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A SUCESSÃO DE ESTADOS E O TRIBUNAL PENAL


INTERNACIONAL: UMA ANÁLISE DA JURISDIÇÃO DO TRIBUNAL NA
CRIMEIA
Gabriel Thomas Dotta*

RESUMO: O presente trabalho objetiva discutir de que forma a sucessão de Estados,


entendida como a substituição de um Estado por outro em determinado território,
interfere na jurisdição do Tribunal Penal Internacional, aplicando a discussão à sua
corrente atuação na Crimeia. Para tanto, aborda o direito internacional aplicável à
sucessão de Estados e confronta-o à possível jurisdição do Tribunal na Crimeia, a partir
das conclusões preliminares da Promotoria no caso. Argumenta-se que a Promotoria
falha ao não discutir a possível anexação russa, fato que constituiria impedimento ao
exercício jurisdicional. Conclui-se que no caso foi aplicada, indiretamente, a tese da
legalidade, apenas uma entre as múltiplas possibilidade jurídicas e cuja aplicabilidade
não é consensualmente aceita.

PALAVRAS-CHAVE: sucessão de Estados; transformação de Estados; Tribunal Penal


Internacional; direito penal internacional; Crimeia; jurisdição territorial.

ABSTRACT: The present paper aims at discussing in what way does the succession of
States, understood as the substitution of a State by another in a certain territory, affect
the jurisdiction of the International Criminal Court, applying the discussion to its
ongoing procedure in Crimea. It addresses the international law applicable to the
succession of States and confronts it to the potential jurisdiction of the Court in Crimea,
as of its preliminary conclusions by the Prosecutor. It argues that the Prosecutor fails in
not addressing the potential Russian annexation, which would bar the exercise of
jurisdiction. It concludes that, indirectly, the legality thesis was applied, which is only

*
Graduando em Relações Internacionais pelo UNICURITIBA – Centro Universitário Curitiba. Curitiba,
Paraná, Brasil.

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one of the multiple juridical possibilities and which is not consensually accepted as
applicable.

KEYWORDS: succession of States; transformation of States; International Criminal


Court; international criminal law; Crimea; territorial jurisdiction.

INTRODUÇÃO
O Tribunal Penal Internacional (“TPI”, “o Tribunal”), instituído pelo Estatuto de
Roma de 1998 (“o Estatuto”), é um tribunal internacional permanente que tem por
objetivo investigar, julgar e punir indivíduos acusados de genocídio, crimes contra a
humanidade, crimes de guerra e crimes de agressão. Sua jurisdição pode ser ativada pela
solicitação de um Estado, por iniciativa do Gabinete da Promotoria do Tribunal (“OTP”,
“a Promotoria”) ou pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas (“CSNU”). Com a
exceção desse último, a jurisdição é regida pelo consentimento: ainda que a
investigação seja empreendida por iniciativa da Promotoria, respalda-se no
consentimento expresso pelos Estados no momento em que, por decisão soberana,
ratificam o Estatuto.
Desde 2013, quando o então presidente Viktor Yanukovych rejeitou um acordo
de aproximação com a União Europeia, a Ucrânia tem vivido ondas de distúrbio
político. A primeira fase desse contexto resultou na deposição do presidente, de claras
tendências pró-Rússia, por forças sociais pró-União Europeia. No momento seguinte, a
Crimeia, que possui profundos laços históricos com a Rússia, reagiu em direção oposta:
contra o novo governo ucraniano, declarou independência em busca da reaproximação
com a Rússia. Na esteira dos eventos, o novo governo ucraniano protocolou uma
declaração junto ao TPI conferindo-lhe jurisdição sobre seu território para possíveis
crimes de sua competência. Frente a isso, o OTP, no uso de suas atribuições, iniciou um
exame preliminar na Ucrânia, incluindo possíveis crimes ocorridos na Crimeia.
Em 2014, a Rússia anunciou a incorporação da Crimeia ao seu território, fato
reconhecido publicamente por seis Estados. Essa situação levanta questionamentos
sobre a aplicabilidade da jurisdição do TPI fundada em uma declaração emitida pela
Ucrânia, uma vez que a sucessão desta pela Rússia na soberania sobre a Crimeia
colocaria em cheque a competência ucraniana de delegar a jurisdição sobre a península.
Tendo isso em mente, o presente trabalho por objetivo discutir de que forma a sucessão

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de Estados, entendida como a transferência da autoridade soberana sobre determinado


território, interfere na jurisdição do Tribunal, tendo como lastro a situação na Crimeia.
Para tanto, à luz da bibliografia, dos tratados e da jurisprudência pertinentes,
discute-se, na primeira seção, o direito que rege a atuação do Tribunal, tendo como
enfoque o exercício jurisdicional; na segunda, o direito internacional que rege a
sucessão de Estados, primeiro a partir de seus elementos constitutivos e então a partir
dos debates entre as teorias constitutiva e declaratória e entre as teses da legalidade e da
efetividade; e, finalmente, na terceira seção, aborda-se o contexto histórico e eventos
que levaram ao atual estado de coisas na Crimeia, para então aplicar-se o referencial
discutido à possível jurisdição do Tribunal, confrontando-o às conclusões preliminares
da Promotoria no caso.

1. O TRIBUNAL PENAL INTERNACIONAL


O TPI tem seu tratado constitutivo no Estatuto de Roma, documento finalizado
em 1998 no âmbito da Conferência de Roma, de que participaram mais de 160 Estados
(TPI, S/D). O Estatuto entrou em vigor, junto à operação do Tribunal, em 2002, depois
de efetuadas as 60 ratificações mínimas em conformidade com seu artigo (“Art.”) 126.
O Tribunal tem por objetivo “investigar, processar e julgar indivíduos acusados
de cometer os crimes mais sérios de preocupação da comunidade internacional como
um todo” (Id., p. 3, tradução nossa), sendo estes, conforme o Art. 5 do Estatuto, o crime
de genocídio, crimes contra a humanidade, crimes de guerra, e o crime de agressão. Sua
operacionalização representa, segundo Chouliaras (2010, p. 90), o ápice de um longo
processo de institucionalização da busca por justiça global, fruto da interação entre os
Estados-nação e uma emergente sociedade civil global.
Tal processo tem seus antecedentes mais diretos nos Tribunais de Nuremberg e
de Tóquio, do pós-Segunda Guerra, e nos Tribunais ad hoc para a Iugoslávia e para
Ruanda, instituídos por força de resolução do CSNU. Foi no âmbito dessas instituições
que se desenvolveu o corpo denominado direito penal internacional (DEGAN, 2005),
sendo, desde 2002, o TPI seu principal porta-voz. O Tribunal difere de seus
antecessores sobretudo por ter caráter permanente e por ser independente de qualquer
outra instituição internacional, incluindo as Nações Unidas (“ONU”) (Art. 1 e 2 do
Estatuto).
O Tribunal conta, em novembro de 2017, com 123 Estados Partes (TPI, 2017),
sendo sua sede localizada em Haia, nos Países Baixos, e tendo sua estrutura quatro

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órgãos: a Presidência, o Gabinete do Promotor, as Câmaras e o Secretariado. A despeito


de tal divisão, há de se ter claro que, naturalmente, a Promotoria opera com total
independência do Tribunal, em consonância com o Art. 42 do Estatuto, estando sob
autoridade única do promotor-chefe. As Câmaras, por sua vez, dividem-se em câmaras
pré-julgamento, câmaras de julgamento e câmaras de apelação, conforme o Art. 39.
Característica do direito penal internacional é que, tendo caráter penal, tem por
objeto estritamente indivíduos, e nunca organizações políticas. Assim, o ramo desafio as
doutrinas jurídicas mais tradicionalistas, que não atribuem ao indivíduo o caráter de
sujeito de direito internacional público. Esse foco parte do entendimento de que a
justiça, mesmo em nível individual, é imperiosa para bens protegidos pelo direito
internacional, como a paz (SCHABAS, 2014), embora leituras alternativas, sobretudo
da criminologia, critiquem tal abordagem ao ver os crimes de que se ocupa o Tribunal
como sistêmicos, portanto irredutíveis à responsabilidade individual (CHOULIARAS,
2010, p. 93)
Em conformidade com o Art. 13, há três situações que podem ativar a jurisdição
do Tribunal. Primeiro, quando um Estado Parte do Estatuto envia a situação ao
Tribunal, solicitando que este abra uma investigação. Segundo, em que a Promotoria do
Tribunal decide iniciar uma investigação por conta própria, proprio motu, ao suspeitar
da existência de crimes sob a jurisdição do Tribunal referente a um Estado Parte. E
terceiro, em que o CSNU, agindo sob o Capítulo VII da Carta das Nações Unidas, de
1945, por meio de resolução, solicita que o Tribunal inicie uma investigação.
No terceiro caso não é necessário que o Estado a que se refere a possível
existência de crimes seja membro do Tribunal. Conforme leciona Triffterer (2008, p.
569), o CSNU pode não apenas ativar a jurisdição do Tribunal, mas também criar
jurisdição sobre um Estado não parte. Além dessas situações, ademais, consoante ao
Art. 12(3), um Estado não parte pode solicitar uma intervenção ad hoc do Tribunal, de
jurisdição limitada, sem comprometer-se ao Estatuto para além da matéria de referência.
Segundo Triffterer (2008, p. 559), houve, nos travaux preparatoires do Estatuto,
intenso debate quanto à jurisdição, variando entre os extremos da “jurisdição inerente” a
todos os casos de crimes de sua competência e uma leitura restritiva que exigisse o
consentimento do afetado em quaisquer circunstâncias. O resultado final do Estatuto
sintetiza uma espécie de compromisso entre os posicionamentos. De forma geral, a
jurisdição funda-se, aqui, no princípio do consentimento, inerente à delegação de
soberania, expresso na adoção do Estatuto por um Estado que confere ao Tribunal a

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capacidade de intervir; e sendo a atuação do CSNU uma espécie de “exceção


necessária”.
Assim, com a exceção do CSNU, tem-se que a jurisdição do Tribunal é delegada
pelos próprios Estados, prerrogativa soberana dos mesmos (TRIFFTERER, 2008, p.
556). Tal delegação, naturalmente, não é absoluta, de forma que o exercício
jurisdicional do Tribunal dá-se de forma bastante diferente daquela de seu ente
originário, restringindo-se estritamente ao permitido pelo Estatuto (DAVIDS, 2009, p.
4).
No contexto dessa delegação, fundada no consentimento, o TPI atua orientado
pelo princípio da complementaridade (TPI, S/D, p. 4), segundo o qual é obrigação
primeira dos Estados julgar e punir indivíduos acusados dos crimes de competência do
Tribunal, sendo o papel deste o de complementá-lo. Assim, conforme o Art. 17 do
Estatuto, qualquer caso que esteja sob investigação ou que já tenha sido investigado por
um Estado não pode ser de apreciação do Tribunal; com as duas exceções em que a
complementariedade atua: no caso de o Estado ser incapaz [unable] de ou mostrar-se
indisposto [unwilling] (com o objetivo de proteger nacionais) a atuar de forma genuína.
Conforme esclareceu decisão no caso Prosecutor v. Lubanga (TPI, 2006), a
jurisdição do Tribunal possui quatro dimensões: material, temporal, sobre territórios e
sobre pessoas. A primeira refere-se à existência de crimes sob competência do Tribunal
e a segunda à vigência do Estatuto no escopo temporal das ações possivelmente
criminais. As duas últimas, por sua vez, dizem respeito à jurisdição estrita do Tribunal,
conforme o Art. 12 do Estatuto: baseia-se em territorialidade e nacionalidade, não sendo
os dois elementos necessários simultaneamente. É dizer: tem-se jurisdição sobre ações
cometidas nos territórios dos Estados Partes, por nacionais de quaisquer Estados, e
sobre os nacionais dos Estados Partes, em qualquer território.
Em nenhum dos casos até o presente o recurso à jurisdição de nacionalidade fez-
se necessário. Segundo Vagias (2011, pp. 30-35), o princípio da territorialidade é uma
das mais bem estabelecidas normas do direito internacional costumeiro. O território do
Estado, para fins jurisdicionais, inclui sua massa terrestre, águas interiores, mar
territorial e todo o espaço aéreo que se estende sobre estes (Id., Ibid.).
Por fim, quanto às fontes do direito aplicável pelo Tribunal, o Art. 21 estabelece
que o Tribunal deve aplicar: primeiro, o Estatuto e outros documentos legais do TPI;
depois, os tratados, princípios e normas aplicáveis do direito internacional; e, por fim, se
necessário, os princípios gerais de direito derivados de leis nacionais dos sistemas legais

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do mundo. Assim, ao contrário do Art. 38 do Estatuto da Corte Internacional de Justiça,


o Estatuto estabelece uma clara hierarquia entre as fontes disponíveis aos juízes.
Em princípios e normas aplicáveis do direito internacional, o entendimento é que
se inclui o direito internacional consuetudinário (DEGAN, 2005, p. 80). É importante
destacar que as fontes complementares ao Estatuto não são reservadas exclusivamente
ao direito criminal, mas sim a todo o direito internacional aplicável (Id., pp. 79-80). O
uso da expressão aplicável, em vez de relevante, é de pouco efeito prático, gozando os
juízes de excepcional discrição na aplicação do direito (TRIFFTERER, 2008, pp. 704-
706), bastante compreensível haja vista o ineditismo do Tribunal.
Atualmente, o Tribunal executa 11 investigações formais, sob câmaras de
julgamento, relativas a 10 países, dos quais o único não africano é a Geórgia; 9 exames
preliminares da Promotoria; e 31 mandatos de prisão já foram expedidos, todos contra
nacionais de países africanos, estando seis indivíduos sob custódia (TPI, 2017). Tal
contexto frequentemente levanta acusações de politização do Tribunal, enquanto
instrumento ocidental, fato que levou à recente declaração da União Africana chamando
para a retirada em massa dos países africanos do Tribunal (IGUNZA, 2017).

2. O ESTADO E O DIREITO INTERNACIONAL: ELEMENTOS


CONSTITUTIVOS, SUCESSÃO E RECONHECIMENTO

2.1. A Teoria do Estado e os elementos constitutivos


Segundo Mazzuoli (2011), o Estado, em sua concepção jurídica moderna, é
[...] um ente jurídico, dotado de personalidade internacional, formado de uma
reunião de indivíduos (comunidade) estabelecidos de maneira permanente em
um território determinado, sob a autoridade de um governo independente e
com a finalidade precípua de zelar pelo bem comum daqueles que o habitam.
(p. 431)
Assim, seus elementos constitutivos seriam uma comunidade de indivíduos, um
território determinado, um governo independente e a finalidade de zelar pelo bem
daqueles que o habitam. A comunidade representa o elemento de continuidade do
Estado (Id, p. 433); o território, elemento material, o âmbito de exercício jurisdicional
de imperium e dominium (Id., p. 435); e o governo, elemento político, caracteriza-se
pela inexistência de subordinação jurídica a um poder externo (Id., p. 438).
Tais elementos variam na Teoria do Estado. Fabriz e Ferreira (2001, p. 134)
entendem que os elementos essenciais do Estado são povo, soberania e território, uma

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vez que é na alienação de algum desses que tem-se a extinção do Estado. Os autores
(Id.) entendem, ademais, que estes são intrinsecamente correlatos e,
contemporaneamente, devem ser entendidos sob a ótica democrática: a soberania seria
originária da vontade do povo, a partir do qual se exerceria a cidadania em determinado
limite físico.
Tendo-se a exceção de, por um lado, o elemento da finalidade apresentado por
Mazzuoli (2011), rejeitado por Fabriz e Ferreira (2001, p. 137), e, por outro, a
perspectiva normativo-democrática destes últimos, entende-se que os elementos centrais
são largamente correspondentes, considerando que os entendimentos de governo
independente e de soberania dizem respeito ao mesmo aspecto do Estado.
Corrobora para esta tese o entendimento de Bonavides (2014, p. 70), segundo o
qual o Estado é composto por três elementos: o político, o humano e o território. O
autor (Id., p. 71) rejeita as teses subjetivistas na análise do Estado enquanto entidade, o
que por certo incluiria a perspectiva da finalidade ou a ótica democrática, de forma que
sua tese nos parece a mais apropriada. Essas perspectivas, ainda assim, são insuficientes
para compreender a prática internacional em matéria de Estado, bastante diversa.
A Convenção de Montevidéu sobre os Direitos e Deveres dos Estados, de 1933,
é o documento de direito internacional positivado que mais diretamente aborda a
matéria, tendo sido consagrado e até hoje frequentemente referenciado (WORSTER,
2009). Segundo seu Art. 1, são os elementos constitutivos: população permanente;
território definido; governo; e capacidade de incorrer em relações internacionais.
Em que pesem tais elementos, a questão central que se destaca é que raramente
são eles objetos de apreciação nos debates relativos ao reconhecimento de sucessão de
Estados. Tem-se como resultado disso que, na prática internacional, é comum que haja o
reconhecimento de Estados em que tais elementos são, no mínimo, flexibilizados.
Mazzuoli (2011, p. 440) lembra, por exemplo, que Burundi e Ruanda foram
admitidos como membros da ONU sem que tivessem governos estabelecidos no sentido
que propõe a Teoria do Estado. Yamali (S/D, p. 9) atenta ao reconhecimento da Bósnia-
Herzegovina e da Croácia sem que seus governos exercessem controle efetivo de seus
territórios, no contexto da Guerra da Iugoslávia. Relativamente ao território, a autora
(Id., p. 3) destaca ainda o reconhecimento de Israel antes de ter suas fronteiras definidas.
Finalmente, para Worster (2009, p. 124), a constituição do Estado, na prática
internacional, pode ser entendida a partir de duas perspectivas. A primeira, que dá
origem à chamada teoria do reconhecimento constitutivo do Estado, entende o Estado

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enquanto exclusivamente um conjunto de construções legais, de direitos e obrigações


adquiridas; e a segunda, que funda a teoria do reconhecimento declaratório, entende-o
enquanto entidade orgânica que precede e excede suas relações jurídicas.

2.2. Sucessão e Reconhecimento de Estados


A questão relativa ao Estado e sua constituição manifesta-se, no âmbito do
direito internacional, sobretudo nas matérias relativas à chamada sucessão de Estados.
Dessa forma, em contextos em que há a possibilidade de haver a transformação de
Estados, o direito internacional é chamado a confirmar se existe, de fato, a sucessão,
uma vez que essa traz importantes implicações nas relações e no direito internacionais.
A consolidação do termo “sucessão de Estados” se dá na década de 1970, no
âmbito da Comissão de Direito Internacional da ONU. Suas discussões resultaram na
criação da Convenção sobre a Sucessão de Estados em Matéria de Tratados, ou
Convenção de Viena de 1978. O tratado, em seu Art. 2, define a sucessão como “a
substituição de um Estado por outro nas responsabilidades internacionais de um
território”, definição que coincide com a doutrina: “a substituição do exercício da
soberania de um Estado por outro em determinado território” (VLADOIU, 2015, p. 15).
A sucessão, portanto, é o reflexo, em âmbito jurídico, das transformações
político-materiais relativas aos Estados. Mazzuoli (2011, p. 443-444) identifica quatro
formas de transformações. Primeiro, a anexação total, quando um Estado é absorvido
completamente por outro; segundo, a anexação parcial, em que parcela do Estado é
absorvida por outro; terceiro, a fusão, quando dois ou mais Estados se extinguem
formando um terceiro; e por fim, a divisão ou o desmembramento, quando um Estado se
divide dando causa ao surgimento de duas ou mais unidades soberanas, havendo ou não
a extinção do primeiro (não havendo, denomina-se comumente secessão).
Se a sucessão é a substituição de um Estado por outro em determinado território,
confirmar sua existência é, naturalmente, reconhecer a autoridade do novo Estado. A
doutrina, no entanto, diverge quanto à natureza jurídica de tal reconhecimento. Tal
divergência resulta dos dois entendimentos da natureza do Estado anteriormente
mencionados: o Estado enquanto conjunto jurídico ou enquanto entidade orgânica.
Segundo Mazzuoli (2011, p. 444-448), o reconhecimento de Estados é o
procedimento pelo qual os sujeitos do direito internacional respondem a mudanças na
comunidade internacional, sendo ato voluntário e unilateral pelo qual se reconhece a
existência de um Estado independente em determinado território. Para Yamali (S/D, p.

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6) o ato alia visões políticas e bases legais, ao reconhecer que a existência os elementos
constitutivos do Estado e mostrar vontade de estabelecer relações com este.
Segundo a teoria declaratória, o reconhecimento do Estado pelos demais sujeitos
do direito internacional não têm qualquer efeito sobre a existência do Estado
reconhecido, uma vez que esta precede ao reconhecimento (WORSTER, 2009, p. 124).
Esse entendimento encontra respaldo em uma série de documentos internacionais.
O Art. 3 da Convenção de Montevidéu prevê expressamente que “a existência do
Estado é independente do reconhecimento por outros Estados”, e que, mesmo
anteriormente ao reconhecimento, este tem o “direito de defender sua integridade e
independência”. Tal dispositivo é reproduzido no Art. 16 da Carta da Organização dos
Estados Americanos, de 1948. Worster (2009, p. 129) leciona que essa prática surge
como “antídoto” ao potencial abuso de poder dos Estados já existentes, em um ambiente
internacional de poder desigual em que tende a prevalecer a opinião de certos países.
A teoria constitutiva, por sua vez, preconiza que não existe Estado anterior ao
seu reconhecimento pelos demais sujeitos de direito internacional (Id., p. 132), de forma
que é o reconhecimento que cria sua personalidade jurídica. A lógica por trás do
entendimento é a de que o exercício do status de Estado é funcional, fundado em
direitos e deveres para com uma determinada ordem estabelecida (Id., p. 136). Ainda
que tal entendimento não encontre suficiente respaldo em documentos de direito
internacional positivo, é bastante recorrente na prática internacional, sobretudo ante
intentos secessionistas.
Analisando os incontáveis precedentes no campo, Worster (Id., p. 145) entende
que a prática internacional em matéria de sucessão é bastante diversa e incoerente,
sendo impossível afirmar que exista um direito consuetudinário que estabeleça
definitivamente que o Estado precede ou não ao seu reconhecimento.
Conforme leciona Crawford (2006), tais entendimentos não se restringem apenas
à criação de um Estado, mas estendem-se às demais matérias relativas à transformação,
incluindo a anexação. Neste ponto em específico, resulta que a tese adotada – se é ou
não necessário o reconhecimento para a existência da sucessão e, se sim, se há ou não o
reconhecimento – determina a existência mesma da anexação, uma vez que uma leitura
a partir da tese constitutiva, ausente reconhecimento, determinaria a existência de mero
estado de ocupação ou beligerância, com todas suas implicações jurídicas.
Uma outra abordagem da literatura trata das condições de existência do Estado
(Id.). Essa leitura encontra espaço tanto na teoria constitutiva quanto declaratória: na

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primeira, trata das condições que permitem o reconhecimento do Estado, sem as quais
este não teria validade; na segunda, das condições necessárias para que se verifique a
existência do Estado, independente do reconhecimento.
A doutrina mais clássica, decorrente da Teoria do Estado, entende que tais
condições devem ser, exclusivamente, a existência dos elementos esposados pela
Convenção de Montevidéu. Cada vez mais, no entanto, têm sido apresentadas condições
outras consideradas essenciais. Worster (2009, p. 154-155) indica, para além dos
critérios da Convenção, a autodeterminação, a democracia e o estabelecimento em
conformidade com obrigações jus cogens (“tese da legalidade”).
Crawford (2006), por exemplo, realiza extensa análise do uso da legalidade e da
autodeterminação enquanto condições para a existência do Estado ou seu
reconhecimento. Segundo o autor (Id., p. 97), a teoria clássica da constituição do Estado
baseou-se, tradicionalmente, na chamada tese da efetividade, segundo a qual é Estado,
quer ontologicamente, quer em razão de reconhecimento válido, a entidade que reúne
efetivamente os critérios esboçados pela Convenção de Montevidéu. Worster (2009, p.
156) sintetiza tal perspectiva como o “critério do controle efetivo”, segundo o qual o
direito deve responder a uma realidade concreta, a existência do Estado, observada
desde perspectivas materiais de efetividade de sua operação.
Ao longo da segunda metade do século passado, no entanto, emergiu como
alternativa a tese da legalidade. Para Crawford (2006, p. 107), assim, uma tentativa de
transformação de Estado decorrente de uma violação de norma peremptória (jus cogens)
não configuraria sucessão, posto que ex injuria jus non oritur (“da ilegalidade não surge
direito”). Esse entendimento decorreria do Art. 53 da Convenção de Viena sobre o
Direito dos Tratados de 1969, segundo o qual é invalido tratado que viole norma de jus
cogens. O próprio autor (Id., Ibid), no entanto, reconhece que tal dispositivo não foi
instituído tendo em vistas a sucessão de Estado, sendo o seu entendimento decorrente de
uma leitura um tanto extensiva mas, para ele, já consagrada na prática internacional.
É fundamentado nessa doutrina que o autor entende que, via de regra, uma
entidade que clame ser Estado, ou uma anexação, mas que tenham origem no uso ilegal
da força (como entendido pela Carta da ONU), presume-se inválida erga omnes (Id., p,
148). O autor, mais, defende a tese de que em tais casos há uma obrigação substantiva
de não-reconhecimento pela comunidade internacional (Id., p. 158). Não obstante,
Worster (2009, p. 156) é bastante convincente ao demonstrar que a tese da legalidade de

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forma alguma pode ser considerada norma consuetudinária na prática internacional, de


forma que constituísse obrigação aos Estados.
Outra tese que tem avançado é a da autodeterminação, segundo a qual todo povo
tem direito de organizar-se politicamente de forma livre. Crawford (2006, p. 127),
porém, entende que este direito não é aplicável a qualquer situação; em vez, é um
“princípio diretivo de legislação”. A questão inova ao concluir que a matéria de
transformação não se restringe ao direito doméstico do Estado afetado, potencialmente
sucedido (Id., p. 128).
Um precedente concreto que bem ilustra tal entendimento é o do Kosovo. Este
país declarou independência em 2008, depois de múltiplas tentativas, sem a anuência da
Sérvia, país do qual, ante a comunidade internacional, era parte. Em vistas a resolver tal
questão, a Sérvia solicitou à Corte Internacional de Justiça (“CIJ”) uma opinião
consultiva quanto à legalidade da declaração de independência kosovar. A Corte
concluiu que a declaração não constituía afronta ao direito internacional aplicável (CIJ,
2010, p. 53). Em sua apreciação, define a autodeterminação como o “direito à
independência dos povos de territórios sem autogoverno [...]” (Id., p. 37, tradução
nossa).
Por fim, quanto aos efeitos jurídicos da sucessão relativamente a obrigações
contraídas pelo Estado predecessor, duas questões merecem destaque. Sobre tratados, a
tese prevalecente na doutrina é a da tabula rasa (MAZZUOLI, 2011, p. 479-481), que
no direito positivado é ratificada pelo Art. 16 da Convenção de Viena de 1978, segundo
o qual nenhum Estado estará obrigado a cumprir tratado pelo fato de, na data da
sucessão, este estar em vigor no território sucedido. Quanto às organizações
internacionais, também a regra é a não continuidade automática, devendo o Estado
sucessor manifestar vontade e passar por novos procedimentos de admissão
(VLADOIU, 2015, p. 21).

3. O TPI E A CRIMEIA: CONTEXTO, ATUAÇÃO DA PROMOTORIA E


JURISDIÇÃO

3.1. A situação na Crimeia: análise fatual


Para melhor compreender-se a situação atual na Crimeia, faz-se necessário uma
contextualização dos eventos que nela resultaram. A Crimeia, até o século XVIII, foi
palco de intensas disputas políticas tendo por objetivo seu domínio. Até então, a maior
estabilidade em matéria de poder institucional havia sido conquistada pelo Império
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Turco-Otomano, que estabeleceu seu poder sobre a península entre os séculos XV e


XVIII (TAYLOR, 2014). Tal situação altera-se fundamentalmente em 1783, quando o
Império Russo de Catarina, a Grande, anexa definitivamente a península aos seus
domínios.
Segundo Taylor (Id.), entre 1783 e 1921, a Crimeia viu-se indisputavelmente
como parte do Império Russo, período em que, naturalmente, sua composição social
mudou significativamente. Em 1921, alguns anos depois da Revolução Russa de 1917, a
República Socialista da Crimeia foi criada, como parte da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas, mas independente da República Socialista da Rússia e, ainda,
sem qualquer relação com a República Socialista da Ucrânia.
Em 1945, no contexto da Segunda Guerra Mundial, a Crimeia, que foi
temporariamente ocupada pelos nazistas, deixa de ser uma República e retorna ao seu
status de unidade federal [oblast] da República da Rússia. Tal situação mantém-se até
1954 quando Krushchev, Secretário-Geral da União Soviética, transfere a Crimeia de
divisão federativa da Rússia à República da Ucrânia. A historiografia debate, até hoje,
sobre os possíveis motivos dessa inesperada transferência, à época apontada como uma
espécie de “presente” à Ucrânia pelo ônus maior enfrentado na guerra (Id.).
Assim, entre 1758 e 1954, a Crimeia oscilou entre breves passagens de
autonomia e, sobretudo, pertença absoluta à Rússia, depois disso sendo incorporada à
Ucrânia. Com o fim da União Soviética, a Crimeia concordou em manter-se parte da
República da Ucrânia, com a condição de manter significativa autonomia, dando origem
à República Autônoma da Crimeia, legalmente parte da Ucrânia (Id.). Nesse contexto, a
Crimeia é composta etnicamente por cerca de 60% de russos étnicos, situação que
bastante destoa do território ucraniano, mesmo oriental; cerca de 25% de ucranianos
étnicos e 10% de tatares, além de outras minorias étnicas (KATCHANOVSKI, 2016, p.
89).
O ano que marca o início dos distúrbios que levaram à situação atual da Crimeia
é 2013. Em novembro desse ano, o então-presidente ucraniano, Viktor Yanukovych,
decidiu não firmar um acordo de associação com a União Europeia, o que seriam
primeiros passos para a admissão como membro do bloco. Esse fato desencadeou uma
onda de protestos na capital Kiev, encabeçados sobretudo por étnicos ucranianos pró-
União Europeia que viram tal decisão como uma aproximação à Rússia (TPI, 2015a, p.
19). Tais protestos radicalizaram-se cada vez mais, demandando a remoção do

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presidente Yanukovych, quando em fevereiro de 2014 o Parlamento da Ucrânia


rapidamente votou a derrubada do Presidente, que depois disso fugiu do país (Id.).
Com a deposição de Yanukovych, pró-Rússia, e sua substituição por um governo
pró-União Europeia, protestos emergiram na Crimeia em direção oposta: contra o novo
governo ucraniano. Nesse contexto, um grupo armado tomou o controle da
administração de Simferopol, capital da República Autônoma, depondo o governo
subordinado à nova administração central e instituindo um provisório (TPI, 2016, p.
36). Um referendo foi convocado pelo Parlamento Regional da Crimeia, perguntando à
população se esta preferia “reunificar-se com a Rússia” ou manter-se sob a Ucrânia
(MARXSEN, 2014, p. 382). Segundo a autoridade provisória, o resultado favoreceu
com vasta margem a Rússia.
Em março de 2014, o “Tratado na Incorporação da República da Crimeia à
Rússia” foi firmado entre as autoridades provisórias da Crimeia e a Rússia; e o
Legislativo russo [duma] aprovou a lei criando o novo ente federativo. Residentes da
Crimeia foram automaticamente declarados nacionais russos, e aqueles desejando
manter nacionalidade ucraniana deveriam notificar as autoridades dentro de um mês
(TPI, 2016, p. 36). A Rússia mais tarde admitiu ter empregado militares no “processo de
controle da Crimeia”, sob o argumento de ter sido solicitado por Yanukovych, que ainda
era reconhecido pelo país enquanto governante legítimo, ante o suposto golpe das forças
pró-União Europeia (Id., Ibid.), mas não é claro o tamanho do contingente e nem a data
de seu emprego.
Na esteira dos eventos, a Assembleia Geral da ONU (“AGNU”) adotou, com
100 votos a favor, 11 contra e 58 abstenções, a Resolução 68/262, que afirma que o
referendo da Crimeia foi inválido, por não ter sido autorizado pelo governo central
ucraniano, e urge aos Estados que não reconheçam qualquer alteração no status da
Crimeia (ONU, 2014). Nenhuma resolução de similar caráter foi adotada pelo CSNU,
em que a Rússia possui poder de veto. Em 2016, segundo a embaixada dos Estados
Unidos na Rússia, seis países haviam reconhecido publicamente a Crimeia enquanto
unidade federativa russa: Cuba, Nicarágua, Venezuela, Síria, Afeganistão e Coreia do
Norte (BENDER, 2016).
Nem a Rússia nem a Ucrânia são signatárias do Estatuto de Roma e, por
conseguinte, sujeitos à jurisdição automática do TPI. No entanto, em abril de 2014, o
Governo da Ucrânia protocolou uma declaração ante o Tribunal sob o Art. 12(3) do
Estatuto, conferindo-lhe jurisdição referente a possíveis crimes ocorridos entre

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novembro de 2013 e abril de 2014 (TPI, 2015a, p. 19). Face a isso, o Gabinete da
Promotoria iniciou um exame preliminar no país, dedicando-se sobretudo aos possíveis
crimes ocorridos em Kiev, no contexto dos protestos contra Yakunovych (Id., Ibid.)
Em setembro de 2015, a Ucrânia protocolou uma segunda declaração,
igualmente aceita pela Promotoria, estendendo a jurisdição do Tribunal para todos os
eventos ocorridos depois de fevereiro de 2014, sem restrições (TPI, 2016, p. 34). Com
base nisso, o OTP passou a investigar possíveis crimes de jurisdição do Tribunal, para
além dos eventos de Kiev, também na Crimeia. Nesta, as alegações materiais foram:
assédio da população tatar; assassinato e abdução; maus-tratos; detenção e ausência de
julgamento justo; e serviço militar compulsório (Id., p. 39-40).
Em conformidade com a processualística do TPI, segundo o Art. 15 do Estatuto,
o OTP deve realizar um exame preliminar no caso, o que inclui todos os aspectos
jurisdicionais, para determinar se há “bases razoáveis” para proceder com uma
investigação formal. Depois de extensa análise, o OTP apresenta seus argumentos à
câmara pré-julgamento, que deve autorizar a abertura de uma investigação e, se
necessário, expedir mandatos de prisão aos suspeitos, momento a partir do qual o
processo passa a correr em câmara de julgamento. Assim, as conclusões da Promotoria
(acusação) não indicam, por si, que o julgamento será efetuado, devendo ser autorizado
por uma câmara (juízes); porém, espera-se do OTP o total domínio do direito aplicável,
de forma que todos os exames até hoje que foram arquivados (Coreia do Sul, Comores e
Honduras), não resultando em investigações formais, o foram feitos por decisão do
próprio OTP.

3.2. A jurisdição do Tribunal na Crimeia


A “situação na Ucrânia” encontra-se, desde 2015, na segunda fase do exame do
OTP, em que filtros básicos já foram aplicados e o foco é a existência de crimes sob
jurisdição do Tribunal (jurisdição material). Assim, as chamadas “questões
jurisdicionais preliminares” já foram sanadas, o que se refere, sobretudo, à jurisdição
temporal e territorial ou pessoal (Id., p. 3 e p. 34). É dizer: no atual estado, a Promotoria
já tem por concluso que o Tribunal possui jurisdição territorial ou pessoal sobre todos
os eventos sob exame, o que inclui os ocorridos na Crimeia desde fevereiro de 2014.
Em primeiro lugar, salta aos olhos o fato de a Promotoria, em seus exames de
2015 e de 2016, em que a Crimeia já estava sob análise, em momento algum debater a
questão da sucessão de Estados ou a sequer possibilidade de a anexação da Crimeia

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constituir obstáculo ao seu exercício jurisdicional. O OTP, fundado exclusivamente na


declaração ucraniana de concessão jurisdicional, toma, em todos os momentos, como
dada sua jurisdição sobre atos cometidos no território da Crimeia.
A razão disso parece ser encontrada no fato de que, segundo conclui, “a
informação disponível sugere que a situação no território da Crimeia e Sevastopol
constitui um conflito internacional armado entre a Ucrânia e a Federação Russa” (Id, p.
35, tradução nossa). Com relação a eventos posteriores a março de 2014, em que a
península já se encontra pacificada, o OTP afirma que o direito dos conflitos
internacionais segue como lastro, uma vez que “a situação no território da Crimeia e
Sevastopol factualmente constitui um constante estado de ocupação”, e “o exame da
legalidade da intervenção russa não é necessário" (Id., Ibid., tradução nossa), uma vez
que a ocupação existe sempre que “um Estado [...] ocupa o território de outro Estado,
[...] com ou sem resistência” (Id, p. 37, tradução nossa).
As conclusões da Promotoria nos parecem bastante equivocadas. Primeiro, uma
das poucas questões bem consolidadas em matéria de sucessão de Estados, na doutrina,
no direito positivado e na prática internacional, é que a se refere às obrigações: um
Estado sucessor onera-se de quaisquer obrigações incorridas pelo antecessor em seu
território. É dizer: tendo-se o reconhecimento de que a Crimeia foi anexada à Rússia, o
exercício jurisdicional pelo Tribunal torna-se inválido, conquanto fundado em uma
declaração decorrente da soberania ucraniana e não sendo a Rússia parte do Tribunal.
Naturalmente, se se conclui que não há anexação, mas sim ocupação, como o fez
o OTP, os resultados são diferentes, posto que a soberania ucraniana entende-se
presente. Tem-se, porém, que nesse caso a distinção entre as duas é o fato mesmo que
determinará a existência da jurisdição do Tribunal, sendo portanto de máxima
importância que a Promotoria analise a questão. É curioso, nesse sentido, que o fato não
seja debatido à luz do direito internacional; em vez, sendo o estado de ocupação tomado
como dado.
A Promotoria não discute, por exemplo, os efeitos jurídicos da tomada de poder
efetivo na Crimeia por grupos armados, do subsequente referendo ou do tratado de
anexação firmado entre aqueles e a Rússia. Principalmente, ao afirmar não ser
necessário discutir a suposta intervenção russa, desconsidera que a distinção entre
anexação e ocupação se encontra, fundamentalmente, nessa discussão.
Assim, o exame preliminar erra ao apresentar os efeitos jurídicos da ocupação,
mas se abster de abordar o direito aplicado para determinar que se trata de ocupação e

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não anexação, caso em que suas conclusões subsequentes seriam inválidas.


Desconsidera, para tal fim, o extenso corpo jurídico referente à transformação dos
Estados e seus efeitos. A seguir, discutimos a situação à luz do referido corpo,
sobretudo a partir dos debates entre as teorias constitutiva e declaratória e as teses da
legalidade e da efetividade, que, como nos lembra Crawford (2006), aplicam-se às
transformações do Estado no todo.
Em primeiro lugar, há que se afastar a potencial crítica quanto à capacidade do
TPI de lidar com questões referentes à soberania sobre territórios. Vagias (2011, p. 183)
bem coloca que o Tribunal não age fora de seus poderes atribuídos ao fazê-lo, uma vez
que cabe a ele decidir sobre jurisdição interpretando seu Estatuto, inclusive seu Art. 12.
Assim, com a exceção dos casos de participação do CSNU, o Tribunal se vê obrigado a
justificar sua jurisdição ante o consentimento do Estado de referência.
Ademais, em 2015, o Tribunal recebeu a acessão da Palestina ao Estatuto (TPI,
2015b), confirmando, uma vez que o Estatuto se restringe normativamente à
participação de Estados, que o Tribunal reconhece sua personalidade jurídica. Embora o
recebimento tenha sido feito pela Assembleia de Estados, na eventualidade de um caso,
é inevitável que as câmaras lidem com a matéria de jurisdição sobre territórios sob
disputa.
No âmbito específico do direito penal internacional, há que se notar a atuação do
Tribunal ad hoc para a ex-Iugoslávia (“TPII”), que, ao lidar com crimes cometidos no
contexto da desintegração da Iugoslávia, confrontava questões relativas à sucessão dos
Estados. Exemplo é o caso Celibici, em que, aplicando a teoria constitutiva, entendeu-se
que só se podia aplicar o direito dos conflitos internacionais a partir do momento em
que a Croácia e a Bósnia e Herzegovina tivessem sido reconhecidas (TPII, 1996).
Como visto, a teoria constitutiva prevê que é o reconhecimento que garante a
personalidade do Estado, enquanto a declaratória entende que esta é anterior ao
reconhecimento, entendimentos igualmente aplicáveis à transformação de Estados. A
anexação da Crimeia à Rússia foi reconhecida por seis Estados, enquanto uma decisão
por maioria da AGNU solicitou o não-reconhecimento coletivo.
Tal situação apresenta um paradoxo à teoria constitutiva: o comum caso em que
há práticas conflitantes de reconhecimento. Se é impossível afirmar que a teoria
representa direito consuetudinário, mais ainda é dizer que existe um critério quantitativo
de reconhecimento. Um argumento comum é o de que os países que reconheceram,
como Coreia do Norte e Cuba, são “párias”, de pouca adesão internacional (TAYLOR,

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2014). Ainda que seja verdade, nos parece bastante difícil extrair da prática
internacional a tese de que o reconhecimento por alguns Estados criaria mais efeitos
jurídicos do que o feito por outros. Mais fácil seria afirmar, a partir do princípio
máximo da Carta da ONU, contido em seu Art. 2.1 (igualdade soberana entre Estados),
a igualdade dos efeitos.
Outro argumento (MARXSEN, 2014) é o da autoridade do não-reconhecimento
pela AGNU. É pacífico na doutrina, no entanto, que resoluções da AGNU, diferente das
emitidas pelo CSNU, não criam direito (SCHWEBEL, 1979, p. 301). Ademais, cabe
lembrar que se trata de um órgão eminentemente político, de representação dos Estados
em interesse próprio; diferente do Tribunal, que deve se pautar tão-somente por critérios
jurídicos estritos e abster-se de considerações de caráter político (TPI, 2014).
Em qualquer caso, reitera-se que não há consenso quanto à validade da teoria
constitutiva ou declaratória, ainda que esta última tenha em seu favor a Convenção de
Montevidéu. Certo é que adotar esta última seria reconhecer que a jurisdição soberana
russa sobre a Crimeia independe de sua aceitação pela comunidade internacional. O
outro debate a se colocar em causa é o dos princípios da efetividade e da legalidade.
Este merece maior destaque, tendo sido o fundamento da Promotoria a suposta
ilegalidade da intervenção que resultou em estado de ocupação.
Marxsen (2014), partidário da tese da legalidade, é quem melhor aplica-a à
situação da Crimeia, posição que foi adotada pela Promotoria, embora implicitamente.
Segundo o autor (Id., p. 390, tradução e grifo nossos), “sob a perspectiva do direito
internacional a Crimeia ainda é parte da Ucrânia, independente do que a situação de
facto possa parecer”. Tal passagem bem ilustra a negação da tese da efetividade. A
razão para tanto seria a de que, juridicamente, a declaração de independência da
Crimeia teria sido inválida, e, não havendo se tornado Estado capaz de incorrer em
relações com a Rússia, a intervenção desta constituiria afronta ao direito internacional.
Por surgir de atos supostamente ilegais, a transformação da Crimeia careceria de efeitos
jurídicos.
Sem negar a potencial validade da teoria da legalidade, no que toca a
independência, cabe lembrar o Kosovo, em que a Corte expressamente conclui que a
declaração unilateral de independência, isto é, sem autorização da Sérvia, não é afronta
ao direito internacional. Crawford (2006) lembra que a autodeterminação é, por
definição, a superação da exclusividade do direito doméstico vigente, de forma que não

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há que se dizer que a independência da Crimeia careça de efeitos por ir contra o direito
ucraniano.
Antitética à tese da legalidade é a da efetividade, segundo a qual, em matéria de
Estado, cabe ao direito internacional responder a uma realidade fatual, não cabendo o
juízo sobre suas origens enquanto negação da situação resultante. Curiosamente, essa
tese encontra respaldo em um precedente do próprio OTP, de 2014, já sob chefia de
Fatou Bensouda, igualmente protagonista na situação da Ucrânia. Em dezembro de
2013, a Promotoria recebeu uma declaração sob o Art. 12(3) em nome de Mohammed
Morsi, que foi presidente do Egito até julho de 2013, quando deposto por um golpe
militar encabeçado por Fatah Al-Sisi. Na ocasião, o OTP rejeitou a declaração,
argumentando que Morsi já não podia representar a soberania egípcia (TPI, 2014).
Em sua exposição, a Promotoria argumentou que “a entidade que exercita de
fato controle sobre o território de um Estado, conta com a obediência habitual do grosso
da população, e tem expectativa razoável de permanência” é aquela que é “reconhecida
como o governo daquele Estado sob o direito internacional” (Id., tradução nossa). Não
há dúvidas de que se tratam de situações substancialmente diferentes, posto que esta
trata do reconhecimento de governo; mas é plausível argumentar que, na ocasião, o OTP
optou pela tese da efetividade em detrimento da legalidade, garantindo a autoridade à
entidade que controlava o território, independente de como chegou ao poder.
Se estendida tal abordagem à transformação de Estados, parece impossível
afirmar que a entidade que controla o território, goza de obediência da população e tem
expectativa de permanência na Crimeia seja a Ucrânia, e não a Rússia. Se, por um lado,
a decisão do OTP de maneira alguma cria jurisprudência de aplicação compulsória, por
outro deixa clara a diversidade de abordagens na matéria. Certo é que, se aplicada à
Crimeia, a tese da efetividade concluiria que a Ucrânia já não possui soberania sobre a
península, de forma que também a jurisdição do Tribunal restaria extinta.
Por fim, a despeito da decisão da Promotoria de aceitar a jurisdição sobre a
Crimeia sem qualquer discussão, que consideramos equivocada, cabe lembrar que, finda
a análise do OTP na questão, sobretudo material, o mesmo deverá solicitar a abertura de
uma investigação formal, a ser autorizada pela câmara pré-julgamento, antes que
indivíduos possam ser acusados. Espera-se que, na ocasião, seja levantada ante os juízes
a questão da aplicabilidade da jurisdição conferida por uma declaração ucraniana sobre
a Crimeia, no atual estado de coisas. Sendo o caso, supõe-se também que haja intenso

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debate sobre as múltiplas possibilidades abertas pelo direito internacional, e cujo


resultado, seja qual for, abra precedentes para situações futuras de similar caráter.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O questionamento quanto à aplicabilidade da jurisdição do TPI na Crimeia
motivou um estudo que teve por objetivo discutir de que forma a sucessão de Estados
pode interferir na jurisdição do Tribunal, e aplicar tal discussão ao caso da Crimeia, à
luz das conclusões preliminares da Promotoria no caso. Para tanto, discutiu-se a
jurisdição do Tribunal, com base em seu Estatuto, o corpo relevante do direito
internacional aplicável à sucessão de Estados, o contexto que levou a Crimeia ao atual
estado de coisas e, finalmente, confrontou-se os achados às conclusões da Promotoria.
O Estatuto de Roma compele o Tribunal a justificar sua jurisdição sob base de
consentimento, expresso na adesão ao tratado ou em declaração ad hoc. Isso representa
um problema em se tratando de territórios disputados, uma vez que o direito
internacional determina a não continuidade automática das obrigações contraídas pelo
Estado sucedido.
Quanto ao estabelecimento da sucessão, porém, o direito internacional é extenso,
podendo ser dividido sobretudo entre as teorias constitutiva e declaratória e entre as
teses da legalidade e da efetividade. No primeiro debate, um lado preconiza que o
Estado só se institui ante seu reconhecimento, enquanto o outro afirma que este é
irrelevante. No segundo, a primeira tese prevê que são nulas transformações que
originem de afrontas ao direito internacional, enquanto a segunda determina que a única
importância reside na situação material efetiva. Com práticas internacionais
conflitantes, é impossível afirmar a existência de um direito consuetudinário que resolva
definitivamente essas questões.
A Crimeia possui laços históricos profundos com a Rússia, situação que reflete
em sua composição étnica e cultura política. Em um turbulento contexto que levou à
deposição de um governo ucraniano de tendências pró-Rússia, a península presenciou
um movimento que preconizava a “reunificação” da Crimeia à Rússia. Tal movimento
tomou corpo com a tomada de poder por rebeldes, a declaração de independência, a
convocação de um referendo e, finalmente, um suposto tratado de acessão à Rússia,
situação reconhecida por seis países e rejeitada pela maioria da AGNU.
A Ucrânia, em exercício ad hoc, conferiu jurisdição ao Tribunal sobre seu
território e nacionais. Com base nisso, a Promotoria passou a atuar sobre possíveis

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crimes cometidos na Crimeia. Seu único argumento para tanto foi o de que a situação
constituiria conflito internacional e ocupação, situações em que a soberania ucraniana
restaria intacta.
Entendemos que a Promotoria errou ao não discutir a possibilidade de
transferência da soberania ucraniana sobre a Crimeia à Rússia, fato que impediria o
exercício jurisdicional do Tribunal. Se a teoria declaratória é adotada, como preconiza a
Convenção de Montevidéu, tem-se que a potencial soberania russa sobre a Crimeia
independeria de qualquer reconhecimento. E mesmo que a teoria constitutiva seja
adotada, o reconhecimento da sucessão por seis Estados surge como problema.
As exposições da Promotoria deixam a entender que, na situação, a tese da
legalidade foi aplicada, mas em momento algum explica os fundamentos para tal
adoção. Tivesse a tese da efetividade sido adotada, como fez o OTP na situação do
Egito, a jurisdição do Tribunal restaria extinta, uma vez que não é mais o governo
ucraniano, que conferiu jurisdição ao Tribunal, quem exerce controle efetivo sobre a
península.
Finalmente, espera-se que a questão da validade da declaração ucraniana como
fundamento para exercício jurisdicional sobre território reclamado pela Rússia seja
levantada e propriamente debatida na câmara pré-julgamento, à luz do extenso corpo de
direito internacional na matéria e seus conflitantes precedentes. Do contrário, supõe-se
que a atuação do Tribunal na Crimeia legitime ainda mais as críticas periféricas de que
o Tribunal seja instrumentalizado politicamente pelo Ocidente.

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