chamada
sapata de perfuração. Os detritos resultantes da perfuração são levados à superfície pela água
de perfuração, através do interstício anelar formado entre o revestimento e o terreno. Desta
forma, o diâmetro acabado da estaca fica sempre maior que o diâmetro externo do
revestimento, conforme se pode ver na Tabela 6.10.

Tabela 6.10 – Características dos tubos de revestimentos usados em estaca-raiz


(adaptado de Alonso, 1998).
Diâmetro final da estaca (mm) 100 120 150 160 200 250 310 410
Diâmetro externo do tubo (mm) 89 102 127 141 168 220 273 356
Espessura da parede (mm) 8 8 9 9,5 11 13 13 13
Peso por metro linear (mm) 15 19 28 31 43 65 81 107

Após a limpeza do furo, a armadura é introduzida e é instalado logo em seguida o tubo de


injeção (PVC – com 11/2 ” a 11/4 ”), que vai até o final do furo, o qual procede à injeção de baixo
para cima, até que a argamassa extravase pela boca do furo.

Nota: Visando garantir ao consumo mínimo de cimento, a NBR 6122 (1996) prescreve um valor da
ordem de 600 kg/m3, o que equivale a um traço comum de 80 litros de areia para 1 saco de 50 kg de
cimento e 20 a 25 litros de água. Isto pode conferir à argamassa uma resistência característica da
ordem de 20 MPa.

Completado o preenchimento com argamassa, rosqueia-se um tampão metálico na parte


superior do revestimento, liga-se a um compressor e aplicam-se golpes de ar comprimido
simultaneamente à retirada do tubo. À medida que os tubos vão sendo extraídos, o nível da
argamassa vai diminuindo, necessitando de complemento sempre antes de um novo golpe de
ar, operação que é repetida várias vezes durante a retirada do revestimento.

b) Microestacas

As primeiras microestacas eram, de fato, tirantes injetados que poderiam trabalhar à


compressão. No Brasil, elas foram introduzidas pelo Prof. A. J. Costa Nunes, pioneiro na

158
execução de tirantes injetados em solo. As etapas de execução de uma microestaca estão
mostradas na Figura 6.23, cuja descrição é feita a seguir:

i) Perfuração auxiliada por circulação de água: processo rotativo com lama bentonítica
ou, no caso de areias fofas e argilas moles, com auxílio de um tubo de revestimento;
ii) Armadura: pode ser constituída por uma gaiola de vergalhões ou por um tubo de aço
dotado de válvulas expansíveis de borracha (tubo manchete), através das quais é
injetada calda de cimento sob pressão. Quando se usa gaiola, as válvulas
manchetes são colocadas em um tubo de injeção, conforme mostrado nas Figuras
6.21 e 6.22;
iii) Injeção: inicialmente, preenche-se com calda de cimento o espaço anelar entre as
paredes do furo e o tubo de injeção, formando a bainha, a qual impede o fluxo da
calda sob pressão à superfície do terreno. Numa segunda etapa, injeta-se calda de
cimento sob pressão (com até 20 kgf/cm2) através das válvulas manchetes, uma de
cada vez. A injeção pode se processar em quantas fases forem necessárias para
que se atinjam as pressões desejadas. Após a série de injeções, procede-se ao
enchimento do tubo de injeção com argamassa ou com a própria calda. Estas etapas
conferem ao fuste uma forma irregular, com sucessivos bulbos fortemente
comprimidos contra o solo, melhorando significativamente a adesão da estaca, de
maneira análoga ao bulbo de um tirante. Isso contribui para uma melhor capacidade
de carga de atrito lateral, quando comparada com outras estacas, inclusive com as
estacas-raiz de mesmo diâmetro.

Figura 6.23 – Etapas de execução de uma microestaca.

159
Figura 6.24 – Seção transversal de uma microestaca com tubo de aço e armadura complementar.

Carga admissível: As estacas escavadas com injeção, quando não penetrarem em rocha,
devem ser dimensionadas levando em conta apenas o atrito lateral, utilizando-se alguns dos
métodos consagrados na técnica. Esse dimensionamento é válido tanto à compressão quanto
á tração (NBR 6122, 1996). A norma brasileira ainda prescreve a obrigatoriedade de se fazer
provas de carga sobre um mínimo de 1% das estacas, sendo o número mínimo de três.
Considera-se adequado aumentar o número mínimo de provas de carga para 5% das estacas
com carga de trabalho entre 600 kN e 1000 kN e em 10% para cargas acima de 1000 kN.

6.3.5 Estacas Tipo Hélice Contínua

É uma estaca de concreto, moldada “in loco”, executada por meio de trado contínuo e injeção
de concreto (sob pressão controlada) através da própria haste central do trado,
simultaneamente à sua retirada do terreno. A estaca hélice contínua foi desenvolvida nos
Estados Unidos, na década de 70, sendo difundida pela Europa e Japão na década de 80,
chegando ao Brasil por volta de 1987 (Velloso e Lopes, 2002; Antunes e Tarozzo, 1998). O
primeiro modelo utilizado no Brasil, foi aqui desenvolvido, era montado sob guindaste de
esteiras com capacidade para torque de 35 kNm e diâmetros de 275 mm, 350 mm e 425 mm.
Com essa máquina se podia executar estacas com até 15m de comprimento.
Na década de 90 o mercado brasileiro experimentou uma invasão de máquinas importadas da
Europa (Itália, principalmente), construídas especialmente para execução desse tipo de estaca.
Essas máquinas têm capacidade para aplicar de 90 kNm a mais de 200 kNm de torque, utiliza
hélices com diâmetros de até 1000 mm e executa estacas com até 24 m de comprimento.

As principais vantagens da estaca hélice contínua são:

160
a) ausência de vibrações
b) elevada produtividade
c) grande capacidade de carga
d) controle automático da execução da estaca

As principais desvantagens atribuídas à estaca hélice contínua são a necessidade de muito


espaço para realizar manobras com a máquina e terreno com área suficientemente plana. Em
função dos custos de mobilização do equipamento, é necessário um número mínimo de
estacas compatível com tais custos.
De acordo com Van Impe (1995), há duas categorias de estacas hélice contínua:

• com escavação do solo


• com deslocamento do solo

6.3.5.1 Estaca Hélice Contínua com Escavação do Solo

A metodologia executiva desse tipo de estaca consiste em perfuração, concretagem simultânea


à extração da hélice do terreno e introdução da armadura, conforme se mostra nas Figuras
6.25 e 6.26.

Figura 6.25 – Processo executivo de uma estaca hélice contínua.

161
Figura 6.26 – Principais etapas de execução de uma estaca hélice contínua (ABEF, 2004).

Equipamento: o equipamento normalmente necessário para cravar a hélice no terreno é


composto de uma torre metálica, de altura apropriada a profundidade da estaca, mesa rotativa
de acionamento hidráulico com torque apropriado ao diâmetro e profundidade da estaca a ser
executada e guincho compatível com os esforços de arrancamento necessários, conforme
mostrada nas Figuras 6.26 e 6.27. As principais características dos equipamentos estão
resumidos na Tabela 6.11.

Hélice: a hélice é composta de chapas metálicas em espiral que se desenvolvem, em hélice,


em torno do tubo central. A extremidade inferior é dotada de garras que permitem cortar o
terreno, e de uma tampa que impede a entrada do solo no tubo central durante a escavação
(ver Figuras 6.26 e 6.27).

162
Perfuração: a perfuração consiste na introdução da hélice no terreno, por rotação, transmitida
por motores hidráulicos acoplados na extremidade superior da hélice, que aplicam o torque
necessário para vencer a resistência do terreno, até que se atinja a profundidade de projeto,
sem que em nenhum momento a hélice seja retirada da perfuração. Nesta fase, a única força
vertical atuante é o peso próprio da hélice com o solo nela contido, conforme Figura 6.26a.

Concretagem: alcançada a profundidade desejada, o concreto é bombeado através do tubo


central, ao mesmo tempo em que a hélice é extraída do terreno, sem girar ou, no caso de
terrenos arenosos, girando-se lentamente no sentido da perfuração. Há um controle rigoroso
da pressão aplicada no concreto para que este preencha todos os espaços deixados pela
extração da hélice (ver Figura 6.26b). A NBR 6122 (1996) prescreve que o concreto utilizado
deve apresentar fck de 20 MPa, ser bombeável e composto de cimento, areia, pedrisco e pedra
1, com consumo mínimo de cimento na faixa de 350kg/m3 a 450 kg/m3, facultando-se o uso de
aditivos. Recomenda-se ainda o abatimento “slump” de 20 a 24 cm.

Colocação da armadura: o processo executivo da estaca hélice contínua impõe que a


colocação da armadura seja feita após o final da concretagem. A armação, em forma de gaiola,
é introduzida na estaca manualmente por operários ou com auxílio de um pequeno pilão ou
ainda, com um vibrador. As gaiolas são constituídas de barras grossas, estribo helicoidal
soldado nas barras longitudinais e a extremidade inferior um pouco afunilada. Nas estacas
submetidas a apenas esforços de compressão a armadura só é colocada nos últimos 2 m do
topo, medidos a partir da cota de arrasamento. No caso de estacas submetidas a esforços
transversais ou de tração, é necessária armadura de maior comprimento. Em todo caso, a
armação deverá ser centrada no furo por meio de espaçadores (cocadas) para garantir o
recobrimento mínimo necessário.

Controle de execução: a execução dessas estacas pode ser monitorada eletronicamente


através de um equipamento de origem francesa, fabricado pela Jean Lutz S.A., denominado
Taracord Ce. O equipamento consiste de um computador e sensores instalados na máquina,
que informa todos os dados de execução da estaca, tais como:

ƒ comprimento da estaca; ƒ velocidade de extração do trado;


ƒ inclinação da torre; ƒ torque;
ƒ volume de concreto; ƒ velocidades de rotação e de penetração
ƒ sobre-consumo de concreto; do trado.
ƒ pressão no concreto;

163
Figura 6.27 – Torre e hélice usados para execução de uma estaca hélice contínua.

Tabela 6.11 – Características mínimas dos equipamentos disponíveis para executar estacas hélice
contínua (Antunes e Tarozzo, 1998).
Torque Diâmetro Profundidade
(kNm) (mm) (m)
25 275; 350; 425 15
80 – 150 ≤ 800 24
≥ 160 ≤ 1000 24

Os parâmetros indicados no mostrador digital são registrados em um elemento de memória e


transferidos a um microcomputador, através de “drive” especial, para aplicação de um
programa que imprime o relatório da estaca. A Figura 6.28 reproduz uma folha de controle
típica de um relatório de execução de estaca hélice contínua.

Orientações de projeto: para a fixação da carga estrutural admissível deve-se adotar fck mínimo
igual a 20 MPa e um fator de redução de resistência γc = 1,8. O espaçamento mínimo entre
estacas paralelas pode ser adotado igual a 2,5 vezes o diâmetro. Na Tabela 6.12 são
apresentados os diâmetros comumente utilizados, as cargas estruturais admissíveis e os
espaçamentos sugeridos, conforme prescreve a NBR 6122 (1996).

164
Orientações de projeto: as estacas hélices contínuas oferecem uma solução técnica e
economicamente viável nos casos de: i) obras em centros urbanos próximos a estruturas
existentes, como escolas, hospitais e edifícios históricos, por não produzir ruídos e vibrações e
por não causar descompressão do terreno; ii) obras industriais e conjuntos habitacionais, onde,
em geral há um grande número de estacas de mesmo diâmetro, pela grande produtividade que
pode alcançar e iii) estrutura de contenção, associado ou não a tirantes protendidos, próximos
a estruturas existentes, desde que os esforços transversais sejam compatíveis com os
comprimentos de armação permitidos.

Figura 6.28 – Folha de controle de execução de uma estaca hélice contínua.

165
Tabela 6.12 – Diâmetro da hélice, carga admissível e espaçamentos sugeridos para estacas hélice
contínua (NBR 6122, 1996).

6.3.5.2 Estaca Hélice com Deslocamento do Solo

Dois tipos de estacas hélice com deslocamento do solo começam a ser introduzidas na prática
de fundações brasileira: são as estacas Ômega e Atlas. Elas diferem da hélice contínua pelo
fato da ferramenta helicoidal (trado helicoidal) ser concebida para impor um afastamento lateral
do solo no instante em que a ferramenta é introduzida ou extraída.

a) Estaca Ômega: essa estaca pode ser executada com diâmetros variando entre 300 mm e
600 mm, e comprimentos de até 35 m. A carga admissível pode atingir até 2000 kN. As etapas
de execução são as seguintes (ver Figura 6.29):
i) penetração por movimento de rotação e, eventualmente, força de compressão do trado. O
tubo central tem a extremidade inferior fechada por uma tampa metálica que será perdida;
ii) depois de atingida a profundidade prevista, coloca-se a armadura no tubo, em todo o
comprimento da estaca;
iii) enchimento do tubo com concreto plástico;
iv) retirada do tubo por movimento rotacional no mesmo sentido da introdução e,
eventualmente, esforço de tração no trado. É feita injeção simultânea de concreto.
O trado é projetado de tal forma que, mesmo quando se atinge a superfície do terreno (na
retirada do tubo), o solo é pressionado para baixo, não se permitindo qualquer saída do solo.
166
Figura 6.29 – Etapas de execução de uma estaca Ômega.

b) Estaca Atlas: esse tipo de estaca pode ser executado com diâmetros variando entre 360 mm
e 600 mm, e comprimentos de até 25 m. A execução é semelhante à da estaca Omega, exceto
na operação da retirada do tubo, que é feita por movimento de rotação em sentido contrário ao
da introdução do mesmo no terreno. As fases de execução de uma estaca Atlas estão
apresentadas na Figura 6.30.

Figura 6.30 – Etapas de execução de uma estaca Atlas.

167
6.3.6 Estacas Prensadas

Mais conhecidas no Brasil como estacas tipo “Mega” – denominação dada pela empresa
Estacas Franki – as estacas prensadas são constituídas de elementos premoldados de
concreto (armado, centrifugado ou protendido), ou por elementos metálicos (perfis laminados,
perfis soldados ou tubos), cravados por prensagem, com auxílio de macaco hidráulico.
As estacas Mega foram idealizadas com a finalidade precípua de utilizá-las como alternativa ao
reforço de fundações, entretanto, têm sido também empregadas como fundações
convencionais, quando se deseja eliminar perturbações nas vizinhanças tais como, vibrações,
choques, ruídos, etc.
Cravação: para a cravação de uma estaca Mega, ou se emprega uma plataforma com
sobrecarga (ver Figura 6.31) ou se utiliza a própria estrutura como reação, conforme mostrado
na Figura 6.32. Na Figura 6.33 são mostrados detalhes da incorporação da estaca cravada
através de furo no bloco.

Figura 6.31 – Plataforma com cargueira e macaco aplicando carga para cravar uma estaca Mega
(ABEF, 2004).

168
Figura 6.32 – Formas possíveis de cravação de uma estaca Mega: (a) sobrecarga e (b) usando
estrutura existente como reação.

Figura 6.33 – Processo de incorporação de uma estaca prensada a um bloco.

Vantagens das estacas prensadas sobre as demais:

i) em toda estaca cravada se realiza uma prova de carga até 1,5 vezes a carga de
trabalho;
ii) execução da estaca prensada em paralelo com outras etapas da obras em
interrupção no cronograma;
iii) quando ela é cravada com reação em plataforma, já existem, hoje, dispositivos
capazes de executá-la em tempo comparável ao exigido para a cravação de estacas
Franki ou premoldadas.
169
6.3.7 Estacas de Compactação (Melhoramento de Solos)

São assim denominados os elementos de fundação introduzidos no solo através de processo


de compactação dinâmica ou vibro-deslocamento, visando basicamente aumentar a
compacidade e, conseqüentemente, a capacidade de carga do solo. É, portanto, uma técnica
de melhoramento de solos arenosos, também conhecida como colunas de areia (Bowles,
1988). Essa técnica tem possibilitado a adoção de fundações superficiais em substituição às
estacas convencionais que podem ser, na maioria das vezes, muito mais caras. Esse
procedimento tem sido também empregado na cidade de Aracaju quando se deseja melhorar a
compacidade de camadas de areia em maiores profundidades visando reduzir a nega de
estacas tipo Franki (Cavalcanti Júnior, 2004).
Existem diversas técnicas empregadas no melhoramento de terrenos arenosos, dentre as
quais a compactação com estacas de areia e brita. Esta técnica é bastante utilizada em obras
sujeita a sismos, com o objetivo de se evitar o fenômeno de liquefação, e também em
fundações de edificações, com o objetivo de densificar camadas granulares de baixa
compacidade. O princípio de funcionamento das estacas granulares está na substituição
parcial do solo natural, pela introdução em pontos localizados de volumes de materiais
granulares, geralmente sob a forma de cilindros irregulares e muito semelhantes às estacas
clássicas, reduzindo os recalques e aumentando a capacidade de carga do maciço tratado.
A densificação do terreno é resultante de três efeitos (GUSMÃO FILHO, 1995; 1998; ALVES,
1998):

i) deslocamento de material do terreno igual ao volume da estaca;


ii) introdução de material adicional compactado no terreno;
iii) vibração devido ao processo executivo.

O melhoramento de solos tem sido uma técnica muito empregada em algumas capitais
nordestinas, principalmente nas cidades de João Pessoa, Recife e Aracaju (Passos, 2001;
Soares e Soares, 2004; Cavalcanti Júnior, 2004). Em João Pessoa, estima-se que nos últimos
15 anos, 90% das obras de fundações de edifícios tenham sido projetadas em sapatas com
melhoramento prévio do solo, possibilitando o aumento, em até cinco vezes, no valor da tensão
admissível do terreno e permitindo a construção de edifícios com até trinta pavimentos. Em
Recife, essa técnica vem sendo utilizada com sucesso desde a década de 70.
O processo executivo de estacas de areia brita apresenta alguma semelhança com a
introdução da bucha seca da estaca tipo Franki. Ele consiste na cravação dinâmica de um tubo
metálico, com geralmente 300 – 350 mm de diâmetro interno e 9 m de comprimento, de ponta

170
fechada com bucha seca (ver Figura 6.34). Após a cravação do tubo, a bucha é expulsa e são
introduzidos no tubo o pó de pedra em mistura com a brita, sendo comum se executar uma
malha quadrada de 1,0 m de lado. A compactação é feita através da queda livre de um martelo
pesando entre 10 a 20 kN, suportado por tripé, caindo de uma altura da ordem de 3 m. À
medida que o material é compactado, o tubo é erguido até ser atingida a superfície do terreno
(ver Figura 6.35). Vale ressaltar que a estaca de compactação não atua como uma estaca
convencional, portanto, não deve receber carga concentrada. Sua função é apenas aumentar a
compacidade do solo. É uma técnica adequada para depósitos arenosos superficiais (até 7 m
de profundidade), sem presença de muitos finos em sua granulometria.

Figura 6.34 – Processo executivo de estacas de compactação – apiloamento do tampão de areia e brita.

Figura 6.35 – Processo executivo de estacas de compactação – Execução da base e do fuste.

171
O material utilizado pela maioria das firmas executoras do Recife é uma mistura de pó de pedra
lavado, com brita 50 ou 75 e, geralmente, utiliza-se o traço de 3 (pó de pedra) : 1 (brita) em
volume (GUSMÃO FILHO & GUSMÃO, 1994). Já em João Pessoa, segundo Soares e Soares
(2004), o material utilizado na confecção das estacas é uma mistura de areia e brita ou de areia
e cimento, sendo 1 (cimento) : 20 (areia) o traço em volume, geralmente utilizado no
melhoramento com estacas de areia e cimento, e 4 (areia) : 1 (brita), no caso de estacas de
areia e brita. A mistura, uma espécie de “farofa” levemente úmida, é feita em betoneira.
Recomenda-se que a areia para a mistura esteja com umidade natural entre 3 e 4%. O
equipamento básico utilizado nessa técnica consta de um tripé com um martelo de 10 kN a 20
kN de peso, caindo de uma altura de cerca de 3 m.
O melhoramento é feito na projeção da lâmina do edifício, ou apenas na projeção da lâmina
das sapatas, colocando-se uma linha de estacas além da área carregada (anel de reforço).
As estacas de areia e brita podem ser usadas para compactar solos granulares até 25 m de
profundidade, porém, a compactação é ineficiente na faixa de 1 a 2 m de profundidade, devido
à falta de confinamento do solo próximo à superfície, e só apresenta resultados satisfatórios
para perfis arenosos, onde o material a ser densificado possui NSPT abaixo de 20 para
profundidades de até 10 m. Quanto mais fofo o solo maior será o ganho de resistência. É
comum um ganho de resistência em termos de NSPT da ordem de 4 a 5 vezes. Por exemplo,
um solo inicialmente com NSPT igual a 4, pode passar a ter um NSPT da ordem de 20 após a
compactação da malha de estaca de areia e brita. A Figura 6.36 mostra o efeito na resistência
à penetração do SPT após a compactação (Np) em função do N medido antes do processo,
para estacas espaçadas de 80 cm. Para a avaliação da eficiência do melhoramento no solo,
geralmente são analisados os valores do NSPT do terreno, antes e após a execução da
compactação, conforme o exemplo mostrado na Figura 6.37. Nessa figura observa-se que na
cota correspondente a 3 m, o N aumentou de 5 para mais de 25.

Figura 6.36 – Efeito da compactação na resistência do solo (Soares e Soares, 2004).

172
Figura 6.37 – Efeito da compactação na resistência do solo (Soares e Soares, 2004).

A Figura 6.38 mostra configurações típicas de malhas de estacas de compactação com mistura
de areia e brita. Na Figura 6.38a é o caso de edifícios de até 12 pavimentos, enquanto na
Figura 6.38b, a malha é típica de melhoramento de solos para edifícios de 12 a 20 pavimentos.

173
Figura 6.38 – Malha de estacas de compactação: a) para edifícios de até 12 pavimentos; b) para
edifícios de 12 a 20 pavimentos (Soares e Soares, 2004).

6.4 Tubulões

Os tubulões têm em alguma fase de sua execução a descida de operário em seu interior. O
operário pode participar tanto da escavação do fuste quanto apenas do alargamento da base.
Cabe lembrar que há casos nos quais o alargamento da base é feito por equipamentos, ficando
como tarefas do operário somente a limpeza e preparo da base para concretagem.
Os tubulões têm sempre o fuste cilíndrico, mas a base pode ser alargada ou não. Os
alargamentos podem ser em forma circular ou elíptica, conforme mostrado na Figura 6.39.
Quando existe alargamento de base, o disparo “d” não deve ser maior que 30 cm, em solos
arenosos. Um ângulo de 60° com a horizontal para a base alargada é normalmente adotado
enquanto a altura (H) não deve ultrapassar os 2 metros.
Para a execução de um tubulão pode carecer ou não do uso de revestimento, dependendo das
condições locais. Dessa forma, os tubulões podem ser classificados em:

i) tubulões sem revestimento (Figura 6.40a);


ii) tubulões com revestimento (camisa) metálico ou de concreto (Figura 6.40b,c).

A concretagem pode ser feita de duas maneiras:

i) a seco (concreto lançado da superfície do terreno), como mostrado na Figura 6.40b;


ii) concretagem embaixo d´água, com auxílio de uma tromba ou tremonha.

174
Figura 6.39 – Tubulões: (a) em perfil, sem e com base alargada e formas usuais de base: (b) circular e
(c) falsa elipse.

Figura 6.40 – Tubulões (a) sem revestimento, (b) com revestimento de concreto e (c) com revestimento
metálico.

Pode-se ainda lançar mão de ar comprimido para impedir que a água penetre o interior do
tubulão durante sua execução, o que permite, por essa razão, classificar os tubulões em:

i) Tubulões a céu aberto (Figura 6.41a, b, c);


ii) Tubulões a ar comprimido (Figura 6.41d).

175
Figura 6.41 – Tubulões: (a,b,c) a céu aberto; (d) sob ar comprimido.

6.4.1 Tubulão a Céu Aberto

A execução desta categoria de tubulão só pode acontecer acima do lençol d´água, podendo-se
prescindir de suporte para as paredes (revestimento). Quando há risco de desmoronamento
das camadas superiores do solo onde se faz a escavação, é usado um revestimento,
geralmente anéis de concreto, premoldado, os quais descem simultaneamente à escavação.
Outras vezes, o fuste é escavado mecanicamente (por equipamento) e a base é alargada por
operário. Pode haver casos nos quais mesmo que o nível freático se encontre acima da cota
onde ficará a base do tubulão, sua execução pode ser a céu aberto, desde que seja um solo
argiloso, de baixa permeabilidade, onde o fluxo d´água para o interior da escavação seja tão
pequeno que não atrapalhe os serviços nem a estabilidade das paredes.

6.4.2 Tubulão sob Ar Comprimido

Pretendendo-se executar tubulões em solos onde haja água e não seja possível esgotá-la
devido ao perigo de desmoronamento das paredes do fuste, são utilizados os chamados
176
tubulões a ar comprimido (ou pneumáticos) com camisa de concreto (Figura 6.41d). Neste
caso, usa-se uma campânula que recebe a pressão de ar impedindo a entrada de água no
interior do tubulão, a qual possui um cachimbo para descarga do material escavado. Na fase
de concretagem, é montado um elemento entre a campânula e o revestimento do tubulão que
possui um cachimbo para permitir a concretagem.
Os tubulões a ar comprimido começaram a ser usados no Brasil a partir de 1940, sendo o
Edifício Rhodia, em São Paulo, o primeiro prédio a ter suas fundações em tubulão a ar
comprimido com camisa de concreto. Daí, esse tipo de fundação profunda passou a ser a mais
executada no país.
Com o maior desenvolvimento de outros tipos de fundações e com maiores restrições a ruído,
o tubulão a ar comprimido foi sendo cada vez menos usado no Brasil. Atualmente só se usa
tubulão a ar comprimido e, geralmente, com camisa de concreto, em obras de arte (pontes e
viadutos) e normalmente fora do perímetro urbano.
Cabe ressaltar a questão da pressão máxima de ar comprimido empregada, que é da ordem de
3,4 atm (340 kPa), razão pela qual estes tubulões têm sua profundidade limitada a 34m abaixo
do nível d´água. Vale frisar que em qualquer etapa da execução dos tubulões, deve-se
observar que o equipamento deve permitir que se atendam rigorosamente aos tempos de
compressão e descompressão prescritos na legislação em vigor, só sendo admitidos trabalhos
sob pressões superiores a 150 kPa quando as seguintes providências forem tomadas.

a) equipe permanente de socorro médico á disposição da obra;


b) câmara de descompressão equipada e disponível na obra;
c) compressores e reservatórios de ar comprimido de reserva;
d) renovação de ar garantida, sendo o ar injetado em condições satisfatórias para o
trabalho humano.

6.4.2.1 Fuste escavado mecanicamente

Com esse processo, geralmente é empregado um revestimento metálico, que pode ser
recuperado ou não. A escavação do fuste é feita por equipamento mecanizado, mantendo a
água no interior do tubulão, conforme ilustrado na Figura 6.42a. Atingida a profundidade
prevista, é instalada a campânula, aplicado ar comprimido e os operários descem para realizar
o trabalho de alargamento da base (Figura 6.42b).
É prática comum a concretagem da base e de uma parte do fuste sob ar comprimido, aguarda-
se um pouco para que o concreto adquira alguma resistência e, em seguida, retira-se a
campânula, efetuando-se o restante da concretagem a céu aberto. Dependendo do

177
equipamento empregado, pode-se recuperar o revestimento metálico, cuja extração é iniciada
logo após o término da concretagem do fuste.

Figura 6.42 – Tubulão pressurizado com escavação mecânica do fuste: (a) escavação do fuste; (b)
alargamento da base; (c) concretagem da base concluída e retirada da campânula.

6.4.2.2 Fuste escavado manualmente

Sendo manual a escavação do fuste do tubulão, emprega-se revestimento metálico ou de


concreto para conter as paredes da escavação. Quando o diâmetro do tubulão excede as
disponibilidades de revestimento metálico (≅ 1,50 m), ou por razões de custo, passa-se a usar
o revestimento de concreto armado, que é em geral, moldado in loco em trechos que descem
concomitantemente ao processo de escavação. Neste caso, o primeiro elemento concretado
tem forma especial, compreendendo uma câmara de trabalho, conforme se pode ver na Figura
6.43a. Quando se atinge a profundidade prevista, a base é alargada e o restante da execução
prossegue de forma semelhante ao descrito no item anterior.
Em todos os tipos de tubulões, deve-se obedecer ao diâmetro mínimo interno do fuste igual a
70 cm, sabendo-se que quando se usa revestimento de concreto, este deve ter espessura de
parede de no mínimo 20 cm, exceto na câmara de trabalho, em que ela pode ser reduzida para
10 cm.

178
(d)

Figura 6.43 – Tubulão pressurizado com escavação manual do fuste: (a) concretagem da câmara de
trabalho; (b) concretagem de um trecho do revestimento; (c) e (d) tubulão pronto para concretagem.

7.0 Questionário

1) Classifique as estacas quando ao deslocamento provocado no solo.


2) O que diferencia uma estaca de um tubulão?
3) Classifique as estacas quanto o processo executivo.
4) O que é uma estaca hélice e uma estaca hélice descontínua?
5) Por que um tubulão também pode ser considerado uma fundação direta?
6) Que são estacas de atrito?
7) O que diferencia uma estaca de um estacão?
8) Enumere os tipos de estacas que você conhece e seus respectivos procedimentos
executivos.

179
8.0 Bibliografia Consultada

1) ABEF (2004), Manual de Especificações de Produtos e Procedimentos ABEF –


Engenharia de Fundações e Geotecnia. Ed. PINI, 3ª Edição revisada, São Paulo.
2) Alonso, U. R. (1983), Exercícios de Fundações, Editor Edgard Blücher Ltda., São Paulo.
3) Antunes, W. R. e Tarozzo, H. (1998), Estacas Tipo Hélice Contínua, Capítulo 9,
Fundações – Teoria e Prática, Ed. PINI, ABMS, São Paulo.
4) Cavalcanti Júnior, D. A. (2004), Comunicação pessoal.
5) Danziger, B.R. (1991), Analise Dinâmica de Cravação de Estacas, Tese de D.Sc., COPPE
– UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
6) Das, B.M. (2000), Fundamentals of Geotechnical Engineering, Brooks/Cole.
7) Fundações: Teoria e Prática (1998), Editora PINI, Patrocínio da Associação Brasileira de
Mecânica dos Solos, 2ª Edição, São Paulo.
8) Monteiro, P.F. (1980), Estacas Escavadas, Relatório interno de Estacas Franki Ltda,
citado por Velloso e Lopes (2002).
9) NBR 6122 (1996), Projeto e Execução de Fundações, ABNT, 33p.
10) Passos, P.G. (2001), “Contribuição ao Estudo do Melhoramento de Depósitos Arenosos
Através da Utilização de Ensaios de Placa”, Dissertação de Mestrado, UFPB, Campina
Grande, PB.
11) Soares, V. B. e Soares, W. C. (2004), Estacas de Compactação – Melhoramento de Solos
arenosos com estacas de compactação – Ed. Paraibana, 176p.
12) Terzaghi, K. & Peck, R.B. (1967), Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed.,
John Willey & Sons, Inc., New York.
13) Velloso, D. A, e Lopes, F. R. (2002), Fundações Profundas, Vol. 2, Ed. COPPE/UFRJ.

180
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES

Disciplina: FUNDAÇÕES Código: 101134


Professor: Erinaldo Hilário Cavalcante

Notas de Aula

FUNDAÇÕES PROFUNDAS
Capítulo 7 – Capacidade de Carga e Recalque

Aracaju, maio de 2005


1.0 Introdução 185
2.0 Capacidade de Carga de Estacas 185
2.1 Conceituação Básica da Capacidade de Carga de Estacas Isoladas 186
2.2 O Conceito de Ruptura 186
2.3 Métodos de Previsão de Capacidade de Carga de Estacas 188
2.3.1 Fórmulas Teóricas (Racionais) para Resistência de Ponta 188
2.3.2 Fórmulas Teóricas (Racionais) para a Resistência de Atrito Lateral 194
2.3.3 Fórmulas Semi-Empíricas que Empregam o SPT 200
2.3.3.1 Método de Aoki e Velloso (1975) 200
2.3.3.2 Método de Décourt e Quaresma (1978) 203
2.3.3.3 Método de Velloso (1981) 205
2.3.3.4 Método de Teixeira 206
2.3.3.5 Métodos para Casos Particulares de Estacas 207
2.3.4 Fórmulas Semi-Empíricas que Empregam o CPT 209
2.3.4.1 Método de Philipponat 209
2.3.4.2 Método de Holeyman 210
2.3.4.3 Método de Almeida et al. (1996) - CPTU 211
2.3.5 Realização de Provas de Carga Estáticas 212
2.3.5.1 Prova de carga lenta (SML) 213
2.3.5.2 Prova de carga rápida (QML) 213
2.3.5.3 Montagem de uma Prova de Carga 213
2.3.5.4 Extrapolação e Interpretação de uma Curva Carga - Recalque 214
2.3.6 Recomendações Quanto ao Uso dos Métodos de Previsão de Capacidade de 216
Carga
3.0 Capacidade de Carga de Tubulões 217
3.1 Comportamento dos Tubulões 217
3.2 Tubulões a Céu Aberto 219
3.3 Tubulões a Ar Comprimido 221
4.0 Métodos Dinâmicos de Capacidade de Carga de Estacas 222
4.1 Observação da resposta à cravação do sistema solo–estaca 222
4.2 Sistemas de cravação de estacas 223
4.3 Fórmulas Dinâmicas de Capacidade de Carga 224
4.3.1 Fórmula Geral ou de Hiley 226
4.3.2 Fórmula dos Holandeses 226
4.3.3 Fórmula dos Dinamarqueses 227
4.3.4 Fórmula de Brix 227

183
5.0 Estimativas de Recalques de Fundações Profundas 228
5.1 Transferência de Carga e Recalque da Estaca para o Solo 228
5.2 Métodos para Previsão de Recalques de Estacas 229
5.2.1 Métodos Teóricos (Teoria da Elasticidade) 230
5.2.1.1 Método de Poulos & Davis (1968) 230
5.2.1.2 Método de Vésic (1969, 1975) 232
5.2.2 Métodos Semi-Empíricos 234
5.2.3 Ajuste da Curva Carga-Recalque 235
6.0 Procedimentos Gerais de Projeto 237
6.1 Disposição das estacas em bloco 237
6.2 Arrasamento da estaca 243
7.0 Grupos de Estacas e Tubulões 244
7.1 Capacidade de Carga de Grupo de Estacas Instaladas em Areias 244
7.2 Capacidade de Carga de Grupo de Estacas Instaladas em Argila 245
7.3 Recalque de Grupo de Estacas 246
7.3.1 Recalque de Grupo de Estacas Instaladas em Areias 247
8.0 Atrito Negativo 247
8.1 Avaliação do Atrito Negativo em Estacas Isoladas 248
8.2 Atrito Negativo Coeficiente de Segurança 249
8.3 Prevenção do Atrito Negativo 249
8.4 Atrito Negativo em Grupo de Estacas 249
9.0 Exemplos de Aplicação 250
10.0 Bibliografia Consultada 252

“A carga admissível de um estaqueamento (grupo de elementos isolados de fundação em estacas) é fixada por
cada profissional que se julgue especialista neste tipo de fundação. O valor numérico por ele fixado decorre de sua
experiência pessoal com aquele tipo específico de fundação naquela formação geológica, quando executado com o
equipamento daquela firma especializada. Neste contexto fundação é uma arte e as decisões de engenharia
dependerão da sensibilidade e experiência do artista. Neste caso, entende-se por experiência profissional o fato de
ter projetado um estaqueamento para um determinado valor de carga admissível e ter tomado conhecimento
posterior do seu comportamento sob ação deste tipo de carga em prova de carga estática. Se o comportamento foi
satisfatório há tendência em se consolidar o valor adotado e até de aumentá-lo à medida que a experiência se
acumula sempre com bons resultados. Se o comportamento foi deficiente a tendência é contrária. A experiência
confere uma medida à confiabilidade de um determinado tipo de fundação e é um fator subjetivo”.
(Prof. Nelson Aoki, 2000).

184
1.0 Introdução

No projeto de uma fundação profunda o engenheiro deve se preocupar não só com a segurança em
relação à perda de capacidade de carga, mas, e também (embora em menor grau) com a avaliação dos
recalques que podem ocorrer sob as cargas de trabalho. Serão estudados neste capítulo os métodos
estáticos e dinâmicos utilizados para cálculo ou estimativa da capacidade de carga de estacas e
tubulões, para o caso de cargas axiais.

2.0 Capacidade de Carga de Estacas

Em se tratando de capacidade de carga de uma estaca, a primeira coisa a verificar é sua capacidade de
resistir aos esforços atuantes sem sofrer fissuras ou se romper. É sua resistência estrutural. Neste caso,
de acordo com suas dimensões e do material utilizado, cada tipo de estaca tem uma capacidade de
carga estrutural. A Tabela 7.1, extraída do livro de Velloso e Lopes (2002), mostra a capacidade
estrutural e também a tensão máxima (σ) para estacas prémoldadas de concreto.

Tabela 7.1 – Capacidade de carga estrutural de estacas prémoldadas de concreto (Velloso e Lopes,
2002).

Uma vez satisfeita sua capacidade estrutural, um sistema estaca-solo submetido a uma carga vertical
resistirá a essa solicitação parcialmente pela resistência ao cisalhamento gerada ao longo de seu fuste
e parcialmente pelas tensões normais geradas ao nível de sua ponta. Portanto, podemos definir como
capacidade de carga de um sistema estaca-solo (Qr) a carga que provoca a ruptura do conjunto
185
formado pelo solo e a estaca. Essa carga de ruptura pode ser avaliada através dos métodos estáticos,
dinâmicos e das provas de carga. Por sua vez, os métodos estáticos se dividem em:

i) métodos racionais ou teóricos: utilizam soluções teóricas de capacidade de carga e


parâmetros do solo;
ii) métodos semi-empíricos: se baseiam em ensaios in situ de penetração, como por
exemplo, o SPT e o CPT.

Poderia se falar ainda dos métodos empíricos, a partir dos quais se pode também estimar,
grosseiramente, a capacidade de carga de uma estaca ou tubulão com base apenas na descrição das
camadas atravessadas.

2.1 Conceituação Básica da Capacidade de Carga de Estacas Isoladas

Nos métodos estáticos, parte-se do equilíbrio entre a carga aplicada mais o peso próprio da estaca ou
tubulão e a resistência oferecida pelo solo, conforme mostrado na Figura 7.1. O equilíbrio é expresso
com a seguinte equação:

Qr + W = Qp + Ql (1)

em que Qr = capacidade de carga total da estaca.


W = peso próprio da estaca.
Qp = capacidade de carga de ponta (de base).
Ql = capacidade de carga do fuste (atrito/adesão lateral).

Na maioria absoluta dos casos, o peso próprio é desprezível em virtude da sua pouca representação
em relação às cargas atuantes sobre a estaca, de tal forma que a Equação 1 pode ser reescrita
introduzindo-se as resistências unitárias (qp e ql), da seguinte maneira:


Q r = A p qp + U ql dz
0
(2)

ou Qr = A pqp + U ∑ q ∆ll (3)

em que

Ap = área da ponta da estaca (base)


qp = resistência de ponta unitária
U = perímetro da estaca
ql = resistência lateral unitária
∆l = trecho do comprimento da estaca ao qual se refere ql.

186
A Equação 3 deve servir de premissa para todos os métodos de capacidade de carga de estacas e
tubulões. Evidentemente, o tipo de estaca e o perfil do terreno determinarão para cada caso quem
prevalece na capacidade de carga total, se a resistência de ponta ou o atrito lateral ou ambos. Para
efeitos de melhor compreensão, a Figura 7.1 será denominada estaca de referência ou padrão, que é
de deslocamento, de concreto armado e seção circular, com diâmetro B.

Figura 7.1 – Estaca padrão submetida a carga de ruptura de compressão.

2.2 O Conceito de Ruptura

O autor deste trabalho considera de suma importância deixar claro o conceito de ruptura, visto que,
conforme lembrado por Décourt et al. (1998), as teorias de capacidade de carga se referem a ruptura
sem muitas vezes serem discutidas as deformações necessárias para atingi-la.
As verificações experimentais de capacidade de carga são interpretadas em termos de curva carga-
recalque, em que a inexistência de condições claras de ruptura é quase sempre a regra geral. Daí, a
necessidade de se ter uma definição de ruptura. De Beer (1988) apresenta os conceitos de ruptura
física e ruptura convencional, conforme definições que seguem.

Ruptura física (QUU) : é definida como o limite da relação do acréscimo do recalque da ponta da estaca
(∆SB) pelo acréscimo de carga (∆Q), tendendo ao infinito, ou seja:

∆ SB
QUU = Q para ∆Q
≡∞ (4)

187
Décourt (1996) propõe definir a ruptura física a partir do conceito de rigidez. Para o autor, a rigidez de
uma fundação qualquer (R) expressa a relação entre a carga a ela aplicada e o recalque produzido (s).
Portanto, nesta conceituação, a ruptura física acontece quando o valor da rigidez se torna nulo, ou seja:
Q
QUU = limite de Q quando s ⇒ ∞. Portanto, R = s ⇒ 0 (5)

Ruptura convencional (QUC): é definida quando existe uma carga correspondente a uma deformação da
ponta (ou do topo) equivalente a um percentual do diâmetro da estaca, sendo 10% de B, no caso de
estacas de deslocamento e de estacas escavadas em argila, e 30% no caso de estacas escavadas em
solos granulares.

2.3 Métodos de Previsão de Capacidade de Carga de Estacas

2.3.1 Fórmulas Teóricas (Racionais) para Resistência de Ponta

Segundo Velloso e Lopes (2002), as primeiras fórmulas teóricas foram desenvolvidas no início do
século XIX. Serão apresentadas inicialmente as formulações para resistência de ponta, que se baseiam
na Teoria da Plasticidade e, em seguida, são desenvolvidas as teorias usadas para cálculo da
resistência de atrito lateral.

i) Solução de Terzaghi

É a mesma teoria desenvolvida para a capacidade de carga de fundações superficiais. Neste caso, a
ruptura do solo abaixo da ponta da estaca, não pode ocorrer sem deslocamento de solo para baixo e
para cima, conforme mostrado na Figura 7.2.

Figura 7.2 – Configurações da ruptura para fundações profundas: (a) Terzaghi; (b) Meyerhof.

Se ao longo do comprimento L da estaca o solo é bem mais compressível que o existente abaixo da
base, as tensões cisalhantes (τl) provocadas ao longo do fuste pelos deslocamentos são desprezíveis.
188
Assim, a influência do solo que envolve a esta é semelhante à de uma sobrecarga (q = γ.L), e a
resistência de ponta será calculada por uma das fórmulas usadas em fundações superficiais:
B
q p,rup = 1,2cN c + γLN q + 0,6γ Nγ (6)
2
para estacas de base circular e diâmetro B, ou
B
q p,rup = 1,2cNc + γLN q + 0,8γ Nγ (7)
2
para estacas de base quadrada, de lado B.

Em argilas homogêneas, em condição não drenada (φ = 0°), a resistência de ponta se torna


praticamente constante para valores de L/D acima de 4, podendo ser admitida iguala 9Su, portanto,
independente das dimensões da estaca, como sugere Skempton (1951). Na Tabela 7.2 são
apresentados os valores dos fatores de capacidade de carga Nc, Nq e Nγ, para o caso de ruptura geral, e
N´c, N´q e N´γ, para o caso de ruptura localizada.

Tabela 7.2 – Fatores de capacidade de carga propostos por Bowles (1968).

ii) Solução de Meyerhof

É análoga à solução de Terzaghi, tendo a seguinte diferença: enquanto na solução de Terzaghi o solo
situado acima do nível da base da fundação é substituído por uma sobrecarga frouxa γL, onde as linhas
de ruptura são interrompidas no plano BD, na solução de Meyerhof essas linhas de ruptura são levadas
ao maciço situado acima de tal plano, conforme mostrado na Figura 7.2b.
Meyerhof (1953) propôs um procedimento relativamente simples para o cálculo da capacidade de carga
de estacas, sendo a resistência de ponta obtida de:

B
q p,rup = cNc + K sγLN q + γ Nγ (8)
2

189
em que KS = coeficiente de empuxo do solo contra o fuste na zona de ruptura próxima à ponta e
Nc Nq e Nγ = fatores de capacidade de carga, que dependem de φ e da relação L/B.

Os valores de KS, empuxo do terreno contra o fuste, na vizinhança da ponta de uma estaca cravada
situam-se em torno de 0,5 (areias fofas) e 1,0 (areias compactas), conforme resultados obtidos de
ensaios de laboratório e de campo (Velloso e Lopes, 2002).
No caso de fundações profundas, o valor da relação L/B é muito grande. Por essa razão, despreza-se a
última parcela da Equação 8, ficando:

q p,rup = cN c + K sγLN q (9)

onde os fatores Nc e Nq são obtidos dos ábacos da Figura 7.3, para o caso de estacas de seção circular
ou quadrada e para valores comuns de φ´.

Capacidade de carga de estacas em solos argilosos: como neste caso, φ = 0, a Equação 9 é reescrita:

q p, rup = 9,5S u + γL (10)

onde Nc está entre 9 e 10, e de acordo com a Teoria da Plasticidade, Nq = 1 e KS é aproximadamente


igual à unidade. Exige-se que a ponta da estaca penetre na camada argilosa pelo menos 2B. Para
penetrações menores, valor de Nc diminui quase linearmente até 2/3 do seu valor quando a base se
apóia no topo da camada argilosa.

Figura 7.3 – Fatores de capacidade de carga propostos por Meyerhof (1953).


190
Capacidade de carga de estacas em solos granulares: como neste caso, c = 0, a Equação 9 fica:

q p, rup = K s γLN q (11)

É necessário que a ponta da estaca penetre pelo menos 2B na camada de base. Para penetrações
menores que 2B, serão utilizados os valores de Nq e Nγ que correspondam à penetração real,
introduzindo-os na Equação 8, com c = 0.

Capacidade de carga de estacas em solos estratificados: para uma estaca instalada em perfil de solo
estratificado, pode-se considerar a resistência por atrito lateral total como sendo a soma das
resistências individuais de cada camada atravessada. Já a resistência de ponta é, inevitavelmente,
determinada pela camada na qual está fincada a ponta da estaca, conforme as Equações 10 e 11.

iii) Solução de Berezantzev

A solução de Berezantzev contempla a capacidade de ponta de estacas em solos arenosos. De acordo


com essa solução, a parcela correspondente à dimensão da estaca (B) não é desprezada, obtendo-se a
seguinte expressão:

q p, rup = Ak γB + B k α T γL (12)

em que os valores do coeficiente αT são obtidos da relação L/B e do ângulo φ, conforme mostrado na
Tabela 7.3. Os valores de AK e BK são também funções de φ, sendo obtidos das curvas da Figura 7.4.
De acordo com essa formulação, a tensão horizontal contra o fuste da estaca cravada não cresce linear
e indefinidamente com a profundidade, contrário ao que intuitivamente se poderia pensar.

Tabela 7.3 – Valores de αT para aplicação do método de Berezantzev et al (1961), citados por Velloso e
Lopes (2002).

191
Figura 7.4 – Fatores de capacidade de carga propostos por Berezantzev et al. (1961).

iv) Solução de Vésic

Nas formulações das soluções clássicas, a resistência de ponta de uma estaca é função apenas da
resistência do solo. Cabe ressaltar, todavia, que a rigidez do solo desempenha um papel fundamental,
visto que o mecanismo de ruptura é função dessa rigidez. Daí, a introdução de soluções baseadas na
teoria de expansão de cavidades em um meio elasto-plástico, conforme esquematizado na Figura 7.5.
Na proposta de Vésic (1972), a resistência de ponta de uma fundação profunda pode ser obtida da
seguinte equação:

q p, rup = cN c + σ 0 N σ (13)

1 + 2K o
em que σ o = 3
σ´v (13A)

K0 = coeficiente de empuxo no estado de repouso.


σ´v = tensão vertical efetiva no nível da ponta da estaca.
Nc, Nσ = fatores de capacidade de carga (Tabela 7.4), relacionados pela expressão:

N c = (N σ − 1) cot φ (13B)

192
Para entrada na Tabela 7.4, é necessário, além do ângulo φ, do Índice de Rigidez (Ir), que pode ser
calculado com a seguinte equação:

E G
Ir = = (13C)
2(1 + ν )(c + σ ´tgφ ) c + σ ´tgφ

Nc são os valores superiores, enquanto Nσ são os números inferiores em cada linha corresponde a cada
valor de φ mostrados na Tabela 7.4.
Da Equação 13 se observa que Vésic expressa a resistência de ponta em função da tensão normal
média (σ´v) atuando no nível da ponta da estaca.

Figura 7.5 – (a) Analogia entre a ruptura de ponta de uma estaca e a expansão de uma cavidade esférica; (b)
mecanismo de expansão de uma cavidade esférica (Velloso e Lopes, 2002, apud Vésic, 1972).

Tabela 7.4 – Fatores de capacidade de carga Nc e Nσ propostos por Vésic.

193
2.3.2 Fórmulas Teóricas (Racionais) para a Resistência de Atrito Lateral

A segunda parcela da capacidade de carga de uma estaca é a resistência de atrito lateral, conforme foi
mostrado nas Equações 2 e 3. O tratamento teórico aplicado ao atrito lateral unitário (ql) é análogo ao
usado para analisar a resistência ao deslizamento de um sólido em contato com o solo. Dessa forma,
seu valor é, usualmente, considerado como a soma de duas parcelas:

ql ,rup = ca + σ ´h tgδ = ca + K s ⋅ σ ´v tgδ = ca + K s ⋅ γ ´⋅L ⋅ tgδ (14)

em que ca é a aderência entre a estaca e o solo, σ´h é a tensão horizontal média atuando na superfície
lateral da estaca na ruptura e δ é o ângulo de atrito entre a estaca e o solo. Os valores de ca e δ podem,
em determinados casos, serem determinados através de ensaios de laboratório, executando-se ensaios
de resistência ao cisalhamento na interface entre o material da estaca e o solo, porém, esse processo
está sujeito a limitações (p. ex., o nível de tensão horizontal na superfície de contato). Por isso, ql,rup é
comum e preferencialmente estimado com base em dados empíricos oriundos de observações de
campo. Outro aspecto importante lembrado por Velloso e Lopes (2002) é fato comprovado: “medições
em estacas instrumentadas cravadas em solos granulares parecem mostrar que o atrito lateral não
cresce com a profundidade abaixo de certa profundidade, denominada crítica, assumindo daí para
baixo um valor constante”.

a) Fórmula de Terzaghi:

Terzaghi (1943) apresenta a parcela de resistência correspondendo ao efeito de profundidade da


seguinte forma: γ 1 LN q , onde γ1 seria o peso específico majorado, obtido com o seguinte raciocínio: na

ruptura, a área anelar BD, da Figura 7.2a, tende a subir, o que faz surgir uma força resistente dada por:

 2 πB 2 
(
L n − 1
4
) γ + πB τ l + n πB τ  (15)
 
em que nB é o diâmetro externo da área anelar e τ a resistência ao cisalhamento do solo. Por unidade
de área, tem-se:

 πB 2 
(
L n 2 −1
4
)
γ + πBτ l + nπBτ 
 
q1 = = γ 1L (16)
πB
( )
2
n −1
2

4
onde
τ l + nτ
γ1 =γ +4 (17)
(
B n 2 −1 )
adotando-se para n o valor que torna mínima a capacidade de carga da estaca.
194
A maior limitação do uso da Equação 17 (e também 18) refere-se às incertezas sobre o valor de τ, pois
as tensões de cisalhamento ao longo da superfície DE, na Figura 7.2a, são muito dependentes da
compressibilidade do solo. Sendo o solo pouco compressível (areias compactas), as tensões
cisalhantes na região DE são muito significativas. Em contrapartida, no caso de solos fofos (areia fofa
muito compressível), essas tensões cisalhantes ao longo de DE são inexpressivas, visto que o
movimento necessário a uma penetração da fundação para baixo pode ser produzido por uma
compressão lateral da areia localizada abaixo de BD e a tendência para levantar areia acima da base
da estaca é, certamente, insignificante. Portanto, quando se escolhe um valor de τ para a Equação 17,
deve-se supor uma mobilização incompleta da resistência ao cisalhamento do solo ao longo da
superfície cilíndrica DE. Em todo caso, a compressibilidade do solo deve ser levada em consideração
pelo fato dela influenciar decisivamente na capacidade de carga da fundação.

b) Fórmula de Meyerhof:

Tendo como base a Equação 14, Meyerhof propõe as seguintes expressões para cálculo do atrito
lateral unitário de estacas:

__
K S γL
σh = (18)
2 cos δ
__
para solos granulares (ca = 0), sendo δ o ângulo de atrito solo-estaca e K S o coeficiente de empuxo

médio ao longo de todo o fuste.


O atrito lateral unitário da estaca, obtido em consonância com a Equação 18, será dado por:
___
K S γL
q l , rup = tgδ (19)
2
__
O valor médio de KS ( K S ) pode ser determinado a partir de ensaios de penetração estática, analisando-

se os valores da resistência lateral; KS seria obtido no trecho inferior (2B a 4B) da haste de ensaio e
__
K S obtida a partir da média dos KS obtidos em diferentes profundidades. Na Tabela 7.5, de Broms
(1966), são apresentados valores de KS para fins de estimativas do atrito lateral unitário. Para δ sugere-
se os seguintes valores (Velloso e Lopes, 2002 apud Aas, 1966):

Tabela 5 – Valores de KS (Broms, 1966).


Estacas de aço: δ = 20°
Tipo de Estaca Areia fofa Areia compacta

Estacas de concreto: δ = 4
Metálica (aço) 0,5 1,0
Concreto 1,0 2,0

Estacas de madeira: δ = 3 Madeira 1,5 3,0

195
Observações:
i) se a ponta da estaca estiver apoiada numa profundidade L´, abaixo do lençol freático, a capacidade
de carga total da estaca (Qr) deverá ser reduzida pela aplicação do seguinte coeficiente multiplicador:

 1 − γ ´  L´
1 −   (20)
 γ L
em que γ´é o peso específico do solo submerso.

ii) para solos argilosos (φ = 0), Meyerhof propõe a seguinte expressão para a aderência lateral:

q l , rup = c a (21)

em que ca é a coesão do solo, que depende do processo executivo da estaca e da sensibilidade da


argila. Para uma estaca cravada em uma argila pouco sensível, pode-se adotar ca = Su (resistência ao
cisalhamento não drenada), com limite superior aproximado da ordem de 100 kPa. O fato da resistência
lateral crescer e atingir um valor máximo da resistência não drenada da argila, levou os pesquisadores a
comparar estas duas resistências por uma expressão do tipo:

ql ,rup = αS u (22)

em que α é um coeficiente que pode variar de 0,2 a 1,25, de acordo com o tipo de estaca e o tipo solo,
conforme mostrado na Figura 7.6.

Figura 7.6 – Valores do coeficiente de adesão α para atrito lateral de estacas.

c) Fórmula Geral para Solos Arenosos:

Foi visto que ql,rup depende de duas parcelas: i) aderência (ca), a qual independe da tensão normal
efetiva (σ´h) que atua contra o fuste e ii) a parcela de atrito, que aí sim, é proporcional a essa tensão. A
experiência adquirida com estacas de rugosidade normal permite adotar tg δ = tg φ´, sendo φ´ o ângulo
de atrito interno do solo amolgado em termos de tensões efetivas. Como a tensão normal atuando
contra o fuste é normalmente relacionada à tensão vertical efetiva na profundidade correspondente,

196
através de um coeficiente de empuxo KS, pode-se reescrever a Equação 14, para solos granulares (ca =
0) da seguinte forma:

ql, rup = K sσ v, tgφ , (23)

Segundo Velloso e Lopes (2002), o coeficiente KS é afetado pelo comprimento e forma da estaca,
principalmente se for cônica. Em estacas escavadas e jateadas, KS é igual ou menor que K0 (coeficiente
de empuxo no repouso). Em estacas cravadas com pequeno deslocamento, ele é um pouco maior,
porém, raramente excedendo 1,5, mesmo em areias compactas. Para estacas cravadas curtas e de
grande deslocamento, instaladas em areia, KS pode se aproximar do coeficiente de empuxo passivo,
dado por Kp = tg2 (45° + φ/2).

d) Métodos para Solos Argilosos:

d.1) Método α: nos solos argilosos, a resistência lateral tem sido relacionada á resistência ao
cisalhamento (coesão) não drenada, conforme visto na Equação 22. Os valores de α: são apresentados
na Figura 7.7, cujas curvas levam em consideração a natureza da camada sobrejacente e a resistência
não-drenada da argila antes da instalação da estaca.

d.2) Método β: De acordo com discussões apresentadas em Velloso e Lopes (2002), Burland (1973)
sugeriu que o atrito estaca-solo não fosse associado à resistência ao cisalhamento não-drenada, mas
sim às condições de tensões efetivas, de cuja proposta são tiradas as seguintes considerações:

i) Antes do carregamento, os excessos de poropressão gerados na instalação da estaca estão


completamente dissipados;
ii) Uma vez que a zona de maior distorção em torno do fuste é delgada, o carregamento ocorre
em condições drenadas;
iii) Em decorrência do amolgamento causado durante a instalação, o solo não terá coesão
efetiva, razão pela qual o atrito lateral em qualquer ponto será dado por:

ql, rup = σ ,h tgδ (24)

onde σ´h é a tensão horizontal efetiva que atua na estaca e δ o ângulo de atrito efetivo entre a argila e o
fuste da estaca.

iv) Admite-se que a tensão horizontal efetiva é proporcional à tensão vertical efetiva inicial, σ´v:

σ , h = Kσ vo
,
(25)

197
Figura 7.7 – Curvas para obtenção do coeficiente α (Velloso e Lopes, 2002, apud Tomlinson, 1994).

Com relação à Equação 25, há que se ter bastante cuidado para não confundir K com o coeficiente de
empuxo do solo no repouso, K0, visto que o valor de K é muito dependente do processo de instalação
da estaca no solo, que pode ser muito diferente da situação original. Com a Equação 25, pode-se
reescrever a Equação 24 da seguinte forma:

ql, rup = Kσ v, 0 tgδ (26)

Da Equação 26, o produto Ktgδ pode ser substituído pelo símbolo β, resultando em:

ql, rup
β= = Ktgδ
σ v, 0 (26A)

Valores médios de β podem ser obtidos empiricamente, a partir de provas de carga, desde que se tenha
deixado passar algum tempo entre a instalação da estaca e a realização do ensaio, e que o ensaio seja
realizado de forma lenta.

198
Valores de β para argilas moles normalmente adensadas:

β = 1 − sen φ a, tgφ a,


  (26B)

onde φ´a é o ângulo de atrito do solo amolgado e drenado, que estima-se se situar entre 20° e 30°.

Valores de β para argilas rijas:


A resistência lateral de argilas rijas é muito difícil de se avaliar. Para uma estaca ideal, cuja instalação
não provoque grandes perturbações no terreno, é razoável admitir-se que a resistência lateral total seja
dada por:
L
Ql, rup = πB ∑σ 0
,
v 0 K 0 tgδ ∆L (27)

onde B e L são o diâmetro e o comprimento da estaca, respectivamente.


O valor médio de ql,rup da resistência unitária da estaca seria dado por:

Ql ,rup
1 L ,
ql ,rup = = ∑ σ K tgδ∆L (27A)
πBL L 0 v 0 0

Método λ: Nesta abordagem, expressa-se a resistência lateral em função da tensão vertical efetiva e da
resistência não-drenada da argila. Por isso, o método recebe também a denominação de “enfoque
misto”. Neste caso, a resistência lateral pode ser calculada por:

ql, rup = λ  σ v, 0 + 2 S u 
  (28)

em que λ é um coeficiente que depende do comprimento da estaca, o qual varia de 0,1 para estacas
com mais de 50m de comprimento a 0,3 para estacas menores de 10m.

Evolução da Resistência com o Tempo após a Cravação da Estaca

Pesquisas têm revelado que após a cravação de uma estaca em um depósito de argila mole há um
aumento considerável da resistência lateral com o decorrer do tempo. Esse aumento na resistência está
associado à migração de água dos poros, causada pelo excesso de poropressão gerado durante a
cravação da estaca.
Vários pesquisadores têm confirmado essa ocorrência (Velloso e Lopes, 2002), dos quais pode-se
destacar Soderberg (1962), o qual propõe uma equação para previsão do tempo (t) necessário para o
desenvolvimento da máxima capacidade de carga da estaca a partir da cravação. Conforme visto na
Equação 29, esse tempo é proporcional ao quadrado do diâmetro ou raio da estaca (r). Neste caso, o
ganho de resistência com o tempo seria controlado pelo fator tempo (Th), definido por:

199
Cht
Th = (29)
r2
onde Ch é coeficiente de adensamento horizontal do solo.

Vésic (1977) observou experimentalmente que estacas cravadas de até 35cm de diâmetro atingem a
capacidade de carga máxima ao final de um mês, ao passo que estacas com 60cm de diâmetro podem
levar até um ano para atingir essa capacidade de carga (Velloso e Lopes, 2002).
No caso de estacas cravadas em argilas rijas, pode haver diminuição das poropressões na argila ao
redor do fuste, como conseqüência da cravação. Neste caso, haveria uma migração da água dos poros,
contrária à referida anteriormente, provocando uma espécie de amolecimento da argila numa região
anelar no entrono do fuste, tendo como conseqüência uma redução da capacidade de carga da estaca
com o decorrer do tempo, a partir da cravação.

2.3.3 Fórmulas Semi-Empíricas que Empregam o SPT

Os métodos teóricos e experimentais e os ensaios de laboratório são imprescindíveis para estabelecer


a influência relativa de todos os parâmetros envolvidos nos cálculos de capacidade de carga. Todavia, a
utilização dos métodos teóricos na prática da engenharia de fundações é, extremamente restrita, uma
vez que a maioria dos parâmetros do solo necessários a essas análises é, muitas vezes, de difícil
determinação.
Em contrapartida, correlações entre tensões correspondentes a estados-limites de ruptura e dados de
resistências à penetração obtidos de ensaios “in situ”, são simples e fáceis de serem estabelecidas. As
fórmulas semi-empíricas são oriundas de ajustes estatísticos feitos com equações de correlação que
têm embutido em sua essência os princípios definidos nos métodos teóricos e/ou experimentais.
No Brasil, dos métodos utilizados para o dimensionamento de fundações em estacas, dois são
reconhecidamente os mais empregados: o método de Aoki e Velloso (1975) e o de Décourt e Quaresma
(1978). Há ainda métodos desenvolvidos para tipos específicos de estacas, a exemplo do de Velloso
(1981) e o de Cabral (1986), este último empregado exclusivamente para estaca-raiz.

2.3.3.1 Método de Aoki e Velloso (1975)

Esse método foi desenvolvido a partir de um estudo comparativo entre resultados de provas de carga
em estacas e de SPT, mas pode ser utilizado também com dados do ensaio de penetração do cone
(CPT). A expressão da capacidade de carga foi concebida relacionando-se a resistência de ponta e o
atrito lateral da estaca à resistência de ponta (qc) do CPT. Para levar em conta as diferenças de
comportamento entre a estaca (protótipo) e o cone (modelo), os autores propuseram a introdução dos
coeficientes F1 e F2, ou seja:

200
qc
qp = (30) qc = k.N (32)
F1
para a resistência de ponta da estaca, e
q
ql = c (31) qc = αk.N (33)
F2
para a resistência lateral da estaca.
Introduzindo-se correlações entre o SPT e o CPT
(cone holandês, mecânico), e o coeficiente α
Logo, a capacidade de carga total da estaca
estabelecido por Begemann (1965) para
será:
correlacionar o atrito lateral do cone com
kN αkN
ponteira Begemann com a tensão de ponta, qc, Qr = A p + U∑ ∆l (34)
F1 F2
tem-se:

Os valores de k e de α são apresentados na Tabela 7.6, enquanto os valores de F1 e F2 constam na


Tabela 7.7.
Para o cálculo de qp, o valor de N será o
Tabela 7.6 – Valores de k e α (Aoki e Velloso, 1975).
encontrado na cota de apoio da estaca,
Tipo de solo k (kgf/cm2) α (%)
enquanto que para o atrito lateral, o valor de
Areia 10,0 1,4
Areia siltosa 8,0 2,0 N corresponde à camada de espessura ∆l.

Areia silto-argilosa 7,0 2,4 O método de Aoki e Velloso (1975) foi


Areia argilo-siltosa 5,0 2,8 adaptado, posteriormente, para aplicação em
Areia argilosa 6,0 3,0 estaca tipo raiz, hélice e ômega. Nestes
Silte arenoso 5,5 2,2 casos, sugere-se valores de F1 = 2,0 e F2 =
Silte areno-argiloso 4,5 2,8 4,0.
Silte 4,0 3,0 Outras contribuições foram incorporadas ao
Silte argilo-arenoso 2,5 3,0
método original de Aoki e Velloso (1975),
Silte argiloso 2,3 3,4
sendo a última atribuída a Monteiro (1997),
Argila arenosa 3,5 2,4
inclusive adicionando outros tipos de estacas,
Argila areno-siltosa 3,0 2,8
conforme apresentado nas Tabelas 7.8 e 7.9.
Argila silto-arenosa 3,3 3,0
Argila siltosa 2,2 4,0 Recomendações para aplicação do método
Argila 2,0 6,0 de Aoki e Velloso, modificado por Monteiro:

i) valor de N é limitado a 40;


Tabela 7.7 – Valores de F1 e F2 (Aoki e Velloso, 1975;
ii) para o cálculo da resistência de ponta,
Velloso et al., 1978).
ql,rup, deverão ser considerados valores ao
Tipo de estaca F1 F2
longo de espessuras iguais a 7e 3,5 vezes o
Franki 2,50 5,0
diâmetro da ponta, para cima e para baixo da
Metálica 1,75 3,5
profundidade da base (ver Figura 7.8). De
Premoldada de concreto 1,75 3,5
acordo com a Figura 7.8, o valor de qp,rup a
Escavada 3,00 6,0
ser adotado será dado pela Equação 35:

201
Tabela 7.8 – Valores de k e α (Monteiro, 1997). Tabela 7.9 – Valores de F1 e F2 (Monteiro
1997).
Tipo de solo k (kgf/cm2) α (%) Tipo de estaca F1 F2
Franki fuste apiloado 2,30 3,0
Areia 7,3 1,4
Franki fuste vibrado 2,30 3,2
Areia siltosa 6,8 2,0
Metálica 1,75 3,5
Areia silto-argilosa 6,3 2,4
Premoldada de concreto* 2,50 3,5
Areia argilo-siltosa 5,7 2,8
Premoldada de concreto** 1,20 2,3
Areia argilosa 5,4 3,0 Escavada com lama 3,50 4,5
Silte arenoso 5,0 2,2 Raiz 2,20 2,4
Silte areno-argiloso 4,5 2,8 Strauss 4,20 3,9
Silte 4,8 3,0 Hélice Contínua 3,00 3,8

Silte argilo-arenoso 4,0 3,0 * cravada a percussão


** cravada por prensagem
Silte argiloso 3,2 3,4
Argila arenosa 4,4 2,4
Argila areno-siltosa 3,0 2,8
Argila silto-arenosa 3,3 3,0
Argila siltosa 2,6 4,0
Argila 2,5 6,0

Figura 7.8 – Proposta para determinação da resistência de ponta de estacas (Monteiro, 1997).

q ps + q pi
q p , rup = (35)
2

No caso de estacas Franki, a área da ponta é calculada com o volume da base alargada (Vb), admitida
superfície de forma esférica:
2
 3V  3
Ap = π  b  (36)
 4π 

202
2.3.3.2 Método de Décourt e Quaresma (1978)

Esses autores apresentaram uma proposta para estimativa da capacidade de carga de estaca com
base nos valores do N do SPT. O método foi originalmente desenvolvido para estacas de
deslocamento, mas, a exemplo do método de Aoki e Velloso, tem passado por modificações para
contemplar outros tipos de estacas. O método de Décourt e Quaresma tanto usa dados do SPT quanto
do SPT-T. Desse último, se pode obter o Neq (N equivalente), que segundo Décourt (1991), é o valor do
Torque, em kgf.m, divido por 1,2, conforme a Equação 37. O Neq assim calculado corresponde a um
valor do N do SPT obtido sob um nível de eficiência da ordem de 72%. Entenda-se como eficiência (η),
o valor da energia efetivamente usada para cravar o amostrador no solo dividida pela energia potencial
do martelo (de 65 kgf) no instante em que o mesmo é erguido até uma altura igual a 0,75 m.

T
Neq = (37)
1,2

a) Resistência de ponta

A resistência de ponta da estaca é obtida da equação 38:


__
q p,rup = C. N (38)

onde C é apenas função do tipo de solo, conforme mostrado na Tabela 7.10, e só para estaca cravada.

Tabela 7.10 – Valores de C para o método de Décourt e Quaresma (1978).


Estaca cravada
Tipo de solo
tf/m2 kN/m2
Argilas 12 120
Siltes argilosos 20 200
Siltes arenosos 25 250
Areias 40 400

__
O valor N a ser usado na Equação 38 corresponde à média de três valores de N: o do nível da ponta
da estaca, o imediatamente abaixo e o imediatamente acima desta.

b) Atrito lateral

São considerados os valores do N ao longo do fuste, sem levar em conta aqueles utilizados no cálculo
da resistência de ponta, os menores que 3 e os superiores a 50. Dessa forma, obtém-se a média e, com
auxílio da Equação 39, estima-se o valor do atrito médio, em kN/m2, ao longo do fuste da estaca.
_ 
N  (39)
q = 10 + 1
l, rup 3 
 

203
2.3.3.2.1 Método de Décourt e Quaresma para outras tipos de Estacas

Para contemplar outros tipos de estacas, diferentes da estaca padrão, definida como uma estaca
cravada no solo (de deslocamento) e cilíndrica, no ano de 1996 Décourt sugeriu incluir na equação de
capacidade de carga coeficientes de ponderação para a ponta (α) e para o atrito lateral (β), obtendo
assim a seguinte equação:

Q = αq A + β q A (40)
r p p l l
ou ainda,

_ 
_  Nl 
Q = αC Np A + 10 β  + 1 (41)
r p 3 
 
__ __
em que N p é a resistência à penetração na região da ponta da estaca e N L corresponde à média de N
ao longo do fuste, ressaltando que no caso do valor de N ser menor que 3, o valor adotado deve ser
igual a 3, usando-se o mesmo critério para N ≥ 15 (adota-se N = 15) para estacas escavadas. Os
coeficientes α e β são sugeridos na Tabela 7.11. Cabe lembrar que a ruptura aqui definida, quando a
mesma não é indicada, corresponde à carga que provoca um recalque no topo da estaca de 10% do
seu diâmetro.
O coeficiente de segurança da norma brasileira é global e igual a 2,0. Entretanto, no método de Décourt
e Quaresma são propostos valores de FS parciais para a resistência de ponta (FSp = 4) e para o atrito
lateral (FSl = 1,3). Assim a carga admissível da estaca (Qadm) será o menor dos dois valores calculados
conforme exposto a seguir:

Q p , rup Ql , rup Qr
Qadm = + e Qadm = (42)
4,0 1,3 2,0

Tabela 7.11 – Valores de α e β propostos por Décourt e Quaresma (1978).


Tipo de estaca
Tipo de solo Escavadas em Escavada Hélice contínua Estaca-raiz Injetada sob
geral (bentonita) altas pressões
α 0,85 0,85 0,30* 0,85* 1,00*
Argilas
β 0,80 0,90* 1,00* 1,50* 3,00*

Solos α 0,60 0,60 0,30* 0,60* 1,00*


intermediarios β 0,65 0,75* 1,00* 1,50* 3,00*

α 0,50 0,50 0,30* 0,50* 1,00*


Areias
β 0,50 0,60* 1,00* 1,50* 3,00*
* valores apenas orientativos, diante do reduzido número de dados disponíveis.

204
2.3.3.3 Método de Velloso (1981)

Pedro Paulo da Costa Velloso (Velloso, 1981) apresentou um critério para o cálculo da capacidade de
carga de estacas e de grupos de estacas, com base no CPT. Para uma estaca, de comprimento L, fuste
de diâmetro B e ponta Bp, a capacidade de carga pode ser obtida da seguinte equação:

Qr = Q p,rup + Ql,rup = Qr = Apαβq p,rup + Uαλ ∑q l,rup ∆li (43)

onde Ap = área da ponta da estaca


α = fator da execução da estaca (α = 1, estaca escavada, α = 0,5 para estacas cravadas)
λ = fator de carregamento (λ = 1 para estacas comprimidas e, λ = 0,7 para estacas tracionadas)
β = fator de dimensão da base
Bp
β = 1,016 − 0,016 (44)
b
β = 0 para estacas tracionadas e Bp = B.

em que b = diâmetro da ponta do CPT (= 3,6cm para o cone padrão)


ql,rup = atrito lateral médio em cada camada de solo atravessada pela estaca
qp,rup = resistência de ponta da estaca.

Observações:

a) Dispondo-se apenas de resultados de sondagem com SPT, para o método de Velloso (1981), pode-
se adotar:

q p, rup = aN b (45)

ql, rup = a,N b´ (46)

onde N é a resistência à penetração do SPT e os parâmetros a´, b´, a e b, são obtidos de correlações
entre o SPT e o CPT, cujos valores são fornecidos na Tabela 7.12.

Tabela 7.12 – Valores aproximados dos fatores a, b, a´, b´ (Velloso, 1981).


Ponta Atrito lateral
TIPO DE SOLO a b a´ b´
(kPa) (kPa) (kPa) (kPa)
Areias sedimentares submersas 600 1 5,0 1
Argilas sedimentares submersas 250 1 6,3 1
Solos residuais de gnaisse areno- 500 1 8,5 1
siltoso submerso
Solos residuais de gnaisse silto- 400 1 8,0 1
arenoso submerso

205
2.3.3.4 Método de Teixeira

Este método de previsão de capacidade de carga de estacas foi apresentado no 3º Seminário de


Engenharia de Fundações Especiais e Geotecnia (SEFE III), realizado em São Paulo (Teixeira, 1996).
Pelo método de Teixeira, a capacidade de carga à compressão de uma estaca pode ser obtida a partir
da equação geral (Equação 47), introduzindo-se os parâmetros α e β, apresentados na Tabela 7.13.

__ __
Qr = α N b Ab + Uβ N L L (47)
__
em que N b = valor médio do NSPT medido no intervalo de 4B acima da base da estaca e 1B abaixo da
base da estaca
__
N L = valor médio do NSPT medido ao longo do fuste da estaca
Ab = área da base da estaca (ponta)
L, B = comprimento, diâmetro da estaca, respectivamente.

O parâmetro α é função da natureza do solo, enquanto β é função do tipo de estaca, conforme Tabela
7.13. Vale lembrar que os dados da tabela são válidos para valores de 4 < NSPT < 40. Os dados da
Tabela 7.13 não se aplicam ao cálculo de estacas premoldadas de concreto, cravadas em argilas moles
sensíveis. Também, para as estacas dos tipos I,II e IV, o coeficiente de segurança deve ser o da norma,
ou seja, 2, enquanto que para as estacas escavadas, do tipo III, recomenda-se para a ponta FS = 4,0, e
para o atrito lateral, FS =1,5.

Tabela 7.13 – Valores dos fatores α e β, propostos por Teixeira (1996).


Tipo de estaca
Observação Solo
I II III IV
Argila siltosa 11 10 10 10
Silte argiloso 16 12 11 11
Argila arenosa 21 16 13 14
Valores de α (tf/m2)
Silte arenoso 26 21 16 16
válidos para NSPT na
Areia argilosa 30 24 20 19
faixa de 4 a 40
Areia siltosa 36 30 24 22
Areia 40 34 27 26
Areia com pedregulhos 44 38 31 29
Valores de β (tf/m2) em função do tipo de estaca 0,4 0,5 0,4 0,6
I = estaca premoldada de concreto e perfis metálicos II = estaca tipo Franki
III = escavadas a céu aberto IV = estacas raízes

206
2.3.3.5 Métodos para Casos Particulares de Estacas

São mencionados neste item alguns métodos de autores brasileiros apresentados para tipos exclusivos
de estacas.

a) Para Estacas Escavadas

Trata-se de um método proposto por Alonso (1983) para estimativa do comprimento de estacas
escavadas. Nesta proposta, se U é o perímetro da estaca, se os valores do NSPT são determinados a
cada metro (é o comum) e se Ql,rup é a parcela de resistência lateral da estaca, tem-se:
ξQl , rup
∑N = U
(48)

ou

U∑ N
Ql , rup = (49)
ξ
onde o somatório é realizado ao longo do fuste da estaca. O valor mais provável de ξ é igual a 3.
Coeficiente de segurança: para estaca escavada, a norma brasileira estabelece FS igual a 2,0, em
relação à soma das cargas de ponta e lateral. Além disso, deve ser atendido o seguinte critério:

Qtrab ≤ 0,8.Ql,rup (50)

b) Para Estacas Tipo Raiz

Foi apresentado um método por Cabral (1986), no qual a capacidade de carga de uma estaca tipo raiz,
com um diâmetro final B ≤ 45cm, injetada com uma pressão p ≤ 4 kg/cm2, pode ser estimada com:

Q r = U ∑ β 0 β 1 N∆L + β 0 β 2 N p A p (51)

onde ∆L = espessura de solo caracterizado por NSPT


Np = NSPT no nível da ponta da estaca
β0 = fator que depende do B da estaca (em cm) e da pressão de injeção (em kgf/cm2), conforme
apresentado na Tabela 14. β0 também pode ser calculado:

β 0 = 1 + 0,11 p − 0,01B (51A)

β1, β2 = fatores dependentes do tipo de solo, conforme Tabela 7.15.

207
Tabela 7.14 – Fator β0 Tabela 7.15 – Fatores β1 e β2 (Cabral, 1986).

c) Para Estaca Hélice Contínua

Alguns métodos apresentados em itens anteriores incorporam coeficientes para contemplar a


capacidade de estacas hélice contínua, a exemplo do método de Aoki e Velloso (1975) e Décourt e
Quaresma (1978). O primeiro, apresenta previsões seguras para cargas de até 250 tf, enquanto o
segundo pode prever seguramente a capacidade de carga desse tipo estaca com cargas maiores.

c1) Método de Antunes e Cabral (1996)

O método de Antunes e Cabral (1996) também permite obter previsões bastante seguras de capacidade
de carga de uma estaca hélice contínua, com valores até maiores que 250 tf, de acordo com a seguinte
equação:

Q r = U ∑ β 1, N∆L + β 2, N p A p (52)

onde β´1, β´2 = fatores dependentes do tipo de solo (Tabela 7.16).

c2) Método de Alonso (1996)

Este autor propõe o uso do SPT-T (SPT com a medição do Torque) para estimativa da capacidade de
carga de estacas hélice contínua a partir da fórmula geral da capacidade de carga. A resistência de
atrito lateral é obtida por:

ql,rup =0,65f ≤ 200 kPa (53)

com f= 100T (54)


0,41h − 0,032
onde T = torque (kgf.m)
h = comprimento cravado do amostrador.

208
A resistência de ponta é obtida por:

T(1) + T(2)
qp = β " min min (55)
2
em que

T(1) = média aritmética dos valores de torque mínimos (kgf.m) ao longo de 8B acima da ponta
min
da estaca.

T(1) = média aritmética dos valores de torque mínimos (kgf.m) ao longo de 3B abaixo da ponta
min
da estaca.
O valor do parâmetro β” depende do tipo de solo, conforme mostrado na Tabela 16.

Tabela 7.16 – Fatores β´1, β´2 e β” para estaca hélice contínua.

β´1 β´2 β”
Tipo de solo
(%) (kPa/kgf.m)
Areia 4,0 a 5,0 2,0 a 2,5 200
Silte 2,5 a 3,5 1,0 a 2,0 150
Argila 2,0 a 3,5 1,0 a 1,5 100

2.3.4 Fórmulas Semi-Empíricas que Empregam o CPT

2.3.4.1 Método de Philipponnat

É um método francês, baseado no CPT, que passou a ser difundido em nosso país a partir da tradução
do trabalho original feita por Godoy e Azevedo Júnior (1986). Deste método, a resistência de ponta
pode ser obtida da seguinte expressão:

qp = αp qc (56)

sendo αp um coeficiente que depende do tipo de solo (Tabela 7.17). O valo de qc a ser introduzido na
Equação 56, deverá ser a média obtida numa faixa de profundidade correspondente a 3B acima e 3B
abaixo da ponta da estaca.
O atrito lateral unitário, ql, é calculado da seguinte equação:

α qc
ql = F (57)
αs

Os valores dos coeficientes αF e αS são fornecidos nas Tabelas 17 e 18, respectivamente. Observa-se
que o valor de αF depende apenas do tipo de estaca.

209
Tabela 7.17 – Valores dos coeficientes αP e αS em função do tipo de solo (Décourt et al. 1998).
Tipo de solo αp αS
qc < 8MPa 0,40 100
Areia 8MPa < qc < 12MPa 0,40 150
qc >12MPa 0,40 200
Silte 0,45 60
Argila 0,50 50

Tabela 7.18 – Valores dos coeficientes αF e qS,máx em função do tipo de estaca (Décourt et al. 1998).
ql, máx
Interface solo-estaca Tipo de estaca αF
(kPa)
Concreto Premoldada, Franki, Injetada 1,5 120
Escavada: D ≤ 1,5m 0,85 100
Concreto
Escavada: D > 1,5m ; Barrete 0,75 80
Metálica Perfil: H ou I (perímetro externo) 1,10 120

2.3.4.2 Método de Holeyman

Do método de Holeyman et al. (1997), a parcela da carga de ponta de uma estaca pode ser obtida de:

Q p, rup = β qp A p = βα b Fb q (pm ) A p (58)

onde β = fator de forma da base da estaca (para estacas de base nem quadrada nem circular), função
da largura B e do comprimento L:

β = 1+ 0,3B/L (58A)
1,3
αb = fator empírico para levar em conta o processo executivo da estaca e a natureza do solo
Fb = fator de escala, função das características de resistência ao cisalhamento do solo.
qp(m) = resistência de ponta homogeneizada, calculada pelo método de De Beer.

O cálculo da parcela de atrito lateral pode ser feito por um dos três métodos disponíveis (Velloso e
Lopes, 2002), sendo o mais empregado o que se apresenta a seguir:

U U
Q l,rup = ξ f ∆ Q c = ∑ ξ f  ∆ Q lc  (58)
u l u i i

210
em que U = perímetro da estaca
u = perímetro da seção transversal da haste do cone
ξf = fator empírico para levar em conta os efeito do processo de execução (αs), o material e
rugosidade do fuste (βS) e efeitos de escala da estrutura do solo (εS), conforme Tabela 7.19.
(∆Qlc)i = acréscimo da resistência lateral do cone na i-ésima camada.

Tabela 7.19 – Valores do fator ξf em função do tipo de estaca e do solo (Velloso e Lopes, 2002).
Tipo de estaca ξf
Em areias 0,60 a 1,60
De grande deslocamento
Em argilas 0,45 a 1,25
De pequeno deslocamento 0,60 a 0,85
Escavadas 0,40 a 0,60

2.3.4.3 Método de Almeida et al. (1996) – CPTU (Piezocone)

O ensaio de cone padrão (CPT) tem passado por diversos aperfeiçoamentos, sendo os mais recentes
relativos à medição da poropressão na ponta do cone, recebendo, por isso, o nome de Piezocone ou
CPTU (ver Figura 7.9). No Brasil, foi desenvolvido um método de previsão de capacidade de carga com
base no Piezocone, para estacas instaladas em argilas (Almeida et al., 1996). Por esse método, as
resistências de ponta e de atrito lateral podem ser obtidas das seguintes expressões:

q − σ v0
qp, rup = c (60)
k2

e
q − σ v0
ql,rup = c (61)
k1

 
 q c − σ v0 
onde k1 = 12 + 14,9 log  
(62)
σ,

 
 v0 

N kt
e k2 = (63)
9
em que Nkt é um fator de cálculo da resistência não drenada (SU) no ensaio CPTU. No cálculo do Nkt
emprega-se a resistência de ponta corrigida, qT, ao invés do qc do CPT (Lunne et al, 1985), conforme
mostrado na Equação 64.

211
q − σ v0
N kt = t (64)
Su

Figura 7.9 – Principais posições onde o elemento poroso é instalado no CPTU.

2.3.5 Execução de Provas de Carga Estáticas

Na realização de provas de carga sobre estaca ou tubulão busca-se um dos seguintes objetivos:

a) aferir o comportamento previsto em projeto tanto da capacidade de carga quanto do recalque;


b) definir com segurança a carga de trabalho em casos nos quais não se pode fazer uma previsão.

A grande quantidade de métodos de previsão de capacidade de carga e recalques disponíveis no meio


técnico de fundações, alguns muito confiáveis, permite dizer que as provas de carga são executadas
mais por força do motivo citado no item a. Sobre esse assunto, a norma de fundações brasileira prevê a
redução no valor do coeficiente de segurança de obras controladas por provas de carga, desde que os
testes tenham sido feitos num número representativo de estacas, que seria da ordem de 1% de todo o
estaqueamento, preferencialmente começando as provas de carga pelas primeiras estacas da obra.
Como os custos envolvidos na execução de uma prova de carga estática são relativamente altos, a
prática mostra a execução de 1 a 2 provas de carga por obra, podendo ser até maior esse número, a
depender do seu porte. Como alternativa, se pode complementar a verificação com a realização de
provas de carga dinâmica, que são custo unitário relativamente menor.
As provas de carga estáticas são normalizadas pela NBR 12131 (1989). O teste é feito geralmente sob
carga controlada, aplicada em incrementos de igual valor, com as leituras dos recalques sendo feitas
em intervalos de tempo pré-determinados. Quanto à velocidade do carregamento, a prova de carga
estática pode ser classificada como lenta – SLOW MANTAINED LOAD (SML) ou rápida – QUICK
MANTAINED LOAD (QML).
212
2.3.5.1 Prova de carga lenta (SML)

O ensaio lento é o que melhor reproduz o carregamento imposto à estaca pela estrutura futura nos
casos mais correntes (edifícios, silos, pontes, etc.). Como a estabilização dos recalques só se
completaria a tempos muito longos, a norma fixa um critério convencional, no qual se considera que o
recalque estabilizou quando o seu valor lido entre dois tempos sucessivos não ultrapassa 5% do
recalque total do estágio de carga. As leituras são feitas em tempos dobrados (1min, 2min, 4min, 8min,
15min, 30min, etc.), sendo que mesmo que a estabilização aconteça nas primeiras leituras, o tempo
mínimo para aplicação de um novo estágio é 30 minutos. O carregamento incremental é aplicado até
que se atinja o dobro da carga de trabalho da estaca. A norma ainda recomenda que último estágio de
carga seja mantido por pelo menos 12 horas antes do descarregamento, que deverá ser efetuado em 4
a 5 estágios iguais.
A prova de carga lenta é preferida quando se deseja obter informações mais detalhadas sobre os
recalques da estaca. Por outro lado, quando a principal informação a ser obtida do teste é o valor da
carga de ruptura ou dispõe-se de pouco tempo para execução do teste, pode-se optar pela realização
da prova de carga tipo rápida.

2.3.5.2 Prova de carga rápida (QML)

Neste caso, cada estágio de carga é mantido por apenas 5 minutos, fazendo-se as leituras no início e
no final do estágio. O carregamento total, geralmente em 10 estágios, prossegue até o dobro da carga
de trabalho prevista para a estaca. Neste caso, o descarregamento é efetuado logo após o último
estágio de carga.

2.3.5.3 Montagem de uma Prova de Carga

Nas provas de carga a compressão, o carregamento é feito por um macaco hidráulico munido de
bomba, reagindo contra um sistema de reação, conforme o modelo disposto na Figura 7.10. Para medir
a carga efetivamente aplicada ao topo da estaca é comum a utilização de uma célula elétrica de carga,
enquanto para medição dos recalques são empregados extensômetros (relógios comparadores) fixados
em vigas de referência. O sistema de reação optado é função, dentre outras coisas, da carga máxima a
aplicar, podendo ser desde plataformas com peso (cargueiras), a vigas presas a estacas vizinhas à que
será testada. Neste último caso, há que se ter o cuidado de não danificar estruturalmente a estaca
usada como reação, caso ela faça parte do estaqueamento definitivo da obra.
Quando se deseja conhecer o modo de transferência de carga da estaca para o solo, deve-se
instrumentar o fuste desta com um ou mais dos seguintes sistemas:

⇒ defôrmetros colados na face da estaca ou em barras de armaduras (definitivos)


⇒ defôrmetros de contato, removíveis, instalados na estaca através de parafusos
⇒ células de carga integrada ao fuste
213
Figura 7.10 – Sistemas de medição para realização de uma prova de carga de compressão em estaca.

2.3.5.4 Extrapolação e Interpretação de uma Curva Carga - Recalque

a) Extrapolação

Conforme bem lembrado por Velloso e Lopes (2002), a interpretação de uma prova de carga pode gerar
controvérsias pelas diferentes visões que se pode ter de ruptura. Esses autores foram muito oportunos
ao citarem Davison (1970): “ Provas de carga não fornecem respostas, apenas dados a interpretar”.
Quando uma prova de carga não é levada à ruptura ou um nível de recalque que não caracterize a
ruptura, pode-se tentar uma extrapolação da curva carga-recalque. Para isso, existem vários métodos
disponíveis na literatura, sendo o mais usual no meio técnico brasileiro o critério de Van der Veen
(1953). A extrapolação de van deer Veen (Figura 7.11a) baseia-se numa equação matemática
(exponencial), que é ajustada ao trecho que se dispõe da curva carga-recalque:

Q = Qrup 1 − e −αw  (65)


 

Figura 7.11 – Extrapolação da curva carga-recalque pelo método de van der Veen (1953).

214
A carga de ruptura é obtida experimentando-se diferentes valores para estaca carga até que se obtenha
uma reta no gráfico –ln(1-Q/Qrup) versus w (recalque), conforme mostrado na Figura 7.11b .
Na aplicação do método de van der Veen, Aoki (1976) verificou que a reta obtida não passava pela
origem dos eixos, apresentando um intercepto. Por isso, Aoki propôs a inclusão do intercepto daquela
reta (β), alterando a expressão de van der Veen com a seguinte forma:

Q = Qrup 1 − e β −αw  (66)


 
A experiência adquirida por Velloso e Lopes (2002), com extrapolações usando o método de van der
Veen, ao longo de décadas, indica que esse método é confiável se o recalque máximo atingido na prova
for, ao menos, 1% do diâmetro da estaca.

c) Interpretação

Sendo completa a curva carga-recalque obtida da prova de carga, ela precisa ser devidamente
interpretada para se definir o valor da carga de ruptura. Por mais que a curva apresente uma carga de
ruptura visual, essa definição pode ser enganadora, visto que a escala em que a curva é apresentada
pode conduzir a diferentes interpretações. Existem alguns critérios para definição da carga de ruptura
de uma estaca ou tubulão, os quais podem ser organizados em 4 categorias:

i) baseados em um valor absoluto do recalque ou recalque como um percentual do diâmetro


ii) baseados na aplicação de uma regra geométrica à curva (ver Figura 7.12a)
iii) critérios baseados na busca de uma assíntota vertical (ver Figura 7.12b) e,
iv) baseados na caracterização da ruptura pelo encurtamento elástico da estaca somado a um
percentual do diâmetro da base (ver Figuras 7.12c).

Figura 7.12 – Interpretações da curva carga: a) regra geométrica; b) pesquisa de uma assíntota vertical
(Velloso e Lopes, 2002).

215
Figura 7.12c – Interpretação da curva carga – recalque a partir do critério de ruptura convencional
(Velloso e Lopes, 2002).

A norma brasileira se enquadra na categoria “iv”, que define a ruptura pelo valor do recalque
correspondente ao encurtamento elástico da estaca somado a um deslocamento de ponta igual a B/30:
O critério da norma brasileira pode ser visualizado na Figura 7.12c (que é uma modificação do da norma
canadense), apenas substituindo-se a parcela 4mm + B/120 pelo valor do deslocamento de ponta citado
acima (B/30).

2.3.6 Recomendações Quanto ao Uso dos Métodos de Previsão de Capacidade de Carga

Foram apresentados os principais métodos de previsão de capacidade de carga de estaca isolada. No


Brasil, a prática corrente de Engenharia de Fundações demonstra que os métodos semi-empíricos são,
de fato, os mais utilizados, principalmente aqueles que usam dados do SPT, destacando-se os métodos
de Aoki e Velloso (1975; 1978) e Décourt e Quaresma (1978). Todos os métodos apresentados foram
originários de correlações empíricas, o que exige muita cautela de quem escolher usar um deles. A
extrapolação de experiência de uma região para outra requer a comprovação da validação do método,
confrontando-o com resultados obtidos, e devidamente interpretados, de provas de carga.

216
3.0 Capacidade de Carga de Tubulões

3.1 Comportamento dos Tubulões

Embora seja considerada uma fundação profunda, por causa da sua profundidade de embutimento ser
relativamente grande, o tubulão também pode ser enquadrado no grupo das fundações diretas, visto
que praticamente toda a carga é transmitida pela base (Cintra et al, 2002).
Os tubulões a céu aberto são usados praticamente para qualquer faixa de carga, sendo seu limite de
carga limitado pelo diâmetro da base. Uma vantagem importante: durante sua execução não há
incidência de vibrações no terreno e em áreas adjacentes. De uma maneira geral, a base deve ter o
diâmetro limitado a 4 metros. É oportuno ressaltar que, menos o volume do bloco, o volume de dois
tubulões (cujo fuste seja ≥ 0,70m) é menor que o de apenas um, para a mesma carga. Daí, às vezes,
parece ilusório acreditar que o uso de um tubulão com base muito grande é melhor do que dois tubulões
de base menor.
Quando solicitado por uma vertical de compressão, as forças presentes num tubulão são as indicadas
na Figura 7.13.

Figura 7.13 – Esquema de carregamento vertical de compressão em um tubulão.

Para estabelecer a condição de equilíbrio, pode-se escrever:

Q + G = Qsm + Qbm (67)

com Qsm = ms . Qsf (67A)


Qbm = mb . Qbf + σ´vb (67B)

em que Qsm = parcela mobilizada de resistência lateral.


Qbm = parcela mobilizada de resistência de base.
ms e mb = fatores de mobilização de carga lateral última e da carga última de base,
respectivamente.
Qsf e Qsb = cargas limites últimas na ligação tubulão-solo e no apoio da base, respectivamente.
σ´vb = tensão vertical efetiva na cota de apoio do tubulão.

217
G = peso próprio do tubulão.
Ls = comprimento do fuste.

Tem sido prática comum desprezar a resistência lateral ao longo do fuste de tubulões, e deste modo
considera-se que toda a carga do pilar é transmitida através da base. Esse procedimento pode estar
correto no caso de tubulão pneumático com camisa de concreto armado, moldada in loco, em que pelo
processo executivo, o solo lateral fica praticamente descolado do fuste. Neste caso, é bem mais prático
usar o conceito de tensão admissível também para o projeto de fundações por tubulões, conforme
sugerem Cintra el al. (2003).
Usando-se o conceito de tensão admissível, o cálculo da capacidade de carga de um tubulão pode ser
feito por um dos métodos teóricos, semi-empíricos, ou empíricos, tal como se faz, por exemplo, com
uma sapata. Alonso (1983) apresenta uma equação semi-empírica baseada no SPT, onde a tensão
admissível do tubulão é obtida por:

N
σ adm = [MPa] (68)
30
em que N é o valor médio da resistência à penetração do solo na região do bulbo de tensões gerado
pela base do tubulão. A Equação 68 é válida para valores de 6 ≤ N ≤ 18.
Para solos arenosos, a tensão admissível na base de tubulões ainda pode estimada por meio de tabela
de tensões admissíveis, como por exemplo, a que consta na NBR 6122 (1996). Naquela tabela o valor
da tensão admissível pode ser obtido por:

σ adm = 2σ 0, + q ≤ 2,5 σ 0 (69)

onde σ´0 é o valor de σ0 corrigido, obtido da referida tabela, incorporando devidamente o efeito do
tamanho da base do tubulão (Equação 69A), e q é o valor da tensão vertical ao nível da cota de base do
tubulão.


σ 0, = σ 0 1 +
1,5
(B − 2) com B ≤ 10m (69A)
 8 

Entretanto, Décourt et al. (1998) relatam diversos casos de provas de carga em tubulões, nos quais fica
evidenciado que sob baixas deformações (admissíveis) a parcela de resistência lateral, para tubulões
longos, é expressiva. Menciona-se que essa resistência se desenvolve plenamente (ms = 1,0) com
deformações da ordem de 5 a 10 mm, independentemente do diâmetro do fuste (Df), enquanto que a
plena mobilização da resistência de base somente se efetiva para deformações da ordem de 10% a
20% do diâmetro da base (muito grande). Portanto, para a carga de trabalho, o tubulão pode ter um
comportamento real muito diferente do previsto em projeto, na hipótese da parcela de atrito lateral não
ter sido considerada.
A parcela de resistência de base de um tubulão pode ser obtida empregando-se as mesmas expressões
usadas para sapatas. Já para a estimativa da parcela de atrito lateral, existem diversas metodologias.
Caputo (1977) apresenta uma estimativa da parcela de atrito lateral em tubulões, que depende apenas

218
do tipo de solo, conforme mostrado na Tabela 7.20. É importante ressaltar que os valores presentes na
tabela devem ser encarados apenas como estimativas preliminares, pois a mobilização das parcelas
resistentes depende dos recalques e do tipo de solo, da forma de execução, do comprimento e da
relação Dbase/Dfuste do tubulão (Décourt et al., 1998).

Tabela 7.20 – Indicação de valores preliminares para previsão do atrito lateral em tubulão
(Caputo, 1977).
Atrito lateral unitário
Tipo de solo
(kN/m2)
Solo orgânico ou argila mole 5
Silte e areia fina fofa 5 a 20
Areia argilosa fofa e argila média 20 a 50
Argila rija 50 a 100

3.2 Tubulões a Céu Aberto

Os tubulões a céu aberto são elementos estruturais de fundação construídos concretando-se um poço
aberto no terreno, geralmente dotado de uma base alargada. Este tipo de tubulão é executado acima do
lençol freático (natural ou rebaixado). Existindo apenas carga vertical, os tubulões a céu aberto não
precisam ser armados, colocando-se apenas uma ferragem de topo para ligação com o bloco de
coroamento ou de capeamento, conforme mostrado na Figura 7.14.
O fuste de um tubulão a céu aberto é de seção circular, a dotando-se o diâmetro mínimo de 0,7m,
enquanto a projeção da base poderá ser também circular ou em forma de falsa elipse. No caso da base
ser em falsa elipse, a relação a/b deverá ser no máximo igual a 2,5 (ver Figuras 7.15 a e b). A solução
em falsa elipse é muito empregada quando se tem tubulões próximos e a área da base de um com
seção circular tende a se sobrepor ao vizinho.
A área da base (Ab) do tubulão é calculada de maneira análoga ao cálculo da área de uma fundação
superficial, ou seja:
P
Ab = (70)
σ adm
em que P é a carga do pilar e σadm é a tensão admissível do terreno.

Figura 7.14 – Tubulão a céu aberto – Detalhes de projeto (Alonso, 1983).


219
Figura 7.15 – Formas comuns de bases de tubulões.

Se a base tiver seção circular (Figura 7.15a), o diâmetro (D) da mesma será obtido da seguinte
expressão:

πD 2 P 4P
= ⇒ D= (71)
4 σ adm πσ adm
Se a base tiver seção em forma de falsa elipse (Figura 7.15b), deve-se adotar o seguinte procedimento:

πb 2 P
+ bx = (72)
4 σ adm
Desde que seja escolhido o valor de b, pode-se calcular x e vice-versa. A área do fuste é calculada
analogamente a um pilar cuja seção de ferro seja nula. Uma fórmula simplificada é:
P
Af = (73)
σc
onde σc é a tensão do concreto a compressão do concreto.
Adotando-se fck = 13,5MPa, pode-se trabalhar com σc = 5MPa. A NBR 6122 (1996) limita um fck da
ordem de 14MPa.
O valor do ângulo α indicado na Figura 7.14b geralmente é da ordem de 60°. Dessa forma a altura H,
que é limitada a no máximo 2m, será obtida da seguinte expressão:

D −φ
H= tg60 o ⇒ H = 0,866 (D - φ ) (74)
2
para base circular, ou

H = 0,866(a - φ ) (75)

para base em falsa elipse.


O volume da base pode ser calculado de maneira aproximada como a soma do volume de um cilindro
com 0,2m de altura e um tronco cônico com altura (H – 0,2), em metros:

V = 0,2 Ab +
(H - 0,2) (A + A f + Ab ⋅ A f ) (76)
b
3

220
3.3 Tubulões a Ar Comprimido

No caso da camisa ser de concreto, todo o processo de cravação da camisa, abertura e concretagem
da base é feito sob ar comprimido, visto que todos estes serviços são executados manualmente. Se a
camisa é de aço, a cravação da mesma é feita com auxílio de equipamentos e, portanto, a céu aberto,
sendo apenas os processos de abertura e concretagem da base sob ar comprimido.
A pressão máxima de ar comprimido, na prática, deverá se limitar a 30 kPa, o que limita os tubulões
pneumáticos a 30 m de profundidade.
Se o tubulão for com camisa de concreto, o dimensionamento do fuste é de maneira análoga ao cálculo
de um pilar, dispensando-se a verificação da flambagem, se o tubulão for totalmente enterrado. O
cálculo é feito no estado-limite de ruptura:

fck f ´ yk
1,4 N = 0,85 A f + As (77)
1,5 1,15

em que N = a carga do pilar


Af = área do fuste
As = seção necessária da armadura longitudinal
fck e f´yk = resistências características à compressão, do concreto e do aço, respectivamente.

Tendo-se em vista que o trabalho se dá sob ar comprimido, os estribos deverão ser calculados para
resistir a uma pressão 30% maior que a pressão de trabalho, admitindo-se a inexistência de pressões
externas de terra ou de água. Neste caso, a força radial, F, será:

F = 1,3 ⋅ p × R (78)
ou
1,61F
As = (78A)
f yk
As indicações se encontram na Figura 7.16, onde R é o raio do fuste e p a pressão de ar no tubulão.

Figura 7.16 – Esforços adicionais nos estribos por causa da pressão de ar no tubulão.

221
4.0 Métodos Dinâmicos de Capacidade de Carga de Estacas

São assim denominados, aqueles métodos de previsão de capacidade de carga baseados em


observações da resposta da estaca à cravação. Existem duas categorias de métodos dinâmicos:

i) As Fórmulas Dinâmicas
ii) Soluções Numéricas Baseadas na Equação da Onda (propagação de ondas de tensão em
barras).

4.1 Observação da resposta à cravação do sistema solo–estaca

Essa observação pode ser feita de várias maneiras, a depender da disponibilidade de equipamentos. A
forma mais comumente empregada consiste em riscar uma linha horizontal na estaca com uma régua
apoiada em dois pontos da torre do bate-estacas. Após a aplicação de 10 golpes do martelo, risca-se
novamente outra linha horizontal, mede-se a distância entre as duas linhas, obtendo-se assim a
penetração média por golpe, que é denominada de nega, conforme mostrado na Figura 7.17a. Outra
forma não menos comum consiste em prender ao fuste da estaca uma folha de papel, sendo que no
momento da cravação é apoiado um lápis perpendicularmente à estaca e, com auxílio de uma régua
apoiada em pontos fora da estaca, este é movido na direção horizontal (Figura 7.17b). O movimento
vertical da estaca fica registrado na folha que se encontrava presa ao fuste da estaca. Com essa
monitoração se pode determinar o quanto a estaca penetrou no solo e qual foi a parcela de deformação
elástica recuperada. Portanto, a nega se constitui também num controle de qualidade do
estaqueamento da obra.

(a) (b)
Figura 7.17 – Sistemas comuns de medição da nega em estacas.

222
Já existem disponíveis no mercado sistemas mais sofisticados de monitoração eletrônica, que permitem
obter registros de deslocamentos e de forças do topo da estaca durante o tempo de cravação. Para
isso, são empregados sensores colados e/ou aparafusados numa seção do fuste da estaca, geralmente
em pares diametralmente opostos: dois acelerômetros e dois medidores de deformação. Da integração
da aceleração se obtêm as velocidades e os deslocamentos, enquanto que do sinal de deformação
obtém-se o registro de tensões (ou de forças), conforme Figura 7.18.

Acelerômetro

Medidor de deformação (defôrmetro)

Figura 7.18 – Sistemas de monitoração eletrônica de estacas (acelerômetros e defôrmetros), tipo PDI.

4.2 Sistemas de cravação de estacas

A cravação à percussão de estacas é feita através de bate-estacas, que utilizam basicamente dois
sistemas de martelo (ou pilão):

i) martelo de queda livre


ii) martelo automático

No sistema de queda livre, o martelo é erguido com auxílio de um guincho, e após alcançar a altura (h)
de queda desejada é liberada sua queda, no momento em que o tambor do guincho é desligado do
motor por um sistema de embreagem (ver Figura 7.19a).
No sistema automático, o martelo é levantado sob efeito de vapor, ar comprimido ou gases de explosão
de óleo diesel. Neste caso, o guincho é usado apenas para apoiar o martelo sobre a cabeça da estaca,
conforme se observa nas Figuras 7.19b,d.
Para proteger a estaca e o martelo durante o processo de cravação são usados ambos os seguintes
elementos (ver Figura 7.19c):
223
a) capacete: serve para guiar a estaca e acomodar os amortecedores;
b) cêpo: apoiado em cima do capacete, tem a função de proteger o martelo de tensões elevadas;
c) coxim ou almofada: fica entre o capacete e a estaca, e tem a função de proteger a cabeça da
estaca de tensões excessivas.

Figura 7.19 – Sistemas de cravação à percussão de fundações – bate-estacas.

4.3 Fórmulas Dinâmicas de Capacidade de Carga

O processo de cravação de uma estaca é antes de qualquer coisa, um evento de natureza dinâmica.
Dessa forma, além da resistência estática do solo, existe a mobilização da resistência dinâmica de
origem viscosa, e, eventualmente o surgimento de forças inerciais. Não se deve confundir a capacidade
de carga de uma estaca obtida por um método de natureza estática com o valor obtido através de um
método dinâmico. Nas fórmulas estáticas, a carga de trabalho é obtida dividindo a carga de ruptura por
um coeficiente de segurança (em geral, 2), enquanto que nas fórmulas dinâmicas a carga de trabalho
obtém-se dividindo a resistência à cravação por um coeficiente que fará o devido desconto da
resistência dinâmica. Pelo fato das fórmulas dinâmicas serem originárias de diferentes hipóteses, os
resultados podem divergir muito dependendo da fórmula empregada.

224
Para reduzir as incertezas nos resultados da aplicação das fórmulas dinâmicas, recomenda-se, para
controle da qualidade do estaqueamento os seguintes procedimentos:

i) cravar uma estaca próxima a uma sondagem, até a profundidade prevista por método
estático para tal sondagem, observando a nega e/ou o repique;
ii) executar prova de carga e obter o coeficiente F para a fórmula dinâmica escolhida;
iii) empregar a fórmula escolhida, considerando o coeficiente F obtido, em todo o
estaqueamento, para controle da qualidade.

Todas as fórmulas dinâmicas foram estabelecidas a partir do princípio da conservação da energia,


igualando-se a energia potencial do martelo (W.h) ao trabalho realizado na cravação da estaca (R.s),
descontando-se eventuais perdas. Ou seja:

W.h = R.s + X (79)

em que,

W = peso do martelo (pilão)


h = altura de queda do martelo
R = resistência do solo à penetração da estaca
s = nega ou penetração
X = perdas

As perdas de energia decorrem principalmente dos seguintes fatores:

i) atrito do martelo nas guias e dos cabos nas roldanas


ii) levantamento do martelo após o choque (repique do martelo)
iii) deformação elástica do cepo e do coxim (C1) e da estaca (C2), conforme Figura 7.20.
iv) deformação elástica do solo (C3), medido na ponta da estaca (ver Figura 7.20).

Figura 7.20 – Controle de estacas pela nega elástica.

225
O desuso das fórmulas dinâmicas em detrimento dos métodos estáticos é um fato real, em decorrência
de não serem aplicados às estacas escavadas. Além disso, de maneira geral, as fórmulas dinâmicas só
se aplicam aos solos granulares, visto que a relação entre a resistência dinâmica e a estática da estaca,
expressa pela fórmula de cravação, deveria ser independente do tempo, o que não é verdade quando
se trata de solos argilosos. Outro aspecto relevante é que a energia decorrente do golpe do martelo
pode nem sempre ser suficiente para mobilizar a resistência máxima do sistema solo-estaca.

Apesar das críticas às fórmulas dinâmicas baseadas na nega, as mesmas têm uma aplicação
importante no controle da uniformidade do estaqueamento, quando se deseja manter durante a
cravação, negas aproximadamente iguais para estacas com carga e comprimentos de mesma ordem de
grandeza. Entre as diversas fórmulas existentes com base na nega, ou seja, partindo do choque entre
dois corpos conforme a lei de Newton, destacam-se as seguintes:

4.3.1 Fórmula Geral ou de Hiley

 
   2 
η.W.h  ⋅  W + e .P 
QULT =  (80)
 c   W +P 
 s+   
 2 

em que

QULT = capacidade de carga da estaca


η = eficiência do martelo (tipicamente entre 0,6 e 0,9)
W = peso do martelo ou pilão
P = peso da estaca
h = altura de queda do martelo
e = coeficiente de restituição elástica no choque (0,25 a 0,50)
c = compressão elástica do sistema cepo-estaca-solo  c + c 2 + c3 
c = 1 
 3 
s = nega
Para aplicação da fórmula de Hiley, recomenda-se 2 < FS < 6 para obtenção da carga de trabalho.

4.3.2 Fórmula dos Holandeses

2
Qult = W .h (81)
s(W + P)

W 2 .h
s= (81A)
Q (W + P)
ult

Para uso desta fórmula recomenda-se aplicar FS = 10 para o caso de martelo de queda livre, e FS = 6
para martelos a vapor.

226
4.3.3 Fórmula dos Dinamarqueses

Qult =
ηWh (82)
1 (2ηWhL)
s+
2 AE
em que

L = comprimento da estaca
A = área de seção transversal da estaca
E = módulo de elasticidade do material da estaca.
Recomenda-se usar na fórmula dos dinamarqueses η = 0,7 para martelos de queda livre e η = 0,9 para
martelos diesel, com coeficiente de segurança FS = 2. Como orientação para controle da cravação,
sugere-se as relações contidas na Tabela 7.21.

Tabela 7.21 – Orientações de cravação e aplicação da fórmula dos dinamarqueses


(Velloso e Lopes, 2002).
Estaca (ηh)máx (W/P)minimo
Premoldada de concreto 1m 0,50
Metálica 2m 1,50
Madeira 4m 0,75

4.3.4 Fórmula de Brix

Qult = W 2Ph (83)


s(W + P)2

Na fórmula de Brix, adota-se FS = 5, ou seja, a carga última representa 5 vezes a carga admissível da
estaca.

A fórmula de Brix deu origem a uma expressão análoga para controle de cravação de estacas tipo
Franki. Neste caso, o peso da estaca (P) é substituído pelo peso do tubo e são introduzidos dois
coeficientes empíricos para levar em conta a rugosidade do fuste (0,75) e a menor área da base durante
a cravação (0,85). A fórmula de Brix para estaca Franki fica com a seguinte forma:

  
4W 2Ph  

 A 
Qult = 0,75  ⋅ 0,3 + 0,6 b  (84)
 s(W + P)2  

 A f 
   

em que
Ab = área do círculo máximo da esfera com volume igual ao da base (Vb)
Af = área da seção transversal da estaca, conforme orientações contidas na Tabela 7.22.
227
Tabela 7.22 – Características de estacas tipo Franki (Velloso e Lopes, 2002).
Diâmetro Vb Vb Ab Ab Af P/m
mínimo usual mínimo usual Típico
(mm) (litros) (litros) (m2) (m2) (m2) (kgf/m)
350 90 180 0,243 0,099 180
400 180 270 0,386 0,126 200
450 270 360 0,316 0,505 0,159 250
520 360 450 0,453 0,542 0,212 300
600 450 600 0,710 0,283 400

5.0 Estimativas de Recalques de Fundações Profundas

5.1 Transferência de Carga e Recalque da Estaca para o Solo

É importante entender o comportamento da estaca desde o início do seu carregamento até acontecer a
ruptura, o que se dá a partir da mobilização da resistência de atrito lateral, de ponta ou de ambos. A
este estudo se dá o nome interação estaca-solo ou mecanismo de transferência de carga da estaca
para o solo, cujo entendimento pode ser facilitado com auxílio das Figuras 7.21 (a, b, c).
Na Figura 7.21a, mostra-se a carga aplicada à estaca e a reação do solo à estaca, representada por
tensões cisalhantes desenvolvidas ao longo do fuste (atrito lateral) e tensões normais na base
(resistência de ponta). A resultante das tensões cisalhantes (τ) é a carga de fuste (Qf) e a das tensões
normais é a carga de ponta (Qp), cujas parcelas equilibram a carga aplicada (Q). Na Figura 7.21b
apresenta-se um diagrama de carga axial da estaca para o solo, que corresponde a uma tensão de
atrito lateral uniforme ao longo do fuste (τs) e transferência de carga linear, enquanto que na Figura
7.21c mostra-se o deslocamento que sofre a estaca sob a carga Q, em que se percebe o recalque do
topo da estaca (w) e o recalque da ponta (wp). A diferença entre deslocamento do topo e o da ponta é o
encurtamento elástico da estaca (ρ), que compete ao elemento estrutural da estaca, ou seja, do seu
material constituinte.
O encurtamento elástico da estaca é obtido da seguinte forma:

L
Q( z ) 1
L
A diagrama
ρ=∫ dz = ∫ Q( z ) dz = (85)
0
AE AE 0 AE

Os diagramas de atrito lateral e de distribuição de carga ao longo do fuste mostrados nas Figuras 7.21a
e 21b correspondem a um atrito uniforme. Outros modelos de distribuição de atrito lateral são
propostos, a exemplo dos modelos não uniformes apresentados por Vésic (1977).

228
Figura 7.21 – Mecanismo de transferência de carga estaca-solo (Velloso e Lopes, 2002).

É importante ressaltar em relação ao mecanismo de transferência de carga estaca-solo que a


mobilização do atrito lateral exige deslocamentos muito menores que a mobilização da resistência de
base. Dessa forma, conclui-se que somente quando uma parte expressiva do atrito lateral está
esgotada é que a resistência de ponta começa a ser solicitada.

5.2 Métodos para Previsão de Recalques de Estacas

Os recalques da estaca de referência isolada sob condições de carga de trabalho (com coeficiente de
segurança igual ou maior que 2) são, geralmente desprezíveis, razão pela qual os valores não são
normalmente calculados. Todavia, caso julgue-se necessário fazer uma estimativa dos recalques, pode-
se recorrer aos métodos disponíveis na literatura técnica. Os métodos de previsão de recalques de
fundações profundas podem ser grupados em três categorias, conforme sugerem Velloso e Lopes
(2002):

i) Métodos baseados na Teoria da Elasticidade (Teóricos)


ii) Métodos Numéricos – Inclusive baseados em funções de transferência de carga
iii) Métodos Semi-Empíricos

Nesta apostila serão abordados os métodos (i) e (iii).

229
5.2.1 Métodos Teóricos (Teoria da Elasticidade)

5.2.1.1 Método de Poulos & Davis (1968)

Este método teórico propõe a previsão dos recalques de uma estaca, de forma cilíndrica, carregada
axialmente e instalada em uma massa de solo de comportamento elástico semi-infinito. Os
deslocamentos que ocorrem no solo são obtidos através da equação de Mindlin. Para a aplicação do
método, supõe-se que exista compatibilidade entre os deslocamentos da estaca e os deslocamentos do
solo adjacente para cada elemento da estaca (ver Figura 7.22). Inicialmente foi obtida a solução para
uma estaca considerada incompressível instalada em um meio elástico semi-infinito com coeficiente de
Poisson da ordem de 0,5:

QI 0
r= (86)
EB

Figura 7.22 – Estaca embutida em camada finita (Poulos & Davis, 1968).

em que

Q = carga na estaca
L = comprimento da estaca
E = módulo de elasticidade do solo
I0 = fator de influência para estaca incompressível num meio elástico semi-infinito (ver Figura 7.23a)

O fator Ι0 é a função da razão entre o diâmetro da base da estaca (Bb) e o diâmetro B da estaca, e da
relação comprimento/diâmetro da estaca (L/B), conforme mostrado na Figura 7.23a. O fator I0 sofreu
posteriormente procedimentos de correção para levar em conta os seguintes aspectos: i)
compressibilidade da estaca; ii) camada do solo de espessura finita e iii) coeficiente de Poisson. Neste
caso, o fator I0 é substituído por I, conforme está na Equação 87, e os respectivos fatores que são

230
usados para levar a em conta os aspectos i, ii e iii, são obtidos dos ábacos apresentados na Figura 7.23
(b,c,d). O módulo de elasticidade do solo é determinado através de retroanálises.

QI
r= (87)
EB
onde
I = I0RkRhRvRb (87A)
Rk = fator de correção para a compressibilidade da estaca, função do fator de rigidez, K (ver Figura
7.23b)
Rh = fator de correção para a espessura finita (h) do solo compressível (ver Figura 7.23c)

Rv = fator de correção para o coeficiente de Poisson do solo (ver Figura 7.23d)

Rb = fator de correção para a base ou ponta em solo mais rígido, sendo Eb o módulo de elasticidade do
solo na ponta da estaca (ver Figura 7.23e).
K = fator de rigidez = EbRA/E, em que RA =Abase/Afuste (estaca maciça, RA = 1)

O trabalho de Poulus & Davis também aborda os seguintes aspectos: i) o deslizamento na interface
estaca-solo; ii) a heterogeneidade do meio e iii) a influência do bloco de coroamento. A Tabela 7.23
mostra valores de E´ e ν´ propostos pelos autores obtidos a partir de provas de carga.

Figura 7.23 – Fatores para cálculo de recalque de estacas.

231
Figura 7.23 e – Fator de correção Rb para a base da estaca apoiada em solo mais rígido (Eb).

Tabela 7.23 – Valores de E´ e ν´propostos por Poulus & Davis (1980).

5.2.1.2 Método de Vésic (1969, 1975a)

É um método semi-empírico baseado em dois aspectos fundamentais: a forma de distribuição do atrito


lateral e o tipo da estaca. De acordo com o método de Vésic, o recalque total de uma estaca (r) é obtido
a partir da soma de três parcelas, ou seja, r = re + rp + rl onde:

re = recalque devido ao encurtamento elástico da estaca


rp = recalque do solo devido à mobilização da carga de ponta da estaca
rl = recalque do solo devido à mobilização da carga de atrito ao longo do fuste

O recalque devido ao encurtamento elástico da estaca é determinado em função da distribuição do


atrito lateral e da carga de ponta, de acordo com a equação:

232
re = (Qp + α ssQl ) A LE (88)
p C

em que
Qp = carga na ponta no estágio do carregamento
Ql = carga lateral no estágio do carregamento
Ap = área da seção transversal da estaca
Ec = módulo de elasticidade do material da estaca
αSS = fator que depende da distribuição do atrito ao longo do fuste

As parcelas de recalques devidas às cargas transmitidas na ponta e ao longo do fuste são obtidas a
partir das Equações 89 e 90, respectivamente.

Cp Q p
rp = (89)
Dqp

ClQ l
rl = (90)
Lql

onde
ql = resistência ao longo do fuste da estaca
qp = resistência na ponta da estaca
D = diâmetro da estaca

Os valores do coeficiente Cp dependem do tipo de solo e do tipo de estaca, conforme mostrado na


Tabela 7.24. Os valores de Cl são calculados com o emprego da Equação 90A:

 L 
0,5
C l = 0,93 + 0,16  C p (90A)
  D  

Tabela 7.24 – Valores do coeficiente Cp para o método de Vésic.


Tipo de Estaca
Tipo de Solo
Cravada Escavada
Areia (compacta a fofa) 0,02 a 0,04 0,09 a 0,18
Argila (rija a mole) 0,02 a 0,04 0,04 a 0,08
Silte (compacto a fofo) 0,03 a 0,05 0,09 a 0,12

O emprego desse método é bastante simples, principalmente por não haver necessidade do
conhecimento de parâmetros do solo de difícil determinação, como por exemplo, o módulo de
elasticidade.
233
5.2.2 Métodos Semi-Empíricos

Dentre os métodos semi-empíricos, o proposto por Hansbo (1994) sugere que o recalque de uma
estaca de atrito para cargas nunca acima da metade da carga de ruptura seja estimado através do da
equação 91, com auxílio do ábaco mostrado na Figura 7.24:
ql
s50 = (91)
K
em que

s50 = recalque para metade da carga de ruptura (carga de trabalho)


ql = atrito (ou adesão) lateral médio ao longo do fuste da estaca
K = módulo de deslocamento da estaca (obtido da Figura 7.24)
L = comprimento da estaca
B = d = diâmetro da estaca (se circular) ou largura da estaca (se quadrada ou retangular)
E = módulo de elasticidade da estaca
G = módulo de cisalhamento

Figura 7.24 – Ábaco para determinação do recalque de uma estaca isolada pelo método de Hansbo.

Para estacas de deslocamento em solos coesivos e em solos arenosos podem ser ainda usadas as
recomendações contidas na Tabela 7.25, que nada mais é que uma regra empírica baseada na
Equação 80.

234
Uma recomendação de caráter empírico feita por Décourt (1991), baseada na análise de vários
resultados de provas de carga em estacas, indica que para cargas de no máximo 50% da carga de
ruptura o recalque da estaca situa-se entre 2 mm e 6 mm, que é valor de pouca expressividade para a
maioria das obras. Daí, o autor sugere como regra prática, na ausência de algum cálculo, adotar um
recalque esperado como um valor correspondente a 1% do diâmetro da estaca, para qualquer solo.
Para grupo de estacas escavadas e níveis de cargas de trabalho ≤ 0,5Qr, o recalque previsto em solos
arenosos é da ordem de B/30 (Presa e Pousada, 2002). Em se tratando de recalque na ruptura, Décourt
considera que a carga de ruptura convencional de um sistema estaca-solo pode ser aquela
correspondente a um recalque medido no topo ou na ponta, que é função do diâmetro ou lado da
estaca, conforme os seguintes critérios propostos:

i) 10% do diâmetro ou largura, para estacas cravadas em qualquer solo ou para estacas
escavadas em argila;
ii) 30% do diâmetro ou largura, para estacas escavadas em solos granulares.

Tabela 7.25 – Valores notáveis da curva carga-recalque de estacas cravadas.


Tipo de solo Nível de carga Recalque Autor
Argila 0,85 Qrup 2,4 s50 Torstensson (1973)
Argila Qrup 4 s50 Torstensson (1973)
Areia 0,75 Qrup 2 s50 Sellgren (1985)
Areia 0,85 Qrup 2,5 s50 De Beer (1988)
Areia Qrup 5 s50 Sellgren (1985)

5.2.3 Ajuste da Curva Carga-Recalque

A previsão da curva carga-recalque completa pode ser feita através de ajustes a uma curva que passa
pelo ponto de carga de trabalho versus recalque e que tem a capacidade de carga como assíntota
vertical, conforme mostrado na Figura 7.25. Todavia, nem sempre é possível se fazer a determinação
da carga de ruptura e o correspondente recalque diretamente no gráfico. Como alternativa, existem os
métodos de extrapolação. Dentre eles, destaca-se um método de ajuste muito comumente empregado
no Brasil, o de Van der Veen (1953), ilustrado anteriormente na Figura 7.11 (pág. 214), o qual é
empregado quando uma prova de carga é interrompida antes de se atingir a carga de ruptura ou não se
consegue visualizá-la com clareza na curva. A partir da previsão da capacidade de carga da estaca
(Qult) e da previsão de recalque para a carga de trabalho (wtrab) pode-se fazer uma previsão do
comportamento carga-recalque completo, com auxílio da Equação 65. A equação da curva ajustada de
Van der Veen fornece valores de w correspondentes a quaisquer cargas Q, desde que se conheça Qult
e o parâmetro α. O valor de α é obtido a partir do recalque para a carga de trabalho, a partir da
equação:

235
- ln1- trab 
Q
Q 
α=  ult  (92)
w trab

Se a carga de trabalho for a metade de Qult, tem-se, portanto, α = − ln0,5 w trab .

Figura 7.25 – Curva carga-recalque de estaca ajustada.

Conforme lembrado por Presa e Pousada (2002), convém ressaltar que tem sido motivo de discussões
a confiabilidade de extrapolações de curvas obtidas em provas de carga, visto que tentativas de
extrapolações limitadas apenas ao trecho inicial da curva carga – recalque (pseudo-elástico) têm
conduzido a valores de cargas de ruptura exagerados. Na opinião de Velloso e Lopes (2002) o método
sugerido por Van der Veen apresenta valores confiáveis se o recalque máximo atingido na prova de
carga for, no mínimo, 1% do diâmetro ou largura da estaca.

236
6.0 Procedimentos Gerais de Projeto

6.1 Disposição das estacas em bloco

Depois de escolhido o tipo de estaca e determinada sua carga admissível (de trabalho), seja por
métodos teóricos, semi-empíricos ou de outra categoria (por exemplo, a Tabela 7.26), e escolhido o
espaçamento adequado, o número de estacas por bloco é calculado da seguinte forma:

Carga do Pilar
N º de estacas = (93)
Carga admissível da estaca

Vale ressaltar que a Equação acima só tem validade se o centro de carga do Pilar coincidir com o
centro de gravidade do estaqueamento e se no bloco forem usadas estacas de mesmo tipo e mesmo
diâmetro. A disposição das estacas por bloco deve ser feita sempre que possível de modo a conduzir a
blocos de menor volume. Quando houver superposição das estacas de dois ou mais pilares, pode-se
unir os mesmos por um único bloco. Já no caos de pilares de divisa, deve-se recorrer ao uso de vigas
de equilíbrio. Nas Figuras 7.26a e 7.26b, são indicadas algumas disposições mais comuns para estacas
em torno do centro de carga do pilar. Outras orientações importantes são enumeradas a seguir, as
quais podem ser encontradas em Alonso (1983):

a) O espaçamento, d, entre estacas deve ser respeitado, não entre estacas do mesmo bloco, mas
também entre estacas de blocos vizinhos (ver Figura 7.27).
b) A distribuição das estacas deve ser feita, sempre que possível, no sentido da maior dimensão do
pilar (ver Figura 7.28a,b). Só será permitida a situação da Figura 7.28b quando o espaçamento
com as estacas do bloco vizinho impor a condição.
c) No caso de blocos com mais de um pilar, o centro de carga deve coincidir com o centro de
gravidade das estacas (ver Figura 7.29).
d) Deve-se evitar a distribuição de estacas indicada na Figura 7.30a, pelo fato desta introduzir um
momento de torção no bloco.
e) O estaqueamento deve ser feito, sempre que possível, independentemente para cada pilar.
f) Devem ser evitados, sempre que possível, blocos contínuos longos (ver Figura 7.31a, b).
g) No caso de blocos com duas estacas para dois pilares, deve-se evitar posicionar cada estaca
embaixo de cada pilar (ver Figura 7.32a, b).

Recomenda-se indicar no projeto que os blocos de uma estaca sejam ligados por vigas aos blocos
vizinhos, pelo menos em duas direções ortogonais, se possível, e os blocos com duas estacas pelo
menos com uma viga. Para blocos de três estacas ou mais não há necessidade de vigas de amarração
(ver Figuras 7.33a, b).

237
Tabela 7.26 – Valores orientativos para projetos de estacas (Alonso, 1983).

238
Figura 7.26a – Distribuição das estacas por bloco (Alonso, 1983).

239
Figura 7.26b – Continuação – distribuição das estacas por bloco (Alonso, 1983).

240
Figura 7.27 – Espaçamento mínimo.

Figura 7.28 – Sentido indicado e não indicado do estaqueamento em relação às dimensões do pilar.

Figura 7.29 – Posições do centro de carga do pilar e do centro de gravidade do estaqueamento.

Figura 7.30 – Distribuição das estacas para um bloco.

241
Figura 7.31 – Forma de evitar blocos compridos.

Figura 7.32 – Posicionamento da estaca em relação ao pilar.

Figura 7.33 – Formas de ligação de blocos vizinhos por vigas: a) com uma estaca e b) com duas
estacas.

242
6.2 Arrasamento da estaca

Antes de receber o pilar, a estaca deverá ser adequadamente preparada, de forma que possa haver
uma perfeita ligação entre a fundação e a superestrutura. Essa ligação é feita a partir da cota de
arrasamento definida em projeto (ver figura 7.34a). Para isso, principalmente em estacas de concreto
moldadas in situ, é necessário remover o excesso de concreto da cabeça da estaca, que geralmente
tem qualidade inferior ao do restante utilizado na confecção do elemento estrutural (ver figura 7.34b). A
forma correta de se efetuar o arrasamento da estaca está indicada na Figura 7.34b, onde a ilustração
mostra que essa tarefa é geralmente manual, empregando-se para estacas de até 40 cm de diâmetro,
martelete e um ponteiro de aço na posição horizontal ou levemente inclinado, conforme indicado na
figura. Para estacas com mais de 40 cm de diâmetro é permitido o uso de martelo pneumático.

(a) (b)
Figura 7.34 – Arrasamento da estaca: a) estaca executada e b) formas indicadas para remoção do excesso de
concreto.

Depois de retirado o excesso de concreto, atingida a cota de arrasamento e ter sido retirado todo e
qualquer tipo de resíduo do material quebrado (recomenda-se aplicar um jato de ar para realizar a
limpeza final), a cabeça da estaca estará pronta para receber o bloco de coroamento, conforme
mostrado na Figura 7.35.

(a) (b)
Figura 7.35 – (a): Estaca pronta para receber o bloco; (b) bloco de coroamento executado.
243
7.0 Grupos de Estacas e Tubulões

Freqüentemente, as estacas e, às vezes, os tubulões, há o trabalho em grupo, o que se caracteriza pela


ligação estrutural do topo, geralmente feita por um bloco de coroamento, onde o espaçamento entre as
os eixos das estacas situa-se entre 2,5B e 4B. Esse agrupamento de elementos de fundação produz
fenômenos de interação, cujo efeito é função dos tipos de estaca e natureza do terreno. Nesta
condição, a capacidade de carga e os recalques do grupo não são os mesmos do comportamento de
uma estaca isolada, devido à superposição de tensões entre estacas próximas através do solo que as
circunda. Nas Figuras 7.36a e 7.36b são feitas comparações da propagação de tensões na região da
ponta de uma estaca e de um grupo de estacas, respectivamente. Esta diferença é denominada “efeito
de grupo”, que é definido pela norma brasileira da seguinte forma: “processo de interação das diversas
estacas ou tubulões que constituem uma fundação, ao transmitirem ao solo as cargas que lhes são
aplicadas”. Dessa forma, o recalque admissível da estrutura deve ser comparado ao recalque do grupo
e não ao de um elemento isolado de fundação.
Um grupo de estacas se origina de cargas elevadas nos pilares em relação à carga de trabalho das
estacas disponíveis, de tal sorte que muitas vezes são necessárias várias estacas para suportar a carga
de um único pilar (ver Figura 7.36b).

Figura 7.36 – massa de solo mobilizada pelo carregamento de (a) uma estaca isolada e (b) de um grupo
de estacas.

7.1 – Capacidade de Carga de Grupo de Estacas Instaladas em Areia

De forma geral, as estacas quando instaladas muito próximas se comportam como se fosse um bloco, o
que é indesejável, visto que o solo nesta situação deixa de atuar quanto ao atrito lateral nas estacas
internas do conjunto. O efeito desejável do atrito lateral solo-estaca é pleno quando o espaçamento
mínimo entre os eixos das estacas é da ordem de 3B. Geralmente considera-se como elemento
individual quando o espaçamento é maior que 7B.

244
Em areias fofas, a cravação de estacas próximas provoca a compactação do solo em torno delas. Isso
faz com que a resistência do grupo seja maior do que a soma das capacidades de carga das estacas
isoladamente, o que acontece quando o espaçamento entre as estacas é entre 2B e 3B. No caso de
areias compactas, tem sido difícil mensurar um efeito positivo: pelo contrário, ele pode ser até negativo
ou causar danos às estacas já executadas, caso o espaçamento seja muito pequeno.
A literatura tem mostrado que a capacidade de grupos de estacas em areia sempre supera a soma das
capacidades das estacas individuais, e que a carga de ponta é pouco afetada pelo efeito, enquanto que
o atrito lateral pode aumentar até três vezes.
Não há uma teoria racional para estimar a capacidade de carga de grupo de estacas. Na prática da
Engenharia de Fundações, tem sido adotada uma postura conservadora, favorável à segurança,
adotando-se a eficiência de um grupo de estacas cravadas igual a 1, ou seja:
n
Q grupo = ∑ Qr (isolada) (94)
1

onde: Qgrupo = capacidade de carga do grupo


Qr(isolada) = capacidade de carga de cada estaca indivualmente

No caso de estacas escavadas, a prática também tem revelado uma posição mais conservadora dos
profissionais, utilizando eficiências inferiores à unidade, mais freqüentemente igual a 0,7:
n
Qgrupo = 0,7∑ Qr (isolada ) (95)
1

7.2 – Capacidade de Carga de Grupo de Estacas Instaladas em Argila

Postura semelhante tem sido adotada no caso de grupos de estacas em argilas, onde a capacidade de
carga do grupo é sempre menor do que a soma das capacidades individuais de cada estaca. Conforme
apresentado por Presa e Pousada (2002), pode-se estimar a eficiência (η) de um grupo de estacas
instaladas em argilas, através da fórmula empírica de “Efeito de Grupo de Los Angeles”, isto é:

η =1−
[
Φ m(n − 1) + n(m − 1) + 2 (m − 1)(n − 1) ] (96)
π m⋅n

em que: Φ = arc cotg (e/B)


m = número de estacas por linha
n = número de estacas por coluna
e = espaçamento entre eixos de estacas

245
7.3 – Recalques de Grupo de Estacas

A literatura técnica já possibilita efetuar o cálculo de recalques de grupos de estacas com base em
métodos teóricos (teoria da elasticidade) e métodos empíricos, de onde se podem estabelecer relações
entre o recalque de um grupo e o de uma estaca isolada.
A metodologia pioneiramente empregada para a previsão de recalque de um grupo de estacas foi
apresentada por Terzagui e Peck, por volta de 1948. O método consiste em calcular o recalque do
grupo como se fosse uma fundação direta de dimensões equivalentes, virtualmente apoiada numa
determinada cota acima da ponta das estacas e perímetro definido pela linha que contorna
externamente o grupo. É o método do “radier fictício”, cujo exemplo está mostrado na Figura 7.37.
A abordagem do radier fictício para o cálculo de recalques de um grupo de estacas é adotada pela
norma brasileira NBR 6122 (1996). Neste caso, depois de se obter a sapata gigante ou o radier
equivalente apoiado a 1/3 do embutimento das pontas estacas na camada suporte de espessura F
(Figura 7.37), o recalque do grupo é calculado lançando-se mão de métodos disponíveis na bibliografia
para este tipo de fundação, geralmente os métodos elásticos.

Figura 7.37 – Método do radier fictício, empregado pela NBR 6122 (1996).

Há ainda na literatura vários métodos empíricos para estimativa da razão (αg) entre o recalque do grupo
(wg) e o de uma única estaca sob a mesma parcela de carga do grupo (wi), desde que as estacas
estejam unidas no topo por um bloco de coroamento, ou seja:
w
g
αg = (97)
w
i
Uma proposta de Fleming et al. (1992), estabelece que para um grupo formado por “n” de estacas, a
razão de recalques pode ser estimada da seguinte forma:
η
αg = n (97A)

onde o expoente η varia entre 0,4 e 0,6. O limite inferior corresponde a estacas de atrito, enquanto que
os valores próximos ao limite superior correspondem a estacas de ponta, sendo razoável um valor
médio igual a 0,5. Uma sugestão de Poulus (1989) indica η = 0,33, para grupos de estacas de atrito em
areia e η = 0,50, para grupos de estacas em argila.

246
7.3.1 – Recalques de Grupo de Estacas Instaladas em Areia

Foi proposta por Skempton et al. (1953) a seguinte expressão:


2
 4B + 3 
αg =  
g
(98)
 B + 4 
 g 
em que Bg é a dimensão transversal do grupo de estacas, em metro.

Vésic (1969) propõe para αg a seguinte expressão:

B
g
αg = (99)
B
Outra proposta disponível é a de Meyerhof (1976), que permite a estimativa do recalque de um grupo de
estacas (wg):

9,2q B
g
wg = (cm) (100)
N
onde N = a média da resistência à penetração do SPT, obtida numa profundidade Bg abaixo da ponta
das estacas;
q = tensão equivalente aplicada pelo grupo de estacas ao solo (kgf/cm2).
O autor da proposta recomenda que se adote o dobro do valor obtido pela Equação 100 para grupo de
estacas em areias siltosas.

7.3.2 – Recalques de Grupo de Estacas Instaladas em Argilas

Neste caso é usual o emprego o método do “radier fictício”, apresentado no item 7.3, conforme
esquematizado na Figura 7.37.

8.0 Atrito Negativo

O atrito lateral entre o solo e a estaca se desenvolve quando há um deslocamento relativo entre ambos.
Quando a estaca recalca mais que o solo, desenvolve-se o Atrito Positivo, que contribui para a
capacidade de carga da estaca. Quando acontece o contrário, ou seja, o solo recalca mais que a
estaca, acontece o fenômeno denominado Atrito Negativo, que terá como causa sobrecarregar a
estaca. É como se uma parte do solo ficasse “pendurada à estaca”, puxando-a para baixo. O atrito
negativo tem algumas origens, sendo a mais comum quando estacas são cravadas através de aterros
recentes, construídos sobre solos compressíveis, com suas pontas apoiadas em solos competentes (ver
Figura 7.38a). Outra causa é quando se promove um rebaixamento do lençol freático em camada de
areia acima de uma camada de argila mole. Isto coloca a argila em processo de adensamento,

247
provocando o atrito negativo nas estacas da obra ou de obras vizinhas, conforme mostrado na Figura
7.38b.

Figura 7.38 – Causas de atrito negativo: a) aterro recente sobre solo compressível; b) rebaixamento do
lençol freático.

Outros casos, menos comuns, são descritos na bibliografia técnica (por ex. Décourt et al., 1998; Velloso
e Lopes, 2002). Nos dois casos aqui mencionados, percebe-se que o atrito negativo decorre de
adensamento de camadas de solo de baixa permeabilidade. Portanto, trata-se de um fenômeno que
ocorre ao longo do tempo, crescendo até atingir um valor máximo. A literatura sobre o assunto também
deixa claro que o atrito negativo é um problema de recalque de fundação. De fato, o fenômeno é
incapaz de levar à ruptura o sistema estaca-solo por perda de capacidade de carga, porém é capaz de
romper estruturalmente a estaca, por compressão ou por flambagem (Combarieu, 1985, citado por
Velloso e Lopes, 2002). A ruptura do sistema solo-estaca associa-se sempre ao desenvolvimento de
grandes deformações com relação ao solo circunvizinho, o que, caso viesse a ocorrer, naturalmente já
teria desmobilizado todo o atrito negativo (Décourt et al., 1998).

8.1 Avaliação do Atrito Negativo em Estacas Isoladas

A compreensão do fenômeno do atrito negativo é muito mais simples do que sua quantificação. Há o
grupo dos métodos elásticos e o dos elasto-plásticos. Esses métodos têm a desvantagem de
necessitar, muitas vezes, da estimativa de parâmetros do solo de difícil obtenção. Há também as
correlações semi-empíricas, que são muito mais práticas, porém devem ser usadas com cautela.
Décourt (1982) apresenta uma formulação semi-empírica para avaliação da parcela de atrito negativo
em estacas isoladas, baseada na fórmula de Décourt e Quaresma (1978). O autor propõe para o cálculo
da parcela de atrito negativo unitário:
248
ql = 3,33N + 10 [kN/m2] (101)

onde N é o valor médio da resistência à penetração do SPT no trecho da estaca submetido ao atrito
negativo.
Para quem deseja se aprofundar no assunto sugere-se a consulta às várias referências encontradas em
Velloso e Lopes (2002).

8.2 Atrito Negativo versus Coeficiente de Segurança

A Norma Brasileira de Fundações tem implícito coeficiente de segurança 2,0 para cargas permanentes
e 1,5 para a parcela de atrito negativo.

8.3 Prevenção do Atrito Negativo

Havendo necessidade de restringir ao mínimo o movimento das fundações submetidas ao atrito


negativo, pode-se proceder, por exemplo, a uma pintura das estacas com produtos betuminosos.
Entretanto, deve-se ter cuidado para que esse tratamento seja restrito apenas aos trechos da estaca em
contato com o solo compressível, pois isso, sendo feito no trecho estável do solo, haveria redução da
parcela resistente, o que evidentemente seria indesejável.

8.4 Atrito Negativo em Grupo de Estacas

Em se tratando de atrito negativo em grupos de estacas, a literatura revela uma situação mais
confortável, uma vez que as estacas internas ficam praticamente livres do efeito. Segundo Décourt et al.
(1998), o assunto foi exaustivamente investigado por Kuwabara e Poulus (1989), de cujo estudo foram
extraídas as seguintes conclusões:

i) A força de arraste máxima nas estacas do grupo decresce significativamente à medida que o
espaçamento entre as estacas decresce;
ii) A redução na força de arraste independe substancialmente do número de estacas, desde que o
grupo tenha mais que aproximadamente nove estacas;
iii) As estacas internas do grupo desenvolvem força de arraste menor do que as externas;
iv) O movimento superficial do solo necessário à mobilização do deslizamento total dentro do grupo
de estacas pode ser muito maior do que o correspondente a uma estaca isolada;
v) Para um grupo de estacas com bloco de coroamento rígido, é possível que forças de tração se
desenvolvam na parte superior das estacas externas.

Cabe ressaltar que essas teorias apresentaram razoável concordância quando aplicada a casos de
obra.

249
9.0 Exemplos de Aplicação
1) Utilizando o método de Aoki e Velloso, calcular a carga admissível de uma estaca do tipo Franki, com
diâmetro do fuste igual a 40 cm e volume do bulbo V = 180 litros. O comprimento da estaca e as
características geotécnicas do solo são dados na figura abaixo.

Solução:
U = π ⋅ 0,4 = 1,26 m (perímetro da estaca)
4
π ⋅ R 3 = 0,18m ⇒ R ≅ 0,35m (raio da esfera correspondente ao volume da base alargada)
3
Ab = π ⋅ 0,35 2 = 0,38m 2 (área de seção transversal da base alargada)

Carga de ponta:

KN 0,8⋅18
qp = = = 5,8 MPa ou 5800 kPa
F1 2,5
Q p = 0,38 ⋅ 5800 = 2200 kN , aproximadamente 220 tf.

Atrito lateral: (tabela auxiliar)

OBS.: O valor
médio de N foi
adotado o inteiro
mais próximo.

(QL ≅19 tf)

250
Qrup = Q p + Ql = 2200 + 190 = 2390 kN = 239 tf

Qrup 2390
Qadm = = = 1195 kN (≅ 120 tf)
2 2

Como este valor (120 tf) é superior ao indicado na literatura, para este tipo de estaca (850 kN), por
medida de segurança adota-se o valor recomendado na bibliografia como a carga de trabalho, em
detrimento do valor calculado. Ou seja, a carga de projeto dessa estaca será 85 tf.

2) Calcular a nega para 10 golpes de um pilão com 30 kN de peso, caindo de uma altura constante de
0,90 m sobre uma estaca de concreto armado, vazada, com 42 cm de diâmetro externo, 26 cm de
diâmetro interno, 15 m de comprimento e carga admissível igual a 100tf.

Dados da estaca
Dext = 0,42 m
Dint = 0,26 m
L = 15 m
Qtrab = 100 tf = 1000 kN

Pilão: h = 90 cm = 900 mm (total de 10 golpes)


W = 30 kN

Solução:

Fórmula de Brix

W 2 .P.h
Nega ⇒ s = .....C/... .FS = 5
Qult (W + P)2

Peso da estaca ⇒ P =
π
4
( )
0,42 2 − 0,26 2 (25)(15) = 32 kN

Carga de ruptura ⇒ Q ult = 5 ⋅ Q adm = 5 ⋅ 1000 = 5000 kN

s=
(30 )2 (32)(900 ) = 13,49 mm
(5000 )(30 + 32)2
1,35cm 13,5cm
Portanto, a nega prevista será ⇒ s = = .
golpe 10 golpes

Obs.: Para controle do estaqueamento, no campo é feita a medição da nega para comparação com o
valor previsto. Caso o valor medido seja menor ou igual ao previsto, a estaca atende aos critérios
estabelecidos em projeto e poderá ser encerrada a cravação. Caso contrário, a estaca continuará sendo
cravada até que o valor previsto da nega seja alcançado.

251
10.0 Bibliografia Consultada

1) Aas, G. (1966), Baerceevne av peler I frisksjonsjordater, NGI Forening Stipendium, Oslo. Citado
por Velloso e Lopes (2002).
2) Aoki, N. (2000), Reflexões sobre a prática de Fundações no Brasil, Palestra no Núcleo Regional
da ABMS, em Santa Catarina.
3) Alonso, U. R. (1983), Exercícios de Fundações, Editor Edgard Blücher Ltda., São Paulo.
4) Antunes, W. R. e Tarozzo, H. (1998), Estacas Tipo Hélice Contínua, Capítulo 9, fundações –
Teoria e Prática, Ed. PINI, ABMS, São Paulo.
5) Broms, B.B. (1966), Methods of Calculing the Ultimate Bearing Capacity of Piles, A Summary, Sols
– Soils, nº 18-19.
6) Danziger, B.R. (1991), Analise Dinâmica de Cravação de Estacas, Tese de D.Sc., COPPE-
UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
7) Das, B.M. (2000), Fundamentals of Geotechnical Engineering, Brooks/Cole.
8) Décourt, L. e Quaresma, A. R. (1978), Capacidade de Carga de Estacas a partir de Valores de
SPT, Anais, VI COBRAMSEF, vol. 1, pp. 45-53, Rio de Janeiro.
9) Fleming, W. G. K., Weltman, A.J., Randolph, M.F. and Élson, W.K. (1992), Piling Engineering. 2ª
Edition, Surrey University Press (citados por Pousada e Presa, 2002).
10) Fundações: Teoria e Prática (1998), Editora PINI, Patrocínio da Associação Brasileira de
Mecânica dos Solos, 2ª Edição, São Paulo.
11) Monteiro, P.F. (1980), Estacas Escavadas, Relatório interno de Estacas Franki Ltda, citado
por Velloso e Lopes (2002).
12) Monteiro, P.F. (1997), Capacidade de Carga de Estacas – Método Aoki-Velloso, Relatório Interno
de Estacas Franki Ltda., citado por Velloso e Lopes (2002).
13) NBR 6122 (1996), Projeto e Execução de Fundações, ABNT, 33p.
14) Presa, E. P e Pousada, M., C. (2002), Retrospectiva e Técnicas Modernas de Fundações em
Estacas, publicação da ABMS-NRBA, 2ª edição (ampliada), 107p.
15) Teixeira, A.H. (1996), Projeto e Execução de Fundações, Anais, SEFE III, vol. 1, São Paulo.
16) Terzaghi, K. & Peck, R.B. (1967), Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed.,
John Willey & Sons, Inc., New York.
17) Velloso, P.P.C. (1981), Estacas em Solo: Dados para a Estimativa do Comprimento, Ciclo de
Palestras Sobre Estacas Escavadas, Clube de Engenharia, Rio de Janeiro.
18) Velloso, D. A, e Lopes, F. R. (2002), Fundações Profundas, Vol. 2, Ed. COPPE/UFRJ.
19) Vésic, A.S. (1963), Bearing Capacity of Deep Foundations in Sand, Highway Research Record, nº
39, Washington. Citado por Velloso e Lopes (2002).

252

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