Você está na página 1de 4

Estética transcendental §1

Intuição:

1. “A intuição, do latim intuere, significa ver; é a visão direta e imediata de um objeto, ou


melhor, de um fenômeno.”
2. Um conhecimento só pode se relacionar com objetos por meio da intuição: “Sejam
quais forem o modo e os meios pelos quais um conhecimento se possa referir a
objetos, é pela intuição que se relaciona imediatamente com estes...”
3. O conhecimento de algo por meio da intuição é imediato: é pela intuição que (um
conhecimento) se relaciona imediatamente com estes (objetos)...
4. Ela é o fim para qual tende todo pensamento: “e ela é o fim para o qual tende, como
meio, todo o pensamento...”
5. Ela não é substancial, mas “apenas se verifica na medida em que o objeto nos for
dado”.

Sensibilidade:

1. É a capacidade para receber representações: “A capacidade de receber


representações (receptividade), graças à maneira como somos afetados pelos objetos,
denomina-se sensibilidade.”
2. Para o objeto ser-nos dado, precisa afetar o espírito por meio da sensibilidade: “Esta
intuição, porém, apenas se verifica na medida em que o objeto nos for dado; o que,
por sua vez, só é possível, [pelo menos para nós homens,] se o objeto afetar o espírito
de certa maneira.”
3. Há uma limitação imposta, na medida em que “só é possível, [pelo menos para nós
homens,]”.
4. Por intermédio da sensibilidade, os objetos nos são dados e recebemos intuições,
através da qual um conhecimento se relaciona com o seu objeto: “Por intermédio,
pois, da sensibilidade são-nos dados objetos e só ela nos fornece intuições.”

Entendimento

1. O entendimento pensa os objetos e provê conceitos.


2. Mas o pensamento tende para a intuição, pois os objetos pensados só podem nos ser
dados pela sensibilidade, que é a nossa capacidade de receber representações.

Sensação

1. É o efeito que um objeto exerce sobre a sensibilidade: “O efeito de um objeto sobre a


capacidade representativa, na medida em que por ele somos afetados, é a sensação.”
2. Intuição empírica é aquela que se relaciona com o objeto por meio da sensação.

Fenômeno

1. É o objeto indeterminado de uma intuição empírica.


2. É o que aparece para e na intuição empírica, uma vez que o noumenos é inapreensível.
Neste sentido, a intuição, por intermédio da sensibilidade, nunca vê objetos (Cf.
Intuição .1; Sensibilidade .4), mas fenômenos.
3. É matéria do fenômeno tudo o que corresponde à sensação. Uma vez que o efeito
exercido pelo objeto sobre a capacidade representativa (sensação) não pode ordenar e
traduzir o objeto numa forma, segue-se que a matéria do fenômeno é fornecida a
posteriori.
4. É forma do fenômeno aquilo que possibilita que as diferenças possam ser ordenadas
numa identidade, ou seja, numa forma propriamente dita. Do que se segue do ponto
anterior, deve encontrar-se a priori no espírito e deve ser considerada
independentemente de qualquer efeito produzido pelo objeto na capacidade
representativa. “ao que, porém, possibilita que o diverso do fenômeno possa ser
ordenado segundo determinadas relações dou o nome de forma do fenômeno.”

Intuições puras e a priori

1. São puras todas as representações, isto é, o que é dado na intuição por meio da
sensibilidade, nas quais nada se encontra que pertença à sensação: “Chamo puras (no
sentido transcendental) todas as representações em que nada se encontra que
pertença à sensação.”
2. Deverá, pois, encontrar-se no espírito um princípio de ordenação, isto é, uma forma
pura, universal e necessária das intuições sensíveis: “Por consequência, deverá
encontrar-se absolutamente a priori no espírito a forma pura das intuições sensíveis
em geral, na qual todo o diverso dos fenômenos se intui em determinadas condições.
Essa forma pura da sensibilidade chamar-se-á também intuição pura.”

Método da estética transcendental

1. Isolar a sensibilidade e abstrair os conceitos (pelo qual os objetos são pensados) que
nos são dados pelo entendimento, para que reste apenas a intuição empírica.
2. Mas o alvo não é a intuição empírica, e sim a intuição pura. Como a intuição empírica
está intrinsecamente ligada ao efeito produzido pelo objeto na capacidade de receber
representações, isto é, como está ligada à sensação, deve-se afastar tudo o que
pertença a esta, a fim de que restem somente as formas puras e a priori da intuição
sensível.
3. Chegar-se-á à conclusão de que existem duas formas puras e a priori da intuição
sensível: tempo e espaço.

§2 Do espaço

Exposição metafísica do conceito de espaço


1. Entende-se por exposição metafísica o que representa o conceito, no caso, de espaço
enquanto dado a priori, isto é, pensado por meio do entendimento enquanto universal
e necessário.

Exposição

1. O espaço não é um conceito empírico, pois redundaria numa petitio – com efeito, para
que o efeito exercido sobre a minha sensibilidade esteja relacionada a algo exterior a
mim e para que estes objetos sejam exteriores em relação a si, em lugares distintos, o
espaço já precisa estar pressuposto. Logo, não apreendemos o espaço empiricamente
para, então, apreendê-lo intuitivamente: “Logo, a representação de espaço não pode
ser extraída pela experiência das relações dos fenômenos externos; pelo contrário,
esta experiência externa só é possível, antes de mais, mediante essa representação.”
2. O espaço é uma representação necessária que fundamenta todas as intuições
empíricas. Pode não haver objetos no espaço, mas aí mesmo consideramos que há
espaço. O espaço, portanto, é uma condição de possibilidade do que aparece
(fenômeno) e nos é dado na intuição por intermédio da sensibilidade: “Consideramos,
por conseguinte, o espaço a condição de possibilidade dos fenômenos, não uma
determinação que dependa deles; é uma representação a priori, que fundamenta
necessariamente todos os fenômenos externos.”
3. O espaço não é um conceito discursivo e universal que abstraímos da intuição
empírica. Não termina aqui e começa acolá se o considerarmos como uma forma pura
e a priori da intuição sensível. Por conseguinte, é uno. Do fato de não ser empírico, se
conclui que todos os conceitos extraídos do entendimento acerca do espaço não
podem derivar senão da intuição a priori do espaço; donde se conclui que os juízos
geométricos daí aferidos são sintéticos a priori.
4. Pouco claro.

Exposição transcendental do conceito de espaço

1. A exposição transcendental é a explicação de um conceito, a fim de expor


conhecimentos sintéticos a priori.
2. 1. Para expor juízos sintéticos a priori que daí decorram, é necessário que decorram
daí conhecimentos dessa natureza.
3. 2. Que esses juízos sejam possíveis através de um dado modo de explicação.

Exposição

1. A geometria se vale de juízos sintéticos a priori acerca das propriedades do espaço.


2. O espaço é uma forma pura da intuição, e não um simples conceito. No caso de que
fosse um simples conceito, não poderia haver juízos sintéticos a priori na geometria,
uma vez que todos os juízos seriam senão explicativos. Diz-se, portanto,
sinteticamente que o espaço possui três dimensões.
3. Mas isso só é possível porque o espaço se situa no próprio sujeito, enquanto forma
pura que organiza numa identidade as diferenças dos efeitos que exercem os objetos
sobre a nossa sensibilidade e destes nos permitem obter uma representação dada na
intuição.
Consequências dos conceitos precedentes

1. O espaço nada tem a ver com a representação das coisas em si. Isto é, não é uma
determinação do objeto.
2. “O espaço nada mais é do que a forma de todos os fenômenos do sentido externo”.
Neste sentido, ele deve encontrar-se a priori, uma vez que essa capacidade de receber
representações dadas na intuição encontra-se antes de qualquer intuição empírica e,
portanto, deve conter a forma pura da intuição na qual os objetos são determinados
antes de toda experiência: “Como a receptividade do sujeito, mediante a qual este é
afetado por objetos, precede necessariamente todas as intuições desses objetos,
compreende-se como a forma de todos os fenômenos possa ser dada no espírito antes
de todas as percepções reais, por conseguinte a priori, e, como ela, enquanto intuição
pura na qual todos os objetos têm que ser determinados, possa conter, anteriormente
a toda a experiência, os princípios das suas relações.”

Você também pode gostar