Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Notas de Aula
Contato:
Prof. Dr. Erinaldo Hilário Cavalcante
Área de Geotecnia e Pavimentação
Av. Mal. Rondon, S/N – Cidade Universitária
Aracaju – SE
CEP 49000-000
Fone: (79) 2105-6736/6701 fax (79) 2105-6684
e-mail: erinaldo@ufs.br; geotecnia.ufs@gmail.com
ÍNDICE
1.0 Definição 3
2.0 Tipos de Empuxos 3
3.0 Cálculos dos Coeficientes de Empuxo Ativo e Passivo 5
4.0 Métodos para Cálculo do Empuxo 6
4.1 Método de Rankine 6
4.1.1 O efeito da água 9
4.1.2 Situações possíveis de perfis de tensão horizontal 11
4.1.3 Efeito de uma Sobrecarga 12
4.2 Método de Coulomb 12
4.2.1 Solução analítica do método de Coulomb para solos granulares 13
4.3 Solo Coesivo 15
4.4 Comentários Sobre os Métodos de Rankine e Coulomb 18
4.5 Métodos Gráficos 18
4.5.1 Método gráfico de Poncelet 18
4.5.1.1 Terrenos inclinados e sobrecarga 19
5.0 Estabilidade de Muros de Arrimo 21
5.1 Estruturas de Arrimo 21
5.2 Condições de Estabilidade dos Muros de Arrimo 25
5.2.1 1ª condição: Segurança contra o tombamento 25
5.2.2 2ª condição: Segurança contra o escorregamento 26
5.2.3 3ª condição: Segurança contra deformação excessiva no terreno de 27
fundação
5.2.4 4ª condição: Segurança contra ruptura global 28
6.0 Exemplos de Aplicação 31
7.0 Bibliografia Consultada 33
2
1.0 Introdução
Denomina-se Empuxo a ação produzida por um maciço de terra (Empuxo de Terra) ou por
uma massa de água (Empuxo de água) sobre as obras em contato com tais maciços,
projetadas para suportar os esforços decorrentes desses elementos. Os empuxos de terra,
assim como as fundações, também dependem da interação solo – estrutura.
Algumas vezes, na engenharia civil, não se dispõe de espaço suficiente para fazer uma
transição gradual das elevações do terreno onde se quer implantar uma determinada obra.
Nestes casos, os taludes necessários podem ser suficientemente altos ou inclinados, de modo
que a estabilidade dos mesmos não é assegurada em longo prazo. As estruturas de contenção
são projetadas para prover suporte para estas massas de solo instáveis.
O cálculo dos empuxos de terra constitui uma das mais antigas preocupações da engenharia
civil, tratando-se de um problema de elevado valor prático, de ocorrência freqüente e de
determinação complexa. As teorias clássicas sobre empuxo de terra foram formuladas por
Coulomb (1773) e Rankine (1856).
Os muros de arrimo, os escoramentos de escavações, os encontros de pontes, os problemas
de capacidade de carga de fundações, pressão de grãos sobre as paredes de silos, entre
outras, são as obras que exigem, em seus dimensionamentos e análises de estabilidade, o
conhecimento das tensões laterais desenvolvidas e, conseqüentemente, dos valores dos
empuxos.
3
(a) (b)
Figura 1.1 – Condições de deslocamento relativo maciço-muro nos casos (a) ativo e (b) passivo.
Em todos os casos apresentados acima existe uma relação entre as tensões horizontais
efetivas desenvolvidas (σ´h) e as tensões verticais efetivas (σ´v) atuantes. A relação entre estas
tensões denomina-se coeficiente de empuxo (K). No caso ativo, tem-se o coeficiente de
empuxo ativo (Ka). No caso passivo, recebe o nome coeficiente de empuxo passivo (Kp),
enquanto que na situação de repouso a denominação é coeficiente de empuxo em repouso
(K0).
σ ´h
K= (1)
σ ´v
Na situação de repouso existe a conhecida equação de Jaki, professor húngaro, para a
estimativa de K0 em função apenas do ângulo de atrito interno efetivo do solo (φ): K0 = (1-sinφ´)
para areias e K0 = (1-sinφ´)x(OCR)senφ´ para o caso de argilas com história de préadensamento.
O empuxo em um ponto é, portanto, calculado em função da tensão vertical naquele ponto
multiplicada pelo valor do coeficiente de empuxo específico.
4
3.0 Cálculos dos Coeficientes de Empuxo Ativo e Passivo
Figura 1.3 – Círculos de Mohr inicial e final de tensões para os estados ativo, passivo e em repouso.
em que
φ
Nφ = tg 2 45° + (2A)
2
No estado ativo, a tensão horizontal, σha, corresponde à tensão principal menor, σ3. Se o solo
for granular (c=0), pode-se demonstrar que :
σ´
K = h = 1 = tg 2 45° − φ (3)
a σ´ N 2
v φ
5
No estado passivo, a tensão horizontal, σhp, corresponde à tensão principal maior, σ1. Se o solo
for granular (c=0), pode-se facilmente demonstrar também que :
σ´
K = h = Nφ = tg 2 45° + φ (4)
p σ´ 2
v
Das Equações 3 e 4 observa-se que os valores de Ka são sempre inferiores a 1, ao passo que
os valores de Kp, por serem o inverso dos do coeficiente de empuxo ativo, são sempre
superiores à unidade.
Os processos clássicos utilizados para a determinação dos empuxos de terra são métodos de
equilíbrio limite. Nestes métodos admite-se que a cunha de solo situada em contato com a
estrutura de suporte esteja num dos possíveis estados de plastificação, ativo ou passivo. Esta
cunha tenta deslocar-se da parte fixa do maciço e sobre ela são aplicadas as análises de
equilíbrio dos corpos rígidos. A análise de Rankine se apóia nas equações de equilíbrio interno
do maciço. Estas equações são definidas para um elemento infinitesimal do meio e estendida a
toda a massa plastificada através de integração. Esta análise enquadra-se no teorema da
região inferior (TRI) da teoria da plasticidade.
Como filosofia básica, este teorema defende, em primeiro lugar, o equilíbrio de tensões entre
os campos externos e internos que se estabelecem sobre a cunha plastificada. As tensões
externas são despertadas por solicitações aplicadas na superfície do terreno pela ação do peso
próprio da cunha. As solicitações internas são as reações que se desenvolvem na cunha, em
conseqüência das solicitações externas. Para resolução das equações de equilíbrio, todos os
pontos dentro da cunha de ruptura são supostos em estado limite e as tensões se relacionam
pelo critério de ruptura de MÖHR – COULOMB.
A solução de Rankine, estabelecida para solos granulares e estendida por Rèsal para solos
coesivos, constitui a primeira contribuição ao estudo das condições de equilíbrio limite dos
maciços, tendo em conta as equações de equilíbrio interno do solo. Em razão disso, essas
equações são conhecidas como estados de plastificação de Rankine.
O método de Rankine, que consiste na integração, ao longo da altura do elemento de suporte,
das tensões horizontais atuantes, calculadas a partir do sistema de equações estabelecido
para o maciço, fundamenta-se nas seguintes hipóteses:
6
ii) O solo no interior da cunha de ruptura se encontra nos estados de plastificação de
Rankine.
iii) A inserção do muro não interfere nos resultados obtidos.
Embora teoricamente a solução de Rankine só seja válida para muro de parede vertical,
perfeitamente lisa, que é quando se atingem os estados de plastificação de Rankine (superfície
de escorregamento fazendo um ângulo igual a 45° + φ/2 ou 45° - φ/2 com o plano principal
maior, para as condições ativa e passiva, respectivamente, conforme mostrado na Figura 1.4),
ela é estendida também aos casos em que o tardoz do muro faz um ângulo β com a vertical.
7
Figura 1.5 – Efeito do atrito solo–estrutura sobre as direções das cunhas de plastificação.
Sobre o procedimento do método de Rankine existe a desvantagem de que a obtenção dos
valores de Ka e Kp para geometrias complexas e/ou outras formas de carregamento, que não
carregamento extenso, conduz a procedimentos de cálculos bastante árduos.
Para os solos não coesivos, a variação das tensões horizontais é linear com a profundidade. O
diagrama resultante será triangular e o empuxo consistirá na integração das tensões laterais ao
longo da altura. A Figura 1.6 ilustra a obtenção do empuxo ativo sobre uma estrutura de
contenção pelo método de Rankine, para os casos de solos não coesivos e coesivos.
Figura 1.6 – Aplicação do método de Rankine para cálculo do empuxo ativo sobre estruturas de
contenção (Machado e Machado, 2002).
Conforme se pode observar, para o caso dos solos coesivos, os valores de empuxo obtidos até
uma profundidade z = z0 são negativos. A ocorrência de empuxo negativo sobre a estrutura de
contenção é pouco provável, pois neste caso haveria uma tendência do solo se “descolar” do
muro. Além disto, até a profundidade de z = z0, é provável a ocorrência de trincas de tração no
solo. Deste modo o empuxo negativo sobre a estrutura de contenção é geralmente
desprezado, calculando-se o empuxo a partir da altura reduzida do muro, h = H – z0, conforme
mostrado na Figura 1.6.
8
A integração das tensões horizontais ao longo do muro de arrimo representa o empuxo ativo
atuando sobre a estrutura de contenção, conforme a equação seguinte:
h 1
E a = ∫ K a γ ⋅ z ⋅ dz = .γ .h 2 .K a (5)
0 2
9
Figura 1.7 – Efeito da água no empuxo do solo sobre estruturas de contenção (Machado e
Machado, 2002).
Neste caso, há uma mudança no peso específico do solo, que passa a γsat, e que as tensões
neutras devem subtraídas das tensões horizontais do solo sobre a estrutura, pois os
coeficientes de empuxo devem sempre ser utilizados em termos de tensão efetiva. Caso o
nível d’ água se eleve até à superfície do terreno, o que consiste na situação mais
desfavorável, o empuxo ativo sobre a estrutura de contenção será calculado através da
Equação 8:
1 h 2γ w
E a = .γ sub .h 2 .K a + (8)
2 2
No caso de talude onde exista uma inclinação β do terrapleno com o plano horizontal, os
coeficientes de empuxo ativo e passivo são dados pelas Equações 9 e 10, respectivamente. Os
valores dos empuxos resultantes sobre as estruturas de contenção são obtidos através das
Equações 11 e 12, respectivamente.
1
E = .γ .h 2 .K a (11)
a 2
1
Ep = .γ .h 2 .K P (12)
2
10
Os valores de Ka e Kp se encontram tabelados para facilitar a obtenção, conforme apresentado
nas Tabelas 1.1 e 1.2.
A Figura 1.8 mostra três situações que podem ser encontradas na prática: no caso a, tem-se a
superfície horizontal (β=0°), na qual o valor de Ea é a própria componente horizontal; na
situação b, o terreno se apresenta inclinado de um valor β>0, onde a resultante do empuxo
será também inclinada de mesmo ângulo, enquanto que no caso c além da inclinação existe
uma sobrecarga distribuída na superfície do terreno. Os valores das tensões horizontais e suas
respectivas distribuições estão apresentados nas próprias ilustrações.
11
4.1.3 Efeito de uma Sobrecarga
Quando sobre a superfície do maciço atua um sobrecarga uniformemente distribuída, q,
conforme mostrado na Figura 1.9, as tensões horizontais podem ser calculadas pela
expressão:
σ h = (γ .z + q ) ⋅ K (13)
onde K é o coeficiente de empuxo ativo ou passivo do solo, conforme o caso que se considere.
A sobrecarga ainda pode ser transformada em uma altura equivalente de terra, h0, em que:
q
h0 = (14)
γ
em que γ é o peso específico do solo. A tensão horizontal, a uma profundidade z, será então:
σ h = (γ .z + γ .h0 ) ⋅ K (15)
Conforme mostrado na Figura 1.9, o diagrama de tensões horizontais, neste caso, será
trapezoidal, e a resultante estará acima do terço inferior da altura da parede.
O método de C. A. Coulomb é um dos mais antigos para o cálculo do empuxo de terra, tendo
sido enunciado por volta de 1776 (Bowles, 1998). O método de Coulomb é baseado no
Teorema da Região Superior (TRS) da teoria da Plasticidade, a qual estabelece o equilíbrio de
uma massa de solo partindo do pressuposto que, para um deslocamento arbitrário, o trabalho
realizado pelas forças externas é menor que o das forças internas. Do contrário, o maciço
entrará em processo de instabilidade ou de plastificação. Este método admite as seguintes
hipóteses:
i) O solo é isotrópico, homogêneo e possui atrito interno e coesão.
ii) A superfície de ruptura é considerada plana
iii) É atendida a condição de deformação plana ao longo do eixo do muro (bidimensional).
12
iv) Ao longo da superfície de deslizamento o material se encontra em estado de equilíbrio
limite (critério de Mohr-Coulomb).
v) Ocorre deslizamento relativo entre o solo e o muro, resultando em tensões cisalhantes na
interface, cuja direção depende do movimento relativo solo-estrutura. O coeficiente de
atrito é dado por f = tan(φ).
Empuxo Ativo: A Equação 16 apresenta o valor do coeficiente de empuxo ativo obtido pelo
método de Coulomb. Nas Figuras 1.10 e 1.11 estão apresentadas todas as variáveis contidas
na Equação 16, para o caso de empuxo passivo. No caso de empuxo ativo, a resultante R do
solo atuará desviada também de φ’ da normal à cunha, mas agora em sentido oposto. Do
mesmo modo, devido ao movimento descendente da cunha no caso ativo, Ea será inclinada da
normal à contenção também de δ, mas em sentido contrário àquele apresentado na Figura
13
1.10. Deste modo, no uso das Equações 16 e 17, deve-se atentar para a convenção de sinais
adotada nas Figuras 1.10 e 1.11.
sen 2 (α + φ´)
Ka = (16)
sen(φ´+δ ) ⋅ sen(φ´− β )
2
sen 2 (α ) ⋅ sen(α − δ ) 1 +
sen(α − δ ) ⋅ sen(α + β )
sen 2 (α − φ´)
KP = 2
(17)
sen(φ´+δ ) ⋅ sen(φ´+ β )
sen 2 (α ) ⋅ sen(α + δ ) 1 −
sen(α + δ ) ⋅ sen(α + β )
14
É importante lembrar que as componentes horizontal e vertical (Eah, Eav) dos empuxos são
calculadas pelos métodos de Rankine e Coulomb de formas diferentes. No método de Rankine,
as componentes são função do ângulo de inclinação da superfície do terreno (β):
E AH = E ⋅ cos( β ) (18)
a
E AV = E ⋅ sen( β ) (19)
a
No caso do método de Coulomb, as componentes horizontal e vertical dependem do ângulo de
atrito solo-estrutura (δ):
E AH = E ⋅ cos(δ ) (20)
a
E AV = E ⋅ sen(δ ) (21)
a
De forma análoga são obtidas as componentes do empuxo no caso passivo. O valor de δ é
Segundo Bowles (1988), nem no método de Rankine nem no de Coulomb foi introduzida a
coesão como um parâmetro de entrada em suas equações de empuxo. Bell (1915) foi o
primeiro autor a publicar a solução para este problema, partindo de uma aplicação direta do
círculo de Möhr. Neste caso, a coesão atua favoravelmente à estabilidade do maciço,
reduzindo o valor da tensão horizontal ativa, numa espécie de empuxo passivo, conforme a
Equação 19:
σ ha = γzK a − 2c K a (22)
2c K a
0 = γzK a − 2c K a ⇒ z = (23)
γK a
Para o caso de argilas moles, onde φ = 0°, tem-se:
1 2 4c
Ea = γh − 2c e zc = (24)
2 γ
15
Tabela 1.3 – Valores de KA para aplicação do método de Coulomb (Bowles, 1988).
16
Tabela 1.4 – Valores de KP para aplicação do método de Coulomb (Bowles, 1988).
17
4.4 Comentários Sobre os Métodos de Rankine e Coulomb
Tanto a equação de Rankine quanto a de Coulomb são amplamente usadas para problemas
envolvendo empuxos de terra. A solução de Rankine é, talvez, a mais empregada por causa da
sua simplicidade e por ser mais conservativa que a de Coulomb (por exemplo, Rankine
despreza o atrito solo-muro). Todavia, padece de algumas limitações. De acordo com Bowles
(1988), não é recomendável a aplicação da equação de Rankine no cálculo de EP quando β >
0, visto que na Tabela 1.2 se observa que o valor de KP diminui com o aumento da inclinação
da superfície do terreno, o que não está correto, ao contrário do que ocorre com os valores de
KA.
Já as equações de Coulomb podem ser usadas tanto para valores de β positivos quanto para
valores negativos.
Finalmente, ressalta-se em relação que o método de Rankine, que desconsidera o atrito entre
o solo e o muro, fornece soluções do lado da segurança. Entretanto, o método de Coulomb
considera o atrito e fornece soluções mais realistas. O emprego de uma ou de outra teoria está
associado, inclusive, à geometria do problema. As obras dimensionadas pelo método de
Rankine tendem a ser mais caras em razão deste método fornecer valores mais conservativos
do empuxo.
São procedimentos gráficos baseados na hipótese de Coulomb, na qual o plano em que ocorre
o deslizamento é aquele que limita um prisma de empuxo máximo sobre o suporte. Nesses
métodos encontra-se uma relação geométrica entre a área da seção do prisma deslizante e a
área de um triângulo definido por três retas traçadas no problema, cujas direções dependem da
inclinação do terreno, da existência de sobrecarga, da inclinação do tardoz, de φ e δ. Os
métodos mais comuns são os de Poncelet e o de Culmann. Como ambos são muito
semelhantes, neste trabalho será abordado apenas o primeiro. O leitor deverá recorrer à
bibliografia indicada para consultar outros métodos.
18
i) traçar BT fazendo um ângulo φ com a horizontal;
ii) traçar AS paralela a BO, fazendo o ângulo φ + δ com a linha AB;
iii) tendo BT com diâmetro, traçar uma semicircunferência;
iv) traçar por S a reta perpendicular SL a BT;
v) rebater L em D, com centro em B e raio BL;
vi) finalmente, traçar DC paralela a AS e rebater o ponto C, assim obtido, em G.
1 ____ ____
Ea = γ ⋅ ⋅ CD⋅ CN (25)
2
Para casos envolvendo pequenos valores de φ ou grandes inclinações do terreno torna-se mais
adequada a construção gráfica descrita a seguir (ver Figura 1.13):
i) traçar BT fazendo um ângulo φ com a horizontal;
ii) traçar AS formando o ângulo φ + δ com AB;
iii) pelo ponto S traçar SS0 paralela à superfície livre do terreno;
iv) por S0 traçar a perpendicular S0L0 a AB, até encontrar a circunferência de diâmetro
AB;
v) rebater BL0 sobre AB e marcar o ponto D0;
vi) traçar por D0 uma paralela a SS0, obtendo-se assim o ponto D;
vii) finalmente, traçar por D uma paralela a AS até encontrar a superfície do terreno, em
C, que é o ponto procurado.
19
Figura 1.13 – Solução gráfica de Poncelet para casos de φ muito pequeno.
Figura 1.14 – Solução gráfica de Poncelet para casos de superfície inclinada com sobrecarga.
Empuxo Passivo: para determinação gráfica do empuxo passivo o procedimento está descrtio a
seguir, de acordo com a Figura 1.15.
20
i) traçar BT fazendo um ângulo φ com a horizontal;
ii) prolongar a superfície livre AC até interceptar em E o prolongamento da reta BT;
iii) traçar por A a reta AF formando com AB o ângulo φ + δ;
iv) sobre BE como diâmetro obter a semicircunferência de círculo BHE;
v) pelo ponto F traçar a perpendicular a FH até o ponto H sobre a semicircunferência;
vi) rebater o ponto H em D, com centro em B;
vii) por D traçar a paralela DC a AF até cortar a superfície livre em C;
viii) a reta BC representa a superfície de ruptura mais crítica;
ix) rebatendo-se C em G, com centro em D, obtém-se o triângulo CDG, de área S;
x) finalmente, o valor do empuxo passivo, Ep, será igual a γS.
21
Em obras definitivas, como no caso dos muros de arrimo, é normal proceder-se à escavação,
deixar um espaço livre atrás de onde será implantada a estrutura, para facilidade de trabalho,
e, uma vez completada a estrutura, procede-se ao reaterro do espaço deixado livre. Deve-se
observar, entretanto, que estas não são regras gerais para estruturas temporárias e definitivas,
havendo comumente exceções.
As estruturas de contenção são basicamente divididas em flexíveis e rígidas. Estas podem ser
de vários tipos e proporcionam estabilidade de diversas maneiras. Existem os muros de arrimo
de gravidade, de gravidade aliviada, muros de flexão, muros de contraforte, cortinas de estacas
prancha, cortinas de estacas secantes ou justapostas, cortinas de perfis metálicos combinados
com pranchões de madeira, paredes diafragma e eventualmente partes de estruturas
projetadas para outro fim, que têm por finalidade retenção, como por exemplo, os subsolos dos
edifícios e os encontros de pontes. A Figura 1.16 mostra três casos típicos onde se justifica a
necessidade da execução de estruturas de contenção.
Com o progresso dos métodos construtivos, tem se empregado cada vez mais a construção de
estruturas de contenção utilizando-se geotêxteis (Figura 1.21 ou outros elementos estruturais.
Este é o caso dos muros de arrimo construídos utilizando-se as técnicas de terra armada ou
solo “envelopado”. Embora esteja fora do propósito deste trabalho a apresentação detalhada
dos princípios de funcionamento destas estruturas, pode-se dizer que, nestes casos, há a
incorporação de elementos estruturais ao solo no sentido de conferir a este resistência à
tração. Em ambos os casos, trabalha-se com o atrito entre o solo e os elementos estruturais,
de modo que o uso de solos granulares é sempre preferível. No caso destas estruturas e
mesmo no caso dos muros de arrimo em gabiões (Figura 1.21), além das verificações de
estabilidade normalmente realizadas, deve-se também realizar análises no sentido de verificar
a estabilidade interna da estrutura de contenção.
Figura 1.21 – Muro de gabião com uso de geotêxtil e muro de contraforte (Machado e Machado, 2002).
24
5.2 Condições de Estabilidade dos Muros de Arrimo
Para melhor entendimento, são apresentados na Figura 1.22 os principais esforços atuando
sobre um muro de arrimo. Os critérios de estabilidade serão analisados individualmente:
A condição para que o muro não tombe em torno da extremidade externa “A” da base, é que o
momento gerado pelo peso do muro seja maior que o momento gerado pelo empuxo
resultante, ambos tomados em relação ao ponto A, mostrado na Figura 1.23. Ou seja:
M res
F= ≥ Fmín = 1,5 (26)
M atua
em que Mres é o momento devido ao peso do muro e Matua é o momento gerado pelo empuxo
resultante.
25
Figura 1.22 – Esforços sobre um muro de arrimo (Machado e Machado, 2002).
Aconselha-se que a resultante das forças atuantes, R, passe dentro do núcleo central (terço
médio, da base AB), e o mais próximo quanto possível do ponto médio “O” quando o muro se
apóia sobre terreno muito compressível.
Esta condição de estabilidade do muro não permite que o mesmo sofra uma transladação
motivada pela resultante dos esforços horizontais atuantes, ∑H atua . Dessa forma, tem-se:
F=
∑H res
≥ Fmín = 1,5 (27)
∑H atua
26
onde ∑H res é a resultante das forças horizontais resistentes. De acordo com a Figura 1.22,
1,5 ⋅ H ≤ V ⋅ µ´ (28)
em que µ varia de 0,67tgφ´ a tgφ´ (coeficiente de atrito solo-muro), sendo φ´ o ângulo de atrito
interno do solo. Na falta de dados medidos podem ser adotados os valores indicados a seguir.
φ´ ≅ 30° para areia grossa pura
φ´ ≅ 25° para areia grossa argilosa ou siltosa
φ´ ≅ 35° solo de alteração de rocha
φ´ ≅ 25° para solo arenoso
Esta condição possibilita comparar a tensão aplicada pela base do muro (σ1 ou σ2) com a
tensão admissível do solo que o serve de apoio (σadm), conforme mostrado na Figura 1.23.
Para o cálculo das tensões atuantes no solo de fundação, primeiramente é preciso calcular o
ponto de aplicação da força normal V, usada na verificação do deslizamento. Para este cálculo
é feito o equilíbrio dos momentos resistente (MRES) e ativo (MAt) em relação ao ponto A,
resultando em:
_MRes − M at
x= (29)
V
Da Equação 29, se obtém facilmente a
excentricidade, e, ou seja:
B _
e= −x (29A)
2
V 6e
σ1 = 1 + (30)
B B
27
V 6e
σ2 = 1− (31)
B B
ii) Força R caindo fora do núcleo central da base, ou seja, e > B/6: o diagrama de tensões na
base terá uma distribuição triangular, mas limitada à parte que gera compressão (ver Figura
1.25). O valor da tensão máxima será:
2V
σ1 = (32)
3e´
A situação (ii) deve ser evitada sempre que possível, visto que o aparecimento de tensões de
tração na base do muro poderá causar trincamento na sua estrutura, o que não é desejável.
Para a estimativa da tensão admissível (σadm) do terreno onde se apóia o muro, diversos
métodos são disponíveis na literatura, a exemplo da equação de capacidade de carga de
Terzaghi, para sapatas corridas (ver Capítulo 4).
Deve ser investigada sempre que se achar necessário a estabilidade do conjunto formado pelo
maciço e o muro projetado. Há diversos métodos na literatura que permitem este tipo de
análise, dentre eles o método de Bishop Simplificado, muito empregado em análises de
estabilidade de barragens de terra. Superfícies circulares de ruptura típicas são mostradas na
Figura 1.26 (superfície ABC).
28
(a) (b)
Figura 1.26 – Forma típica de uma superfície de ruptura global do conjunto maciço de terra e muro: a –
gravidade comum; b – gravidade escalonado.
O método de Bishop adota superfícies de ruptura cilíndricas, conforme mostrado nas Figuras
1.26(a e b). Dessa forma, são verificados possíveis arcos de ruptura que cruzam o terrapleno e
o solo de fundação, contornando todo o muro de arrimo.
Para aplicar o método, a parte do maciço delimitada por cada um desses arcos é dividida em
fatias ou lamelas, do que se calcula o coeficiente de segurança contra a ruptura ao longo dessa
superfície. Inicialmente é admitida uma superfície de ruptura cilíndrica aleatória e o material
delimitado por esta superfície é dividido em lamelas, conforme mostrado na Figura 1.26b. As
forças que agem sobre cada uma dessas fatias são mostradas na Figura 1.27, as quais são
listadas a seguir:
P = peso da lamela
b = largura
α = inclinação da superfície de ruptura de cada uma das lamelas
N = força normal agindo na superfície de ruptura
T = força tangencial que age na superfície de ruptura
H1, H2 = forças horizontais agindo nas faces laterais das lamelas
V1, V2 = forças verticais agindo nas faces laterais das lamelas
29
Figura 1.27 – Forças agindo em cada lamela (a); parâmetros de uma superfície de ruptura cilíndrica (b)
A partir do equilíbrio das forças agindo nas lamelas, obtém-se o coeficiente de segurança
contra a ruptura global do sistema solo-muro, a partir da seguinte equação:
c ⋅ b + P ⋅ tan φ
∑ senα ⋅ tan α
cos α +
FS
FS = (33)
∑ (P ⋅ senα )
onde c e φ são a coesão e o ângulo de atrito interno do solo, respectivamente.
Caso o nível d´água passe no interior da lamela, o peso desta é calculado utilizando-se o peso
específico saturado para a parte abaixo dele e também é determinada a poropressão (u) que
age na superfície de ruptura.
Como o coeficiente de segurança (FS) aparece nos dois lados da Equação 33, sua
determinação é iterativa. Para cada muro, devem ser pesquisadas várias superfícies de ruptura
até se encontrar a mais crítica, ou seja, aquela com o menor coeficiente de segurança. Como
para identificação de uma superfície de ruptura são necessários três parâmetros (coordenadas
horizontal e vertical do ponto “O” e um valor do raio do círculo), essa pesquisa é bastante
trabalhosa quando é feita manualmente. Por sorte, com as facilidades da informática, essa
tarefa se torna muito prática e rápida, através de algoritmos devidamente programados.
Diversos programas estão disponíveis no mercado para atender a essa necessidade.
30
6.0 Exemplos de Aplicação
6.1 Determinar o valor do empuxo ativo e seu ponto de aplicação para o caso apresentado na
figura a seguir.
b) para z=0 , σh = γ z Ka = 0
d) ponto de aplicação
6.2 Determinar o valor do empuxo ativo e seu ponto de aplicação para o caso apresentado na
figura a seguir.
31
c) Ea1 = (6,1)(3) = 18,3 kN/m
Ea2 = ½. (21,6 – 6,1)(3) = 23,3 kN/m
d) ponto de aplicação
6.3 Verificar a estabilidade do muro de arrimo a seguir apresentado. A tensão admissível do terreno onde
o muro se apóia é igual a 200kPa.
Ea = ½. γ z2 Ka = ½. (19)(5)2(0,278) = 66 kPa
Eav = Ea.senδ = (66)(sen300) = 33 kPa
Eah = Ea.cosδ = (66)(cos300) = 57,2 kPa
32
c) cálculo do momento atuante, Ma
Ma = ΣH . y = Eah. ya = (57,2).(1,67) = 95,5 kN.m/m
d) verificação da segurança ao tombamento
F.S. = Mr / Ma = (273,6) / (95,5) = 2,9 > 1,5 ⇒ OK
e)verificação da segurança ao deslizamento
F.S. = (ΣV)tgδ / ΣH = [(203)(tg30)] / 57,2 = 2,0 > 1,5 ⇒ OK
f) Verificação da segurança quanto ao terreno de fundação ponto de aplicação da resultante:
Mr − Ma 273,6 − 95,5
x= = ≅ 0,88m
ΣV 203
B 2
e = − x = − 0,88 = 0,12m
2 2
Se e ≤ B/6, a resultante passa no terço médio, B/6 = 2/6 = 0,33 > e, logo, a resultante passa no terço
médio, portanto:
⇒ OK!
34
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES
Notas de Aula
ESCORAMENTOS DE ESCAVAÇÕES
Capítulo 2 – Aspectos Gerais e Dimensionamento
35
1.0 Obras de Contenção
A alternativa da Figura 2.1b é na maioria das vezes mais econômica, porém requer maior área
escavada em razão da inclinação do talude gerado, podendo se constituir numa solução
inviável em áreas urbanas.
A necessidade de limitar as escavações por taludes se dá em razão de segurança. As
escavações são executadas num material geralmente heterogêneo – solo – cujas propriedades
podem variar expressivamente com pequenas mudanças nas condições ambientais. Por
exemplo, um solo argiloso pode perder completamente suas propriedades coesivas quando
saturado durante e após um temporal. Isso põe em risco toda a obra, devido à possibilidade de
desmoronamento da escavação, destruindo equipamentos e, principalmente causando perdas
de vidas humanas.
i) contidas
ii) em talude
36
⇒ Pela transitoriedade da contenção
iii) provisórias
iv) definitivas
37
3.0 Aspectos Tecnológicos da Estabilidade das Escavações
3.1 Ângulo de talude natural
Entende-se por talude toda superfície inclinada que limita um maciço de solo. Os taludes
podem ser naturais (as encostas) ou artificiais (os cortes e os aterros). Na Figura 2.2 é feita
uma ilustração da seção de um talude típico e a terminologia mais empregada.
O ângulo de talude natural (α) é o maior ângulo de inclinação para um determinado tipo de solo
exposto ao tempo, obtido sem instabilidade do maciço. Nos solos granulares, o valor de α é
praticamente igual ao ângulo de atrito interno do solo (φ). Por outro lado, nas argilas, que são
solos bastante impermeáveis, teoricamente α equivaleria a 90°. Porém, a ocorrência de
fissuras superficiais, devido a retração por ciclos de molhagem e secagem, acaba permitindo a
entrada de água no corpo do talude, podendo causar instabilidade do mesmo (ver Figura 2.3).
Em conseqüência disso, o ângulo de talude natural nestes solos se situam em torno de 40°
(Cardoso, 2002).
Figura 2.3 – Instabilidade de solos coesivos devido à fissuração e conseqüente ação da água.
Cabe ressaltar que o valor de α de cada solo, na realidade depende de diversos fatores:
condições locais, grau de compactação, heterogeneidade do solo, permeabilidade da camada
superficial, existência de vibrações nas proximidades, escavações vizinhas, etc.
38
Do ponto de vista prático, o ângulo de talude natural dá indicações do limite a partir do qual a
escavação deve ser obrigatoriamente ser escorada ou contida. Sendo desconsiderado seu
valor, corre-se o sério risco da ocorrência de escorregamentos e o soterramento de valas
escavadas e operários executando a escavação.
São citados a seguir três métodos de contenções provisórias, consideradas flexíveis, podendo
ser ou não escoradas.
39
Figura 2.5 – Contenção com perfis metálicos e pranchas horizontais de madeira.
A Figura 2.7 apresenta um tipo de contenção efetuada com parede de concreto atirantada,
denominada parede diafragma, enquanto que na Figura 2.8 mostra-se a foto de um tipo de
contenção definitiva executada com estacas-prancha.
Existem outros diversos tipos de contenções disponíveis no mercado, os quais não serão
apresentados aqui em razão de fugir de alguma forma do escopo deste trabalho. O mais
importante a partir deste ponto é apresentar os métodos de dimensionamento dos tipos mais
comuns de escoramentos de cavas de fundação. O leitor que se interessar por mais detalhes
sobre os tipos de contenção usados na engenharia de fundações deverá consultar a apostila
de Cardoso (2002) ou outra bibliografia relacionada ao assunto.
As tensões ativas (σha) e passivas (σhp) numa profundidade genérica “i” são expressas por:
σ ha = σ (1)
z k a − 2c k a (1)
e
σ hp = σ (2)
z k p + 2c k p (2)
Figura 2.9 – Tensões ativas e passivas geradas numa escavação (adaptado de Alonso, 1983).
Observações:
i) se as superfícies forem horizontais, tem-se que kp = 1/ka
ii) não se dispondo de resultados de ensaios de laboratório, os valores de c e φ podem
ser estimados com base nos dados das Tabelas 2.1 e 2.2
iii) quando os escoramentos forem estanques, acrescentar às tensões σha e σhp as
correspondes pressões de água. Neste caso, o peso específico do solo será o
submerso, adotando-se γágua = 10kN/m3.
iv) o cálculo de σha e σhp empregando-se as equações (1) e (2) tem emplícito que o
ângulo de atrito solo-escoramento é nulo (δ = 0). Todavia, o valor de δ pode variar
2φ
desde 0 até , conforme mostrado na Tabela 2.3, que pode ser empregada nestes
3
casos.
Tabela 2.1 – Estimativa dos valores da coesão em função do tipo de solo – argilas (Alonso, 1983).
Argilas NSPT c (kPa)
Muito mole < 2 < 10
Mole 2a4 10 a 25
média 4a8 25 a 50
Rija 8 a 15 50 a 100
Muito rija 15 a 30 100 a 200
dura > 30 > 200
42
Tabela 2.2 – Estimativa dos valores de φ em função do tipo de solo – areias (Alonso, 1983).
Compacidade NSPT φ (°)
Areia
relativa, Dr
Fofa < 0,2 < 4 < 30
Muito compacta 0,2 a 0,4 4 a 10 30 a 35
Medianamente compacta 0,4 a 0,6 10 a 30 35 a 40
Compacta 0,6 a 0,8 30 a 50 40 a 45
Muito compacta > 0,8 > 50 > 45
A Figura 2.10 ilustra esta situação. Neste caso, têm-se as seguintes condições:
43
iii) Se o escoramento abaixo da escavação for descontínuo, as tensões ativas deverão ser
calculadas a favor da segurança (considerando contínuo), porém as tensões passivas
devem ser consideradas atuando numa extensão igual a três vezes a largura da mesa.
3b
Ou seja, deve-se multiplicar as tensões passivas por ≤ 1 , assimilando-o a um
e
escoramento contínuo equivalente (ver Figura 2.11).
Figura 2.11 – Escoramento descontínuo transformado num contínuo equivalente (Alonso, 1983).
f = 1,2 ⋅ z (3)
44
4.2 Escoramentos com uma linha de escoras
∑H = 0 ⇒ R + Ep − Ea = 0 (4)
∑M = 0 ⇒ Ep ⋅ x 2 + Ea ⋅ x1 = 0 (5)
Figura 2.12 – Esquema de escoramento realizado com uma linha de escora (Alonso, 1983).
Será apresentada para o caso de escoramentos com duas ou mais linhas de escoras, a
solução aproximada de Terzaghi e Peck. Este caso surge quando a escavação deverá atingir
profundidades relativamente grandes (de 3m ou mais).
De acordo com Terzaghi e Peck, nesta situação, tensão ativa pode ser calculada conforme
mostrado esquematicamente nas Figuras 2.13a e 2.13b, casos de inexistência de sobrecarga
na superfície do terreno. Havendo sobrecarga, será adicionada aos diagramas da Figura 2.13 a
parcela correspondente, qka.
45
Figura 2.13 – Esquema de escoramento realizado com duas ou mais linhas de escoras (Alonso, 1983).
Para efetuar o cálculo das reações nas estroncas, o procedimento consiste em subdividir-se o
escoramento em diversas vigas isostáticas, conforme mostrado na Figura 2.14. Do ponto de
vista prático, calcula-se a reação E como se a ficha fosse nula e em seguida adota-se para a
mesma um comprimento da ordem de grandeza do último vão.
Cabe ressaltar, no entanto, que os cálculos aproximados aqui apresentados são válidos na
consideração de não ocorrência de risco de ruptura de fundo ou de estabilidade geral da
escavação, o que se recomenda ser sempre verificado. Essa observação é pertinente inclusive
aos casos dos itens 4.1 e 4.2.
Figura 2.14 – Procedimento para cálculo das reações em múltiplas estroncas (Alonso, 1983).
46
5.0 Exemplos de Aplicação
1) Calcular a ficha necessária para que a cortina indicada na figura seguinte suporte a escavação.
Solução:
Coeficientes de empuxo
Solo 1: ka = tg2 (45 – 15/2) = 0,59
Solo 2: ka = tg2 (45 – 35/2) = 0,27 kp = 3,7
Solução:
Coeficientes de empuxo
Solo 1: ka = tg2 (45 – 10) = 0,49
Solo 2: ka = tg2 (45 – 15) = 0,33 kp = 3,0
z = 26,5/29,4 = 0,90 m
48
Cálculos dos empuxos = áreas dos diversos trechos do diagrama:
11,7 x 2,5
RA = = 14,6 kN m
2
R B = 17,3 x1,5 ≅ 26 kN m
26,7 − 17,3
RC = 1,5 = 7,1 kN m
2
26,7 x0,9
RD = = 12,0 kN m
2
29,4 x
RE = x = 14,7 x 2 kN m
2
49
6.0 Bibliografia Consultada
50
20) Vargas, M. (1977), Introdução à Mecânica dos Solos, Ed. McGraw-Hill do Brasil, Ltda,
São Paulo.
21) Velloso, D. A., Lopes, F. R. (1996), Fundações - Critérios de Projeto - Investigações do
Subsolo, Fundações Superficiais, Volume 1, COPPE/UFRJ.
51
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES
Notas de Aula
53
1.0 Introdução
A presença do lençol freático acima das cotas em que estruturas de fundações (de edifícios, de
pontes, de barragens, etc.) deverão ser construídas pode trazer sérios inconvenientes ao
andamento normal da obra. Por exemplo, a existência d´água na cava de uma fundação não só
dificulta sobremaneira a execução do serviço como pode alterar as condições de estabilidade
do maciço adjacente e do fundo da escavação, resultando em desmoronamento do talude.
Além disso, a ação da água exige que escoramentos mais resistentes sejam projetados para
as paredes das cavas, uma vez que maiores são os empuxos a serem contidos.
Para que a obra não sofra os efeitos instabilizadores da água, tornam-se necessários estudos
de drenagem e rebaixamento do lençol freático para cotas abaixo do fundo das escavações.
Os lençóis aqüíferos podem ser livres ou artesianos se a água encontra-se confinada entre
camadas impermeáveis ou semipermeáveis, conforme mostrado na Figura 3.1. O nível d´água
atingido em um poço artesiano define o nível piezométrico do aqüífero artesiano (efeito da
pressão a que a água está submetida), enquanto que em um poço de um aqüífero livre, a água
se eleva apenas até o nível freático. Dependendo da pressão artesiana a que a água está
submetida, através de um poço ela pode se elevar acima da superfície do terreno. Quando
isso acontece dá-se o nome de poço “surgente”.
Neste processo, o esgotamento da água do interior de uma escavação é feito por meio de
bombas centrífugas (ver Figura 3.2). A água é conduzida através de valetas para dentro de um
poço executado abaixo da escavação, e em seguida é recalcada para fora da zona de trabalho,
conforme mostrado no esquema da Figura 3.2 (à direita). Cabe ressaltar que este processo só
deve ser empregado em obras de pequeno porte, tendo em vista os seguintes motivos:
i) carreamento de partículas finas do solo pela água, podendo provocar recalques das
fundações vizinhas, conforme mostrado na Figura 3.3a;
ii) fluxo d´água para o interior da escavação através da base, podendo provocar o
fenômeno da areia movediça (afofamento do solo) e ruptura de fundo (Figura 3.3b).
ou
Figura 3.2 – Sistemas de rebaixamento de nível d´agua por bombeamento(Caputo, 1977).
55
(a) (b)
3.3 – Efeitos do rebaixamento de nível d´agua por bombeamento: b) carreamento de finos; b)
afofamento do solo motivado por subpressão elevada (Caputo, 1977).
Neste caso, o rebaixamento é feito por meio de poços situados no aquífero (ver Figura 3.4).
Este sistema apresenta a vantagem de possibilitar o rebaixamento de toda a área de trabalho
de interesse, eliminando os inconvenientes existentes quando do uso do sistema de
bombeamento, apresentado no item anterior. A Figura 3.4a apresenta, em planta, um exemplo
típico de um sistema de rebaixamento com ponteiras filtrantes, enquanto na Figura 3.4b
mostra-se uma seção transversal.
(a) (b)
Figura 3.4 – Sistema de rebaixamento de nível d´agua com poços filtrantes: a) planta; b) seção
transversal típica (Caputo, 1977).
Neste processo, como é grande o número de ponteiras filtrantes distribuídas pela área, o
rebaixamento do nível d´água é conseguido de maneira rápida e uniforme. É possível com
esse sistema rebaixar até 9 metros de coluna d´água numa área. Todavia, para rebaixamentos
maiores de 7 metros, é recomendado que o sistema seja projetado em dois estágios, conforme
mostrado na Figura 3.5, não sendo recomendado um maior número de estágios.
56
Figura 3.5 – Sistema de rebaixamento de nível d´agua com poços filtrantes em estágios (Caputo, 1977).
Com relação à natureza do terreno, o sistema de poços filtrantes é aplicável eficientemente aos
solos permeáveis, com coeficiente de permeabilidade de no mínimo 1 x 10-3 cm/s e diâmetro
efeito do solo (Φefet) acima de 0,1mm. Em solos argilosos, o processo poderá ser empregado,
desde que se envolva o tubo coletor com uma coluna de areia e pedregulho, formando assim
um dreno vertical.
Figura 3.6 – Forma cônica obtida com o sistema de rebaixamento com poços filtrantes (Caputo, 1977).
57
Para o dimensionamento do rebaixamento, é preciso que se defina se este será em poço único
(por exemplo, Figura 3.6) ou se com um sistema de poços, conforme mostrado nas Figuras 3.4
e 3.5.
De acordo com os elementos mostrados na Figura 3.6, tem-se para a velocidade da água e
para a descarga do poço as seguintes equações 1 e 2:
dy
vx = k (1)
dx
dy
q = 2π .xy.k (2)
dx
Separando-se as variáveis na equação 2, vem:
q dx
ydy = (3)
2πk x
Integrando a e1uação 3 e simplificando os termos, tem-se:
q
y2 = ln x + C (4)
πk
onde C é a constante de integração, que pode ser determinada a partir da observação de que
para x =r (raio do poço), tem-se y = h, que é a altura do nível da água no poço. Dessa forma,
obtém-se:
q
C = h2 − ln r (5)
πk
Substituindo-se C pelo valor encontrado, tem-se:
q q
y2 = ln x + h 2 − ln r (6)
πk πk
q x
y2 − h2 = ln (7)
πk r
que é a equação meridiana do rebaixamento no caso de único poço.
58
Da equação 8, obtém-se:
q R
h= H2 − ln (9)
πk r
De onde, o rebaixamento máximo será igual a:
q R
H −h = H − H 2 − ln (10)
πk r
Portanto, a descarga do poço, obtida da equação 8, será obtida da equação 11:
πk ( H 2 − h 2 )
q= (11)
R
ln
r
onde R é o raio de influência do poço, calculado pela fórmula de Sichard:
R = 3000 ( H − hw ) k (12)
Figura 3.7 – Rebaixamento com poço onde a ponta filtrante está acima da camada impermeável.
Portanto, para um determinado poço de raio “r”, há uma descarga e um valor de rebaixamento
máximo. A uma distância x qualquer do poço, o valor do rebaixamento será dado pela seguinte
equação:
q x
H − y = H − h2 − ln (13)
πk r
De um ponto de vista prático, quando se deseja rebaixar uma quantia (H – y), numa
59
determinada área A (ver Figura 3.8), pode-se assimilar essa área à de um círculo de raio rm, ou
seja:
S
A = a ⋅ b = πrm2 ⇒ rm = (14)
π
O raio de influência do rebaixamento, R, que é a distância a partir do eixo do poço até onde se
admite que a influência do rebaixamento cessa, pode ser calculado a partir da fórmula de
Sichard, conforme mostrado na equação 12.
Q=
(
kπ H 2 − hw2 ) (15)
R
ln
rm
A máxima vazão individual de cada ponteira pode ser calculada pela regra de Sichard:
2πrhw k
qmáx = (16)
15
onde r é o raio da ponteira adotada, em metros.
1,25Q
n= (17)
qmáx
Nas Figuras 3.9 a 3.12 são mostradas fotos de sistemas de rebaixamento de nível d´água em
operação em uma obra na cidade de Aracaju. É importante, para melhor compreensão,
descrever os principais elementos que compõem um sistema de rebaixamento com ponteiras
filtrantes.
a) ponteira filtrante: tubo com ponta perfurada (drenante), responsável pela condução da
água do solo até os tubos coletores (ver Figuras 3.9; 3.10);
b) tubo coletor principal: responsável pela coleta da água advinda das ponteiras, através
dos coletores secundários, e pela descarga para local escolhido (ver Figuras 3.9; 3.10);
c) tubo coletor secundário ou giro: responsável pelo transporte da água desde as ponteiras
até o tubo coletor principal (ver Figuras 3.9; 3.10; 3.11 e 3.12);
d) central de sucção: bomba de sucção capaz de aplicar o vácuo necessário para recalcar
a água à superfície, através das ponteiras filtrantes.
61
Figura 3.9 – Sistema rebaixamento com sistema de ponteiras filtrantes em operação.
Figura 3.10 – Detalhe do operário conectando uma ponteira filtrante ao coletor secundário.
62
Figura 3.11 – Detalhes dos coletores do sistema de ponteiras filtrantes.
(a) (b)
Figura 3.12 – Central de sucção usada para o sistema de ponteiras filtrantes (a); detalhe da escavação
e do coletor principal alimentado pelos vários coletores secundários (b).
A recarga do aqüífero freático é uma técnica que pode ser usada para evitar que o
rebaixamento realizado em um terreno provoque danos em uma obra vizinha, principalmente
em razão dos recalques que podem acontecer pelo aumento das tensões efetivas (ver Figura
3.13).
63
Figura 3.13 – Recarga de aqüífero.
A vazão a ser injetada por cada poço (Qi) para recarregar o aqüífero vizinho, poderá ser
estimada a partir da equação para a linha de poços com fonte linear, conforme segue:
Qw =
( )
kπ H 2 − h w2
(18)
2L 1 a
+ ln
a π 2πrw
Logo, a contribuição de cada poço será:
Qi =
( )
k H 2 − h w2 (L0 − L )
(19)
2
2 L0 L 1 a a1 a
+ (L0 + L ) ln + ln
a π 2πrw 2 π 2πrw
onde o valor de L0 correspondente à vazão sem recarga será adotado como da ordem do de R,
mostrado na equação 12. Isto é:
L0 = R = 3000 ( H − hc ) k (20)
A altura de água a ser aplicada em cada poço (hi), poderá ser estimada com base no caso de
vazão constante, ou seja:
2
hf h
Qi ln + 1 + f
2rw 2rw
hi > (21)
2πkh f
Qw
hf ≥ + ∆h (22)
V máx αβπ d p
Qw Qw2
∆h ≅ + (23)
n (CS 0 ) 2 2 g
h f k´ f
nd
onde,
65
α = área perfurada tela que recobre, eventualmente, o tubo perfurado, por unidade de área das
mesma (≅ 50%);
β = área perfurada do tubo perfurado, por unidade de área do mesmo (≅ 10%);
Vmáx – velocidade de percolação no trecho filtrante do poço ≅ de 5 a 8 cm/s;
dw = diâmetro do poço; e
dp = diâmetro do tubo do poço.
66
4.0 Exemplo de Aplicação
EXEMPLO 1:
Calcular um sistema de rebaixamento com
os dados abaixo:
S = 1000 m2 (25 m x 40 m)
H = 20 m
H – hw = 7 m (y = hw)
r = 0,02 m
k = 1 x 10-4 m/s
Solução:
a) Raio médio
1000
rm = = 17,8m
π
b) Raio de influência do rebaixamento
Q=
(
10 −4 π 20 2 − 132)= 0,004 m 3 s
210
ln
17,8
d) Para o cálculo das bombas, aconselha-se aumentar em 25% a vazão
Q = 0,004 ⋅1,25 = 0,005 m3 s = 18 m3 h
e) Descarga máxima de cada poço ou ponteira
2π ⋅ 0,02 ⋅1 ⋅ 10 −4
qmáx = = 0,000084 m 3 s
15
adotando-se hw = 1m.
68
20) Vargas, M. (1977), Introdução à Mecânica dos Solos, Ed. McGraw-Hill do Brasil, Ltda,
São Paulo.
21) Velloso, D. A., Lopes, F. R. (1996), Fundações - Critérios de Projeto - Investigações do
Subsolo, Fundações Superficiais, Volume 1, COPPE/UFRJ.
69
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES
Notas de Aula
FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS
Capítulo 4 – Capacidade de Carga
71
11.1 Métodos Baseados no SPT 94
11.2 Métodos Baseados no CPT 95
12.0 MÉTODOS EMPÍRICOS 96
12.1 Recomendações Gerais 96
12.1.1 Solos Granulares 96
12.1.2 Construções Sensíveis a Recalques 97
12.1.3 Aumento da Tensão Admissível com a Profundidade 97
12.1.4 Solos Argilosos 97
13.0 PROVAS DE CARGA SOBRE PLACAS – INTERPRETAÇÃO E 97
EXTRAPOLAÇÃO
13.1 Extrapolação dos Resultados para a Sapata 98
14.0 Fundação em Solos Não Saturados e Colapsíveis 99
15.0 Influência do Nível D´água em Areias 99
16.0 Estimativas de Parâmetros de Resistência e Peso Específico 100
17.0 Exercícios Propostos 102
17.1 Questionário 102
17.2 Exemplo Prático 104
18.0 Bibliografia Consultada 106
72
1.0 Definição
Entende-se por Fundação o conjunto formado pelo elemento estrutural mais o maciço de solo,
projetado para suportar as cargas de uma edificação. O elemento estrutural é responsável pela
transmissão das cargas da superestrutura ao solo sobre o qual se apóia. Uma estrutura de
fundação adequadamente projetada é aquela que transfere as cargas sem sobrecarregar
excessivamente o solo. A transferência de esforços (cargas ou tensões) além do que o solo
pode resistir resultará em recalques excessivos ou até mesmo a ruptura do solo, por
cisalhamento. Portanto, os engenheiros geotécnico e estrutural deverão avaliar a capacidade
de carga do solo.
73
4.0 Tipos de Fundações • Superficiais, rasas ou diretas
• Profundas
Estaca
Tubulão
Caixão
Estaca T
Estapata
Radier sobre
estacas
Radier sobre
Figura 4.4 – Tipos de fundações mistas: (a) estaca “T”; (b) estapata; (c)
tubulões radier sobre estacas; (d) radier sobre tubulões.
75
5.0 Elementos Necessários ao Projeto de Fundações
i) Topografia da área
Levantamento topográfico
Dados sobre taludes e encostas
Dados sobre possibilidades de erosões na área de apoio da fundação
ii) Dados Geológicos-Geotécnicos
Investigação do Subsolo (preliminares e/ou complementar)
Análise de mapas, fotos aéreas, levantamentos aerofotogramétricos, etc.)
iii) Dados da Estrutura a Construir
Tipo e uso
Sistema estrutural
Cargas que serão transmitidas
iv) Dados das Construções Vizinhas
Nº de pavimentos, carga média por pavimento
Tipo de estrutura e fundações
Desempenho das fundações
Existência de subsolo
Possíveis efeitos de escavações e vibrações provocadas pela nova obra
⇒ Cargas Vivas
⇒ Cargas mortas ou
permanentes
OBS.: A NBR 8681
(1984) estabelece
critérios para
combinação destas
ações na verificação
dos estados limites de
uma estrutura.
76
ESTADO LIMITE: Estado a partir do qual a estrutura apresenta desempenho inadequado ao
desempenho da obra. São dois os estados limites:
i) Estado Limite Último ⇒ associa-se ao colapso parcial/total da obra;
ii) Estado Limite de Utilização ⇒ Quando a ocorrência de deformações, fissuras, etc.
compro metem o uso da construção.
OUTROS REQUISITOS
Segurança adequada ao tombamento e deslizamento provocados por forças
horizontais (estabilidade externa);
Níveis de vibração compatíveis com o uso da obra, verificados nos casos de cargas
dinâmicas.
Figura 4.6 – (a) Deformações excessivas, (b) colapso do solo, (c) tombamento, (d) deslizamento e (e)
colapso estrutural resultante de projetos deficientes.
77
7.0 Fatores/Coeficientes de Segurança (Fs)
Em fundações os valores de FS estão associados às incertezas, refletindo a soma dos
seguintes fatores:
Investigações geotécnicas disponíveis, tipo, qualidade, quantidade, etc.;
Parâmetros admitidos ou estimados;
Métodos de cálculo empregados;
As cargas que realmente atuam e
Os procedimentos de execução.
Q σ
últ rup
Incorpora todos os fatores mencionados acima, ou seja: FS = ou
Q
trab σ trab
Tabela 4.1 – Fatores de Segurança globais mínimos em geotecnia (Terzaghi & Peck, 1967).
Tipo de ruptura Obra Fator de Segurança (FS)
Obras de Terra 1,3 a 1,5
Cisalhamento Estruturas de Arrimo 1,5 a 2,0
Fundações 2,0 a 3,0
Subpressão, Levantamento 1,5 a 2,5
Ação da Água
Gradiente de saída (piping) 3,0 a 5,0
Tabela 4.2 – Fatores de Segurança mínimos aplicados em Fundações no Brasil (NBR 6122, 1996).
Condição Fator de Segurança (FS)
Capacidade de carga de fundações superficiais 3,0
Capacidade de carga de estacas ou tubulões sem prova de
2,0
carga
Capacidade de carga de estacas ou tubulões com prova de
1,6
carga
Consiste num valor de FS para cada tipo de ação, no caso das cargas atuantes, enquanto que
no caso das resistências, consiste em se adotar um coeficiente de minoração para cada
parcela de resistência do problema.
78
BRINCH HANSEN (1965) sugere:
• Cargas permanentes ⇒ FS = 1,0
• Cargas acidentais ⇒ FS = 1,5
• Pressões d´água ⇒ FS = 1,0
• Cálculo da estabilidade de taludes e Empuxos de Terra ⇒ Coesão: FS = 1,5
⇒ tg(φ): FS = 1,2
• Fundações superficiais ⇒ Coesão: FS = 2,0 ; tg(φ): FS = 1,2
inicial (L) ⇒ ε = δL
L
• Recalque (r ou w): deslocamento para baixo (↓)
• Levantamento: deslocamento para cima (↑)
79
Recalque diferencial (δr ou δw): deslocamento vertical de um ponto em relação a outro.
Rotação (φ): descreve a variação da inclinação da reta que une dois pontos de referência da
fundação.
Desaprumo (ω): rotação da estrutura como um todo.
Distorção angular (β): corresponde à rotação da reta que une dois pontos de referência
tomados para definir o desaprumo.
wmáx = 25 mm (SAPATAS)
AREIAS
wmáx = 50 mm (RADIER)
wmáx = 65 mm (SAPATAS
ARGILAS ISOLADAS)
wmáx = 65 a 100 mm
(RADIER) Figura 4.7 - Deslocamentos de uma fundação superficial.
80
8.3 Distorções Angulares e Danos Associados
81
Figura 4.10 – Sapata de concreto armado embutida em solo.
Figura 4.11 – Comportamento de uma sapata sob carga vertical – curvas carga x recalque (Kézdi, 1970).
Figura 4.13 – Campos de deslocamentos das rupturas: generalizada (a); localizada (b) e por
puncionamento (c), segundo Lopes (1979).
83
9.1.3 Tensões de Contato
SAPATA APOIADA EM ARGILA
Figura 4.14 – Tensões de contato entre a placa e o solo, dependendo da rigidez da placa e do tipo de
solo existente embaixo da placa.
Na iminência da ruptura, em que a sapata aplica a tensão σr ao solo, na cunha I, com peso W,
tem-se:
Ep é a componente vertical do
empuxo passivo
Ca é a força coesiva
c é a coesão do solo
φ = ângulo de atrito interno do solo
B é a largura da sapata
Figura 4.16 – Cunha de solo sob a base da sapata.
85
2E γ
p
σr = + c.tgφ − B.tgφ (2)
B 4
σr = c.N (2.1)
c
πtgφ 2
Nc = fator de capacidade de carga função apenas de φ ⇒ N = cot gφ e tg 45 + φ 2 − 1
c
σr = q.N (2.2)
q
1
σr = γ .B.N
2 γ
4E
p
N = cos(α − φ )
γ γ .B 2
No caso real de uma sapata corrida embutida em um maciço de solo com coesão (c) e ângulo
de atrito (φ), a capacidade de carga se compõe de três parcelas, que representa as
contribuições:
i) da coesão e do atrito de um material sem peso (W)e sem sobrecarga (q);
ii) do atrito de um material sem peso e com sobrecarga, e
86
iii) do atrito de um material com peso e sem sobrecarga.
Assim, a solução de TERZAGHI, considerando a superposição dos efeitos para ruptura geral é:
1
σr = cNc + qNq + γΒΝ γ (3)
2
Os fatores de capacidade de carga Nc, Nq e Nγ são adimensionais e dependem apenas de φ. A
Tabela a seguir e o ábaco correspondente apresentam os valores desses fatores.
1
σr = c´Nc´+qNq´+ γΒΝ γ´ (4)
2
Obs.: Para ruptura localizada, entra-se na Tabela 4.3 o valor de φ´ e obtém-se os
correspondentes valores de Nc´, Nq´ e Nγ´. Com o valor de φ ou φ´, determina-se no ábaco da
Figura 4.17 diretamente os valores dos fatores de capacidade tanto para o caso de ruptura
generalizada quanto localizada.
87
Figura 4.17 – Ábaco para obtenção dos fatores de capacidade de carga da equação de Terzaghi.
TERZAGHI também introduziu fatores de correção para levar em conta a forma da fundação.
Os fatores são sc e sγ, cujos valores são apresentados a seguir.
Equação final de Terzaghi para capacidade de carga:
1
σr = cNc sc + qNq + γΒΝ γ sγ (5)
2
CASOS PARTICULARES:
γ
Para c = 0 ⇒ σ r = 0,8 x x B x N = 0,4 x γ x B x Nγ (sapata quadrada)
2 γ
OBS 1: Para solos puramente coesivos a capacidade de carga independe de B;
OBS 2: Para solos puramente não-coesivos σr só depende de B;
OBS IMPORTANTE.: A solução de TERZAGHI foi desenvolvida para casos onde D ≤ B;
88
10.3 A SOLUÇÃO DE MEYERHOF (1963)
Um aperfeiçoamento da solução de Terzaghi foi feito por Meyerhof. Ele passou a considerar a
resistência ao cisalhamento do solo situado acima da base da fundação. Assim, a superfície de
deslizamento intercepta a superfície do terreno.
Figura 4.18 – teoria de Meyerhof: mecanismo de e VÉSIC, os dois últimos métodos a seguir.
ruptura de fundações superficiais.
As equações para cálculo dos fatores propostas por Meyerhof são apresentadas a seguir.
Nγ = (Nq – 1) tg (1,4.φ)
Nc = (Nq – 1) cotg φ
89
10.4 A SOLUÇÃO DE BRINCH HANSEN (1970)
Para o caso de sapatas com cargas excêntricas, Hansen também propôs o conceito de “Área
Efetiva”, A´, da fundação (A´ = B´ x L´). Em que:
B´ = B – 2eB e L´ = L – 2eL
eB , eL = excentricidades nas direções de B e de L
Nγ = 2(Nq + 1) tg φ
Há diferenças também em relação a HANSEN nas expressões para cálculo dos fatores de
inclinação, solo e base (ii, bi e gi). Ver instruções na Tabela 4.6.
90
FATORES DE CAPACIDADE DE CARGA Nγ(M) = proposta de Meyerhof
PROPOSTOS PARA OS MÉTODOS DE Nγ(H) = proposta de Hansen
MEYERHOF, HANSEN E VÉSIC. Os valores Nγ(V) = proposta de Vésic
de Nc e Nq são os comuns aos três métodos.
Porém, Nγ tem um valor individual para cada
autor.
Tabela 4.5 – Fatores de capacidade de carga para as equações de Meyerhof, Hansen e Vésic.
φ FATORES DE MEYERHOF, HANSEN E VÉSIC
(GRAUS) Nc Nq Nγ(M) Nγ(H) Nγ(V)
0 5,14 1,0 0,0 0,0 0,0
5 6,49 1,6 0,1 0,1 0,4
10 8,34 2,5 0,4 0,4 1,2
15 10,97 3,9 1,1 1,2 2,6
20 14,83 6,4 2,9 2,9 5,4
25 20,71 10,7 6,8 6,8 10,9
26 22,25 11,8 8,0 7,9 12,5
28 25,79 14,7 11,2 10,9 16,7
30 30,13 18,4 15,7 15,1 22,4
32 35,47 23,2 22,0 20,8 30,2
34 42,14 29,4 31,1 28,7 41,0
36 50,55 37,7 44,4 40,0 56,2
38 61,31 48,9 64,0 56,1 77,9
40 75,25 64,1 93,6 79,4 109,3
45 133,73 134,7 262,3 200,5 271,3
50 266,50 318,5 871,7 567,4 761,3
91
Tabela 4.6 – Fatores que influenciam a capacidade de carga de sapatas.
Fator de forma Fator de Fator de inclinação Fatores de solo
profundidade (talude e base)
H β°
i´ c ( H ) = 0,5 − 0,5 1 − g´ c =
B d´c = 0,4.k a f ca 147°
s´ c = 0,2 Vésic:
L mH
i´ c (V ) = 1 − N γ = −2senβ (φ=0)
a f ca N c
Nq B 1 − iq β°
sc = 1 + dc = 1+ 0,4.k ic ( H , V ) = i q − g´ c = 1 −
Nc L N q −1 147°
Sc = 1 (corrida)
B
5
s q = 1 + tgφ 0,5 H
L i q ( H ) = 1 − g q ( H ) = g γ ( H ) = (1 − 0,5tgβ )
V + a c cot gφ
f a
5 g q (V ) = g γ ( HV = (1 − tgβ ) 2
dq = 1 +2.tgφ (1-senφ)2k 0,5H
i q (V ) = 1 −
V + a c cot gφ
f a
Fatores de base
B
5 η°
s γ = 1 − 0,4 0,7 H b´ c =
L i γ ( H ) = 1 − (η=0) 147°
V + a c cot gφ
f a
0,7 − η ° H
5
η°
bc = 1 −
450 147°
dγ = 1 (qualquer φ)
iγ ( H ) = 1 − (η>0)
V + a f c a cot gφ
m +1
H
iγ (V ) = 1 −
V + a c cot gφ
f a
2+ B L
k=
D
para
D
≤1
m = mB =
1+ B L
se H // B bq ( H ) = e ( −2ηtgφ )
B B
D m = mL =
2+ B
se H // L bγ ( H ) = e ( −2,7ηtgφ )
k = tg −1 p/ D > 1 1+ L B
B B bq (V ) = bγ (V ) = (1 − ηtgβ )
Obs.: iq , iγ > 0
Observações importantes: Af = B´ x L´ ; ca = coesão na base ; D é usado com B e não com B´
H = componente transversal da carga na sapata ≤ V.tgδ +caAf
β = inclinação do talude sob a sapata ; η = ângulo de inclinação da base da sapata com o plano
horizontal
δ = ângulo de atrito entre a base da sapata e o solo = φ, para contato solo-concreto
Recomenda-se não usar fatores si combinados com fatores ii (si pode se combinar com di, bi e gi)
Referências das equações: (H) = Hansen e (V) = Vésic
Com relação à influência do lençol freático, três casos podem ser analisados (Figura 4.20):
i) N.A acima da base da fundação (d ≤ D), onde d = Dw (profundidade do N.A.)
ii) N.A. entre a base da fundação (D) e o limite da superfície de ruptura (D < Dw ≤ D+ B)
iii) N.A. abaixo de D + B (d > D+B), ou seja, Dw > D+ B
92
Figura 4.20 Influência do lençol freático na capacidade de carga: (a) caso 1 e (b) caso 2.
Procedimentos de correção
Caso i) Caso ii) Caso iii)
Exemplo: Imagine uma sapata quadrada, de 2m de largura, apoiada em uma areia pura, a 1m
de profundidade, com o nível d´água 2 m abaixo da fundação. Os dados da areia são: c = 0
kPa; φ = 30° e γ = 18 kN/m3. Nestas condições, de acordo com a equação de capacidade de
carga de Terzaghi, tem-se:
1
σ r = 18 x1 + 18.2.19,7.0,8 = 301,68 kN/m 2 ⇒σ = 100,56 kN/m 2 (FS = 3)
2 adm
Agora, suponha que por algum motivo, o nível freático se elevou até o nível do terreno, ou seja,
1m acima da cota da fundação:
1
σ r = 8 x1 + 8.2.19,7.0,8 = 134,08 kN/m 2 ⇒σ = 44,69 kN/m 2
2 adm
10.7 Avaliação dos Métodos
93
11.0 MÉTODOS SEMI-EMPÍRICOS
A NBR 6122 (1996) considera métodos semi-empíricos aqueles em que as propriedades dos
materiais, estimadas com base em correlações, são usadas em teorias adaptadas da Mecânica
dos Solos.
em que,
B = menor dimensão da sapata (em pés). A expressão (6) é aplicada para B ≥ 4 pés.
N = resistência à penetração do SPT
A Equação (6) também foi apresentada em ábaco.
Figura 4.21 Ábacos para obtenção da tensão admissível de sapatas em areia (Peck et al., 1974).
N.r
σ adm = adm para B ≤ 4´ (7a)
8
N.r 2
σ adm = adm B + 1´
para B > 4´ (7b)
12 B
onde B é expresso em pés, radm em polegadas e σadm em kgf/cm2.
94
iii) No meio técnico brasileiro tem sido muito empregada a expressão para o caso de sapatas
assentes tanto em areias quanto em argilas:
σ adm = 0,1.
N − 1
(MPa) (4 ≤ N ≤ 16) (8)
onde N55 é a resistência à penetração obtida com um sistema SPT com eficiência de 55%.
ii) Método Baseado no CPT para Areia e para Argilas de Acordo com a Forma da Sapata.
95
σrup = 2 + 0,28.qc para sapata corrida [kgf/cm2] (12a)
ARGILAS
σrup = 5 + 0,34.qc para sapata quadrada [kgf/cm2] (12b)
A NBR 6122 (1996) considera métodos empíricos aqueles pelos quais se obtém a tensão
admissível com base na descrição do terreno (classificação e determinação da compacidade
ou consistência por meio de investigações de campo/laboratório). A Tabela 4.8 é uma
orientação básica fornecida na norma NBR 6122 (1996), de uso restrito para cargas não
superiores a 100 tf (≅1000kN).
Quando no trecho z =0 até z =2B (a partir da base da fundação), o solo encontrado for das
classes 4 a 9, corrigir σ0 em função da largura B, obtendo-se σ0´:
96
σ o´ = σ o 1+ 1,5 B − 2 ≤ 2,5σo para B ≤ 10m e construções insensíveis a recalque.
8
• Para os solos das classes 10 a 15: os dados tabelados de σo só devem usados para
fundações com até, no máximo, 10 m2 de área. Para fundações com área superior a este
valor, reduzir o valor de σo de acordo com a seguinte expressão:
σ ,
o =σ o
10
A
σ10mm
σadm ≤
σ 25mm
97
OBS.: Um critério para a
Critério do recalque admissível: σ adm ≤
σ máx
OUTRAS PRESCRIÇÕES
• Argilas ou Areias com
ruptura geral
Critério da tensão admissível:
σ rup
σ adm = Figura 4.24 Curvas tensão recalque típicas de provas de carga.
2
rfund = rplac
fator escala entre a placa da prova e B
fund + B plac
a fundação real: o bulbo de tensões
gerado pela placa não é igual ao
bulbo gerado pela fundação (ver
Figura 4.25). Neste caso, há que ser
feita uma correção para extrapolar
os resultados do ensaio para a
aplicação.
AREIAS
Para um mesmo valor de tensão,
tem-se para areias, onde Es cresce
com a profundidade:
Figura 4.25 – Influência do bulbo de tensões na prova de
carga.
98
Para fundação e placa com mesma ARGILAS
forma geométrica:
B Para argila média a dura, onde Es é constante com a
σr rup fund = σ rupt plac fund
B
com
profundidade, para uma mesma tensão aplicada:
plac
B fund
σr rup fund = σ rupt plac , pois o termo B.Nγ =0. Também,
≤3
B
plac A
rfund = rplac fund em que,
onde A
plac
σrupfund = tensão de ruptura Afund = Área da fundação
extrapolada Aplac = Área da placa
σrupplac = tensão de ruptura da placa
rfund = recalque extrapolado para a Se a fundação e a placa tiverem a mesma geometria
fundação em planta:
rplac = recalque da placa B
rfund = rplac fund
Bfund = largura da fundação B
plac
Bplac = largura da placa
Solos porosos situados acima do nível d´água freático geralmente são colapsíveis, ou seja, em
condições de baixo teor de umidade, apresentam uma espécie de resistência “aparente” em
decorrência da tensão de sucção que se desenvolve em seus vazios. Dessa forma, em termos
de fundações, quanto mais seco o solo colapsível, maior a sucção e, em conseqüência, maior
a capacidade de carga. Por outro lado, quando úmido, menor a sucção e, menor a capacidade
de carga. Aumentando-se ainda mais a umidade até um valor extremo inundado, a sucção
torna-se nula e a capacidade de carga atinge seu valor mínimo.
a) Coesão
Quando não se dispõem de resultados de ensaios de laboratório, a estimativa do valor da
coesão não drenada (Cu ou Su), pode ser feita a partir de correlações obtidas. Teixeira e Godoy
(1996) sugerem:
Cu = 10 N [kPa]
Figura 4.26 Estimativa do ângulo de atrito em função do NSPT e da tensão vertical efetiva.
100
Teixeira (1996): φ= 20N + 15o
3–5 Mole 15
6 – 10 Média 17
11 – 19 Rija 19
≥ 20 Dura 21
Solo N Compacidade Seca úmida Saturada
<5 Fofa
16 18 19
Solos arenosos
101
17.0 Exercícios Propostos
17.1 Questionário
103
17.2 Exemplo Prático
Com os dados da Figura 4.28 e sabendo-se que a tensão admissível do solo é σadm = 200 kPa,
dimensionar a fundação em sapata apresentada.
Solução:
1) O dimensionamento de sapatas inicia-se pela escolha da profundidade de embutimento, D, e
pela estimativa da tensão admissível do terreno de fundação. O primeiro, depende da posição
do nível de água freático, enquanto o segundo depende do perfil de sondagem à percussão,
como é mais comum na prática da engenharia de fundações. Neste caso, calculando-se o Nméd
abaixo da cota de apoio da fundação se pode calcular o valor da tensão admissível a partir de:
N méd
σ adm = [MPa]
50
104
Estes parâmetros já foram fornecidos no presente problema.
2000kN
A= = 10m 2 = 100000cm 2
Área da sapata: 2
200kN / m
Dimensões do Pilar: 25 cm x 40 cm
L – B = l – b = 40 – 25 = 15 cm
Portanto, a sapata terá as dimensões mostradas na figura abaixo, para ficar coerente com a
geometria do pilar:
105
18.0 Bibliografia Consultada
106
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES
Notas de Aula
FUNDAÇÕES SUPERFICIAIS
Capítulo 5 – Recalques
100
1.0 Introdução
Define-se recalque de uma sapata, como sendo o deslocamento vertical para baixo, sofrido
pela base da fundação em relação ao indeformável. Esse deslocamento resulta da deformação
do solo sobre o qual se apóia o elemento da fundação. No caso de tubulões e estacas, deve-se
adicionar a esta deformação a parcela de compressão elástica do fuste para obter o recalque
no topo.
Segundo Velloso e Lopes (1996), a previsão de recalques é um dos exercícios mais difíceis da
Geotecnia, de forma que o resultado dos cálculos, por mais sofisticados que sejam, deve ser
encarado como uma estimativa.
A Figura 5.1 ajuda a compreender como se processa fisicamente o recalque de uma fundação
superficial sob carga vertical centrada.
101
Figura 5.1 – Recalques de uma fundação superficial sob carga centrada (Velloso e Lopes, 1996).
Uma fundação ao ser carregada sofre recalques, que se processam, em parte, imediatamente
após o carregamento e, em parte, como o decorrer do tempo. Dessa forma, o recalque
absoluto (wf) se compõe de duas parcelas: o recalque imediato (wi) e o recalque devido ao
adensamento (wt), oriundo da saída água dos poros (com a conseqüente redução no índice de
vazios). Há ainda uma parcela de recalque denominada de recalque secundário (ws), que se
processa linearmente com o logaritmo do tempo, mesmo após da pressão neutra se aproximar
de zero, devido a fenômenos viscosos (fluência). Portanto, o recalque total será a soma das
referidas parcelas:
wf = wi + wc + ws (1)
OBS1.: Devido aos recalques, um edifício pode sofrer movimentos verticais (translação) acompanhados ou não de
inclinação (rotação).
OBS2.: Se o subsolo fosse homogêneo e todas as sapatas tivessem as mesmas dimensões, os recalques seriam
praticamente uniformes. Entretanto, a variabilidade do solo, em termos de compressibilidade, gera recalques
desiguais. Além disso, como o tamanho das sapatas de um edifício pode ser diferente por causa das cargas dos
pilares não serem as mesmas, surge mais uma fonte de recalques diferenciais.
OBS3.: Recalques absolutos elevados, mas de mesma ordem de grandeza em todas as partes da fundação,
geralmente podem ser aceitáveis. De fato, os recalques desiguais (diferenciais) é que preocupam.
Figura 5.2 – Comportamento tensão x deformação. (a) elástico-linear; (b) elástico não-linear; (c) linear
não-elástico.
103
3.0 MÉTODOS PARA PREVISÃO DE RECALQUES DE FUNDAÇÕES DIRETAS
a) Teóricos ou Racionais
b) Semi-Empíricos
c) Empíricos (Tabelados)
Métodos que utilizam os resultados do ensaio de prova de carga sobre placa, interpretando-os
de modo a levar em conta as relações de comportamento entre a placa e a fundação real, bem
como as características das camadas de solo influenciadas pela placa e pela fundação.
104
3.1.1 Métodos diretos para estimativa de recalque imediato
O recalque de uma sapata, com carga centrada centrada, apoiada sobre argilas pré-
adensadas, pode ser estimado por uma equação oriunda da Teoria da Elasticidade:
1 −ν 2
w = qB IS Id Ih (2)
E
onde,
q = tensão aplicada
B = menor dimensão da fundação
ν = coeficiente de Poisson
E = módulo de elasticidade
Is = fator de forma
Id = fator de profundidade
Ih = fator de espessura da camada compressível.
B−b
h≥
4 (3)
105
Tabela 5.1 – Fatores de forma (Is) para carregamentos na superfície de um meio de espessura infinita
(Perloff, 1975).
Forma RIGIDEZ
FLEXÍVEL RÍGIDA
Posição
Centro Borda Média Qualquer
Círculo 1,00 0,64 0,85 0,79
Quadrado 1,12 0,56 0,95 0,99
Retângulo
-
(L/B)
1,5 1,36 0,67 1,15 -
2,0 1,52 0,76 1,30 -
3,0 1,78 0,88 1,52 -
5,0 2,10 1,05 1,83 -
10,0 2,53 1,26 2,25 -
100,0 4,00 2,00 3,70 -
1000,0 5,47 2,75 5,15 -
10000,0 6,90 3,50 6,60 -
Tabela 5.2 – Valores de Is.Ih para carregamentos atuando na superfície (Id =1) de um meio de espessura
finita (Egorov, 1958; Harr, 1966).
Como o método anterior, baseado na Teoria da Elasticidade, considera que a camada de solo
abaixo da fundação tem espessura semi-infinita, o que nem sempre acontece, Janbu (1966)
propôs um cálculo alternativo de recalque imediato considerando a espessura finita da camada.
1 −ν 2
w = µ 0 µ1σB (4)
E
em que µ0 e µ1 são fatores dependentes do embutimento da fundação, da espessura da
camada e da forma da fundação, conforme mostrado na Figura 5.4.
106
Figura 5.4 – Fatores µ0 e µ1 para o cálculo de recalque imediato de sapata em camada argilosa
fina (Janbu et al., 1956, apud Simons & Menziens, 1981).
No caso de uma sapata retangular, de largura B e comprimento L (ou circular, de diâmetro B),
apoiada a uma profundidade h da superfície do terreno e que a camada de solo compressível
tem espessura H, contada a partir da base da sapata (Figura 5.4), pode-se considerar que as
deformações ocorrem a volume constante (ν = 0,50). É o caso de argilas saturadas em
condições não-drenadas. Neste caso, o recalque médio de sapatas flexíveis será:
σB
w = µ 0 µ1
Es (5)
107
3.1.2 Método indireto: também chamado método de cálculo de recalque por camadas
Procedimentos:
i) divide-se o terreno em subcamadas, em função de:
i.a) Propriedades dos materiais
i.b) Proximidades da carga: subcamadas devem ser menos espessas aonde são maiores as
variações no estado de tensão.
∆w = εz . ∆h (6)
w = ∑∆w (7)
OBS.: Se o nível d´água estiver superfície, sugere-se reduzir em 50% o valor da σadm.
Peck et al. (1974) propuseram ábacos para a estimativa da σadm para um recalque admissível
de 1 polegada, em função de B, D e do valor de Nmédio, conforme apresentado na Figura 5.5.
Figura 5.5 – Ábacos para obtenção da σadm de sapatas em areia (Peck et al. 1974).
109
3.2.1.3 Método de Burland & Burbidge (1985)
1,71
w = q.B0,7. f s. f l (11)
,4
N 1SPT
em que
w = recalque previsto, em mm
q = tensão aplicada pela fundação, em kgf/cm2
fs = fator de forma
fl = fator de espessura de camada compressível (H)
NSPT = resistência à penetração média na profundidade Z1, obtido da Figura 5.6.
Com os fatores fs e fl dados por:
L
1,25
B H H
fs =
e fl = 2− se H < Z1
L
Z1 Z1
+ 0,25
B
i) Areias pré-comprimidas
2 1,71
w = q − σ ´va .B0,7. f .f (12)
,4 s l
3
N 1SPT
ii) Para NSPT > 15, em areias finas ou siltosas Figura 5.6 – Procedimento para obtenção da
submersas, usar: Ncorr = 15 + 0,5(NSPT – 15). profundidade de influência da fundação.
110
v) A resistência à penetração média (NSPT) é calculada dentro da profundidade de influência,
Z1, obtida da Figura 5.6, em função da largura da fundação, B, se a resistência do solo abaixo
da cota de apoio da fundação for constante ou crescente com a profundidade.
vi) Se a resistência do solo abaixo da cota de apoio da fundação for decrescente ao longo da
profundidade, a média do NSPT é obtida até a profundidade correspondente a 2B ou até a base
da camada menos resistente, sendo adotado o menor dos dois valores.
vii) Entende-se por espessura de camada compressível (H) o solo ou pedregulho contido
abaixo da cota onde a fundação se apóia até à rocha ou até o estrato impenetrável.
x) Admite-se que uma sapata é retangular quando a relação 1 > L B ≤ 5 . Para L B > 5 ,
considera-se sapata corrida. Na prática, se procura sempre projetar sapatas retangulares com
relação L/B, no máximo, igual a 2,5.
Schmertmann (1970) compilou vários perfis de deformação específica (εz) obtidos em areias
sob placas de prova, e observou que esses perfis exibiam um pico de deformação a uma
profundidade da ordem de B/2, e que a deformação se anulava em cerca de 2B. O pesquisador
assimilou os perfis de deformação a uma variação linear crescente, desde a cota de apoio da
fundação até a profundidade igual a B/2 e decrescente, de B/2 a 2B, conforme mostrado na
Figura 5.7. Assim, Schmertmann baseou seu método no conceito do índice de deformação
específica, Iεz. Com o perfil do índice de deformação específica e o módulo de elasticidade do
solo, E, o recalque da fundação poderá facilmente ser calculado (previsto):
ε .E em que,
I = z (14)
εz q q = tensão aplicada
Iε .d z n I ∆ E = módulo de elasticidade
w = ∫0H ε z d z = q ∫02B = q ∑ εi z (15)
E H = espessura total.
i = 1 Ei
111
Schmertmann (1970) propôs ainda duas correções:
a) uma para considerar o embutimento da fundação, C1
σ,
C1 = 1 − 0,5 v0 com C1 ≥ 0,5 (16)
q
b) uma para levar em conta deformações de origem viscosa (fluência) – efeito do tempo, C2
t
C2 = 1 + 0,2 log (17)
0,1
Os valores de E podem ser estimados a partir de correlações empíricas, conforme as equações
apresentadas a seguir, ou com base nos valores sugeridos na Tabela 5.3 seguinte:
n I ∆
w = C1C2.q ∑ εi z (18)
i = 1 Ei
em que o Índice de deformação de pico, Iε,p é calculado conforme indicações da Figura 5.7. O
valor de ∆σ = q - σ´v0 representa o alívio de tensão vertical motivado pela escavação.
Tabela 5.4 – Valores de K, em MPa, em função do tipo de solo propostos por Schmertmann (1970) e
Danziger e Velloso (1986).
Tipo de solo Schmertmann Danziger e Velloso
Areia 0,40 a 0,60 0,60
Areia siltosa, argilosa, silto-argilosa 0,30 a 0,40 0,53
Silte, silte arenoso, argila arenosa 0,20 0,48
Silte argiloso - 0,30
Argila e argila siltosa - 0,50
113
Figura 5.8 – Procedimento para obtenção de NSPT representativo por média ponderada (Lopes et al.
1994), citada por Velloso e Lopes (1996).
Em perfis arenosos, deve-se adotar maior valor do B previsto para calcular o Nméd, no trecho
correspondente a 2B, medido a partir da cota de apoio da base da fundação.
114
Tabela 5.5 – Tensões básicas da norma NBR 6122 (1996).
OBS.: Para solos argilosos (classes 10 a 15) os valores contidos na Tabela 5.5 são aplicáveis a
um corpo de fundação não superior a 10 m2. Para áreas maiores, devem ser corrigidos os
valores da tabela de acordo com a seguinte equação:
1
10
σ adm = σ 0 2 (19)
A
Cuidados deverão ser tomados quando da interpretação dos resultados, pois, como o bulbo de
tensões gerado pela placa é em geral menos profundo que o da sapata, os resultados desse
ensaio só podem reproduzir os da fundação (escala real) nos casos onde o perfil vertical do
terreno é relativamente uniforme. Do contrário, pouco se pode extrair da prova de carga (ver
Figura 5.10).
Muito cuidado deve ser tomado no momento da extrapolação dos resultados do ensaio de
placa para a fundação real. Podem ocorrer situações nas quais a prova de carga nada
reproduz da fundação real, conforme mostrado na Figura 5.10, onde existe uma relativa
estratificação do perfil. Nota-se que o bulbo de tensões da sapata atinge camadas inferiores de
solo mole não atingidas pelo bulbo da placa, o que pode facilmente induzir a erros grosseiros
de interpretação, principalmente no que se refere aos recalques.
B I s,B
wB = wb (20)
b I s,b
117
em que Is.B e Is.,b são os fatores de forma para a fundação e a placa, respectivamente (ver
Tabela 5.6). O recalque wB é o da fundação extrapolado do da placa, wb. B é o diâmetro ou a
menor dimensão da fundação e b é o diâmetro da placa.
2
2B
wB = wb (21)
B + b
Portanto, se o solo possui E = cte., o recalque da fundação para uma mesma tensão é
diretamente proporcional à área carregada, ou seja:
AB
wB = wb (22)
Ab
em que AB e Ab são as áreas da fundação e da placa, respectivamente.
p
σ adm = n + m (24)
A
118
Figura 5.11 – Interpretação de ensaio em três placas segundo Housel (1929).
Quando uma fundação está próxima de outra, o bulbo de tensões desta interage com o da
vizinha e vice-versa, o que denominamos de sobreposição de tensões (ver Figura 5.12). O
recalque calculado isoladamente para cada sapata sem a interferência da (s) vizinha (s) será
menor do que considerando essa interação. A influência de uma sobre a outra será tanto maior
quanto mais próximas forem as sapatas e quanto maiores forem as cargas, conforme será visto
adiante.
O recalque isolado (ri) da fundação “i” quando sofre a influência da fundação “j” (ver Figura
5.13) será acrescido da parcela (1 + α), o que de acordo com a expressão matemática
seguinte, fornece o recalque total da sapata (r):
r = ri (1 + ∑ α i ) (25)
119
Figura 5.13 – Esquema da influência de sapatas vizinhas (Velloso, 1981).
π ⋅σ
Lij + ⇒ α (gráfico seguinte) (26)
P
j
0,70
Fator alfa
Ajuste exponencial
0,60
α = 0,5941 . x-1,1273
R2 = 0,9951
0,50
0,40
α
0,30
0,20
0,10
0,00
0,00 0,50 1,00 1,50 2,00 2,50 3,00 3,50 4,00 4,50 5,00 5,50
raiz[Lij+(3,14*q/Pj)]
Figura 5.14 – Gráfico para cálculo da influência de sapatas vizinhas (Velloso, 1981).
120
5.0 EXEMPLOS DE APLICAÇÃO
1) Fazer a previsão do recalque total que a sapata (isolada) apresentada na figura abaixo pode
sofrer. Considerar o perfil de sondagem apresentado para a estimativa do módulo de
elasticidade. A tensão admissível estimada do terreno foi σadm = 200 kPa. O peso específico do
solo é da ordem de 18 kN/m3.
Solução:
σ´vp = 18+ 18 x 1,0 + 0,55 (18 – 10) = 40,40 kN/m2 (tensão de pico, em B/2)
182
I ε , p = 0,5 + 0,1 = 0,71
40,40 (índice de deformação específica de pico)
18
Cálculo do fator de correção C1 ⇒
C1 = 1 + 0,5 = 0,95
182
121
Iz
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9
1
3
Profundidade (m)
Equação do recalque:
n I ∆ n I ∆
w = C1C2.q ∑ εi z , admitindo C2 = 1,0 e ∑ εi z = 0,000272 , tem-se:
i = 1 Ei i = 1 Ei
122
Tabela para cálculo das parcelas de recalque de cada subcamada do perfil do subsolo.
CAMADA ∆z Ei Iz Iz.∆z/Ei q = σadm σ´v0 ∆σ C1 Recalque
(m) (kPa) (kPa) (kPa (kPa) (m)
Exercício proposto:
4) Calcular o recalque final da sapata que suporta o pilar P1, distante 3,5m da sapata vizinha,
que suporta a carga do pilar P2.
Dados:
P1 = 4000 kN r1 = 4,3cm
P2 = 5000 kN r2 = 3,2cm
Lij = 3,5m
σadm = 200 kPa
Cálculos:
123
5.0 Bibliografia Consultada
124
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES
Notas de Aula
FUNDAÇÕES PROFUNDAS
Capítulo 6 – Tipos
126
1.0 Definição
Fundações Profundas são aquelas cujo mecanismo de ruptura de base não atinge a
superfície do terreno. A NBR 6122 (1996) considera fundação profunda aquela cuja base está
implantada a mais de duas vezes sua menor dimensão, e a pelo menos 3 m de profundidade,
projetada para transmitir a carga ao terreno pela base (resistência de ponta), pelo fuste
(resistência de atrito lateral) ou por uma combinação das duas. As fundações profundas
dividem-se em três categorias: estacas, tubulões e caixões.
i) Estaca: elemento estrutural de fundação profunda, esbelto, que colocado no solo por
processo de cravação, prensagem, vibração ou por escavação, ou de forma mista (dois ou
mais processos), têm a finalidade de transmitir cargas ao mesmo, seja pela resistência sob sua
extremidade inferior (ponta), seja pela superfície lateral ao longo do fuste (atrito/adesão lateral).
ii) Tubulão: elemento de fundação profunda de forma cilíndrica, em que, pelo menos na
sua fase final de execução, há a descida de operário.
Figura 6.1: (a) estaca metálicas; (b) pré-moldadas de concreto vibrado; (c) pré-moldada de concreto
cnetrifugado; (d) tipo Franki e Strauss; (e) tipo raiz; (f) escavadas; (g) tubulão a céu aberto, sem
revestimento; (h) tubulão, com revestimento de concreto e (i) tubulão, com revestimento de aço.
127
2.1 Fundação Mista
Figura 6.2 – Estacas mistas: a) estaca associada à sapata (estaca T); b) estaca abaixo de sapata
(estapata); c) radier sobre estacas; d) radier sobre tubulões.
É bom ressaltar que cada obra tem suas peculiaridades. Portanto, para cada projeto deve ser
feita uma análise de maneira individual. Como orientação geral, a decisão quanto ao tipo de
fundação escolher num projeto deve passar pelo julgamento de dois importantes parâmetros:
(i) Madeira.
(ii) Aço.
(iii) Concreto.
(iv) Mistas.
128
4.2 De acordo com o Método de Execução
A Tabela 6.1 apresenta uma classificação dos tipos mais comuns de estacas, abordando os
efeitos do método executivo no grau deslocamento lateral e vertical do solo provocado durante
sua instalação.
Tabela 6.1 – Classificação dos principais tipos de estacas de acordo com o método executivo.
129
Terzaghi & Peck (1967) apresentaram o clássico agrupamento das estacas em três categorias:
ii) Estacas de atrito em solos finos de baixa permeabilidade: semelhante ao caso (i), a
transferência de carga se dá pelo atrito lateral, todavia, o seu processo executivo não
provoca a compactação do solo. São chamadas estacas flutuantes.
iii) Estacas de ponta: são aquelas que transferem a carga a uma camada de solo
resistente (camada suporte) situada a uma profundidade considerável abaixo da
base da estrutura. Neste caso, a parcela do atrito ao longo do fuste tende a zero.
Algumas vezes o engenheiro de fundações pode se deparar com problemas durante a fase de
execução de estacas ou outro tipo de fundação, em função das condições topográficas locais.
A seguir é destacado um dos problemas que poderão ser encontrados na prática da execução
de estacas:
Os viadutos são obras-de-arte construídos em ambiente urbano que não transpõe rios ou
outras massas de água, não apresentam problemas de fundação que diferem de outras obras
em terra, exceto dos esforços que são transmitidos às fundações. As pontes geralmente têm
parte de sua extensão cruzando massas d´água, o que apresenta problemas especiais de
execução de suas fundações.
Um dos primeiros aspectos a considerar na escolha da fundação de uma ponte é a erosão. O
projetista deverá dispor de informações sobre:
130
Além disso, o engenheiro deve consultar um geólogo de engenharia. Estes aspectos
freqüentemente impõem a elaboração do projeto em fundações profundas, uma vez que a
solução em fundação superficial é afastada por conta da possibilidade do solapamento de sua
base. Outro aspecto importante a considerar é o tipo de acesso à ponte (ver Figura 6.3).
Observe que na Figura 6.3, o primeiro tipo a ponte (a) tem extremos em balanço e o aterro de
acesso tem saia em talude. Ou outro tipo, mostrado no lado direito da figura (b), é o que adota
encontros, nos quais se apóiam as extremidades da ponte. Na ocorrência de argila mole na
região de acessos, as fundações serão naturalmente em estacas, as quais serão sujeitas ao
efeito Tchebotarioff1, que será mais severo no caso de encontros.
Outro destaque deverá ser dado ao método executivo, que poderá restringir as opções de
fundação, em função da disponibilidade de equipamentos e de mão de obra local. Dessa
forma, dispondo-se da locação dos pilares da ponte, passa-se a estudar, juntamente com a
capacidade estrutural dos elementos de fundação para transmitir os esforços da estrutura ao
solo, o processo executivo de tais elementos.
A Figura 4 mostra algumas destas maneiras em função da situação topográfica local. Quando
os pilares estão próximos das margens é possível se utilizar bate-estacas convencionais sobre
plataformas provisórias de madeira (ver Figura 6.4a) ou bate-estacas que atuam suspensos por
lança de guindastes (ver Figura 6.4b). No caso de pilares distantes das margens do rio, a
execução das fundações pode ser executada através de flutuantes (ver Figuras 6.4c,e),
conforme o modelo empregado na construção da ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros – SE, ou
plataformas auto-elevatórias (ver Figura 6.4d). Estes modelos de plataformas também podem
ser empregados na execução de tubulões2.
Figura 6.3 – Problemas com fundações em estacas próximas aos aterros de acesso de pontes.
1
Deformação lateral da estaca causada pelo desenvolvimento de elevadas tensões horizontais do maciço.
2
Os tubulões a ar comprimido continuam sendo a solução de fundação de pontes mais empregada no Brasil.
131
Figura 6.4 – Possíveis soluções para execução de fundações de pontes.
Figura 6.4e – Plataforma montada pra execução das fundações (estacões) da ponte Aracaju-Barra dos
Coqueiros – SE.
São confeccionadas com troncos de árvores, retilíneos, preparados nas extremidades (topo e
ponta) para a cravação e limpos na superfície lateral (Figura 6.5). Quando são usadas em
obras permanentes, passam por um processo de tratamento com preservativos. São estacas
empregadas no Brasil praticamente para obras provisórias. São tipos de estacas de uso
atualmente bastante restrito no país, em razão das questões de natureza ambiental. Há um
forte controle do IBAMA quanto à exploração de madeira no país, embora permaneça ainda a
prática ilegal de comercialização de madeira na região Norte.
132
Figura 6.5 – Estacas de madeira (a) sem e (b) com reforço da ponta (ponteira).
Principais vantagens:
i) duração ilimitada quando submersas
ii) facilidade de manuseio, corte, preparação para cravação e após a cravação.
A Tabela 6.2, com dados da norma alemã (DIN 4026), apresenta as relações entre o
comprimento e o diâmetro de estacas de madeira. A Tabela 6.3, com dados da mesma norma,
mostra a ordem de grandeza das cargas admissíveis para servir de orientação na elaboração
de projetos, válida para estacas de madeira com comprimento mínimo de 5m, implantada em
areia compacta ou argila rija ao longo de uma espessura suficiente.
Tabela 6.2 – Relação entre o comprimento e o diâmetro das estacas de madeira (DIN 4026).
Diâmetro médio (cm)
Comprimento da estaca, L (m)
(tolerância ± 2cm)
<6 25
≥6 20 + L ; L em metros
133
Tabela 6.3 – Cargas e penetrações de estacas de madeira (DIN 4026).
As estacas metálicas ou de aço são encontradas em diversas formas, desde perfis laminados
(ou soldados) até tubos. Entre os perfis laminados estão os trilhos ferroviários, que são
reutilizados depois de retirados das ferrovias (trilhos usados). Os perfis podem ser usados
isoladamente ou associados (duplos ou triplos), conforme mostrado na Figura 6.6.
Na Tabela 6.4 são apresentados os valores das cargas de serviço para os perfis laminados
mais empregados.
Figura 6.6 – Estacas de aço(seções transversais): (a) perfil de chapas soldadas; (b) perfis I laminados,
associados (duplo); (c) perfis tipo cantoneira, idem; (d) tubos; (e) trilhos associados (duplo) e (f) tubos
associados (triplo) .
134
Tabela 6.4 – Estacas de perfis laminados mais comuns.
OBSERVAÇÕES IMPORTANTES:
135
Figura 6.7 – Estacas metálicas: proteção contra corrosão.
6.2.3 Cravação
No caso de estacas para carga admissível de até 1000kN (100tf), quando empregado martelo
de queda livre, a relação entre o peso do martelo e o da estaca deve ser a sempre maior
possível, não se usando relação menor que 0,5 e martelo com peso menor que 10kN (1tf). Por
outro lado, no caso de perfis metálicos, o uso de martelos de peso elevado pode provocar
cravação excessiva (Velloso e Lopes, 2002). Essa questão pode ser adequadamente tratada
através dos estudos envolvendo a dinâmica de estacas.
136
a) Premoldadas
b) Moldadas no Solo (in loco ou in situ)
i) concreto vibrado
ii) concreto centrifugado
iii) por extrusão
Figura 6.8 – Estacas premoldadas de concreto: seções transversais típicas (a,b,c,d), seção longitudinal
com armadura típica (e) e estaca com furo central e anel de emenda (f).
137
6.3.1.2 Principal desvantagem
6.3.1.3 Manipulação
As estacas premoldadas exigem dimensionamento específico para resistir aos esforços que
poderão sofrer por ação da estrutura (compressão, tração, forças horizontais e momentos), e
aos esforços de manipulação e cravação. Os esforços de manipulação são calculados a partir
dos modos de levantamento (suspensão) para carga, descarga e estocagem e de içamento
para cravação, previstos para a estaca. Portanto, ao se manipular estacas premoldadas são
necessários cuidados especiais. A Figura 6.9 mostra os modos de suspensão e içamento mais
comumente empregados.
Figura 6.9 – Modos de suspensão (pelos quintos) e içamento (pelo terço) de estacas premoldadas.
Suspensão: As estacas deverão ser suspensas, sempre que for utilizado guindaste, em dois
pontos eqüidistantes das extremidades de L/5. O mesmo procedimento é adotado no caso da
estocagem sobre caibros (Figuras 6.9 e 6.10).
Içamento: O bate-estacas, por meio de cabo de aço adequado, levantará cada estaca para ser
cravada, dando-se uma laçada bem apertada próximo da extremidade que deverá ser superior,
e a uma distância desta igual a 3L/10 (Figura 6.9). Esta operação deverá ser cuidadosa.
138
6.3.1.4 Estocagem
As estacas deverão ser estocadas sobre terreno firme e plano. Sendo o terreno perfeitamente
plano, as estacas poderão ser depositadas diretamente no chão, não sendo recomendado o
empilhamento de umas sobre as outras. Caso a superfície do terreno não esteja perfeitamente
aplainada, as estacas deverão ser estocadas apoiando-se suavemente sobre dois caibros,
conforme indicado na Figura 6.10, em no máximo duas camadas sempre que for utilizado
guindaste.
Durante o processo de implantação da estaca no solo por processo de percussão, são geradas
tensões na estaca devidas ao impacto do martelo. Essas tensões de cravação devem ser
inferiores à tensão característica do concreto, sendo normalmente recomendado como limite
máximo o valor 0,85fck. Ainda assim, para evitar o esmagamento da cabeça da estaca,
recomenda-se trabalhar com pequenas alturas de queda do martelo de cravação, geralmente
não superiores a 1 metro, bem como o uso de elementos amortecedores de impacto
(capacetes).
139
Tabela 6.5 – Tipos mais comuns de estacas premoldadas e suas cargas de trabalho
(Velloso e Lopes, 2002).
Tabela 6.6 – Cargas e embutimentos recomendados para estacas premoldadas (DIN 4026).
O sistema de cravação deve ser dimensionado para conduzir a estaca até à profundidade
prevista, sem causar danos à peça. Assim, o uso de martelos mais pesados com alturas de
quedas menores é mais eficiente do que martelos mais leves, com grande altura de queda.
Não é recomendado o uso de martelos com peso inferior a 15 kN (1,5tf), nem relação peso do
martelo/peso da estaca menor que 0,7, no caso de estacas projetadas para até 1MN de carga
admissível. Em todo caso, uma análise de cravabilidade da estaca, a partir de simulações
140
numéricas empregando-se programas de computador específicos (CAPWAP, por exemplo)
pode indicar o peso do martelo adequado à capacidade da estaca (Danziger, 1991).
De acordo com a NBR 6122 (1996), as estacas premoldadas podem ser emendadas, desde
que as seções onde são feitas as emendas possam resistir a todas as solicitações que nelas
ocorram durante o manuseio e a cravação, sem comprometer a axialidade dos elementos. Na
maioria das estacas, a emenda é feita soldando-se entre si luvas metálicas que são
incorporadas ao concreto. No caso de estacas submetidas apenas à compressão, a emenda
pode ser por anel ou luva de encaixe. A Figura 6.11 mostra detalhes de emendas usuais para
estacas premoldadas.
Figura 6.11 – Emendas de estacas premoldadas: (a) luvas de aço soldadas e (b) comprimidas.
São estacas utilizadas para suportar cargas elevadas, com comprimentos longos. Essa
categoria de estacas premoldadas possui as seguintes vantagens:
141
a) Elevada resistência na compressão, tração, flexão composta, etc.
b) Maior capacidade de manipulação, transporte, levantamento e cravação.
c) Pequena fissuração.
d) Emprego vantajoso de protensão excêntrica a fim de aumentar a resistência à
flexão, quando usadas como estacas-prancha em ensecadeiras e obras de
contenção.
e) Emprego efetivo como estacas de defensas para absorver o impacto de navios
em obras portuárias e na proteção de pilares de pontes.
Segundo Velloso e Lopes (2002), é considerada a estaca mais rudimentar utilizada no Brasil,
sendo executada geralmente com trado manual, e empregada em obras de pequeno porte.
Seus diâmetros são normalmente entre 20cm e 50cm. Em geral, não são armadas, utilizando-
se apenas ferros de ligação com os blocos. As cargas de trabalho são geralmente baixas. Na
Tabela 6.7 são apresentados os valores típicos das cargas admissíveis desse tipo de estaca e
dos seguintes.
Figura 6.12 – Seqüência executiva de estaca tipo Strauss: (a) escavação, (b) limpeza do furo, (c)
concretagem após colocar armadura e (d) estaca pronta (Velloso e Lopes, 2002).
Há uma prática originada no interior do Estado de São Paulo, principalmente em Bauru e São
Carlos, onde se utiliza uma estaca semelhante a Strauss, todavia, sem revestimento.
Denominada “estaca apiloada”, essa variante da Strauss é executada com auxílio de um
soquete que produz uma perfuração no terreno, sem a necessidade de contenção das paredes
do furo.
É uma das estacas mais difundidas no Brasil, possuindo, inclusive diversas variantes do
modelo original (Standard). A estaca Franki foi originalmente desenvolvida pelo engenheiro
belga Edgard Frankignoul, por volta de 1910 (Velloso e Lopes, 2002).
A característica mais marcante da estaca tipo Franki é a existência da base alargada, o que
contribui para conferir à estaca geralmente uma grande capacidade de carga. As operações
que envolvem a execução de uma estaca Franki são apresentadas na Figura 6.13, as quais
são descritas a seguir:
143
Figura 6.13 – Seqüência executiva da estaca Franki (Standard).
i) cravação do tubo (1 e 2): após a colocação do tubo, derrama-se nele uma certa
quantidade de mistura de areia seca e brita, socando-se de encontro ao terreno com
um pilão pesando entre 10kN a 40kN, dependendo do diâmetro da estaca. Essa
operação forma com a mistura uma “bucha” estanque, cuja base penetra
ligeiramente no solo, enquanto sua parte superior, fortemente aderida às paredes do
tubo o arrasta por atrito durante o seu afundamento. A bucha impede a entrada de
água e/ou solo no tubo.
144
ii) execução da base alargada (3): ao final da cravação do tubo, inicia-se a fase de
expulsão da bucha e execução da base alargada. Nessa etapa, o tubo é ligeiramente
erguido e mantido fixo aos cabos do bate-estacas, expulsando-se a bucha por meio
de golpes de elevada energia. Logo após a expulsão da bucha, coloca-se concreto
com fator água-cimento 0,18 (1 saco de 50kg de cimento + 90L de areia média
lavada +140L de brita nº 2), o qual é socado pelo pilão formando a base alargada.
iii) colocação da armadura (4): depois de executada a base alargada, coloca-se no tubo
a armadura, caso se tenha prevista a sua utilização. A armadura deverá se situar
entre o tubo e o pilão. No caso de estacas que serão solicitadas à tração, a armadura
deverá ser colocada antes do término da execução da base alargada, para conferir
uma melhor ancoragem na base.
iv) concretagem do fuste (5 e 6): após a etapa anterior, inicia-se a concretagem do
fuste, apiloando-se concreto com fator água/cimento entre 0,35 a 0,45 (comumente
0,36), em camadas sucessivas, com simultâneo levantamento do tubo, tendo–se o
devido cuidado para que a água e o solo nele não penetrem. Um traço básico
sugerido no Manual da ABEF é: 1 saco de 50kg de cimento CP II-E-32 + 90L de
água + 80L de brita nº 1 + 60L de brita nº 2, fator a/c = 0,36. O consumo mínimo de
cimento por m3 de concreto é 300kg.
145
Armadura: Usa-se uma armadura mínima necessária, por motivos de ordem construtiva,
mesmo que as solicitações a que a estaca será submetida não exija qualquer armadura. A
armação básica de uma estaca Franki sugerida pela ABEF (2004) é mostrada na Figura 6.13a,
inclusive com detalhes das possíveis emendas.
Figura 6.13a – Detalhes de armadura padrão para estaca Franki (ABEF, 2004).
146
Tabela 6.7 – Características dos pilões usados na execução de estacas Franki (Velloso e Lopes, 2002).
Diâmetro da estaca Peso mínimo do pilão Diâmetro mínimo do pilão
(mm) (kN) (mm)
300 10 180
350 15 220
400 20 250
450 25 280
520 28 310
600 30 380
OBS.:Para estacas com mais de 15m, o peso do pilão deve ser aumentado em função do comprimento da estaca.
Concretagem: A execução do fuste deve ter um consumo mínimo de 350 kg/m3 de concreto,
sendo usados os seguintes procedimentos: i) o concreto é lançado em pequenas quantidades
que são compactadas sucessivamente, à medida que se retira o tubo e ii) o tubo é inteiramente
enchido de concreto plástico, e em seguida, é retirado com utilização de procedimentos que
garantam a integridade do fuste. O controle tecnológico do concreto tanto do fuste quanto da
base pode ser feito através da ruptura de corpos de prova (em geral com 15cm de diâmetro por
30cm de altura) coletados a cada 30m3 de concreto.
Carga estrutural admissível: Na fixação da carga estrutural admissível, não se pode adotar um
fck superior a 20MPa e γc = 1,5. A Tabela 6.8 mostra as principais características das estacas
Franki, segundo o catálogo de Estacas Franki Ltda.
Tabela 6.8 – Características das estacas tipo Franki (adaptado de Velloso e Lopes, 2002).
147
6.3.3.4 Estaca Tipo Franki Tubada
Como o próprio nome sugere, a estaca Franki mista é uma associação de fuste premoldado
ancorado em uma base alargada, que é principal característica da estaca Franki. O processo
de execução dessa variante da estaca Franki está representado na Figura 6.14. As estacas
mistas são recomendadas nas seguintes situações: i) estacas com um trecho acima do N.A.
(fundações de pontes, obras marítimas, etc) e ii) ocorrência de águas excepcionalmente
agressivas. Ela apresenta a vantagem de reunir a grande capacidade de carga da estaca
Franki e a boa qualidade do concreto usado no elemento premoldado.
A metodologia de execução da estaca mista começa com a cravação do tubo e da bucha, para
em seguida executar-se o alargamento da base, de forma semelhante ao sistema Standard.
Sobre a base alargada é colocada uma certa quantidade de concreto, para servir de ligação
entre esta e o fuste. Nesse instante, faz-se descer o elemento premoldado contendo na parte
inferior pontas de vergalhão para prover a ancoragem do fuste na base. Em seguida, retira-se o
tubo de cravação e a estaca fica concluída. O espaço vazio que se forma entre o tubo e as
paredes do solo às vezes é preenchido com o próprio solo, às vezes com argamassa de
cimento ou asfáltica.
Um subgrupo deste tipo de estaca é a estaca mista tubada. Neste caso, o elemento
premoldado é substituído por um tubo de aço de parede fina, o qual é preenchido com concreto
antes da retirada do tubo de cravação. Recomenda-se a ancoragem do tubo concretado na
base, através da soldagem de dois ferros em “U” na parte inferior do tubo.
A grande vantagem da estaca mista tubada é a facilidade oferecida pelo tubo de parede fina
para operações de corte e emenda, ajustando o comprimento da estaca a cada situação, sem
qualquer prejuízo econômico à obra, que possa ser causado por desperdício de material.
148
Figura 6.14 – Etapas de execução de uma estaca Franki mista.
A execução dessa variante da estaca Franki obedece à seqüência Standard até a colocação da
armadura. A partir daí, o tubo é completamente preenchido de concreto plástico, com “slump”
entre 8 cm a 12 cm, momento em que é acoplado ao tubo um aparelho vibrador especial, com
vibração unidirecional (vertical), procedendo-se simultaneamente o arrancamento contínuo do
tubo com o esforço do próprio bate-estaca, conforme representado na Figura 6.15.
Este processo diminui significativamente as dificuldades de concretagem do fuste em camadas
de argila mole ou muito mole, evitando-se a “fuga” de concreto e o conseqüente
estrangulamento do fuste.
6.3.3.6 Estaca Franki com Cravação por Martelo Automático e Fuste Vibrado
É uma variante do método precedente, sendo que o tubo é cravado pela ação de um martelo
automático. Além disso, a clássica bucha é substituída por uma chapa de aço, com a qual o
tubo é cravado até a profundidade especificada em projeto. Após essa etapa, coloca-se em
operação o pilão de queda livre que desloca a chapa até então fixada na extremidade inferior
do tubo e se executa a base alargada. Por fim, é colocada a armadura e substitui-se o martelo
pelo vibrador, executando-se o fuste vibrado, conforme mostrado na Figura 6.16.
149
Figura 6.15 – Etapas de execução de uma estaca Franki com fuste vibrado.
Figura 6.16 – Etapas de execução de uma estaca Franki com martelo automático e fuste vibrado.
150
6.3.4 Estacas Escavadas
Figura 6.17 – Perfuração típica para estaca escavada com uso de lama bentonítica (ABEF, 2004).
151
A situação local é que determinará se a perfuração terá ou não suas paredes suportadas. O
suporte pode ser um revestimento metálico (recuperável ou perdido) ou lama tixotrópica
(bentonítica), conforme esquematizado nas Figura 6.18 (a,b), onde também são mostradas as
principais ferramentas para escavação em solo (Figuras 6.18 c, d, e, f). Admite-se a perfuração
desprovida de suporte apenas nos casos de terrenos coesivos, acima do lençol d´água natural
ou rebaixado. Na Figura 6.19 são mostradas as fases típicas de execução de uma estaca
escavada com lama bentonítica.
Figura 6.18 – Execução de estaca escavada: (a) escavação revestida com camisa metálica; (b)
escavação suportada por lama. Ferramentas para escavação: (c) clamshell esférico; (d) “balde”; (e)
trado helicoidal e (f) chamshell de diafragmadora (Velloso e Lopes, 2002).
O uso de lama bentonítica para suportar paredes de perfuração para execução de estaca
escavada é bastante difundida no Brasil. Essa técnica já tem de mais de 50 anos de utilização
no mundo, possibilitando a execução de estacas nas mais diversas condições de subsolo, com
comprimentos até maiores que 50 m e diâmetros de até 2,5 m (Velloso e Lopes, 2002). Vale
lembrar que estacas escavadas com diâmetros acima de 0,70 m são chamadas de estacões.
Uma foto dessa variante de estaca escavada com 2 m diâmetro (com camisa metálica perdida),
empregada nas fundações da ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros é mostrada na Figura 6.20.
152
Figura 6.19 – Execução de estaca escavada empregando-se lama bentonítica como suporte do furo.
Figura 6.20 – Estacas escavadas de grande diâmetro (2m) com uso de camisa de aço, para as
fundações da ponte Aracaju-Barra dos Coqueiros.
153
Principais vantagens das estacas escavadas:
As prescrições relativas às especificações técnicas para o concreto são fornecidas pela NBR
6122 (1996):
3
Tremonha é um tubo construído por elementos emendados por rosca e tendo um funil na extremidade superior.
154
i) Consumo de cimento não inferior a 400 kg/m3.
ii) Abatimento (slump) igual a (200 ± 20)mm.
iii) Diâmetro máximo do agregado não superior a 10% do diâmetro interno do tubo da
tremonha.
iv) O embutimento da tremonha no concreto durante toda a concretagem não pode ser
inferior a 1,5 m.
Um exemplo de traço de concreto apresentado por Monteiro (1980), reproduzido por Velloso e
Lopes (2002), é apresentado a seguir, na Tabela 6.9:
Tabela 6.9 – Exemplo de traço de concreto para estaca escavada (Monteiro, 1980).
Material Em peso (kg) Em volume (litros)
Cimento 400 290
Areia 720 570
Brita Nº 1 980 630
Água 240 240
Plastiment VZ (*) 1,2 1,2
(*) Aditivo plastificante.
155
Após a concretagem, o trecho escavado e não concretado deve ser reaterrado para prevenir
desmoronamentos ou quedas de equipamentos ou pessoas. Para isso, é comum a utilização
de solo-cimento, no traço 50 kg de cimento para 1 m3 de solo. Depois do reaterro, a camisa-
guia é retirada e a estaca está concluída.
Carga estrutural admissível: adota-se um fck máximo de 20 MPa, com fator de redução de
resistência igual a γc = 1,9.
i) Estaca tipo raiz: a injeção é utilizada para moldar o fuste. Imediatamente, após a
moldagem do fuste, é aplicada pressão no topo, com ar comprimido, uma ou mais
vezes durante a retirada do tubo de revestimento. Não se usa tubo de válvulas
múltiplas, mas usam-se pressões baixas (menores que 500 kPa) para garantir a
integridade da estaca;
ii) Microestacas: incluem as pressoancoragens, executadas com tecnologia de tirantes
injetados em múltiplos estágios, utilizando-se, em cada estágio, pressão que garanta
a abertura das manchetes e posterior injeção.
Nos dois modelos, o fuste é constituído de armadura de barras e/ou tubo metálico, sendo os
vazios do furo preenchidos com calda de cimento ou argamassa. As principais vantagens
dessas estacas são:
i) Não produzem choques nem vibrações.
ii) As ferramentas disponíveis permitem sua execução em terrenos com matacões ou
peças de concreto.
iii) Equipamentos de pequeno porte, permitindo operação em locais com pouco espaço.
iv) Podem ser executadas com qualquer inclinação.
v) Podem ser utilizadas em reforço de fundações, podendo ser incorporadas à
estrutura, sob tensão.
a) Estacas-Raízes
156
tendo sua patente definitivamente registrada em 29 de dezembro de 1952 (Alonso, 1998). No
início de sua comercialização eram utilizados diâmetros iguais a 20 cm, razão pela qual eram
chamadas estacas injetadas de pequeno diâmetro. Com a popularização do seu emprego
como reforço de fundações e depois como fundação, houve uma tendência de se utilizar
diâmetros cada vez maiores, da ordem de 40 cm a 50 cm, deixando obviamente de receber o
nome pequeno diâmetro, sendo adotado pela NBR 6122 (1996) o título “estacas escavadas,
com injeção”. Na Figura 6.22 são mostradas as principais fases de execução de uma estaca
raiz.
157
Para a perfuração, utiliza-se o sistema rotativo, com circulação de água ou lama bentonítica,
que permite a colocação do tubo de revestimento provisório até a ponta da estaca. Para
diminuir o atrito entre o revestimento e o solo, durante a fase de perfuração, é colocada na
parte inferior do tubo uma ferramenta com diâmetro ligeiramente maior que o deste, chamada
sapata de perfuração. Os detritos resultantes da perfuração são levados à superfície pela água
de perfuração, através do interstício anelar formado entre o revestimento e o terreno. Desta
forma, o diâmetro acabado da estaca fica sempre maior que o diâmetro externo do
revestimento, conforme se pode ver na Tabela 6.10.
Nota: Visando garantir ao consumo mínimo de cimento, a NBR 6122 (1996) prescreve um valor da
ordem de 600 kg/m3, o que equivale a um traço comum de 80 litros de areia para 1 saco de 50 kg de
cimento e 20 a 25 litros de água. Isto pode conferir à argamassa uma resistência característica da
ordem de 20 MPa.
b) Microestacas
158
execução de tirantes injetados em solo. As etapas de execução de uma microestaca estão
mostradas na Figura 6.23, cuja descrição é feita a seguir:
i) Perfuração auxiliada por circulação de água: processo rotativo com lama bentonítica
ou, no caso de areias fofas e argilas moles, com auxílio de um tubo de revestimento;
ii) Armadura: pode ser constituída por uma gaiola de vergalhões ou por um tubo de aço
dotado de válvulas expansíveis de borracha (tubo manchete), através das quais é
injetada calda de cimento sob pressão. Quando se usa gaiola, as válvulas
manchetes são colocadas em um tubo de injeção, conforme mostrado nas Figuras
6.21 e 6.22;
iii) Injeção: inicialmente, preenche-se com calda de cimento o espaço anelar entre as
paredes do furo e o tubo de injeção, formando a bainha, a qual impede o fluxo da
calda sob pressão à superfície do terreno. Numa segunda etapa, injeta-se calda de
cimento sob pressão (com até 20 kgf/cm2) através das válvulas manchetes, uma de
cada vez. A injeção pode se processar em quantas fases forem necessárias para
que se atinjam as pressões desejadas. Após a série de injeções, procede-se ao
enchimento do tubo de injeção com argamassa ou com a própria calda. Estas etapas
conferem ao fuste uma forma irregular, com sucessivos bulbos fortemente
comprimidos contra o solo, melhorando significativamente a adesão da estaca, de
maneira análoga ao bulbo de um tirante. Isso contribui para uma melhor capacidade
de carga de atrito lateral, quando comparada com outras estacas, inclusive com as
estacas-raiz de mesmo diâmetro.
159
Figura 6.24 – Seção transversal de uma microestaca com tubo de aço e armadura complementar.
Carga admissível: As estacas escavadas com injeção, quando não penetrarem em rocha,
devem ser dimensionadas levando em conta apenas o atrito lateral, utilizando-se alguns dos
métodos consagrados na técnica. Esse dimensionamento é válido tanto à compressão quanto
á tração (NBR 6122, 1996). A norma brasileira ainda prescreve a obrigatoriedade de se fazer
provas de carga sobre um mínimo de 1% das estacas, sendo o número mínimo de três.
Considera-se adequado aumentar o número mínimo de provas de carga para 5% das estacas
com carga de trabalho entre 600 kN e 1000 kN e em 10% para cargas acima de 1000 kN.
É uma estaca de concreto, moldada “in loco”, executada por meio de trado contínuo e injeção
de concreto (sob pressão controlada) através da própria haste central do trado,
simultaneamente à sua retirada do terreno. A estaca hélice contínua foi desenvolvida nos
Estados Unidos, na década de 70, sendo difundida pela Europa e Japão na década de 80,
chegando ao Brasil por volta de 1987 (Velloso e Lopes, 2002; Antunes e Tarozzo, 1998). O
primeiro modelo utilizado no Brasil, foi aqui desenvolvido, era montado sob guindaste de
esteiras com capacidade para torque de 35 kNm e diâmetros de 275 mm, 350 mm e 425 mm.
Com essa máquina se podia executar estacas com até 15m de comprimento.
Na década de 90 o mercado brasileiro experimentou uma invasão de máquinas importadas da
Europa (Itália, principalmente), construídas especialmente para execução desse tipo de estaca.
Essas máquinas têm capacidade para aplicar de 90 kNm a mais de 200 kNm de torque, utiliza
hélices com diâmetros de até 1000 mm e executa estacas com até 24 m de comprimento.
160
a) ausência de vibrações
b) elevada produtividade
c) grande capacidade de carga
d) controle automático da execução da estaca
161
Figura 6.26 – Principais etapas de execução de uma estaca hélice contínua (ABEF, 2004).
162
Perfuração: a perfuração consiste na introdução da hélice no terreno, por rotação, transmitida
por motores hidráulicos acoplados na extremidade superior da hélice, que aplicam o torque
necessário para vencer a resistência do terreno, até que se atinja a profundidade de projeto,
sem que em nenhum momento a hélice seja retirada da perfuração. Nesta fase, a única força
vertical atuante é o peso próprio da hélice com o solo nela contido, conforme Figura 6.26a.
163
Figura 6.27 – Torre e hélice usados para execução de uma estaca hélice contínua.
Tabela 6.11 – Características mínimas dos equipamentos disponíveis para executar estacas hélice
contínua (Antunes e Tarozzo, 1998).
Torque Diâmetro Profundidade
(kNm) (mm) (m)
25 275; 350; 425 15
80 – 150 ≤ 800 24
≥ 160 ≤ 1000 24
Orientações de projeto: para a fixação da carga estrutural admissível deve-se adotar fck mínimo
igual a 20 MPa e um fator de redução de resistência γc = 1,8. O espaçamento mínimo entre
estacas paralelas pode ser adotado igual a 2,5 vezes o diâmetro. Na Tabela 6.12 são
apresentados os diâmetros comumente utilizados, as cargas estruturais admissíveis e os
espaçamentos sugeridos, conforme prescreve a NBR 6122 (1996).
164
Orientações de projeto: as estacas hélices contínuas oferecem uma solução técnica e
economicamente viável nos casos de: i) obras em centros urbanos próximos a estruturas
existentes, como escolas, hospitais e edifícios históricos, por não produzir ruídos e vibrações e
por não causar descompressão do terreno; ii) obras industriais e conjuntos habitacionais, onde,
em geral há um grande número de estacas de mesmo diâmetro, pela grande produtividade que
pode alcançar e iii) estrutura de contenção, associado ou não a tirantes protendidos, próximos
a estruturas existentes, desde que os esforços transversais sejam compatíveis com os
comprimentos de armação permitidos.
165
Tabela 6.12 – Diâmetro da hélice, carga admissível e espaçamentos sugeridos para estacas hélice
contínua (NBR 6122, 1996).
Dois tipos de estacas hélice com deslocamento do solo começam a ser introduzidas na prática
de fundações brasileira: são as estacas Ômega e Atlas. Elas diferem da hélice contínua pelo
fato da ferramenta helicoidal (trado helicoidal) ser concebida para impor um afastamento lateral
do solo no instante em que a ferramenta é introduzida ou extraída.
a) Estaca Ômega: essa estaca pode ser executada com diâmetros variando entre 300 mm e
600 mm, e comprimentos de até 35 m. A carga admissível pode atingir até 2000 kN. As etapas
de execução são as seguintes (ver Figura 6.29):
i) penetração por movimento de rotação e, eventualmente, força de compressão do trado. O
tubo central tem a extremidade inferior fechada por uma tampa metálica que será perdida;
ii) depois de atingida a profundidade prevista, coloca-se a armadura no tubo, em todo o
comprimento da estaca;
iii) enchimento do tubo com concreto plástico;
iv) retirada do tubo por movimento rotacional no mesmo sentido da introdução e,
eventualmente, esforço de tração no trado. É feita injeção simultânea de concreto.
O trado é projetado de tal forma que, mesmo quando se atinge a superfície do terreno (na
retirada do tubo), o solo é pressionado para baixo, não se permitindo qualquer saída do solo.
166
Figura 6.29 – Etapas de execução de uma estaca Ômega.
b) Estaca Atlas: esse tipo de estaca pode ser executado com diâmetros variando entre 360 mm
e 600 mm, e comprimentos de até 25 m. A execução é semelhante à da estaca Omega, exceto
na operação da retirada do tubo, que é feita por movimento de rotação em sentido contrário ao
da introdução do mesmo no terreno. As fases de execução de uma estaca Atlas estão
apresentadas na Figura 6.30.
167
6.3.6 Estacas Prensadas
Mais conhecidas no Brasil como estacas tipo “Mega” – denominação dada pela empresa
Estacas Franki – as estacas prensadas são constituídas de elementos premoldados de
concreto (armado, centrifugado ou protendido), ou por elementos metálicos (perfis laminados,
perfis soldados ou tubos), cravados por prensagem, com auxílio de macaco hidráulico.
As estacas Mega foram idealizadas com a finalidade precípua de utilizá-las como alternativa ao
reforço de fundações, entretanto, têm sido também empregadas como fundações
convencionais, quando se deseja eliminar perturbações nas vizinhanças tais como, vibrações,
choques, ruídos, etc.
Cravação: para a cravação de uma estaca Mega, ou se emprega uma plataforma com
sobrecarga (ver Figura 6.31) ou se utiliza a própria estrutura como reação, conforme mostrado
na Figura 6.32. Na Figura 6.33 são mostrados detalhes da incorporação da estaca cravada
através de furo no bloco.
Figura 6.31 – Plataforma com cargueira e macaco aplicando carga para cravar uma estaca Mega
(ABEF, 2004).
168
Figura 6.32 – Formas possíveis de cravação de uma estaca Mega: (a) sobrecarga e (b) usando
estrutura existente como reação.
i) em toda estaca cravada se realiza uma prova de carga até 1,5 vezes a carga de
trabalho;
ii) execução da estaca prensada em paralelo com outras etapas da obras em
interrupção no cronograma;
iii) quando ela é cravada com reação em plataforma, já existem, hoje, dispositivos
capazes de executá-la em tempo comparável ao exigido para a cravação de estacas
Franki ou premoldadas.
169
6.3.7 Estacas de Compactação (Melhoramento de Solos)
O melhoramento de solos tem sido uma técnica muito empregada em algumas capitais
nordestinas, principalmente nas cidades de João Pessoa, Recife e Aracaju (Passos, 2001;
Soares e Soares, 2004; Cavalcanti Júnior, 2004). Em João Pessoa, estima-se que nos últimos
15 anos, 90% das obras de fundações de edifícios tenham sido projetadas em sapatas com
melhoramento prévio do solo, possibilitando o aumento, em até cinco vezes, no valor da tensão
admissível do terreno e permitindo a construção de edifícios com até trinta pavimentos. Em
Recife, essa técnica vem sendo utilizada com sucesso desde a década de 70.
O processo executivo de estacas de areia brita apresenta alguma semelhança com a
introdução da bucha seca da estaca tipo Franki. Ele consiste na cravação dinâmica de um tubo
metálico, com geralmente 300 – 350 mm de diâmetro interno e 9 m de comprimento, de ponta
170
fechada com bucha seca (ver Figura 6.34). Após a cravação do tubo, a bucha é expulsa e são
introduzidos no tubo o pó de pedra em mistura com a brita, sendo comum se executar uma
malha quadrada de 1,0 m de lado. A compactação é feita através da queda livre de um martelo
pesando entre 10 a 20 kN, suportado por tripé, caindo de uma altura da ordem de 3 m. À
medida que o material é compactado, o tubo é erguido até ser atingida a superfície do terreno
(ver Figura 6.35). Vale ressaltar que a estaca de compactação não atua como uma estaca
convencional, portanto, não deve receber carga concentrada. Sua função é apenas aumentar a
compacidade do solo. É uma técnica adequada para depósitos arenosos superficiais (até 7 m
de profundidade), sem presença de muitos finos em sua granulometria.
Figura 6.34 – Processo executivo de estacas de compactação – apiloamento do tampão de areia e brita.
171
O material utilizado pela maioria das firmas executoras do Recife é uma mistura de pó de pedra
lavado, com brita 50 ou 75 e, geralmente, utiliza-se o traço de 3 (pó de pedra) : 1 (brita) em
volume (GUSMÃO FILHO & GUSMÃO, 1994). Já em João Pessoa, segundo Soares e Soares
(2004), o material utilizado na confecção das estacas é uma mistura de areia e brita ou de areia
e cimento, sendo 1 (cimento) : 20 (areia) o traço em volume, geralmente utilizado no
melhoramento com estacas de areia e cimento, e 4 (areia) : 1 (brita), no caso de estacas de
areia e brita. A mistura, uma espécie de “farofa” levemente úmida, é feita em betoneira.
Recomenda-se que a areia para a mistura esteja com umidade natural entre 3 e 4%. O
equipamento básico utilizado nessa técnica consta de um tripé com um martelo de 10 kN a 20
kN de peso, caindo de uma altura de cerca de 3 m.
O melhoramento é feito na projeção da lâmina do edifício, ou apenas na projeção da lâmina
das sapatas, colocando-se uma linha de estacas além da área carregada (anel de reforço).
As estacas de areia e brita podem ser usadas para compactar solos granulares até 25 m de
profundidade, porém, a compactação é ineficiente na faixa de 1 a 2 m de profundidade, devido
à falta de confinamento do solo próximo à superfície, e só apresenta resultados satisfatórios
para perfis arenosos, onde o material a ser densificado possui NSPT abaixo de 20 para
profundidades de até 10 m. Quanto mais fofo o solo maior será o ganho de resistência. É
comum um ganho de resistência em termos de NSPT da ordem de 4 a 5 vezes. Por exemplo,
um solo inicialmente com NSPT igual a 4, pode passar a ter um NSPT da ordem de 20 após a
compactação da malha de estaca de areia e brita. A Figura 6.36 mostra o efeito na resistência
à penetração do SPT após a compactação (Np) em função do N medido antes do processo,
para estacas espaçadas de 80 cm. Para a avaliação da eficiência do melhoramento no solo,
geralmente são analisados os valores do NSPT do terreno, antes e após a execução da
compactação, conforme o exemplo mostrado na Figura 6.37. Nessa figura observa-se que na
cota correspondente a 3 m, o N aumentou de 5 para mais de 25.
172
Figura 6.37 – Efeito da compactação na resistência do solo (Soares e Soares, 2004).
A Figura 6.38 mostra configurações típicas de malhas de estacas de compactação com mistura
de areia e brita. Na Figura 6.38a é o caso de edifícios de até 12 pavimentos, enquanto na
Figura 6.38b, a malha é típica de melhoramento de solos para edifícios de 12 a 20 pavimentos.
173
Figura 6.38 – Malha de estacas de compactação: a) para edifícios de até 12 pavimentos; b) para
edifícios de 12 a 20 pavimentos (Soares e Soares, 2004).
6.4 Tubulões
Os tubulões têm em alguma fase de sua execução a descida de operário em seu interior. O
operário pode participar tanto da escavação do fuste quanto apenas do alargamento da base.
Cabe lembrar que há casos nos quais o alargamento da base é feito por equipamentos, ficando
como tarefas do operário somente a limpeza e preparo da base para concretagem.
Os tubulões têm sempre o fuste cilíndrico, mas a base pode ser alargada ou não. Os
alargamentos podem ser em forma circular ou elíptica, conforme mostrado na Figura 6.39.
Quando existe alargamento de base, o disparo “d” não deve ser maior que 30 cm, em solos
arenosos. Um ângulo de 60° com a horizontal para a base alargada é normalmente adotado
enquanto a altura (H) não deve ultrapassar os 2 metros.
Para a execução de um tubulão pode carecer ou não do uso de revestimento, dependendo das
condições locais. Dessa forma, os tubulões podem ser classificados em:
174
Figura 6.39 – Tubulões: (a) em perfil, sem e com base alargada e formas usuais de base: (b) circular e
(c) falsa elipse.
Figura 6.40 – Tubulões (a) sem revestimento, (b) com revestimento de concreto e (c) com revestimento
metálico.
Pode-se ainda lançar mão de ar comprimido para impedir que a água penetre o interior do
tubulão durante sua execução, o que permite, por essa razão, classificar os tubulões em:
175
Figura 6.41 – Tubulões: (a,b,c) a céu aberto; (d) sob ar comprimido.
A execução desta categoria de tubulão só pode acontecer acima do lençol d´água, podendo-se
prescindir de suporte para as paredes (revestimento). Quando há risco de desmoronamento
das camadas superiores do solo onde se faz a escavação, é usado um revestimento,
geralmente anéis de concreto, premoldado, os quais descem simultaneamente à escavação.
Outras vezes, o fuste é escavado mecanicamente (por equipamento) e a base é alargada por
operário. Pode haver casos nos quais mesmo que o nível freático se encontre acima da cota
onde ficará a base do tubulão, sua execução pode ser a céu aberto, desde que seja um solo
argiloso, de baixa permeabilidade, onde o fluxo d´água para o interior da escavação seja tão
pequeno que não atrapalhe os serviços nem a estabilidade das paredes.
Pretendendo-se executar tubulões em solos onde haja água e não seja possível esgotá-la
devido ao perigo de desmoronamento das paredes do fuste, são utilizados os chamados
176
tubulões a ar comprimido (ou pneumáticos) com camisa de concreto (Figura 6.41d). Neste
caso, usa-se uma campânula que recebe a pressão de ar impedindo a entrada de água no
interior do tubulão, a qual possui um cachimbo para descarga do material escavado. Na fase
de concretagem, é montado um elemento entre a campânula e o revestimento do tubulão que
possui um cachimbo para permitir a concretagem.
Os tubulões a ar comprimido começaram a ser usados no Brasil a partir de 1940, sendo o
Edifício Rhodia, em São Paulo, o primeiro prédio a ter suas fundações em tubulão a ar
comprimido com camisa de concreto. Daí, esse tipo de fundação profunda passou a ser a mais
executada no país.
Com o maior desenvolvimento de outros tipos de fundações e com maiores restrições a ruído,
o tubulão a ar comprimido foi sendo cada vez menos usado no Brasil. Atualmente só se usa
tubulão a ar comprimido e, geralmente, com camisa de concreto, em obras de arte (pontes e
viadutos) e normalmente fora do perímetro urbano.
Cabe ressaltar a questão da pressão máxima de ar comprimido empregada, que é da ordem de
3,4 atm (340 kPa), razão pela qual estes tubulões têm sua profundidade limitada a 34m abaixo
do nível d´água. Vale frisar que em qualquer etapa da execução dos tubulões, deve-se
observar que o equipamento deve permitir que se atendam rigorosamente aos tempos de
compressão e descompressão prescritos na legislação em vigor, só sendo admitidos trabalhos
sob pressões superiores a 150 kPa quando as seguintes providências forem tomadas.
Com esse processo, geralmente é empregado um revestimento metálico, que pode ser
recuperado ou não. A escavação do fuste é feita por equipamento mecanizado, mantendo a
água no interior do tubulão, conforme ilustrado na Figura 6.42a. Atingida a profundidade
prevista, é instalada a campânula, aplicado ar comprimido e os operários descem para realizar
o trabalho de alargamento da base (Figura 6.42b).
É prática comum a concretagem da base e de uma parte do fuste sob ar comprimido, aguarda-
se um pouco para que o concreto adquira alguma resistência e, em seguida, retira-se a
campânula, efetuando-se o restante da concretagem a céu aberto. Dependendo do
177
equipamento empregado, pode-se recuperar o revestimento metálico, cuja extração é iniciada
logo após o término da concretagem do fuste.
Figura 6.42 – Tubulão pressurizado com escavação mecânica do fuste: (a) escavação do fuste; (b)
alargamento da base; (c) concretagem da base concluída e retirada da campânula.
178
(d)
Figura 6.43 – Tubulão pressurizado com escavação manual do fuste: (a) concretagem da câmara de
trabalho; (b) concretagem de um trecho do revestimento; (c) e (d) tubulão pronto para concretagem.
7.0 Questionário
179
8.0 Bibliografia Consultada
180
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL
ÁREA DE GEOTECNIA E ENGENHARIA DE FUNDAÇÕES
Notas de Aula
FUNDAÇÕES PROFUNDAS
Capítulo 7 – Capacidade de Carga e Recalque
183
5.0 Estimativas de Recalques de Fundações Profundas 228
5.1 Transferência de Carga e Recalque da Estaca para o Solo 228
5.2 Métodos para Previsão de Recalques de Estacas 229
5.2.1 Métodos Teóricos (Teoria da Elasticidade) 230
5.2.1.1 Método de Poulos & Davis (1968) 230
5.2.1.2 Método de Vésic (1969, 1975) 232
5.2.2 Métodos Semi-Empíricos 234
5.2.3 Ajuste da Curva Carga-Recalque 235
6.0 Procedimentos Gerais de Projeto 237
6.1 Disposição das estacas em bloco 237
6.2 Arrasamento da estaca 243
7.0 Grupos de Estacas e Tubulões 244
7.1 Capacidade de Carga de Grupo de Estacas Instaladas em Areias 244
7.2 Capacidade de Carga de Grupo de Estacas Instaladas em Argila 245
7.3 Recalque de Grupo de Estacas 246
7.3.1 Recalque de Grupo de Estacas Instaladas em Areias 247
8.0 Atrito Negativo 247
8.1 Avaliação do Atrito Negativo em Estacas Isoladas 248
8.2 Atrito Negativo Coeficiente de Segurança 249
8.3 Prevenção do Atrito Negativo 249
8.4 Atrito Negativo em Grupo de Estacas 249
9.0 Exemplos de Aplicação 250
10.0 Bibliografia Consultada 252
“A carga admissível de um estaqueamento (grupo de elementos isolados de fundação em estacas) é fixada por
cada profissional que se julgue especialista neste tipo de fundação. O valor numérico por ele fixado decorre de sua
experiência pessoal com aquele tipo específico de fundação naquela formação geológica, quando executado com o
equipamento daquela firma especializada. Neste contexto fundação é uma arte e as decisões de engenharia
dependerão da sensibilidade e experiência do artista. Neste caso, entende-se por experiência profissional o fato de
ter projetado um estaqueamento para um determinado valor de carga admissível e ter tomado conhecimento
posterior do seu comportamento sob ação deste tipo de carga em prova de carga estática. Se o comportamento foi
satisfatório há tendência em se consolidar o valor adotado e até de aumentá-lo à medida que a experiência se
acumula sempre com bons resultados. Se o comportamento foi deficiente a tendência é contrária. A experiência
confere uma medida à confiabilidade de um determinado tipo de fundação e é um fator subjetivo”.
(Prof. Nelson Aoki, 2000).
184
1.0 Introdução
No projeto de uma fundação profunda o engenheiro deve se preocupar não só com a segurança em
relação à perda de capacidade de carga, mas, e também (embora em menor grau) com a avaliação dos
recalques que podem ocorrer sob as cargas de trabalho. Serão estudados neste capítulo os métodos
estáticos e dinâmicos utilizados para cálculo ou estimativa da capacidade de carga de estacas e
tubulões, para o caso de cargas axiais.
Em se tratando de capacidade de carga de uma estaca, a primeira coisa a verificar é sua capacidade de
resistir aos esforços atuantes sem sofrer fissuras ou se romper. É sua resistência estrutural. Neste caso,
de acordo com suas dimensões e do material utilizado, cada tipo de estaca tem uma capacidade de
carga estrutural. A Tabela 7.1, extraída do livro de Velloso e Lopes (2002), mostra a capacidade
estrutural e também a tensão máxima (σ) para estacas prémoldadas de concreto.
Tabela 7.1 – Capacidade de carga estrutural de estacas prémoldadas de concreto (Velloso e Lopes,
2002).
Uma vez satisfeita sua capacidade estrutural, um sistema estaca-solo submetido a uma carga vertical
resistirá a essa solicitação parcialmente pela resistência ao cisalhamento gerada ao longo de seu fuste
e parcialmente pelas tensões normais geradas ao nível de sua ponta. Portanto, podemos definir como
capacidade de carga de um sistema estaca-solo (Qr) a carga que provoca a ruptura do conjunto
185
formado pelo solo e a estaca. Essa carga de ruptura pode ser avaliada através dos métodos estáticos,
dinâmicos e das provas de carga. Por sua vez, os métodos estáticos se dividem em:
Poderia se falar ainda dos métodos empíricos, a partir dos quais se pode também estimar,
grosseiramente, a capacidade de carga de uma estaca ou tubulão com base apenas na descrição das
camadas atravessadas.
Nos métodos estáticos, parte-se do equilíbrio entre a carga aplicada mais o peso próprio da estaca ou
tubulão e a resistência oferecida pelo solo, conforme mostrado na Figura 7.1. O equilíbrio é expresso
com a seguinte equação:
Qr + W = Qp + Ql (1)
Na maioria absoluta dos casos, o peso próprio é desprezível em virtude da sua pouca representação
em relação às cargas atuantes sobre a estaca, de tal forma que a Equação 1 pode ser reescrita
introduzindo-se as resistências unitárias (qp e ql), da seguinte maneira:
∫
Q r = A p qp + U ql dz
0
(2)
em que
186
A Equação 3 deve servir de premissa para todos os métodos de capacidade de carga de estacas e
tubulões. Evidentemente, o tipo de estaca e o perfil do terreno determinarão para cada caso quem
prevalece na capacidade de carga total, se a resistência de ponta ou o atrito lateral ou ambos. Para
efeitos de melhor compreensão, a Figura 7.1 será denominada estaca de referência ou padrão, que é
de deslocamento, de concreto armado e seção circular, com diâmetro B.
O autor deste trabalho considera de suma importância deixar claro o conceito de ruptura, visto que,
conforme lembrado por Décourt et al. (1998), as teorias de capacidade de carga se referem a ruptura
sem muitas vezes serem discutidas as deformações necessárias para atingi-la.
As verificações experimentais de capacidade de carga são interpretadas em termos de curva carga-
recalque, em que a inexistência de condições claras de ruptura é quase sempre a regra geral. Daí, a
necessidade de se ter uma definição de ruptura. De Beer (1988) apresenta os conceitos de ruptura
física e ruptura convencional, conforme definições que seguem.
Ruptura física (QUU) : é definida como o limite da relação do acréscimo do recalque da ponta da estaca
(∆SB) pelo acréscimo de carga (∆Q), tendendo ao infinito, ou seja:
∆ SB
QUU = Q para ∆Q
≡∞ (4)
187
Décourt (1996) propõe definir a ruptura física a partir do conceito de rigidez. Para o autor, a rigidez de
uma fundação qualquer (R) expressa a relação entre a carga a ela aplicada e o recalque produzido (s).
Portanto, nesta conceituação, a ruptura física acontece quando o valor da rigidez se torna nulo, ou seja:
Q
QUU = limite de Q quando s ⇒ ∞. Portanto, R = s ⇒ 0 (5)
Ruptura convencional (QUC): é definida quando existe uma carga correspondente a uma deformação da
ponta (ou do topo) equivalente a um percentual do diâmetro da estaca, sendo 10% de B, no caso de
estacas de deslocamento e de estacas escavadas em argila, e 30% no caso de estacas escavadas em
solos granulares.
Segundo Velloso e Lopes (2002), as primeiras fórmulas teóricas foram desenvolvidas no início do
século XIX. Serão apresentadas inicialmente as formulações para resistência de ponta, que se baseiam
na Teoria da Plasticidade e, em seguida, são desenvolvidas as teorias usadas para cálculo da
resistência de atrito lateral.
i) Solução de Terzaghi
É a mesma teoria desenvolvida para a capacidade de carga de fundações superficiais. Neste caso, a
ruptura do solo abaixo da ponta da estaca, não pode ocorrer sem deslocamento de solo para baixo e
para cima, conforme mostrado na Figura 7.2.
Figura 7.2 – Configurações da ruptura para fundações profundas: (a) Terzaghi; (b) Meyerhof.
Se ao longo do comprimento L da estaca o solo é bem mais compressível que o existente abaixo da
base, as tensões cisalhantes (τl) provocadas ao longo do fuste pelos deslocamentos são desprezíveis.
188
Assim, a influência do solo que envolve a esta é semelhante à de uma sobrecarga (q = γ.L), e a
resistência de ponta será calculada por uma das fórmulas usadas em fundações superficiais:
B
q p,rup = 1,2cN c + γLN q + 0,6γ Nγ (6)
2
para estacas de base circular e diâmetro B, ou
B
q p,rup = 1,2cNc + γLN q + 0,8γ Nγ (7)
2
para estacas de base quadrada, de lado B.
É análoga à solução de Terzaghi, tendo a seguinte diferença: enquanto na solução de Terzaghi o solo
situado acima do nível da base da fundação é substituído por uma sobrecarga frouxa γL, onde as linhas
de ruptura são interrompidas no plano BD, na solução de Meyerhof essas linhas de ruptura são levadas
ao maciço situado acima de tal plano, conforme mostrado na Figura 7.2b.
Meyerhof (1953) propôs um procedimento relativamente simples para o cálculo da capacidade de carga
de estacas, sendo a resistência de ponta obtida de:
B
q p,rup = cNc + K sγLN q + γ Nγ (8)
2
189
em que KS = coeficiente de empuxo do solo contra o fuste na zona de ruptura próxima à ponta e
Nc Nq e Nγ = fatores de capacidade de carga, que dependem de φ e da relação L/B.
Os valores de KS, empuxo do terreno contra o fuste, na vizinhança da ponta de uma estaca cravada
situam-se em torno de 0,5 (areias fofas) e 1,0 (areias compactas), conforme resultados obtidos de
ensaios de laboratório e de campo (Velloso e Lopes, 2002).
No caso de fundações profundas, o valor da relação L/B é muito grande. Por essa razão, despreza-se a
última parcela da Equação 8, ficando:
onde os fatores Nc e Nq são obtidos dos ábacos da Figura 7.3, para o caso de estacas de seção circular
ou quadrada e para valores comuns de φ´.
Capacidade de carga de estacas em solos argilosos: como neste caso, φ = 0, a Equação 9 é reescrita:
É necessário que a ponta da estaca penetre pelo menos 2B na camada de base. Para penetrações
menores que 2B, serão utilizados os valores de Nq e Nγ que correspondam à penetração real,
introduzindo-os na Equação 8, com c = 0.
Capacidade de carga de estacas em solos estratificados: para uma estaca instalada em perfil de solo
estratificado, pode-se considerar a resistência por atrito lateral total como sendo a soma das
resistências individuais de cada camada atravessada. Já a resistência de ponta é, inevitavelmente,
determinada pela camada na qual está fincada a ponta da estaca, conforme as Equações 10 e 11.
q p, rup = Ak γB + B k α T γL (12)
em que os valores do coeficiente αT são obtidos da relação L/B e do ângulo φ, conforme mostrado na
Tabela 7.3. Os valores de AK e BK são também funções de φ, sendo obtidos das curvas da Figura 7.4.
De acordo com essa formulação, a tensão horizontal contra o fuste da estaca cravada não cresce linear
e indefinidamente com a profundidade, contrário ao que intuitivamente se poderia pensar.
Tabela 7.3 – Valores de αT para aplicação do método de Berezantzev et al (1961), citados por Velloso e
Lopes (2002).
191
Figura 7.4 – Fatores de capacidade de carga propostos por Berezantzev et al. (1961).
Nas formulações das soluções clássicas, a resistência de ponta de uma estaca é função apenas da
resistência do solo. Cabe ressaltar, todavia, que a rigidez do solo desempenha um papel fundamental,
visto que o mecanismo de ruptura é função dessa rigidez. Daí, a introdução de soluções baseadas na
teoria de expansão de cavidades em um meio elasto-plástico, conforme esquematizado na Figura 7.5.
Na proposta de Vésic (1972), a resistência de ponta de uma fundação profunda pode ser obtida da
seguinte equação:
q p, rup = cN c + σ 0 N σ (13)
1 + 2K o
em que σ o = 3
σ´v (13A)
N c = (N σ − 1) cot φ (13B)
192
Para entrada na Tabela 7.4, é necessário, além do ângulo φ, do Índice de Rigidez (Ir), que pode ser
calculado com a seguinte equação:
E G
Ir = = (13C)
2(1 + ν )(c + σ ´tgφ ) c + σ ´tgφ
Nc são os valores superiores, enquanto Nσ são os números inferiores em cada linha corresponde a cada
valor de φ mostrados na Tabela 7.4.
Da Equação 13 se observa que Vésic expressa a resistência de ponta em função da tensão normal
média (σ´v) atuando no nível da ponta da estaca.
Figura 7.5 – (a) Analogia entre a ruptura de ponta de uma estaca e a expansão de uma cavidade esférica; (b)
mecanismo de expansão de uma cavidade esférica (Velloso e Lopes, 2002, apud Vésic, 1972).
193
2.3.2 Fórmulas Teóricas (Racionais) para a Resistência de Atrito Lateral
A segunda parcela da capacidade de carga de uma estaca é a resistência de atrito lateral, conforme foi
mostrado nas Equações 2 e 3. O tratamento teórico aplicado ao atrito lateral unitário (ql) é análogo ao
usado para analisar a resistência ao deslizamento de um sólido em contato com o solo. Dessa forma,
seu valor é, usualmente, considerado como a soma de duas parcelas:
em que ca é a aderência entre a estaca e o solo, σ´h é a tensão horizontal média atuando na superfície
lateral da estaca na ruptura e δ é o ângulo de atrito entre a estaca e o solo. Os valores de ca e δ podem,
em determinados casos, serem determinados através de ensaios de laboratório, executando-se ensaios
de resistência ao cisalhamento na interface entre o material da estaca e o solo, porém, esse processo
está sujeito a limitações (p. ex., o nível de tensão horizontal na superfície de contato). Por isso, ql,rup é
comum e preferencialmente estimado com base em dados empíricos oriundos de observações de
campo. Outro aspecto importante lembrado por Velloso e Lopes (2002) é fato comprovado: “medições
em estacas instrumentadas cravadas em solos granulares parecem mostrar que o atrito lateral não
cresce com a profundidade abaixo de certa profundidade, denominada crítica, assumindo daí para
baixo um valor constante”.
a) Fórmula de Terzaghi:
ruptura, a área anelar BD, da Figura 7.2a, tende a subir, o que faz surgir uma força resistente dada por:
2 πB 2
(
L n − 1
4
) γ + πB τ l + n πB τ (15)
em que nB é o diâmetro externo da área anelar e τ a resistência ao cisalhamento do solo. Por unidade
de área, tem-se:
πB 2
(
L n 2 −1
4
)
γ + πBτ l + nπBτ
q1 = = γ 1L (16)
πB
( )
2
n −1
2
4
onde
τ l + nτ
γ1 =γ +4 (17)
(
B n 2 −1 )
adotando-se para n o valor que torna mínima a capacidade de carga da estaca.
194
A maior limitação do uso da Equação 17 (e também 18) refere-se às incertezas sobre o valor de τ, pois
as tensões de cisalhamento ao longo da superfície DE, na Figura 7.2a, são muito dependentes da
compressibilidade do solo. Sendo o solo pouco compressível (areias compactas), as tensões
cisalhantes na região DE são muito significativas. Em contrapartida, no caso de solos fofos (areia fofa
muito compressível), essas tensões cisalhantes ao longo de DE são inexpressivas, visto que o
movimento necessário a uma penetração da fundação para baixo pode ser produzido por uma
compressão lateral da areia localizada abaixo de BD e a tendência para levantar areia acima da base
da estaca é, certamente, insignificante. Portanto, quando se escolhe um valor de τ para a Equação 17,
deve-se supor uma mobilização incompleta da resistência ao cisalhamento do solo ao longo da
superfície cilíndrica DE. Em todo caso, a compressibilidade do solo deve ser levada em consideração
pelo fato dela influenciar decisivamente na capacidade de carga da fundação.
b) Fórmula de Meyerhof:
Tendo como base a Equação 14, Meyerhof propõe as seguintes expressões para cálculo do atrito
lateral unitário de estacas:
__
K S γL
σh = (18)
2 cos δ
__
para solos granulares (ca = 0), sendo δ o ângulo de atrito solo-estaca e K S o coeficiente de empuxo
se os valores da resistência lateral; KS seria obtido no trecho inferior (2B a 4B) da haste de ensaio e
__
K S obtida a partir da média dos KS obtidos em diferentes profundidades. Na Tabela 7.5, de Broms
(1966), são apresentados valores de KS para fins de estimativas do atrito lateral unitário. Para δ sugere-
se os seguintes valores (Velloso e Lopes, 2002 apud Aas, 1966):
195
Observações:
i) se a ponta da estaca estiver apoiada numa profundidade L´, abaixo do lençol freático, a capacidade
de carga total da estaca (Qr) deverá ser reduzida pela aplicação do seguinte coeficiente multiplicador:
1 − γ ´ L´
1 − (20)
γ L
em que γ´é o peso específico do solo submerso.
ii) para solos argilosos (φ = 0), Meyerhof propõe a seguinte expressão para a aderência lateral:
q l , rup = c a (21)
ql ,rup = αS u (22)
em que α é um coeficiente que pode variar de 0,2 a 1,25, de acordo com o tipo de estaca e o tipo solo,
conforme mostrado na Figura 7.6.
Foi visto que ql,rup depende de duas parcelas: i) aderência (ca), a qual independe da tensão normal
efetiva (σ´h) que atua contra o fuste e ii) a parcela de atrito, que aí sim, é proporcional a essa tensão. A
experiência adquirida com estacas de rugosidade normal permite adotar tg δ = tg φ´, sendo φ´ o ângulo
de atrito interno do solo amolgado em termos de tensões efetivas. Como a tensão normal atuando
contra o fuste é normalmente relacionada à tensão vertical efetiva na profundidade correspondente,
196
através de um coeficiente de empuxo KS, pode-se reescrever a Equação 14, para solos granulares (ca =
0) da seguinte forma:
Segundo Velloso e Lopes (2002), o coeficiente KS é afetado pelo comprimento e forma da estaca,
principalmente se for cônica. Em estacas escavadas e jateadas, KS é igual ou menor que K0 (coeficiente
de empuxo no repouso). Em estacas cravadas com pequeno deslocamento, ele é um pouco maior,
porém, raramente excedendo 1,5, mesmo em areias compactas. Para estacas cravadas curtas e de
grande deslocamento, instaladas em areia, KS pode se aproximar do coeficiente de empuxo passivo,
dado por Kp = tg2 (45° + φ/2).
d.1) Método α: nos solos argilosos, a resistência lateral tem sido relacionada á resistência ao
cisalhamento (coesão) não drenada, conforme visto na Equação 22. Os valores de α: são apresentados
na Figura 7.7, cujas curvas levam em consideração a natureza da camada sobrejacente e a resistência
não-drenada da argila antes da instalação da estaca.
d.2) Método β: De acordo com discussões apresentadas em Velloso e Lopes (2002), Burland (1973)
sugeriu que o atrito estaca-solo não fosse associado à resistência ao cisalhamento não-drenada, mas
sim às condições de tensões efetivas, de cuja proposta são tiradas as seguintes considerações:
onde σ´h é a tensão horizontal efetiva que atua na estaca e δ o ângulo de atrito efetivo entre a argila e o
fuste da estaca.
iv) Admite-se que a tensão horizontal efetiva é proporcional à tensão vertical efetiva inicial, σ´v:
σ , h = Kσ vo
,
(25)
197
Figura 7.7 – Curvas para obtenção do coeficiente α (Velloso e Lopes, 2002, apud Tomlinson, 1994).
Com relação à Equação 25, há que se ter bastante cuidado para não confundir K com o coeficiente de
empuxo do solo no repouso, K0, visto que o valor de K é muito dependente do processo de instalação
da estaca no solo, que pode ser muito diferente da situação original. Com a Equação 25, pode-se
reescrever a Equação 24 da seguinte forma:
Da Equação 26, o produto Ktgδ pode ser substituído pelo símbolo β, resultando em:
ql, rup
β= = Ktgδ
σ v, 0 (26A)
Valores médios de β podem ser obtidos empiricamente, a partir de provas de carga, desde que se tenha
deixado passar algum tempo entre a instalação da estaca e a realização do ensaio, e que o ensaio seja
realizado de forma lenta.
198
Valores de β para argilas moles normalmente adensadas:
onde φ´a é o ângulo de atrito do solo amolgado e drenado, que estima-se se situar entre 20° e 30°.
Ql ,rup
1 L ,
ql ,rup = = ∑ σ K tgδ∆L (27A)
πBL L 0 v 0 0
Método λ: Nesta abordagem, expressa-se a resistência lateral em função da tensão vertical efetiva e da
resistência não-drenada da argila. Por isso, o método recebe também a denominação de “enfoque
misto”. Neste caso, a resistência lateral pode ser calculada por:
ql, rup = λ σ v, 0 + 2 S u
(28)
em que λ é um coeficiente que depende do comprimento da estaca, o qual varia de 0,1 para estacas
com mais de 50m de comprimento a 0,3 para estacas menores de 10m.
Pesquisas têm revelado que após a cravação de uma estaca em um depósito de argila mole há um
aumento considerável da resistência lateral com o decorrer do tempo. Esse aumento na resistência está
associado à migração de água dos poros, causada pelo excesso de poropressão gerado durante a
cravação da estaca.
Vários pesquisadores têm confirmado essa ocorrência (Velloso e Lopes, 2002), dos quais pode-se
destacar Soderberg (1962), o qual propõe uma equação para previsão do tempo (t) necessário para o
desenvolvimento da máxima capacidade de carga da estaca a partir da cravação. Conforme visto na
Equação 29, esse tempo é proporcional ao quadrado do diâmetro ou raio da estaca (r). Neste caso, o
ganho de resistência com o tempo seria controlado pelo fator tempo (Th), definido por:
199
Cht
Th = (29)
r2
onde Ch é coeficiente de adensamento horizontal do solo.
Vésic (1977) observou experimentalmente que estacas cravadas de até 35cm de diâmetro atingem a
capacidade de carga máxima ao final de um mês, ao passo que estacas com 60cm de diâmetro podem
levar até um ano para atingir essa capacidade de carga (Velloso e Lopes, 2002).
No caso de estacas cravadas em argilas rijas, pode haver diminuição das poropressões na argila ao
redor do fuste, como conseqüência da cravação. Neste caso, haveria uma migração da água dos poros,
contrária à referida anteriormente, provocando uma espécie de amolecimento da argila numa região
anelar no entrono do fuste, tendo como conseqüência uma redução da capacidade de carga da estaca
com o decorrer do tempo, a partir da cravação.
Esse método foi desenvolvido a partir de um estudo comparativo entre resultados de provas de carga
em estacas e de SPT, mas pode ser utilizado também com dados do ensaio de penetração do cone
(CPT). A expressão da capacidade de carga foi concebida relacionando-se a resistência de ponta e o
atrito lateral da estaca à resistência de ponta (qc) do CPT. Para levar em conta as diferenças de
comportamento entre a estaca (protótipo) e o cone (modelo), os autores propuseram a introdução dos
coeficientes F1 e F2, ou seja:
200
qc
qp = (30) qc = k.N (32)
F1
para a resistência de ponta da estaca, e
q
ql = c (31) qc = αk.N (33)
F2
para a resistência lateral da estaca.
Introduzindo-se correlações entre o SPT e o CPT
(cone holandês, mecânico), e o coeficiente α
Logo, a capacidade de carga total da estaca
estabelecido por Begemann (1965) para
será:
correlacionar o atrito lateral do cone com
kN αkN
ponteira Begemann com a tensão de ponta, qc, Qr = A p + U∑ ∆l (34)
F1 F2
tem-se:
201
Tabela 7.8 – Valores de k e α (Monteiro, 1997). Tabela 7.9 – Valores de F1 e F2 (Monteiro
1997).
Tipo de solo k (kgf/cm2) α (%) Tipo de estaca F1 F2
Franki fuste apiloado 2,30 3,0
Areia 7,3 1,4
Franki fuste vibrado 2,30 3,2
Areia siltosa 6,8 2,0
Metálica 1,75 3,5
Areia silto-argilosa 6,3 2,4
Premoldada de concreto* 2,50 3,5
Areia argilo-siltosa 5,7 2,8
Premoldada de concreto** 1,20 2,3
Areia argilosa 5,4 3,0 Escavada com lama 3,50 4,5
Silte arenoso 5,0 2,2 Raiz 2,20 2,4
Silte areno-argiloso 4,5 2,8 Strauss 4,20 3,9
Silte 4,8 3,0 Hélice Contínua 3,00 3,8
Figura 7.8 – Proposta para determinação da resistência de ponta de estacas (Monteiro, 1997).
q ps + q pi
q p , rup = (35)
2
No caso de estacas Franki, a área da ponta é calculada com o volume da base alargada (Vb), admitida
superfície de forma esférica:
2
3V 3
Ap = π b (36)
4π
202
2.3.3.2 Método de Décourt e Quaresma (1978)
Esses autores apresentaram uma proposta para estimativa da capacidade de carga de estaca com
base nos valores do N do SPT. O método foi originalmente desenvolvido para estacas de
deslocamento, mas, a exemplo do método de Aoki e Velloso, tem passado por modificações para
contemplar outros tipos de estacas. O método de Décourt e Quaresma tanto usa dados do SPT quanto
do SPT-T. Desse último, se pode obter o Neq (N equivalente), que segundo Décourt (1991), é o valor do
Torque, em kgf.m, divido por 1,2, conforme a Equação 37. O Neq assim calculado corresponde a um
valor do N do SPT obtido sob um nível de eficiência da ordem de 72%. Entenda-se como eficiência (η),
o valor da energia efetivamente usada para cravar o amostrador no solo dividida pela energia potencial
do martelo (de 65 kgf) no instante em que o mesmo é erguido até uma altura igual a 0,75 m.
T
Neq = (37)
1,2
a) Resistência de ponta
onde C é apenas função do tipo de solo, conforme mostrado na Tabela 7.10, e só para estaca cravada.
__
O valor N a ser usado na Equação 38 corresponde à média de três valores de N: o do nível da ponta
da estaca, o imediatamente abaixo e o imediatamente acima desta.
b) Atrito lateral
São considerados os valores do N ao longo do fuste, sem levar em conta aqueles utilizados no cálculo
da resistência de ponta, os menores que 3 e os superiores a 50. Dessa forma, obtém-se a média e, com
auxílio da Equação 39, estima-se o valor do atrito médio, em kN/m2, ao longo do fuste da estaca.
_
N (39)
q = 10 + 1
l, rup 3
203
2.3.3.2.1 Método de Décourt e Quaresma para outras tipos de Estacas
Para contemplar outros tipos de estacas, diferentes da estaca padrão, definida como uma estaca
cravada no solo (de deslocamento) e cilíndrica, no ano de 1996 Décourt sugeriu incluir na equação de
capacidade de carga coeficientes de ponderação para a ponta (α) e para o atrito lateral (β), obtendo
assim a seguinte equação:
Q = αq A + β q A (40)
r p p l l
ou ainda,
_
_ Nl
Q = αC Np A + 10 β + 1 (41)
r p 3
__ __
em que N p é a resistência à penetração na região da ponta da estaca e N L corresponde à média de N
ao longo do fuste, ressaltando que no caso do valor de N ser menor que 3, o valor adotado deve ser
igual a 3, usando-se o mesmo critério para N ≥ 15 (adota-se N = 15) para estacas escavadas. Os
coeficientes α e β são sugeridos na Tabela 7.11. Cabe lembrar que a ruptura aqui definida, quando a
mesma não é indicada, corresponde à carga que provoca um recalque no topo da estaca de 10% do
seu diâmetro.
O coeficiente de segurança da norma brasileira é global e igual a 2,0. Entretanto, no método de Décourt
e Quaresma são propostos valores de FS parciais para a resistência de ponta (FSp = 4) e para o atrito
lateral (FSl = 1,3). Assim a carga admissível da estaca (Qadm) será o menor dos dois valores calculados
conforme exposto a seguir:
Q p , rup Ql , rup Qr
Qadm = + e Qadm = (42)
4,0 1,3 2,0
204
2.3.3.3 Método de Velloso (1981)
Pedro Paulo da Costa Velloso (Velloso, 1981) apresentou um critério para o cálculo da capacidade de
carga de estacas e de grupos de estacas, com base no CPT. Para uma estaca, de comprimento L, fuste
de diâmetro B e ponta Bp, a capacidade de carga pode ser obtida da seguinte equação:
Observações:
a) Dispondo-se apenas de resultados de sondagem com SPT, para o método de Velloso (1981), pode-
se adotar:
q p, rup = aN b (45)
onde N é a resistência à penetração do SPT e os parâmetros a´, b´, a e b, são obtidos de correlações
entre o SPT e o CPT, cujos valores são fornecidos na Tabela 7.12.
205
2.3.3.4 Método de Teixeira
__ __
Qr = α N b Ab + Uβ N L L (47)
__
em que N b = valor médio do NSPT medido no intervalo de 4B acima da base da estaca e 1B abaixo da
base da estaca
__
N L = valor médio do NSPT medido ao longo do fuste da estaca
Ab = área da base da estaca (ponta)
L, B = comprimento, diâmetro da estaca, respectivamente.
O parâmetro α é função da natureza do solo, enquanto β é função do tipo de estaca, conforme Tabela
7.13. Vale lembrar que os dados da tabela são válidos para valores de 4 < NSPT < 40. Os dados da
Tabela 7.13 não se aplicam ao cálculo de estacas premoldadas de concreto, cravadas em argilas moles
sensíveis. Também, para as estacas dos tipos I,II e IV, o coeficiente de segurança deve ser o da norma,
ou seja, 2, enquanto que para as estacas escavadas, do tipo III, recomenda-se para a ponta FS = 4,0, e
para o atrito lateral, FS =1,5.
206
2.3.3.5 Métodos para Casos Particulares de Estacas
São mencionados neste item alguns métodos de autores brasileiros apresentados para tipos exclusivos
de estacas.
Trata-se de um método proposto por Alonso (1983) para estimativa do comprimento de estacas
escavadas. Nesta proposta, se U é o perímetro da estaca, se os valores do NSPT são determinados a
cada metro (é o comum) e se Ql,rup é a parcela de resistência lateral da estaca, tem-se:
ξQl , rup
∑N = U
(48)
ou
U∑ N
Ql , rup = (49)
ξ
onde o somatório é realizado ao longo do fuste da estaca. O valor mais provável de ξ é igual a 3.
Coeficiente de segurança: para estaca escavada, a norma brasileira estabelece FS igual a 2,0, em
relação à soma das cargas de ponta e lateral. Além disso, deve ser atendido o seguinte critério:
Foi apresentado um método por Cabral (1986), no qual a capacidade de carga de uma estaca tipo raiz,
com um diâmetro final B ≤ 45cm, injetada com uma pressão p ≤ 4 kg/cm2, pode ser estimada com:
Q r = U ∑ β 0 β 1 N∆L + β 0 β 2 N p A p (51)
207
Tabela 7.14 – Fator β0 Tabela 7.15 – Fatores β1 e β2 (Cabral, 1986).
O método de Antunes e Cabral (1996) também permite obter previsões bastante seguras de capacidade
de carga de uma estaca hélice contínua, com valores até maiores que 250 tf, de acordo com a seguinte
equação:
Q r = U ∑ β 1, N∆L + β 2, N p A p (52)
Este autor propõe o uso do SPT-T (SPT com a medição do Torque) para estimativa da capacidade de
carga de estacas hélice contínua a partir da fórmula geral da capacidade de carga. A resistência de
atrito lateral é obtida por:
208
A resistência de ponta é obtida por:
T(1) + T(2)
qp = β " min min (55)
2
em que
T(1) = média aritmética dos valores de torque mínimos (kgf.m) ao longo de 8B acima da ponta
min
da estaca.
T(1) = média aritmética dos valores de torque mínimos (kgf.m) ao longo de 3B abaixo da ponta
min
da estaca.
O valor do parâmetro β” depende do tipo de solo, conforme mostrado na Tabela 16.
β´1 β´2 β”
Tipo de solo
(%) (kPa/kgf.m)
Areia 4,0 a 5,0 2,0 a 2,5 200
Silte 2,5 a 3,5 1,0 a 2,0 150
Argila 2,0 a 3,5 1,0 a 1,5 100
É um método francês, baseado no CPT, que passou a ser difundido em nosso país a partir da tradução
do trabalho original feita por Godoy e Azevedo Júnior (1986). Deste método, a resistência de ponta
pode ser obtida da seguinte expressão:
qp = αp qc (56)
sendo αp um coeficiente que depende do tipo de solo (Tabela 7.17). O valo de qc a ser introduzido na
Equação 56, deverá ser a média obtida numa faixa de profundidade correspondente a 3B acima e 3B
abaixo da ponta da estaca.
O atrito lateral unitário, ql, é calculado da seguinte equação:
α qc
ql = F (57)
αs
Os valores dos coeficientes αF e αS são fornecidos nas Tabelas 17 e 18, respectivamente. Observa-se
que o valor de αF depende apenas do tipo de estaca.
209
Tabela 7.17 – Valores dos coeficientes αP e αS em função do tipo de solo (Décourt et al. 1998).
Tipo de solo αp αS
qc < 8MPa 0,40 100
Areia 8MPa < qc < 12MPa 0,40 150
qc >12MPa 0,40 200
Silte 0,45 60
Argila 0,50 50
Tabela 7.18 – Valores dos coeficientes αF e qS,máx em função do tipo de estaca (Décourt et al. 1998).
ql, máx
Interface solo-estaca Tipo de estaca αF
(kPa)
Concreto Premoldada, Franki, Injetada 1,5 120
Escavada: D ≤ 1,5m 0,85 100
Concreto
Escavada: D > 1,5m ; Barrete 0,75 80
Metálica Perfil: H ou I (perímetro externo) 1,10 120
Do método de Holeyman et al. (1997), a parcela da carga de ponta de uma estaca pode ser obtida de:
onde β = fator de forma da base da estaca (para estacas de base nem quadrada nem circular), função
da largura B e do comprimento L:
β = 1+ 0,3B/L (58A)
1,3
αb = fator empírico para levar em conta o processo executivo da estaca e a natureza do solo
Fb = fator de escala, função das características de resistência ao cisalhamento do solo.
qp(m) = resistência de ponta homogeneizada, calculada pelo método de De Beer.
O cálculo da parcela de atrito lateral pode ser feito por um dos três métodos disponíveis (Velloso e
Lopes, 2002), sendo o mais empregado o que se apresenta a seguir:
U U
Q l,rup = ξ f ∆ Q c = ∑ ξ f ∆ Q lc (58)
u l u i i
210
em que U = perímetro da estaca
u = perímetro da seção transversal da haste do cone
ξf = fator empírico para levar em conta os efeito do processo de execução (αs), o material e
rugosidade do fuste (βS) e efeitos de escala da estrutura do solo (εS), conforme Tabela 7.19.
(∆Qlc)i = acréscimo da resistência lateral do cone na i-ésima camada.
Tabela 7.19 – Valores do fator ξf em função do tipo de estaca e do solo (Velloso e Lopes, 2002).
Tipo de estaca ξf
Em areias 0,60 a 1,60
De grande deslocamento
Em argilas 0,45 a 1,25
De pequeno deslocamento 0,60 a 0,85
Escavadas 0,40 a 0,60
O ensaio de cone padrão (CPT) tem passado por diversos aperfeiçoamentos, sendo os mais recentes
relativos à medição da poropressão na ponta do cone, recebendo, por isso, o nome de Piezocone ou
CPTU (ver Figura 7.9). No Brasil, foi desenvolvido um método de previsão de capacidade de carga com
base no Piezocone, para estacas instaladas em argilas (Almeida et al., 1996). Por esse método, as
resistências de ponta e de atrito lateral podem ser obtidas das seguintes expressões:
q − σ v0
qp, rup = c (60)
k2
e
q − σ v0
ql,rup = c (61)
k1
q c − σ v0
onde k1 = 12 + 14,9 log
(62)
σ,
v0
N kt
e k2 = (63)
9
em que Nkt é um fator de cálculo da resistência não drenada (SU) no ensaio CPTU. No cálculo do Nkt
emprega-se a resistência de ponta corrigida, qT, ao invés do qc do CPT (Lunne et al, 1985), conforme
mostrado na Equação 64.
211
q − σ v0
N kt = t (64)
Su
Na realização de provas de carga sobre estaca ou tubulão busca-se um dos seguintes objetivos:
O ensaio lento é o que melhor reproduz o carregamento imposto à estaca pela estrutura futura nos
casos mais correntes (edifícios, silos, pontes, etc.). Como a estabilização dos recalques só se
completaria a tempos muito longos, a norma fixa um critério convencional, no qual se considera que o
recalque estabilizou quando o seu valor lido entre dois tempos sucessivos não ultrapassa 5% do
recalque total do estágio de carga. As leituras são feitas em tempos dobrados (1min, 2min, 4min, 8min,
15min, 30min, etc.), sendo que mesmo que a estabilização aconteça nas primeiras leituras, o tempo
mínimo para aplicação de um novo estágio é 30 minutos. O carregamento incremental é aplicado até
que se atinja o dobro da carga de trabalho da estaca. A norma ainda recomenda que último estágio de
carga seja mantido por pelo menos 12 horas antes do descarregamento, que deverá ser efetuado em 4
a 5 estágios iguais.
A prova de carga lenta é preferida quando se deseja obter informações mais detalhadas sobre os
recalques da estaca. Por outro lado, quando a principal informação a ser obtida do teste é o valor da
carga de ruptura ou dispõe-se de pouco tempo para execução do teste, pode-se optar pela realização
da prova de carga tipo rápida.
Neste caso, cada estágio de carga é mantido por apenas 5 minutos, fazendo-se as leituras no início e
no final do estágio. O carregamento total, geralmente em 10 estágios, prossegue até o dobro da carga
de trabalho prevista para a estaca. Neste caso, o descarregamento é efetuado logo após o último
estágio de carga.
Nas provas de carga a compressão, o carregamento é feito por um macaco hidráulico munido de
bomba, reagindo contra um sistema de reação, conforme o modelo disposto na Figura 7.10. Para medir
a carga efetivamente aplicada ao topo da estaca é comum a utilização de uma célula elétrica de carga,
enquanto para medição dos recalques são empregados extensômetros (relógios comparadores) fixados
em vigas de referência. O sistema de reação optado é função, dentre outras coisas, da carga máxima a
aplicar, podendo ser desde plataformas com peso (cargueiras), a vigas presas a estacas vizinhas à que
será testada. Neste último caso, há que se ter o cuidado de não danificar estruturalmente a estaca
usada como reação, caso ela faça parte do estaqueamento definitivo da obra.
Quando se deseja conhecer o modo de transferência de carga da estaca para o solo, deve-se
instrumentar o fuste desta com um ou mais dos seguintes sistemas:
a) Extrapolação
Conforme bem lembrado por Velloso e Lopes (2002), a interpretação de uma prova de carga pode gerar
controvérsias pelas diferentes visões que se pode ter de ruptura. Esses autores foram muito oportunos
ao citarem Davison (1970): “ Provas de carga não fornecem respostas, apenas dados a interpretar”.
Quando uma prova de carga não é levada à ruptura ou um nível de recalque que não caracterize a
ruptura, pode-se tentar uma extrapolação da curva carga-recalque. Para isso, existem vários métodos
disponíveis na literatura, sendo o mais usual no meio técnico brasileiro o critério de Van der Veen
(1953). A extrapolação de van deer Veen (Figura 7.11a) baseia-se numa equação matemática
(exponencial), que é ajustada ao trecho que se dispõe da curva carga-recalque:
Figura 7.11 – Extrapolação da curva carga-recalque pelo método de van der Veen (1953).
214
A carga de ruptura é obtida experimentando-se diferentes valores para estaca carga até que se obtenha
uma reta no gráfico –ln(1-Q/Qrup) versus w (recalque), conforme mostrado na Figura 7.11b .
Na aplicação do método de van der Veen, Aoki (1976) verificou que a reta obtida não passava pela
origem dos eixos, apresentando um intercepto. Por isso, Aoki propôs a inclusão do intercepto daquela
reta (β), alterando a expressão de van der Veen com a seguinte forma:
c) Interpretação
Sendo completa a curva carga-recalque obtida da prova de carga, ela precisa ser devidamente
interpretada para se definir o valor da carga de ruptura. Por mais que a curva apresente uma carga de
ruptura visual, essa definição pode ser enganadora, visto que a escala em que a curva é apresentada
pode conduzir a diferentes interpretações. Existem alguns critérios para definição da carga de ruptura
de uma estaca ou tubulão, os quais podem ser organizados em 4 categorias:
Figura 7.12 – Interpretações da curva carga: a) regra geométrica; b) pesquisa de uma assíntota vertical
(Velloso e Lopes, 2002).
215
Figura 7.12c – Interpretação da curva carga – recalque a partir do critério de ruptura convencional
(Velloso e Lopes, 2002).
A norma brasileira se enquadra na categoria “iv”, que define a ruptura pelo valor do recalque
correspondente ao encurtamento elástico da estaca somado a um deslocamento de ponta igual a B/30:
O critério da norma brasileira pode ser visualizado na Figura 7.12c (que é uma modificação do da norma
canadense), apenas substituindo-se a parcela 4mm + B/120 pelo valor do deslocamento de ponta citado
acima (B/30).
216
3.0 Capacidade de Carga de Tubulões
Embora seja considerada uma fundação profunda, por causa da sua profundidade de embutimento ser
relativamente grande, o tubulão também pode ser enquadrado no grupo das fundações diretas, visto
que praticamente toda a carga é transmitida pela base (Cintra et al, 2002).
Os tubulões a céu aberto são usados praticamente para qualquer faixa de carga, sendo seu limite de
carga limitado pelo diâmetro da base. Uma vantagem importante: durante sua execução não há
incidência de vibrações no terreno e em áreas adjacentes. De uma maneira geral, a base deve ter o
diâmetro limitado a 4 metros. É oportuno ressaltar que, menos o volume do bloco, o volume de dois
tubulões (cujo fuste seja ≥ 0,70m) é menor que o de apenas um, para a mesma carga. Daí, às vezes,
parece ilusório acreditar que o uso de um tubulão com base muito grande é melhor do que dois tubulões
de base menor.
Quando solicitado por uma vertical de compressão, as forças presentes num tubulão são as indicadas
na Figura 7.13.
217
G = peso próprio do tubulão.
Ls = comprimento do fuste.
Tem sido prática comum desprezar a resistência lateral ao longo do fuste de tubulões, e deste modo
considera-se que toda a carga do pilar é transmitida através da base. Esse procedimento pode estar
correto no caso de tubulão pneumático com camisa de concreto armado, moldada in loco, em que pelo
processo executivo, o solo lateral fica praticamente descolado do fuste. Neste caso, é bem mais prático
usar o conceito de tensão admissível também para o projeto de fundações por tubulões, conforme
sugerem Cintra el al. (2003).
Usando-se o conceito de tensão admissível, o cálculo da capacidade de carga de um tubulão pode ser
feito por um dos métodos teóricos, semi-empíricos, ou empíricos, tal como se faz, por exemplo, com
uma sapata. Alonso (1983) apresenta uma equação semi-empírica baseada no SPT, onde a tensão
admissível do tubulão é obtida por:
N
σ adm = [MPa] (68)
30
em que N é o valor médio da resistência à penetração do solo na região do bulbo de tensões gerado
pela base do tubulão. A Equação 68 é válida para valores de 6 ≤ N ≤ 18.
Para solos arenosos, a tensão admissível na base de tubulões ainda pode estimada por meio de tabela
de tensões admissíveis, como por exemplo, a que consta na NBR 6122 (1996). Naquela tabela o valor
da tensão admissível pode ser obtido por:
onde σ´0 é o valor de σ0 corrigido, obtido da referida tabela, incorporando devidamente o efeito do
tamanho da base do tubulão (Equação 69A), e q é o valor da tensão vertical ao nível da cota de base do
tubulão.
σ 0, = σ 0 1 +
1,5
(B − 2) com B ≤ 10m (69A)
8
Entretanto, Décourt et al. (1998) relatam diversos casos de provas de carga em tubulões, nos quais fica
evidenciado que sob baixas deformações (admissíveis) a parcela de resistência lateral, para tubulões
longos, é expressiva. Menciona-se que essa resistência se desenvolve plenamente (ms = 1,0) com
deformações da ordem de 5 a 10 mm, independentemente do diâmetro do fuste (Df), enquanto que a
plena mobilização da resistência de base somente se efetiva para deformações da ordem de 10% a
20% do diâmetro da base (muito grande). Portanto, para a carga de trabalho, o tubulão pode ter um
comportamento real muito diferente do previsto em projeto, na hipótese da parcela de atrito lateral não
ter sido considerada.
A parcela de resistência de base de um tubulão pode ser obtida empregando-se as mesmas expressões
usadas para sapatas. Já para a estimativa da parcela de atrito lateral, existem diversas metodologias.
Caputo (1977) apresenta uma estimativa da parcela de atrito lateral em tubulões, que depende apenas
218
do tipo de solo, conforme mostrado na Tabela 7.20. É importante ressaltar que os valores presentes na
tabela devem ser encarados apenas como estimativas preliminares, pois a mobilização das parcelas
resistentes depende dos recalques e do tipo de solo, da forma de execução, do comprimento e da
relação Dbase/Dfuste do tubulão (Décourt et al., 1998).
Tabela 7.20 – Indicação de valores preliminares para previsão do atrito lateral em tubulão
(Caputo, 1977).
Atrito lateral unitário
Tipo de solo
(kN/m2)
Solo orgânico ou argila mole 5
Silte e areia fina fofa 5 a 20
Areia argilosa fofa e argila média 20 a 50
Argila rija 50 a 100
Os tubulões a céu aberto são elementos estruturais de fundação construídos concretando-se um poço
aberto no terreno, geralmente dotado de uma base alargada. Este tipo de tubulão é executado acima do
lençol freático (natural ou rebaixado). Existindo apenas carga vertical, os tubulões a céu aberto não
precisam ser armados, colocando-se apenas uma ferragem de topo para ligação com o bloco de
coroamento ou de capeamento, conforme mostrado na Figura 7.14.
O fuste de um tubulão a céu aberto é de seção circular, a dotando-se o diâmetro mínimo de 0,7m,
enquanto a projeção da base poderá ser também circular ou em forma de falsa elipse. No caso da base
ser em falsa elipse, a relação a/b deverá ser no máximo igual a 2,5 (ver Figuras 7.15 a e b). A solução
em falsa elipse é muito empregada quando se tem tubulões próximos e a área da base de um com
seção circular tende a se sobrepor ao vizinho.
A área da base (Ab) do tubulão é calculada de maneira análoga ao cálculo da área de uma fundação
superficial, ou seja:
P
Ab = (70)
σ adm
em que P é a carga do pilar e σadm é a tensão admissível do terreno.
Se a base tiver seção circular (Figura 7.15a), o diâmetro (D) da mesma será obtido da seguinte
expressão:
πD 2 P 4P
= ⇒ D= (71)
4 σ adm πσ adm
Se a base tiver seção em forma de falsa elipse (Figura 7.15b), deve-se adotar o seguinte procedimento:
πb 2 P
+ bx = (72)
4 σ adm
Desde que seja escolhido o valor de b, pode-se calcular x e vice-versa. A área do fuste é calculada
analogamente a um pilar cuja seção de ferro seja nula. Uma fórmula simplificada é:
P
Af = (73)
σc
onde σc é a tensão do concreto a compressão do concreto.
Adotando-se fck = 13,5MPa, pode-se trabalhar com σc = 5MPa. A NBR 6122 (1996) limita um fck da
ordem de 14MPa.
O valor do ângulo α indicado na Figura 7.14b geralmente é da ordem de 60°. Dessa forma a altura H,
que é limitada a no máximo 2m, será obtida da seguinte expressão:
D −φ
H= tg60 o ⇒ H = 0,866 (D - φ ) (74)
2
para base circular, ou
H = 0,866(a - φ ) (75)
V = 0,2 Ab +
(H - 0,2) (A + A f + Ab ⋅ A f ) (76)
b
3
220
3.3 Tubulões a Ar Comprimido
No caso da camisa ser de concreto, todo o processo de cravação da camisa, abertura e concretagem
da base é feito sob ar comprimido, visto que todos estes serviços são executados manualmente. Se a
camisa é de aço, a cravação da mesma é feita com auxílio de equipamentos e, portanto, a céu aberto,
sendo apenas os processos de abertura e concretagem da base sob ar comprimido.
A pressão máxima de ar comprimido, na prática, deverá se limitar a 30 kPa, o que limita os tubulões
pneumáticos a 30 m de profundidade.
Se o tubulão for com camisa de concreto, o dimensionamento do fuste é de maneira análoga ao cálculo
de um pilar, dispensando-se a verificação da flambagem, se o tubulão for totalmente enterrado. O
cálculo é feito no estado-limite de ruptura:
fck f ´ yk
1,4 N = 0,85 A f + As (77)
1,5 1,15
Tendo-se em vista que o trabalho se dá sob ar comprimido, os estribos deverão ser calculados para
resistir a uma pressão 30% maior que a pressão de trabalho, admitindo-se a inexistência de pressões
externas de terra ou de água. Neste caso, a força radial, F, será:
F = 1,3 ⋅ p × R (78)
ou
1,61F
As = (78A)
f yk
As indicações se encontram na Figura 7.16, onde R é o raio do fuste e p a pressão de ar no tubulão.
Figura 7.16 – Esforços adicionais nos estribos por causa da pressão de ar no tubulão.
221
4.0 Métodos Dinâmicos de Capacidade de Carga de Estacas
i) As Fórmulas Dinâmicas
ii) Soluções Numéricas Baseadas na Equação da Onda (propagação de ondas de tensão em
barras).
Essa observação pode ser feita de várias maneiras, a depender da disponibilidade de equipamentos. A
forma mais comumente empregada consiste em riscar uma linha horizontal na estaca com uma régua
apoiada em dois pontos da torre do bate-estacas. Após a aplicação de 10 golpes do martelo, risca-se
novamente outra linha horizontal, mede-se a distância entre as duas linhas, obtendo-se assim a
penetração média por golpe, que é denominada de nega, conforme mostrado na Figura 7.17a. Outra
forma não menos comum consiste em prender ao fuste da estaca uma folha de papel, sendo que no
momento da cravação é apoiado um lápis perpendicularmente à estaca e, com auxílio de uma régua
apoiada em pontos fora da estaca, este é movido na direção horizontal (Figura 7.17b). O movimento
vertical da estaca fica registrado na folha que se encontrava presa ao fuste da estaca. Com essa
monitoração se pode determinar o quanto a estaca penetrou no solo e qual foi a parcela de deformação
elástica recuperada. Portanto, a nega se constitui também num controle de qualidade do
estaqueamento da obra.
(a) (b)
Figura 7.17 – Sistemas comuns de medição da nega em estacas.
222
Já existem disponíveis no mercado sistemas mais sofisticados de monitoração eletrônica, que permitem
obter registros de deslocamentos e de forças do topo da estaca durante o tempo de cravação. Para
isso, são empregados sensores colados e/ou aparafusados numa seção do fuste da estaca, geralmente
em pares diametralmente opostos: dois acelerômetros e dois medidores de deformação. Da integração
da aceleração se obtêm as velocidades e os deslocamentos, enquanto que do sinal de deformação
obtém-se o registro de tensões (ou de forças), conforme Figura 7.18.
Acelerômetro
Figura 7.18 – Sistemas de monitoração eletrônica de estacas (acelerômetros e defôrmetros), tipo PDI.
A cravação à percussão de estacas é feita através de bate-estacas, que utilizam basicamente dois
sistemas de martelo (ou pilão):
No sistema de queda livre, o martelo é erguido com auxílio de um guincho, e após alcançar a altura (h)
de queda desejada é liberada sua queda, no momento em que o tambor do guincho é desligado do
motor por um sistema de embreagem (ver Figura 7.19a).
No sistema automático, o martelo é levantado sob efeito de vapor, ar comprimido ou gases de explosão
de óleo diesel. Neste caso, o guincho é usado apenas para apoiar o martelo sobre a cabeça da estaca,
conforme se observa nas Figuras 7.19b,d.
Para proteger a estaca e o martelo durante o processo de cravação são usados ambos os seguintes
elementos (ver Figura 7.19c):
223
a) capacete: serve para guiar a estaca e acomodar os amortecedores;
b) cêpo: apoiado em cima do capacete, tem a função de proteger o martelo de tensões elevadas;
c) coxim ou almofada: fica entre o capacete e a estaca, e tem a função de proteger a cabeça da
estaca de tensões excessivas.
O processo de cravação de uma estaca é antes de qualquer coisa, um evento de natureza dinâmica.
Dessa forma, além da resistência estática do solo, existe a mobilização da resistência dinâmica de
origem viscosa, e, eventualmente o surgimento de forças inerciais. Não se deve confundir a capacidade
de carga de uma estaca obtida por um método de natureza estática com o valor obtido através de um
método dinâmico. Nas fórmulas estáticas, a carga de trabalho é obtida dividindo a carga de ruptura por
um coeficiente de segurança (em geral, 2), enquanto que nas fórmulas dinâmicas a carga de trabalho
obtém-se dividindo a resistência à cravação por um coeficiente que fará o devido desconto da
resistência dinâmica. Pelo fato das fórmulas dinâmicas serem originárias de diferentes hipóteses, os
resultados podem divergir muito dependendo da fórmula empregada.
224
Para reduzir as incertezas nos resultados da aplicação das fórmulas dinâmicas, recomenda-se, para
controle da qualidade do estaqueamento os seguintes procedimentos:
i) cravar uma estaca próxima a uma sondagem, até a profundidade prevista por método
estático para tal sondagem, observando a nega e/ou o repique;
ii) executar prova de carga e obter o coeficiente F para a fórmula dinâmica escolhida;
iii) empregar a fórmula escolhida, considerando o coeficiente F obtido, em todo o
estaqueamento, para controle da qualidade.
em que,
225
O desuso das fórmulas dinâmicas em detrimento dos métodos estáticos é um fato real, em decorrência
de não serem aplicados às estacas escavadas. Além disso, de maneira geral, as fórmulas dinâmicas só
se aplicam aos solos granulares, visto que a relação entre a resistência dinâmica e a estática da estaca,
expressa pela fórmula de cravação, deveria ser independente do tempo, o que não é verdade quando
se trata de solos argilosos. Outro aspecto relevante é que a energia decorrente do golpe do martelo
pode nem sempre ser suficiente para mobilizar a resistência máxima do sistema solo-estaca.
Apesar das críticas às fórmulas dinâmicas baseadas na nega, as mesmas têm uma aplicação
importante no controle da uniformidade do estaqueamento, quando se deseja manter durante a
cravação, negas aproximadamente iguais para estacas com carga e comprimentos de mesma ordem de
grandeza. Entre as diversas fórmulas existentes com base na nega, ou seja, partindo do choque entre
dois corpos conforme a lei de Newton, destacam-se as seguintes:
2
η.W.h ⋅ W + e .P
QULT = (80)
c W +P
s+
2
em que
2
Qult = W .h (81)
s(W + P)
W 2 .h
s= (81A)
Q (W + P)
ult
Para uso desta fórmula recomenda-se aplicar FS = 10 para o caso de martelo de queda livre, e FS = 6
para martelos a vapor.
226
4.3.3 Fórmula dos Dinamarqueses
Qult =
ηWh (82)
1 (2ηWhL)
s+
2 AE
em que
L = comprimento da estaca
A = área de seção transversal da estaca
E = módulo de elasticidade do material da estaca.
Recomenda-se usar na fórmula dos dinamarqueses η = 0,7 para martelos de queda livre e η = 0,9 para
martelos diesel, com coeficiente de segurança FS = 2. Como orientação para controle da cravação,
sugere-se as relações contidas na Tabela 7.21.
Na fórmula de Brix, adota-se FS = 5, ou seja, a carga última representa 5 vezes a carga admissível da
estaca.
A fórmula de Brix deu origem a uma expressão análoga para controle de cravação de estacas tipo
Franki. Neste caso, o peso da estaca (P) é substituído pelo peso do tubo e são introduzidos dois
coeficientes empíricos para levar em conta a rugosidade do fuste (0,75) e a menor área da base durante
a cravação (0,85). A fórmula de Brix para estaca Franki fica com a seguinte forma:
4W 2Ph
A
Qult = 0,75 ⋅ 0,3 + 0,6 b (84)
s(W + P)2
A f
em que
Ab = área do círculo máximo da esfera com volume igual ao da base (Vb)
Af = área da seção transversal da estaca, conforme orientações contidas na Tabela 7.22.
227
Tabela 7.22 – Características de estacas tipo Franki (Velloso e Lopes, 2002).
Diâmetro Vb Vb Ab Ab Af P/m
mínimo usual mínimo usual Típico
(mm) (litros) (litros) (m2) (m2) (m2) (kgf/m)
350 90 180 0,243 0,099 180
400 180 270 0,386 0,126 200
450 270 360 0,316 0,505 0,159 250
520 360 450 0,453 0,542 0,212 300
600 450 600 0,710 0,283 400
É importante entender o comportamento da estaca desde o início do seu carregamento até acontecer a
ruptura, o que se dá a partir da mobilização da resistência de atrito lateral, de ponta ou de ambos. A
este estudo se dá o nome interação estaca-solo ou mecanismo de transferência de carga da estaca
para o solo, cujo entendimento pode ser facilitado com auxílio das Figuras 7.21 (a, b, c).
Na Figura 7.21a, mostra-se a carga aplicada à estaca e a reação do solo à estaca, representada por
tensões cisalhantes desenvolvidas ao longo do fuste (atrito lateral) e tensões normais na base
(resistência de ponta). A resultante das tensões cisalhantes (τ) é a carga de fuste (Qf) e a das tensões
normais é a carga de ponta (Qp), cujas parcelas equilibram a carga aplicada (Q). Na Figura 7.21b
apresenta-se um diagrama de carga axial da estaca para o solo, que corresponde a uma tensão de
atrito lateral uniforme ao longo do fuste (τs) e transferência de carga linear, enquanto que na Figura
7.21c mostra-se o deslocamento que sofre a estaca sob a carga Q, em que se percebe o recalque do
topo da estaca (w) e o recalque da ponta (wp). A diferença entre deslocamento do topo e o da ponta é o
encurtamento elástico da estaca (ρ), que compete ao elemento estrutural da estaca, ou seja, do seu
material constituinte.
O encurtamento elástico da estaca é obtido da seguinte forma:
L
Q( z ) 1
L
A diagrama
ρ=∫ dz = ∫ Q( z ) dz = (85)
0
AE AE 0 AE
Os diagramas de atrito lateral e de distribuição de carga ao longo do fuste mostrados nas Figuras 7.21a
e 21b correspondem a um atrito uniforme. Outros modelos de distribuição de atrito lateral são
propostos, a exemplo dos modelos não uniformes apresentados por Vésic (1977).
228
Figura 7.21 – Mecanismo de transferência de carga estaca-solo (Velloso e Lopes, 2002).
Os recalques da estaca de referência isolada sob condições de carga de trabalho (com coeficiente de
segurança igual ou maior que 2) são, geralmente desprezíveis, razão pela qual os valores não são
normalmente calculados. Todavia, caso julgue-se necessário fazer uma estimativa dos recalques, pode-
se recorrer aos métodos disponíveis na literatura técnica. Os métodos de previsão de recalques de
fundações profundas podem ser grupados em três categorias, conforme sugerem Velloso e Lopes
(2002):
229
5.2.1 Métodos Teóricos (Teoria da Elasticidade)
Este método teórico propõe a previsão dos recalques de uma estaca, de forma cilíndrica, carregada
axialmente e instalada em uma massa de solo de comportamento elástico semi-infinito. Os
deslocamentos que ocorrem no solo são obtidos através da equação de Mindlin. Para a aplicação do
método, supõe-se que exista compatibilidade entre os deslocamentos da estaca e os deslocamentos do
solo adjacente para cada elemento da estaca (ver Figura 7.22). Inicialmente foi obtida a solução para
uma estaca considerada incompressível instalada em um meio elástico semi-infinito com coeficiente de
Poisson da ordem de 0,5:
QI 0
r= (86)
EB
Figura 7.22 – Estaca embutida em camada finita (Poulos & Davis, 1968).
em que
Q = carga na estaca
L = comprimento da estaca
E = módulo de elasticidade do solo
I0 = fator de influência para estaca incompressível num meio elástico semi-infinito (ver Figura 7.23a)
O fator Ι0 é a função da razão entre o diâmetro da base da estaca (Bb) e o diâmetro B da estaca, e da
relação comprimento/diâmetro da estaca (L/B), conforme mostrado na Figura 7.23a. O fator I0 sofreu
posteriormente procedimentos de correção para levar em conta os seguintes aspectos: i)
compressibilidade da estaca; ii) camada do solo de espessura finita e iii) coeficiente de Poisson. Neste
caso, o fator I0 é substituído por I, conforme está na Equação 87, e os respectivos fatores que são
230
usados para levar a em conta os aspectos i, ii e iii, são obtidos dos ábacos apresentados na Figura 7.23
(b,c,d). O módulo de elasticidade do solo é determinado através de retroanálises.
QI
r= (87)
EB
onde
I = I0RkRhRvRb (87A)
Rk = fator de correção para a compressibilidade da estaca, função do fator de rigidez, K (ver Figura
7.23b)
Rh = fator de correção para a espessura finita (h) do solo compressível (ver Figura 7.23c)
Rb = fator de correção para a base ou ponta em solo mais rígido, sendo Eb o módulo de elasticidade do
solo na ponta da estaca (ver Figura 7.23e).
K = fator de rigidez = EbRA/E, em que RA =Abase/Afuste (estaca maciça, RA = 1)
O trabalho de Poulus & Davis também aborda os seguintes aspectos: i) o deslizamento na interface
estaca-solo; ii) a heterogeneidade do meio e iii) a influência do bloco de coroamento. A Tabela 7.23
mostra valores de E´ e ν´ propostos pelos autores obtidos a partir de provas de carga.
231
Figura 7.23 e – Fator de correção Rb para a base da estaca apoiada em solo mais rígido (Eb).
232
re = (Qp + α ssQl ) A LE (88)
p C
em que
Qp = carga na ponta no estágio do carregamento
Ql = carga lateral no estágio do carregamento
Ap = área da seção transversal da estaca
Ec = módulo de elasticidade do material da estaca
αSS = fator que depende da distribuição do atrito ao longo do fuste
As parcelas de recalques devidas às cargas transmitidas na ponta e ao longo do fuste são obtidas a
partir das Equações 89 e 90, respectivamente.
Cp Q p
rp = (89)
Dqp
ClQ l
rl = (90)
Lql
onde
ql = resistência ao longo do fuste da estaca
qp = resistência na ponta da estaca
D = diâmetro da estaca
L
0,5
C l = 0,93 + 0,16 C p (90A)
D
O emprego desse método é bastante simples, principalmente por não haver necessidade do
conhecimento de parâmetros do solo de difícil determinação, como por exemplo, o módulo de
elasticidade.
233
5.2.2 Métodos Semi-Empíricos
Dentre os métodos semi-empíricos, o proposto por Hansbo (1994) sugere que o recalque de uma
estaca de atrito para cargas nunca acima da metade da carga de ruptura seja estimado através do da
equação 91, com auxílio do ábaco mostrado na Figura 7.24:
ql
s50 = (91)
K
em que
Figura 7.24 – Ábaco para determinação do recalque de uma estaca isolada pelo método de Hansbo.
Para estacas de deslocamento em solos coesivos e em solos arenosos podem ser ainda usadas as
recomendações contidas na Tabela 7.25, que nada mais é que uma regra empírica baseada na
Equação 80.
234
Uma recomendação de caráter empírico feita por Décourt (1991), baseada na análise de vários
resultados de provas de carga em estacas, indica que para cargas de no máximo 50% da carga de
ruptura o recalque da estaca situa-se entre 2 mm e 6 mm, que é valor de pouca expressividade para a
maioria das obras. Daí, o autor sugere como regra prática, na ausência de algum cálculo, adotar um
recalque esperado como um valor correspondente a 1% do diâmetro da estaca, para qualquer solo.
Para grupo de estacas escavadas e níveis de cargas de trabalho ≤ 0,5Qr, o recalque previsto em solos
arenosos é da ordem de B/30 (Presa e Pousada, 2002). Em se tratando de recalque na ruptura, Décourt
considera que a carga de ruptura convencional de um sistema estaca-solo pode ser aquela
correspondente a um recalque medido no topo ou na ponta, que é função do diâmetro ou lado da
estaca, conforme os seguintes critérios propostos:
i) 10% do diâmetro ou largura, para estacas cravadas em qualquer solo ou para estacas
escavadas em argila;
ii) 30% do diâmetro ou largura, para estacas escavadas em solos granulares.
A previsão da curva carga-recalque completa pode ser feita através de ajustes a uma curva que passa
pelo ponto de carga de trabalho versus recalque e que tem a capacidade de carga como assíntota
vertical, conforme mostrado na Figura 7.25. Todavia, nem sempre é possível se fazer a determinação
da carga de ruptura e o correspondente recalque diretamente no gráfico. Como alternativa, existem os
métodos de extrapolação. Dentre eles, destaca-se um método de ajuste muito comumente empregado
no Brasil, o de Van der Veen (1953), ilustrado anteriormente na Figura 7.11 (pág. 214), o qual é
empregado quando uma prova de carga é interrompida antes de se atingir a carga de ruptura ou não se
consegue visualizá-la com clareza na curva. A partir da previsão da capacidade de carga da estaca
(Qult) e da previsão de recalque para a carga de trabalho (wtrab) pode-se fazer uma previsão do
comportamento carga-recalque completo, com auxílio da Equação 65. A equação da curva ajustada de
Van der Veen fornece valores de w correspondentes a quaisquer cargas Q, desde que se conheça Qult
e o parâmetro α. O valor de α é obtido a partir do recalque para a carga de trabalho, a partir da
equação:
235
- ln1- trab
Q
Q
α= ult (92)
w trab
Conforme lembrado por Presa e Pousada (2002), convém ressaltar que tem sido motivo de discussões
a confiabilidade de extrapolações de curvas obtidas em provas de carga, visto que tentativas de
extrapolações limitadas apenas ao trecho inicial da curva carga – recalque (pseudo-elástico) têm
conduzido a valores de cargas de ruptura exagerados. Na opinião de Velloso e Lopes (2002) o método
sugerido por Van der Veen apresenta valores confiáveis se o recalque máximo atingido na prova de
carga for, no mínimo, 1% do diâmetro ou largura da estaca.
236
6.0 Procedimentos Gerais de Projeto
Depois de escolhido o tipo de estaca e determinada sua carga admissível (de trabalho), seja por
métodos teóricos, semi-empíricos ou de outra categoria (por exemplo, a Tabela 7.26), e escolhido o
espaçamento adequado, o número de estacas por bloco é calculado da seguinte forma:
Carga do Pilar
N º de estacas = (93)
Carga admissível da estaca
Vale ressaltar que a Equação acima só tem validade se o centro de carga do Pilar coincidir com o
centro de gravidade do estaqueamento e se no bloco forem usadas estacas de mesmo tipo e mesmo
diâmetro. A disposição das estacas por bloco deve ser feita sempre que possível de modo a conduzir a
blocos de menor volume. Quando houver superposição das estacas de dois ou mais pilares, pode-se
unir os mesmos por um único bloco. Já no caos de pilares de divisa, deve-se recorrer ao uso de vigas
de equilíbrio. Nas Figuras 7.26a e 7.26b, são indicadas algumas disposições mais comuns para estacas
em torno do centro de carga do pilar. Outras orientações importantes são enumeradas a seguir, as
quais podem ser encontradas em Alonso (1983):
a) O espaçamento, d, entre estacas deve ser respeitado, não entre estacas do mesmo bloco, mas
também entre estacas de blocos vizinhos (ver Figura 7.27).
b) A distribuição das estacas deve ser feita, sempre que possível, no sentido da maior dimensão do
pilar (ver Figura 7.28a,b). Só será permitida a situação da Figura 7.28b quando o espaçamento
com as estacas do bloco vizinho impor a condição.
c) No caso de blocos com mais de um pilar, o centro de carga deve coincidir com o centro de
gravidade das estacas (ver Figura 7.29).
d) Deve-se evitar a distribuição de estacas indicada na Figura 7.30a, pelo fato desta introduzir um
momento de torção no bloco.
e) O estaqueamento deve ser feito, sempre que possível, independentemente para cada pilar.
f) Devem ser evitados, sempre que possível, blocos contínuos longos (ver Figura 7.31a, b).
g) No caso de blocos com duas estacas para dois pilares, deve-se evitar posicionar cada estaca
embaixo de cada pilar (ver Figura 7.32a, b).
Recomenda-se indicar no projeto que os blocos de uma estaca sejam ligados por vigas aos blocos
vizinhos, pelo menos em duas direções ortogonais, se possível, e os blocos com duas estacas pelo
menos com uma viga. Para blocos de três estacas ou mais não há necessidade de vigas de amarração
(ver Figuras 7.33a, b).
237
Tabela 7.26 – Valores orientativos para projetos de estacas (Alonso, 1983).
238
Figura 7.26a – Distribuição das estacas por bloco (Alonso, 1983).
239
Figura 7.26b – Continuação – distribuição das estacas por bloco (Alonso, 1983).
240
Figura 7.27 – Espaçamento mínimo.
Figura 7.28 – Sentido indicado e não indicado do estaqueamento em relação às dimensões do pilar.
241
Figura 7.31 – Forma de evitar blocos compridos.
Figura 7.33 – Formas de ligação de blocos vizinhos por vigas: a) com uma estaca e b) com duas
estacas.
242
6.2 Arrasamento da estaca
Antes de receber o pilar, a estaca deverá ser adequadamente preparada, de forma que possa haver
uma perfeita ligação entre a fundação e a superestrutura. Essa ligação é feita a partir da cota de
arrasamento definida em projeto (ver figura 7.34a). Para isso, principalmente em estacas de concreto
moldadas in situ, é necessário remover o excesso de concreto da cabeça da estaca, que geralmente
tem qualidade inferior ao do restante utilizado na confecção do elemento estrutural (ver figura 7.34b). A
forma correta de se efetuar o arrasamento da estaca está indicada na Figura 7.34b, onde a ilustração
mostra que essa tarefa é geralmente manual, empregando-se para estacas de até 40 cm de diâmetro,
martelete e um ponteiro de aço na posição horizontal ou levemente inclinado, conforme indicado na
figura. Para estacas com mais de 40 cm de diâmetro é permitido o uso de martelo pneumático.
(a) (b)
Figura 7.34 – Arrasamento da estaca: a) estaca executada e b) formas indicadas para remoção do excesso de
concreto.
Depois de retirado o excesso de concreto, atingida a cota de arrasamento e ter sido retirado todo e
qualquer tipo de resíduo do material quebrado (recomenda-se aplicar um jato de ar para realizar a
limpeza final), a cabeça da estaca estará pronta para receber o bloco de coroamento, conforme
mostrado na Figura 7.35.
(a) (b)
Figura 7.35 – (a): Estaca pronta para receber o bloco; (b) bloco de coroamento executado.
243
7.0 Grupos de Estacas e Tubulões
Figura 7.36 – massa de solo mobilizada pelo carregamento de (a) uma estaca isolada e (b) de um grupo
de estacas.
De forma geral, as estacas quando instaladas muito próximas se comportam como se fosse um bloco, o
que é indesejável, visto que o solo nesta situação deixa de atuar quanto ao atrito lateral nas estacas
internas do conjunto. O efeito desejável do atrito lateral solo-estaca é pleno quando o espaçamento
mínimo entre os eixos das estacas é da ordem de 3B. Geralmente considera-se como elemento
individual quando o espaçamento é maior que 7B.
244
Em areias fofas, a cravação de estacas próximas provoca a compactação do solo em torno delas. Isso
faz com que a resistência do grupo seja maior do que a soma das capacidades de carga das estacas
isoladamente, o que acontece quando o espaçamento entre as estacas é entre 2B e 3B. No caso de
areias compactas, tem sido difícil mensurar um efeito positivo: pelo contrário, ele pode ser até negativo
ou causar danos às estacas já executadas, caso o espaçamento seja muito pequeno.
A literatura tem mostrado que a capacidade de grupos de estacas em areia sempre supera a soma das
capacidades das estacas individuais, e que a carga de ponta é pouco afetada pelo efeito, enquanto que
o atrito lateral pode aumentar até três vezes.
Não há uma teoria racional para estimar a capacidade de carga de grupo de estacas. Na prática da
Engenharia de Fundações, tem sido adotada uma postura conservadora, favorável à segurança,
adotando-se a eficiência de um grupo de estacas cravadas igual a 1, ou seja:
n
Q grupo = ∑ Qr (isolada) (94)
1
No caso de estacas escavadas, a prática também tem revelado uma posição mais conservadora dos
profissionais, utilizando eficiências inferiores à unidade, mais freqüentemente igual a 0,7:
n
Qgrupo = 0,7∑ Qr (isolada ) (95)
1
Postura semelhante tem sido adotada no caso de grupos de estacas em argilas, onde a capacidade de
carga do grupo é sempre menor do que a soma das capacidades individuais de cada estaca. Conforme
apresentado por Presa e Pousada (2002), pode-se estimar a eficiência (η) de um grupo de estacas
instaladas em argilas, através da fórmula empírica de “Efeito de Grupo de Los Angeles”, isto é:
η =1−
[
Φ m(n − 1) + n(m − 1) + 2 (m − 1)(n − 1) ] (96)
π m⋅n
245
7.3 – Recalques de Grupo de Estacas
A literatura técnica já possibilita efetuar o cálculo de recalques de grupos de estacas com base em
métodos teóricos (teoria da elasticidade) e métodos empíricos, de onde se podem estabelecer relações
entre o recalque de um grupo e o de uma estaca isolada.
A metodologia pioneiramente empregada para a previsão de recalque de um grupo de estacas foi
apresentada por Terzagui e Peck, por volta de 1948. O método consiste em calcular o recalque do
grupo como se fosse uma fundação direta de dimensões equivalentes, virtualmente apoiada numa
determinada cota acima da ponta das estacas e perímetro definido pela linha que contorna
externamente o grupo. É o método do “radier fictício”, cujo exemplo está mostrado na Figura 7.37.
A abordagem do radier fictício para o cálculo de recalques de um grupo de estacas é adotada pela
norma brasileira NBR 6122 (1996). Neste caso, depois de se obter a sapata gigante ou o radier
equivalente apoiado a 1/3 do embutimento das pontas estacas na camada suporte de espessura F
(Figura 7.37), o recalque do grupo é calculado lançando-se mão de métodos disponíveis na bibliografia
para este tipo de fundação, geralmente os métodos elásticos.
Figura 7.37 – Método do radier fictício, empregado pela NBR 6122 (1996).
Há ainda na literatura vários métodos empíricos para estimativa da razão (αg) entre o recalque do grupo
(wg) e o de uma única estaca sob a mesma parcela de carga do grupo (wi), desde que as estacas
estejam unidas no topo por um bloco de coroamento, ou seja:
w
g
αg = (97)
w
i
Uma proposta de Fleming et al. (1992), estabelece que para um grupo formado por “n” de estacas, a
razão de recalques pode ser estimada da seguinte forma:
η
αg = n (97A)
onde o expoente η varia entre 0,4 e 0,6. O limite inferior corresponde a estacas de atrito, enquanto que
os valores próximos ao limite superior correspondem a estacas de ponta, sendo razoável um valor
médio igual a 0,5. Uma sugestão de Poulus (1989) indica η = 0,33, para grupos de estacas de atrito em
areia e η = 0,50, para grupos de estacas em argila.
246
7.3.1 – Recalques de Grupo de Estacas Instaladas em Areia
B
g
αg = (99)
B
Outra proposta disponível é a de Meyerhof (1976), que permite a estimativa do recalque de um grupo de
estacas (wg):
9,2q B
g
wg = (cm) (100)
N
onde N = a média da resistência à penetração do SPT, obtida numa profundidade Bg abaixo da ponta
das estacas;
q = tensão equivalente aplicada pelo grupo de estacas ao solo (kgf/cm2).
O autor da proposta recomenda que se adote o dobro do valor obtido pela Equação 100 para grupo de
estacas em areias siltosas.
Neste caso é usual o emprego o método do “radier fictício”, apresentado no item 7.3, conforme
esquematizado na Figura 7.37.
O atrito lateral entre o solo e a estaca se desenvolve quando há um deslocamento relativo entre ambos.
Quando a estaca recalca mais que o solo, desenvolve-se o Atrito Positivo, que contribui para a
capacidade de carga da estaca. Quando acontece o contrário, ou seja, o solo recalca mais que a
estaca, acontece o fenômeno denominado Atrito Negativo, que terá como causa sobrecarregar a
estaca. É como se uma parte do solo ficasse “pendurada à estaca”, puxando-a para baixo. O atrito
negativo tem algumas origens, sendo a mais comum quando estacas são cravadas através de aterros
recentes, construídos sobre solos compressíveis, com suas pontas apoiadas em solos competentes (ver
Figura 7.38a). Outra causa é quando se promove um rebaixamento do lençol freático em camada de
areia acima de uma camada de argila mole. Isto coloca a argila em processo de adensamento,
247
provocando o atrito negativo nas estacas da obra ou de obras vizinhas, conforme mostrado na Figura
7.38b.
Figura 7.38 – Causas de atrito negativo: a) aterro recente sobre solo compressível; b) rebaixamento do
lençol freático.
Outros casos, menos comuns, são descritos na bibliografia técnica (por ex. Décourt et al., 1998; Velloso
e Lopes, 2002). Nos dois casos aqui mencionados, percebe-se que o atrito negativo decorre de
adensamento de camadas de solo de baixa permeabilidade. Portanto, trata-se de um fenômeno que
ocorre ao longo do tempo, crescendo até atingir um valor máximo. A literatura sobre o assunto também
deixa claro que o atrito negativo é um problema de recalque de fundação. De fato, o fenômeno é
incapaz de levar à ruptura o sistema estaca-solo por perda de capacidade de carga, porém é capaz de
romper estruturalmente a estaca, por compressão ou por flambagem (Combarieu, 1985, citado por
Velloso e Lopes, 2002). A ruptura do sistema solo-estaca associa-se sempre ao desenvolvimento de
grandes deformações com relação ao solo circunvizinho, o que, caso viesse a ocorrer, naturalmente já
teria desmobilizado todo o atrito negativo (Décourt et al., 1998).
A compreensão do fenômeno do atrito negativo é muito mais simples do que sua quantificação. Há o
grupo dos métodos elásticos e o dos elasto-plásticos. Esses métodos têm a desvantagem de
necessitar, muitas vezes, da estimativa de parâmetros do solo de difícil obtenção. Há também as
correlações semi-empíricas, que são muito mais práticas, porém devem ser usadas com cautela.
Décourt (1982) apresenta uma formulação semi-empírica para avaliação da parcela de atrito negativo
em estacas isoladas, baseada na fórmula de Décourt e Quaresma (1978). O autor propõe para o cálculo
da parcela de atrito negativo unitário:
248
ql = 3,33N + 10 [kN/m2] (101)
onde N é o valor médio da resistência à penetração do SPT no trecho da estaca submetido ao atrito
negativo.
Para quem deseja se aprofundar no assunto sugere-se a consulta às várias referências encontradas em
Velloso e Lopes (2002).
A Norma Brasileira de Fundações tem implícito coeficiente de segurança 2,0 para cargas permanentes
e 1,5 para a parcela de atrito negativo.
Em se tratando de atrito negativo em grupos de estacas, a literatura revela uma situação mais
confortável, uma vez que as estacas internas ficam praticamente livres do efeito. Segundo Décourt et al.
(1998), o assunto foi exaustivamente investigado por Kuwabara e Poulus (1989), de cujo estudo foram
extraídas as seguintes conclusões:
i) A força de arraste máxima nas estacas do grupo decresce significativamente à medida que o
espaçamento entre as estacas decresce;
ii) A redução na força de arraste independe substancialmente do número de estacas, desde que o
grupo tenha mais que aproximadamente nove estacas;
iii) As estacas internas do grupo desenvolvem força de arraste menor do que as externas;
iv) O movimento superficial do solo necessário à mobilização do deslizamento total dentro do grupo
de estacas pode ser muito maior do que o correspondente a uma estaca isolada;
v) Para um grupo de estacas com bloco de coroamento rígido, é possível que forças de tração se
desenvolvam na parte superior das estacas externas.
Cabe ressaltar que essas teorias apresentaram razoável concordância quando aplicada a casos de
obra.
249
9.0 Exemplos de Aplicação
1) Utilizando o método de Aoki e Velloso, calcular a carga admissível de uma estaca do tipo Franki, com
diâmetro do fuste igual a 40 cm e volume do bulbo V = 180 litros. O comprimento da estaca e as
características geotécnicas do solo são dados na figura abaixo.
Solução:
U = π ⋅ 0,4 = 1,26 m (perímetro da estaca)
4
π ⋅ R 3 = 0,18m ⇒ R ≅ 0,35m (raio da esfera correspondente ao volume da base alargada)
3
Ab = π ⋅ 0,35 2 = 0,38m 2 (área de seção transversal da base alargada)
Carga de ponta:
KN 0,8⋅18
qp = = = 5,8 MPa ou 5800 kPa
F1 2,5
Q p = 0,38 ⋅ 5800 = 2200 kN , aproximadamente 220 tf.
OBS.: O valor
médio de N foi
adotado o inteiro
mais próximo.
250
Qrup = Q p + Ql = 2200 + 190 = 2390 kN = 239 tf
Qrup 2390
Qadm = = = 1195 kN (≅ 120 tf)
2 2
Como este valor (120 tf) é superior ao indicado na literatura, para este tipo de estaca (850 kN), por
medida de segurança adota-se o valor recomendado na bibliografia como a carga de trabalho, em
detrimento do valor calculado. Ou seja, a carga de projeto dessa estaca será 85 tf.
2) Calcular a nega para 10 golpes de um pilão com 30 kN de peso, caindo de uma altura constante de
0,90 m sobre uma estaca de concreto armado, vazada, com 42 cm de diâmetro externo, 26 cm de
diâmetro interno, 15 m de comprimento e carga admissível igual a 100tf.
Dados da estaca
Dext = 0,42 m
Dint = 0,26 m
L = 15 m
Qtrab = 100 tf = 1000 kN
Solução:
Fórmula de Brix
W 2 .P.h
Nega ⇒ s = .....C/... .FS = 5
Qult (W + P)2
Peso da estaca ⇒ P =
π
4
( )
0,42 2 − 0,26 2 (25)(15) = 32 kN
s=
(30 )2 (32)(900 ) = 13,49 mm
(5000 )(30 + 32)2
1,35cm 13,5cm
Portanto, a nega prevista será ⇒ s = = .
golpe 10 golpes
Obs.: Para controle do estaqueamento, no campo é feita a medição da nega para comparação com o
valor previsto. Caso o valor medido seja menor ou igual ao previsto, a estaca atende aos critérios
estabelecidos em projeto e poderá ser encerrada a cravação. Caso contrário, a estaca continuará sendo
cravada até que o valor previsto da nega seja alcançado.
251
10.0 Bibliografia Consultada
1) Aas, G. (1966), Baerceevne av peler I frisksjonsjordater, NGI Forening Stipendium, Oslo. Citado
por Velloso e Lopes (2002).
2) Aoki, N. (2000), Reflexões sobre a prática de Fundações no Brasil, Palestra no Núcleo Regional
da ABMS, em Santa Catarina.
3) Alonso, U. R. (1983), Exercícios de Fundações, Editor Edgard Blücher Ltda., São Paulo.
4) Antunes, W. R. e Tarozzo, H. (1998), Estacas Tipo Hélice Contínua, Capítulo 9, fundações –
Teoria e Prática, Ed. PINI, ABMS, São Paulo.
5) Broms, B.B. (1966), Methods of Calculing the Ultimate Bearing Capacity of Piles, A Summary, Sols
– Soils, nº 18-19.
6) Danziger, B.R. (1991), Analise Dinâmica de Cravação de Estacas, Tese de D.Sc., COPPE-
UFRJ, Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
7) Das, B.M. (2000), Fundamentals of Geotechnical Engineering, Brooks/Cole.
8) Décourt, L. e Quaresma, A. R. (1978), Capacidade de Carga de Estacas a partir de Valores de
SPT, Anais, VI COBRAMSEF, vol. 1, pp. 45-53, Rio de Janeiro.
9) Fleming, W. G. K., Weltman, A.J., Randolph, M.F. and Élson, W.K. (1992), Piling Engineering. 2ª
Edition, Surrey University Press (citados por Pousada e Presa, 2002).
10) Fundações: Teoria e Prática (1998), Editora PINI, Patrocínio da Associação Brasileira de
Mecânica dos Solos, 2ª Edição, São Paulo.
11) Monteiro, P.F. (1980), Estacas Escavadas, Relatório interno de Estacas Franki Ltda, citado
por Velloso e Lopes (2002).
12) Monteiro, P.F. (1997), Capacidade de Carga de Estacas – Método Aoki-Velloso, Relatório Interno
de Estacas Franki Ltda., citado por Velloso e Lopes (2002).
13) NBR 6122 (1996), Projeto e Execução de Fundações, ABNT, 33p.
14) Presa, E. P e Pousada, M., C. (2002), Retrospectiva e Técnicas Modernas de Fundações em
Estacas, publicação da ABMS-NRBA, 2ª edição (ampliada), 107p.
15) Teixeira, A.H. (1996), Projeto e Execução de Fundações, Anais, SEFE III, vol. 1, São Paulo.
16) Terzaghi, K. & Peck, R.B. (1967), Soil Mechanics in Engineering Practice, 2nd ed.,
John Willey & Sons, Inc., New York.
17) Velloso, P.P.C. (1981), Estacas em Solo: Dados para a Estimativa do Comprimento, Ciclo de
Palestras Sobre Estacas Escavadas, Clube de Engenharia, Rio de Janeiro.
18) Velloso, D. A, e Lopes, F. R. (2002), Fundações Profundas, Vol. 2, Ed. COPPE/UFRJ.
19) Vésic, A.S. (1963), Bearing Capacity of Deep Foundations in Sand, Highway Research Record, nº
39, Washington. Citado por Velloso e Lopes (2002).
252